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SARTRE Las Ranas Piden Un Rey tradução


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SARTRE, J. Las ranas que piden un rey. In: SARTRE, J. Colonialismo y Neocolonialismo. 2. ed. 
Buenos Aires: Editorial Losada, S. A., 1965. p. 82-104. 
 
Tradução livre realizada pela acadêmica Bárbara Lopes de Vites. 
 
Sapos que pedem um rei 
 
P. 82 
Os “sim” serão numerosos, muito numerosos. Porém ao que se disse “sim”? A constituição? Todos se 
divertem com ela. A um programa? Do firmamento que arrasa com a cabeça do general, apenas se cair, de vez 
em quando, um oraculo indecifrável. Não: a quem se quer votar é um homem. Neste país cheio de 
departamentos, erodido de barreiras, de divisões, de enfrentamentos, onde cada qual disputa um osso com seus 
vizinhos, de repente se apresenta o homem-unanimidade. Se ganhasse, em 28 de setembro, ainda que fosse 
por pouco, sabemos que não se consideraria o líder da maioria, mas que pretenderia realizar em sua pessoa a 
união de todos os franceses. Tendo cuidado de não oferecer nada: e os interesses, na terra, permanecem 
esmiuçados e contrários. Porém quando o leitor levanta os olhos, descobre por cima das nuvens, a encantadora 
miragem da unidade. Se votamos por ele, esquerda e direita ficarão unidas como sua orelha esquerda e direita; 
o alto capital e os trabalhadores rodoviários como sua coroa e a planta de seus pés. Muitos franceses odeiam 
a seu próximo; o amarão em de Gaulle; todos comungaram nesta grande entidade cuja indissolubilidade 
orgânica simboliza o mais grau de integração social. 
Como não se vê, depois de tantas ditaduras, que esta comunhão mística ocultará nossas discordâncias 
sem apaziguá-las? Como não se sabe que um país projeta em um único homem seu desejo doloroso de unidade, 
quando as contradições do momento tornaram impossível esta unidade? Se diria que o eleitor dormia. Olhe a 
vosso redor: os “sim”, os “não” vem de todas as partes; nas paredes, nos diários provincianos, no Express. 
 
P. 83 
O “não” dá seus motivos, explica sua opção, é uma geometria apaixonada. Os “sim” são suspiros: se entregam 
aos grandes sonhos, aos grandes sentimentos, as grandes palavras, estes dilúvios de lágrimas que são 
precedidos com frequência o advento das ditaduras. Triste entusiasmo: contra a Razão, os "sim" invocam os 
motivos do coração que a Razão ignora ... porém o coração não está ali. 
Não havia de se surpreender se não tivessemos mais o que fazer com os degaulistas da primeira hora, 
fieis ao companheiro dos tempos heróicos, o chefe que eles não pararam de respeitar. E de outro ponto de 
vista, é normal que um certo numero de pessoas, maltratadas pela vida, necessitam crer em Deus e sobretudo 
em Sua Encarnação. Quantas mulheres solitárias e traídas têm estendido seu ressentimento a toda a espécie: 
tudo quanto é ser humano lhes causa horror, amam cães e super-homens. 
Porém haverá jovens homens e meninos que dão seus votos ao futuro monarca: ativos, talvez felizes, 
inteligentes e que tenham boa fé pelos republicanos. Muitos são técnicos, eles trabalham em equipe, eles 
sabem como um problema se apresenta e como ele é resolvido; frente a todas as infalibilidades, descobriram, 
na prática, a importância dos controles recíprocos, da ajuda mútua e do desafio; já não acreditam mais nos 
Reis Magos. Então? O que eles têm a ver com o Grande Rei? Por que, quando se trata da coisa pública, confiam 
nesse infalível príncipe ao invés de organizações técnicas que eles poderiam controlar? É necessário que o 
personagem do general de Gaulle ofereça, por si só e silenciosamente, a imagem um tanto confusa de uma 
política. E, sobretudo, para decifrar esta imagem, é necessário que esses republicanos tenham uma certa idéia 
da França, da República, do mundo e de si mesmos. Se pudermos, com o testemunho de inúmeras pesquisas, 
declarações e conversas privadas, conserte os traços e pensamentos daqueles eleitores perfeitamente honrados 
e fundamentalmente democráticos que votarão "sim" no próximo domingo, veremos que eles são, na minha 
opinião, também vítimas de uma miragem. E se este esboço cair sob seus olhares, talvez alguns deles 
reconheçam, talvez eles tenham os olhos desencantados. 
 
P.84 
Devemos deixar esta infeliz Quarta República que acabou de desintegrar-se desgostosa de si mesma. 
As repreenções que lhe foram dirigidas não são novas: já foram feitas a Terceira, que acreditou que 
estava para morrer em 6 de fevereiro de 1934. Então eles eram menos violentos e menos unânimes: apenas 
menos justificados. O fato é que, depois de 47, o regime se transforma no vácuo, o fato é que a Assembléia 
está separada do povo, isto é, dos eleitores; o fato é que havia um "sistema", ou seja, que nossos homens 
políticos se tornaram coisas inertes e obedeciam leis inflexíveis semelhantes às que regem o curso das coisas. 
O que primeiro chamava a atenção foi a instabilidade ministerial. Estas quedas bruscas, às vezes inesperadas, 
essas longas crises, eram a imagem da desordem para muitos franceses. Na realidade, nunca houve mais do 
que um ministério. Estável, mas rotativo. A equipe- restrita - dos disponiveis dançava em um círculo, cada um 
segurando seus vizinhos, esperando que o movimento circular de um projetor tirasse seu rosto da sombra. É 
possível que, para alguns dos íntimos de Pflimlin e Schumann, estes sejam realmente distintos; politicamente 
escapam o princípio da especificação individual. Sustentados pela mesma maioria, os novos retomaram a 
política dos velhos, isto é, perseveraram sobre a inércia. 
Durante este período, um único tropeço, prontamente reparado: o ministério de Mendés France. Esse 
ponto de partida não era da banda: se podia ver claramente. 
Bom. Esta descrição foi feita por outros cem. O sistema é a impotência do poder. Não anarquia - onde 
cada um faz o que quer - mas paralisia, onde a cabeça pensa mesmo quando os braços já não se movem. Sim, 
Gaillard, Pinay, tinham algo semelhante a uma cabeça e essa cabeça lhes dizia - em particular, eles não faziam 
mistério - que a guerra na Argélia era absurda e que tinha que ser negociada. Mas quando foi a vez de Gaillard 
ficar de guarda na Presidência do Conselho, não tinha a loucura de pensar que ele estava confiado nesta nova 
posição para dar-lhe permissão para fazer o que considerava útil e justo, para fazer apenas o que ele acreditava 
ser verdadeiro. Esse presidente trocável emprestou sua voz ao sistema e o sistema declarou por 
 
