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historicidade na obra infantil de monteiro lobato o recurso da extratextualidade

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ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DOM BOSCO
FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DOM BOSCO
CURSO LETRAS
LEIDIANE MARTINS BELMIRO
A HISTORICIDADE NA OBRA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO: O RECURSO DA EXTRATEXTUALIDADE
RESENDE
2017
LEIDIANE MARTINS BELMIRO
A HISTORICIDADE NA OBRA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO: O RECURSO DA EXTRATEXTUALIDADE
Monografia apresentada à Associação Educacional Dom Bosco, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco, Curso de Letras, como requisito parcial para obtenção do Grau de Licenciatura em Letras, habilitação Português/Inglês. 
Orientador: Prof. Mestre Rosel Ulisses Silva e Vasconcelos
RESENDE
2017
BELMIRO, LEIDIANE MARTINS
A Historicidade na obra infantil de Monteiro Lobato: o recurso da Extratextualidade. Leidiane Martins Belmiro – Resende- RJ, Associação Educacional Dom Bosco, 2017. -----p.
Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Letras- Português/Inglês) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco, Curso Letras, 2017
Orientador: Rosel Ulisses Silva e Vasconcelos
Monteiro Lobato. 2. Historicidade, 3. Extratextualidade 
LEIDIANE MARTINS BELMIRO
A HISTORICIDADE NA OBRA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO: O RECURSO DA EXTRATEXTUALIDADE
Monografia apresentada à Associação Educacional Dom Bosco, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco, Curso de Letras, como requisito parcial para obtenção do Grau de Licenciatura em Letras, habilitação Português/Inglês. 
BANCA EXAMINADORA
Orientador: Prof. Mestre Rosel Ulisses Silva e Vasconcelos
Professor convidado: William Rosa Monteiro
APROVADO COM A NOTA:_______
Resende, 21 de outubro de 2017.
“A imaginação é mais importante que a ciência, porque a ciência é limitada, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro.”
(Albert Einstein)
Dedico este trabalho à minha família, aos meus pais, à minha filha, ao meu grande amigo César e ao meu esposo, que me aturou com amor e paciência em meus momentos de crise.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, que até aqui me fortaleceu e continua me ajudando a concluir com sucesso mais uma fase de minha história; aos meus pais, Alaide e Sebastião, que me apoiavam e comemoravam comigo cada ano que passava; a meu esposo Bruno e minha filha Bruna, que me amam e permaneceram comigo, dando-me coragem para continuar. Agradeço aos meus irmãos Diego e Everton e também ao César, um grande amigo que me deu suporte durante toda minha trajetória escolar. Agradeço ao grande professor Ulisses, que me auxiliou nesse trabalho com significativa paciência, embora algumas vezes tenha brigado comigo. Agradeço sobretudo aos meus amigos: Ana Caroline, Israel, Mariana e Mariluz, por me incentivarem e caminharem comigo durante esses quatro anos. O mérito é tão meu quanto de vocês, pois, sem vocês, nunca, nem em minha outra vida, eu teria conseguido chegar onde eu cheguei. 
RESUMO
Monteiro Lobato, na época em que produziu a sua vasta obra literária, tinha uma proposta de prender o leitor em uma leitura agradável: além dos textos chocantes para adultos, escreve para o público infantil obras com caráter pedagógico, concretizando o seu propósito de também instruir e contribuir para a formação moral e intelectual de quem as lia. A História, que hoje em dia está mais próxima das outras áreas do conhecimento, portanto, é utilizada com frequência nas obras de Lobato. A História, que sempre foi vista como mestra da vida, leva os homens a compreenderem seu destino. As obras de Lobato levam as crianças a entenderem um pouco de seu passado – já que a função da História é a de fornecer uma explicação para a sociedade sobre ela mesma –; porém, fora dos padrões da escola. O imaginário, que não tem nenhum objeto de referência no mundo real, está presente nas obras do autor também na questão extratextual. A extratextualidade, que consiste na ficcionalização de personagens reais, sistematiza a fantasia e a utiliza para fazer o fictício dialogar com o “real” de maneira divertida, para colocar personagens frente aos dilemas do mundo que criamos. O enredo de Lobato traz reflexões sobre as condutas humanas de forma descontraída. A literatura Lobatiana ocupa o papel de consciência, faz-nos olhar para dentro de nós mesmos, para fora e para o outro, reconhecendo-nos nele. Lobato não deixa perder a característica lúdica de suas obras.
Palavras-chave: Monteiro Lobato. Historicidade. Extratextualidade. 
ABSTRACT
Monteiro Lobato, in the period he produced his extensive literary work, had the objective to lure the reader with a pleasant read: beyond the chocking texts designated for adult audiences, Lobato also writes pedagogic works for the children audience, concretizing his goal to instruct and contribute in the moral and intellectual qualification of those who read it. Nowadays, History is closer to others knowledge areas, therefore, frequently used in Lobato’s work. History, that has always been considered the master of life, allows men to comprehend their own destiny. Lobato’s works allow children to understand a little bit about their past – since the function of History is to provide some explanation to society about itself; however non-standard in school matters. The imaginary, which has none real world reference, it’s also present in the author’s extratextual matters. The extratextuality, which consists in the fictionalization of real life characters, systematizes the fantasy and uses it to make the fictional dialogue with the “real” in a fanny way, placing characters facing dilemmas in the world we created. Lobato’s plots makes reflections about human conducts in a casual way. The “Lobatian” literature takes the role of consciousness, make us look inside ourselves, look outside and look to the others, recognizing us in themselves. Lobato don’t loses his ludic characteristics in any of his works
Keywords: Monteiro Lobato. Historicity. Extratextuality.
SUMÁRIO
	1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………………
	xx
	2 AS FACETAS DE MONTEIRO LOBATO: O MAIOR NOME DA LITERATURA INFANTIL À LITERATURA BRASILEIRA..................................
	
xx
	3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA E O ENSINO DA HISTÓRIA .........
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	3.1 O TRABALHO DO HISTORIADOR ........................................................................
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	3.2 COMO E POR QUE ENSINAR HISTÓRIA .............................................................
	xx
	3.3 O CONTAR HISTÓRIAS ..........................................................................................
	xx
	4 O CARÁTER EDUCATIVO DA OBRA INFANTIL LOBATIANA .....................
	xx
	4.1 EMÍLIA, EMILÍA, EMÍLIA... ...................................................................................
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	4.2 PERSONAGENS E VIDA REAL ..............................................................................
	xx
	5 A HISTORICIDADE NA OBRA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO ..........
	xx
	5.1 HISTÓRIA DO MUNDO PARA CRIANÇAS ..............................................................
	xx
	5.2 AVENTURAS DE HANS STADEN .............................................................................
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	6 A EXTRATEXTUALIDADE NA OBRA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO .........................................................................................................................
	
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	6.1 A CHAVE DO TAMANHO .........................................................................................
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	6.2 O MINOTAURO..........................................................................................................
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	7 O ENFOQUE TELEVISIVO .....................................................................................
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	8 CONCLUSÃO ..............................................................................................................xx
	REFERÊNCIAS...............................................................................................................
	xx
1 INDRODUÇÃO 
Monteiro lobato foi um marco cultural. Suas obras fazem emergir a fantasia onde não há fronteira entre o real e o maravilhoso. Emília com seu “faz-de-conta” recorre ao impossível e o “pó de pirlimpimpim” transporta os personagens para qualquer lugar. Eles se transportam para a Grécia de Péricles e, de lá, para a Grécia dos Deuses da mitologia. 
Podemos afirmar que o mundo de Lobato é uma mistura de diversão e aprendizado e mesmo aquelas que são mais fantasiosas possuem caráter de instrução. Todos seus livros são ricos em ações e História do mundo para crianças, A Chave do Tamanho, Aventuras de Hans Staden e O Minotauro, livros que embasam este trabalho, não são diferentes. No entanto, parte de suas obras é uma crítica à sociedade e ao governo.
Este presente trabalho monográfico se trata de pesquisa de natureza bibliográfica, contemplando a fortuna crítica sobre as obras infantis de Monteiro Lobato, bem como sobre a importância da literatura como veículo de exposição e problematização dos fatos históricos. 
A obra A Chave do Tamanho conduz os leitores a reflexões sobre comportamentos e o dinheiro; de forma lúdica, ele coloca os leitores frente aos dilemas da vida humana. A pedagogia interior do autor o faz capaz de ensinar e educar de todas as possíveis formas, sua intenção era fazer de sua literatura para crianças e jovens um veículo de formação intelectual e moral. Por estes fatos, consideram-se as obras de Lobato não apenas de fruição.
Aventuras de Hans Staden é uma adaptação de Lobato para que as crianças tenham o conhecimento do passado deste solo colonizado pelos portugueses, sendo então esta obra a que dialogam a historicidade e a intertextualidade. 
A historicidade e a extratextualidade, temas principais desta monografia, são claramente percebidas nas obras do autor, considerando historicidade como a própria História; e a História é um dos saberes que o autor envolve em suas narrativas da turma do Sítio do Pica-pau Amarelo. Quando personagens históricos reais aparecem, entra em ação a extratextualidade, que traz estes para dentro do texto. Embora nem sempre apareçam juntas, tornam as obras do modernista uma perfeita sincronia dentro do tempo e do espaço, pois no mundo do Sítio, onde tudo é normal, tudo é também possível.
Para efeito de embasamento teórico, serão realizadas pesquisas em livros, revistas e sobretudo em trabalhos acadêmicos e artigos científicos, além de referências também teóricas sobre cada livro utilizado.
A obra infantil de Monteiro Lobato é reconhecida pelo seu teor educativo, no sentido mesmo que o termo é aplicado no contexto escolar. Verificar como ele se utiliza da literatura para transmitir conhecimento e promover a reflexão sobre eventos e personagens históricos já é, a nosso ver, justificativa suficiente em um curso que forma educadores, para o mundo de hoje.
