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Modulo 1

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Módulo 1 - Letalidade de crianças e adolescentes.
No vídeo a seguir você conhecerá dados importantes sobre a letalidade de crianças e adolescentes e sobre o Programa de Proteção às Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) e poderá, então, iniciar uma importante reflexão sobre o tema deste curso:
http://vimeo.com/17533555
A história de grande parte de crianças e adolescentes, no Brasil e no mundo, é a de um relato dramático, nos quais ficam evidenciadas suas vulnerabilidades e onde elas são vítimas de situações de abandono, maus tratos, desamparo e toda sorte de violações de vida. Está na pauta de muitas agendas governamentais a reivindicação de uma existência plena para as crianças e adolescentes.
Neste módulo, você conhecerá quem são os grupos de crianças e adolescentes mais expostos às situações de violação de direitos humanos, quais os principais tipos de violências a que as crianças e adolescentes estão expostos, em especial à letalidade.
Objetivos do módulo.
Ao final deste módulo você deverá ser capaz de:
Analisar os marcos internacionais e nacionais que servem de subsídio para a discussão do tema;
Conceituar termos e expressões relacionados à letalidade de crianças e adolescentes;
Caracterizar os principais tipos de violências a que as crianças e adolescentes estão expostos.
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Estrutura do módulo.
Este módulo possui as seguintes aulas:
Aula 1 – Marcos Internacionais e nacionais sobre o tema.
Aula 2 – Conceitos importantes sobre a letalidade de crianças e adolescentes.
Aula 1 - Marcos internacionais e nacionais sobre o tema.
1.1.	Criança e adolescente: sujeitos de direito.
A instituição da criança e do adolescente como sujeitos de direito é um fenômeno recente na história do ocidente. Segundo Ariés (1988, p.10-11) é a partir do século XVIII que a criança recebe o estatuto de “criança”, lembrando que, no entanto, esta condição não é válida para todas as sociedades.
Contini e Amorim (s.d, s.p) consideram que a partir da institucionalização da infância, a criança que é considerada um ser inacabado, vive uma espécie de moratória social a que elas chamam de “ainda não”, como se a criança não fosse um sujeito pleno.
Da mesma maneira, a adolescência passa também a ter diferentes configurações e, a partir também do século XVIII, é considerada como um tipo de hiato entre a infância e a idade adulta, denominada por Contini e Amorim como um período de latência social “caracterizado pela ambivalência entre a potencialidade e a possibilidade de fato, permeado por grandes contradições” (s.d., p.5).
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Há que se lembrar, não obstante, que ser criança e ser adolescente em diferentes classes sociais determinam circunstâncias e especificidades complexas e que estão longe de serem semelhantes.
Foi a partir das tensões inerentes de sua condição de um devir ou de um vir a ser que as crianças e adolescentes tiveram de se constituir como sujeitos de direito. Basicamente, a mercê de situações que elas não entendem e sobre as quais elas não têm poder e nem ingerência, é só a partir do momento em que elas se constituem como sujeitos de direito que se pode tratar de sua proteção efetiva.
Para que isto ocorresse, a Doutrina da Proteção Integral, estabelecida pela Convenção da ONU sobre as crianças e adolescentes, deslocou-os para outro patamar, com o intuito de transformá-los em sujeitos de direito.
Foram as lutas pelos direitos humanos, nas décadas de 70 e 80, no Brasil, e seus desdobramentos em políticas públicas mais conscientes que tornaram não só as crianças e adolescentes, mas as mulheres, os idosos, entre outros, em sujeitos de direito.
O sujeito de direito é aquele que é senhor dos seus direitos e obrigações,
diferente da concepção do sujeito que estava sob tutela do Estado, o qual
refém da inexistência de políticas públicas baseadas nos direitos humanos,
tratavam	as	crianças	e	adolescentes	de	maneira	desumana	e	irregular.
Crianças vítimas de abandono, pobreza, violência doméstica e orfandade não
eram, por sua própria condição, sujeitos de direito. Era em nome deste tipo de
tutela que ocorriam toda sorte de desmandos que iam desde internações
irregulares	e	desnecessárias,	abrigamento	compulsório	e	afastamento	da
família.
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1.2 Marcos internacionais.
1.2.1. A Doutrina da Proteção Integral estabelecida pela Convenção da ONU.
A normativa que determina que a criança precisa de proteção e cuidados especiais, de proteção legal apropriada, antes e depois do seu nascimento, encontra-se na Declaração dos Direitos da Criança1 (Resolução da Assembleia Geral da ONU em 20/11/1959). O Princípio 9° enfatiza que “a criança gozará proteção contra quaisquer formas de negligência, crueldade e exploração”. Este princípio reafirma a necessidade de proteção à criança, estabelecida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela Declaração dos Direitos da Criança em Genebra, de 1924.