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sua boca: governar é não prever, não é prevenir, não é eleger, governar é obedecer: continuaremos a guerra 
até o fim. 
O espetáculo da impotência não se presta a dilatar o coração. Indignando as pessoas que trabalham 
porque o trabalho é ação. 
O que prova o suficientemente que o antiparlamentarismo tem aqui uma origem profissional; é que os 
eleitos são menos censurados por sua impotência e sua covardia do que por sua preguiça, visto que é 
perfeitamente estranho para eles. "Lhes pagamos por não fazer nada". Esta é a ideia. 
Proximo ao 15 de junho passado, um pequeno burguês me abordou perante a Câmara dos Deputados 
e me disse furiosamente: 
-Então eles ainda estão de férias! 
-Deve ser reconhecido, repudiei, que foi dado. 
Ele ficou perturbado por um só instante e logo, retomou seu momento de raiva: 
-Se foi dado? Muito melhor. Mas então, que não lhes paguem. 
E nossos republicanos - aqueles que dão seus votos para Gaulle - são trabalhadores honestos, amantes 
de técnicas precisas, ações rigorosas, e que não se reconhecem ou, como veremos, que acreditam que não se 
reconhecem em seus representantes eleitos. 
Até agora todos estamos de acordo. Porém não deixamos o domínio das aparências. De onde vem essa 
impotência? São os homens que criaram o sistema, ou é o sistema que criou homens? 
E o que é exatamente o sistema? A imobilidade não pode ser a causa, mas apenas oefeito. Sobre este 
ponto, as respostas são imprecisas. 
Eu li “Os príncipes que nos governam”, de Debré, com a esperança, eu confesso, de dar me dianteira; 
tive uma decepção: essa papa não se come. Mas, a julgar pela Constituição, a falta original seria a premicia 
do legislativo. 
Aqui estamos. Imaginemos um homem com nervos de aço, com um coração duro e orgulhoso, com a 
cabeça cheia de vastos projetos, que só quer trabalhar para a França e que, para realizar seus negócios, não 
precisa mais do que a continuidade: é o executivo. 
 
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E compararemos agora com essa grande figura, o legislativo, esse cesto formigando de caranguejos, viscosos, 
saltando uns sobre os outros incessantemente. Não é absurdo submeter o homem aos caprichos dos 
caranguejos? 
É aqui que temos que denunciar a maior impostura degaulista. Se terá a ousadia de fingir que a 
Assembleia tem feito dos nossos ministros animais aborrecidos e aterrorizado que com tanta frequencia 
ouvimos no rádio e na televisão, um elogio ensinado? E são os ministros que fizeram reinar o medo na 
Assembléia? É a Assembléia que impediu Mollet. negar o sequestro de Ben Bella? E aquele que forçou 
Gaillard a "cobrir" o bombardeio de Sakiet? 
Eu digo o contrário, que todo o mal que veio nos últimos anos, de um poder executivo excessivamente 
forte que escapa do controle do legislativo. Porque teriamos um poder executivo. Este príncipe bombardeou 
Haiphong, quando a Assembléia queria negociar com Ho Chi-Minh; ele exigia dinheiro - o nervo da guerra - 
que lhe foi dado apressadamente e sem discussão, multiplicou na Argélia as "leis dos suspeitos" e as operações 
da polícia, varridas, quadradas, bombardeadas; na própria França, tomou a imprensa da oposição e processou 
jornalistas em tribunais militares; toda a vida nacional estava bloqueada por seus grandes sonhos heróicos de 
reconquista, sacrificou a França às suas colônias e a Assembléia aterrorizada, impotente, pulou na cauda das 
guerras coloniais como uma caçarola na cauda de um gato. 
Este executivo autoritário, incontrolável, foi chamado Thierry d'Argenlieu; hoje tem cem nomes, 
Massu, Trinquier, Lacheroy e outros "coronéis". Em treze anos, a França tornou-se este país militarizado cujos 
filhos são abatidos no exterior sob as ordens dos nossos príncipes, os Senhores da Guerra. 
Faz dezenove anos que travamos a guerra: o sistema não teve origem nos supostos vícios da 
Constituição de 1946, mas no lento fascínio de uma nação que perdeu seu sangue, seu tempo, sua cultura e 
suas riquezas em antigas conquistas que, há muito tempo, custam mais do que produzem. 
Executivo? Legislativo? Sistema? Regime? Palavras. 
 
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Se na atualidade houver uma crise de poderes, teremos que buscar as razões profundas nos males que 
nossos novos senhores não querem ou não podem curar. O que eu vou dizer todos sabem, mas muitos não 
querem saber. Repito isso para esses falsos ignorantes. 
Não pretendo que a História seja justa: talvez não era justo que nós suportassemos sozinhos o primeiro 
golpe do exército alemão, nem que o inimigo nos ocupasse por quatro anos, nem que permanesesemos 
abandonados, ruminando nossa derrota, enquanto nossos aliados ganhavam a guerra, nem que fossemos 
liberados por eles, declarados vencedores por complacência e tolerados como parentes pobres entre os Cinco 
Grandes. 
Em 1945, acreditávamos voltar a tomar a sorte em nossas mãos: Rússia, Estados Unidos e o General 
de Gaulle quebraram a espinha dorsal da Resistência. As greves dos 48 esgotaram os trabalhadores. 
Descobrimos então que éramos um país muito antigo, uma sociedade estratificada, da base ao cume, pelo 
Malthusianismo econômico que existia entre as duas guerras. Onde estava o povo? Já não existia; o haviam 
dividido em grupos de interesses divergentes que não se queriam entre si . Além disso, todos se opunham a 
todos: pequenas, médias e grandes empresas, do comercio varejistas e atacadista, camponesa e das cidades, 
como acontece quando o movimento da História se detem e as contradições vivas se tornam em conflitos 
inertes. A grande indústria acentuou suas tendências malthusianas, a própria classe trabalhadora se desgarrou: 
os trabalhadores profissionais, herdeiros do antigo anarcosindicalismo, obistruiam o que podiam a 
modernizaçao das ferramentas, porque temiam, acima de tudo, que seu trabalho se desqualificasse por isso; 
os trabalhadores especializados, cansados de virar o ciclo infernal "preço-salários", viram, pelo contrário, na 
produção em massa o único meio de elevar seu padrão de vida. Sindicatos e partidos vieram coroar esses 
antagonismos e endurece-los; mas para o golpe de graça, desta vez, foi dado de fora, o Plano Marshall e o 
"Golpe de Praga" transformaram esses conflitos econômicos e sociais em ódio político. A esquerda tinha 
passou para a posteridade. 
O Império permaneceu. Começou a quebrar muito cedo. Não foram necessárias grandes luzes para 
entender, desde as primeiras 
 