2 AS FACETAS DE MONTEIRO LOBATO, O MAIOR NOME DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA
Em 18 de Abril do ano de 1882, nasceu José Renato, mas um dia resolve mudar seu nome, pois queria usar uma bengala, que era de seu pai, (falecido em junho de 1898). A bengala tinha gravada as iniciais J.B.M.L então mudou de nome, passou a se chamar José Bento, assim as suas iniciais ficavam iguais às do pai: José Bento Marcondes Lobato.
De acordo com TAVARES, (2013, p.41) Lobato iniciou sua carreira como autor para leitores adultos, publicando contos e artigos em paralelo às diversas atividades que exerceu. O autor se dedicou ao longo de sua vida a diversos tipos de trabalho: como escritor, fazendeiro e promotor. Foi crítico de arte em Nova York, pintor, tradutor, editor além de homem de negócios ligados ao petróleo e à exploração de minério de ferro.
No período que Lobato estava fazendeiro cria o personagem Jeca Tatu, um caboclo abandonado pela política, a mercê de doenças, um seminômade pobre e ignorante. Conforme afirma em carta ao amigo Rangel, Apud. TAVARES, (2013, p.42) Lobato expõe suas impressões sobre a idealização do caboclo na literatura brasileira:
A nossa literatura é fabricada nas cidades por sujeitos que não penetram nos campos de medo dos carrapatos. E se por acaso um deles se atreve e faz uma “entrada”, a novidade do cenário embota-lhe a visão, atrapalha-o, e ele, por comodidade, entra a ver o velho caboclo romântico já cristalizado [...]. LOBATO Apud TAVARES, 2013, p.42)
Lobato vende a fazenda e compra a Revista do Brasil e publica algumas obras. Esse período corresponde às atividades de Lobato como editor. Progressivamente, funda e participa de negócios editoriais, revolucionando o mercado editorial brasileiro.
No período de Lobato empresário, o autor preocupa-se com a educação dos filhos e começa a pensar em textos infantis, começa a nacionalizar as fábulas de Esopo e La Fontaine, em forma de prosa, para que assim desenvolva os processos moralizantes nas crianças.
Sua primeira obra destinada ao público infantil foi lançada em 1920, onde são apresentados os principais personagens que habitam o Sítio do Pica-pau Amarelo.
Conforme afirma CAVALHEIRO Apud TAVARES, (2013, p.43), Sua proposta era inédita na literatura brasileira, os livros destinados ao público infantil pretendiam entreter e instruir os jovens leitores. Diferente das tradições didáticas estabelecidas na época, o objetivo era prender o leitor em uma leitura agradável.
Pouco antes de ir trabalhar em Nova York, Lobato publica O Presidente Negro, um romance de ficção científica que, segundo LAJOLO Apud TAVARES, (2013, p.43) através de um enredo chocante, “inclui a atualidade da temática, a um tempo que o conceito de eugenia era evocado acima e abaixo do equador para justificar políticas de exclusão e marginalização”, e que funcionaria como um passaporte para as atividades almejadas de escritor e editor nos Estados Unidos. 
O autor fascina-se com o avanço industrial e tecnológico das terras americanas e publica América, livro que discute o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos. Em que são feitas comparações entre a realidade brasileira e a americana e assim busca possíveis soluções para os problemas enfrentados no Brasil.
Numa tentativa de apelar para a opinião pública, ele escreve O escândalo do petróleo, um livro que relata de um modo conficcional as aventuras vividas pelo escritor que reuniu dinheiro de alguns investidores e tentou por anos encontrar petróleo em terras brasileiras. Mas devido a obstáculos políticos as tentativas falharam. A obra foi um sucesso de público e com valor significativo para a censura, mas, proibido de circular.
Lobato foi preso por duas vezes no governo de Getúlio Vargas, atormentado ele confessa: “Depois que me vi condenado a seis meses de prisão, e posto numa cadeia de assassinos e ladrões só porque teimei demais em dar petróleo à minha terra, morri um bom pedaço da alma.” (LOBATO Apud TAVARES, 2013, p.44)
De acordo com LAJOLO Apud TAVARES, (2013, p.44) próximo aos seus sessenta anos, Lobato sente o impacto emocional da prisão, da censura dos seus livros, a morte de seus dois filhos e de cunhado, sua situação financeira é precária. Sobrevivendo dos direitos autorais e traduções de suas obras.
Concordante ainda com TAVARES, a produção literária infanto-juvenil O Minotauro é marcada pela crítica dos regimes totalitários, pelo abandono do mundo real e o mergulho na fantasia. Essa série do pica-pau é composta por vinte e três livros. De acordo com PENTEADO Apud TAVARES, (2013, p. 53-54) é uma obra que se alonga por quase cinco mil páginas na maior parte ficção infantil: contos, fantasia épica, realismo encantado, magia, fantasias de animais, viagens ao passado, ficção científica, histórias de humor e anedotas, fantasia baseada em folclore, fantasia baseada em lendas e mitos. 
O marco inicial para a produção de narrativas infantis foi influenciado pelo Movimento escola nova. Ao longo das histórias, Lobato tinha a intenção de cativaro leitor para a narrativa seguinte, suas narrativas fazem referência a outros livros já escritos por ele. De acordo com BOTELHO E SIQUEIRA, (2013, p.337), o intelectual Lobato faz sua literatura com caráter pedagógico que fora e continua sendo um instrumento de educação e diversão para os jovens de seu tempo e de futuras gerações.
O mundo infantil de Lobato, de acordo com CAVALHEIRO Apud TAVARES, (2013, p.52) de certo modo, pode ter sido uma volta ao seu passado de menino que no interior brincava com bonecos de chuchu e espiga de milho. Mas o Lobato adulto, como já foi dito anteriormente ao longo de suas obras, concretiza o seu propósito de instruir e contribuir para a formação moral e intelectual de quem as lê.
Já na Argentina, o autor certifica o seu afastamento do fascismo e a aproximação do Partido Comunista do Brasil. O que influencia na sua produção de A parábola do Rei Vesgo e Zé Brasil. 
Aos 66 anos, o escritor termina seu trabalho literário. Suas produções são vastas e com múltiplos propósitos. No ano de 1948, Monteiro Lobato falece. De acordo com Tavares: amargurado e com sarcasmo: “A Emília – gracejava ele – já disse que não presto mais, que estou uma porcaria, que…ela vai procurar ‘outro’.” (CAVALHEIRO Apud TAVARES, 2013, p.45).
3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA E O ENSINO DA HISTÓRIA
De acordo com TAVARES, (2013, p. 10) os mitos gregos têm sido, ao longo da história da literatura uma referência para os gêneros literários por seu caráter simbólico e moralizante. Estes princípios foram utilizados pelo autor paulista José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), que escreveu suas obras para entreter seus leitores e também participar de sua formação.
História é uma palavra de origem grega surgida no século VI a.C, significa investigação, informação. Essa história entendida nos dias de hoje iniciou se na região da mediterrânea. BORGES V.P.(1993 p.9). De acordo com a autora, a primeira forma de explicação surgida na sociedade foi o mito, algo transmitido de geração a geração como tradição oral. Esse mito primitivo fornecia para as pessoas da época uma explicação que para os povos era uma verdade e geralmente contava uma história com personagens sobrenaturais e deuses. A história é uma explicação para o início da criação de algo. Refere se a um determinado espaço de tempo além da possibilidade de cálculos: ‘o inicio de tudo’.
O Brasil é um país muito novo, a história, contudo, não visa explicar somente um passado distante e morto, mas sim ajuda a explicar a realidade, porém, o conhecimento por ela produzido nem sempre é perfeito ou acabado, historiadores tomam posições diferentes e por vezes conflitantes.
 O que não se contesta é que a história nasceu da filosofia, no início, o campo filosófico abrangia todas as áreas. Os gregos então descobriram a importância específica da explicação histórica. Heródoto é considerado o pai da história porque foi ele quem primeiro empregou a palavra no sentido de investigação. E assim, vista como mestra da vida, leva os homens a compreender seu destino. As mentalidades da idade média, período associado à fé, lendas fantásticas, elixires da vida, foi em parte a responsável pela escrita da história, e que com o avanço dos anos, foi sendo atualizado, e por vezes substituído por tudo aquilo que pesquisadores descobriram e exploraram ao longo do século.
“As mudanças são lentas, mas constantes, em direção a um abandono da antiga visão religiosa da história que, porém, ainda influencia os filósofos e estudiosos dos séculos posteriores e possui adeptos até mesmo no nosso século” (BORGES. 1993).
Ainda de acordo com BORGES, no século XVIII, a sociedade, desestruturada com o final do sistema do feudalismo (uma organização política baseada em relações servis), surge o iluminismo, que procura mostrar a história como desenvolvimento da razão humana. A Idade Média, período das trevas, é substituída pela luz (Iluminismo = luz), e assim a cada dia a sociedade tem mais domínio sobre a natureza em uma evolução constante. “O homem ‘iluminado’, levado pela fé em sua própria razão, trabalha para seu próprio progresso” (BORGES, 1993).
Em uma entrevista concedida ao jornal Diário de São Paulo intitulada “O Brasil ás Portas da Maior Crise da sua História”. Apud SILVA p. 2, é marcada pela previsão de Lobato da “inevitável vitória do socialismo no mundo inteiro” no contexto do pós-2ª guerra mundial, a partir de exemplos de vitórias de “idealistas” em acontecimentos da História Mundial. Nessa entrevista Lobato faz suas considerações sobre a história: 
A História é um caudal em perpétuo fluir, ora remansoso como o rio na planura, ora atormentado como o rio em desnível. Mas em nenhuma época esse caudal entrou em terreno mais irregular e se transformou em mais desnorteante Sete-Quedas, como em nosso tempo. Quando o rio passa assim do regime de planura para o tumulto das cataratas, todos os ‘valores de remanso’ se destroem, momentaneamente substituídos pelos ‘valores da violência’. (LOBATO Apud SILVA 2010 p.3)
3.1 O TRABALHO DO HISTORIADOR
A história, de acordo com VAVY, hoje em dia está mais próxima das outras áreas do conhecimento, ela procura explicar a dimensão que o homem teve em sociedade. Procura ver as transformações pela qual passou a sociedade humana. O homem é um ser finito, temporal e histórico, tem consciência de seu caráter histórico que vive em um determinado tempo, um espaço concreto e assim age em relação à natureza e a outros seres. 