No item 2 do artigo XXV da Declaração Universal dos Direitos Humanos2, o reconhecimento das necessidades de cuidados às crianças é flagrante, ao estabelecer que "a maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especial. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social".
Podemos considerar, no entanto, que o avanço mais significativo ocorre a partir da Convenção sobre os Direitos das Crianças 3– Resolução nº. 44/25 da Assembleia Geral da ONU em 20/11/1989, cuja importância é reconhecida amplamente:
A Convenção sobre os Direitos da Criança foi adotada, por unanimidade, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 1989. Tal ato foi um marco em relação aos esforços que
http://www.portaldafamilia.org/datas/criancas/direitosdacrianca.shtml
http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm
http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/dc-conv-sobre-dc.html
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se realizam no plano internacional para fortalecer a justiça, a paz e a liberdade em todo o mundo mediante a promoção e a proteção dos direitos humanos. [...] Em 02 de setembro de 1990, como demonstração do alto interesse e apoio suscitado em todo o mundo, a Convenção sobre os Direitos da Criança entrou em vigor, relativamente aos primeiros vinte Estados, assumindo um caráter de lei internacional, com força vinculante entre os Estados que a ratificaram.” (Souza, 2001)
1.1 . Marcos nacionais: a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
No Brasil, a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (1989), a Constituição Federal (1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente
(1990) são as referências legais na proteção à criança e ao adolescente, em que estão inscritos diversos direitos, visando assegurar uma existência digna e o seu pleno desenvolvimento.
(...) O Estatuto da Criança e do Adolescente, promulgado em 13 de julho de 1990, substituiu a repressiva doutrina do Código de Menores de 1979 e instaurou novas referências políticas, jurídicas e sociais. Ao definir em seus primeiros artigos que “toda criança e todo adolescente têm direito à proteção integral, considerando-os como sujeito de direitos individuais e coletivos, cuja responsabilidade é da família, da sociedade e do Estado” (Brasil, 1990), o país baniu a categoria “menor” do arcabouço conceitual e jurídico, introduzindo a moderna noção de adolescência e incorporando os preceitos da Convenção Internacional dos Direitos da Criança, de 1989.
O ECA expressa, portanto, os direitos das crianças e dos adolescentes e norteia toda política de atendimento distribuída em quatro linhas de ações:
a. as políticas sociais básicas de caráter universal, como saúde, educação, alimentação, moradia etc (art. 87, item I);b. as políticas e programas de assistência social (art. 87, item II), de caráter supletivo, para aqueles de que delas necessitem;
c. as políticas de proteção, que representam serviços especiais de atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso e opressão (art. 87, item III); os serviços de identificação e localização
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de pais, responsáveis, crianças e adolescentes desaparecidos (art. 87, IV); das políticas de garantias de direitos, que representam as entidades e os aparatos jurídicos e sociais de proteção dos direitos individuais e coletivos da infância e juventude (art. 87, item V).
(PEREZ, José Roberto &PASSONE, Eric Ferdinando, s.d, s,p)
Importante!
O ECA é a lei que reconhece a criança e o adolescente como sujeito de direitos em nosso país, defendendo o seu interesse superior. Composto por 267 artigos, o referido documento, no Brasil, é um marco histórico em termos dos direitos infanto-juvenis.
A prioridade absoluta que preceitua o artigo 227 da CF/19884 foi reafirmada no seu art. 4º do ECA:
Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)
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destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
A sistemática do ECA ressalta, dentre o rol dos direitos fundamentais que estão interligados, o direito à vida e à saúde e em seu art. 7º preconiza:
Art. 7º. A criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
O direito à vida possibilita a concretização dos outros direitos, como direito à educação, ao esporte e ao convívio familiar. Assim, a proteção à vida e à saúde permeia todas as políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente.
Não só as crianças e adolescentes têm de assegurar sua condição de sujeitos de direito como, no entendimento de Contini e Amorim (s.d.), elas só poderão fazer parte de programas de efetivas transformações sociais a partir de uma participação legítima:
(...) o conceito de participação implica em uma potencialização conjunta em que não existe um objeto a ser estudado e/ou transformado, mas todos os envolvidos produzem algo a partir dos encontros. Para que possamos funcionar como dispositivos de transformação social, junto às comunidades, precisamos, em nossas intervenções, estar acolhendo a produção do outro em sua diferença, e não, transformá-la naquilo que valorizamos como adequado (CONTINI e AMORIN, s.d., p.4)
