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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL e a prática pedagógica na escola. CADERNO PEDAGÓGICO ANO 1 – Nº. 1 – FEVEREIRO DE 2008 DISCIPLINA – ÁREA: PEDAGOGIA PROFESSORA: PDE = ROSELI MARIA PIECKOCH PROFESSORA ORIENTADORA DA UFPR: REGINA CELY DE CAMPOS HAGEMEYER 2 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................................................................... 4 UM CONVITE A TODOS OS PROFESSORES ................................................................................................................................... 5 1 – ENSINO E FORMAÇÃO: PARA AS QUESTÕES DA CONTEMPORANEIDADE AMBIENTAIS E MUNDIAIS.......................... 7 2 - AS QUESTÕES URGENTES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE: O MEIO AMBIENTE E AS PRÁTICAS EDUCATIVAS.......... 9 2.1 - Definindo Sustentabilidade............................................................................................................................................... 11 2.2 – O Que Importa no Trabalho da Educação Ambiental ...................................................................................................... 12 3 - A EMERGÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO FORMAL: UM POUCO DE HISTÓRIA............................... 13 3.1 - Influências no Brasil: .......................................................................................................................................................... 14 4. UMA CONVERSA SOBRE A FORMAÇÃO DO PROFESSOR: e O ENSINO A PARTIR DAS QUESTÕES DO CONTEXTO ATUAL ............................................................................................................................................................................................... 16 4.1 - Universo de Complexidades: Professores e o Preparo para Decodificar e Transmitir a Expressão dos Significados Sobre o Meio ................................................................................................................................................................................. 18 4.2 . Construir a Prática e a Teoria na Profissão Docente Visando a Educação Ambiental; Documentação e Pesquisa ... 20 5 – OS PRINCÍPIOS E OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A ESCOLA BÁSICA................................................... 21 5.1 Complementando as Estratégias Metodológicas............................................................................................................ 28 3 6 - O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ........................................................................................... 30 6.1 – Finalidades da Educação Ambiental –Lei 9394/96............................................................................................................ 30 6.2 – A Educação Ambiental no Currículo da Escola: O que Diz a Legislação ....................................................................... 32 6. 3 – Conhecendo Princípios e Objetivos para Análise e Planejamento da Educação Ambiental ....................................... 33 6.4 Princípios que Regem a Educação Ambiental :Art. 4º ....................................................................................................... 33 6.5. Objetivos da Educação Ambiental no Brasil : Art. 5º ......................................................................................................... 34 7 - A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUA INSERÇÃO CONCRETA NA ESCOLA: DESAFIOS DE UMA TRANSIÇÃO PARA A CIDADANIA MUNDIAL...................................................................................................................................................................... 36 7.1 Equívocos e Alternativas: ..................................................................................................................................................... 37 8 - A BUSCA DE NOVOS PARADIGMAS AO DESENVOLVER A PROPOSTA PEDAGÓGICA: ENVOLVENDO OS PROFESSORES................................................................................................................................................................................ 39 8.1 - A Organização e a Gestão do Trabalho Pedagógico para a Educação Ambiental: ....................................................... 41 8. 2 – As Metodologias para a Educação Ambiental.................................................................................................................. 44 8.3 O Trabalho Curricular na Educação Ambiental: ................................................................................................................. 46 8.4 - As Contribuições de Vygotsky na Reflexão de Metodologias para a Educação Ambiental: ......................................... 48 PARA CONCLUIR , RECOMEÇANDO............................................................................................................................................ 53 REFERÊNCIAS.................................................................................................................................................................................. 56 4 APRESENTAÇÃO O presente trabalho é resultado parcial do processo vivido durante o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE: Formação docente com ênfase em Educação Ambiental, em 2007. O projeto conta com os professores da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná, e no tema que desenvolvemos, especialmente com os professores do Colégio Estadual São Pedro Apóstolo, participantes da pesquisa para o trabalho de Extensão proposto. A idéia principal consiste em chamar a atenção aos profissionais interessados na necessidade da formação continuada de professores no que se refere à Educação Ambiental em nossas escolas públicas. Para o desenvolvimento desta proposta de estudo e trabalho, leva-se em conta a construção da história da Educação Ambiental, a partir de pesquisa bibliográfica, na qual elegemos autores que vêm se debruçando sobre esse tema, a partir de uma visão sócio-histórica, cultural, política e crítica.. Durante a construção do projeto, buscamos o auxílio de profissionais da área, cursos e disciplinas sobre a organização do trabalho pedagógico, gestão escolar e Educação Ambiental para ampliação e aprofundamento das problematizações levantadas, compondo um processo significativo de formação, que buscamos compartilhar com os colegas professores. A partir da história da Educação Ambiental e das propostas ligadas às formas de proteger a natureza e o meio ambiente, busca-se olhar com interesse e de forma crítica os pedidos de socorro do planeta. O Caderno Pedagógico Nº 1, é uma compilação de textos e estudos com o objetivo de propor às escolas um material de fácil leitura sobre a abordagem teórico- metodológica e tem o objetivo de impulsionar a formação continuada de professores. Ao oportunizar uma reflexão conjunta sobre as questões cruciais enfrentadas no campo da Educação Ambiental, você promove sua própria formação continuada e em serviço, que agora deve se dar de forma compartilhada, em esforço conjunto. Buscamos assim, contribuir para a busca de novos e urgentes parâmetros de ensino e formação de alunos preocupados com a qualidade de vida e a degradação ambiental que estamos assistindo a passos largos em todos os recantos do país e do planeta. 5 UM CONVITE A TODOS OS PROFESSORES DA ESCOLA PÚBLICA: Colegas professores : São muitas as dificuldades e desafios postos aos professores paradesenvolver o trabalho da Educação Ambiental hoje. A experiência que a área requer é urgente, pela necessidade de conhecimentos necessários aos professores para ensinar e formar os alunos como cidadãos e cidadãs críticos e conhecedores do seu ambiente, como afirmamos na apresentação do presente trabalho. Convidamos você, colega professor, a desenvolver esse trabalho, que implica em conhecer os “porquês” das questões ambientais, impondo a urgência de um trabalho pedagógico que se torne também para os alunos, postura de vida, de construção e de solidariedade para com os seres vivos e o homem. Os professores são responsáveis também pelas leituras do meio ambiente a partir das mediações que possam empreender, para, a partir de uma visão de totalidade sócio- ambiental, promover através da atitude de pesquisa, textos, uso crítico das tecnologias da informação, a implementação de atividades e projetos significativos sobre a Educação Ambiental. O maior desafio desta proposta de trabalho é sem dúvida, a utilização dos temas da área, fazendo leituras da realidade, a partir dos elementos obtidos no processo de formação proposto, que motive a refletir e atuar de forma crítica e construtiva sobre as questões ambientais. O ponto principal desse processo, é a aposta nas possibilidades do professor de levar seus alunos a apreender também esses conhecimentos e posturas de vida.. O convite que fazemos por tanto é de que você professor, conheça a proposta, os temas e as abordagens dos autores que desenvolvemos neste Caderno Pedagógico Nº. 1, que cremos, o auxiliará a agregar conhecimentos, informações e construir novos conhecimentos na área da Educação Ambiental. Na seqüência deste trabalho, estaremos promovendo a divulgação dos artigos e produções dos professores participantes, no Caderno Pedagógico 2, que publicaremos após o desenvolvimento deste primeiro trabalho . 