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2011 Educação ambiEntal Prof.a Eliane Dalmora Copyright © UNIASSELVI 2011 Elaboração: Profª Eliane Dalmora Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 370.357 D148e Dalmora, Eliane Educação ambiental / Eliane Dalmora. Indaial : Uniasselvi, 2011. 197 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-481-2 1. Educação ambiental I. Centro Universitário Leonardo da Vinci III aprEsEntação Caro acadêmico! A questão ambiental nos desafia ao aprendizado constante. Temos que ter esperança e acreditar nos nossos educandos, na possibilidade da educação, como transformação dos comportamentos e dos pensamentos conscientes. O meio ambiente reclama novas atitudes e comprometimento social, por isso é com prazer que pretendo fazer esta interlocução com você. A Educação Ambiental tem uma trajetória de mais de quarenta anos de construção. Nesta caminhada estiveram em debate as seguintes questões: 1) Podemos acreditar em novas práticas pedagógicas, capazes de transformar as relações sociedade/natureza? 2) Pode a Educação Ambiental contribuir para formar uma cultura de sustentabilidade socioambiental? 3) Até onde a Educação Ambiental pode desencadear novas relações institucionais fundadas em compromissos que visam à transformação da realidade das cidades e dos campos? 4) Quais foram seus avanços conceituais, teóricos e metodológicos? 5) Quais são os princípios que orientam a ecopedagogia? 6) Como as orientações pedagógicas podem promover a emancipação do sujeito? 7) De quem é a responsabilidade de promover a educação nos espaços não escolarizados? 8) Quais as metodologias mais apropriadas para a educação de adultos? 9) Como a Educação Ambiental com crianças pode superar um cotidiano desinteressante das salas de aula? 10) Por que a Educação Ambiental depende de projetos multidisciplinares? 11) Qual a contribuição da transversalidade e da multidisciplinaridade no trato da complexidade da questão ambiental? IV São estas reflexões que a disciplina pretende apresentar. No entanto, quero ressaltar que o trabalho do educador é resultado das suas intenções. Escolhas são realizadas com base nos valores e compromissos éticos do educador. Portanto, a EA terá êxito se o coletivo de educadores refletirem sobre seus propósitos e, principalmente, decidirem quais práticas pedagógicas serão adotadas para atingir tais propósitos. Algumas respostas para estas questões serão apontadas nos tópicos, outras dependerão do cenário a ser projetado para o futuro, em que profissionais em Educação Ambiental, como você, poderão fazer a diferença. Portanto, esteja atento(a) quanto à forma de como você se engajará na promoção do conhecimento. Observe suas propostas pedagógicas. A sua participação pode ser variada, desde uma forma branda até uma mais ampla e democrática. Na forma branda, a participação se fará presente apenas em algumas etapas do processo, delegando o planejamento a uma comissão de experts. Nesta comissão, o gestor é o mentor controlador e o condutor das ações. Separa-se o gestor que planeja, portanto, dita a palavra e o gestor executa as ações previamente definidas. Já, na forma democrática trata-se de um fazer pedagógico (de planejamento e de ação) construído por um coletivo. Neste caso, observe como a comunicação pode ocorrer entre os sujeitos que participam da ação de modo conectado e integrado. Portanto, para que a educação tenha esse propósito, é preciso que cada professor seja o sujeito e, mais, seja incentivado a participar de todas as etapas do planejamento da educação. Para complementar suas reflexões sobre as potencialidades da Educação Ambiental, compreendendo as opções pedagógicas constituídas, faça seus estudos e procure responder aos exercícios propostos no final de cada tópico. Em caso de dúvidas busque saná-las. Bons estudos! Prof.a Eliane Dalmora V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA VI VII UNIDADE 1 – FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................................... 1 TÓPICO 1 – SURGIMENTO E AVANÇOS DA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................................................................................ 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 DEFINIÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................................................................................ 4 3 A PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .................................................................................................................................... 5 4 QUESTIONANDO O MODELO DE DESENVOLVIMENTO .................................................... 8 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 12 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 13 TÓPICO 2 – ASPECTOS LEGAIS E CONCEITUAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL ........................................................................................................................ 15 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 15 2 A LEGALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL .............................................. 15 3 A PERMANÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..................................................................... 18 4 A EDUCAÇÃO COMO PROCESSO ................................................................................................. 19 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 25 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 27 TÓPICO 3 – PLANEJAMENTO E ATUAÇÃO DO EDUCADOR AMBIENTAL ........................ 29 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................29 2 A POLÍTICA, GESTÃO E ENGAJAMENTO PROFISSIONAL NA PROMOÇÃO DA EA .. 29 3 OS COLETIVOS JOVENS .................................................................................................................. 31 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 34 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 35 TÓPICO 4 – FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO CRÍTICO .............................................. 37 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 37 2 ETAPAS DO PROCESSO PEDAGÓGICO ...................................................................................... 37 3 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA CRÍTICA DA EDUCAÇÃO .................................................... 39 3.1 CONHECIMENTO DO CONTEXTO E DEFINIÇÃO DOS TEMAS GERADORES .............. 41 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 44 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 48 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 49 UNIDADE 2 – ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS ........................................................................... 51 TÓPICO 1 – DESENVOLVIMENTO, MEIO AMBIENTE E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ...................................................................................... 53 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 53 2 MEIO AMBIENTE E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS .................................................................... 53 3 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO (DES)ENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ......................... 56 sumário VIII 4 O ENGAJAMENTO POLÍTICO NA CONCRETIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL......................................................................................... 58 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 60 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 61 TÓPICO 2 – A DIMENSÃO DA QUESTÃO AMBIENTAL: DIVERSIDADE E COMPLEXIDADE ........................................................................................................ 63 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 63 2 A COMPLEXIDADE DA QUESTÃO AMBIENTAL ...................................................................... 63 3 A DINÂMICA DOS ECOSSISTEMAS ............................................................................................ 68 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 72 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 73 TÓPICO 3 – A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM PROL DO PATRIMÔNIO NATURAL ....... 75 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 75 2 DEFINIÇÃO DE PATRIMÔNIO NATURAL E IMPLICÂNCIAS PARA A GESTÃO AMBIENTAL ....................................................................................................................... 76 3 CONTRAPONTOS DA GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA E PARTICIPATIVA ............ 80 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 84 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 86 TÓPICO 4 – TEMAS TRANSVERSAIS E INTEGRAÇÃO CURRICULAR ................................. 87 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 87 2 ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA ..................................................................................................... 87 3 O MEIO AMBIENTE NOS CURRÍCULOS ESCOLARES ............................................................ 90 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 93 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 97 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 99 TÓPICO 5 – MEIO AMBIENTE NOS CONTEÚDOS ESCOLARES ...........................................101 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................101 2 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DO EDUCANDO ......................................................101 3 ATIVIDADES DE SENSIBILIZAÇÃO E INTERVENÇÃO NA REALIDADE .......................105 3.1 DATAS COMEMORATIVAS E EVENTOS ................................................................................106 3.2 A MÚSICA, A ARTE E A LITERATURA NO APRENDIZADO .............................................106 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................108 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................109 TÓPICO 6 – UMA PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO CURRICULAR VIA TEMA GERADOR ..........................................................................................................111 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................111 2 AGROTÓXICOS: UMA QUESTÃO DE INTERFACE DOS SABERES ...................................111 RESUMO DO TÓPICO 6......................................................................................................................117 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................118 UNIDADE 3 – ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA .................................................................121 TÓPICO 1 – CARTA DA TERRA NA ECOPEDAGOGIA.............................................................123 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................123 2 PRINCÍPIOS DA CARTA DA TERRA ...........................................................................................123 3 A CARTA DA TERRA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO ...................................................125 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................127 IX RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................130 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................131 TÓPICO 2 – ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM ADULTOS ........................133 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1332 A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL E EDUCACIONAL À LUZ DE UM PROJETO DE CIVILIZAÇÃO ..............................................................................................................................133 3 IMPASSES DA EMANCIPAÇÃO NA COMUNICAÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE ........135 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................140 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................141 TÓPICO 3 – O SENTIDO DA APRENDIZAGEM ..........................................................................143 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................143 2 A APRENDIZAGEM DO EDUCANDO NA ECOPEDAGOGIA ..............................................143 3 O ATO DE PESQUISA COMO FORMA DE APRENDIZADO COM SENTIDO .................145 3.1 HISTÓRIAS DE VIDA E AÇÕES DA SOCIEDADE NA NATUREZA .................................145 3.2 ESTUDOS DE CASO NO APRENDIZADO DA REALIDADE AMBIENTAL LOCAL ......147 3.3 AS GINCANAS COMO MOVIMENTO EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE ....................148 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................150 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................151 TÓPICO 4 – O CONTEXTO DAS COMUNIDADES EM UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..........................................................................................153 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................153 2 O CONTEXTO DAS COMUNIDADES EM UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..............................................................................................................153 