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SARTRE, J. Las ranas que piden un rey. In: SARTRE, J. Colonialismo y Neocolonialismo. 2. ed. Buenos Aires: Editorial Losada, S. A., 1965. p. 82-104. Tradução livre realizada pela acadêmica Bárbara Lopes de Vites. Sapos que pedem um rei P. 82 Os “sim” serão numerosos, muito numerosos. Porém ao que se disse “sim”? A constituição? Todos se divertem com ela. A um programa? Do firmamento que arrasa com a cabeça do general, apenas se cair, de vez em quando, um oraculo indecifrável. Não: a quem se quer votar é um homem. Neste país cheio de departamentos, erodido de barreiras, de divisões, de enfrentamentos, onde cada qual disputa um osso com seus vizinhos, de repente se apresenta o homem-unanimidade. Se ganhasse, em 28 de setembro, ainda que fosse por pouco, sabemos que não se consideraria o líder da maioria, mas que pretenderia realizar em sua pessoa a união de todos os franceses. Tendo cuidado de não oferecer nada: e os interesses, na terra, permanecem esmiuçados e contrários. Porém quando o leitor levanta os olhos, descobre por cima das nuvens, a encantadora miragem da unidade. Se votamos por ele, esquerda e direita ficarão unidas como sua orelha esquerda e direita; o alto capital e os trabalhadores rodoviários como sua coroa e a planta de seus pés. Muitos franceses odeiam a seu próximo; o amarão em de Gaulle; todos comungaram nesta grande entidade cuja indissolubilidade orgânica simboliza o mais grau de integração social. Como não se vê, depois de tantas ditaduras, que esta comunhão mística ocultará nossas discordâncias sem apaziguá-las? Como não se sabe que um país projeta em um único homem seu desejo doloroso de unidade, quando as contradições do momento tornaram impossível esta unidade? Se diria que o eleitor dormia. Olhe a vosso redor: os “sim”, os “não” vem de todas as partes; nas paredes, nos diários provincianos, no Express. P. 83 O “não” dá seus motivos, explica sua opção, é uma geometria apaixonada. Os “sim” são suspiros: se entregam aos grandes sonhos, aos grandes sentimentos, as grandes palavras, estes dilúvios de lágrimas que são precedidos com frequência o advento das ditaduras. Triste entusiasmo: contra a Razão, os "sim" invocam os motivos do coração que a Razão ignora ... porém o coração não está ali. Não havia de se surpreender se não tivessemos mais o que fazer com os degaulistas da primeira hora, fieis ao companheiro dos tempos heróicos, o chefe que eles não pararam de respeitar. E de outro ponto de vista, é normal que um certo numero de pessoas, maltratadas pela vida, necessitam crer em Deus e sobretudo em Sua Encarnação. Quantas mulheres solitárias e traídas têm estendido seu ressentimento a toda a espécie: tudo quanto é ser humano lhes causa horror, amam cães e super-homens. Porém haverá jovens homens e meninos que dão seus votos ao futuro monarca: ativos, talvez felizes, inteligentes e que tenham boa fé pelos republicanos. Muitos são técnicos, eles trabalham em equipe, eles sabem como um problema se apresenta e como ele é resolvido; frente a todas as infalibilidades, descobriram, na prática, a importância dos controles recíprocos, da ajuda mútua e do desafio; já não acreditam mais nos Reis Magos. Então? O que eles têm a ver com o Grande Rei? Por que, quando se trata da coisa pública, confiam nesse infalível príncipe ao invés de organizações técnicas que eles poderiam controlar? É necessário que o personagem do general de Gaulle ofereça, por si só e silenciosamente, a imagem um tanto confusa de uma política. E, sobretudo, para decifrar esta imagem, é necessário que esses republicanos tenham uma certa idéia da França, da República, do mundo e de si mesmos. Se pudermos, com o testemunho de inúmeras pesquisas, declarações e conversas privadas, conserte os traços e pensamentos daqueles eleitores perfeitamente honrados e fundamentalmente democráticos que votarão "sim" no próximo domingo, veremos que eles são, na minha opinião, também vítimas de uma miragem. E se este esboço cair sob seus olhares, talvez alguns deles reconheçam, talvez eles tenham os olhos desencantados. P.84 Devemos deixar esta infeliz Quarta República que acabou de desintegrar-se desgostosa de si mesma. As repreenções que lhe foram dirigidas não são novas: já foram feitas a Terceira, que acreditou que estava para morrer em 6 de fevereiro de 1934. Então eles eram menos violentos e menos unânimes: apenas menos justificados. O fato é que, depois de 47, o regime se transforma no vácuo, o fato é que a Assembléia está separada do povo, isto é, dos eleitores; o fato é que havia um "sistema", ou seja, que nossos homens políticos se tornaram coisas inertes e obedeciam leis inflexíveis semelhantes às que regem o curso das coisas. O que primeiro chamava a atenção foi a instabilidade ministerial. Estas quedas bruscas, às vezes inesperadas, essas longas crises, eram a imagem da desordem para muitos franceses. Na realidade, nunca houve mais do que um ministério. Estável, mas rotativo. A equipe- restrita - dos disponiveis dançava em um círculo, cada um segurando seus vizinhos, esperando que o movimento circular de um projetor tirasse seu rosto da sombra. É possível que, para alguns dos íntimos de Pflimlin e Schumann, estes sejam realmente distintos; politicamente escapam o princípio da especificação individual. Sustentados pela mesma maioria, os novos retomaram a política dos velhos, isto é, perseveraram sobre a inércia. Durante este período, um único tropeço, prontamente reparado: o ministério de Mendés France. Esse ponto de partida não era da banda: se podia ver claramente. Bom. Esta descrição foi feita por outros cem. O sistema é a impotência do poder. Não anarquia - onde cada um faz o que quer - mas paralisia, onde a cabeça pensa mesmo quando os braços já não se movem. Sim, Gaillard, Pinay, tinham algo semelhante a uma cabeça e essa cabeça lhes dizia - em particular, eles não faziam mistério - que a guerra na Argélia era absurda e que tinha que ser negociada. Mas