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revoltas, que assistíamos o início do que deveria ser, o evento mais importante da segunda metade do século: 
o despertar do nacionalismo entre os povos afro-asiáticos; nem para conceber que esse movimento de 
emancipação seria iresistivel e ireversivel. Porém não quisemos ver nada disso e a mesma esquerda, a 
principio, orou: o Império era nossa grandeza. 
Essa soberania que tínhamos bargannhado para a América do Norte, obrigamos os rebeldes a 
reconhecê-la, podiamos sonhar por um momento que a mantivemos. 
Não foi a Assembléia que criou o verbalismo imbecil que apodreceu tudo: era a situação. Estávamos 
entre os Cinco Grandes , porém a Alemanha, após sete anos de derrota, nos esmagava com seu poder. A 
palavra Grande perdeu seu sentido. Mediante mataças, faziamos respeitar nas colônias uma soberania que 
haviamos perdido. A soberania nao era mais que uma palavra. Afirmavamos em todos os lugares a grandeza 
da França mas sabíamos que nossas guerras de prestígio indiguinavam o mundo sem causar terror. As 
potencias atomicas se perguntavam, asombradas: “Que fazem? Jogam? Isso deve ser para ocupar seus 
soldados.” Grandeza era apenas uma palavra. Outra palavra, vitória: a guerra tinha que ser encerrada ou seria 
perdida. O resto veio sozinho : quando, num último esforço , quizemos atrair os Estados Unidos para o conflito, 
consideramos positivo o esquecimento de que haviamos nos jogados contra ele em parte para nos afirmar 
contra eles; ninguém jamais falou da expedição colonial; os franceses se tornaram um sentinela do Ocidente, 
defendeu no Vietnã os valores cristãos e latino-americanos contra o anticristo Stalin es bárbaros eslavos. Nós 
despertamos, fugimos do sonho,para escapar da intoleravel verdade. O sonho se transformou em um pesadelo 
anos atrás,porém preferimos os terrores ao noite ,"A vergonha do meio dia.” 
 O exército viveu mais intensamente essa aventura, mas, em grande parte da mesma maneira. A 
derrota-relâmpago de 1940, cheio de más intenções. Então, cada uma das guerras que ele fez , parece ter sido 
o julgamento dos oficiais anteriores. Os oficiais não amaram os guerrilheiros da Indochina, mas possuiam uma 
paixão sombria. Essa vingança foi uma derota . Não foi culpa dele: eles sempre se mostraram valiosos 
 
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às vezes heróicos. Mas a Assembléia não se mostrou culpada: tiveram os créditos, as armas. Os atrasos,os 
erros, não têm outra origem além da distância. Na realidade, perderam essa guerra porque tivemos que perdê-
la: o que pode um corpo expedicionário contra a rebelião de um país inteiro, quando suas bases "naturais" 
estão a milhares de kilômetros de distância? 
No entanto, consideraram esse afastamento como uma traição; odiaram a população civil, porque não 
podiam corar antes disso. Ninguém tinha pensadoem fazer a menor reprovação,porém o Exército interpretou 
nossa aparência, nossas palavras, nossos silêncios.Esse divórcio dos heróis infelizes e da comunidade nacional 
está na origem de nossas desvantagens atuais. O Exército se sente ferido. 
Está preso entre dois tipos de conflitos - os do nosso século - sem ser realmente armado para qualquer 
um ou para o outro. Contra as guerras populares, apesar do imenso esforço desses últimos anos, o que ele pode 
fazer? Ler Mao? Então saberá que o exército revolucionário vive em simbiose com a população. O que fazer 
ante isso? Os serviços psicológicos podem ser criados, escolas contra-guerrilhas; a máquina militar pode ser 
flexibihzar ao máximo, usar os soldados- assim como fiseram os generais do V Exército- trabalhar, plantar e 
ajudar o campesinato. E depois? Você acha que os corações vão mudar? Sem a população civil, a guerra não 
pode ser perdida, mas é certo que não ganhará. 
Mas se, por outro lado, surgiu um conflito mundial, a pobreza dos nossos recursos não dá oportunidade 
a nossos militares. Projéteis, foguetes intercontinentais, armas controladas remotamente, em uma palavra, 
guerra de passageiro, desqualificam armas clássicas, como as máquinas semi-automáticas descalificaram os 
trabalhadores profissionais. O técnico terá a vantagem sobre o militar, e a morte atômica trará o soldado e o 
civil para se ferirem juntos e sem discriminação. 
Muito rico para ganhar as guerras dos pobres, muito pobres para se impor em uma guerra dos ricos, o 
exército francês será modernizado em vão, a política e a tecnologia o feriram no coração. Permanece, apesar 
de si mesmo, apesar da juventude e da coragem de seus oficiais, uma espécie de anacronismo. Ele se pergunta 
sobre sua razão de ser: os conflitos 
 