2.1 CONHECIMENTO E DEBATE DA REALIDADE ....................................................................154 2.2 SENSIBILIZAÇÃO .........................................................................................................................156 2.3 PROJEÇÃO .....................................................................................................................................158 2.4 MOBILIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO ..........................................................................................158 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................161 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................162 TÓPICO 5 – O APREÇO DAS CRIANÇAS PELA NATUREZA ...................................................163 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................163 2 OS AMANTES DA NATUREZA .....................................................................................................163 3 A PERDA DA AFETIVIDADE PELA NATUREZA NA INFÂNCIA ........................................165 4 CONSTITUINDO BRINCADEIRAS E APRENDIZADOS NA INFÂNCIA ..........................168 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................171 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................172 TÓPICO 6 – ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM CRIANÇAS ......................173 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................173 2 ORIENTANDO A CRIANÇA PARA AMAR A TERRA ..............................................................173 3 A DISSEMINAÇÃO DAS EXPERIÊNCIAS NO BRASIL ..........................................................176 4 IDEIAS PARA DESCOBRIR E OBSERVAR O MUNDO ...........................................................179 5 OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA .......................................................................................................................183 RESUMO DO TÓPICO 6......................................................................................................................187 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................188 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................189 X 1 UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Ao final desta unidade, você será capaz de: • compreender a dimensão ampla e integrada da proposta institucional; • identificar os pressupostos teórico-metodológicos que orientam a forma- ção do sujeito ecológico crítico. Esta unidade está organizada em quatro tópicos, sendo que, em cada um deles, você encontrará atividades para uma maior compreensão das informações apresentadas. TÓPICO 1 – SURGIMENTO E AVANÇOS DA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL TÓPICO 2 – ASPECTOS LEGAIS E CONCEITUAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL TÓPICO 3 – PLANEJAMENTO E ATUAÇÃO DO EDUCADOR AMBIENTAL TÓPICO 4 – FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO CRÍTICO 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 SURGIMENTO E AVANÇOS DA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1 INTRODUÇÃO Atualmente, a gravidade dos problemas ambientais pode ser evidenciada por impactos disseminados em todo o planeta Terra. Como consequência, questionam-se as atuais bases de sustentação das sociedades modernas. Particularmente, nesta década, a gravidade da destruição ambiental está em evidência no debate internacional, atingindo, inclusive, os círculos de negociações econômicas. Porém, os avanços na resolução dos problemas ainda não são assumidos com a devida seriedade, pois afetam os interesses de crescimento econômico de grandes corporações. Como resultado, são traçados acordos, mas não há o devido cumprimento e cobrança para a implantação de políticas ambientais. Além disso, não se busca atribuir responsabilidades aos cidadãos, empresas ou demais instituições quanto aos impactos ambientais gerados. Neste sentido, “[...] cabe à Educação Ambiental ajudar a sociedade a superar o analfabetismo ambiental, que consiste no desconhecimento ou ignorância dos problemas ambientais, das ameaças da (in) sustentabilidade dos ecossistemas e da própria condição de vida da humanidade.” (DIAS, 2004, p. 3). O objetivo maior da Educação Ambiental é ousado, por pressupor um novo olhar do mundo e um pensar diferente, constituinte de uma grande solidariedade planetária. Em síntese, a educação se integra à proposta de construção de uma sociedade sustentável visando à promoção da vida, ao equilíbrio dinâmico, à sensibilidade social e à consciência planetária. FONTE: Disponível em: <www.coave.org.br/lista-downloads.php?baixar=70>. Acesso em: 23 ago. 2011. Neste tópico será relatado como a proposta da Educação Ambiental foi evoluindo, resultado de um amplo debate de ambientalistas e pesquisadores, que culmina com a assinatura de acordos internacionais e um grande movimento social, preconizado nas escolas e nos meios de comunicação. Gradativamente, são definidos os princípios, os objetivos e os métodos de Educação Ambiental. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 4 2 DEFINIÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL A Educação Ambiental tem uma história recente de consolidação. Sua relevância é decorrente da gravidade dos problemas ambientais, que se globalizam e se complexificam com o desenvolvimento capitalista da sociedade industrial e técnico-informacional.O engajamento da educação para a formação de uma sociedade de responsabilidade global, quanto à questão ambiental é resultado de inúmeros esforços de pesquisadores, ambientalistas e educadores que buscam traduzir acordos internacionais e gerar uma Agenda de Educação Ambiental de caráter amplo e integrado. A estratégia é repensar princípios e valores que se constituem no espaço de ensino-aprendizagem, da escola, família e trabalho. Atualmente, a Educação Ambiental é, efetivamente, apresentada como necessária para todas as nações, devendo ser permanente na formação do cidadão e presente em todos os níveis de ensino. Desde as primeiras formulações, projetos e experiências, foram se configurando e originaram um amplo coletivo de educadores, que têm feito diferença no modo como cada cidadão convive e se apropria dos recursos naturais. Neste movimento, a Educação Ambiental é definida como “um processo permanente, no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornem aptos a agir e resolver problemas ambientais presentes e futuros”. (DIAS, 2004, p. 523). Esta definição coloca inúmeros desafios para a educação. Além disso, há urgência na sua implantação, frente à gravidade dos problemas de poluição ambiental e à evidência das catástrofes globais. NOTA O processo de educação implica o desenvolvimento da percepção e a formação de habilidades e interesses de participação do cidadão na prevenção e solução de problemas ambientais. Também requer uma abordagem da complexidade da dinâmica dos ecossistemas estabelecida nas inter-relações com os modos de apropriação dos recursos por parte das populações. Para facilitar o processo de ensino-aprendizagem, o educador pode partir da realidade do educando, identificando os problemas concretos da comunidade e das relações nos locais de trabalho. TÓPICO 1 | SURGIMENTO E AVANÇOS DA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 5 3 A PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A seguir são destacados os principais eventos e datas que ajudaram a consolidar a atual proposta da Educação Ambiental para sociedades sustentáveis. A expressão Educação Ambiental (Environmental Education) é cunhada, pela primeira vez, na Inglaterra, em 1965, sendo indicada nas escolas como integrante da educação geral e atribuição de todas as disciplinas afins. (DIAS, 2004). Neste momento, a Educação Ambiental deixa de ser uma educação ecológica com atribuição restrita aos professores de Ciências e Biologia, na qual, era definida como a ciência que ensinava a conservação, as relações dos seres vivos entre si e destes com o mundo. Com uma visão mais abrangente, a Educação Ambiental passa a ser referenciada pelas contribuições múltiplas das ciências, em especial pela perspectiva que integra uma rede de relações sociais, culturais e naturais. (CARVALHO, 2004). Buscando agregar novas proposições de envolvimento da sociedade, em 1968, na Conferência de Educação, realizada na Grã-Bretanha, funda-se a Sociedade para a Educação Ambiental, refletindo a agregação de parceiros provenientes de campos diferenciados do conhecimento. Já, em 1970, nos Estados Unidos, é implementada a Lei sobre Educação Ambiental. Seguindo o movimento mundial, no Brasil, o então Ministério da Educação e Cultura publica o documento Ecologia – uma proposta de ensino de 1º e 2º Graus. (DIAS, 2004). Porém, esta publicação foi amplamente questionada quanto aos seus propósitos e conteúdo, pois simplifica a questão ambiental e apresenta incongruência com as recomendações internacionais, que propõem o rompimento do paradigma reducionista de conhecimento, presentes nas disciplinas escolares. Em 1972, uma equipe de pesquisadores coordenados por Dennis e Donella Meadows publica o relatório Limits to growth, apresentando uma das obras mais polêmicas e divulgadas das ciências ambientais e que se constituiu um grande alerta sobre os rumos do crescimento econômico nas bases energéticas e de consumo dos recursos naturais. Na ocasião, em Estocolmo, é realizada a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Foi considerado um marco na história do ambientalismo, por ser a primeira busca por um acordo internacional sobre as questões ambientais. Com sucesso, coloca o problema da poluição ambiental como questão prioritária. A ideia de desenvolvimento sustentável começa a ser estruturada ao se reforçar as dificuldades das nações do Sul em seguirem os padrões de desenvolvimento dos países do Norte. Porém, muitas nações visualizaram os acordos como mais uma forma de colonização, uma ameaça à soberania nacional, o que resultou em ecos pouco significativos em países como o Brasil, que seguiram a perspectiva imitativa de desenvolvimento como sinônimo de crescimento econômico. (SATO, 2004). UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 6 Mais especificamente, a Conferência apresenta, na recomendação no 96, que a Educação Ambiental (EA) é essencial para a formação de uma nova consciência planetária e para ampliar o compromisso no combate à crise mundial. O relatório Meadows teve o mérito de situar a problemática do meio ambiente numa escala planetária, tendo como pano de fundo a hipótese de um sistema fechado no que concerne à fronteira dos recursos naturais renováveis. (FURTADO, 1996). Logo, há questionamentos provenientes do interior da própria economia sobre a perspectiva do crescimento econômico propalada como o “melhor” caminho a ser seguido pelos países “subdesenvolvidos”. Esse caminho, o de imitação do modo de vida do Ocidente industrial, confronta-se com os limites ecossistêmicos, o pluralismo cultural de cada nação e a grande diferença socioeconômica entre os países do Norte e do Sul do meridiano, entre o Ocidente e o Oriente e entre as regiões de um mesmo país. Muitos dos problemas resultantes do modelo eram negados pela grande maioria dos economistas. Em caso de expansão dos níveis de consumo para todos os povos, a pressão exercida sobre os recursos não renováveis e a poluição do meio ambiente seria de tal ordem que o sistema econômico mundial entraria em colapso. (FURTADO, 1996). UNI Observe como o relatório dos limites do crescimento é atual, quando refletimos sobre a sociedade de consumo, seu modo de vida e de trabalho que excede a capacidade natural dos ecossistemas e da biosfera de se regenerar. O efeito desta sociedade é caracterizado pelo indicador denominado de Pegada Ecológica. Observe que a biocapacidade do planeta terra é estimada em 1,8 ha pessoa, porém a pegada ecológica média da população mundial é de 2,2 hectares. Estamos realizando o consumo muito além da oferta e disponibilidade de recursos naturais, ultrapassamos os limites ecológicos em curto período do tempo. Você considera que o seu modo de vida contribui para a atual pressão sobre os recursos naturais? Entre no site: http://www.pegadaecologica.org.br/index.php> e faça o teste identificando qual o impacto do seu estilo de vida para o planeta. Observe as dicas sobre como você pode colaborar para reduzir o seu impacto. Apesar da pertinência e das evidências sobre a questão, reações contrárias ao relatório permearam as reuniões preparatórias à Conferência de Estocolmo, realizada em 1972. Pelo menos duas posições (antagônicas) estavam em debate na época (SACHS, 1986): a) dos adeptos ao crescimento econômico a qualquer custo, para os quais as limitações ambientais seriam um entrave ao avanço da industrialização dos países em desenvolvimento, tirando-lhes a oportunidade de atingir os mesmos níveis dos países desenvolvidos, argumentavam que a suposta escassez dos recursos naturais poderia ser evitada no interior do próprio modelo de crescimento econômico, sobretudo mediante as inovações tecnológicas; TÓPICO 1 | SURGIMENTO E AVANÇOS DA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 7 b) e a do movimento ambientalista preservacionista, defensores de umapolítica de “crescimento zero”, ajustada às conclusões de relatório Meadows. ESTUDOS FU TUROS No próximo tópico, você verá como o posicionamento contrário às limitações para o crescimento foi predominante no Brasil, permeando as políticas públicas de incentivo às iniciativas privadas, em especial visando à aceleração do crescimento econômico, urbano-industrial. Em 1975, ocorre, em Belgrado, o Workshop em Educação Ambiental, promovido pela UNESCO. A Carta de Belgrado define os princípios e orientações para um programa internacional de EA e se tornou um documento de referência para a questão ambiental. Questiona a natureza fragmentária dos programas de ensino, que impede uma visão mais ampla e complexa das questões ambientais. Faz, além disso, um chamamento às responsabilidades individuais quanto ao uso dos recursos e aos estilos de vida, clamando por uma ética global, que promova atitudes nos indivíduos de corresponsabilidade para a distribuição equitativa, o uso e acesso aos recursos naturais. Questiona, também, o estilo econômico gerador de desigualdades sociais e de diferenças nas bases de consumo entre nações ricas e pobres. Em 1977, em Tbilisi (na Geórgia), realiza-se a I Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, organizada pela UNESCO/ Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). Institui-se, então, a primeira fase do Programa Internacional de Educação Ambiental, acordado em 1975, pela Unesco/Pnuma. Na ocasião, estabelece-se a permanência, a multidisciplinaridade e a integração dos conteúdos às questões do local. FONTE: Adaptado de: <www.ambiente.sp.gov.br/ea/projetos/Apostila_EA.