quando foi a vez de Gaillard ficar de guarda na Presidência do Conselho, não tinha a loucura de pensar que ele estava confiado nesta nova posição para dar-lhe permissão para fazer o que considerava útil e justo, para fazer apenas o que ele acreditava ser verdadeiro. Esse presidente trocável emprestou sua voz ao sistema e o sistema declarou por P.85 sua boca: governar é não prever, não é prevenir, não é eleger, governar é obedecer: continuaremos a guerra até o fim. O espetáculo da impotência não se presta a dilatar o coração. Indignando as pessoas que trabalham porque o trabalho é ação. O que prova o suficientemente que o antiparlamentarismo tem aqui uma origem profissional; é que os eleitos são menos censurados por sua impotência e sua covardia do que por sua preguiça, visto que é perfeitamente estranho para eles. "Lhes pagamos por não fazer nada". Esta é a ideia. Proximo ao 15 de junho passado, um pequeno burguês me abordou perante a Câmara dos Deputados e me disse furiosamente: -Então eles ainda estão de férias! -Deve ser reconhecido, repudiei, que foi dado. Ele ficou perturbado por um só instante e logo, retomou seu momento de raiva: -Se foi dado? Muito melhor. Mas então, que não lhes paguem. E nossos republicanos - aqueles que dão seus votos para Gaulle - são trabalhadores honestos, amantes de técnicas precisas, ações rigorosas, e que não se reconhecem ou, como veremos, que acreditam que não se reconhecem em seus representantes eleitos. Até agora todos estamos de acordo. Porém não deixamos o domínio das aparências. De onde vem essa impotência? São os homens que criaram o sistema, ou é o sistema que criou homens? E o que é exatamente o sistema? A imobilidade não pode ser a causa, mas apenas oefeito. Sobre este ponto, as respostas são imprecisas. Eu li “Os príncipes que nos governam”, de Debré, com a esperança, eu confesso, de dar me dianteira; tive uma decepção: essa papa não se come. Mas, a julgar pela Constituição, a falta original seria a premicia do legislativo. Aqui estamos. Imaginemos um homem com nervos de aço, com um coração duro e orgulhoso, com a cabeça cheia de vastos projetos, que só quer trabalhar para a França e que, para realizar seus negócios, não precisa mais do que a continuidade: é o executivo. P.86 E compararemos agora com essa grande figura, o legislativo, esse cesto formigando de caranguejos, viscosos, saltando uns sobre os outros incessantemente. Não é absurdo submeter o homem aos caprichos dos caranguejos? É aqui que temos que denunciar a maior impostura degaulista. Se terá a ousadia de fingir que a Assembleia tem feito dos nossos ministros animais aborrecidos e aterrorizado que com tanta frequencia ouvimos no rádio e na televisão, um elogio ensinado? E são os ministros que fizeram reinar o medo na Assembléia? É a Assembléia que impediu Mollet. negar o sequestro de Ben Bella? E aquele que forçou Gaillard a "cobrir" o bombardeio de Sakiet? Eu digo o contrário, que todo o mal que veio nos últimos anos, de um poder executivo excessivamente forte que escapa do controle do legislativo. Porque teriamos um poder executivo. Este príncipe bombardeou Haiphong, quando a Assembléia queria negociar com Ho Chi-Minh; ele exigia dinheiro - o nervo da guerra - que lhe foi dado apressadamente e sem discussão, multiplicou na Argélia as "leis dos suspeitos" e as operações da polícia, varridas, quadradas, bombardeadas; na própria França, tomou a imprensa da oposição e processou jornalistas em tribunais militares; toda a vida nacional estava bloqueada por seus grandes sonhos heróicos de reconquista, sacrificou a França às suas colônias e a Assembléia aterrorizada, impotente, pulou na cauda das guerras coloniais como uma caçarola na cauda de um gato. Este executivo autoritário, incontrolável, foi chamado Thierry d'Argenlieu; hoje tem cem nomes, Massu, Trinquier, Lacheroy e outros "coronéis". Em treze anos, a França tornou-se este país militarizado cujos filhos são abatidos no exterior sob as ordens dos nossos príncipes, os Senhores da Guerra. Faz dezenove anos que travamos a guerra: o sistema não teve origem nos supostos vícios da Constituição de 1946, mas no lento fascínio de uma nação que perdeu seu sangue, seu tempo, sua cultura e suas riquezas em antigas conquistas que, há muito tempo, custam mais do que produzem. Executivo? Legislativo? Sistema? Regime? Palavras. P. 87 Se na atualidade houver uma crise de poderes, teremos que buscar as razões profundas nos males que nossos novos senhores não querem ou não podem curar. O que eu vou dizer todos sabem, mas muitos não querem saber. Repito isso para esses falsos ignorantes. Não pretendo que a História seja justa: talvez não era justo que nós suportassemos sozinhos o primeiro golpe do exército alemão, nem que o inimigo nos ocupasse por quatro anos, nem que permanesesemos abandonados, ruminando nossa derrota, enquanto nossos aliados ganhavam a guerra, nem que fossemos liberados por eles, declarados vencedores por complacência e tolerados como parentes pobres entre os Cinco Grandes. Em 1945, acreditávamos voltar a tomar a sorte em nossas mãos: Rússia, Estados Unidos e o General de Gaulle quebraram a espinha dorsal da Resistência. As greves dos 48 esgotaram os trabalhadores. Descobrimos então que éramos um país muito antigo, uma sociedade estratificada, da base ao cume, pelo Malthusianismo econômico que existia entre as duas guerras. Onde estava o povo? Já não existia; o haviam dividido em grupos de interesses divergentes que não se queriam entre si . Além disso, todos se opunham a todos: pequenas, médias e grandes empresas, do comercio varejistas e atacadista, camponesa e das cidades, como acontece quando o movimento da História se detem e as contradições vivas se tornam em conflitos inertes. A grande indústria acentuou suas tendências malthusianas, a própria classe trabalhadora se desgarrou: os trabalhadores profissionais, herdeiros do antigo anarcosindicalismo, obistruiam o que podiam a modernizaçao das ferramentas, porque