De acordo com a realidade que vive o historiador, são diferentes as perguntas que eles fazem sobre o passado, distintos é os interesses, eis o motivo das contínuas descobertas. A ligação história/futuro são apenas probabilidades. Na Europa, desde a segunda Guerra Mundial, pode-se perceber um desenvolvimento significativo do conhecimento histórico do mundo.
Os historiadores estão ligados a realidade imediata. “A história é vista como mestra da vida, levando os homens a compreenderem seu destino.” (BORGES, 1993, p.21)
Um historiador “produz” a história examinando primeiramente uma determinada realidade. O primeiro passo é se situar no tempo e no espaço que ele deseja estudar. E assim, busca indícios, provas, testemunhas para que possa condicionar os motivos e razões. 
O importante e essencial é que o trabalho do historiador se fundamente numa pesquisa dos fatos comprovados concretamente. Em geral, é comum, sobretudo em realidades históricas [...] que os vestígios dessas realidades sejam inúmeros e que o trabalho do historiados se inicie por uma seleção desses dados. Essa seleção é feita em função dos dados do passado que lhe pareçam mais significativo. (BORGES, 1993, p.60)
É importante considerar que os documentos não são um espelho fiel da realidade, o historiador é um homem em sociedade que também faz parte da história que escreve. (BORGES, 1993)
Segundo VAVY, a história é marcada pelos interesses da classe dominante, dentro de certo controle prático, não se encontra documentos da vida dos escravos na Grécia clássica. A história nunca foi escrita sob a ótica dos servos medievais, somente sob a orientação da igreja. Pode-se dizer então que a história é um olhar dirigido ao passado, que os homens fazem dentro de condições reais já estabelecidas. Já que a função da história, sempre foi a de fornecer uma explicação para a sociedade sobre ela mesma.
 3.2 COMO E POR QUE ENSINAR HISTÓRIA
O cristianismo tem muita influência em nossa civilização, e toda a cronologia histórica é feita em termos da vida do filho de Deus a terra. O cristianismo é uma religião histórica que se ordena em função de uma intervenção real divida em meio aos homens. (BORGES, 1993). O que muito se questiona é: o que ensinar em uma sociedade multicultural?! O trabalho do educador é contribuir para a formação de cidadãos conscientes e que tenham compreensão de seu cotidiano, sujeitos da história, proporcionando a oportunidade de resgatar a sua história. (SCHEIMER, 2010, p.1).
Para Marx e Engels Apud BORGES, (1993) a história é um processo dinâmico edialético e cada realidade traz a contradição, o transforma a história constantemente.
O ensinar a história instiga a curiosidade e o interesse de cada um, estimulando a criatividade e a vontade de saber sempre mais.
3.3 O CONTAR HISTÓRIAS
A arte de contar histórias tem suas origens nos antepassados. Desde os tempos mais remotos, os antigos já contavam histórias para encenar seus rituais, seus mitos e assim passavam os seus conhecimentos sobre o mundo sobrenatural ou sobre as experiências do seu grupo para os descendentes no decorrer do tempo. 
Além da comunicação oral e gestual, eram também registrados nas paredes das cavernas desenhos e pinturas, das experiências vividas no cotidiano. As memórias auditivas e visuais eram essenciais para a aquisição e o armazenamento dos conhecimentos transmitidos. 
Concordante com (SILVA 2013 p.328) o costume de contar histórias sempre foi uma atividade muito privilegiada. Nessa direção Ramos:
Os contadores eram figuras de destaque em sua comunidade por serem os que sabiam apresentar conselhos, fundamentados em fatos, historias e mitos, mantendo viva, enfim, a herança cultural pela memória do grupo. Os contadores retiravam o conteúdo de contação de suas vivencias e dos saberes delas obtidos. Dessa forma, narrar dependia de eles colherem os saberes da experiência, e de produzi-los em objetos (visuais, auditivos, etc.) para serem apresentados a outros. (RAMOS Apud SILVA, 2013, p. 327)
O contador de histórias é alguém que transporta o ouvinte a um mundo, por vezes dele desconhecido. Considerando uma linha de pensamento citada por SILVA:
Um bom contador de histórias deve instigar, em seus ouvintes, a atenção, a curiosidade, a que cotejem seus sentimentos e valores com os narrados pela história, bem como a que compartilhem com os demais ouvintes suas reações e vivências relacionadas a história, além de instigá-los a imaginar criativamente a partir do narrado (SISTO Apud. SILVA 2013 p.328).
Caruso Apud. SILVA (2013, p. 328) considera a literatura importante para o desenvolvimento da criatividade e do emocional infantil. Para o autor, quando as crianças ouvem histórias, elas visualizam de forma mais clara os sentimentos que existem e elas têm em relação ao mundo, pois as histórias trabalham problemas existenciais típicos da infância como medos, sentimentos de inveja, de carinho, curiosidade, dor, perda, além de ensinar infinitos assuntos. 
Para completar Caruso, SILVA cita ABRAMOVICH: 
É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica. É ficar sabendo história, geografia, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc., sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula, porque, se tiver, deixa de ser literatura, deixa de ser prazer, e passa a ser didática, que é outro departamento não tão preocupado em abrir todas as comportas da compreensão do mundo. (ABRAMOVICH Apud SILVA, 201, p. 328)
A contação de histórias em sala de aula é um meio de promover a leitura e a produção de conhecimentos. Porém de acordo com SILVA (2013, p.331) a humanidade de hoje é fruto de um modelo de ideologia que, aprendeu a valorizar o quantitativo (resultado dos modelos matemáticos de Galileu e Newton) e não valorizar o qualitativo. 
O visual hoje em dia é predominante na sociedade moderna. A intensidade e variedade das imagens cativam as pessoas fazendo-as esquecer da escuta. A arte de contar histórias se perdeu. As pessoas falam e ouvem muito, porém estamos pouco propensos a escutar. Essa atitude típica da contemporaneidade, faz os homens perderem a capacidade de se relacionar com atividades que precisam de atenção, de tempo para ouvir, para admirar. (SILVA, 2013, p.328)
Mesmo assim SILVA p. 329 considera que não se pode deixar de pensar a prática do ensino e o que chamamos de interação professor-aluno. E é a partir dessa interação que vemos a contação de histórias como um elo que permite colocar em prática a utópica interação entre o professor e o aluno, entre o leitor e o ouvinte.
O contador de histórias precisa permitir ser interrompido na intenção de tirar as dúvidas e até mesmo questionar a história. Seguindo esse sentido, a contação de histórias torna-se uma atividade interativa de produção de conhecimentos em sala de aula, pois este momento contribui muito para o desenvolvimento do processo de leitura do aluno. 
Apesar de ter declarado “Não sou cousa nenhuma além dum observador da história” (LOBATO Apud SILVA p. 2), são muitas as incursões de Lobato no “mundo dos historiadores”. O autor ao se envolver na produção de traduções de relatos quinhentistas ficava evidente sua preocupação modernizadora com a divulgação desses textos entre o grande público o que envolve a construção de uma determinada representação de passado colonial. Os trabalhos para o público infantil: História do mundo para crianças e Aventuras de Hans Staden abordam a temática. Entre as constantes declarações de Lobato na mídia impressa de sua época, ele se posiciona em relação à escrita da história de seu tempo: “A história é falseada nas escolas para que também se torne instrumento dessa inversão de todos os valores.” (LOBATO Apud SILVA p. 3)
4 O CARÁTER EDUCATIVO DA OBRA INFANTIL LOBATIANA
O vínculo entre Lobato e a escola pode ser entendido pelas relações entre literatura infantil e escola. Historicamente, essa ligação parece ser inquestionável:
Na tradição brasileira, literatura infantil e escola mantiveram sempre relação de dependência mútua. A escola conta com a literatura infantil para difundir [...] sentimentos, conceitos, atitudes e comportamentos que lhe compete inculcar em sua clientela. E os livros para crianças não deixaram nunca de encontrar na escola entreposto seguro, quer como material de leitura obrigatória, quer como complemento de outras atividades pedagógicas, quer como prêmio aos melhores alunos (Lajolo Apud Edreira, 2004, p. 11).
A literatura infantil de Monteiro Lobato produzida durante os anos 1930 – História do mundo para crianças, O Minotauro e A Chave do Tamanho – trazem no enredo o ensino de conteúdos históricos e moralizantes ao público infantil. O autor criou um mundo onde realidade e sonho não tinham fronteiras definidas. As histórias imaginadas pelo autor expressam uma forma de aprender diferente: as crianças aprendem a história através do desenrolar da trama pelos personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo. Diz-nos o autor: 
De escrever para marmanjos, já enjoei. Bichos sem graça. Mas, para as crianças, um livro é todo um mundo. Ainda acabo fazendo livros onde nossas crianças possam morar. (LOBATO Apud MOLINARO, 2003, p.10)
Conforme um artigo publicado na Revista de Iniciação Científica em 2004, os livros de Lobato mostram o cotidiano comum e familiar à criança; assim, centram no aluno e na resolução de problemas. O leitor é penetrado pelo maravilhoso com naturalidade, pois seus personagens são um retrato do público que ele pretende atingir.
O surgimento de livros para as crianças pressupõe uma organização social moderna, por onde circule uma imagem especial de infância: uma imagem da infância que veja nas crianças um público que, arregimentado pela escola, precisa ser iniciado em valores sociais e afetivos que a literatura torna sedutores. Em resumo, um público específico, que precisa de uma literatura diferente da destinada aos adultos. (LAJOLO apud BORGES s.d. p.5).
De acordo com Arthur da Távola, em seu artigo “O imaginário lobatiano”, publicado no site do Centro de Pesquisa e Estudo do Teatro Infantil (CEPETIN), em 2006, o autor demonstra em suas obras para os pequenos leitores que a inteligência bem orientada vence a força bruta. E assim as histórias indiretamente ensinam a criança a ter raciocínio próprio e visão crítica do mundo.