6 Você professor da Rede Estadual tem todo nosso crédito para a construção de uma formação docente voltada para a Educação Ambiental, pelo que propomos que venham somar-se a esse empreendimento no sentido de que possa redundar em propostas político pedagógicas sérias e compromissadas. 7 1 – ENSINO E FORMAÇÃO: PARA AS QUESTÕES DA CONTEMPORANEIDADE AMBIENTAIS E MUNDIAIS A escola e seus professores têm um grande trabalho a realizar com as crianças e os jovens, que é proceder à mediação entre a sociedade da informação e os alunos, para possibilitar-lhes, pelo desenvolvimento da reflexão os conhecimentos que lhe são acessados, as formas de trabalhar valores ético-sociais para com o ambiente local e mundial. Ao entendermos que conhecer não se reduz apenas a se informar, e que não basta expor-se aos meios de informação para adquirir conhecimento, pode-se afirmar que conhecer impõe utilizar as informações para, a partir delas, chegar ao conhecimento. Nesse sentido, Pimenta (1994) entende que a educação é um processo de humanização que ocorre na sociedade humana com a finalidade explícita de tornar os indivíduos participantes do processo civilizatório e responsáveis por levá-lo adiante. Enquanto prática social,é realizada por todas as instituições da sociedade. Enquanto processo sistemático e intencional, destaca-se o trabalho pedagógico da escola. A educação escolar, por sua vez, está assentada fundamentalmente no trabalho dos professores e dos alunos, e sua finalidade é contribuir com o processo de humanização de ambos. Para Pimenta( 1994), na sociedade civilizada, fruto e obra do trabalho humano, cujo elevado progresso evidencia as riquezas que a condição humana pode desfrutar, revela-se também uma sociedade contraditória, desigual, em que grande parte dos seres humanos está à margem dessas conquistas, dos benefícios do processo civilizatório. Nesta perspectiva, o trabalho pedagógico coletivo e interdisciplinar do professor com o conhecimento, precisa caminhar numa perspectiva de inserção social crítica e transformadora. Assim, educar na escola significa ao mesmo tempo preparar as crianças e os jovens para se elevarem ao nível da civilização atual – da sua riqueza e dos seus problemas – para aí atuarem. Isso requer preparação científica, técnica e social. Por isso, a finalidade da educação escolar na sociedade tecnológica, multimídia e globalizada, é possibilitar que os alunos trabalhem os conhecimentos científicos e tecnológicos, desenvolvendo habilidades para 8 operá-los, revê-los, confrontá-los, contextualizá-los. Para isso, há que os articular em totalidades que permitam aos alunos ir construindo a noção de “cidadania mundial” propalada por Morin (PIMENTA, 1994). Essa é uma tarefa complexa, e por isso, discutir a questão dos conhecimentos nos quais os professores são especialistas (história, física, matemática, das línguas, das ciências sociais, das artes...) no contexto da contemporaneidade, se constitui um segundo passo no processo de construção da identidade dos professores. Essa é um processo que começa nos cursos de formação inicial e nas licenciaturas. Essa formação, no entanto não se resume a um diploma ou titulação. A sociedade é dinâmica, as mudanças sempre permeiam o processo educacional e por isso outras necessidades de formação se colocam aos professores. Na escola, a busca de um espaço de formação em serviço, para discussões sobre as questões da realidade social da escola, da cidade, do estado e do país, e as novas necessidades do aluno podem ir reorientando a formação do professor. O campo da Educação Ambiental abre à reconstrução sistemática dessa formação um campo de conhecimentos que não pode mais ter a conotação de modismo, porque mobiliza as necessidades urgentes da formação humano social nas escolas. Vejamos a seguir o que nos parece significativo no campo de conhecimento da Educação Ambiental. 9 2 - AS QUESTÕES URGENTES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE: O MEIO AMBIENTE E AS PRÁTICAS EDUCATIVAS. A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, requer uma necessária articulação com a produção de sentidos sobre a Educação Ambiental. A dimensão ambiental se configura como uma questão que envolve um conjunto de atores do universo educativo, potencializando o engajamento dos diversos sistemas de conhecimento, a capacitação de profissionais e a comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar. Nesse sentido, a produção do conhecimento deve necessariamente contemplar as inter-relações do meio natural com o social, incluindo a análise dos determinantes desse processo, o papel dos diversos atores envolvidos e as formas de organização social que aumentam o poder das ações alternativas, numa perspectiva que priorize um novo perfil de desenvolvimento, com ênfase na sustentabilidade sócio ambiental. A noção de sustentabilidade implica em uma inter- relação necessária entre justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão de desenvolvimento. (Jacobi, 1999). Tomando como referência o fato de que a maior parte da população brasileira vive em cidades, observa-se uma crescente degradação das condições de vida, refletindo uma crise ambiental. Isto nos remete a uma necessária reflexão sobre os desafios que estão colocados para mudar as formas de pensar e agir em torno da questão ambiental numa 10 perspectiva contemporânea. Leff (2000) Jacobi fala sobre a impossibilidade de resolver os crescentes e complexos problemasambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no aspecto econômico do desenvolvimento. O desafio que se coloca é de formar uma nova consciência sobre a natureza, para reorientar a produção de conhecimento na área da Educação Ambiental, considerando os métodos da interdisciplinaridade e os princípios da complexidade. Este campo educativo tem sido fertilizado transversalmente, e isto tem possibilitado a realização de experiências concretas no seu âmbito de forma criativa e inovadora junto a diversos segmentos da população e em diversos níveis de formação. A realidade atual exige uma reflexão cada vez menos linear, e isto se produz na inter-relação entre saberes e práticas coletivas que criam identidades e valores comuns e ações solidárias, numa perspectiva que privilegia o diálogo entre saberes. Cabe agora definir o que estamos entendendo como sustentabilidade . 11 2.1 - Definindo Sustentabilidade O conceito de desenvolvimento sustentável surge a princípio para enfrentar a crise ecológica, sendo que pelo menos duas correntes alimentaram o processo. Uma primeira, centrada no trabalho do Clube de Roma, reúne suas idéias, publicadas sob o título de Limites do crescimento em 1972, segundo as quais, para alcançar a estabilidade econômica e ecológica propõe-se o congelamento do crescimento da população global e do capital industrial, mostrando a realidade dos recursos limitados e indicando um forte viés para o controle demográfico (ver Meadows et al., 1972). Uma segunda corrente de pensamento, está relacionada com a crítica ambientalista ao modo de vida contemporâneo, e se difundiu a partir da Conferência de Estocolmo em 1972. Tem como pressuposto a existência de sustentabilidade social, econômica e ecológica. Estas dimensões explicitam a necessidade de tornar compatível a melhoria nos níveis e qualidade de vida, com a preservação ambiental. Surge para dar uma resposta à necessidade de harmonizar os processos ambientais com os socioeconômicos, maximizando a produção dos ecossistemas para favorecer as necessidades humanas presentes e futuras. A maior virtude dessa abordagem é que, além da incorporação definitiva dos aspectos ecológicos no plano teórico, ela enfatiza a necessidade de inverter a tendência auto destrutiva dos processos de desenvolvimento no seu abuso contra a natureza (Jacobi, 1997). O tema da sustentabilidade confronta-se com o paradigma da sociedade de riscos. Isto implica na necessidade de se multiplicarem as práticas sociais baseadas no fortalecimento do direito ao acesso à informação e à educação ambiental em uma perspectiva integradora. Demanda ainda em aumentar o poder das iniciativas, baseadas na premissa de que um maior acesso à informação e à transparência na administração dos problemas ambientais urbanos que pode implicar na reorganização do poder e da autoridade. A preocupação com o desenvolvimento sustentável representa a possibilidade de garantir mudanças sócio- 12 políticas que não comprometam os sistemas ecológicos e sociais que sustentam as comunidades. Como enfrentar todos estes problemas? A possibilidade de maior acesso à informação potencializa mudanças de atitude e comportamento necessárias para um agir mais orientado para a defesa do interesse geral. 