temiam, acima de tudo, que seu trabalho se desqualificasse por isso; os trabalhadores especializados, cansados de virar o ciclo infernal "preço-salários", viram, pelo contrário, na produção em massa o único meio de elevar seu padrão de vida. Sindicatos e partidos vieram coroar esses antagonismos e endurece-los; mas para o golpe de graça, desta vez, foi dado de fora, o Plano Marshall e o "Golpe de Praga" transformaram esses conflitos econômicos e sociais em ódio político. A esquerda tinha passou para a posteridade. O Império permaneceu. Começou a quebrar muito cedo. Não foram necessárias grandes luzes para entender, desde as primeiras P.88 revoltas, que assistíamos o início do que deveria ser, o evento mais importante da segunda metade do século: o despertar do nacionalismo entre os povos afro-asiáticos; nem para conceber que esse movimento de emancipação seria iresistivel e ireversivel. Porém não quisemos ver nada disso e a mesma esquerda, a principio, orou: o Império era nossa grandeza. Essa soberania que tínhamos bargannhado para a América do Norte, obrigamos os rebeldes a reconhecê-la, podiamos sonhar por um momento que a mantivemos. Não foi a Assembléia que criou o verbalismo imbecil que apodreceu tudo: era a situação. Estávamos entre os Cinco Grandes , porém a Alemanha, após sete anos de derrota, nos esmagava com seu poder. A palavra Grande perdeu seu sentido. Mediante mataças, faziamos respeitar nas colônias uma soberania que haviamos perdido. A soberania nao era mais que uma palavra. Afirmavamos em todos os lugares a grandeza da França mas sabíamos que nossas guerras de prestígio indiguinavam o mundo sem causar terror. As potencias atomicas se perguntavam, asombradas: “Que fazem? Jogam? Isso deve ser para ocupar seus soldados.” Grandeza era apenas uma palavra. Outra palavra, vitória: a guerra tinha que ser encerrada ou seria perdida. O resto veio sozinho : quando, num último esforço , quizemos atrair os Estados Unidos para o conflito, consideramos positivo o esquecimento de que haviamos nos jogados contra ele em parte para nos afirmar contra eles; ninguém jamais falou da expedição colonial; os franceses se tornaram um sentinela do Ocidente, defendeu no Vietnã os valores cristãos e latino-americanos contra o anticristo Stalin es bárbaros eslavos. Nós despertamos, fugimos do sonho,para escapar da intoleravel verdade. O sonho se transformou em um pesadelo anos atrás,porém preferimos os terrores ao noite ,"A vergonha do meio dia.” O exército viveu mais intensamente essa aventura, mas, em grande parte da mesma maneira. A derrota-relâmpago de 1940, cheio de más intenções. Então, cada uma das guerras que ele fez , parece ter sido o julgamento dos oficiais anteriores. Os oficiais não amaram os guerrilheiros da Indochina, mas possuiam uma paixão sombria. Essa vingança foi uma derota . Não foi culpa dele: eles sempre se mostraram valiosos P. 89 às vezes heróicos. Mas a Assembléia não se mostrou culpada: tiveram os créditos, as armas. Os atrasos,os erros, não têm outra origem além da distância. Na realidade, perderam essa guerra porque tivemos que perdê- la: o que pode um corpo expedicionário contra a rebelião de um país inteiro, quando suas bases "naturais" estão a milhares de kilômetros de distância? No entanto, consideraram esse afastamento como uma traição; odiaram a população civil, porque não podiam corar antes disso. Ninguém tinha pensadoem fazer a menor reprovação,porém o Exército interpretou nossa aparência, nossas palavras, nossos silêncios.Esse divórcio dos heróis infelizes e da comunidade nacional está na origem de nossas desvantagens atuais. O Exército se sente ferido. Está preso entre dois tipos de conflitos - os do nosso século - sem ser realmente armado para qualquer um ou para o outro. Contra as guerras populares, apesar do imenso esforço desses últimos anos, o que ele pode fazer? Ler Mao? Então saberá que o exército revolucionário vive em simbiose com a população. O que fazer ante isso? Os serviços psicológicos podem ser criados, escolas contra-guerrilhas; a máquina militar pode ser flexibihzar ao máximo, usar os soldados- assim como fiseram os generais do V Exército- trabalhar, plantar e ajudar o campesinato. E depois? Você acha que os corações vão mudar? Sem a população civil, a guerra não pode ser perdida, mas é certo que não ganhará. Mas se, por outro lado, surgiu um conflito mundial, a pobreza dos nossos recursos não dá oportunidade a nossos militares. Projéteis, foguetes intercontinentais, armas controladas remotamente, em uma palavra, guerra de passageiro, desqualificam armas clássicas, como as máquinas semi-automáticas descalificaram os trabalhadores profissionais. O técnico terá a vantagem sobre o militar, e a morte atômica trará o soldado e o civil para se ferirem juntos e sem discriminação. Muito rico para ganhar as guerras dos pobres, muito pobres para se impor em uma guerra dos ricos, o exército francês será modernizado em vão, a política e a tecnologia o feriram no coração. Permanece, apesar de si mesmo, apesar da juventude e da coragem de seus oficiais, uma espécie de anacronismo. Ele se pergunta sobre sua razão de ser: os conflitos P. 90 colonialistas o desgostam, declarou que não têm honra; ainda são os únicos em que eles ainda podem se defender, contra-atacar e, até certo ponto, se adaptar às táticas do adversário. Desde a perda da Indochina, em uma palavra, tem que se prolongar entre os quartéis e a Argélia. Você já escolheu; lá encontrou o civil inalável, o europeu de Argel, seu civil; a simbiose do felá e as populações musulmanas tiveram, por contrapartida, a do exército francês e a população europeia. Necessidade política - porque esta guerra é militar e política - o exército terminou, com a ajuda dos colonos, para se tornar uma doutrina: nesta luta revolucionária, foi contra- revolucionária para o dever. Então, como é frequentemente o caso, ele se comprometeu com o assunto e, para combater o adversário com armas iguais, chama sua revolucionária