Monteiro Lobato teve o mérito de perceber a necessidade de conquistar um público exposto à produção alienígena. Para isso, tratou de cultivar o leitor infantil, inclusiveintroduzindo literatura nas escolas primárias, pois reconhecia a receptividade das crianças a quaisquer informações ministradas. (KOSHIYAMA Apud Edreira, 2004, p. 14).
No decorrer de seus livros, Lobato, o escritor contou fatos mitológicos, políticos, sociais, históricos, científicos; ensinou matemática, português, geografia e também astronomia. O caráter educativo como diversão é incisivo nos valores de vida e nas aventuras e descobertas dos personagens. Esse “Saber como aventura” é o equilíbrio das três formas básicas e universais do saber: o racional, o intuitivo e o mágico, integrando com o conhecimento que gera o gosto do saber. 
As histórias são contadas sob um ponto de vista infantil, Lobato se preocupa com o leitor do texto infantil, ele acredita que a criança não é um simples receptáculo de valores como os adultos lhes impõem e consideram. Assim, Monteiro Lobato, além de ser o “precursor de uma renovada literatura para crianças no Brasil, foi também um exímio crítico literário, de forma informal.” (BORGES, s.d. p.6)
Arthur da Távola, no referido artigo, destaca o papel significativo dos brinquedos transformados em personagens de verdade. Vejamos o que Távola nos diz:
A boneca de pano, velha, amassada, mal feita, permite às crianças inusitadas "encarnações" ou "personalizações" muito mais ricas e criativas que os brinquedos acabados, perfeitos, que dizem mamãe, sabem "mamar" e até fazem "xixi" para trocar a fraldinha, como anos depois, o progresso industrial criou para as meninas. (???????)
E prossegue:
Uma espiga de milho, com toda a sua carga simbólica, estimula a fantasia infantil (pois serve para mil coisas nas brincadeiras) mais que o produto industrial completo e acabado, deslumbrante, mas deixando pouco ou nenhum espaço para a complementação criativa da criança. Brinquedos ou bonecos, por mais bonitos e sofisticados que sejam, quando englobam todas as mensagens, signos e símbolos, paradoxalmente empobrecem a relação da criança com o próprio imaginário. (???????)
A relevância e a recorrência da participação das “personagens-brinquedo” nas narrativas do Sítio do Pica-pau Amarelo, contudo, não é sempre a mesma. Se há livros onde, inegavelmente, o Visconde de Sabugosa e a Emília assumem um nítido protagonismo, mas existem também histórias nas quais são eles relegados a um plano secundário. Nestes casos, quem irá centralizar as atenções será, normalmente, Dona Benta.
Há uma correspondência bastante evidente entre a existência da simples historicidade na obra infantil de Lobato, sem uma presença destacada de recursos extratextuais, na obra História do Mundo para crianças, por exemplo. Nesta, o protagonismo é reservado à Dona Benta. Em via oposta, o emprego da extratextualidade como procedimento para estimular a apreciação, pela criança, de eventos e fenômenos históricos será mais comum nos textos em que as “personagens-brinquedo” serão os reais protagonistas.
Antes, porém, cumpre-nos observar, no mesmo artigo de Arthur da Távola, a classificação do caráter educacional da obra Lobatiana feita por Renato J. C. Pacheco, em estudo publicado na Revista Brasiliense. Pacheco dividiu as produções infantis de Lobato em três tipos, que chamou: “De instrução”, “Mistas” e “De diversão”. Abaixo, vemos a relação dos títulos dos livros infantis do escritor, como foram agrupados na classificação referida:
Obras de instrução – “História do mundo para crianças”; “Emília no País da Gramática”; “Aritmética da Emília”; “História das Invenções”; “Geografia de Dona Benta”; “O poço do Visconde”; “Serões de Dona Benta”; e “O espanto das Gentes”.
Obras mistas – “Fábulas”; “Viagem ao céu”; “Aventuras de Hans Staden”; “Peter Pan” e “Dom Quixote”; “Minotauro” e “Os 12 trabalhos de Hércules”.
Obras de diversão – “Reinações de Narizinho”; “O Saci” (Mitologia Brasileira); “As caçadas de Pedrinho”; “Memórias de Emília”; “Histórias de Tia Anastácia”; “Pica-pau Amarelo”; “A Chave do Tamanho"; “A reforma da natureza”; e “Histórias diversas”. (PACHECO Apud TÁVOLA)
Das quatro obras de Lobato que focalizamos em nosso estudo, uma está inclusa no primeiro grupo (História do mundo para crianças), duas no segundo grupo (Aventuras de Hans Staden e O Minotauro) e a última no terceiro (A Chave do Tamanho). Ou seja, cremos que representam elas um recorte satisfatório da produção infantil do autor, dentro do tema a que nos propomos.
Via de regra, a importância das “personagens-brinquedo” nos enredos das historinhas será crescente à medida que nos deslocamos do grupo das obras de instrução para o das de diversão. O mesmo se dá em relação à presença do recurso da extratextualidade: menor no caso das primeiras; maior, contudo, entre as obras de diversão.
A aventura, segundo Arthur, é símbolo da necessidade de criatividade para sair do eco da mesmice. É a criatividade permanente a responsável pelas soluções encontradas pelas crianças do Sítio; e, quando Lobato transforma a vida dos personagens em ação e aventura, está estimulando o interesse pelo conhecimento, que se desenvolve conforme o leitor lê as tramas e aventuras. 
É isso que faz quem lê caminhar pelo mundo da mitologia, da guerra e também o da Roma antiga. Concordante com Arthur da Távola, a educação é aprender a aprender, é amor ao conhecimento. Se não ensina nem exercitar a memória, atua subjacentemente, predispondo ao conhecimento, induzindo a mais fascinante e divertida das experiências: a curiosidade, a vontade de saber, o desejo de conhecer, o hábito de experimentar, o gosto de fabular.
Lobato, segundo Távola, consegue mostrar que uma boneca de pano ou um sabugo de milho são ricos no desenvolvimento da criatividade pelas crianças, pelo fato de serem incompletos de sua forma.
Nas obras de Monteiro Lobato, existe, portanto, esse caráter educativo chamado “apoio à curiosidade e inventiva”, que é a criatividade como solução fundamental de vida. Para isso o autor usa personagens e ausência do medo de perguntar da personagem Emília, que é o protótipo mirim do ser social que pensou enquanto desenvolvia a problemática educacional, para exemplificar. Tudo no Sítio do Pica-Pau Amarelo é baseado em curiosidade transformada em atividade pelas crianças, através da inventiva. 
Os conhecimentos a serem transmitidos devem-se relacionar com o campo de experiência do educando, ao que lhe é familiar;
Sempre que possível, os educandos devem participar ativamente do processo educativo. Isso é conseguido através de interações, fazendo experiências e viajando para examinar diretamente os fenômenos;
A experiência de aprendizado deve ser agradável e interessante. [...];
Os tipos de conhecimentos devem ser transmitidos de forma adequada à idade do educando; 
Para ser efetivo, o conhecimento deve ser transmitido de forma simples e clara, sem embelezamentos pretensiosos ou desnecessários;
Quando um educando assenhora-se de um fato ou conceito, eles devem ser reforçados positivamente, e isso deve ocorrer imediatamente à resposta correta [...] (PENTEADO Apud. EDREIRA, 2004, p. 20)
É descrito o caráter pedagógico do ambiente do Sítio do Pica-Pau Amarelo e a inclusão nas histórias de uma concepção pedagógica:
Com efeito, as terras de Dona Benta, sob certas circunstâncias, desempenham a função de uma escola, sendo a proprietária, a professora ideal, e os alunos, os moradores do sítio, ouvintes atentos e interessados que, como sempre, polemizam os temas, quando não decidem vivê-los in loco, abandonando temporariamente o lugar improvisado das aulas.
O sítio metamorfoseia-se numa escola paralela, reforçando a versão do escritor pela instituição tradicional de ensino, cujas disposições física e psicológica o desagradavam. Trata de substituí-las, dando-lhe um arranjo diferente, ao mesmo tempo antigo e moderno. Antigo, porque o modelo é a escola grega, conforme a filosofia helênica a divulgou: um sistema de ensino que evolui através do diálogo, sem soluções pré-fabricadas ou conclusões previstas por antecipação. Além disso, não supõe um espaço determinado, fixo de antemão eclassificado como sala de aula. [...]
A partir do aproveitamento desse fator técnico, esclarece-se o conteúdo moderno desta prática pedagógica: vale-se de instrumentos procedentes da atualidade, usando a ciência e a tecnologia e vendo-as como os principais objetivos a alcançar. [...] Apoiando-se no diálogo, como metodologia de ensino, e no amor ao conhecimento, como finalidade, aponta um caminho pedagógico para a sociedade contemporânea, arejando-a com as idéias (sic) que motivam a atitude do ficcionista (LAJOLO & ZILBERMAN Apud Edreira, 2004, p.19).
4.1 EMÍLIA, EMILÍA, EMÍLIA...
De acordo com TÁVOLA, Por via Emília, Monteiro Lobato manifestava o seu senso crítico e ironias que a sociedade repressora em que viveu não permitia. Emília não cumpre ordens impostas: é o sonho da liberdade. A boneca de pano possui valor relevante: Emília não tem medo.
Emília representa o contrário do medo: a ideia de aventura e o caráter ativo. A personagem-brinquedo faz aflorar as “Emílias” internas de cada um. A coragem de ser, concordante com TÁVOLA, é matéria pedagógica, altamente educativa.
O processo educacional e a forma pela qual o manipulam os adultos é todo um longo processo de ensinar as pessoas a ter vergonha: vergonha de perguntar; de ser o que se é; de cumprimentar; de não saber; de querer pertencer; ter de saber e de não saber.