A infância e a adolescência da população de baixa renda enfrentam situações de abandono, desamparo, maus tratos e abusos de maneira muito mais dramática que em outras classes sociais, pelos fatores agravantes das difíceis condições de vida, características destes segmentos sociais.
Se a concepção moderna de infância considera que as crianças e adolescentes são pessoas em desenvolvimento e, portanto, objetos de proteção especial e sujeitos de direito, esta premissa não se aplica a todos como deveria. As populações de baixa renda continuam a ser as mais desprotegidas nos seus direitos à proteção e prevenção.
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Lembra?
Tendo como base o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), define-se como criança o indivíduo de até 12 anos de idade e como adolescente o indivíduo de 13 a 18 anos de idade.
Aula 2 - Conceitos importantes sobre a letalidade de crianças e
adolescentes.
2.1. Estudando os conceitos.
2.1.1. Grupos vulneráveis e minorias.
Antes de identificar os grupos de crianças e adolescentes mais expostos ao risco da letalidade no nosso país, você deverá estudar alguns conceitos importantes relacionados ao tema, são eles:
grupos vulneráveis;
minoria;
tipos de minorias. 5
Diferença entre grupos vulneráveis e minorias:
Os grupos vulneráveis são pessoas que podem fazer parte de uma minoria étnica, mas dentro dessa minoria têm uma característica que as diferem das demais e as torna parte de outro grupo. A diferença básica é que as minorias estão limitadas aos aspectos étnicos, linguísticos e religiosos e os grupos vulneráveis, por sua vez, estão relacionados às características especiais que as pessoas adquirem em razão de idade, gênero, orientação sexual, deficiência física ou sofrimento mental e condição social.
Ver anexos
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2.1.2. Situação de risco e de vulnerabilidade.
Assim como podemos estabelecer diferenças importantes entre o que são minorias e grupos vulneráveis, convém diferenciar também os conceitos de situação de risco e de vulnerabilidade.
Segundo RIZZINI (2010) o termo situação de risco é originário da área da advocacia internacional e o conceito designa, em sua procedência, grupos ou indivíduos fragilizados, jurídica ou politicamente, na proteção ou na garantia de seus direitos de cidadania (Alves, 1994; apud Ayres, 2003). E passou a fazer parte do campo da saúde há aproximadamente dez anos, como um conceito-chave nos estudos e intervenções diante da epidemia de HIV/AIDS.
O principal argumento em defesa deste termo é a possibilidade que ele oferece de articulação entre indivíduo e coletivo:
(...) uma criança é considerada em situação de risco quando seu desenvolvimento não ocorre segundo o modo esperado para sua faixa etária, de acordo com os parâmetros de sua cultura. Relacionado com questões de ordem física, social ou psicológica, o risco pode ser resultado de ações realizadas por indivíduos de modo a comprometer sua existência, como por exemplo, o uso de drogas (lícitas ou ilícitas), e relações sexuais desprotegidas. Segundo Sobral, pode também ser consequência de conflitos familiares ou carência de modelos que estimulem o respeito à vida e à dignidade humana. Todos estes são fatores que colocariam crianças e adolescentes em situação de risco, independentemente da classe social a que pertencem (Sobral, 2008, p. 16 apud RIZZINI).
Para RIZZINI (2010) a expressão “em situação de risco” é sistematicamente aplicada para designar, de forma discriminatória, apenas a parcela pobre da população. Para as autoras, o problema não está no termo em si, mas sim no uso que se faz dele e optam pelo conceito da vulnerabilidade, como aquele que faz a articulação entre o coletivo e o individual em detrimento do de risco social, que só abrangeria os grupos econômica e socialmente excluídos.
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Ainda no que concerne à violação de direitos de crianças e adolescentes no Brasil, de acordo com Bellenzani e Malfitano (2006), em contraste com o conceito de risco, o conceito de vulnerabilidade tem a premissa de buscar identificar a síntese das variáveis envolvidas, “sejam elas abstratas, subjetivas ou estruturais, ao contrário do isolamento das variáveis e da busca de uma relação causal bilateral”(BELLENZANI e MALFITANO, 2006, p.121). O conceito de vulnerabilidade busca dimensionar o contexto sociocultural, os direitos violados ou negligenciados, os agravos à saúde e os impactos na qualidade de vida.
Agora que já compreendeu os conceitos, você irá estudar sobre os tipos de violências a que, no mundo inteiro, as crianças e os adolescentes estão expostos e os grupos de crianças e adolescentes mais vulneráveis às situações de violação de direitos, de uma maneira geral e à letalidade, de maneira mais específica, no nosso país.
2.2. Os tipos mais comuns de violências sofridas pelas crianças ao redor do mundo e no Brasil:
Os filmes, a seguir, mostram situações comuns de alguns tipos de violência a que os jovens e crianças estão expostos nos nossos dias atuais. Suas histórias podem auxiliar na reflexão sobre as violações de direitos humanos a que nossas crianças e adolescentes estão expostos no mundo inteiro.
	