contrarrevolução. Pouco cuidado em assumir o poder sozinho, aceitará reinar através de outros. O que ele quer é deixar o osso: a Argélia francesa. Porque se torna furioso mais uma vez por uma guerra que ele sabe ser sem esperança, tanto para vingar suas derrotas imerecidas quanto para atrasar o momento do que ele acredita ser cancelado. Não é que se queira lutar indefinidamente. Ele acreditou na integração. Ele concebe um novo papel para o soldado: o explorador do império, que bate tão cedo e logo ajuda o camponês a sufocar a colheita. E tão cedo - quem sabe? - adoctrinando os aldeões pela boa causa. Porém preservava a paz, ou faz-se a guerra, o exército, se quisermos dar crédito, nunca abandonaremos a Argélia, sua última justificativa, seu interesse no corpo. Após cerca de cinco anos, o exército pesa de forma esmagadora no governo da metrópole, cada dia mais ameaçador. Com os colonos - cujos interesses são muito óbvios e os meios de pressão muito conhecidos por serem lembrados aqui - forma um bloco e suas ações conjuntas conferem-lhe a onipotência. E, no entanto, os novos Lordes da Guerra permanecem sombrios: para um oficial, nenhum sucesso político terá o valor de uma vitória militar. A partir de 1939 - exceto quando a divisão Leclerc foi da África para Paris - a vitória não chegou uma vez ao compromisso. Lá, no fundo daqueles coronéis, esse derrotismo, essa vertigem do fracasso que está na base de todo o fascismo. Você vê: nada mais mentiroso do que aquelas histórias de sistema, P. 91 da assembléia ingovernável, etc. Na verdade, o poder executivo está em Argel; é formado por civis e militares, decide da França em função da Argélia. Para questões estritamente metropolitanas, fomos deixados, até 13 de maio, uma espécie de autonomia. Hoje, mesmo esta autonomia está sendo discutida. E, sem dúvida, o Exército, quase inteiramente absorvido na guerra - e, por outro lado, dividido - não pode fazer muito. Mas, mesmo que seus meios sejam restritos, pelo menos é a única força coerente e organizada que resta. Teríamos precisado de uma esquerda unida: nada mais. Era demais pedir. Ao separar os partidos políticos por uma barreira de ódio e fogo, a mesma razão que nos precipitou furiosamente no advento colonial - os blocos, a guerra fria - nos privava dos meios de sair dela. A Rússia, os Estados Unidos, as nações de Bandoeng: em todos os lugares ao mesmo tempo - leste, sul e oeste - levanta o vento que, durante doze anos, sopra tormentoso sobre a França. No momento em que os povos colonizados exigiam sua liberdade, a guerra fria desmoronou a única maioria que poderia ser concedida. Aqui está toda a história: uma situação que se deteriora sem parar- seja Indochina ou Argélia - e uma maioria impotente, aterrorizada por colonos, comunistas e militares, que ele concorda temporariamente e adia suas decisões dia a dia até serem impostas pelas próprias circunstâncias. Um país humilhado, exausto, minado por dissensões, que afunda, tristemente e por raiva, em guerras sem esperança e se degrada todos os dias um pouco mais, vendendo sua soberania e depois depositando o feixe de suas liberdades entre as botas do militar. Um país paralisado que se afoga em devaneio e ressentimento. Um pais detido , de economia caduca, que teve que esperar até 1949 para renovar seus equipamentos e o fez, sem cuidar demais dos mercados que absorveram o excedente de sua produção. Um país estratificado, transposto de desconfiança e de mau humor, que repetiu sem cessar : "Tenho compromisso com a História!" e que ele se deu conta que a História não veio para ela. P.92 A Assembléia? Bah! É feito à sua imagem. Se você quiser alterá-lo, mude primeiro o país. E é claro que podemos muda-lo; para todos nós, tomando o mal pela raíz: porque o país somos nós. Compreenda que a grandeza de uma nação não é medida pela quantidade de sangue que se derama, mas pelo número de problemas humanos que resolve; parar as hostilidades imediatamente, negociar, reconsiderar com seus representantes a questão dos países associados; recuperar nossa soberania perdida e trabalhar para o fim dos blocos, isto é, para a paz; para juntar todos os homens da esquerda e reconciliá-los de acordo com um programa estabelecido em comum; para impedir o sangramento das moedas dando à França uma economia complementar das outras economias européias, para impulsionar a grande indústria a fim de aumentar a produtividade e combater por todos os meios, de modo que o aumento de tanta produção beneficie antes de mais nada os trabalhadores, a partir do movimento demográfico provocar, a reorganização da economia - os estratos que separam os grupos e eles os lançam em antagonismos inertes; equilibrar as desqualificações do trabalho que correm o risco de serem produzidas por elevar a produtividade, por um sistema de requalificação e por um conjunto de classificações e reclassificações, diminuir, se não reprimir, conflitos de interesses que dividem a classe trabalhadora ; para desenvolver a cultura científica, literária, artística e política entre as classes sociais mais desfavorecidas, etc., criar uma educaçãoagrícola, especialmente no centro e sul da França, para aumentar a produtividade agrícola nessas mesmas regiões. para permitir que as comunidades agrícolas façam compras coletivas de máquinas motorizadas, e assim por diante. Em dez anos, a fisionomia da França não será mais a mesma: o terciário, agora hipertrofiado, terá desinflado, o primário terá diminuído em um terço, o secundário será mais homogêneo e seu padrão de vida maior. Se fizéssemos isso, e fizessemos em dez anos, talvez possamos dizer, sem muita vaidade, que a França é um país excelente. Mas se eu esboço, de passagem, as linhas principais de um programa, não é para propor isso hoje. É pedir aos republicanos que vão levar no domingo seu sufrágio a Gaulle: P.93 É por isso que você vai votar nele? Você vai pedir habitação, tratores, escolas, reorganização da economia, um pacto de aliança com povos do exterior? Eu sei que