Emília torna-se capaz de conduzir o fluxo da vontade de saber e de conhecer da criança. Está a ensinar a espontaneidade e independência diante dos adultos. Está a fortalecer a confiança em sua (delas, crianças) disposição pessoal, individual e própria de aprender. (TÁVOLA) 
Emília é fundamental no mundo Lobatiano, representa a fantasia das crianças que tem o poder de dar vida, aos objetos. Ela mostra a possibilidade de ir para um universo alternativo, para o mundo no qual tudo podem, pois nele tudo é possível. Através das ideias mirabolantes da personagem, Lobato poderia moldar os pequenos leitores com consciência crítica desde a infância, não deixando que eles se tornassem meras cópias falantes. (FERNANDES, 2008, p.10)
Em carta a Vianna, Lobato diz: 
A minha Emília está realmente um sucesso entre as crianças e os professores. [...] Vale como significação de que há caminhos novos para o ensino das matérias abstratas. Numa escola que visitei, a criançada me rodeou com grandes festas e me pediram: “Faça a Emília do país da aritmética”. Esse pedido espontâneo, esse grito d’alma da criança não está indicando um caminho? O livro como o temos tortura as pobres crianças – e no entanto poderia diverti-las, como a gramática da Emília o está fazendo. Todos os livros podiam tornar-se uma pândega, uma farra infantil. A química, a física, a biologia, a geografia prestam-se imensamente, porque lidam com coisas concretas. O mais difícil era a gramática e é a aritmética. Fiz a primeira e vou tentar a segunda. O resto fica canja (in Lajolo Apud Edreira, 2004, p.21).
Concordante com Távola, a personagem Emília que consegue tudo resolve com a imaginação quaisquer problemas. No processo de educação; a frustração. Trabalhar a frustração é educar-se. “Na medida em que o reino do faz-de-conta se instala, a fantasia se proclama rainha e a criança poderá superar mais frustrações do que lhe ensina o pobre e pouco imaginativo racionalismo dentro do qual é habitualmente educada” (TÁVOLA)
Ainda segundo Artur, Emília não tem receio em perguntar, de dizer bobagens e querer saber. Esta sua característica, tem o objetivo de ensinar a espontaneidade e independência das crianças diante dos adultos, fortalecer a confiança na disposição pessoal, individual e própria de aprender.
Emília carrega, portanto, a liberdade como síntese de sua figurinha simbólica e gigantesca. A liberdade, eterno e indefinível enigma, com o qual e sem o qual não sabemos viver. Na obra de Lobato, Emília não nasceu pronta e acabada. Foi evoluindo tanto quanto ele, na técnica de escrever para crianças. Nasceu boneca de pano, de 40 cm. Tia Nastácia fê-la moreninha, de uma saia velha. Seus olhos de início foram de retrós preto. Posteriormente azuis. Depois virou gente. Cresceu "asneirenta" e "teimosa". (TÁVOLA) 
Essa terrível boneca de pano a quem o autor deu vida nesses livros, é dominadora e individualista. Possui incomparavelmente um espírito líder que a distingue dos demais personagens. A bichinha mantém seus pontos de vista e opiniões. Sua curiosidade é aberta a tudo. Esse famoso protótipo mirim é um serzinho pensante, inquieto, cheio de interrogações, perturbador, mas sobretudo um ser livre, senhor de si e de seus atos. Um ser que busca incessantemente um conhecimento adquirido através da experiência e dessa inquietação de quem quer saber sempre mais. (TÁVOLA)
Na medida em que Lobato apaixonava-se pela personagem a aprimorava, de acordo com TÁVOLA, Emília tinha todos os sentidos poderosos e desenvolvidos. Sua visão, apesar dos olhos de linha de costura, sempre fora superior. Essa exaltação dos sentidos de Emília é muito para a formação das crianças desabituadas a usar, cada vez menos, os sentidos, devidos aos avanços tecnológicos que entregam tudo “pronto” às crianças. 
A boneca compreendia besouros, conhecia a linguagem dos bichos, dos seres inanimados. Esse recurso segundo estudiosos e críticos de Lobato, significava dotar a vida e os sentidos de mecanismos de percepção. É exercitar a criatividade: atribuir vida humana às coisas da natureza e entrar em relação com elas.
Nos dias atuais, a programação televisiva para crianças é quase nula. Os meios de comunicação formam a cada dia com mais intensidade, mini consumidores tornando as crianças dependentes de coisas, fato em oposição a Lobato, pois, o autor priorizava a independência de pensamento, a possibilidade de leitura crítica sobre o mundo, a busca de uma atitude de vida original e criativa.
A boneca, fundamental para o universo infantil representa através de sua existência a materialização da fantasia maravilhosa e o poder que as crianças possuem de dar vida a qualquer objeto. Animar vem de "anima" que quer dizer "dar vida", "dar alma". 
Fato este que as ações da Igreja Católica e setores ultraconservadores atacaram Lobato atribuindo-lhe ateísmo.
Ah, a materialização de Emília de boneca em gente! Quanta incompreensão viveu Lobato por causa da mesma! Materialista, chamaram-no: quer equiparar-se a Deus! Só Deus pode criar seres humanos! Veio a crítica violenta pelo pecado de, sendo ficcionista, fazer ficção. Eram tempos em que setores conservadores do catolicismo ainda estavam longe do arejamento advindo do concílio Vaticano II (TÁVOLA)
4.2 PERSONAGENS E VIDA REAL
Lobato desde 1921, com a publicação de Narizinho Arrebitado, o autor dedicou-se à literatura infantil. Os personagens Narizinho e Pedrinho possuem as mesmas características das crianças a quem seus livros são dirigidos: crianças comuns, mas envolvidas num mundo de mistério e fantasia. Assemelham-se aos alunos, pois partem para aventuras de conhecer e aprender, e fazem isso através da experiência, no próprio contato com o objeto estudado, tocando, conhecendo, criando uma forma de pensar e de ver o mundo totalmente livre sem os padrões da escola.
Dona Benta, figura detentora de grande conhecimento é a mentora e responsável pelos personagens que habitam o Sítio do Pica-pau Amarelo, ela faz o papel de narradora em algumas obras. Um exemplo é em História do mundo para crianças publicado pela primeira vez em 1933: 
‘Bela idéia! (sic) A história do mundo é um verdadeiro romance que pode muito bem ser contado às crianças. Meninos assim na idade de Pedrinho e Narizinho estou certa que hão de gostar e aproveitar bastante.’ E, voltando-se para criançada: - Olhem, vamos ter novidade amanhã. Uma história nova que vou contar, muito comprida... (LOBATO, 1994, p.7)
A escolha em colocar uma avó como mestra de seus propósitos educacionais pacificava o autoritarismo masculino que predominava na época que foi escrito. 
Dona Benta não sobrepõe a sua cultura à de Tia Anastácia. Narizinho e Pedrinho são companheirosde aventuras. Algo evidente, com o intuito de atingir as crianças, reproduzindo nelas o sentido da igualdade social, respeito à pessoa humana. 
A personagem da avó é retratada como alguém muito inteligente e sábia, comparada a figura de um professor com a arte de entreter e divertir as crianças sem desqualificar o conhecimento prévio: os mitos que geralmente fascinam o mundo infantil.
Dona Benta segundo a colaboradora Edlena Franklin Meira, do jornal Diário do Nordeste “Foi e tem sido ainda um instrumento de propagação da narrativa dialógica, que ao mesmo tempo em que instrui, respeita a inteligência e incentiva o interesse da criança.” Ao contar uma história a uma criança, tem-se a necessidade de fazer-se compreensível de acordo com a faixa etária. A utilização de recursos para tal fato faz parte do perfil do educador. O papel de Dona Benta nas obras infantis de Lobato tem como objetivo também de concitar apreciadores da leitura, contagiando até as novas gerações, disseminando o exercício prazeroso do aprender. Por que embora Lobato tenha falecido no ano de 1948, sua linguagem é contemporânea, de fácil entendimento.
Dona Benta sentou-se em sua velha cadeirinha de pernas serradas e principiou:
Hans Staden era um moço natural de Homberg, pequena cidade de Hesse, na Alemanha.
De S? – exclamou Pedrinho, dando uma risada. Que engraçado!
Não atrapalhe – disse Narizinho. Assim como em São Paulo há freguesia de Nossa Senhora do O’, bem pode haver o estado de S na Alemanha. Em que o O é melhor que o S?
Não digam tolices – interrompeu Dona Benta. Esse estado da Alemanha escreve-se em português H-E-S-S-E, diz-se Hessen em Alemão. Nada tem a ver com a Letra S.
Depois dessa lição Dona Benta continuou:
(LOBATO, 1997, p. 7)
De acordo com (SILVA, 2013, p. 329): Nesse primeiro momento já pode ser percebida a linguagem simples utilizada por ela. Uma das características principais de Dona Benta ao contar as aventuras do jovem Hans Staden é a maneira dedicada e atenciosa com que se coloca para esclarecer as dúvidas dos ouvintes. A sabedoria de Dona Benta por sua experiência de vida é uma qualidade evidente. 
A partir disso podemos definir Dona Benta como uma contadora de histórias:
[...] figura entre os mestres e os sábios. Ele sabe dar conselhos: não em alguns casos, como o provérbio, mas para muitos casos, como o sábio, Pode recorrer ao acervo de toda uma vida [...] Seu dom e poder contar sua vida; sua dignidade e conta-la inteira. O narrador e o homem que poderia deixar a luz tênue de sua narração consumir a mecha de sua vida (BENJAMIN Apud SILVA, 2013, p. 329).
Assim, a figura do contador de histórias é tomada como um condutor, que por meio da sua competência como contador, conduz a leitura e a interpretação da maneira como acredita que seja mais produtivo para todos.
5 A HISTORICIDADE NA OBRA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO
Pode-se dizer que historicidade significa colocar em perspectiva temporal e espacial as ações humanas que podem ser depreendidas da análise dos documentos. Qualidade ou condição do que é histórico. De acordo com um glossário disponível na internet, historicidade é um conceito da dinâmica humana de transformação de valores, crenças e costumes. Nenhuma forma de compreender o mundo é inata ou estática. Jamais pode ser determinada de uma vez que servirá para sempre.  As relações que o homem estabelece com natureza, e consigo mesmo estão sempre em mutação.