2.2 – O Que Importa no Trabalho da Educação Ambiental A necessidade de abordar o tema da complexidade ambiental decorre da percepção quanto ao incipiente processo de reflexão sobre as práticas existentes e as múltiplas possibilidades presentes. Ao pensar a realidade de modo complexo, faz-se necessário defini-la como uma nova racionalidade e um espaço onde se articulam natureza, técnica e cultura. Refletir sobre a complexidade ambiental abre um estimulante espaço para compreender a gestação de novos atores sociais que se mobilizam para a apropriação dos conhecimentos sobre a natureza, buscando um processo educativo articulado e compromissado com a sustentabilidade e a participação, apoiado numa lógica que privilegia o diálogo e a interdependência de diferentes áreas de saber. Questiona também valores e premissas que norteiam as práticas sociais prevalecentes, o que implica numa mudança na forma de pensar e em uma transformação no conhecimento e práticas educativas. O principal eixo de atuação da Educação Ambiental deve buscar, acima de tudo, a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença através de formas democráticas de atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas. Isto se consubstancia no objetivo de criar novas atitudes e comportamentos diante do consumo na nossa sociedade e de estimular a mudança de valores individuais e coletivos (Jacobi, 1997). A educação ambiental é atravessada por vários campos de conhecimento, o que a situa como uma abordagem multi- referencial, e a complexidade ambiental (Leff, 2001) refletem um tecido conceitual heterogêneo, "onde os campos de conhecimento, as noções e os conceitos podem ser originários de várias áreas do saber" (TRISTÃO, 2002). 13 3 - A EMERGÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO FORMAL: UM POUCO DE HISTÓRIA Há três décadas, aproximadamente, discute-se com regularidade a Educação Ambiental – EA – na escola. No âmbito internacional, grandes encontros se sucederam a partir da histórica Conferência inter-governamental realizada em Tbilisi, capital da Geórgia (ex-URSS), em 1977, sob o patrocínio da UNESCO. A partir das recomendações dessa primeira mobilização mundial que a prática e a difusão da Educação Ambiental se firmaram em todos os cantos do planeta. È oportuno lembrar que a expressão “Educação Ambiental” surgiu em 1948, introduzida por Thomas Pritchard, no seu estudo “Enviromental Education” divulgado em Paris, por ocasião da Conferência da União Internacional para a Conservação da Natureza e seus Recursos. Pretendia o propositor, representar um enfoque educativo como síntese entre as ciências naturais e as ciências sociais de acordo com DISINGER (apud SUREDA y COLOM, 1989, p. 59). Ainda em 1968, instala-se no Reino Unido, o Conselho de Educação Ambiental. Nesse mesmo ano, é formado o Clube de Roma, que se propõe estudar ações que levem o mundo ao equilíbrio ambiental. Em conseqüência, publica-se em 1972, um relatório intitulado “Os limites do crescimento econômico”. Não obstante essas iniciativas, reconhece-se que a temática da Educação Ambiental apenas figurou no discurso oficial após a sua inserção no texto da Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, celebrada em 1972, em Estocolmo, constituindo-se como a primeira moldura de uma nova responsabilidade solidária sobre estratégias ambientais. Como conseqüência dessa conferência, neste mesmo ano a ONU criou o PNMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Em 1975, em Belgrado, a UNESCO promoveu um Encontro Internacional em Educação Ambiental, que instituiu o Programa Internacional de Educação Ambiental – PIEA. Este programa estabelece que a Educação Ambiental deve ser desenvolvida de forma contínua, em uma perspectiva multidisciplinar, integrada a questões macro-regionais embora voltada para interesses nacionais. 14 Desde os anos setenta, portanto, é que os compromissos nacionais atinentes a uma educação ambiental, foram se tornando cada vez mais densos, mais importantes e mais envolventes. Hoje, inevitavelmente pressionados pelas catástrofes ambientaispromovidas pela ação transformadora do homem, a qual, não só vitima o presente, mas, sobretudo, vem colocando o futuro do planeta em risco, os governos formalizam e incentivam uma educação voltada à complexidade do relacionamento humano com o ambiente. 3.1 - Influências no Brasil: Na década de 80, no Brasil, firma-se o compromisso educacional nacional definitivo com a questão ambiental. No campo da educação formal, o MEC, por meio de dois instrumentos – o Parecer nº 0819/85 que determinava a inclusão de conteúdos ecológicos nos Currículos de 1º e 2º graus e a criação de Centros de Educação Ambiental – explicita a preocupação das autoridades educacionais com as questões ambientais e com a “formação da consciência ecológica do futuro cidadão”. Em 1988, a Constituição da República do Brasil em seu artigo 225, Inciso VI, consolida a expressão de anseio de “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. No ano de 1991, a Portaria 678/91, do MEC, ratifica a orientação anterior, determinando que a Educação Ambiental deva constar em todos os currículos das diversas modalidades de ensino e destaca a necessidade de formação de professores. Ainda neste ano a Portaria 2421/91, instituiu um Grupo de Trabalho de Educação Ambiental, visando prioritariamente à elaboração de uma proposta de atuação do MEC nos ensinos formal e não-formal para ser apresentado na Conferência do Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU – RIO / 92 Na Conferência da ONU para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio/92 - ocorreu um Workshop promovido pelo MEC, do qual resultou a Carta Brasileira para Educação Ambiental. Em 1993, o MEC, por meio da Portaria 773/93, instituiu um grupo de trabalho, a fim de coordenar as ações 15 necessárias para a concretização das recomendações aprovadas na Rio-92. Em 1996, quando da publicação da Lei nº 9276/96 Plano Plurianual do Governo 1996/1999), declara-se como um dos principais objetivos para a área de meio ambiente a promoção da Educação Ambiental. Em 1999, é estabelecida a Política Nacional de Educação Ambiental no Brasil com a promulgação da Lei 9795/99. Entre os aspectos que vêm sendo regulamentados, cabe ressaltar a determinação expressa com dotação orçamentária específica, junto aos Ministérios do Meio Ambiente e Educação para Educação Ambiental. É necessário lembrar que a discussão sobre a Educação Ambiental tomou rumos conceituais diversos. A sua interpretação se dispersou, depois destes anos todos, que é possível identificar inúmeras posições firmadas e estáveis que se caracterizam como correntes. MAZZOTTI (1997) reúne as diversas correntes que disputam o controle da Educação Ambiental em dois grandes pólos: de um lado, encontram-se os cientistas que prescrevem práticas de acordo com verdades dos seus campos e, de outro, estão os ambientalistas, cuja bandeira é agitada pelos ventos radicais de preceitos éticos emergidos de determinadas instâncias sociais. A maior dificuldade, entretanto, está no passo a ser dado para que todos os indivíduos e todas as sociedades partilhem da discussão e das tarefas que implicam numa desejada saúde do ambiente e sua permanência. Neste sentido, a tarefa não é das mais fáceis. É preciso considerar que, antes de qualquer significado formal ecossistêmico, o problema ambiental permite que as pessoas o tratem de formas diversas, isto é, que o interpretem dentro de racionalidades próprias, particulares. Se perguntarmos para nossos colegas como vêem a questão do meio ambiente, vários assuntos e interpretações serão realçados. A variedade de respostas se amplia à medida que se estende o número de nossos interlocutores. O tema ambiental, em seu estado “bruto”, comporta uma dispersão infinita de opiniões que, no momento formativo, deve ser re-articulada e, principalmente, refletida, o que nos propomos a partir da presente abordagem. 