a resposta é não. Por que, então, você esperará dele o que ele nunca prometeu? Por que você quer votar em um programa quando sua cédula é direta para o homem? Me responderá que este homem é capaz de realizar em três anos projetos mais numerosos e ambiciosos do que a Quarta Republica fez em treze anos? Eu acreditaria se eu tivesse um indício de prova. Mas seu candidato é mais famoso pela nobre obstinação de seus negativos do que pela amplitude de suas conquistas econômicas e sociais. A verdade é que você escolhe a ação pura, isto é, o indivíduo é subtraído a todos os controles, pela repugnância do pântano abjeto em que salpicamos desde a Libertação. Já tentei mostrar que as causas eram objetivas e profundas e que os remédios também deveriam ser. Não haverá mudança na França ao renovar constantemente a equipe de liderança. Enquanto as infra-estruturas permanecerem o que são, o sistema permanecerá o que é. E digo a mim mesmo de repente que esta impotência que você está horrorizado para anexar muito cedo à Assembléia, mas isso poderia muito bem ser seu, você projeta em outros para se livrar disso. Estes dias eu questionei muitas pessoas. Alguns votarão para o General de Gaulle, os outros se absterão. Sem dúvida, eu queria saber o que seus apoiantes esperavam dele, mas também os abstencionistas que o alimentaram de um preconceito favorável. A guerra na Argélia, por exemplo? O que eles estavam esperando? O que eles exigiram? Devemos fazer a paz? A palavra "paz" os desconcertou: acharam-a brutal. A paz? Ele estava muito comprometido. Eles disseram: "O fim da guerra". Eles cobriram as orelhas com as mãos e gritaram: "Deixe-o terminar! Deixe-o terminar! Não se falem de novo!" Eu avisei que havia apenas duas soluções concebíveis: o esmagamento de F.L.N. (se possível) ou negociações. P.94 A primeira solução não os desagradava, desde que fosse rápido. Eu disse: "Será necessário um grande esforço: os militares precisarão dinheiro, armas e homens". Imediatamente, eles diriam: "Não, não, não, nem mais um homem, nem mais uma moeda. Aqueles meninos pobres que se vão; e preços! E os impostos! " Então, eu disse, que pode durar muito tempo. Eles ficaram com raiva de novo: "Se já dura mais de três anos. Não. Em breve." Então tivemos que negociar. Mas todos estavam respondendo em outros termos que o General de Gaulle aplicava em Rennes: "Independência, não. Nao se abandona um milhão de compatriotas, isso não se faz. Integração: impossível, se pagará a guerra, seguro social e concessões.E então não o quererão, os porcos!" Eles disseram "os porcos". Sem pensar mal e sem aversão. Por outro lado, achei difícil torná-los precisos sobre os seus sentimentos sobre os norte-africanos. Disseram: "Eles são cães raivosos, jogam em qualquer coisa, que os reembarque, eles não têm nada para fazer aqui". E então, um momento depois, "entende- se que eles são". Entende-se que eles resistem: tenho uma cunhada que vive lá, ela me disse que eles eram ...de um miserável ... " E voltando aos ataques: "Foi fatal, é nossa culpa. Em 13 de maio, eles queriam matá-los, eles disseram bem!", etc. A conjunto dessas respostas me iluminou: a contradição não está atualmente na França, entre os partidários da guerra e os da negociação, entre os inimigos jurados dos árabes e aqueles que tentam compreendê-los. Está no coração das pessoas que querem tudo ao mesmo tempo. Parecia-me, por outro lado, que desejariam, se tivessem ousado, conferir independência aos argelinos, mesmo que por prazer em não ouvir mais nada disso. Mas justamente: eles não se atreveram. tiveram medo. De seus vizinhos, dos espiões, não sei do que. Mas acima de tudo, de si mesmos. Eles ouviram falar dos judeus, que havia liquidação de impérios, não queriam se assemelhar a esses traidores. Como P.95 dizia um rapaz no tren outro dia: "Não tenho nada a ver com a Argélia, e não gosto da colonização", "mas é nosso patrimonio, uma herança deve ser preservada, mesmo que não produza nada. " Desta forma, as pessoas vão votar pelo homem eficaz, por ele que deve e pode resolver todos os nossos problemas. Mas eles nem sabem siquer que é o que gostariam que fizessem. Se pode; reconhecem que esperam a solução mais radical. Independência, por exemplo. Eles serão um pouco escandalizados, mas encantadores, no fundo, se ele os forçar: "Uma vez que tudo o que vem dele é sagrado, a independência, cuja única idéia me pareceu um sacrilégio, é a solução mais justa e mais francesa". Eles não são como as pessoas do sistema?: Todos, ou quase todos, os deputados desejavam a paz e votaram pela guerra. E eu começo a me perguntar se esses degaulistas republicanos não são responsáveis por essa Assembléia obsoleta que odeiam. Nas ruas, você podia ouvir os bíággistas ou os jovens de Le Pen. Falavam em voz alta, gritavam, "Argélia francesa!" Mas quantos eram os que gritavam: "Paz na Argélia!"Os deputados ficam fascinados com o número: é uma mania de eleitos. Você que os censura hoje por não ter sabido nem como fazer a paz nem como ganhar a guerra, que não foi gritar sob suas janelas "Negocie!": Por que você não protestou contra a tortura contra julgamentos sumários, expedições punitivas, desaparecimentos, campos de concentração? Aqueles que votarão por De Gaulle irão fazê-lo, porque sua própria paralisia, a sua própria covardia as repelem , querendo evita-las. E, por outro lado, havia homens na Assembléia que queriam a paz e a proclamavam em voz alta. Se tivéssemos sustentado, todos nós, em vez de nos enredarmos em nossas contradições ... Adverto é claro, que os apolíticos vão votar em de Gaulle: talvez esses mesmos que se abstiveram nas últimas eleições. Entre eles, há indiferentes, muitos deles sem paixão, que só querem a tranqüilidade. Mas há outros sobre os quais você não consegue pensar sem vergonha. Por ocasião de um artigo, no qual expliquei por que votaria não, um leitor escreveu para me dizer que votará P.96 sim, mesmo que ele concorde comigo sobre o todo: "Sim terá altos e baixos, mas a vida