5.1 HISTÓRIA DO MUNDO PARA CRIANÇAS
De acordo com Edreira, Mestre em história e historiografia da educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo: 
Todo estudo sobre a história do livro e da leitura tem algum interesse para história da educação, ainda que indireto. Compreender o uso do livro como instrumento de ensino e a prática de leitura vinculada ao aprendizado tem uma importância fundamental. (EDREIRA 2004 p. 10)
Em História do Mundo para Crianças, o recurso da extratextualidade aparece de forma um tanto isolada e incomum logo no início do primeiro capítulo, quando temos uma referência a uma personalidade real, o Doutor Livingstone:
Às sete horas em ponto, no dia seguinte, estavam todos reunidos na sala de jantar. Todos, menos três: Rabicó, que não queria aprender coisa nenhuma; o rinoceronte, que era muito grande para caber lá dentro, e o Doutor Livingstone, que já estava outro (Com este sábio tinha acontecido um fenômeno maravilhoso: começara a mudar de aspecto, a transformar-se em outra pessoa, até que um dia amanheceu de novo virado no velho Visconde de Sabugosa!) (LOBATO, s.d., p.7)
Apenas para que não haja dúvida, David Livingstone, nascido em 1813, no Reino Unido, e falecido em 1873, na Rodésia, África, foi missionário e um dos maiores exploradores de que se tem notícia. As suas explorações no Continente Negro ficaram famosas mundialmente. Livingstone teria descoberto e batizado as Cataratas Vitória, em 1855. 
A presença da extratextualidade no trecho citado acima é inquestionável, mas excepcional em uma obra voltada para a instrução mais do que para a diversão, na classificação proposta por Renato J. C. Pacheco. 
Em praticamente todo o volume de História do Mundo para Crianças, existe uma forte carga de historicidade, mas quase nada de extratextualidade, indo ao encontro do que afirmamos acima: nas obras de instrução, este recurso tem presença muito reduzida. 
Como já citado copiosas vezes, há uma pedagogia implícita nos textos do escritor. E para exemplificar essa pedagogia o livro Histórias do mundo para crianças é um livro-chave:
Ambiente e personagens operam de modo a garantir o confronto das experiências das crianças com a dos adultos, prefigurando uma espécie de processo construtivo, contínuo e natural de inserir-se as crianças no mundo da cultura.
Em resumo, uma idéia (sic) de Pedagogia. [...] Aquele chamado “raciocínio” ou “reflexão” de criança inteligente, que todos os professores desejariam em seus alunos, aparece por todos os textos dos “serões”; não como produto de mera fantasia de autor, mas como uma amostra de que esse “raciocínio” pode ser seguido, induzido, respeitado e suscitado habilmente (Melloni Apud. Edreira p. 20).
Inúmeras personagens históricas são mencionadas por Dona Benta ao longo de todo o livro, mas em quase cem por cento dos casos no contexto mesmo da realidade, não da ficção. Vejamos um exemplo, no qual Dona Benta ressalta a rígida disciplina adotada na sociedade espartana, a partir das orientações de Licurgo:
Voltando a Esparta, começou Licurgo a organizar a vida dos espartanos conforme as lições que aprendeu. Fez um código de leis severíssimas, que pegava o espartaninho ao nascer e ia até o fim da vida a governá-lo com dureza. (LOBATO, s.d., 48-49)
Não sendo as personagens históricas ficcionalizadas, apenas referidas, não se caracteriza a extratextualidade. O didatismo das obras de instrução tem em Dona Benta a sua máxima expressão. É ela, com efeito, que se torna o centro das atenções na sala; é a sua fala a que se faz ouvir, com uma ou outra intervenção das crianças – Pedrinho e Narizinho. 
A “personagem-brinquedo” Emília, cai para uma posição de destaque secundário, tornando-se mera coadjuvante. Em determinado momento, sugestivamente, Emília é proibida de falar para que não atrapalhe os relatos de Dona Benta. É o que se nota ao final do trecho abaixo, em que um dos netos interroga Dona Benta sobre os antigos Jogos Olímpicos:
– E antigamente quem era que vencia mais jogos, vovó? 
– Ah, eram os espartanos! Nesse ponto a vitória de Licurgo fora completa. Os atletas de Esparta faziam verdadeiras coleções de coroas de louro.
(Emília, que ainda estava proibida de falar, cochichou para o Visconde: “Imagine que regalo para Tia Nastácia se morasse lá! Ela gosta tanto de pôr louro na comida...”) (LOBATO, s.d., 53)
É flagrante nas obras de instrução, como se verifica acima, a inversão do protagonismo em relação às obras ditas de diversão. Nestas últimas, como se verifica em A Chave do Tamanho, a boneca Emília assume um papel de nítidodestaque. 
Quando se trata de entreter, mais do que de instruir, as “personagens-brinquedo” movimentam e impulsionam o enredo. Os holofotes todos se voltam para elas. Em sentido inverso, quando instruir é a palavra de ordem, Emília se caracteriza mais pela inconveniência, sendo obrigada a calar-se para que Dona Benta assuma o controle.
[...] Não havendo portas nem cercas, os tigres perseguiam os homens até o fundo da caverna. Que tal essa vida Emília? Ainda desejava ter nascido na Idade da Pedra?
Sim – declarou a teimosa
Por quê? – inquiriu Dona Benta com pachorra
[...]
Narizinho danou
Não perca tempo com esta boba, vovó – disse ela, fulminando Emília com um rancoroso olhar de menina da Idade da Pedra. – Continue (LOBATO, 1994, p. 12)
5.2 AVENTURAS DE HANS STADEN
“O homem que naufragou nas costas do Brasil em 1553 e esteve oito meses prisioneiro dos índios Tupinambás”. (LOBATO, 1997, p.7)
Aventuras de Hans Staden é uma adaptação da obra dos relatos de viagem do Alemão Hans Staden. A obra de Monteiro Lobato conta as aventuras de Hans Staden, um marinheiro alemão que esteve na costa brasileira a serviço de Portugal, o personagem fora capturado e quase morto e servido de jantar. A obra inicialmente chamaria “Meu cativeiro entre os selvagens do Brasil”.
Lobato fez quatro reedições da tradução de Hans Staden. A primeira edição de Meu cativeiro entre os selvagens é de 1925 e este é, o primeiro livro “[...] que se publicou sobre o Brasil. É obra interessante e merecedora do sucesso que tem tido. A edição inicial de 3 mil está no fim. Vamos tirar outra e maior.” (LOBATO Apud SILVA, 2010 p. 4 - 5)
O Hans Staden do Alemão, pode ser classificado como uma literatura de viagem, pois, na época em que foi escrito por volta do ano de 1557, de certa forma, existiam apenas dois tipos de literatura, a Jesuíta e os tais relatos. 
A primeira escola literária do Brasil foi o Quinhentismo, que se iniciou com a carta de Pero Vaz de Caminha, essa literatura documental, histórica, de caráter informativo possuía como contexto histórico: os portugueses e dos primeiros jesuítas ao Brasil. É importante destacar que, até aquele momento, as únicas traduções em português do texto, das primeiras obras sobre os índios tupinambás, foram produzidas por Institutos Históricos.
E quanto às razões de tal iniciativa? A justificativa de Lobato ao traduzir Staden seria, primeiramente, a “organização literária do texto”, uma vez que sua linguagem estaria voltada para historiadores e antropólogos: ‘Mas esta obra, que devia andar no conhecimento de todos os brasileiros, viveu até hoje restrito aos estudiosos por falta de uma coisa só: ordem literária. Sem este tempero, por mais interessante que seja, não consegue uma obra vulgarizar-se. Com esta edição fazemos uma tentativa nesse sentido. Ordenamo-a literariamente, com o mais absoluto respeito ao original, de modo que venha lucrar com clareza sem prejuízo ao caráter documental.’ (STADEN Apud SILVA, 2010, p. 5)
Ainda que Lobato prometesse seguir fielmente a obra original, há significativas ausências, como a retirada de trechos de cunho religioso presentes nos originais, feito isto pela vontade do tradutor e pela necessidade de tornar os textos mais claros e fáceis ao público que ele destinava suas obras. (VIERA Apud SILVA p.7)
Um relato de viagem, após a ficcionalização não pode ser considerado um fato totalmente histórico, mas não é algo puramente literário, fica no meio-termo. Da mesma forma de Aventuras de Hans Staden é considerada uma obra mista, de acordo com a classificação de Renato J.C. Pacheco. A narrativa é fantasiosa por isso não pode ser considerada apenas “de instrução”.
Cunhambebe, Hans e os outros Índios dividem a mesma linha de classificação de personagens, estão no mesmo plano. Tratando – se da obra, mista, pode-se dizer que algumas aparecem a extratextualidade e outras não como é o caso desta, o fato de ser mista sujeita as classificadas obras a essa diferença, ora sutil, ora intensa. 
Como já se sabe Dona Benta é uma personagem que está presente em todas as obras infantis de Monteiro Lobato. Em Aventuras de Hans Staden assim como em Histórias do Mundo para Crianças a personagem é identificada como a figura do narrador contador de histórias. 
Lobato apresenta uma história do Brasil de forma atrativa para jovens leitores. Dona Benta é a narradora, sem haver qualquer manifestação de Emília, Visconde ou Tia Nastácia.
O texto se desenrola despertando interesse e aprendizagem ressalta o prazer pela descoberta e estudos, em valorização à História do Brasil e a percepção de se compreender os fatos no contexto em que ocorreram. Essa descrita experiência de Hans foi a que resultou em um dos primeiros livros sobre o Brasil.
A história inicia-se com a apresentação do personagem ficcionalizado. Nas primeiras linhas a avó Dona Benta senta-se em sua velha cadeira e começa a contar a história de Hans Staden e como era seu temperamento aventureiro. 