16 4. UMA CONVERSA SOBRE A FORMAÇÃO DO PROFESSOR: e O ENSINO A PARTIR DAS QUESTÕES DO CONTEXTO ATUAL Falar sobre a atuação necessária ao professor hoje, leva a retomar o problema da fragmentação de conhecimentos e saberes nessa formação. Estamos considerando que a formação docente tem como base os conhecimentos sobre a pedagogia ou ciência pedagógica. A pedagogia enquanto ciência restringe-se ao campo das demais ciências da educação na formação do professor e assim perde seu significado de ciência prática da prática educaciona, Houssaye,(Apud Pimenta,1994 )-se é o citado no texto de Pimenta... aponta como caminhos de superação, que nos empenhemos em construir os saberes pedagógicos a partir das necessidades pedagógicas postas pela realidade, para além dos esquemas apriorísticos das ciências da educação. O retorno autêntico à pedagogia ocorrerá se as ciências da educação deixarem de partir de diferentes saberes constituídos e começarem a tomar a prática dos formandos, ou a atuação pedagógica e suas necessidades, como o ponto de partida (e de chegada). Trata-se, portanto, de reinventar os saberes pedagógicos a partir da prática social da educação, isto é, no caso da formação do professor, a partir de sua prática social de ensinar. Ainda alerta Pimenta(1994) que a última ilusão (a dos práticos) não é a dominante entre os cientistas da educação. Coloca a questão :- para que serve seu saber, se não instrumentaliza a prática? Qual o interesse das ciências da educação para as práticas? Os saberes sobre a educação e sobre a pedagogia não geram os saberes pedagógicos. Housseye(Apud. Pimenta, 1994) afirma que estes saberes só se constituem a partir da prática, que os confronta e os reelabora. Mas os práticos não geram só com o saber da prática. As práticas pedagógicas se apresentam nas ciências da educação como estatuto frágil: reduzem-se a objeto de análise das diversas perspectivas (história, psicologia etc.). É preciso conferir-lhes estatuto epistemológico, o que não pode se construir de forma ingênua e partindo somente do saber da prática. No momento da terceira revolução industrial, quando novos desafios estão colocados, à didática contemporânea compete proceder a uma leitura crítica da prática social de 17 ensinar, partindo da realidade existente, realizando um balanço das iniciativas de se fazer frente ao fracasso escolar. Essa disposição exige considerar os aspectos epistemológicos característicos das áreas de conhecimento que denotam avanços intrínsecos e que colocam novas questões ao ensino, pois dizem respeito a novos entendimentos e necessidades do conhecimento no mundo contemporâneo. Vale ressaltar a importância de um balanço crítico tanto das novas colaborações da psicologia e da sociologia educacionais, como das iniciativas institucionais que têm procurado fazer frente ao fracasso escolar, apoiadas na renovação de métodos e de sistemáticas de organização curricular, tais como ciclos de aprendizagem, interdisciplinaridade, currículos articulados às escolas-campo de trabalho dos professores e ao estágio (Pimenta, 1994). A formação inicial de professores está articulada à realidade das escolas e à formação contínua. Por essa razão não se pode falar em prática docente sem lembrar que é uma construção de teoria e de prática . O professor na sua formação e trajetória na prática escolar constrói a sua função. Os conhecimentos científicos de sua área de ensino, permeados pela sua visão histórica e da natureza própria de sua função de ensinar e formar, são transpostos para sua prática. Essa prática nunca prescinde no entanto dos conhecimentos teóricos que hoje requerem umanova qualidade. Para Hagemeyer (2006), o conhecimento científico é adquirido pelo trabalho pedagógico, o qual dá acesso aos elementos necessários às análises e à ação prática (sistematização, atitude de pesquisa, estudo de temas, construção de metodologias, adequação ao desenvolvimento do aluno,etc.). Esse trabalho assim, leva às possibilidades abertas a um trabalho teórico metodológico que tende a crescer porque empreendido pelo intelectual professor. 18 4.1 - Universo de Complexidades: Professores e o Preparo para Decodificar e Transmitir a Expressão dos Significados Sobre o Meio Nas práticas docentes estão contidas elementos extremamente importantes, como a problematização, a intencionalidade para encontrar soluções, a experimentação metodológica, o enfrentamento de situações de ensino complexas, as tentativas mais radicais , mais ricas e mais sugestivas de uma didática inovadora, que ainda não está configurada teoricamente. A prática de documentação, no entanto, requer que se estabeleçam critérios. Documentar o que? Não tudo. Documentar as escolhas feitas pelos docentes (o saber que os professores vão produzindo nas suas práticas), o processo e os resultados. Não se trata de registrar apenas para a escola, individualmente tomada, mas de forma a possibilitar os nexos mais amplos a partir das necessidades do ensino. Documentar não apenas as práticas tomadas na sua concreticidade imediata, mas buscar a explicitação das teorias que se praticam, a reflexão sobre os encaminhamentos realizados em termos de resultados conseguidos. Admitindo que a prática dos professores é rica em possibilidades para a constituição da teoria, Laneve (1993), preocupa-se em como o professor pode construir teoria a partir da prática docente. Esse autor aponta, entre outros fatores, o registro sistemático das experiências, a fim de que se constitua a memória da escola. Essa memória, analisada e refletida, contribuirá tanto à elaboração teórica quanto ao revigoramento e o engendra mento de novas práticas. A importância da memória/estudo da experiência, segundo Laneve (1993), constitui potencial para melhorar a qualidade da prática escolar, assim como para eleva a qualidade da teoria. Esse entendimento implica uma reorientação da pesquisa em didática – tomar o ensino 19 escolar enquanto uma prática social, e nas demais ciências da educação, tomar a educação enquanto prática social para, então, se construir novos saberes pedagógicos: da prática e para a prática (Libâneo, 1996),colaborando com a produção da teoria e da prática. Quando os saberes pedagógicos forem mobilizados a partir dos problemas que a prática coloca, fica melhor entendida a dependência da teoria em relação à prática, pois esta lhe é anterior. Essa anterioridade, no entanto, longe de implicar uma contraposição absoluta em relação à teoria, pressupõe íntima vinculação com ela. Daí decorre um primeiro aspecto da prática escolar: o estudo e a investigação sistemática por parte dos educadores sobre sua própria prática, com a contribuição da teoria pedagógica ( Pimenta, 1996ª). “Refletir na ação, sobre a ação e sobre a reflexão na ação – uma proposta metodológica para uma identidade necessária de professor”. Essa perspectiva apresenta um novo paradigma sobre formação de professores e suas implicações sobre a profissão docente. A formação de professores se configura como uma política de valorização do desenvolvimento pessoal/ profissional dos professores e das instituições escolares, uma vez que supõe condições de trabalho propiciadoras da formação contínua e em serviço, no local de trabalho, em redes de auto-formação e em parcerias com outras instituições de formação. Este processo inclui trabalhar o conhecimento na dinâmica da sociedade multimídia, da globalização, das transformações nos mercados produtivos. Na formação dos alunos, crianças e jovens, há que se considerar as diferenças e a multiculturalidade, já que estão em constante processo de transformação cultural, de valores, de interesses e necessidades. Essa permanente formação, requerida pelo novo quadro contextual, pode ser também entendida como uma ressignificação identitária dos professores. Nesse processo situamos as preocupações urgentes do mundo atual, nas quais se situa a Educação Ambiental. Propomos verificar as questões que se colocam concretamente para a atuação dos professores nesse âmbito. 20 4.2 . Construir a Prática e a Teoria na Profissão Docente Visando a Educação Ambiental; Documentação e Pesquisa O desafio de fortalecer uma educação ambiental convergente e multi-referencial é prioritário para viabilizar uma prática educativa que articule de forma incisiva a necessidade de se enfrentar concomitantemente a degradação ambiental e os problemas sociais. Assim, o entendimento sobre os problemas ambientais se dão por uma visão do meio ambiente como um campo de conhecimento e significados socialmente construídos, subentende-se que é perpassado pela diversidade cultural, ideológica e pelos conflitos de interesse. Nesse universo de complexidades precisa ser situado o aluno, cujos repertórios pedagógicos devem ser amplos e interdependentes, visto que a questão ambiental é um problema híbrido , associado às diversas dimensões humanas. Os professores(as) devem estar cada vez mais preparados para reelaborar as informações que recebem sobre o ambiente, a fim de poderem transmitir e decodificar a ecologia nas suas múltiplas determinações e intersecções e para transmitir aos alunos a expressão dos seus reais significados. Nesse contexto, a necessidade de administrar os riscos sócio-ambientais coloca cada vez mais a necessidade de ampliar o envolvimento de todos por meio de iniciativas que possibilitem um aumento do nível de consciência ambiental. Ao empreender o trabalho pedagógico na Educação Ambiental, os problemas ambientais que decorrem da desordem e degradação da qualidade de vida nas cidades e regiões, devem estar em pauta. Assim moradores, profissionais e educadores, podem como cidadãos garantir a informação e a consolidação institucional de canais abertos para a participação deste processo numa perspectiva pluralista e que considere as contribuições de cada um. 21 5 – OS PRINCÍPIOS E OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A ESCOLA BÁSICA A intenção de apresentarmos os objetivos expressos nos Parâmetros Curriculares Nacionais, é de que possam ser analisados de forma atenta e crítica, buscando confrontá-los com as necessidades que até agora pudemos perceber nas reflexões das abordagens elaboradas anteriormente. Os Objetivos da Educação Ambiental em questão são: � Conhecer e compreender de modo integrado e sistêmico as noções básicas relacionadas ao meio ambiente. � Adotar posturas na escola, em casa e na sua comunidade que os levem a interações , justas e ambientalmente sustentáveis. � Observar e analisar fatos e situações do ponto