continuará: o não é aventura". E aqui está o crime, não da Quarta República mas da nossa burguesia, por cento e cinquenta anos: há cidadãos de segunda classe, sem esperança, e há muito que são considerados como tais. Têm tão poucos direitos, tão pouca influência, pesam tão pouco no mundo que os transtrornos políticos não os tocam. Meu correspondente pensa que não tem nada a ganhar com o colapso da República, mas também que ele não tem nada a perder. Eles vão tirar suas liberdades civis, diminuir, talvez, seus direitos sindicais, eles só deixarão o direito de permanecer em silêncio. O que interessa: vote na ditadura. Isso prova que ela ficou em silêncio, que ela sempre estava em silêncio, ou que eles não ouviram.Ninguém. Nunca. Se hoje milhões dehomens são indiferentes ao referendo, se eles não cuidam dos poderes respectivos do Presidente e do corpo legislativo, é culpa nossa, já que nunca conseguimos fazê-los entender que eles influênciam outros homens para a votação simples que depositaram na urna e que a atividade política do cidadão é a mais completa afirmação de sua liberdade. Desta forma, eles não contam, nem jamais contarão,e se arranjaram como puderam nessa vida que eles fizeram. Eles vão votar "sim" em 28 de setembro: se eles coletam em janeiro de 1959, como em janeiro de 1958, seu salário baixo, eles vão pensar que eles não tiraram nada disso. Porém até a sua modéstia os engana: serão feridos em seus salários; A guerra continuará, os preços aumentarão. No presente, a realidade objetiva é de apenas alguns milhares de francos; amanhã, o franco baixará, menos será. Indiferença ou impotência, todos esses apolíticos votam pelo apoliticalismo, como se fosse um programa que eles queriam impor. Dizendo "sim", eles tomam atitude ao extremo, até desistir de todos os seus direitos civis. Aceitam o cuidado da maquina pública nas mãos de um homem que fará tudo por eles. Elos aqui simplificados: eles ainda são cônjuges, filhos, funcionários, campeões de bilhar, mas não serão mais cidadãos. Eles ficaram em silêncio, P.97 ensinam-lhes uma careta; eles votaram porque colocaram o mais rápido possível: a vantagem é que eles não poderão falar. Se busco os motivos de uma conduta tão paradoxa, encontrei imediatamente um todo: a impotência objetiva da coletividade francesa está tão profundamente gravada em cada um de nós quanto sua impotência pessoal para modificar o destino de seu país. Vale lembrar aqui a pesquisa sobre a Nova Onda e as respostas que chamaram a atenção dos leitores do Express: "Eu não acordo com Nikita, não tenho influência com Ike, não sou quem dá o Prêmio Nobel". Na verdade, nós, também, quando tínhamos vinte anos, poderíamos ter respondido: "Não dou o Prêmio Nobel, não tenho influência com Stalin". Mas acreditamos que tivemos destinos da escala humana. Não agimos em Stalin, mas não imaginamos que Stalin pudesse agir sobre nós. Havia uma questão importante: a Alemanha, cujo rearmamento já era temido, mas isso não nos assustou. Pareceu-nos que devemos prevenir ou vencer a futura guerra franco-alemã. Não achamos que dependiamos de todo o planeta. A política dos blocos e a guerra fria, como o extraordinário desenvolvimento da mídia, fazem que um jovem francês seja, em primeiro lugar, planetário; pertencesse a esse "mundo único" falado pelos americanos. Mas, precisamente por esta razão, a França está diminuída, a fragilidade é descoberta e logo, como parece, a História está em outro lugar. Qual é o objetivo de tentar exercer na França seus direitos de cidadão, qual é o significado da votação, se a França não é mais do que um objeto inerte cujos movimentos e posição estão condicionados por forças externas?Lá timidez, a gravidade, a aplicação desses jovens, são nada mais do que uma consciência de sua impotência social. Eles são absorvidos no trabalho, em questões profissionais, na vida familiar. A técnica também os fascina: é a única intervenção deles no mundo. Eles zombam da política: se eles fossem russos, talvez, ou chineses ... Por trás dessa sabedoria precoce, que nem sequer é resignada, uma espécie de angústia é adivinhada. Eles vivem em liberdade, mas sem poder, em um mundo apocalíptico, que o estoque das bombas americanas faria pular, sob um céu enrugado de P.98 sputniks. Os jornais, a cada três meses, profetizam a próxima e última guerra mundial enumerando as consequências que todos conhecemos disso. Esse medo era claramente evidente na resposta de um jovem empregado: "Feliz? Onde se é? Ah, em uma familha! Bem, eu não tenho nada para reclamar, eu tenho minha esposa e minhas filhas. Não tenho direito de reclamar, pois há tantos outros mais infelizes do que eu. Ah, quando penso no futuro, tudo o que nos espera, bem, confesso que não me sinto feliz. Toda noite, antes de dormir, minha esposa olha pela janela para ver se os Sputniks passam. "Quando ele vê que não é por aquela noite, ele se acalma e pode dormir". Desde Hiroshima, somos assediados, irritados, preocupados incessantemente. Imagino que há em cada cérebro uma hematoma, um cardeal que não é senão terror em repouso. Muitos poderiam repetir hoje a frase de Hobbes que data de três séculos: "A única paixão da minha vida tem sido o medo". Medo e impotência, medo da impotência, impotência pelo medo, tudo o que nos leva nesse referendo para levar o partido da impotência e do medo. Sem a leve contusão cerebral que causou uma centena de traumatismos diferentes, a chantagem dos paraquedistas - o argumento básico da propaganda degaulista, e até mesmo dizer que seu único argumento - não teria sido bem sucedido. Quando eu tinha trinta anos, teríamos ficado envergonhados de ceder a tais ameaças de bêbado. Entenda: não fomos mais fortes. Simplesmente mais frescos. Menos deteriorados. Menos assustados pelo medo. Jovens hoje criaram medo do Exército Vermelho, da bomba atômica, dos pires voadores, dos marcianos e, finalmente, dos pára-quedistas. Não importa, a modéstia tem suas vantagens: aqueles que votarem "sim" no domingo proclamarão