O primeiro traço de instrução aparece logo no início: 
Portugal e França estavam em luta por causa das terras novas descobertas em 1500, e era no mar que justavam contas. A França julgava-se com tanto direito explorar essas terras como Portugal, mas tais terras pertenciam a Portugal e Espanha que haviam tomado posse delas antes dos outros. Terra naquele tempo era de quem primeiro pegava. [...] (LOBATO, 1997, p.8)
A trama que foi um acontecimento real e impactante, ocorrida no século XVI, revela no contexto das navegações fatos das razões de buscas europeias pelo Brasil, mostra a rivalidade entre portugueses e franceses, de uma forma que pode ser considerada um caráter de diversão, um humor negro que foge à realidade plausível acontece quando Hans prestes a ser morto também pelo fato de ser Português:
Hans defendeu-se. Não era Português, tinha vindo com os espanhóis; e se o encontraram entre os peros fora devido ao naufrágio que o arrojara ali. Não era português e pois não merecia que a vingança dos índios recaísse sobre sua cabeça. [...]
O moço declarou que o conhecera de S. Vicente e que Hans realmente viera em navio de espanhóis, gente, aliás amiga dos portugueses. 
Esta declaração melhorou um pouco a situação de Hans, mas não foi o suficiente. Pediu ele então que o guardassem vivo até que por ali aparecesse algum filho da França. [...]
Um dia surge um selvagem pela cabana de Hans a dentro (sic); gritando:
‘Está cá o francês mercador de pimenta; vamos verificar se és da mesma raça dele ou não. ’
O pobre artilheiro exultou de contentamento. Era um cristão que vinha a seu encontro e fatalmente o salvaria. [...] 
O mercador de pimenta dirigiu-lhe a palavra em francês. Hans que mal conhecia a língua, atrapalhou-se nas respostas. O monstro, então, voltou-se para os selvagens e disse-lhes em língua da terra:
É português dos legítimos, meu e vosso inimigo. Matai-o e comei-o. (LOBATO, 1997, p. 27 -28)
Emília, a personagem-brinquedo, assim como em Histórias do mundo para crianças, ficou em segundo plano: “Pare um pouco vovó – pediu a menina. Quero dar um pulo lá dentro para trazer a Emília. A coitadinha gosta tanto de ouvir histórias...” (LOBATO, 1997, p.9). O papel destaque ficou para Hans Staden.
O segundo caráter direto de instrução que aparece na trama é quando Dona Benta, depois de interrompida por uma noite inteira de sono retoma o fio da narrativa contando sobre o naufrágio e é interrompida por Pedrinho:
Então em alto mar não há perigo – perguntou o menino
[...] O grande inimigo dos barcos é a pedra, sobretudo a pedra invisível, que não emerge à flor d’agua.
- Emerge ou imerge, vovó?
-São coisas diferentes. Imergir é afundar, mergulhar; emergir é o contrário – é desmergulhar. (LOBATO, 1997, p. 19 - 20)
Pouco mais a frente as crianças questionam o que viria a ser mameluco: “Que é mameluco?” E a avó, como educadora, explica: “Chamavam-se mamelucos os nascidos no Brasil filhos de pai branco e mãe índia” (LOBATO, 1997, p.21)
O enredo mostra também a relação que os brancos tinham com os indígenas,cultura destes e significado de muitas palavras que usavam.
Abati – respondeu Dona Benta, era o nome dado pelos selvagens ao milho. [...]
E cauim[...]
Era a bebida fermentada dos nossos índios. Cada povo possui a sua bebida nacional e os nossos indígenas não podiam fazer exceção à regra. Preparavam o cauim de um modo interessante: as mulheres mascavam o milho lançando-o com a saliva em grandes vasilhas, onde ficava a fermentar. (LOBATO, 1997, p.22)
As terras brasileiras por onde se passa a história torna-se um terreno nebuloso, é fantasioso, pois alguns recortes são incompatíveis, de certa forma, com a realidade:
Esses índios não eram todos da mesma taba, de modo que logo surgiu dúvida sobre a posse do prisioneiro; por fim um deles propôs que o matassem ali mesmo e cada qual levasse o seu quinhão.
Ouvindo aquilo o pobre Hans começou a encomendar a alma a Deus, certo de que não teria nem mais um minuto de vida. O cacique, porém, decidiu de outra maneira. Havia de levá-lo vivo à taba para que as mulheres o vissem e se divertissem com ele; depois o matariam[...]
Quer dizer que se não fosse a curiosidade das mulheres o pobre alemão morreria ali mesmo!
É verdade. O seu tipo louro, tão diferente do tipo dos portugueses e tão raro naquela terra, fez que o cacique tivesse aquela boa lembrança. Se fosse moreno, estaria perdido... (LOBATO, 1997, p.21)
6 A EXTRATEXTUALIDADE NA OBRA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO
Um texto ficcional se refere à realidade. Na concepção de ISER Apud ALVES, (2008, p.7), a literatura é uma articulação organizada do fictício e do imaginário posta em ação por meio dos atos de fingir.
Estes constituem transgressões dos limites entre o real, o fictício e o imaginário, pois, ao ser repetida no texto, a realidade perde seu caráter de determinação. Numa direção contrária, o imaginário, que se caracteriza por ser ‘difuso, informe, fluido e sem um objeto de referência’, adquire, por meio da configuração textual, uma determinação, um atributo de realidade. (ISER Apud ALVES, 2008, p. 7- 8)
A extratextualidade consiste na ficcionalização de personagens reais. Mas não como algo que ocorreu realmente, é trazer para dentro da trama “alguém real”, para que possa interagir com os personagens criados pelo autor dentro da história escrita por ele.
6.1 A CHAVE DO TAMANHO 
A literatura de Lobato exerce muitos papéis relevantes ao longo da história da literatura como já foi mencionado anteriormente. Em A Chave do Tamanho, o autor sistematiza a fantasia, mas de acordo com VERAS (2014 p. 28) os sonhos e ideias presentes no texto não são totalmente livres das influências da realidade.
No livro, Emília é a responsável pela transição entre a ficção e a vida real. A boneca humana ficcionalmente mergulha na missão de conter a II Guerra Mundial e quase acaba com a humanidade inteira.
O livro publicado em 1942, narra uma história onde Emília envolve-se em uma aventura sozinha, apenas com a ajuda do “superpó” aperfeiçoado por Visconde, Pó este, modificado na versão televisiva devido à analogia com entorpecentes.
Durante a II Guerra Mundial, conforme relatos históricos:
[...] as nações se digladiavam e as constantes notícias de baixas entre civis e militares eram manchetes dos jornais em todo o planeta. Este cenário mundial sombrio, de insegurança e medo, também refletia o clima brasileiro do Estado Novo e da ditadura instaurada por Getúlio Vargas. VERAS (2014, p.29)
Monteiro Lobato sofreu com a sua prisão e com o falecimento de um de seus filhos nesta época, tudo isso aliado às características sem-par do pensador destacam a obra como “reflexões sobre nós mesmos e sobre o nosso comportamento social, pois se utiliza da transposição da imaginação, do fantasioso e do irreal para dialogar de maneira lúdica com o real e nos colocar frente a frente com os dilemas da vida humana.” VERAS (2014 p.30)
Essa obra não destinada como uma simples leitura de fruição, é também a propor uma reflexão social de forma criativa. Emília, impulsionada pela tristeza de Dona Benta, devido aos acontecimentos terríveis da Guerra, cogitou a ideia de “fechar a chave da Guerra” e dessa forma seria o fim da infelicidade da velha Benta.
Assim que aspirado o tal pó, a boneca é levada à Casa das Chaves. Tentando desligar a guerra, ao se deparar com várias chaves, todas voltadas para cima, sem nenhuma identificação, desregula o tamanho dos humanos. E o dela por 40 vezes. Ficando com apenas um centímetro de altura, Emília torna-se impossibilitada de mover qualquer outra chave.
A boneca, após realizar sua “arte”, sai à procura de outras pessoas, para saber se estavam todos apequenados também. Quando o estranho fato da diminuição aconteceu, a personagem faz menção ao livro O Minotauro: “Emília lembrou-se do labirinto de Creta, onde morava o Minotauro. É escuro ali dentro.” (LOBATO, 1997, p.10) E a história de Alice no País das Maravilhas: “Aconteceu-me o que as vezes acontecia a Alice no País das Maravilhas. Ora ficava enorme a ponto de não caber dentro das casas, ora ficava do tamanho de mosquito. Eu fiquei pequenininha. Por quê?” (LOBATO, 1997, p.11,)
Concordante com VERAS (2014, p. 31): “A primeira consequência deste suposto engano da Emília é a violenta mudança de perspectiva humana sobre as coisas do mundo.”
Todas as coisas que eram importantes de uma hora para outra se tornaram irrelevantes na vida em sociedade. “A mudança no tamanho” deu aos personagens uma nova perspectiva vital e o avanço de entendimento de um mundo alternativo.
A humanidade comprometida, a população inteira transformada em insetos descascados, (cotejo de Emília), retornou ao estado primitivo: sem trajes e sem documentos. Com o comprometimento da realidade, exigiram-se novas adaptações. 
De acordo com VERAS (2014, p.32), Há significados simbólicos nessa questão de encolhimento na estatura. A estratégia do autor pode fazer menção desde a valorização da inocência das pessoas antes da aquisição da cultura, até a crítica em relação a arrogância humana.
O enredo nos traz reflexões de forma descontraída sobre condutas humanas e considerações sobre o dinheiro e sua valia, como, “algo que movimenta toda a humanidade na qual se separam afortunados de desprovidos numa ordem ditatorial e adversa.” (VERAS, 2014, p. 32)
O dinheiro perde a sua importância. Quando o Coronel Teodorico descobre sua vulnerabilidade perdendo seu esplendor se entristece e se decepciona.