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2011. Também são definidos os objetivos, características e estratégias de implementação da EA, nos mais diversos países. Destaca-se que a EA deve estar na formação de crianças, adolescentes, adultos e idosos, como parte dos programas curriculares. As universidades devem internalizar a educação ambiental na formação dos profissionais, integrando nas profissões a ética ambientalista. Os meios de comunicação podem contribuir para veicular mais amplamente as informações sobre as questões ambientais para a sociedade. Em 1980, em Budapeste, na Hungria, a UNESCO promove o Seminário Internacional sobre o Caráter Interdisciplinar da EA no ensino de Primeiro e Segundo Graus. A experiência de transversalização da temática ambiental UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 8 demonstra que não há limites entre a educação formal e não formal, na medida em que a escola participa da sociedade, engajando-se na problematização da realidade à qual o educando está inserido. 4 QUESTIONANDO O MODELO DE DESENVOLVIMENTO Em 1992, no Rio de Janeiro, ocorreu a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também chamada de Eco-92 ou Rio-92. Na ocasião, foram instituídos acordos internacionais de onde se originaram propostas para implementar as Agendas 21, avançar na proposta da Carta da Terra e instituir o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. (SATO, 2004). A Responsabilidade Global é definida nos seguintes termos: Nós, signatários, pessoas de todas as partes do mundo, comprometidos com a proteção da vida na Terra, reconhecemos o papel central da educação na formação de valores e na ação social. Comprometemo-nos com o processo educativo transformador através de envolvimento pessoal, de nossas comunidades e nações para criar sociedades sustentáveis e equitativas. Assim, tentamos trazer novas esperanças e vida para nosso pequeno, tumultuado, mas ainda assim belo planeta. O Tratado de Educação Ambiental para sociedades sustentáveis e Responsabilidade Global reafirma a permanência da Educação Ambiental para uma sociedade sustentável e equitativa, além de enfatizar o papel da educação na formação de cidadãos críticos e atuantes, corresponsáveis pela sustentabilidade planetária. DICAS Para que você tenha uma compreensão ampla da temática veja o livro SATO, Michèle. Educação Ambiental. São Carlos, SP: Rima, 2004. Observe como historicamente a EA tem ocupado o lócus de sustentação de um novo projeto de sociedade, eticamente comprometida com o pensamento crítico e com responsabilidade socioambiental. Visando consolidar uma proposta de caráter universal, coesa e coerente com a proposta do desenvolvimento sustentável são definidos os princípios da Educação Ambiental, a seguir resumidos: 1 A EA é um direito de todos. Visa formar cidadãos com consciência global e planetária e respeito à soberania dos povos (recupera, reconhece e respeita a história indígena e culturas locais, promovendo a sociobiodiversidade). TÓPICO 1 | SURGIMENTO E AVANÇOS DA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 9 2 A base é o pensamento crítico e inovador, em qualquer tempo e lugar (da educação formal à não formal), integrando conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ação. 3 A EA é um ato político e de transformação social com o desenvolver do pensamento crítico e inovador. 4 A abordagem pressupõe o conhecimento holístico e sistêmico, com caráter multi e interdisciplinar. 5 Os valores a serem preconizados são relativos à solidariedade, à igualdade e à democracia - como participação equitativa nos processos de decisão política. 6 O objetivo é promover a cultura da paz, da cooperação, do diálogo e da austeridade feliz (consiste no atendimento igualitário às necessidades básicas, combatendo a fome de muitos e o consumismo das populações ricas). 7 A comunicação é um processo democrático e visa à emancipação da informação, opondo-se às tentativas de uso dos meios como forma de dominação e alienação política e cultural. 8 A abordagem é da ética do respeito a todas as formas de vida, valorizando e conservando a dinâmica, diversidade e a integridade de seus ecossistemas. (GADOTTI, 2004). ESTUDOS FU TUROS Na Unidade 3, você verá, mais detalhadamente, as contribuições da Carta da Terra para consolidar os pressupostos da Educação Ambiental visando à ética de responsabilidade global. Também veremos o significado e as aplicações da transversalidade e interdisciplinaridade no processo educativo. Quanto aos objetivos de uma Educação Ambiental crítica e de formação para a cidadania busca-se: 1 Capacitar o educador para ser um mediador do processo de ensino e aprendizagem, realizando um planejamento das atividades de ensino, pesquisa e extensão de modo integrado, garantindo o diálogo efetivo com a comunidade ao desenvolver conteúdos de caráter socioambiental. 2 Realizar um planejamento integrado do currículo, visando abranger as múltiplas dimensões da questão ambiental, o qual inclui temas de natureza inter e transdisciplinar além dos múltiplos campos do conhecimento disciplinar UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 10 (Geografia, História, Biologia, Sociologia e Química). 3 Contribuir para gerar diagnósticos socioambientais do contexto em que a instituição se insere, buscando o diálogo com os saberes tradicionais de uso dos recursos e mediados pelas contribuições dos saberes elaborados pelo campo científico. 4 Gerar comportamentos e atitudes de respeito à questão socioambiental através de uma pedagogia com significados que desperte as sensibilidades através de relações de convivência da sociedade com a natureza. 5 A partir do diagnostico socioambiental e o despertar das sensibilidades o objetivo é gerar a atitude para a mudança da realidade, desenvolvendo assim um cidadão criativo e ativo. 6 Aproximar a escola da comunidade, tornando-a mais próxima das necessidades da sociedade e assim obtendo o reconhecimento da sua importância. Ao se estabelecer parâmetros, a qual a EA vai estar inserida pretende- se romper com uma visão ingênua e até mesmo simplista da questão ambiental o qual tende a banalizar a sua inserção nos planos educacionais, como ressalta Carvalho (2004, p.152): “a educação ambiental passou a ser usado como termogenérico para algo que se aproximaria de tudo o que pudesse ser acolhido sob o guarda-chuva de boas práticas ambientais”. Sem a definição dos princípios éticos que balizam as relações da sociedade com a natureza, os educadores podem banalizar sua proposta em comportamentos esparsos restritos, descontextualizados da própria complexidade da problemática ambiental (sistêmica e global). Acabam apontando a atos isolados, tais como: atitudes de separação de lixo doméstico, plantio de árvores, mutirões de limpeza de rios e áreas públicas, redução do consumo individual de água e resíduos. Sem critérios claros do que seriam “os bons comportamentos” é elencado um conjunto de temas que se repetem em distintas realidades, sem gerar questionamentos mais amplos sobre as reais questões da crise ecológica, a origem do problema e as responsabilidades quanto a possíveis soluções. TÓPICO 1 | SURGIMENTO E AVANÇOS DA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 11 DICAS Visando compreender as críticas e os riscos a que está imbuída a educação no meio escolar brasileiro. Você pode fazer a leitura do livro: BRÜGGER, Paula. Educação ou adestramento ambiental? Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1999. Observe a importância das concepções pedagógicas, as quais podem limitar a proposição para a formação de um sujeito crítico e capaz de estabelecer atitudes comprometidas com a sustentabilidade e a economia solidária. Visando superar a aplicação inicial da educação ecológica, começa a se estruturar uma nova roupagem, resultado de experiências, reflexões e pesquisas efetivadas nas mais diversas situações pedagógicas e nações. Paralelamente, impactos ambientais se replicam, se conjugam e se estendem pelos continentes, gerando preocupações no campo acadêmico, político e social. Torna-se consensual a necessidade de redefinir as formas como conscientemente a economia capitalista e a sociedade armamentista e tecnológica gera impactos, comprometendo a existência da vida no planeta Terra. 12 Neste tópico, vimos que: • A proposta institucional da EA foi sendo construída a partir da segunda metade do século XX, como resultado do engajamento político e do debate científico de uma série de organizações governamentais e não governamentais. • A EA como proposta diferenciada da educação ecológica foi cunhada primeiramente na Inglaterra, em 1965. Já no Brasil, nos anos de 1970, a EA surge com fragilidades, como resposta às tendências mundiais. O contexto político e de desenvolvimento centrado no crescimento econômico impede a consolidação da proposta tal como vinha ocorrendo mundialmente. • Os pressupostos básicos da EA foram definidos durante a Conferência de Belgrado (em 1975) e a Conferência de Tbilisi (em 1977). As Conferências de Estocolmo (em 1972) e do Rio (em 1992), foram fundamentais para reafirmar a importância e o compromisso dos educadores no movimento por constituir sociedades sustentáveis de responsabilidade planetária. • Como resultado, a EA deve ter: permanência na escola, na universidade, nos meios de comunicação, na comunidade e no trabalho; continuidade em todos os níveis de ensino; tratamento interdisciplinar e transversalidade dos conteúdos. • A EA consiste numa educação do cotidiano, problematizadora da realidade, um convite à participação social ativa e um chamado para a responsabilidade do educando. • A EA tem como princípios: a solidariedade, soberania dos povos, não violência, austeridade feliz, participação democrática, consciência planetária holística e conhecimento interdisciplinar e sistêmico. • O objetivo da educação é a formação para a cidadania que implica educadores atuantes como mediadores dos processos de ensino-aprendizagem, com postura de pesquisa e extensão (participação e envolvimento social como forma de leitura do mundo). • O planejamento integrado e participativo, a integração curricular, a inserção social dos conteúdos concretizam a proposta da educação ambiental conectada com a realidade local e sua contextualização global. RESUMO DO TÓPICO 1 13 1 Observe o conceito de EA e educação ecológica, justificando por que a Educação Ambiental é mais do que uma disciplina derivada da Biologia. 2 Faça uma síntese da evolução da EA e explique a importância dos encontros internacionais na promoção do desenvolvimento sustentável. 3 Defina a educação como responsável pela formação de cidadãos críticos e atuantes, corresponsáveis pela sustentabilidade planetária. 4 Escreva sobre a responsabilidade dos educadores e os possíveis impasses para desenvolver a educação ambiental nas escolas. 5 Apresente os princípios que orientam as novas relações sociedade/natureza, destacando as possíveis dificuldades para a sua efetiva concretização. 6 A preocupação com o ensino de “bons comportamentos” está presente nos objetivos de muitos educadores. Quais os problemas que esta postura pode originar? AUTOATIVIDADE 14 15 TÓPICO 2 ASPECTOS LEGAIS E CONCEITUAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A Política Nacional de Educação Ambiental está se consolidando no Brasil, como resultado da organização em rede dos educadores ambientais na busca pela aprovação da Lei de Educação Ambiental, bem como sua regulamentação e divulgação nos mais diversos territórios e instâncias educacionais. A Educação Ambiental é assumida como permanente, democrática, interdisciplinar e sistêmica. Seus propósitos são ousados por sugerir uma práxis educativa, de formação humanista para sociedades sustentáveis, de responsabilidade local/global e intergeracional. Sugere a redefinição das bases de consumo e produção buscando redefinir consciências e o compromisso compartilhado das empresas, governos, educadores e meios de comunicação. 