seu medo sem vergonha, oferecendo ao Senhor Gracioso seu amor e fé, em troca de sua ajuda e proteção. Ao mesmo tempo em que reconhecem sua impotência, entregam seus poderes ao absoluto. É o Grande Eficaz. Não nos surpreenda com esses "sim" nas paredes, dos quais somos um pouco santuarios: aceitar, pelo amor do Príncipe, a Constituição que ele nos concede e que nos prende, é renunciar de uma vez por todas a P.99 controle do poder legislativo sobre o executivo e, o que é mais grave, o da razão sobre a ação. Esses ativistas da impotência contam com o Príncipe para resolver problemas que nem sequer querem formular, tomar no lugar deles as decisões que eles evitam, superar as contradições que os paralisam. Eles lhe dão essa carta branca porque é ele. A ação do Príncipe, assim encarada, torna-se a única, a inefável e a irracional. Avançemos ainda mais: é incomunicável pela ruptura recíproca das comunicações. Aquele que declara hoje: "De Gaulle é o único que ..." não diz nada razoável; não é mais um relatório comprovado, como aqueles que, de certo modo, tornam a popularidade mensurável, mas de uma qualidade única e incomparável que separa de Gaulle do nosso mundo. Cheios de ineficiência, nossos republicanos apolíticos dizem "sim", ao irracional, ao sagrado e, ao mesmo tempo, "não" à igualdade. Se houver um homem, na espécie humana, que tem luzes que só ele pode ter, se essas luzes lhe dão o direito de agir, mesmo como um bom pai, sobre nossos destinos, se seus atos são sempre válidos e bons, para o simples fato de expressar sua essência, então a espécie humana se desintegra em uma corrente: não há mais homem; apenas um super homen e animais. De Gaulle é o protetor do homem planetário - quero dizer, o francês - representa para ele a encarnação viva das nossas fronteiras, o rodeia e protegê-lo, esconde o mundo, isso o deixa com essas palavras tranquilizadoras: "França, apenas França ..." "Mas, ao mesmo tempo, o eleitor e o Grande Eleito juntarão seus esforços para quebrar nosso humanismo em mil pedaços. Arbitrário, eficaz, limpo; violência, qualidade inefável, conhecimento intuitivo que é apenas um dote de um, reconheço os traços do que um sociólogo alemão, Weber, chamou de poder carismático - uma expressão que deve sua fama, entre 1933 e 1945, aos eventos. Devemos voltar para isso? Votar para a graça é diminuir, é reconhecer no outro não só a superioridade de talentos, meios ou virtudes,que seria perfeitamente admissível, mas uma superioridade de espécies. Se existe, no meio dos homens, P.100 uma espécie superior ao homem, então é a espécie humana, e aqueles que não pertencem a ela são cães. É necessário, republicanos degaullistas, se rebaixados ao nível dos animais? Poderia acontecer se fosse um produto de entusiasmo. Mas nosso planetário indiferente quer paz em casa. Ele acredita em chantagens dos pára-quedistas, teme que seu copo se quebre ou que ele jogue granadas em sua rua. É quem diz, ao mesmo tempo: "De Gaulle é o único que pode ..." e "De Gaulle é o mal menor". Essa triste servidão me perturba. Finalmente, o primeiro que conta é Massu: eles não querem isso. O pseudo-sim é, de fato, um "não" simples para o general do pára-quedismo. Mas lá, como em toda a chantagem bem organizada, de Gaulle aparece contra Massu e os sagrados aparecem com ele, apenas como meio. Quanto ao republicano degaulista, político de um dia e contra a política, retornará, em 29 de setembro, ao seu fiel silêncio, à sua tremenda liberdade, aos transtornos prudentes de sua vida privada. Se equivoca. O que comunica este voto de confiança a de Gaulle não é um poder, é uma impotência. Um líder político tem força quando ele é cercado pelas mesmas pessoas que confiam nele, de acordo com um programa e que o incitam a fazê-lo. Mas os eleitos da impotência, que é aceito como tal, tem que rejeitar a escolha ou tornar-se impotente. Ele quer ser o escolhido de todos: entre aqueles que lhe concedem o sufrágio, haverá aqueles que têm a intenção declarada de fazê-lo cobrir seu fascismo, e outros, os degaullistas de esquerda, que pedem que ele adote uma política, uma vez que não, pelo menos, liberal e social. Quem ganhará? Eu vou te dizer. Mas se é admitido por um momento que os fascistas são, e se se supõe - julga provável - que de Gaulle rejeite essa brutal e vulgar forma de autoritarismo, pode-se esperar que ele consiga apoio entre seus eleitores nuetralistas, do mal menor? Nem um instante: essas pessoas juraram antecipadamente encontrar o que quer que ele empreenda. E então eles voltaram a dormir. Fascismo? Antifascismo? Eles não têm nenhuma opinião, ninguém pediu que eles a tivessem. Eles responderão suavemente: "Oh! O fascismo com de Gaulle é o mal menor". E vai muito longe nessa direção: seja qual for o massacre ou o St. Bartholomew organizado P.101 por seus comandos, sempre pode-se dizer que as coisas teriam sido pior se de Gaulle tivesse se aposentado. A Quarta República está morta porque os franceses não tomaram o cuidado de unir, realizar manifestações em massa, obter promessas de seus eleitos e ajudá-los a mantê-los. Não sendo eleito de acordo com um programa de ação que seus eleitores o forçariam a observar rigorosamente, de Gaulle, se eleito, permanecerá no ar. Esse grande cão flutuará no vazio, acima de nós, mas sem um pedestal. E então, à medida que seus partidários descarregam suas contradições nele, é ele quem herda. No que diz respeito à guerra argelina, agora é evidente que é vacilante e contemporâneo, não mais ou menos do que a maioria dos franceses. Os homens do sistema têm sido maliciosos: eles viram que, mais cedo ou mais tarde, uma decisão radical deveria ser tomada: a pacificação ao extremo ou a negociação. Então eles prosseguiram como fizeram depois de Dien-Bien-Phu: eles deram suas chaves e seus poderes a um homem de ação, desejaram-lhe boa sorte e foram na ponta dos pés. O sistema está morto, viva o sistema! Porque agora o sistema é de Gaulle. Só dele. Como poderia ser de outra forma? Ele não gosta