	Pixote a Lei do Mais Fraco
	
	Elephant e o Massacre de
	
	
	
	
	
	
	
	Columbine
	
	http://www.youtube.com/watch?v=-
	
	
	http://www.youtub
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	d0bNwH8Od4
	
	
	e.com/watch?v=E
	
	
	
	
	
	
	mdrsaZ93-Q
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
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A partir dos dados sistematizados no Relatório Mundial sobre a Violência contra a Criança6, organizado por Paulo Sérgio Pinheiro, você estudará a seguir os tipos de violação de direitos e de violência às quais as crianças e adolescentes estão expostos no mundo inteiro e no Brasil. Segundo o autor, relatos de infanticídio, castigos cruéis e humilhantes, descaso e abandono, abuso sexual e outras formas de violência contra a criança datam de antigas civilizações.
2.2.1. Homicídio.
Em países, nos quais estatísticas de homicídio são analisadas de acordo com a idade da vítima, observa-se que a faixa etária dos 15 aos 17 anos é a mais exposta a esse risco. O segundo grupo de maior risco é o dos bebês. Dados dos países da OCDE indicam que o risco de óbito é três vezes maior para crianças abaixo de um ano que para as incluídas na faixa etária de 1 a 4 anos, para as quais o risco é duas vezes mais alto que para as que têm entre 5 e 14 anos de idade. Quanto mais nova a criança, maior a probabilidade de sua morte ser provocada por um parente próximo.
2.2.2. Violência física não fatal.
A violência física é o uso intencional de força física contra uma criança que provoque ou possa provocar danos para a sua saúde, sobrevivência, desenvolvimento ou dignidade. Crianças em todo o mundo apanham, são chutadas, sacudidas, espancadas, mordidas, asfixiadas, envenenadas e estranguladas por membros de suas famílias. Em casos extremos, essa violência pode matar a criança (como discutido acima) ou provocar deficiências
http://www.equidadeparaainfancia.org/relatorio-mundial-sobre-a-viol%C3%AAncia-contra-as-crian%C3%A7as-694/index.html
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ou lesões físicas graves. Em outros casos, a violência física pode não deixar nenhum sinal físico visível ou lesão. Em todos os casos, no entanto, ela tem um impacto negativo sobre a saúde psicológica e o desenvolvimento da criança.
2.2.3. Negligência.
A negligência contribui muito para óbitos e doenças entre crianças pequenas. Ela ocorre quando pais ou responsáveis não satisfazem as necessidades físicas ou emocionais de crianças, dispondo dos meios, dos conhecimentos e do acesso a serviços necessários para esse fim ou quando não as protegem de perigos. No entanto, a diferença entre uma negligência deliberada e a que é cometida por ignorância ou falta de possibilidades de assistência a crianças é muito sutil. Ainda se desconhece até que ponto a negligência influencia os índices de mortalidade infantil em muitas partes do mundo.
2.2.4. Violência sexual.
A OMS estima que 150 milhões de meninas e 73 milhões de meninos abaixo de 18 anos já foram submetidos a algum tipo de relação sexual forçada ou a outra forma de violência sexual, envolvendo contato físico, 48 embora esse número seja claramente subestimado. Em grande parte, essa violência sexual
imposta por membros da família ou por outras pessoas que residem no lar da criança ou o visitam, pessoas nas quais as crianças normalmente confiam e que geralmente são responsáveis por cuidar delas. Em muitos lugares, adultos falam abertamente sobre o risco de violência sexual que suas crianças correm na escola ou em brincadeiras na comunidade. No entanto, eles raramente mencionam o risco de abuso sexual que elas correm no contexto de seus lares familiares. A vergonha, o sigilo e a negação associados à violência sexual familiar contra crianças alimentam uma cultura de silêncio na qual crianças não podem relatar abusos sexuais que sofreram e adultos não falam sobre o risco da violência sexual no lar e não sabem o que fazer ou dizer, quando suspeitam que algum conhecido está abusando sexualmente de uma criança. A maioria
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das crianças não relata abusos sexuais que sofreu no Lar, porque tem medo do que pode acontecer com elas e com suas famílias e acham que suas famílias ficarão envergonhadas e as rejeitarão ou não acreditarão nelas. Adultos podem também não relatar a ocorrência desse tipo de abuso.