A personagem Emília se alegra após a diminuição das criaturas, dessa forma ela conseguiu acabar com a guerra: a sua intenção. As máquinas e todo o arsenal bélico perderam a utilidade. “Ela interrompe não só a guerra, mas destrói tudo o que fora construído pela humanidade até 1942.” (VERAS, 2014, p. 37 - 38) 
Nesta subversão da realidade, que equivale a um enredo de ficção científica, Monteiro Lobato especula sobre o futuro da humanidade e as alternativas possíveis para a sua sobrevivência – não sendo descartada a questão de um amplo extermínio da espécie para que ações de recuperação e reestruturação da vida inteligente sejam recomeçadas segundo novos parâmetros. Esse apequenamento funciona como uma espécie de passaporte para um outro mundo, um mundo irreal, fantasioso, onde prevalece o absurdo[...]. A literatura já ocupa esse papel desconcertante, que nos faz olhar para dentro de nós mesmos, e para fora, para o outro, nos reconhecendo nele. (VERAS, 2014, p.38)
Lobato não deixa perder a característica lúdica da leitura de diversão. Os pequenos não são subestimados, mas o autor respeita a capacidade de compreensão e entendimento deles. Ele consegue transformar as experiências sérias em brincadeiras para atingir conhecimento. A característica exclusiva do autor está em como ele trata o conteúdo. 
O primeiro caso de extratextualidade presente na obra encontra-se no capítulo XIX – Viagem pelo mundo, quando a boneca encontra o nazista Hitler:
O Visconde foi andando de sala em sala. Uma delas parecia a do grande ditador.
Era aqui – disse Emília – que ELE mandava e desmandava. Agora, comcerteza, anda escondido nalgum buraquinho.
Mas como podemos reconhece-lo?
Pelo bigode. Nada mais fácil.
Com um pauzinho o Visconde começou a tirar os arianos escondidos nas frestas ou debaixo dos móveis.
De sob a secretária do Grande Ditador saíram vários, [...]. Um deles tinha um bigodinho. [...].
Meu senhor – disse ela – tenho a honra de apresentara Vossa Excelência o Visconde de Sabugosa, o milho falante lá do sítio de Dona Benta. E também me apresento a mim mesma [...]. Que foi que aconteceu, Excelência? [...]
Não se assuste, Excelência. O Visconde é o maior gigante do mundo, mas também é milho – um vegetal extremamente pacato. [...]
O Grande Ditador animou-se e quis falar. Emília o deteve com um gesto.
Não diga nada, meu senhor. Já houve falação demais. Quem fala agora sou eu. Quero todos muito direitinhos e humildes. Esta semana de “redução” não passa de uma advertência que o tal “alguém” faz ao mundo. Compreende? (LOBATO, 1997, p. 67 – 68)
Com uma pitada do pó foi ao Japão, é citado o Filho do Sol, imperador do País, que foi encontrado escondido dentro de uma tampa de caneta-tinteiro. Escondendo sim, do Gato Imperial, o felino do Imperador.
Mais adiante os dois encontram um jardim na “cidade do balde”, nele os personagens do Sítio dialogam com Robinson e Doutor Barnes, quem de acordo com Lobato, era um professor de antropologia na Universidade de Princeton.
O Doutor Barnes riu-se.
- Sei que tenho minha cabeça no lugar, e vou conduzindo como posso este curioso trabalho de adaptação dum grupo de pessoas altamente civilizadas. Perdemos o tamanho e...
- Perderam o tamanho? Ótimo! – exclamou Emília com entusiasmo – Estou encantada de ouvir um sábio como o senhor falar assim, porque os ignorantes pensam de modo contrário. (LOBATO, 1997, p. 71)
O último personagem-ficcionalizado presente na obra é o presidente dos Estados Unidos da época.
[...] Emília saiu pela portinha, adiantou-se, apertou a mão do Presidente e disse:
- Não se assuste, pois somos de paz e velhos conhecidos. Tanto eu como Senhor Visconde de Sabugosa já estivemos aqui neste palácio há uns cinco anos, em companhia de Dona Benta e seus netos.
[...]
- Sim, lembro-me da visita de Dona Benta e seus netos. Veio também uma bonequinha falante e um milho de cartola. Mas aquele Visconde era um sabugo de pernas e não esse tremendo gigante que agora surge entre nós. (LOBATO, 1997, p. 80)
A obra quase que exclusivamente “De Diversão” possui pouquíssimos traços de Historicidade, considerando que, historicidade é qualquer forma de ensinamento fora do padrão das escolas tradicionais, onde um dos únicos ensinamentos explícitos aparece na primeira página do enredo quando Dona Benta explica às crianças do por que é que diz ‘pôr do sol’? “Dona Benta percebeu que aquilo era uma pergunta armadilha, das que forçavam certa resposta [...]” (LOBATO, 1997, p. 7).
Como caráter “De instrução” além dos apresentados acima, que são percebidos nas entrelinhas, a obra faz o leitor envolver-se no mundo biológico dos pequenos animais. Durante toda a trama Emília e Visconde exibem nomes científicos e a estrutura dos insetos, que, após o apequenamento dos humanos tornaram-se gigantes invertebrados. 
A certa distância estava uma “vaquinha” pastando. Era o nome que Pedrinho dava a cero besouro de pintas amarelas e que visconde dizia ser um “coleóptero”.
O Visconde vivia estudando a vida daqueles animaizinhos. Explicou que se chamavam coleópteros por causa do sistema das asas dobráveis e guardáveis dentro dum estojo. Essas asas são fininhas como papel de seda, mas não andam à mostra, como as das borboletas [...] (LOBATO, 1997, p. 16 -17)
O enredo explica inclusive através de exemplos, da mesma forma que Lobato tenta educar os leitores em todas suas obras, a significação da Seleção Natural, fato que Emília, a personagem de maior destaque na trama, indigna-se: 
“Ah você está parado, não se aperfeiçoa, não é?” diz a Seleção para um bichinho bobo. “Pois então leve a breca.” E para não levar a breca, o bichinho trata de inventar toda a sorte de defesa e astúcias.
O tatuzinho inventou aquela defesa de virar bola e fingir-se de morto. Os gafanhotos inventaram um verde que os confunde com a grama. (LOBATO, 1997, p. 18 – 19)
6.2 O MINOTAURO
Publicado em 1939, O Minotauro faz referências à mitologia grega, abrange um universo onde os personagens do Sítio e célebres nomes ficcionalizados da Grécia antiga dialogam-se entre si com discursos verbais e visuais através da extratextualidade. 
De acordo com a mitologia grega, o Minotauro, “touro de Minos”, foi um personagem com cabeça e cauda de touro e corpo de homem. O Minotauro teria nascido após um castigo, quando Poseidon percebeu que havia sido enganado por Minos.
Minos fez um pedido ao deus dos mares, Poseidon: queria ser rei de Creta. Poseidon então enviaria a Minos um touro branco dos mares e esse animal deveria ser sacrificado como oferenda.
Quando o touro surgiu dos mares, Minos não teve coragem de sacrificar o animal e substituiu-o por um de seus touros, esperando que o Deus dos mares não notasse a diferença. Poseidon decidiu não lhe tirar o trono, mas fez com que Pasífae, a mulher de Minos, se apaixonasse pelo touro, e dessa união nasceu o Minotauro.
Com medo e desprezo pelo filho de sua esposa, mas sem coragem para matá-lo, Minos construiu um labirinto para prender o monstro.
Anos depois, Minos derrotou Atenas em uma guerra que lhe custou um dos filhos. E assim foi ordenado que, a cada nove anos, fossem enviados sete moças e sete rapazes atenienses para o labirinto para serem sacrificados pelo Minotauro.
Após três anos de sacrifícios, o jovem Teseu decidiu enfrentar o monstro voluntariamente. Ao chegar ao palácio se apaixonou por Ariadne, uma das filhas do rei, que, correspondendo à paixão de Teseu, entregou a ele a espada mágica que era capaz de matar o Minotauro e também um novelo de lã para ele encontrasse o caminho de volta do labirinto. 
Quando Teseu o avistou atacando um dos atenienses, apunhalou-o por trás, com um golpe certeiro. Após isso Teseu resgatou os atenienses e voltou pelo caminho do novelo de lã para encontrar sua amada. 
O Minotauro escrito por Lobato começa com o desaparecimento de Tia Nastácia, sequestrada no casamento de Branca de Neve, (recurso intertextual). Dona Benta e as crianças se salvaram fugindo a bordo, viajam no tempo de um Iate, o Beija-Flor das Ondas com o objetivo de chegar à Atenas de Péricles, a Grécia antiga.
Mas para que Grécia? Há duas – a Grécia de hoje, um país muito sem graça, e a Grécia antiga, também chamada Hélade, que é a Grécia povoada de Deuses e Semideuses, de ninfas e heróis de faunos[...], o Minotauro. Oh sim! Lá é que era a grande Grécia imortal (LOBATO, s.d, p.100)
Enquanto a viajem prosseguia dona Benta contava histórias. Chegaram à Grécia. Em plena Grécia de Péricles. 
Inicia-se o recurso da extratextualidade quando os Sítios encontram Fídas. Ele, um homem real, foi o maior escultor grego do período clássico é o criador do Parthenon e das estátuas dos deuses gregos. Entre seus trabalhos está uma estátua de bronze para celebrar a vitória dos gregos sobre os persas na Batalha de Maratona. Fídias é nomeado por Péricles para desenhar e supervisionar a construção do Parthenon e do templo da deusa Atena, na Acrópole.
De acordo com a biografia de Fídias, em 438 a.C. executa a estátua de Atena, feita de ouro e marfim, e 92 esculturas em relevo, usadas como friso ao longo dos muros da Acrópole. É acusado de heresia por colocar seu retrato e o de Péricles nas portas do templo da cidade e vai preso, alguns afirmam que sua morte ocorre na prisão. Outros dizem que ele consegue fugir para Olímpia, onde morre depois de construir a estátua de Zeus, uma das sete maravilhas do mundo antigo.
 - Sou suspeito para falar – disse o grego-, porque o tenho na conta de meu maior amigo; mas de coração subscrevo suas palavras. Minha senhora. Péricles é um perfeito.
- É amigo dele? Que bom...
- Sim, e graças a Péricles estou dirigindo a construção

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