de vista ambiental, de modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar de modo reativo e prepositivo para garantir um meio ambiente saudável e de boa qualidade de vida. � Perceber, em diversos fenômenos naturais, os encadeamentos e relações de causa-efeito que condicionam a vida no espaço (geográfico) e no tempo (histórico), utilizando essa percepção para posicionar-se criticamente diante das condições ambientais de seu meio. � Compreender a necessidade e dominar alguns procedimentos de conservação e manejo dos recursos naturaiscom os quais interagem, aplicando-os no dia-a-dia. � Perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural e sócio-cultural, adotando posturas de respeito aos diferentes aspectos e formas do patrimônio natural, étnico e cultural. � Identificar-se como parte integrante da natureza, percebendo os processos pessoais como elementos fundamentais para uma atuação criativa, responsável e respeitosa em relação ao meio ambiente. Ao prescrever a delimitação dos conteúdos da Educação Ambiental, o documento classificou as abordagens segundo três grandes blocos temáticos: ciclos da natureza, 22 sociedade e meio ambiente e manejo e conservação ambiental. BLOCO 1 CONTEÚDO ESPECÍFICO CICLOS DA NATUREZA Os ciclos da água, seus múltiplos uso e sua importância ara a vida, para a historia dos povos; Os ciclos da matéria orgânica e sua importância para o saneamento; As teias e cadeias alimentares, sua importância e o risco de transmissão de substâncias tóxicas que possam estar presentes na água, no solo e no ar; CICLOS DA NATUREZA O estabelecimento de relações e correlações entre elementos de um mesmo sistema; A observação de elementos que evidenciem ciclos e fluxos na natureza, no espaço e no tempo. CICICICICCCCLOS DA NATUREZALOS DA NATUREZALOS DA NATUREZALOS DA NATUREZA 23 BLOCO 2 CONTEÚDO ESPECÍFICO SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE A diversidade cultural e a diversidade ambiental; Os limites da ação humana em termos quantitativos; As principais características do ambiente e/ou paisagem da região em que se vive; as relações pessoais e culturais dos alunos e de sua comunidade com os elementos dessa paisagem; As diferenças entre ambientes preservados e degradados, causas e conseqüências para a qualidade de vida das comunidades, desde o entorno imediato até de outros povos que habitam a região e o planeta, bem como das gerações futuras; A interdependência ambiental entre as áreas urbana e rural. SOCIEDADE E MEIO AMBIENTESOCIEDADE E MEIO AMBIENTESOCIEDADE E MEIO AMBIENTESOCIEDADE E MEIO AMBIENTE 24 MANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTALMANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTALMANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTALMANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL BLOCO 3 CONTEÚDO ESPECÍFICO MANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL O manejo e a conservação da água; noções sobre captação, tratamento e distribuição para o consumo; os hábitos de utilização da água em casa e na escola adequados às condições MANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL locais; A necessidade e formas de tratamento dos detritos humanos: coleta, destino e tratamento do esgoto: procedimentos possíveis adequados às condições locais (sistema de esgoto, fossa e outros). A necessidade e as formas de coleta e destino do lixo; reciclagem; os comportamentos responsáveis de “produção” e “destino” do lixo em casa, na escola e nos espaços de uso comum. As formas perceptíveis e 25 MANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL imperceptíveis de poluição do ar, da água, do solo e poluição sonora; principais atividades locais que promovem a poluição (indústrias, mineração, postos de gasolina, curtumes, matadouros, criações, atividades agropecuárias, em especial as de uso intensivo de adubos químicos e agrotóxicos, etc.). Noções de manejo e conservação do solo: erosão e suas causas nas áreas rurais e urbanas; necessidade e formas de uso de insumos agrícolas, cuidado com a saúde. MANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL Noções sobre procedimentos adequados com plantas e animais; cuidado com a saúde. Necessidade e principais formas de preservação, conservação, recuperação e reabilitação ambientais de acordo com a realidade local. Processos simples de reciclagem e reaproveitamento de materiais. Cuidados necessários para o desenvolvimento das plantas e dos animais. 26 MANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL Procedimentos corretos com dejetos humanos nos banheiros e em lugares onde não haja instalações sanitárias. Práticas que evitam desperdícios no uso cotidiano de recursos como água, energia e alimentos. Valorização de formas conservativas de extração, transformação e uso dos recursos naturais. MANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTALMANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTALMANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTALMANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL 27 Além dos conteúdos específicos sugeridos, há uma projeção de conteúdos comuns aos três blocos. CONSUMISMO AMBIENTALCONSUMISMO AMBIENTALCONSUMISMO AMBIENTALCONSUMISMO AMBIENTAL CONTEÚDOS COMUNS � Formas de estar atento e crítico com relação ao consumismo. � Valorização da proteção das diferentes formas de vida. � Valorização e cultivo de atitudes de proteção e conservação dos ambientes e da diversidade biológica e sociocultural. � O zelo pelos direitos próprios e alheios a um ambiente cuidado, limpo e saudável na escola, em casa e na comunidade. � O cumprimento das responsabilidades de cidadão, com relação ao meio ambiente. � O repúdio ao desperdício em suas diferentes formas. � A apreciação dos aspectos estéticos da natureza, incluindo os produtos da cultura humana. � A participação em atividades relacionadas à melhoria das condições ambientais da escola e da comunidade local. 28 Mediante uma leitura atenta, observa-se que os conteúdos expressados enfatizam a intenção de formar mentalidades capazes de reverter o quadro de degradação ambiental que representa o mundo atual. Serve, esta pauta de Educação Ambiental, para garantir a sobrevivência de algumas gerações pela conservação da natureza. Mas é possível, ainda, expandir a temática da Educação Ambiental a problemáticas mais abrangentes e complexas. Em outros países, a Educação Ambiental dá espaço à compreensão da formação do universo, à história do homem e da humanidade, oferecendo respaldo para a criança refletir sobre o sentido maior da vida e enquadrar, aí, as suas opções de conduta. Objetivos e conteúdos, por si sós, podem, entretanto, significar pouco para a efetividade da Educação Ambiental. A forma de articular estes componentes, é a forma de articular as abordagens que fazem, do currículo, uma experiência de maior validade. 5.1 Complementando as Estratégias Metodológicas Verificamos as necessidades para o trabalho curricular na Educação Ambiental no sentido de contemplar a visão da totalidade da situação real e as projeções possíveis de todas as descobertas daí decorrentes que servem de estratégias metodológicas capazes de reconciliar as disciplinas. Vimos também que esse tratamento exige um trabalho multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Na abordagem multidisciplinar, as disciplinas se acoplam para dar visibilidade à polissemia de um fenômeno. Por exemplo, ao conhecer uma cidade, posso descrever e analisar a sua topografia, posso descrever e analisar a sua população, posso identificar os seus marcos históricos, o estilo de vida, as características da ocupação do solo, o caráter e os padrões de atividade econômica, etc. cada dimensão ou percepção que acrescente deverá enriquecer meu conhecimento sobre umadeterminada situação. Ao mesmo tempo que enriquecem a visão de um fenômeno, as disciplinas se servem da temática da Educação Ambiental para exercitarem suas estruturas. Na abordagem interdisciplinar, ocorre uma transferência, um empréstimo de lógicas originárias de 29 diferentes áreas de conhecimento. O diálogo entre as disciplinas promove a criação conjunta de uma outra visão dos fenômenos. Ou, resumindo, duas ou mais disciplinas interconectam suas estruturas conceituais e metodológicas para desvendar, juntas, uma dada realidade. Nesta abordagem, a Educação Ambiental tem uma identidade problemática própria, que incorpora, no seu tratamento, explicações oriundas de diversas disciplinas. Por exemplo, ao estudar a contaminação atmosférica, servimo-nos necessariamente, de contribuições da Biologia (interação seres vivos-biosfera, conseqüências da contaminação em processos como a respiração, fotossínteses, bioacumulação de elementos contaminadores que passam através das cadeias alimentares, processos biológicos de autodepuração das águas etc); da Geologia (composição da atmosfera e hidrosfera, contaminação devida a catástrofes naturais); da Química (natureza química dos contaminantes, capa de ozônio, chuva ácida, etc...); da Tecnologia (relação entre a contaminação e a utilização de determinadas tecnologias nos processos de produção e cadeias industriais, etc); das Ciências Sociais (desenvolvimento e ecologismo em distintas culturas...); da Medicina e Ciências da Saúde (doenças próprias dos países industrializados, efeitos da contaminação auditiva sobre a saúde física e mental...); da Ética (vida cotidiana e atitudes contaminantes, acumulação de resíduos em zonas rurais...) (GUTIERREZ, 1995: 177-8). A transposição metodológica representada pela transdisciplinaridade, só pode acontecer pela reconciliação plena das disciplinas, levando a uma leitura simultânea das diferentes manifestações de um mesmo fenômeno recorrendo aos conhecimentos das disciplinas que se fazem necessárias a cada conceito ou assunto. Os conceitos das disciplinas se complementam ao invés de se justaporem como detalhes analíticos. O método de problemas abre as portas para uma estrutura transdisciplinar, mas sua concretização curricular é uma possibilidade distante. 