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colonialistas o desgostam, declarou que não têm honra; ainda são os únicos em que eles ainda podem se 
defender, contra-atacar e, até certo ponto, se adaptar às táticas do adversário. Desde a perda da Indochina, em 
uma palavra, tem que se prolongar entre os quartéis e a Argélia. Você já escolheu; lá encontrou o civil inalável, 
o europeu de Argel, seu civil; a simbiose do felá e as populações musulmanas tiveram, por contrapartida, a do 
exército francês e a população europeia. Necessidade política - porque esta guerra é militar e política - o 
exército terminou, com a ajuda dos colonos, para se tornar uma doutrina: nesta luta revolucionária, foi contra-
revolucionária para o dever. Então, como é frequentemente o caso, ele se comprometeu com o assunto e, para 
combater o adversário com armas iguais, chama sua revolucionária contrarrevolução. Pouco cuidado em 
assumir o poder sozinho, aceitará reinar através de outros. O que ele quer é deixar o osso: a Argélia francesa. 
Porque se torna furioso mais uma vez por uma guerra que ele sabe ser sem esperança, tanto para vingar 
suas derrotas imerecidas quanto para atrasar o momento do que ele acredita ser cancelado. Não é que se queira 
lutar indefinidamente. Ele acreditou na integração. Ele concebe um novo papel para o soldado: o explorador 
do império, que bate tão cedo e logo ajuda o camponês a sufocar a colheita. E tão cedo - quem sabe? - 
adoctrinando os aldeões pela boa causa. Porém preservava a paz, ou faz-se a guerra, o exército, se quisermos 
dar crédito, nunca abandonaremos a Argélia, sua última justificativa, seu interesse no corpo. 
Após cerca de cinco anos, o exército pesa de forma esmagadora no governo da metrópole, cada dia 
mais ameaçador. Com os colonos - cujos interesses são muito óbvios e os meios de pressão muito conhecidos 
por serem lembrados aqui - forma um bloco e suas ações conjuntas conferem-lhe a onipotência. E, no entanto, 
os novos Lordes da Guerra permanecem sombrios: para um oficial, nenhum sucesso político terá o valor de 
uma vitória militar. A partir de 1939 - exceto quando a divisão Leclerc foi da África para Paris - a vitória não 
chegou uma vez ao compromisso. Lá, no fundo daqueles coronéis, esse derrotismo, essa vertigem do fracasso 
que está na base de todo o fascismo. 
Você vê: nada mais mentiroso do que aquelas histórias de sistema, 
 
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da assembléia ingovernável, etc. Na verdade, o poder executivo está em Argel; é formado por civis e militares, 
decide da França em função da Argélia. Para questões estritamente metropolitanas, fomos deixados, até 13 de 
maio, uma espécie de autonomia. Hoje, mesmo esta autonomia está sendo discutida. E, sem dúvida, o Exército, 
quase inteiramente absorvido na guerra - e, por outro lado, dividido - não pode fazer muito. Mas, mesmo que 
seus meios sejam restritos, pelo menos é a única força coerente e organizada que resta. 
Teríamos precisado de uma esquerda unida: nada mais. Era demais pedir. Ao separar os partidos 
políticos por uma barreira de ódio e fogo, a mesma razão que nos precipitou furiosamente no advento colonial 
- os blocos, a guerra fria - nos privava dos meios de sair dela. 
A Rússia, os Estados Unidos, as nações de Bandoeng: em todos os lugares ao mesmo tempo - leste, 
sul e oeste - levanta o vento que, durante doze anos, sopra tormentoso sobre a França. No momento em que 
os povos colonizados exigiam sua liberdade, a guerra fria desmoronou a única maioria que poderia ser 
concedida. 
Aqui está toda a história: uma situação que se deteriora sem parar- seja Indochina ou Argélia - e uma 
maioria impotente, aterrorizada por colonos, comunistas e militares, que ele concorda temporariamente e adia 
suas decisões dia a dia até serem impostas pelas próprias circunstâncias. 
Um país humilhado, exausto, minado por dissensões, que afunda, tristemente e por raiva, em guerras 
sem esperança e se degrada todos os dias um pouco mais, vendendo sua soberania e depois depositando o 
feixe de suas liberdades entre as botas do militar. 
Um país paralisado que se afoga em devaneio e ressentimento. Um pais detido , de economia caduca, 
que teve que esperar até 1949 para renovar seus equipamentos e o fez, sem cuidar demais dos mercados que 
absorveram o excedente de sua produção. Um país estratificado, transposto de desconfiança e de mau humor, 
que repetiu sem cessar : "Tenho compromisso com a História!" e que ele se deu conta que a História não veio 
para ela. 
 
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A Assembléia? Bah! É feito à sua imagem. Se você quiser alterá-lo, mude primeiro o país. E é claro 
que podemos muda-lo; para todos nós, tomando o mal pela raíz: porque o país somos nós. 
Compreenda que a grandeza de uma nação não é medida pela quantidade de sangue que se derama, 
mas pelo número de problemas humanos que resolve; parar as hostilidades imediatamente, negociar, 
reconsiderar com seus representantes a questão dos países associados; recuperar nossa soberania perdida e 
trabalhar para o fim dos blocos, isto é, para a paz; para juntar todos os homens da esquerda e reconciliá-los de 
acordo com um programa estabelecido em comum; para impedir o sangramento das moedas dando à França 
uma economia complementar das outras economias européias, para impulsionar a grande indústria a fim de 
aumentar a produtividade e combater por todos os meios, de modo que o aumento de tanta produção beneficie 
antes de mais nada os trabalhadores, a partir do movimento demográfico provocar, a reorganização da 
economia - os estratos que separam os grupos e eles os lançam em antagonismos inertes; equilibrar as 
desqualificações do trabalho que correm o risco de serem produzidas por elevar a produtividade, por um 
sistema de requalificação e por um conjunto de classificações e reclassificações, diminuir, se não reprimir, 
conflitos de interesses que dividem a classe trabalhadora ; para desenvolver a cultura científica, literária, 
artística e política entre as classes sociais mais desfavorecidas, etc., criar uma educaçãoagrícola, 
especialmente no centro e sul da França, para aumentar a produtividade agrícola nessas mesmas regiões. para 
permitir que as comunidades agrícolas façam compras coletivas de máquinas motorizadas, e assim por diante. 
Em dez anos, a fisionomia da França não será mais a mesma: o terciário, agora hipertrofiado, terá desinflado, 
o primário terá diminuído em um terço, o secundário será mais homogêneo e seu padrão de vida maior. Se 
fizéssemos isso, e fizessemos em dez anos, talvez possamos dizer, sem muita vaidade, que a França é um país 
excelente. 
Mas se eu esboço, de passagem, as linhas principais de um programa, não é para propor isso hoje. É 
pedir aos republicanos que vão levar no domingo seu sufrágio a Gaulle: 
 