de ser o homem de guerra até o último extremo, mas talvez menos quem designar um liquidatário. Se eleito, será, como a Assembléia, o representante dos franceses. Mas, ao mesmo tempo, a força real é dada pelo Exército. Sem a chantagem dos pára-quedistas, ele ainda estaria em Colombey. Essa unanimidade muda - supondo que seja feito com o nome dele - é um enigma por si só. De fato, o governo de Gaulle oferece todos os personagens que definiram o sistema, em nossa opinião. Ele sai para o amanhã, ou seja, até o dia 28. No dia 29, se for eleito, aguardará as eleições da nova Assembléia, e depois sua própria eleição. E esta temporização revela precisamente a sua impotência: elude, escapa, mas a guerra em Argel a segue a Paris. Em muitas cidades da metrópole, os norte-africanos são questionados. Estou profundamente convencido de que o general de Gaulle está consternado com a tortura que ele considera desonrar o exército e que na Argélia lembrou a certos oficiais que P.102 os telefones de campanha são feitos para telefonar. O que ele faz, porém? Se cala. Em seguida, cubra. Como Gaillard. Por outro lado, vivemos, como fizemos antes de ontem, em total irrealidade: impotência e abstração levam mais uma vez ao verbalismo. O antigo sistema procurou a palavra que escondia, tentando definir. O New-Look do sistema procura o equívoco, da frase de duplo significado, aquele que parece um duplo significado e não possui, ou a série de frases, cada uma das quais parece inteligível em particular, mas cuja soma é igual a zero. Ou o efeito da palavra não pronunciada. Está em todas as gargantas, quando o general é ouvido, aguarda-o, espera-o, teme-o; cada frase é tão boa construído que parece sua viúva; ele deve ter escapado. Finalmente, brilha nos olhos, vibra nas caveiras, a voz sai, alguns dizem "m ...", os outros "louvam a Deus". O general deixa, a imprensa no dia seguinte sublinhe que ele não pronunciou a palavra integração. E que mais? Não existe um ministério rotativo, sem dúvida; no entanto, você não pode saber nada com Janus duas vezes. Mas há compromissos em todos os lugares e em todos os momentos: Soustelle e Mollet como ministros, assim como o futuro presidente do Conselho, constituíram seu time para agradar a todos, com os refinamentos de uma dona de casa. Bem, será dito, o sistema tem ganhado! O que importa que de Gaulle é uma República aparada; tem um tamanho grande, não será pior do que os nossos deputados; votemos por ele. Precisamente não. Primeiro, agora não queremos mais o sistema, condensado ou implantado. Devia ser defendido contra golpes, porque dependia de instituições reais e de livre aceitação. Mas o golpe de estado foi feito dentro do sistema, pelos bons ofícios de Pflimlin, Mollet, Pinay, Coty. Perfeito: nunca volte atrás. O que precisamos agora são outros homens, outros grupos, outra maioria, um programa. E, acima de tudo, devemos lembrar que a Quarta República morreu de impotência. E essa impotência veio do fato de que um general visitante caiu no poder executivo e levou-o para Argel. O sistema não era mais do que aparência. Durante três anos, a realidade foi os coroneis e colonos. Ao menos Mollet, igual a Gaillard, não P.103 foi ao poder pela força e sob a ameaça de um golpe militar. O sistema New-Look nasceu de um amotinamento argelino e de chantagens aos pára-quedistas. Moch revelou recentemente que uma boa parte do exército metropolitano havia assumido abertamente Gaulle. Portanto, fomos impostos pelo Exército. Não repito isso como recriminação: as coisas são julgadas de acordo com a forma como elas saem. Mas, precisamente, eles ficaram muito errados. Desde junho, o general de Gaulle passou de concessão em concessão. No momento, o governo francês está inteiramente nas mãos do Exército; há apenas alguns dias, o presidente do Conselho disse esta frase significativa: "Não é necessário esconder que a guerra da Argélia durará muito tempo". Isso vale mais do que invocar o "último quarto de hora"? Claro, mas isso nos ensina que de Gaulle escolheu a guerra até o fim. Ele não a escolheu deliberadamente, mas porque não podia fazero contrário. Diz- se, talvez, que há mais uma razão para votar "sim": "Ele terá o apoio das massas francesas". Mas precisamente esse apoio mudo ou quase mudo, aquelas bocas que se abrem para deixar passar uma única palavra tão ambígua quanto as frases do mesmo general de Gaulle, tudo isso não serve de nada. A ambiguidade se volta contra quem a criou. Este diz "sim" porque quer dizer "não" (não para os coronéis?). Esse diz que outro "sim" para este outro "não" (Não a de Gaulle e ao sistema, até logo Soustelle). Quem diz "sim" para "sim"? E o que isso significa? Por falta de informação, essa pilha de cédulas não é utilizável; disfarça demais o ódio, já revela o concurso. Os únicos que podem tirar proveito do "sim" se é maciço, são os fascistas. Eles não perguntam sobre o significado do voto, mas simplesmente pensará que a vitória lhes dá um pouco mais de tempo, seja para afundar de Gaulle no pescoço da guerra, ou para estabelecer os organismos e dispositivos que um dia os matarão. Degaulistas republicanos, votem contra o sistema e escolham um sistema ressuscitado. Vote em de Gaulle contra Massu ... e dê aos coroneis tempo para organizar um golpe contra vosso escolhido. P.104 Não esqueça disso; Toda a ambiguidade vem de lá: de Gaulle não é fascista, ele é um monarca constitucional; mas agora ninguém pode votar em de Gaulle hoje: seu "sim" só pode ser direcionar o fascismo. Em suma, entendemos que um país não é retirado da sua impotência confiando a onipotência a um único homem. A única maneira de evitar as monarquias de coração doce que invade o vazio e a mão dos comandos de Argel é tirar nossa impotência, conceber um programa, uma aliança de partidos, uma tática defensiva e ofensivo contra todos os que poderiam atacar os francêses. "Sim" é o sonho; "não", o despertar. É hora de saber se queremos se levantar ou dormir. L'Express, «<> 380, 25 de setiembre de 1958.