30 6 - O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL Pode-se afirmar que, na formação de um pensamento sobre a questão ambiental, a escola tem, sem dúvida, um papel privilegiado. Mas, cabe perguntar, quanto sabemos, nós, professores e professoras, sobre a grandeza de nossa responsabilidade? Quando estamos preparados para fazer da Educação Ambiental, uma interface constante de nossa intervenção com o trabalho curricular, das áreas de ensino, por exemplo? Nossas respostas precisam situar-se dentro de uma perspectiva filosófica da Educação Ambiental. Neste sentido, é a Conferência de Tblisi, citada no princípio deste texto, que fornece as primeiras delimitações normativas concernentes à Educação Ambiental, especialmente aquelas que projetam as suas finalidades. 6.1 – Finalidades da Educação Ambiental –Lei 9394/96 A motivação normativa para a revitalização curricular da escola fundamental deriva da reforma educacional instituída pela Lei 9394/96, que fixou as diretrizes e bases para a educação nacional. Em seu Artigo 12, a Lei determina que cabe aos estabelecimentos de ensino elaborar e executar a sua proposta pedagógica. Ainda que esta autonomia seja relativa, pois que a União estabelece, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação básica, de modo a nortear os 31 currículos e os conteúdos mínimos que lhe correspondem, pode, a escola, singularizar a sua organização pedagógica. De modo coerente, as bases do entendimento sobre as finalidades e a organização da escola são amplas e submetem os sistemas ao compromisso, entre outros, de desenvolver o educando para a cidadania. Além disso, a legislação dispõe sobre a flexibilidade da organização dos estudos em função do interesse que o processo de aprendizagem suscitar e enfatiza a afirmação de orientações que privilegiem a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática (Art. 27, inciso I). O texto legal é, portanto, um bom esteio para o aconchego da Educação Ambiental em cada escola. As finalidades expressas desde a primeira Conferência em TBLISI (1977), sugerem que nos estruturemos, seja para agir, seja para ensinar buscando: � Promover a compreensão da existência e da importância da interdependência econômica, social, política e ecológicano mundo atual; As finalidades expressas desde a primeira Conferência em TBLISI (1977), sugerem que nos estruturemos, seja para agir, seja para ensinar buscando: � Promover a compreensão da existência e da importância da interdependência econômica, social, política e ecológicano mundo atual; � Proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir os conhecimentos, sentido dos valores, interesse ativo e atitudes necessárias para protegerem e melhorarem o meio ambiente em que se inserem; � Induzir novas formas de condutas e valores a respeito do meio ambiente, a partir de conhecimentos, estudos e pesquisas envolvendo os sujeitos e a sociedade . Deste modo, passaremos todos (professores e alunos) por processos de compreensão, de conhecimento, de sensibilização, de desenvolvimento de habilidades, atitudes, valores de conscientização e participação. Tais aquisições, entrosadas à nossa atuação teórico metodológica, é que poderão garantir a implementação, estrutura e construção de 32 um domínio coletivo no campo da formação e sua relação com a melhoria da qualidade ambiental. 6.2 – A Educação Ambiental no Currículo da Escola: O que Diz a Legislação A política nacional de Educação Ambiental, em nosso país, parte ainda de marcos estabelecidos em âmbito internacional. Todavia, ela abre espaço para definições próprias, de caráter nacional, regional e local. Ao ratificar as premissas acordadas mundialmente, nossos legisladores vêm emitindo normas que orientam de modo particular a prática da Educação Ambiental no Brasil. Em razão de emanarem de distintas esferas administrativas, estas normas se apresentam de forma difusa, ainda que possam ser convergentes. Na esfera federal, existe uma Câmara Técnica de Educação Ambiental que integra o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, o qual faz parte do Sistema do Meio Ambiente – SISNAMA, como seu órgão consultivo e deliberativo. A Câmara Técnica de Educação Ambiental é presidida, por sua vez, pela Coordenação geral de Educação Ambiental – COEA, que integra a Secretaria do Ensino Fundamental do Ministério de Educação. Com tal estrutura, articulam-se as definições políticas e as ações estratégicas oficiais da Educação Ambiental na esfera federal, sob a égide da Lei 9795/99. Segundo essa Lei, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, a educação ambiental deve integrar os processos por meio dos quais o individuo e a sociedade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competência voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. 33 Com este sentido, a legislação específica justificou a presença da Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades do processo educativo, seja em sua condição formalou não formal. 6. 3 – Conhecendo Princípios e Objetivos para Análise e Planejamento da Educação Ambiental Com referência à educação ambiental a ser trabalhada na escola fundamental, devem ser ressaltados os princípios proclamados na legislação, aplicáveis a todas as situações formativas. A seguir, serão apresentados os princípios e objetivos para a Educação Ambiental no Brasil a partir da Lei 9795/99, buscando fornecer orientações para a composição de planejamentos de trabalho pedagógico aos envolvidos na presente proposta: 6.4 Princípios que Regem a Educação Ambiental :Art. 4º � Enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; � Concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a sua interdependência entre o meio natural, o meio sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; � Pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; 34 � Vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; � Garantia de continuidade e permanência do processo educativo; � Permanente avaliação crítica do processo educativo; � Abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; � Reconhecimento e respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural. Respeitada a complexidade da formação na Educação Ambiental no âmbito da escola fundamental, a legislação aprofunda orientações, tornando explícitos seus objetivos, firmando a exigência do desenvolvimento de uma compreensão integrada e uma consciência crítica da questão ambiental. Este processo deve ser dinamizado pela democratização da vivência ambiental forjada às custas de um amplo acesso às informações ambientais e de uma participação individual, coletiva, cooperativa e solidária. 6.5. Objetivos da Educação Ambiental no Brasil : Art. 5º Na operacionalização da Educação Ambiental, a legislação estabelece que, na escola fundamental, implante-se uma prática educativa integrada, contínua e permanente. Deste entendimento, afasta-se a idéia da configuração de uma disciplina específica e independente. � Desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, 35 envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; � Garantia de democratização das informações ambientais; � Estimulo e fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; � Incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; � Estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macro-regionais com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, da igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; � Fomento e fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; � Fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamento do futuro da humanidade. 