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É por isso que você vai votar nele? Você vai pedir habitação, tratores, escolas, reorganização da economia, 
um pacto de aliança com povos do exterior? Eu sei que a resposta é não. 
Por que, então, você esperará dele o que ele nunca prometeu? Por que você quer votar em um programa 
quando sua cédula é direta para o homem? 
Me responderá que este homem é capaz de realizar em três anos projetos mais numerosos e ambiciosos 
do que a Quarta Republica fez em treze anos? Eu acreditaria se eu tivesse um indício de prova. Mas seu 
candidato é mais famoso pela nobre obstinação de seus negativos do que pela amplitude de suas conquistas 
econômicas e sociais. 
A verdade é que você escolhe a ação pura, isto é, o indivíduo é subtraído a todos os controles, pela 
repugnância do pântano abjeto em que salpicamos desde a Libertação. Já tentei mostrar que as causas eram 
objetivas e profundas e que os remédios também deveriam ser. Não haverá mudança na França ao renovar 
constantemente a equipe de liderança. Enquanto as infra-estruturas permanecerem o que são, o sistema 
permanecerá o que é. E digo a mim mesmo de repente que esta impotência que você está horrorizado para 
anexar muito cedo à Assembléia, mas isso poderia muito bem ser seu, você projeta em outros para se livrar 
disso. 
Estes dias eu questionei muitas pessoas. Alguns votarão para o General de Gaulle, os outros se 
absterão. Sem dúvida, eu queria saber o que seus apoiantes esperavam dele, mas também os abstencionistas 
que o alimentaram de um preconceito favorável. 
A guerra na Argélia, por exemplo? O que eles estavam esperando? O que eles exigiram? Devemos 
fazer a paz? A palavra "paz" os desconcertou: acharam-a brutal. A paz? Ele estava muito comprometido. 
Eles disseram: "O fim da guerra". Eles cobriram as orelhas com as mãos e gritaram: "Deixe-o terminar! 
Deixe-o terminar! Não se falem de novo!" 
Eu avisei que havia apenas duas soluções concebíveis: o esmagamento de F.L.N. (se possível) ou 
negociações. 
 
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A primeira solução não os desagradava, desde que fosse rápido. 
Eu disse: "Será necessário um grande esforço: os militares precisarão dinheiro, armas e homens". 
Imediatamente, eles diriam: "Não, não, não, nem mais um homem, nem mais uma moeda. Aqueles 
meninos pobres que se vão; e preços! E os impostos! " 
Então, eu disse, que pode durar muito tempo. 
Eles ficaram com raiva de novo: "Se já dura mais de três anos. Não. Em breve." 
Então tivemos que negociar. Mas todos estavam respondendo em outros termos que o General de 
Gaulle aplicava em Rennes: "Independência, não. Nao se abandona um milhão de compatriotas, isso não se 
faz. Integração: impossível, se pagará a guerra, seguro social e concessões.E então não o quererão, os porcos!" 
Eles disseram "os porcos". Sem pensar mal e sem aversão. Por outro lado, achei difícil torná-los 
precisos sobre os seus sentimentos sobre os norte-africanos. Disseram: "Eles são cães raivosos, jogam em 
qualquer coisa, que os reembarque, eles não têm nada para fazer aqui". E então, um momento depois, "entende-
se que eles são". Entende-se que eles resistem: tenho uma cunhada que vive lá, ela me disse que eles eram 
...de um miserável ... " 
E voltando aos ataques: "Foi fatal, é nossa culpa. Em 13 de maio, eles queriam matá-los, eles disseram 
bem!", etc. 
A conjunto dessas respostas me iluminou: a contradição não está atualmente na França, entre os 
partidários da guerra e os da negociação, entre os inimigos jurados dos árabes e aqueles que tentam 
compreendê-los. Está no coração das pessoas que querem tudo ao mesmo tempo. 
Parecia-me, por outro lado, que desejariam, se tivessem ousado, conferir independência aos argelinos, 
mesmo que por prazer em não ouvir mais nada disso. Mas justamente: eles não se atreveram. tiveram medo. 
De seus vizinhos, dos espiões, não sei do que. Mas acima de tudo, de si mesmos. Eles ouviram falar dos 
judeus, que havia liquidação de impérios, não queriam se assemelhar a esses traidores. Como 
 
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dizia um rapaz no tren outro dia: "Não tenho nada a ver com a Argélia, e não gosto da colonização", "mas é 
nosso patrimonio, uma herança deve ser preservada, mesmo que não produza nada. " 
Desta forma, as pessoas vão votar pelo homem eficaz, por ele que deve e pode resolver todos os nossos 
problemas. Mas eles nem sabem siquer que é o que gostariam que fizessem. 
Se pode; reconhecem que esperam a solução mais radical. Independência, por exemplo. Eles serão um 
pouco escandalizados, mas encantadores, no fundo, se ele os forçar: "Uma vez que tudo o que vem dele é 
sagrado, a independência, cuja única idéia me pareceu um sacrilégio, é a solução mais justa e mais francesa". 
Eles não são como as pessoas do sistema?: Todos, ou quase todos, os deputados desejavam a paz e votaram 
pela guerra. 
E eu começo a me perguntar se esses degaulistas republicanos não são responsáveis por essa 
Assembléia obsoleta que odeiam. 
Nas ruas, você podia ouvir os bíággistas ou os jovens de Le Pen. Falavam em voz alta, gritavam, 
"Argélia francesa!" Mas quantos eram os que gritavam: "Paz na Argélia!"Os deputados ficam fascinados com 
o número: é uma mania de eleitos. 
Você que os censura hoje por não ter sabido nem como fazer a paz nem como ganhar a guerra, que não 
foi gritar sob suas janelas "Negocie!": Por que você não protestou contra a tortura contra julgamentos 
sumários, expedições punitivas, desaparecimentos, campos de concentração? Aqueles que votarão por De 
Gaulle irão fazê-lo, porque sua própria paralisia, a sua própria covardia as repelem , querendo evita-las. E, por 
outro lado, havia homens na Assembléia que queriam a paz e a proclamavam em voz alta. Se tivéssemos 
sustentado, todos nós, em vez de nos enredarmos em nossas contradições ... 
Adverto é claro, que os apolíticos vão votar em de Gaulle: talvez esses mesmos que se abstiveram nas 
últimas eleições. Entre eles, há indiferentes, muitos deles sem paixão, que só querem a tranqüilidade. Mas há 
outros sobre os quais você não consegue pensar sem vergonha. 
Por ocasião de um artigo, no qual expliquei por que votaria não, um leitor escreveu para me dizer que 
votará 
 