2.2.5. Visão psicológica.
Todas as formas de violência física e sexual envolvem algum dano psicológico, mas a violência psicológica pode também assumir a forma de insultos, desprezo, isolamento, rejeição, ameaças, indiferença emocional e depreciação, que podem ser prejudiciais para o desenvolvimento psicológico e o bem-estar da criança. Não há definições padronizadas e pouco se sabe sobre a escala global dessa forma de violência contra a criança, exceto que ela é frequentemente acompanhada por outras formas de violência. No entanto, observou-se que a agressão psicológica e a física coexistem em lares violentos. Em contextos familiares violentos, o medo e a ansiedade prevalecem constantemente em função da expectativa da violência e da dor, humilhação e medo experimentados no momento da agressão. Grupos de crianças mais velhas desenvolvem uma sensação de solidão devido à rejeição e desconfiança dos pais e, em alguns casos, auto-rejeição.
2.2.6. Castigos físicos e psicológicos.
O Comitê dos Direitos da Criança define o castigo "corporal" ou "físico" como qualquer castigo, no quale a força física é usada com a intenção de causar dor ou desconforto em algum grau, ainda que leve. A maioria dos castigos corporais envolve o ato de bater em crianças com as mãos (tapas, palmadas) ou com algum instrumento. No entanto, esses castigos podem envolver, por exemplo, chutes, sacudidas, jogar a criança longe, arranhá-la, beliscá-la, puxar seus cabelos ou orelha, forçar a criança a ficar em posições desconfortáveis,
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queimá-la e forçá-la a ingerir determinadas substâncias (como por exemplo: lavar a boca da criança com sabão ou forçá-la a ingerir temperos picantes). Segundo o Comitê, todas as formas de castigo corporal são invariavelmente degradantes. Além dos aspectos físicos definidos acima, há diversas outras formas de castigos não físicos que também são degradantes e, portanto, incompatíveis com a CDC. Elas incluem, por exemplo, castigos que depreciam, humilham, denigrem, fazem bode expiatório da criança ou a assustam ou a ridicularizam.
2.2.7. Intimação ostensiva (bullying).
Desde a década de 1970, o reconhecimento da ameaça que a prática do bullying representa para o bem-estar da criança na escola vem crescendo, bem como a literatura e estudos que analisam suas causas, prevalência e impactos, tanto para suas vítimas como para seus perpetradores. Embora o bullying seja um problema mundial, essa literatura origina-se, principalmente, de países industrializados. Ela surgiu inicialmente na Escandinávia na década de 70 e, posteriormente, no Reino Unido, no Japão, na Austrália e nos EstadosUnidos; analisa características dos agressores e das vítimas, bem como diversos fatores de risco pessoais e sociais que contribuem para esse tipo de comportamento. Ela também ampliou a definição de bullying para incluir formas mais sutis e complexas de violência psicológica e, além das características de agressores e vítimas, passou a analisar também como eles foram criados e seus ambientes familiares e sociais, inclusive o ambiente de suas escolas. O bullying também é diferenciado de outras formas de violência, porque representa um padrão de comportamento e não um evento isolado. A literatura revela também que quase todas as formas de bullying têm um caráter sexual ou baseiam-se no gênero. Essas constatações mudaram a maneira pela qual o
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bullying é percebido, no sentido de que medidas contra essa prática possam também contemplar o padrão desse comportamento.
2.2.8. Brigas, agressões físicas e gangues.
Brigas, geralmente, envolvem duas ou mais pessoas e não é fácil distinguir os agressores de suas vítimas. A prática do bullying pode gerar brigas com ou sem armas. Agressões físicas podem ocorrer como um fenômeno separado, como no caso de um ataque de uma só pessoa a outra, motivado por sentimentos inflamados de raiva ou ciúme. Podem também serem gerados por sentimentos gerais de ira, frustração ou humilhação, provocados por alguma coisa que a vítima tenha feito, como no caso de agressões sexuais e massacres aleatórios com armas de fogo.