36 7 - A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUA INSERÇÃO CONCRETA NA ESCOLA: DESAFIOS DE UMA TRANSIÇÃO PARA A CIDADANIA MUNDIAL Caracterizamos o papel da escola na Educação Ambiental, no início de nossa abordagem. Vimos que a partir do papel do professor de ensino e e formação, cabe situá-la em contexto mais amplo, que considere a educação para a cidadania, configurando-a como elemento determinante para a consolidação de sujeitos que terão um papel preponderante para a construção de nova consciência, atitudes e ações no que se refere ao meio ambiente. O fortalecimento da cidadania para a população como um todo - e não para um grupo restrito - concretiza-se pela possibilidade de cada pessoa ser não somente como portadora de direitos e deveres, mas de se converter em ator co-responsável na defesa da qualidade de vida. A formação para a cidadania está intrinsecamente ligada à educação ambiental e à forma como estará concebida na proposta pedagógica escolar. Que questões têm preponderância ao formarmos para a cidadania? Cidadania tem a ver com a identidade e o pertencimento a uma coletividade. A Educação Ambiental como formação e exercício de cidadania refere-se a uma nova forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa nova ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o mundo e os homens. Deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos com consciência crítica local e planetária. 37 7.1 Equívocos e Alternativas: O que tem sido feito nesta perspectiva? Observa-se que na escola a grande maioria das atividades são feitas dentro de uma modalidade formal. Os temas predominantes são lixo, proteção do verde, uso e degradação dos mananciais, ações para conscientizar a população em relação à poluição do ar entre outras. A educação ambiental que tem sido desenvolvida no país é pulverizada em ações diversificadas e a presença dos órgãos governamentais como articuladores, coordenadores e promotores de ações é ainda muito restrita. No caso das grandes metrópoles, existe a necessidade de enfrentar os problemas da poluição do ar e o poder público deve assumir um papel indutor do processo. A redução do uso do automóvel estimula a co-responsabilidade social na preservação do meio ambiente, chama a atenção das pessoas e as informa sobre os perigos gerados pela poluição do ar. Isso no entanto implica na necessidade de romper com o estereótipo de que as responsabilidades urbanas dependem em tudo da ação governamental e os habitantes mantêm-se passivos e aceitam a tutela. O grande salto de qualidade tem sido feito pelas ONGs e organizações comunitárias, as quais desenvolvem ações não formais centradas principalmente na população infantil e juvenil. A lista de ações é interminável e essas referências são indicativas de práticas inovadoras preocupadas em incrementar a co-responsabilidade das pessoas em todas as faixas etárias e grupos sociais quanto à importância de formar cidadãos cada vez mais comprometidos com a defesa da vida. A educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação em potenciais caminhos de dinamização da sociedade e de concretização de uma proposta de sociabilidade baseada na educação para a participação. O complexo processo de construção da cidadania no Brasil, num contexto de agudização das desigualdades, é perpassado por um conjunto de questões que necessariamente implica a superação das bases constitutivas 38 das formas de dominação e de uma cultura política calcada na tutela. A construção de uma cidadania ativa configura-se como elemento determinante para constituição e fortalecimento de sujeitos cidadãos que, portadores de direitos e deveres, assumam a importância da abertura de novos espaços de participação e interferência crítica e solidária dos sujeitos sociais em função de atitudes e futuras ações conjuntas pela melhoria da vida ambiental . A educação ambiental, como componente da cidadania abrangente, que buscamos tambémao estabelecer os objetivos da escola hoje, está ligada a uma nova forma de relação ser humano/natureza . A sua dimensão cotidiana leva a pensá-la como somatório de práticas e entendê-la na dimensão de sua potencialidade de generalização para o conjunto da sociedade. Assim, pressupõe entendê-la como necessidade concreta de ações na educação formal, o que inclui sua entrada como um dos objetivos do trabalho pedagógico escolar, no qual os professores são os profissionais diretamente envolvidos. À medida que se observa cada vez mais dificuldade de manter-se a qualidade de vida nas cidades e regiões, é preciso fortalecer a importância de garantir padrões ambientais adequados e estimular uma crescente consciência ambiental, centrada no exercício da cidadania e na reformulação de valores éticos e morais, individuais e coletivos, numa perspectiva orientada para o desenvolvimento sustentável. A escola tem um papel preponderante na construção desses objetivos e a generalização de práticas ambientais só será possível se 39 estiver inserida no contexto de valores sociais, mesmo que se refira a mudanças de hábitos cotidianos próximos aos alunos inicialmente. O trabalho da Educação Ambiental como um dos pressupostos da proposta pedagógica de uma escola, ao questionar ideologias teóricas e práticas, propõe a participação democrática da sociedade na gestão dos seus recursos atuais e potenciais, assim como no processo de tomada de decisões para a escolha de novos estilos de vida e a construção de futuros possíveis, sob a ótica da sustentabilidade ecológica e a eqüidade social. Estas são posições que impõem novas posições teórico-metodológicas e a busca de novos paradigmas. 8 - A BUSCA DE NOVOS PARADIGMAS AO DESENVOLVER A PROPOSTA PEDAGÓGICA: ENVOLVENDO OS PROFESSORES As oportunidades oferecidas ao sistema escolar brasileiro para se apropriar da temática da Educação Ambiental têm ocorrido com freqüência e intensidade testemunha-se uma resposta docente incontestavelmente 40 positiva neste sentido. No entanto, a despeito da visível adesão ideológica, dificuldades concretas se interpõem no cotidiano da vivência escolar que quer se comprometer com a transposição metodológica que o tema exige. Ora, esta transição metodológica, e de sua correlata e implícita reorganização curricular, encontra dificuldades em todos os sistemas que lidam, na atualidade, com a implantação. Gavidia (1996), ao analisar a realidade espanhola, destacou sete ordens de dificuldades para o desenvolvimento da Educação Ambiental que devem ser superadas, as quais merecem nossa reflexão: 1 – A forte inércia da escola para modificar formas de comportamento e escalas de valores. Este fator se reflete também na atitude defensiva e restrita que o docente assume quanto ao seu repertório, a qual impede a rearticulação disciplinar pleiteada pela nova abordagem . 2 – A incorporação dos temas sobre Educação Ambiental no currículo escolar dentro da organização disciplinar existente. Abrir espaço para o tema em uma estrutura consolidada não é uma tarefa fácil. Encontrar os pontos de união entre as disciplinas, o grau de participação de cada uma delas, a sincronização das abordagens... Que modelo de estratégia adotar? Linhas, áreas, espaços... 3 – A concretização dos conteúdos. É preciso materializar as idéias possíveis sobre os conteúdos. Isto impõe provimento e/ou atualização de conhecimentos. 4 – A formação necessária do corpo docente nestes temas. A colocação em prática da educação ambiental entre outros temas, supõe a sensibilização e a preparação de professores e professoras. O conhecimento e representações adequadas sobre a questão ambiental, por exemplo, constituem condições básicas para que possam projetar caminhos didáticos, estratégias de aprendizagens e interações sociais pertinentes. 5 – A pouca tradição de trabalho em grupo, especialmente com pais e com outras instituições. Os cenários da Educação Ambiental implicam em ações não só interdisciplinares mas também interinstitucionais. A escola precisa se deslocar. 41 6 – A escassez de materiais curriculares. A discussão gira em torno da propriedade de uma bibliografia específica. O mundo editorial ainda não se convenceu de oferecer textos sistemáticos. Há manuais orientados aos professores mas não há textos para os alunos. 7 – No que se refere ao trabalho curricular e à avaliação, os conteúdos da Educação Ambiental precisam ser selecionados, priorizados, articulados, seqüenciados, e, sobretudo, avaliados, especialmente em suas dimensões atitudinais e comportamentais. A tarefa docente fica enorme! Torna-se cada vez mais necessário consolidar portanto novos paradigmas educativos, centrados na preocupação de iluminar a realidade desde outros ângulos, e isto supõe a formulação de novos objetos de referência conceituais e de transformação de atitudes. 