2 A LEGALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL Atualmente, a EA atinge maturidade por apresentar consolidada a sua matriz conceitual e consensos quanto aos pressupostos teóricos e metodológicos da educação. No Brasil, a regulamentação da EA se efetivou com a instituição da Política Nacional do Meio Ambiente, prevista na Lei no 6.938/81 de 31/08/81. Em particular o Artigo 2o, inciso X destaca a necessidade de promover a “Educação Ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.” (BRASIL, 2010). A Constituição Federal, de 1988, por sua vez, reconhece o direito de todos os cidadãos brasileiros e atribui ao Estado o dever de “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. (Art. 225, §1º, inciso VI). Já, na Lei nº 9.394, de 20/12/96 – Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a menção à EA é feita parcialmente no Artigo 32, inciso II, no qual atribui ao Ensino Fundamental a incumbência de estimular a “compreensão ambiental natural e social do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 16 fundamenta a sociedade”; e no Artigo 36, § 1º, segundo o qual os currículos do Ensino Fundamental e Médio “devem abranger, obrigatoriamente, [...] o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil”. FONTE: Adaptado de: <http://eduep.uepb.edu.br/biofar/v5n1/utilizacao_de_maquete_tridimensional_ como_incentivo_a_conservacao_das_areas_de_preservacao_permanente.htm>. Acesso em: 23 ago. 2011. Em 27 de abril de 1999, se institui a Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA através da Lei nº 9.795, que reitera o direito de todos à Educação Ambiental, indicando seus princípios e objetivos, os atores e instâncias responsáveis por sua implementação, nos âmbitos formal e não formal, e as suas principais linhas de ação. O Plano Nacional de Educação (PNE) regulamentado pela Lei nº 10.172, de 09/01/01, coerentemente com a complexidade da questão ambiental, a inclui como um tema transversal. Porém, aproposta é relapsa a que estabelece a PNEA, quando restringe seu tratamento ao Ensino Fundamental e Médio e não em todos os níveis e modalidades de ensino como prevê a Lei nº 9.795/99. Visando regulamentar a Lei nº 9.795/99 se cria o Decreto nº 4.281, de 25/06/02, que detalha as competências, atribuições e mecanismos definidos para a PNEA. Institui responsabilidades para a coordenação da PNEA atribuídas à Diretoria de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (DEA/MMA), e pela Coordenação-Geral de Educação Ambiental do Ministério da Educação (CGEA/MEC). (HENRIQUES, TRAJBER, MELLO, LIPAI, CHAMUSCA, 2007). Somente em 2004, o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Educação passam a realizar a Consulta Pública visando uma construção participativa do Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA). FONTE: Adaptado de: <www.revistasustentabilidade.com.br/.../educacao-ambiental/pronea3.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2011. UNI Para aprofundar seus conhecimentos, leia na íntegra os documentos e legislação que integram a Política Nacional do Meio Ambiente - PRONEA, presente no site do MEC/SECAD: MMA/MEC. PRONEA. Brasília: MMA, 2005. Disponível em: <http://portal. mec.gov.br/dmdocuments/publicacao1.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2011. TÓPICO 2 | ASPECTOS LEGAIS E CONCEITUAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 17 A proposta é que se busque sintonia entre a PRONEA e os acordos globais, em particular o Tratado de Educação Ambiental para sociedades sustentáveis e Responsabilidade Global. Sintonizado com o Tratado de Educação Ambiental para sociedades sustentáveis e Responsabilidade Global, o PRONEA apresenta as diretrizes que orientam os educadores: transversalidade e interdisciplinaridade; sustentabilidade socioambiental; democracia e participação social; integração dos sistemas de ensino e desenvolvimento e meio ambiente. FONTE: Adaptado de: <www.sema.rs.gov.br/upload/ProjetoPlanEA-CIEA.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2011. Em síntese, a finalidade da EA é edificar os pilares das sociedades sustentáveis, que envolvem a colaboração dos sistemas sociais para incorporar a dimensão ambiental nas suas atividades de produção e consumo, nos sistemas jurídicos que consolidam normas e condutas e no sistema político-cultural que consolida os espaços democráticos e de Educação Ambiental. A competência para implementar as ações de promoção da educação ambiental é de todos os segmentos sociais e esferas do governo. A atribuição do Governo Federal é de articular ações educativas para proteger, recuperar e potencializar a educação, de maneira a promover mudanças culturais e sociais. DICAS Para complementar os conhecimentos quanto aos avanços da EA no Brasil, sugiro a leitura do texto: HENRIQUES, Ricardo; TRAJBER, Rachel ; MELLO, Soraia; . LIPAI, Eneida M; CHAMUSC, A Adelaide (Orgs). Educação ambiental: aprendizes e sustentabilidade. MEC/ SECAD, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao2. pdf>. Acesso em: 20 jan. 2011. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 18 Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à Educação Ambiental, incumbindo: I- ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; II- às instituições educativas, promover a Educação Ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem; III- aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; IV- aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação; V- às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente; VI- à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais. FONTE: Disponível em: <www.anvisa.gov.br/legis/leis/9795_99.htm>. Acesso em: 23 ago. 2011. 3 A PERMANÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL A aprendizagem ocorre durante toda a vida da pessoa; como direito de todos à educação não se estabelecem limites nem de idade nem de gênero, etnia, raça, religião ou outra categoria excludente: a Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. (art. 2º, da Lei nº 9.394). A teoria e a prática da educação são, por natureza, inclusivas e abrangentes, entendendo que toda a pessoa tem capacidade de aprender em qualquer momento e ciclo da vida, trata-se de pensar a nossa relação de estar no mundo, seja natural ou sociocultural. A partir desta proposição desenvolveram-se propostas de educação ambiental envolvendo múltiplos segmentos da sociedade e da educação, como destaca o art. 3º da lei: TÓPICO 2 | ASPECTOS LEGAIS E CONCEITUAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 19 Atualmente, há experiências de Educação Ambiental envolvendo todos os níveis de Ensino Fundamental, Médio e Superior. Também há avanços significativos nas diferentes esferas da sociedade assumindo corresponsabilidades socioambientais, envolvendo empresas públicas e privadas e movimentos sociais. São amplos movimentos envolvendo a elaboração da Agenda 21, os programas de qualidade total e de gestão ambiental nas empresas, a responsabilidades das instituições de ensino quanto à formação de profissionais tem levado ao lançamento de programas de múltiplas faces, resultando a disseminação ampla da EA no país. No que se refere às políticas ambientais desenvolvidas na esfera governamental, temos iniciativas significativas na esfera federal e na esfera municipal. Entretanto, há que se avaliar a natureza destas iniciativas, pois muitas ações têm sido pouco incisivas ou sem a continuidade que a política pública poderia garantir. Isto é resultado da própria situação de precariedade enfrentado pela educação pública brasileira, traduzida em investimentos insuficientes e o estilo de formação dos licenciados, cuja atuação se restringe a repassar conteúdos, sem refletir sobre o planejamento mais amplo e o propósito do ato de ensinar. Como resultado, a postura do profissional educador está aquém do enfrentamento aos desafios da educação do mundo contemporâneo: uma sociedade da informação dual marcada por um lado pelo estudante com acesso amplo e ilimitado às novas tecnologias da informação e do outro o estudante excluído, enfrentando níveis de analfabetismo dados pelas novas formas de desigualdade social e educacional. 4 A EDUCAÇÃO COMO PROCESSO O art. 1o da Lei da EA a define como um processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Entendida como processo, a EA terá abertura para a construção de relações, distanciando a proposta de gerar um produto único onde as pessoas são treinadas, capacitadas ou formadas para assumirem comportamentos tidos como os mais adequados para com o ambiente. A preocupação é de gerar possibilidades de elaborar e reelaborar programas amplos de educação, coadunada com as próprias mudanças nas relações da sociedade com o conhecimento e as configurações maiscontemporâneas de ensino-aprendizagem. Enquanto processo e não um produto preestabelecido, a educação pode ser atualizada no seu tempo e no espaço. No espaço, considera-se que as sociedades locais, são ora resultado de um território e ora estruturante deste território, resultando em dinâmicas específicas de uso e apropriação dos recursos naturais. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 20 ESTUDOS FU TUROS Na Unidade 3, veremos mais detalhadamente, os passos metodológicos para se efetivar uma educação do cotidiano incluindo exemplos de atividades de educação ambiental efetivadas em cada estágio de desenvolvimento cognitivo do educando. Com base na perspectiva freiriana, o conteúdo da Educação Ambiental provém desta realidade como forma de foco de interesse em que o aprendizado acontece mediado pelas necessidades ou simplesmente pelas observações e reflexão no seu posicionamento no mundo. Esta é uma atitude política em que o processo educativo gera o sentido da participação enquanto possibilidade de crítica e transformação das realidades cujas necessidades fundamentais da vida são ameaçadas. A atitude é, conscientemente, definida pelos sujeitos que se posicionam e se responsabilizam pela existência livre de toda a forma de manipulação política ou de interesses de poder pessoal. A práxis implica a síntese em que teoria e prática se inter-relacionam de modo equitativo e assim provocam o movimento pela educação, que implica a tomada da consciência da realidade, de modo não mais alienado e superficial, mas numa releitura iluminada pela consciência histórica e social dos conteúdos. A realização da práxis pedagógica provoca a emancipação da sociedade de suas relações de dependência. Sob esta ótica, a sociedade vem sendo desafiada a repensar politicamente sua relação com o ambiente, confrontando o modelo de sociedade que se realiza com o consumo para além das reais necessidades humanas, caracterizando a demanda contínua e progressiva de recursos naturais, consumo de energia e geração de trabalho. No contraponto, há a própria limitação conferida pela natureza, cujos recursos tendem ao esgotamento, com tempos geológicos de reposição. Uma educação que se pretende “ambientar” tem o desafio de religar as questões da sociedade e da natureza, todas as dimensões biofísicas e sociais que compõem o desenvolvimento da humanidade no planeta terra. Neste contexto, um programa de Educação Ambiental, começa com a investigação da realidade apresentada em cada sociedade e visa problematizar as relações instituídas no meio ambiente, seja na esfera do trabalho, no espaço doméstico ou no lazer, como nos indica Freire “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, midiatizadas pelo mundo”. TÓPICO 2 | ASPECTOS LEGAIS E CONCEITUAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 21 FIGURA 1 – INTEGRAÇÃO DA PRÁXIS EDUCATIVA COM O MOVIMENTO PARA AS SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS Sociedades Sustentáveis Ações Reflexões Práxis - ação libertadora Participação Política AMBIENTE EDUCAÇÃO Necessidades Limitações FONTE: Adaptado de Sato (2004) Compreender criticamente a realidade dos problemas ambientais envolve uma leitura da realidade local, mas interpretada sob referenciais teóricos mais amplos proporcionados pela pedagogia da autonomia e da libertação (ver figura a seguir), como ressalta Paulo Freire na obra Pedagogia da Autonomia (2002). O entendimento do processo educativo como ato político suscita reflexão sobre que propósito a educação atende; se está a serviço da emancipação política ou da formação para o ajuste do indivíduo na sociedade global. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 22 Esta perspectiva se distancia da educação adestradora, cujo aprendizado ocorre por condicionamento de respostas operantes, apresentada por Burrhus F. Skiner. Entende-se que o comportamento é ensinado por meio de esforços imediatos e contínuos a uma resposta aos estímulos, que induzirão o indivíduo a ter a resposta cada vez mais adequada. A fundamentação deste entendimento está nos experimentos realizados com animais em laboratórios no qual identifica respostas do tipo reflexo, condicionadas ou não, que são emitidas devido a estímulos sensoriais como a salivação em resposta à comida e a contração da pupila diante da luz. Freire (2002) propõe que o aluno como um sujeito social e histórico, com suas próprias experiências traz conhecimentos, portanto o aprendizado e o ato de ensinar são muito mais do que um treinamento similar ao processo operatório realizado no adestramento de animais. Trata-se de sujeitos de FIGURA 2 – PAULO FREIRE E SUA ACUIDADE COMO OBSERVADORA DA REALIDADE FONTE: Disponível em: <http://professoreducacional.blogspot.com/2010_1 0_01_archive.html>. Acesso em: 20 jan. 2011. TÓPICO 2 | ASPECTOS LEGAIS E CONCEITUAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 23 procura, de decisão e de opção. Portanto, sujeitos não meramente reprodutores do conhecimento e aprendizes que reproduzem a realidade, mas são seres de transformação. Como eixo norteador de sua prática pedagógica é possível a formação ética dos educadores, conscientizando-os sobre a importância de estimular os educandos a uma reflexão crítica da realidade em que estão inseridos. Ao abordar a questão ambiental na educação há que se considerar sistemicamente as relações entre o global e o local que ora se distinguem e ora interagem e interatuam, como se refere o art. 4o da Lei no 9 que define para a EA uma abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais. A tendência da educação foi de apresentar os problemas sociais e ambientais sem situá-los espacialmente e socialmente, eram problemas distantes da realidade do educando, tornando o processo de ensino e aprendizagem sem foco de interesse, o conteúdo ministrado é apreendido mecanicamente, como uma informação curiosa, mas que não gera um debate, uma compreensão significativa e uma conexão com a sua própria vida, capaz de suscitar um questionamento sobre o estilo de desenvolvimento, o compromisso da sociedade e dos indivíduos quanto à degradação ambiental em curso. De outro lado ao localizar um problema, situando-o no contexto do educando, perde-se a universalidade da questão ambiental no mundo contemporâneo, simplificando a questão com soluções pequenas e individuais de comportamentos, no qual não descolados. A Educação Ambiental visa lançar questionamentos sobre a forma como os indivíduos e as coletividades se posicionam neste mundo, gerando profundas transformações nas condições de vida do planeta Terra. Ao propor a contextualização do cotidiano, a dialogicidade, a relação da teoria com a prática o objetivo da proposta de Paulo Freire é passar de uma visão de mundo baseada no senso comum para uma visão crítica da realidade, capaz de estimular a transformação, gerando-se então uma ação pedagógica fundamentalmente libertadora. A educação é o lócus da reflexão, o que implica relacionar o mundo vivido, as experiências cotidianas com as teorias. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 24 DICAS Caro acadêmico! Para aprofundar os conhecimentos sobre a abordagem de Paulo Freire, sugerimos a leitura do texto: PERNAMBUCO, Marta Maria; SILVA, Antonio Fernando G. da. Paulo Freire: a educação e a transformação do mundo In: CARVALHO, Isabel Cristina Moura de; GRÜN, Mauro; TRAJBER, Rachel (Orgs). Pensar o Ambiente: bases filosóficas para a Educação Ambiental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2006. Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao4.pdf>. Acesso em: 20 jan. de 2011. 25 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você viu que: • A Lei da EA foi aprovada em 1981, sendo constituinte da Política Nacional do Meio Ambiente. Garante o direito de todos à educação permanente, para todos os níveis de ensino e escolaridade, integrada e comprometida coma realidade e complexidade da questão ambiental. • A Constituição Federal de 1988 reitera a promoção da EA como um direito de todos. Já a IDB prevê que o ensino fundamental forme para o conhecimento e valores compreensivos quanto aos ecossistemas e à realidade socioambiental do país. • Nos anos 90, o planejamento passa a ter uma conotação participativa, em especial em 2004, o Ministério da Educação instituiu as Consultas Públicas como forma de definição da Política Nacional. • O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global e o PRONEA orientam os educadores para práticas pedagógicas fundamentadas na transversalidade e interdisciplinaridade; sustentabilidade socioambiental; democracia e participação social; integração dos sistemas de ensino e desenvolvimento e meio ambiente. • A EA não está restrita a um momento do currículo escolar ou a uma série do ensino fundamental, deve ser permanente na escola, estar no Ensino Médio e Fundamental e permanecer durante toda a vida do cidadão, ocupando os espaços de formação não formais, tais como os meios de comunicação e os programas de capacitação do mundo do trabalho. A responsabilidade para a execução, implementação das ações formais e não formais é dos órgãos integrantes do SISNAMA, as empresas, instituições entidades de classe. • Educação é compreendida como um processo a ser planejado e implementado por educadores atuantes e criativos, engajados na construção de novos valores de sustentabilidade e corresponsabilidade. Isto exige uma atitude constante de atualização no tempo e no espaço, com a leitura crítica da realidade, em particular quanto aos modos de uso e apropriação dos recursos naturais. • Como A EA pressupõe fortes vínculos com a realidade, são salutares as contribuições quanto à perspectiva Freiriana de educação como base teórica e metodológica. Entre os ensinamentos de Paulo Freire destacamos: a educação como um processo que parte de sujeitos vinculados a um mundo real, o conteúdo de ensino e aprendizagem proveem desta realidade; as necessidades são o foco de interesse do ensino-aprendizagem; a educação visa à formação política e à responsabilidade dos sujeitos como agentes figurativos dos processos históricos, transformação social e de construção da realidade. 26 • A práxis implica a síntese em que teoria e prática se inter-relacionam de modo equitativo e assim provocam o movimento pela educação, que implica a tomada da consciência da realidade, de modo não mais alienado e superficial, mas numa releitura iluminada pela consciência histórica e social dos conteúdos. • O entendimento do processo educativo como ato político suscita reflexão sobre que propósito a educação atende; se está a serviço da emancipação política ou da formação para o ajuste do indivíduo à sociedade global. • Ao propor a contextualização do cotidiano, a dialogicidade e a relação da teoria com a prática o objetivo da proposta de Paulo Freire é passar de uma visão de mundo baseada no senso comum para uma visão crítica da realidade, capaz de estimular a transformação, gerando-se então uma ação pedagógica fundamentalmente libertadora. 27 1 Faça uma síntese dos artigos mais importantes da Lei no 9.755/99, comentando sobre possíveis impasses para implementar os pressupostos legais. 2 No Brasil, a legislação, muitas vezes, tende a regular as situações ideais sobre a forma como a sociedade deve proceder. Porém, no campo ambiental há grande distanciamento entre os princípios legais e a sua execução efetiva. Como a consulta participativa na elaboração do PRONEA pode ajudar a solucionar estes impasses? 3 Em que consiste o planejamento educacional numa perspectiva processual? 4 Quais são as contribuições de Paulo Freire para uma proposta de educação voltada para a formação de novos valores de sociedade e sua relação com o ambiente? 5 Por que a EA valoriza uma formação de um agente ativo, capaz de decisão política e de exercício da cidadania? 6 A perspectiva da práxis pedagógica é amplamente conhecida entre os educadores, porém poucos fazem a opção por esta proposta. Quais os possíveis esforços pessoais e mudanças institucionais para que os educadores optem pela proposta freiriana de ensino-aprendizagem? AUTOATIVIDADE 28 29 TÓPICO 3 PLANEJAMENTO E ATUAÇÃO DO EDUCADOR AMBIENTAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Não nasci marcado para ser professor assim. Vim me tornando desta forma no corpo das tramas, na reflexão sobre a ação, na observação atenta a outras práticas ou à prática de outros sujeitos, na leitura persistente, crítica, de textos teóricos. Não importa se com eles estava de acordo ou não. [...] Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos na prática social que tomamos parte. (FREIRE, 1983, p. 87). Neste tópico serão apresentadas sugestões para o exercício do educador ambiental, que inicia seu trabalho no planejamento educacional e avança com a sua inserção tanto na política pública, como na gestão empresarial. Sua atuação pode ser diferenciada se engajada e articulada de modo participativo e cooperativo, assim propiciando ações coletivas propensas a resultados ampliados. Observe que o educador engajado na promoção de novos ideários, que visa motivação dos sujeitos para a participação, precisa assumir uma postura que vai além do simples repasse de informação ou de quem realiza a formação. O educador age como um facilitador dos processos de ensino aprendizagem, na medida em que visa o efetivo envolvimento e compromisso do educando na busca pelo conhecimento e vivência de novas experiências de vida e de relacionamento com o mundo. 2 A POLÍTICA, GESTÃO E ENGAJAMENTO PROFISSIONAL NA PROMOÇÃO DA EA A Educação Ambiental está mais propriamente inserida na proposta de gestão ambiental integrada, ou seja, no planejamento participativo que integra os aspectos físicos, químicos e biológicos com os aspectos socioeconômicos. Constitui-se a leitura dos modos de apropriação social dos recursos naturais, numa perspectiva sistêmica. 30 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL O PRONEA (BRASIL, 2010) sugere as seguintes formas de atuação para o educador e o gestor ambiental: • influenciando no planejamento das políticas públicas, participando dos espaços participativos (conselhos, fóruns comitês etc.); • promovendo a transversalidade da questão ambiental, disseminando-a nos diferentes setores da gestão pública e privada (secretarias de obras, turismo, saneamento, saúde, educação, urbanismo, agricultura, indústria e comércio); • construindo e implementando a Agenda 21, nas mais diversas esferas de atuação (município, escolas, nações e regiões); • estimulando a formação, qualificação e aperfeiçoamento em Educação Ambiental dos trabalhadores e da população em geral; • realizando diagnósticos socioambientais, inserindo matrizes de acompanhamento e monitoramento dos impactos ambientais gerados pelos empreendimentos. Nesta perspectiva, ao atuar com adultos, o gestor ambiental é o facilitador dos processos de ensino-aprendizagem, para instituir mudanças significativas nas relações sociedade/natureza. O facilitador tem a tarefa de motivar os participantes para que se responsabilizem por sua própria experiência de aprendizagem, garantindo, assim, a autonomia na busca da aprendizagem após o momento da capacitação. A aprendizagem não é apenas resultado do esforço de quem ensina, mas, de antemão, depende da vontade de aprender. Portanto, a primeira tarefa do educador é motivar o educando para a busca da aprendizagem. A aprendizagem é resultado de um desenvolvimento autônomo, no qual os capacitadores podem colaborar como facilitadores e mediadores desta busca. Já, para o educador ambiental que trabalha em instituições de ensino, suas ações consistem em: • colaborar no planejamento dos projetos políticos pedagógicos, de modo a contemplar a educação ambiental conforme a legislação; • promover a transversalidade da questãoambiental no currículo contribuindo com a capacitação dos educadores e na elaboração de projetos integrados com as mais diversas áreas do conhecimento e a troca de experiências entre os educadores e assim, estimulando a formação de coletivos de educadores; TÓPICO 3 | PLANEJAMENTO E ATUAÇÃO DO EDUCADOR AMBIENTAL 31 • viabilizar a participação e automobilização dos jovens e crianças para com as questões ambientais emergentes, em especial as relacionadas diretamente com a sociedade local; • estimular a formação, qualificação e aperfeiçoamento em Educação Ambiental dos trabalhadores e da população em geral, quando atua nos cursos profissionalizantes ou de formação universitária. 3 OS COLETIVOS JOVENS Em 2003, o Ministério do Meio Ambiente lançou a campanha Vamos Cuidar do Brasil, com a Conferência Nacional do Meio Ambiente, reunindo jovens e infantojuvenis de dezesseis mil escolas, das mais diversas procedências do país. A Conferência primou pelo processo participativo das comunidades e das escolas, elaborando uma proposta de política ambiental de caráter sistêmico, inter e multidisciplinar; com estratégias de gradativa implementação tanto para a educação presencial com a difusa e a distância. Com este programa, o MEC passa a atuar para além da formação de professores do Ensino Fundamental (com ênfase da 5ª à 9ª série) e na elaboração de materiais didáticos. Um dos programas mais amplos de educação não formal, previstos na política nacional, foi desencadeado com a juventude. Em todos os estados foram criados os Coletivos Jovens (CJ) de Meio Ambiente, com o objetivo de criar instrumentos de gestão para a afirmação cidadã. Motivados, os grupos organizados ou indivíduos se colocam num movimento autônomo e horizontal, por fomentar o empoderamento e a participação do segmento jovem nas ações relacionadas com as questões socioambientais emergentes Os coletivos são espaços de interlocução, implementados pelo MEC, MMA e Secretaria Nacional de Juventude; coordenados por educadores locais que estimulam a mobilização de adolescentes para a realização da Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente. Foi realizada uma conferência em 2003, envolvendo 5.658.877 estudantes e professores, 15.452 escolas. Como resultado foi elaborada a Carta Jovens Cuidando do Brasil, a criação da Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida nas Escolas-Com-Vidas, do Programa Vamos Cuidar do Brasil e a criação dos Coletivos Jovens de Meio Ambiente. FONTE: Adaptado de: <http://www.scribd.com/doc/56976518/12/A-Conferencia-Nacional-Infanto- Juvenil-pelo-Meio-Ambiente-representa-um>. Acesso em: 23 ago. 2011. 