2.2.9. Homicídios e lesões graves nas escolas.
Homicídios e ataques que provocam lesões físicas graves são comparativamente raros em escolas e correspondem a uma parcela muito pequena da violência criminosa registrada na sociedade como um todo. A atenção dada pelos meios de comunicação de massa a casos extremos, como esfaqueamentos e massacres com armas de fogo em escolas, gerou uma impressão distorcida da prevalência desse tipo de agressão, mas também deu origem a investigações sobre os vínculos entre a violência na escola e a violência criminosa praticada por jovens e adultos fora do ambiente escolar.
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2.2.10. Armas nas escolas.
Um estudo nacional realizado recentemente nos Estados Unidos revelou que de 3% a 10% dos estudantes andavam armados dentro das escolas e que 12% a 25% andavam armados fora da escola. Esse mesmo estudo mostrou que 13% dos estudantes haviam se envolvido em brigas nas escolas no ano anterior e que 33% haviam brigado fora das escolas. O estudo revelou também que 5% de todos os alunos tinham evitado ir à escola pelo menos um dia nos 30 dias anteriores, por estarem preocupados com sua segurança. Nos Estados Unidos, algumas pesquisas indicaram que em escolas nas quais meninos costumam andar armados, a probabilidade das meninas também andarem armadas é maior.
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Finalizando...
Neste módulo você estudou que:
Nas décadas de 70 e 80 no Brasil, as lutas pelos direitos humanos e seus desdobramentos em políticas públicas mais conscientes tornaram as crianças e adolescentes e também as mulheres e os idosos, entre outros, em sujeitos de direito;
A normativa que determina que a criança precisa de proteção e cuidados especiais, de proteção legal apropriada antes e depois do seu nascimento encontra-se na Declaração dos Direitos da Criança (Resolução da Assembleia Geral da ONU em 20/11/1959);
No Brasil, a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (1989), a Constituição Federal (1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) são as referências legais para a proteção à criança e ao adolescente, em que estão inscritos diversos direitos, visando assegurar uma existência digna e o seu pleno desenvolvimento;
Os grupos vulneráveis são pessoas que podem fazer parte de uma minoria étnica, todavia, dentro dessa minoria há uma característica que as difere das demais e as torna parte de outro grupo. A diferença básica é que as minorias estão limitadas aos aspectos étnicos, linguísticos e religiosos; e os grupos vulneráveis, por sua vez, estão relacionados às características especiais que as pessoas adquirem em razão da idade, gênero, orientação sexual, deficiência física ou sofrimento mental e condição social;
Homicídio, negligência, violência sexual, castigos físicos e psicológicos são exemplos dos tipos mais comuns de violências sofridas pelas crianças ao redor do mundo e no Brasil.
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De acordo com Paulo Sérgio Pinheiro, organizador do Relatório Mundial sobre a Violência Contra Criança, relatos de infanticídio, castigos cruéis e humilhantes, descaso e abandono, abuso sexual e outras formas de violência contra a criança datam de antigas civilizações. Considerando o que estudou sobre o tema na aula 2, cite:
Três tipos de violências, às quais crianças e adolescentes estão expostos que mais o impactaram.
2. Estabeleça a diferença entre grupos vulneráveis e minorias:
Orientação de resposta:
Diferença entre grupos vulneráveis e minorias: Os grupos vulneráveis são pessoas que podem fazer parte de uma minoria étnica, mas dentro dessa minoria, há uma característica que as difere das demais e as torna parte de outro grupo. A diferença básica é que as minorias estão limitadas aos aspectos étnicos, linguísticos e religiosos e os grupos vulneráveis, por sua vez, estão relacionados às características especiais que as pessoas adquirem em razão da idade, gênero, orientação sexual, deficiência física ou sofrimento mental e condição social.

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