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sim, mesmo que ele concorde comigo sobre o todo: "Sim terá altos e baixos, mas a vida continuará: o não é 
aventura". 
E aqui está o crime, não da Quarta República mas da nossa burguesia, por cento e cinquenta anos: há 
cidadãos de segunda classe, sem esperança, e há muito que são considerados como tais. Têm tão poucos 
direitos, tão pouca influência, pesam tão pouco no mundo que os transtrornos políticos não os tocam. 
Meu correspondente pensa que não tem nada a ganhar com o colapso da República, mas também que 
ele não tem nada a perder. Eles vão tirar suas liberdades civis, diminuir, talvez, seus direitos sindicais, eles só 
deixarão o direito de permanecer em silêncio. O que interessa: vote na ditadura. Isso prova que ela ficou em 
silêncio, que ela sempre estava em silêncio, ou que eles não ouviram.Ninguém. Nunca. 
Se hoje milhões dehomens são indiferentes ao referendo, se eles não cuidam dos poderes respectivos 
do Presidente e do corpo legislativo, é culpa nossa, já que nunca conseguimos fazê-los entender que eles 
influênciam outros homens para a votação simples que depositaram na urna e que a atividade política do 
cidadão é a mais completa afirmação de sua liberdade. Desta forma, eles não contam, nem jamais contarão,e 
se arranjaram como puderam nessa vida que eles fizeram. Eles vão votar "sim" em 28 de setembro: se eles 
coletam em janeiro de 1959, como em janeiro de 1958, seu salário baixo, eles vão pensar que eles não tiraram 
nada disso. 
Porém até a sua modéstia os engana: serão feridos em seus salários; A guerra continuará, os preços 
aumentarão. No presente, a realidade objetiva é de apenas alguns milhares de francos; amanhã, o franco 
baixará, menos será. 
Indiferença ou impotência, todos esses apolíticos votam pelo apoliticalismo, como se fosse um 
programa que eles queriam impor. Dizendo "sim", eles tomam atitude ao extremo, até desistir de todos os seus 
direitos civis. Aceitam o cuidado da maquina pública nas mãos de um homem que fará tudo por eles. Elos 
aqui simplificados: eles ainda são cônjuges, filhos, funcionários, campeões de bilhar, mas não serão mais 
cidadãos. Eles ficaram em silêncio, 
 
 
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ensinam-lhes uma careta; eles votaram porque colocaram o mais rápido possível: a vantagem é que eles não 
poderão falar. 
Se busco os motivos de uma conduta tão paradoxa, encontrei imediatamente um todo: a impotência 
objetiva da coletividade francesa está tão profundamente gravada em cada um de nós quanto sua impotência 
pessoal para modificar o destino de seu país. 
Vale lembrar aqui a pesquisa sobre a Nova Onda e as respostas que chamaram a atenção dos leitores 
do Express: "Eu não acordo com Nikita, não tenho influência com Ike, não sou quem dá o Prêmio Nobel". 
Na verdade, nós, também, quando tínhamos vinte anos, poderíamos ter respondido: "Não dou o Prêmio 
Nobel, não tenho influência com Stalin". Mas acreditamos que tivemos destinos da escala humana. Não 
agimos em Stalin, mas não imaginamos que Stalin pudesse agir sobre nós. 
Havia uma questão importante: a Alemanha, cujo rearmamento já era temido, mas isso não nos 
assustou. Pareceu-nos que devemos prevenir ou vencer a futura guerra franco-alemã. Não achamos que 
dependiamos de todo o planeta. 
A política dos blocos e a guerra fria, como o extraordinário desenvolvimento da mídia, fazem que um 
jovem francês seja, em primeiro lugar, planetário; pertencesse a esse "mundo único" falado pelos americanos. 
Mas, precisamente por esta razão, a França está diminuída, a fragilidade é descoberta e logo, como parece, a 
História está em outro lugar. 
Qual é o objetivo de tentar exercer na França seus direitos de cidadão, qual é o significado da votação, 
se a França não é mais do que um objeto inerte cujos movimentos e posição estão condicionados por forças 
externas?Lá timidez, a gravidade, a aplicação desses jovens, são nada mais do que uma consciência de sua 
impotência social. Eles são absorvidos no trabalho, em questões profissionais, na vida familiar. A técnica 
também os fascina: é a única intervenção deles no mundo. Eles zombam da política: se eles fossem russos, 
talvez, ou chineses ... 
Por trás dessa sabedoria precoce, que nem sequer é resignada, uma espécie de angústia é adivinhada. 
Eles vivem em liberdade, mas sem poder, em um mundo apocalíptico, que o estoque das bombas americanas 
faria pular, sob um céu enrugado de 
 
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sputniks. Os jornais, a cada três meses, profetizam a próxima e última guerra mundial enumerando as 
consequências que todos conhecemos disso. 
Esse medo era claramente evidente na resposta de um jovem empregado: "Feliz? Onde se é? Ah, em 
uma familha! Bem, eu não tenho nada para reclamar, eu tenho minha esposa e minhas filhas. Não tenho direito 
de reclamar, pois há tantos outros mais infelizes do que eu. Ah, quando penso no futuro, tudo o que nos espera, 
bem, confesso que não me sinto feliz. Toda noite, antes de dormir, minha esposa olha pela janela para ver se 
os Sputniks passam. "Quando ele vê que não é por aquela noite, ele se acalma e pode dormir". 
Desde Hiroshima, somos assediados, irritados, preocupados incessantemente. Imagino que há em cada 
cérebro uma hematoma, um cardeal que não é senão terror em repouso. Muitos poderiam repetir hoje a frase 
de Hobbes que data de três séculos: "A única paixão da minha vida tem sido o medo". 
Medo e impotência, medo da impotência, impotência pelo medo, tudo o que nos leva nesse referendo 
para levar o partido da impotência e do medo. Sem a leve contusão cerebral que causou uma centena de 
traumatismos diferentes, a chantagem dos paraquedistas - o argumento básico da propaganda degaulista, e até 
mesmo dizer que seu único argumento - não teria sido bem sucedido. Quando eu tinha trinta anos, teríamos 
ficado envergonhados de ceder a tais ameaças de bêbado. Entenda: não fomos mais fortes. Simplesmente mais 
frescos. Menos deteriorados. Menos assustados pelo medo. 
Jovens hoje criaram medo do Exército Vermelho, da bomba atômica, dos pires voadores, dos 
marcianos e, finalmente, dos pára-quedistas. Não importa, a modéstia tem suas vantagens: aqueles que 
votarem "sim" no domingo proclamarão seu medo sem vergonha, oferecendo ao Senhor Gracioso seu amor e 
fé, em troca de sua ajuda e proteção. Ao mesmo tempo em que reconhecem sua impotência, entregam seus 
poderes ao absoluto. É o Grande Eficaz. Não nos surpreenda com esses "sim" nas paredes, dos quais somos 
um pouco santuarios: aceitar, pelo amor do Príncipe, a Constituição que ele nos concede e que nos prende, é 
renunciar de uma vez por todas a 
 