32 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL FIGURA 3 – PROGRAMAS INTEGRADOS DE EA QUE VISAM CAPACITAR E FORTALECER GRUPOS DE EDUCADORES E EDUCANDOS PRESENCIAL Formação Continuada Material Didático DIFUSA Conferências de Meio Ambiente nas escolas Mobilização AÇÕES ESTRUTURANTES COM-VIDAS Coletivos Jovens A DISTÂNCIA Rede de Educação para a Diversidade ED U C A Ç ÃO A MB IEN TAL N AS ESCOLAS FONTE: Disponível em: <www.mma.gov.br/propostasdasescolas>. Acesso em: 20 jan. 2011. Os coletivos jovens fazem parte de programas integrados de Educação Ambiental nas escolas que incluem programas de formação continuada, com a organização de material didático: a) visando à formação continuada; b) a formação de uma rede educação para diversidade na categoria da educação à distância; c) ações estruturantes COM-VIDAS que originam os coletivos jovens; d) as conferências de Meio Ambiente nas escolas de abrangência difusa (Figura 3). Com a intenção de construir um processo permanente de Educação Ambiental na escola e na comunidade, o programa contemplou quatro dimensões: 1 Capacitação: que consistiu em programas de formação de educadoras(es) ambientais e educandos (coletivos jovens) para a participação. 2 Inclusão digital: implementando e mantendo um sistema informatizado, disponibilizando aplicativos para pesquisa escolar sobre o meio ambiente. Em 2005, foi realizada a II Conferência. Na ocasião foi elaborada a Carta das Responsabilidades – Vamos Cuidar do Brasil, que contribui para o Programa Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas e reafirma a importância dos coletivos. A carta é um manifesto de compromisso dos jovens com a construção de uma “sociedade justa, feliz e sustentável” e com “responsabilidades e ações cheias de sonhos e necessidades”. (HENRIQUES; TRAJBER; MELLO; LIPAI; CHAMUSCA, 2007). TÓPICO 3 | PLANEJAMENTO E ATUAÇÃO DO EDUCADOR AMBIENTAL 33 3 Organização social : constituição de Conselhos de Meio Ambiente e Qualidade de Vida nas Escolas, estabelecendo o controle social da Educação Ambiental na escola e a implementação da Agenda 21 Escolar, dando suporte a atividades curriculares e extracurriculares das escolas. 4 Pesquisa-ação: incentivo a projetos de pesquisa comprometidos com a implementação de ações de transformação da realidade, unindo os conhecimentos aprofundados, os resultados de pesquisas locais e potencializando a ação das ONGs de um mesmo território, com vista à construção de projetos coletivos de intervenção transformadora. ESTUDOS FU TUROS Na Unidade 2, veremos mais detalhadamente, como se efetiva a proposta de pesquisa-ação e de participação na Educação Ambiental. Os princípios que orientam a formatação dos coletivos são a autonomia no ato de aprender traduzida pela ideia de que ‘jovem escolhe jovem’, ‘jovem educa jovem’ e da interlocução na qual ‘uma geração aprende com a outra’. O movimento gerado com os debates em conferências permitiu a construção de uma identidade de educadores ambientais, a formação política dos jovens e a continuidade do movimento para novos participantes oriundos das ações de mobilização. O objetivo é superar a visão estreita no qual os dois termos – Educação e Ambiental que eram considerados meros adjetivos qualitativos nos sistemas de meio ambiente passam a ser substantivos, onde processos de educação se tornam mais concretos; e estejam efetivamente em todos os níveis e modalidades de ensino: da gestão do espaço escolar ao acadêmico mais amplo. DICAS Caro acadêmico! Para aprofundar os seus conteúdos e para se inteirar dos programas governamentais, sugerimos a consulta na Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental no site <www.mma.gov.br> e do site: <www.mec.gov.br/ secad/ educambiental>, acesse o material Coletivos Jovens de Meio Ambiente – Manual Orientador (2005). Fique atento à agenda do MDA e do MEC e participe desta mobilização nacional pela construção de sociedades sustentáveis. 34 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você viu que: • A Educação Ambiental é também uma tarefa do gestor ambiental, em especial quando realiza um trabalho de natureza participativa envolvendo processos de conscientização. • A atuação do gestor e do educador é comum, como: atores que contribuem para as políticas públicas, na busca de ações integradas formadas por equipes inter e transdisciplinares, na construção da Agenda 21, na formação ambiental de trabalhadores, no diagnóstico socioambiental. • O educador é entendido como facilitador da aprendizagem, assim fazendo a motivação para que a aprendiz se desenvolva autonomamente. • No espaço escolar o educador planeja, promove a transversalidade no tratamento da questão ambiental, envolve o jovem e as crianças para a questão, formar profissionais. • O MMA tem estimulado a participação dos jovens para promover a Educação Ambiental e o desenvolvimento sustentável nas localidades. • Os educadores viabilizaram a organização das conferências, estimulando os jovens a se organizarem. Porém, a proposta dos coletivos segue o princípio da autonomia expresso na prática do autoaprendizagem e da construção do conhecimento no grupo onde “jovem educa jovem”. • O programa contemplou a capacitação, inclusão digital, constituição dos conselhos e participação, pesquisa-ação. • Os coletivos jovens fazem partede programas integrados de educação ambiental nas escolas que incluem programas de formação continuada, com a organização de material didático visando à formação continuada; à formação de uma rede educação para diversidade; a ações estruturantes COM-VIDAS e às conferências de Meio Ambiente. 35 1 Com base no questionamento apresentado pelo texto: “O que aprendeu hoje na escola?”, faça as seguintes atividades: a) As instituições de ensino que você compartilha (teus amigos, irmãos, filhos ou sobrinhos) têm superado esta visão de mundo acrítica, descolada da natureza socioeconômica e política tão presente na sociedade contemporânea? b) Perceba que a escola ao passar as informações de modo positivo, acaba construindo uma falsa impressão de realidade, marcando um mundo idealizado de ordem e progresso conferido por atuações nem sempre democráticas, dando inclusive uma falsa impressão de liberdade, paz, ética na política, respeito à hierarquia e status social. Faça um comentário sobre esta afirmação destacando o quanto estes ensinamentos reafirmam o status social de uma sociedade marcada pelas desigualdades, o clientelismo político, a reprodução da violência e a alienação social. c) Como estes ensinamentos positivos e acríticos podem estar distantes dos propósitos da Educação Ambiental? O que aprendeu hoje na escola? Que aprendeu hoje na escola, Querido filhinho meu? Que aprendeu hoje na escola, Querido filhinho meu? Aprendi que Washington nunca mentiu, Aprendi que um soldado quase nunca morre, Aprendi que todo mundo é livre, Foi isso que o mestre me ensinou, E foi o que aprendi hoje na escola, Foi o que na escola eu aprendi. Que aprendeu hoje na escola, Querido filhinho meu?(...) Aprendi que o policial é meu amigo, Aprendi que a justiça nunca morre, Aprendi que o assassino tem o seu castigo, Mesmo que a gente se equivoque às vezes, E foi o que aprendi hoje na escola, Foi o que na escola eu aprendi. AUTOATIVIDADE 36 Que aprendeu hoje na escola, Querido filhinho meu?(...) Aprendi que o nosso governo deve ser forte, Que está sempre certo e nunca erra, Que os nossos chefes são os melhores do mundo E que os elegemos uma e outra vez, E foi o que eu aprendi na escola, Foi o que na escola eu aprendi. Que aprendeu hoje na escola, Querido filhinho meu? (...) Aprendi que a guerra não é tão ruim assim, Aprendi sobre as grandes em que entramos, Que lutamos na França e na Alemanha, E que, talvez um dia, eu tenha uma chance, E foi o que eu aprendi na escola, Foi o que na escola eu aprendi. *Neil Postman e Charles Weingartner. Trad. Álvaro Cabra FONTE: Disponível em: <http://professoreducacional.blogspot.com/2010_10_01_archive.html>. Acesso em: 24 mar. 2011. 2 Defina os coletivos jovens, destacando a importância da participação social na consolidação de novos compromissos da sociedade com o meio ambiente. 37 TÓPICO 4 FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO CRÍTICO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A Educação Ambiental, pela sua abrangência e ousadia, precisa de uma abordagem pedagógica que tenha como desafio principal: a formação de sujeitos críticos, autônomos e participativos. Vários movimentos foram se constituindo, tendo como meta tirar a educação do marasmo que a acercava. Isto porque as tecnologias fazem com que a informação flua com velocidade e alcance midiático, a ponto da educação escolar perder sua importância. Por outro lado, a sociedade da informação tende a colocar os estudantes no contexto do mundo virtual, descolado da formação prática e de totalidade experimentada na vida real. NOTA Caro acadêmico! Neste tópico você verá as etapas do trabalho de um educador ambiental e as contribuições da teoria crítica da educação na formação do sujeito ecológico crítico. Por isso, tenha muita atenção para cada item apresentado. 2 ETAPAS DO PROCESSO PEDAGÓGICO Conforme as recomendações da Conferência de Tbilisi (1977), a EA busca desenvolver novas formas de conduta a respeito do meio ambiente. Desde a sua proposição, um conjunto de objetivos foi estruturado, com a finalidade de constituir-se uma nova consciência planetária. Para atingir os objetivos propostos, Dias (2001) sugere quatro etapas a serem trabalhadas pelos educadores: a) Sensibilização: implica identificar a percepção espacial e temporal dos indivíduos e da sociedade sobre o ambiente local e global, resgatando uma base ética e afetiva mínima de sustentação pessoal e grupal para o desenvolvimento de uma consciência planetária. Nesta etapa, o educador levanta quais são as representações sociais, as ideias de natureza que sustentam as práticas dos indivíduos com o meio ambiente. Além disso, estabelece as situações de ensino-aprendizagem de convivência com a natureza. 38 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL b) Conhecimento e habilidades: por meio de uma base teórico-conceitual, os grupos e organizações reconhecem a crise ambiental e suas consequências, compreendendo e diagnosticando o ambiente, os modos de apropriação social, suas interações e resultados na dinâmica dos ecossistemas e da biosfera. O educador faz o levantamento (participativo) dos problemas ambientais que fazem parte do contexto dos estudantes e provoca a redefinição do problema na perspectiva da práxis pedagógica (interação dialética teoria/prática). c) Mobilização e projeção: os cidadãos sensibilizados e com conhecimento do assunto constroem estratégias de organização comunitária que vão dar o direcionamento e a sustentação grupal às ações ambientais. Definem, ainda, prioridades e parcerias para ação ambiental, construindo projetos comuns de intervenção. Nesta etapa, o educando é chamado para ir além do mero domínio do assunto, o apelo pedagógico está dirigido para o desenvolvimento da criatividade, na busca de soluções para os problemas diagnosticados e na habilidade de articulação política. d) Ação ambiental, participação e multiplicação: os diversos atores se organizam, distribuindo papéis e realizando tarefas para a concretização do projeto comunitário, participando ativamente e buscando ampliar o alcance socioambiental das ações realizadas, por meio de novos parceiros. Nesta etapa, o educando desenvolve a habilidade do fazer. Esta é a etapa mais desafiante, pois as escolas não estão habituadas à participação social e as comunidades estão desarticuladas e desmobilizadas. Essas etapas não devem ser vistas como momentos separados ou de modo hierárquico, em que uma se sobrepõe à outra. Assim, a fase de diagnóstico ainda mantém o objetivo da sensibilização, pois ela desvela a dureza da realidade. O sucesso do planejamento, apresentado na fase de mobilização, depende do conhecimento anteriormente trabalhado e das novas demandas que vão surgindo. A ação só ocorre se houver uma educação para a autonomia, formando sujeitos criativos, capazes de conhecer e dispostos a lutar pela transformação social quando motivados pelo sentimento de afetividade pela natureza. ATENCAO Tais etapas consolidam uma educação, essencialmente política, por buscar a formação de cidadãos atuantes, críticos e corresponsáveis pelo meio ambiente no qual convivem e trabalham. Também, tenta-se buscar uma educação inclusiva, não apenas para as crianças e adolescentes em idade escolar, mas para as comunidades, consubstanciando uma educação permanente nos espaços de produção e de lazer do cidadão. TÓPICO 4 | FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO CRÍTICO 39 DICAS Para saber mais sobre as propostas pedagógicas de educação para a cidadania, consulte o site: <http://www.paulofreire.org>. Veja os artigos disponíveis sobre a temática da cidadania planetária e ecopedagogia. 