8.1 - A Organização e a Gestão do Trabalho Pedagógico para a Educação Ambiental: Vários autores têm se referido à inércia da escola e uma resistência a avaliar suas novas incumbências como fruto das transformações em todos os campos da vida humana, seja na evolução da ciência, no campo do trabalho ou na transformação de valores sociais. Por um lado, há algo de positivo em avaliar essas transformações passo a passo implementá-las nos objetivos da formação humana, evitando a adaptação sem críticas às novas exigências tanto dessas transformações como no que encerrem de busca de 42 adaptações ao panorama neoliberal. Por outro lado, as necessidades trazidas pelos alunos e frequentemente divulgadas na mídia, mesmo aquelas extremamente próximas a nós, como a degradação dos rios e mananciais, o gasto inconseqüente da água, a falta de cuidado com o saneamento pelas autoridades e da população com o lixo, afora as notícias de catástrofes ambientais provocadas pela negligência do homem para com o aquecimento global e o desmatamento, nos obrigam a perceber a urgência de ultrapassar os conteúdos antes tratados pela Educação Ambiental. Impõe-se a busca de conhecimentos, informações, um trabalho de pesquisa e assimilação crítica para um processo qualificado de ensino que se volta à formação de valores e atitudes para com o ambiente local e mundial em nossos alunos. A necessidade passo a passo percebida pelos educadores, professores e alunos sobre os temas ambientais, nos apontam a necessidade de um trabalho curricular voltado à atualização dos conhecimentos, e como uma tarefa mais complexa, impõe novos tratamentos para com as disciplinas, de forma inter e transdisciplinar, além da busca de sincronização e visão mais ampla e aprofundada dos processos e fenômenos ambientais. Estas necessidades exigem do professor a busca de novos conhecimentos e a organização da escola para um formação em serviço sobre o trabalho que se pretende implementar. Propõe-se um trabalho de sensibilização e preparação dos professores , com materiais como discussão de filmes, debates sobre a formação da criança e do jovem hoje levando em conta os problemas ambientais, pesquisa sobre os problemas cruciais ambientais para que os professores possam se organizar para desenvolver atividades, visitas, projetos para conhecer e levantar alternativas de ação e interferência no meio ambiente a curto, médio e longo prazo. Nesse processo o pedagogo tem um papel preponderante como gestor e articulador de uma proposta que possa envolver todos os participantes de forma democrática e motivante. Há que seconsiderar a trajetória dos professores, seus conhecimentos e criatividade que podem construir um processo sólido e possível de ser aplicado. A dificuldade ao envolver os pais, talvez nesse momento possa ser revertida ao tratarmos de um assunto que diz respeito a todos e no qual os pais também são diretamente responsáveis. Também a resistência ao trabalho coletivo no processo de construção da proposta de Educação 43 Ambiental, deve levar a uma possibilidade de encontros, ações conjuntas e busca de respostas sempre em reuniões pedagógicas de avaliação de todo o processo ou em momentos pontuais como o Conselho de Classe por exemplo. No trabalho curricular, no qual os conteúdos da Educação Ambiental precisam ser selecionados, a participação do pedagogo junto aos professores é imprescindível na priorização e articulação dos temas nas áreas de ensino. A avaliação das dimensões atitudinais e comportamentais, são um ensejo para que o professor avalie o aluno em processo, por entrevistas, auto-avaliação, observação da participação e descrição de progressos previstos na forma de uma avaliação processual. As dificuldades que se apresentarem, pela complexidade da tarefa do professor, poderão ser partilhadas também em momentos de avaliação em reuniões por série e áreas, em que a solidariedade entre o grupo envolvido precisa ser a tônica principal e a compreensão de que um trabalho inovador vem sendo construído e por isso terá dilemas, incertezas, mas também acertos, possibilidades novas e construção de novos conhecimentos e metodologias no que se refere ao processo . O desenvolvimento da Educação Ambiental vai implicar em uma mobilização de recursos didáticos além daqueles que integram a rotina tradicional da escola. Apela a cenários, pessoas, meios, serviços, ambientes, literatura e materiais variados. Estes recursos são definidos em função de itinerários investigatórios e de solução de problemas, implantados, preferencialmente, a partir de projetos elaborados pela classe ou por grupos de trabalho, e dos processos de registro, comunicação e divulgação dos estudos realizados. O que se busca, é que a Educação Ambiental se concretize mediante construções singulares de aprendizagem, garantindo o significado e a qualidade das experiências proporcionadas. A própria avaliação pedagógica deve acompanhar, controlar e regular, as interações realizadas durante esse processo, tanto na sua seqüência quanto no impacto traduzido pela ressonância da “lição aprendida”. Mais do que nunca, a Educação Ambiental pode e deve proporcionar vivências inesquecíveis e fortemente impregnadas de uma ética necessária. Trata-se de prover, pela Educação Ambiental, o aprender a viver, e, 44 principalmente, o cultivar nos professores e alunos o sentimento da mais elevada esperança na humanidade. As oportunidades oferecidas ao sistema escolar brasileiro para se apropriar da temática da Educação Ambiental têm ocorrido com freqüência e intensidade e testemunha-se uma resposta docente incontestavelmente positiva neste sentido. No entanto, a despeito da visível adesão ideológica, dificuldades concretas se interpõem no cotidiano da vivência escolar que quer se comprometer com a transição metodológica que o tema exige. -Regina Cely de Campos Hagemeyer 8. 2 – As Metodologias para a Educação Ambiental O manejo do conhecimento, na experiência escolar, delimitado pelas fronteiras das disciplinas tal como nós conhecemos, tem gerado lacunas significativas na compreensão dos problemas e práticas sociais, inclusive pelo 45 reducionismo e mecanicismo que imprime ao processo de ensinar/aprender.. Em função dessa forma e exercício disciplinar tradicional, muitos conceitos se reproduziram de maneira distanciada, conquistando uma aparente autonomia, mas formando um número cada vez maior de campos de conhecimento e repertórios às vezes estéreis. De certa forma, pode-se afirmar que a existência de inúmeros campos de estudo contribui para a desintegração da própria formação, especialmente no seu estagio básico. Nesse quadro de estudos justapostos, as disciplinas se comportam como túneis separados e estreitos, que não se comunicam a não ser acidentalmente e eventualmente. Daí imaginar a necessidade e a possibilidade de superar a fragmentação dos territórios mais ou menos estáveis que elas (as disciplinas) representam nos currículos das escolas em prol de uma compreensão inteira do mundo e de seus fenômenos. Diferentemente dessa perspectiva, pois, dá-se a oportunidade, nessa abordagem, à compreensão e vivência de problemas sociais e culturais apreendidos em toda a plenitude e complexidade com que acontecem e se revelam, em oposição à desgastada prática de transmissão de informações, conhecimentos, valores e atitudes dissociados da realidade vivida pelo educando. A Educação Ambiental assim se beneficia de uma transposição metodológica que trabalha a aquisição e a produção de conhecimento como um processo aberto, flexível e comprometido eticamente. Sem negar de vez a estrutura dos currículos escolares, o tratamento do tema flexibiliza o processo de aquisição e produção do conhecimento e neutraliza o artificialismo inerente à prática tradicional do ensino na escola mediante uma sensibilização das disciplinas. Isto quer dizer que, sensibilizados os professores das áreas de ensino, e, por conseqüência, neutralizado o artificialismo da rotina escolar, há maior significado na aprendizagem. O tratamento dos conteúdos escolares dá sustentação para a interpretação da totalidade da situação real. Constitui, portanto, um recurso metodológico para contextualizar o conhecimento recriado na experiência pedagógica. Contextualizar o conhecimento, além do mais, implica em partir da vivência dos alunos e do seu projeto de vida. Porque, quando o aluno chega à escola, alguma coisa das suas experiências anteriores é conservada sob a forma de 46 interesses e necessidades. (...). A observação das condições externas, como a presença de problemas ecológicos, isto é, do macro-problema, leva-os a elaborar cenários com a ajuda de um processo de pensamento refletido, de um saber- pensar... (BERTRAND, VALOIS e JUTRAS, 1998:148-9). A Educação Ambiental, quando tratada como tema essencial, circula pelo currículo, abre portas e janelas das disciplinas, proporcionando espaço e ângulo para uma visão da realidade tomada em toda a sua espontaneidade (totalidade), em todo o seu potencial de decodificação (análise integral) além de melhor corresponder em termos de relevância social. Que disciplinas podem ser estas que se abrem aos temas da Educação Ambiental? BERTRAND, VALOIS e JUTRAS (p.151), oferecem algumas precisas menções quando observam que certas dimensões do macro-problema ecológico comportam um caráter regional e uma historia particular, motivo pelo qual a história e a geografia constituem instrumentos indispensáveis de compreensão. E acrescentar, procurar compreender um problema ecológico local necessita da sua contextualização histórica, cultural, social, assim como da sua morfologia regional. Todavia, para quem imagina que o efeito pedagógico da contextualização tem aqui seu limite, deve-se alertar sobre o seu rendimento mais profundo. A contextualização de um problema ecológico abre a reflexão sobre as meta necessidades do educando, descobrindo o sentido profundo da Vida e a solidariedade fundamental entre todos os seres. A contextualização, nesta perspectiva, alarga à sua maneira o debate sobre o sentido das experiências vividas pelos alunos e sobre a direção que
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