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controle do poder legislativo sobre o executivo e, o que é mais grave, o da razão sobre a ação. 
Esses ativistas da impotência contam com o Príncipe para resolver problemas que nem sequer querem 
formular, tomar no lugar deles as decisões que eles evitam, superar as contradições que os paralisam. Eles lhe 
dão essa carta branca porque é ele. A ação do Príncipe, assim encarada, torna-se a única, a inefável e a 
irracional. Avançemos ainda mais: é incomunicável pela ruptura recíproca das comunicações. 
Aquele que declara hoje: "De Gaulle é o único que ..." não diz nada razoável; não é mais um relatório 
comprovado, como aqueles que, de certo modo, tornam a popularidade mensurável, mas de uma qualidade 
única e incomparável que separa de Gaulle do nosso mundo. Cheios de ineficiência, nossos republicanos 
apolíticos dizem "sim", ao irracional, ao sagrado e, ao mesmo tempo, "não" à igualdade. 
Se houver um homem, na espécie humana, que tem luzes que só ele pode ter, se essas luzes lhe dão o 
direito de agir, mesmo como um bom pai, sobre nossos destinos, se seus atos são sempre válidos e bons, para 
o simples fato de expressar sua essência, então a espécie humana se desintegra em uma corrente: não há mais 
homem; apenas um super homen e animais. 
De Gaulle é o protetor do homem planetário - quero dizer, o francês - representa para ele a encarnação 
viva das nossas fronteiras, o rodeia e protegê-lo, esconde o mundo, isso o deixa com essas palavras 
tranquilizadoras: "França, apenas França ..." "Mas, ao mesmo tempo, o eleitor e o Grande Eleito juntarão seus 
esforços para quebrar nosso humanismo em mil pedaços. Arbitrário, eficaz, limpo; violência, qualidade 
inefável, conhecimento intuitivo que é apenas um dote de um, reconheço os traços do que um sociólogo 
alemão, Weber, chamou de poder carismático - uma expressão que deve sua fama, entre 1933 e 1945, aos 
eventos. 
Devemos voltar para isso? Votar para a graça é diminuir, é reconhecer no outro não só a superioridade 
de talentos, meios ou virtudes,que seria perfeitamente admissível, mas uma superioridade de espécies. Se 
existe, no meio dos homens, 
 
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uma espécie superior ao homem, então é a espécie humana, e aqueles que não pertencem a ela são cães. 
É necessário, republicanos degaullistas, se rebaixados ao nível dos animais? Poderia acontecer se fosse 
um produto de entusiasmo. Mas nosso planetário indiferente quer paz em casa. Ele acredita em chantagens 
dos pára-quedistas, teme que seu copo se quebre ou que ele jogue granadas em sua rua. É quem diz, ao mesmo 
tempo: "De Gaulle é o único que pode ..." e "De Gaulle é o mal menor". Essa triste servidão me perturba. 
Finalmente, o primeiro que conta é Massu: eles não querem isso. O pseudo-sim é, de fato, um "não" simples 
para o general do pára-quedismo. Mas lá, como em toda a chantagem bem organizada, de Gaulle aparece 
contra Massu e os sagrados aparecem com ele, apenas como meio. Quanto ao republicano degaulista, político 
de um dia e contra a política, retornará, em 29 de setembro, ao seu fiel silêncio, à sua tremenda liberdade, aos 
transtornos prudentes de sua vida privada. 
Se equivoca. O que comunica este voto de confiança a de Gaulle não é um poder, é uma impotência. 
Um líder político tem força quando ele é cercado pelas mesmas pessoas que confiam nele, de acordo com um 
programa e que o incitam a fazê-lo. Mas os eleitos da impotência, que é aceito como tal, tem que rejeitar a 
escolha ou tornar-se impotente. Ele quer ser o escolhido de todos: entre aqueles que lhe concedem o sufrágio, 
haverá aqueles que têm a intenção declarada de fazê-lo cobrir seu fascismo, e outros, os degaullistas de 
esquerda, que pedem que ele adote uma política, uma vez que não, pelo menos, liberal e social. 
Quem ganhará? Eu vou te dizer. Mas se é admitido por um momento que os fascistas são, e se se supõe 
- julga provável - que de Gaulle rejeite essa brutal e vulgar forma de autoritarismo, pode-se esperar que ele 
consiga apoio entre seus eleitores nuetralistas, do mal menor? Nem um instante: essas pessoas juraram 
antecipadamente encontrar o que quer que ele empreenda. E então eles voltaram a dormir. Fascismo? 
Antifascismo? Eles não têm nenhuma opinião, ninguém pediu que eles a tivessem. Eles responderão 
suavemente: "Oh! O fascismo com de Gaulle é o mal menor". E vai muito longe nessa direção: seja qual for 
o massacre ou o St. Bartholomew organizado 
 
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por seus comandos, sempre pode-se dizer que as coisas teriam sido pior se de Gaulle tivesse se aposentado. 
A Quarta República está morta porque os franceses não tomaram o cuidado de unir, realizar 
manifestações em massa, obter promessas de seus eleitos e ajudá-los a mantê-los. Não sendo eleito de acordo 
com um programa de ação que seus eleitores o forçariam a observar rigorosamente, de Gaulle, se eleito, 
permanecerá no ar. Esse grande cão flutuará no vazio, acima de nós, mas sem um pedestal. E então, à medida 
que seus partidários descarregam suas contradições nele, é ele quem herda. 
No que diz respeito à guerra argelina, agora é evidente que é vacilante e contemporâneo, não mais ou 
menos do que a maioria dos franceses. Os homens do sistema têm sido maliciosos: eles viram que, mais cedo 
ou mais tarde, uma decisão radical deveria ser tomada: a pacificação ao extremo ou a negociação. Então eles 
prosseguiram como fizeram depois de Dien-Bien-Phu: eles deram suas chaves e seus poderes a um homem de 
ação, desejaram-lhe boa sorte e foram na ponta dos pés. O sistema está morto, viva o sistema! Porque agora o 
sistema é de Gaulle. Só dele. 
Como poderia ser de outra forma? Ele não gosta de ser o homem de guerra até o último extremo, mas 
talvez menos quem designar um liquidatário. Se eleito, será, como a Assembléia, o representante dos 
franceses. Mas, ao mesmo tempo, a força real é dada pelo Exército. Sem a chantagem dos pára-quedistas, ele 
ainda estaria em Colombey. Essa unanimidade muda - supondo que seja feito com o nome dele - é um enigma 
por si só. 
De fato, o governo de Gaulle oferece todos os personagens que definiram o sistema, em nossa opinião. 
Ele sai para o amanhã, ou seja, até o dia 28. No dia 29, se for eleito, aguardará as eleições da nova Assembléia, 
e depois sua própria eleição. E esta temporização revela precisamente a sua impotência: elude, escapa, mas a 
guerra em Argel a segue a Paris. Em muitas cidades da metrópole, os norte-africanos são questionados. 
Estou profundamente convencido de que o general de Gaulle está consternado com a tortura que ele 
considera desonrar o exército e que na Argélia lembrou a certos oficiais que 
 