3 CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA CRÍTICA DA EDUCAÇÃO No tópico anterior, vimos quais são as etapas necessárias para a formação de um cidadão atuante. Agora, veremos como o educador pode atingir o objetivo de formação do sujeito ecologicamente crítico. A formação de um sujeito ecológico crítico é um desafio, porém a formação para a cidadania já é uma meta dopróprio Ministério da Educação e faz parte de um movimento mundial que promove a Teoria Crítica da Educação. Neste tópico, veremos em que consiste a Teoria Crítica da Educação, quais são os principais autores que a constituíram e como a Educação Ambiental está inserida nesta abordagem. Neste sentido, dar-se-á ênfase às contribuições da Escola de Paulo Freire, em especial, na educação com adultos, que é o público estratégico de atuação do gestor ambiental. No Brasil, a EA tem contribuições da teoria crítica da educação, especialmente, nas obras de Paulo Freire e Moacir Gadotti. Estes autores propõem uma educação do cotidiano voltada para cidadania e autonomia na reflexão-ação. Nesta perspectiva, é introduzido o conceito de ecopedagogia que consiste na formação de um compromisso societário para com a sustentabilidade e para com a solidariedade planetária. De modo complementar, introduz-se a perspectiva da sociopoética: uma educação ativa de resgate da dimensão subjetiva dos valores, desejos e a afetividade na construção das relações sociedade/natureza. Em síntese, visa a não “objetivização” da natureza e dos indivíduos, neles resgatando o exercício da cidadania ativa. 40 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESTUDOS FU TUROS Para saber mais sobre o modo como a perspectiva da sociopoética pode ser utilizada, na Unidade 3, são apresentados exemplos de atividades, tendo apoio das mais diversas formas de expressão artística (música, maquetes, pinturas, teatro, modelagens, entre outras). A abordagem sugerida para o educador ambiental congrega ideários humanistas e cognitivos (de Pierre Giroux e Jean Piaget); fenomenológicos (de Buber e Pantillon) e sociocultural de Paulo Freire. (PELICIONEI, 2004). Paulo Freire desempenha especial influência nas experiências em Educação Ambiental, por ser a realidade em que o educando se insere e o foco de interesse para a aprendizagem. Retoma-se o compromisso da educação como reflexão crítica, reconhecendo a desigualdade nas relações sociais e no acesso desigual aos recursos. Como resultado, busca-se uma educação do pensar, oposta à educação bancária (que leva à acomodação do indivíduo na sociedade, à não participação política e ao não reconhecimento do fazer histórico). A pedagogia de Paulo Freire contribui para a Educação Ambiental em dois movimentos: primeiramente, ao buscar aprendizados que possibilitem ações participativas e políticas, capazes de transformar a realidade; e, num segundo plano, quando o educando desenvolve suas habilidades de reflexão e de ação e, como pensador autônomo, exerce a problematização da realidade. Neste sentido, o compromisso ético se traduz na vontade de atuação profissional e individual do cidadão, que se sente corresponsável pela forma de coexistir no planeta Terra. Consiste num processo educativo em que interagem as relações do eu com os outros na sociedade. O desenvolvimento sustentável pressupõe justamente esta postura ativa e comprometida do indivíduo, que redefine suas necessidades e estabelece limitações nas formas de sobrevivência das coletividades. DICAS A reflexão que segue sintetiza parte das ideias do texto “O método Paulo Freire”, de Sonia Couto Feitosa. A autora faz uma síntese das contribuições de Paulo Freire ao método de prender. Este e outros materiais bibliográficos do grupo estão disponíveis no site: <www.paulofreire.org.br>. TÓPICO 4 | FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO CRÍTICO 41 3.1 CONHECIMENTO DO CONTEXTO E DEFINIÇÃO DOS TEMAS GERADORES Paulo Freire apresenta uma grande contribuição para o paradigma da educação popular no Brasil e no mundo. Seus pressupostos de ensino- aprendizagem têm por base o diálogo, a articulação da escola com a sociedade e o desenvolvimento da consciência crítica através da abordagem histórica. O educador sugere que a aprendizagem se constitui mais facilmente caso seja utilizado o próprio universo vocabular do contexto do educando. Uma primeira tarefa do educador é compreender esse universo, identificando temas geradores e, assim, aproximar os conteúdos de ensino ao mundo vivido pelo educando. Na tematização, busca-se a representação de um aspecto da realidade, de uma situação existencial construída pelo educando, que o interpreta e lhe atribui significado. O ponto de partida para o desencadeamento do aprendizado do educando requer o estudo da sua realidade, de como ele a percebe e a sente, o que vai além de um simples levantamento da situação local. Consiste num processo contínuo de problematização da realidade, englobando as dimensões política, econômica, social, cultural e ecológica como forma de busca de uma visão não fragmentada do mundo. Nesta maneira de conhecer a realidade, as questões ambientais podem ser identificadas sem cair no erro da simplificação. Os problemas ambientais são originados pela maneira como a sociedade vem se desenvolvendo, priorizando o crescimento econômico à custa da exploração predatória dos recursos naturais. Portanto, as disciplinas diretamente associadas às questões ambientais, como a Biologia e a Geografia, ao tomar para si a responsabilidade de fazer Educação Ambiental, não poderão trazer uma compreensão mais ampla da questão ambiental. Além disso, quando os conteúdos tratam de ecossistemas ou situações em que o educando não se identifica, não há o chamado para a responsabilidade e, portanto, se distancia de uma educação para a cidadania. Esse deslocamento de realidade resulta no desinteresse do educando pelo espaço escolar ou no descolamento dos conteúdos de ensino das aplicações do fazer cotidiano, o que é um dos grandes motivadores da evasão escolar. Ao se dissociar o conteúdo da realidade social e do mundo do trabalho, o aprender perde o sentido para as classes populares, que apresentam muitas necessidades imediatas a serem satisfeitas. Os conteúdos contextualizados dão sentido à caminhada do educando, ou seja, uma educação em que o sentimento, a intuição, a emoção, a vivência e a experiência constituem o móvel da formação do cidadão ativo e corresponsável, como destacam Gutiérrez e Prado (1999, p. 63): Caminhar com sentido significa, antes de tudo, dar sentido ao que fazemos, compartilhar sentidos, impregnar de sentido as práticas da vida cotidiana e compreender o sem-sentido de muitas outras práticas que aberta ou sorrateiramente tentam se impor. 42 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL A expressão “educar é caminhar com sentido” foi desenvolvida por Gutiérrez e Prado (1999, p. 63) e, posteriormente, é reconfigurada no contexto da sociopoética desenvolvida por Jacques Gauther. (CARVALHO, 2004). Ao trazer para os conteúdos de aprendizagem temas do contexto ou situações que fazem parte do universo de preocupações do educando, coloca- se a própria complexidade da realidade em debate, o que não se encaixa nas abordagens cartesianas que tendem a compartimentalizar, fragmentar e afastar o conteúdo a ser apreendido da realidade de vida de quem apreende. Estão enumeradas, na sequência, algumas premissas fundamentais a serem consideradas no processo educativo que visa à emancipação do sujeito: • Promover a vida a partir do cotidiano do sujeito consiste em partir do que se sabe para poder saber melhor, e não partir do que sabemos ou pensamos que sabemos. • Somente com a escuta é possível identificar os desejos, as representações sociais e as necessidades. Busca-se um educando que seja o sujeito do saber e não alguém que está em unção do desejo de saber dos outros. • O cotidiano é o instrumental de leitura da realidade para que o indivíduo a compreenda e possa interferir sobre ela. • A leitura do cotidiano é o início da abertura para a reflexão. Após seu reconhecimento, é preciso realizar um exercício de reflexão, como destaca Freire (1978, p. 110): “qualquer lugar em que tomamos distância do contexto concreto, exercemos uma reflexão crítica sobre a prática, temos nele um contexto teórico, uma escola no sentidoradical que a palavra deve ter”. • Ao abrir-se para o universo do conhecimento, o sujeito começa a vislumbrar outras possibilidades e sempre novas necessidades de conhecer. O resultado é a construção da cidadania, coberta de uma nova consciência e um novo saber, que o insere num contexto social mais amplo, assumindo uma consciência planetária de ser e de estar no mundo. Para melhor entender este processo pedagógico é preciso ter clareza dos princípios que constituem o método Paulo Freire. Primeiro é relativo à forma de se promover a ampliação da visão de mundo que só acontece quando a relação professor/aluno é mediatizada pelo diálogo, assim rompendo com a postura da comunicação unidirecional onde o professor realiza um monólogo daquele que, achando-se saber mais, deposita o conhecimento, como algo quantificável, mensurável naquele que pensa saber menos ou nada saber [...]. “A atitude dialógica é, antes de tudo, uma atitude de amor, humildade e fé nos homens, no seu poder de fazer e de refazer, de criar e de recriar”. (FREIRE, 1987, p. 81). TÓPICO 4 | FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO CRÍTICO 43 Para que a relação dialógica se estabeleça é preciso primeiro definir o conteúdo programático a ser apresentado visando a proximidade entre os universos de conhecimento, assim evitando relações sujeito/objeto, no qual o educador define o que ensinar e como aprender. Nesta posição, o professor não é simplesmente o detentor do saber, mas o animador que precisa gerar o questionamento e o debate problematiza as discussões e faz emergir as diferenças e experiências, as suas leituras do mundo e sua bagagem cultural assim buscando conhecer o universo vocabular dos educandos, o seu saber traduzido através de sua oralidade. 44 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL LEITURA COMPLEMENTAR CONTRIBUIÇÃO DE PAULO FREIRE AO PENSAMENTO PEDAGÓGICO MUNDIAL Moacir Gadotti As teorias de Paulo Freire cruzaram as fronteiras das disciplinas, das ciências, para além da América Latina. Ao mesmo tempo, as suas reflexões foram aprofundando o tema que ele perseguiu por toda a vida – a educação como prática da liberdade –, suas abordagens transbordaram para outros campos do conhecimento, criando raízes nos mais variados solos – desde os mocambos do Recife às comunidades burakunins do Japão -, fortalecendo teorias e práticas educacionais, bem como auxiliando reflexões, não só de educadores, mas também de médicos, terapeutas, cientistas sociais, filósofos, antropólogos e outros profissionais. Seu pensamento é considerado um modelo de transdisciplinaridade. Não podemos ver Freire apenas como um educador de adultos ou como um acadêmico, ou reduzir sua obra a uma técnica ou metodologia. Ela deve ser lida dentro do contexto da “natureza profundamente radical de sua teoria e prática anticolonial e de seu discurso pós-colonial”, como nos diz Henry Giroux (in Peter Maclaren and Peter Leonard, organizadores, Paulo Freire: a Critical Encounter, Routledge, 1993, p. 177). Isso nos vai mostrar que Freire assumiu o risco de cruzar fronteiras para poder ler melhor o mundo e facilitar novas posições, sem sacrificar seus compromissos e princípios. As barreiras e fronteiras estão sempre à nossa volta. Os intelectuais e educadores que ocupam fronteiras muito estreitas não percebem que elas também têm a capacidade de aprisioná-los. Nesse sentido, é preciso relevar a importância da obra de Paulo Freire em termos mais globais. Seria ingênuo considerar a sua pedagogia como uma pedagogia só aplicável no chamado “Terceiro Mundo”. As primeiras experiências de Paulo Freire com a educação de adultos datam da década de 50, no Nordeste brasileiro, aplicando o método que leva o seu nome, passando pelo Chile, na década de 60, e auxiliando a reconstrução pós-colonial de novos sistemas educacionais, em diversos países da África, na década de 70. Voltando ao Brasil, depois de dezesseis anos de exílio, envolveu- se, na década de 80, na construção democrática da escola pública popular na América Latina. A última grande experimentação prática de suas ideias deu-se, no início da década de noventa, em São Paulo (Brasil), onde foi Secretário de Educação, promovendo a formação crítica do professor, a educação de adultos, a reestruturação curricular e a interdisciplinaridade. TÓPICO 4 | FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO CRÍTICO 45 O que oferecia ele de tão original para tornar-se conhecido internacionalmente? Numa época de educação burocrática, formal e impositiva, ele se contrapôs a ela, levando em conta as necessidades e problemas da comunidade e as diferenças étnico-culturais, sociais, de gênero, e os diferentes contextos. Ele procurava favorecer, com vistas ao poder, as pessoas mais necessitadas para que elas mesmas pudessem tomar suas próprias decisões, autonomamente. Seu método pedagógico aumentava a participação ativa e consciente. O pensamento de Paulo Freire pode ser relacionado com o de muitos educadores contemporâneos. Podemos encontrar, por exemplo, grande afinidade entre Paulo Freire e o revolucionário educador francês Célestin Freinet (1896- 1966), na medida em que ambos acreditam na capacidade de o aluno organizar sua própria aprendizagem. Freinet deu enorme