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os telefones de campanha são feitos para telefonar. O que ele faz, porém? Se cala. Em seguida, cubra. 
Como Gaillard. 
Por outro lado, vivemos, como fizemos antes de ontem, em total irrealidade: impotência e abstração 
levam mais uma vez ao verbalismo. O antigo sistema procurou a palavra que escondia, tentando definir. O 
New-Look do sistema procura o equívoco, da frase de duplo significado, aquele que parece um duplo 
significado e não possui, ou a série de frases, cada uma das quais parece inteligível em particular, mas cuja 
soma é igual a zero. 
Ou o efeito da palavra não pronunciada. Está em todas as gargantas, quando o general é ouvido, 
aguarda-o, espera-o, teme-o; cada frase é tão boa construído que parece sua viúva; ele deve ter escapado. 
Finalmente, brilha nos olhos, vibra nas caveiras, a voz sai, alguns dizem "m ...", os outros "louvam a Deus". 
O general deixa, a imprensa no dia seguinte sublinhe que ele não pronunciou a palavra integração. E que mais? 
Não existe um ministério rotativo, sem dúvida; no entanto, você não pode saber nada com Janus duas vezes. 
Mas há compromissos em todos os lugares e em todos os momentos: Soustelle e Mollet como ministros, assim 
como o futuro presidente do Conselho, constituíram seu time para agradar a todos, com os refinamentos de 
uma dona de casa. 
Bem, será dito, o sistema tem ganhado! O que importa que de Gaulle é uma República aparada; tem 
um tamanho grande, não será pior do que os nossos deputados; votemos por ele. Precisamente não. 
Primeiro, agora não queremos mais o sistema, condensado ou implantado. Devia ser defendido contra 
golpes, porque dependia de instituições reais e de livre aceitação. Mas o golpe de estado foi feito dentro do 
sistema, pelos bons ofícios de Pflimlin, Mollet, Pinay, Coty. Perfeito: nunca volte atrás. O que precisamos 
agora são outros homens, outros grupos, outra maioria, um programa. E, acima de tudo, devemos lembrar que 
a Quarta República morreu de impotência. 
E essa impotência veio do fato de que um general visitante caiu no poder executivo e levou-o para 
Argel. O sistema não era mais do que aparência. Durante três anos, a realidade foi os coroneis e colonos. Ao 
menos Mollet, igual a Gaillard, não 
 
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foi ao poder pela força e sob a ameaça de um golpe militar. O sistema New-Look nasceu de um 
amotinamento argelino e de chantagens aos pára-quedistas. Moch revelou recentemente que uma boa parte do 
exército metropolitano havia assumido abertamente Gaulle. Portanto, fomos impostos pelo Exército. 
Não repito isso como recriminação: as coisas são julgadas de acordo com a forma como elas saem. 
Mas, precisamente, eles ficaram muito errados. Desde junho, o general de Gaulle passou de concessão em 
concessão. No momento, o governo francês está inteiramente nas mãos do Exército; há apenas alguns dias, o 
presidente do Conselho disse esta frase significativa: "Não é necessário esconder que a guerra da Argélia 
durará muito tempo". 
Isso vale mais do que invocar o "último quarto de hora"? Claro, mas isso nos ensina que de Gaulle 
escolheu a guerra até o fim. Ele não a escolheu deliberadamente, mas porque não podia fazero contrário. Diz-
se, talvez, que há mais uma razão para votar "sim": "Ele terá o apoio das massas francesas". Mas precisamente 
esse apoio mudo ou quase mudo, aquelas bocas que se abrem para deixar passar uma única palavra tão 
ambígua quanto as frases do mesmo general de Gaulle, tudo isso não serve de nada. A ambiguidade se volta 
contra quem a criou. 
Este diz "sim" porque quer dizer "não" (não para os coronéis?). Esse diz que outro "sim" para este 
outro "não" (Não a de Gaulle e ao sistema, até logo Soustelle). Quem diz "sim" para "sim"? E o que isso 
significa? Por falta de informação, essa pilha de cédulas não é utilizável; disfarça demais o ódio, já revela o 
concurso. Os únicos que podem tirar proveito do "sim" se é maciço, são os fascistas. Eles não perguntam sobre 
o significado do voto, mas simplesmente pensará que a vitória lhes dá um pouco mais de tempo, seja para 
afundar de Gaulle no pescoço da guerra, ou para estabelecer os organismos e dispositivos que um dia os 
matarão. 
Degaulistas republicanos, votem contra o sistema e escolham um sistema ressuscitado. Vote em de 
Gaulle contra Massu ... e dê aos coroneis tempo para organizar um golpe contra vosso escolhido. 
 
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Não esqueça disso; Toda a ambiguidade vem de lá: de Gaulle não é fascista, ele é um monarca 
constitucional; mas agora ninguém pode votar em de Gaulle hoje: seu "sim" só pode ser direcionar o fascismo. 
Em suma, entendemos que um país não é retirado da sua impotência confiando a onipotência a um único 
homem. A única maneira de evitar as monarquias de coração doce que invade o vazio e a mão dos comandos 
de Argel é tirar nossa impotência, conceber um programa, uma aliança de partidos, uma tática defensiva e 
ofensivo contra todos os que poderiam atacar os francêses. "Sim" é o sonho; "não", o despertar. É hora de 
saber se queremos se levantar ou dormir. 
 
L'Express, «<> 380, 25 de setiembre de 1958.