importância ao que chamou de “texto livre”. Como Paulo Freire, utilizava-se do chamado método global de alfabetização, associando a leitura da palavra leitura do mundo. Insistia na necessidade, tanto da criança quanto do adulto, de ler o texto, entendendo-o. Como Paulo Freire, preocupou-se com a educação das classes populares. Seu método de trabalho incluía a imprensa, o desenho livre, o diálogo e o contato com a realidade do aluno. Embora Paulo Freire não defenda o princípio da não diretividade na educação, como faz o psicoterapeuta Carl Rogers (1912-1987), não resta dúvida de que existem muitos pontos comuns nas pedagogias que eles defendem, sobretudo no que diz respeito à liberdade de expressão individual, à crença na possibilidade dos homens resolverem, eles próprios, seus problemas, desde que motivados interiormente para isso. Para Rogers, assim como para Paulo Freire, a responsabilidade da educação está no próprio estudante, possuidor das forças de crescimento e autoavaliação. A educação deve estar centrada nele, ao invés de centrar-se no professor ou no ensino; o aluno deve ser senhor de sua própria aprendizagem. E a aula não é o momento em que se deve despejar conhecimentos no aluno, nem as provas e exames são os instrumentos que permitirão verificar se o conhecimento continua na cabeça do aluno e se este o guarda do jeito que o professor o ensinou. A educação deve ter uma visão do aluno como pessoa inteira, com sentimentos e emoções. O que tem em comum Paulo Freire com Ivan Illich (1926), o filósofo austríaco? Nos dois podemos encontrar a crítica da escola tradicional. Entre a burocratização da instituição escolar atual, os dois demandaram que os educadores buscassem seu desenvolvimento próprio e a libertação coletiva para combater a alienação das escolas, propondo o redescobrimento da autonomia criadora. Apesar destes pontos em comum, existem consideráveis divergências. No trabalho de Ivan Illich, pode-se encontrar certo pessimismo em relação à escola. Ele não acredita que a escola tradicional tenha futuro. Por isso, seria necessário “desescolarizar” a sociedade. Em Paulo Freire encontramos otimismo. A escola pode mudar e deve ser mudada, pois joga um papel importante na transformação social. O que une Illich e Freire é sua crença profunda em revolucionar os conteúdos e a pedagogia da escola atual. Os dois acreditam que essa mudança é, ao mesmo tempo, política e pedagógica e que a crítica da escola é parte de uma crítica mais ampla à civilização contemporânea. 46 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Desde a tese de concurso para a cadeira de História e Filosofia da Educação da Universidade de Pernambuco, Paulo Freire faz referências a John Dewey (1859-1952), citando-lhea obra Democracia e educação, publicada no Brasil em 1936. Essa referência não podia deixar de existir, pois Paulo Freire era um grande admirador da pedagogia de Anísio Teixeira (1900-1971), de quem se considera discípulo e com o qual concordava na denúncia do excessivo centralismo, ligado ao autoritarismo e ao elitismo da educação brasileira. Foi Anísio Teixeira quem introduziu o pensamento de Dewey no Brasil. Como John Dewey (1859-1952), o conhecido filósofo e educador norte- americano, Paulo Freire insiste no conhecimento da vida e da comunidade local. Porém, podemos encontrar uma diferença na noção de cultura. Em Dewey, ela é simplificada, pois não envolve a problemática social, racial e étnica, ao passo que, em Paulo Freire, ela adquire uma conotação antropológica, já que a ação educativa é sempre situada na cultura do aluno. O que a pedagogia de Paulo Freire aproveita do pensamento de John Dewey é a ideia de “aprender fazendo”, o trabalho cooperativo, a relação entre teoria e prática, o método de iniciar o trabalho educativo pela fala (linguagem) dos alunos. Também podemos evidenciar a semelhança de pontos de vista de Paulo Freire e Lev Vygotsky (1896-1934), o pedagogo russo, e o psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980). A teoria da escrita de Vygotsky contém uma descrição dos processos internos que caracterizam a produção das palavras escritas. Diz ele que a fonte mental de recursos da escrita é o “discurso interno”, que evolui a partir do discurso egocentrado da criança. Vygotsky reconhece que, em todos os discursos humanos, o indivíduo muda e desenvolve o discurso interno com a idade e a experiência. A linguagem é tão extraordinariamente importante na sofisticação cognitiva crescente das crianças quanto no aumento de sua afetividade social, pois ela é o meio pelo qual a criança e os adultos sistematizam suas percepções. Embora Vygotsky e Freire tenham vivido em tempos e hemisférios diferentes, a abordagem de ambos enfatiza aspectos fundamentais, relativos a mudanças sociais e educacionais que se interpenetram. Enquanto Vygotsky enfoca a dinâmica psicológica, Freire se concentra no desenvolvimento de estratégias pedagógicas e na análise da linguagem. Para Piaget, o papel da ação é fundamental para o desenvolvimento da criança, porque é a característica essencial do pensamento lógico para ser operativo. Piaget sustenta que aprendemos somente quando queremos e somente quando o que aprendemos é significativo para nós mesmos. Paulo Freire estava de acordo com essa tese de Piaget e insistia: necessitamos desenvolver a “curiosidade” do aprendiz para poder desenvolver o ato de aprendizagem. Quando separamos a produção do conhecimento do descobrimento do conhecimento que já existe, as escolas podem ser facilmente transformadas em lojas de venda de conhecimento. Paulo Freire foi influenciado de diferentes maneiras: seu pensamento humanista foi inspirado no personalismo de Emmanuel Mounier (1905-1950) e pelo existencialismo (Martin Buber), pela fenomenologia (Georg Hegel) e pelo TÓPICO 4 | FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO CRÍTICO 47 Marxismo (Antonio Gramsci e Jürgen Habermas). Em todo caso, não se pode dizer que Paulo Freire tenha sido eclético. Ele integra os elementos fundamentais destas doutrinas filosóficas sem repeti-las de uma forma mecânica ou preconceituosa. A pedagogia de Paulo Freire adquiriu sentido universal a partir da relação entre oprimido e opressor, demonstrando que isso ocorre em todo o mundo. Suas teorias, por outro lado, têm sido enriquecidas por muitas e variadas experiências em muitos países. Além dos países em que o próprio Paulo Freire trabalhou diretamente, muitos outros têm “aplicado” suas ideias e seu método com resultados muito positivos. FONTE: GADOTTI, Moacir. Contribuição de Paulo Freire ao pensamento pedagógico mundial. San José, Costa Rica: Universidade Nacional da Costa Rica/ Cátedra Paulo Freire, 2001. Disponível em: <http://www.paulofreire.org/Moacir_Gadotti/Artigos/Portugues>. Acesso em: 26 abr. 2011. 48 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você viu que: • A Educação Ambiental toma como base, para os seus pressupostos pedagógicos, a Teoria Crítica da Educação, especialmente nas obras de Paulo Freire e Moacir Gadotti. • A teoria crítica inclui a pedagogia do cotidiano, que está voltada para a formação para cidadania, autonomia e reflexão-ação. • A ecopedagogia está voltada para a reflexão-ação de cidadãos corresponsáveis pela sustentabilidade e a consciência planetária. • Como método de abordagem, sugere a sociopoética, que consiste no resgate à dimensão subjetiva dos valores, dos desejos e da afetividade nas relações dos sujeitos que se relacionam com respeito à natureza (dinâmica e autônoma). • No método freireano, a realidade do educando é que dá sentido à sua própria busca pela aprendizagem. • A Educação Ambiental é uma educação política, de formação para reflexão- ação; é a educação do pensar que se opõe à educação bancária. • A aprendizagem baseia-se no diálogo, na articulação da escola com a sociedade e no desenvolvimento da consciência crítica através da abordagem histórica. • A aprendizagem processa-se com o levantamento do universo vocabular e a forma de constituição da realidade do educando, originando os temas geradores. Estes permitem aproximar os conteúdos de ensino ao mundo vivido do educando. • A realidade não é disciplinar, engloba as dimensões política, econômica, social, cultural e ecológica. Portanto, os educadores têm o desafio de conhecer a realidade no diálogo dos diversos saberes que fazem a escola, rompendo com a visão fragmentada de mundo e o trabalho isolado na sua disciplina. • A tematização, como um momento coletivo de conhecimento da realidade complexa, permite abordar com profundidade e merecimento a questão ambiental. 49 AUTOATIVIDADE 1 Comente a afirmativa: “Na educação de adultos, a realidade do educando é o ponto de partida para se estruturar o processo de aprendizagem”. 2 Como diagnosticar a realidade do educando para compor seus conteúdos de ensino? 3 Explique como deveria ser a definição dos temas geradores para desencadear um trabalho de educação ambiental nas comunidades. 4 Tendo como base a expressão de Simon Rodriguez (apud GUTIÉRREZ; PRADO, 1999), o que não se faz sentir, não se entende, e o que não se entende, não interessa, reflita sobre os teus momentos de maior entusiasmo de aprendizagem. Qual é a base teórica que destaca a importância do significado dos conteúdos trabalhados para o aprendizado? 5 Faça uma síntese das abordagens pedagógicas que influenciaram a obra de Paulo Freire. 6 Comente acerca da maneira como a escola e a comunidade podem promover a aprendizagem para que o cotidiano de cada um seja transformado. 50 51 UNIDADE 2 ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Ao final desta unidade, você será capaz de: • conhecer como se estrutura um tema transversal nos currículos escolares; • identificar o caráter interdisciplinar e sistêmico das questões ambientais; • conhecer as definições de desenvolvimento sustentável, meio ambiente, representações sociais e alfabetização ecológica; • conhecer possíveis abordagens de questões complexas como agrotóxicos e desmatamentos; • ilustrar exemplos de práticas de educação ambiental tendo como base a sensibilização, a mobilização e a participação social. Esta unidade está organizada em seis tópicos, sendo que, em cada um deles, você encontrará atividades para uma maior compreensão das informações apresentadas. TÓPICO 1 – DESENVOLVIMENTO, MEIO AMBIENTE E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS TÓPICO 2 – A DIMENSÃO DA QUESTÃO AMBIENTAL: DIVERSIDADE E COMPLEXIDADE TÓPICO 3 – A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM PROL DO PATRIMÔNIO NATURAL TÓPICO 4 – TEMAS TRANSVERSAIS E INTEGRAÇÃO CURRICULAR TÓPICO 5 – MEIO AMBIENTE NOS CONTEÚDOS ESCOLARES TÓPICO 6 – UMA PROPOSTADE INTEGRAÇÃO CURRICULAR VIA TEMA GERADOR 52 53 TÓPICO 1 DESENVOLVIMENTO, MEIO AMBIENTE E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A Educação Ambiental foi estruturada, visando promover o desenvolvimento sustentável com a formação de uma cultura de sustentabilidade, o que consiste na harmonização de objetivos sociais, ambientais e econômicos. Tanto o conceito de meio ambiente, como de desenvolvimento sustentável vem sendo interpretado de diversos modos, ora numa perspectiva mais restrita, que tenta enquadrá-los num aspecto da realidade (mais conservacionista); ora numa perspectiva abstrata, que se distancia do diálogo entre os setores afetados da sociedade e da economia. Como resultado das múltiplas interpretações do que significa meio ambiente e desenvolvimento sustentável retira-se o debate político necessário, que requer grandes esforços de transformação nas formas de apropriação dos recursos naturais e no aprendizado quanto às bases de produção e consumo instituídas na sociedade técnico-informacional. A seguir, serão apresentadas as definições mais recentes que permitem superar os impasses e romper com as dicotomias, apresentando o papel da Educação Ambiental na formação de sujeitos engajados e comprometidos com o desenvolvimento sustentável. 2 MEIO AMBIENTE E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS A definição mais usual de meio ambiente é como sendo tudo o que nos cerca: céu, mar montanhas, florestas, rios, pássaros, animais. Outra definição difundida na perspectiva da biologia é de meio constituído pelas propriedades e componentes químicos, físicos e biológicos. No entanto, estas definições são restritas, tendem a excluir os componentes humanos do meio. Para evitar esta visão reducionista, define-se meio ambiente como: O conjunto de meios naturais (milieux naturels) ou artificializados da ecosfera onde o homem se instalou e que ele explora, que ele administra, bem como o conjunto dos meios não submetidos à ação antrópica e que são considerados necessários à sua sobrevivência. Esses meios são caracterizados: por sua geometria, seus componentes físicos, químicos, UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS 54 biológicos e humanos e pela distribuição espacial desses componentes; pelos processos de transformação, de ação ou de interação envolvendo esses componentes e condicionando sua mudança no espaço e no tempo; por suas múltiplas dependências em relação às ações humanas; por sua importância tendo em vista o desenvolvimento das sociedades humanas. (JOLLIVÉT; PAVÉ, 1997, p. 65). Numa perspectiva similar de não separação sociedade/natureza, Reigota (1994, p. 21) define meio ambiente como: “um lugar determinado e/ou percebido onde estão relações dinâmicas e em constante interação nos aspectos naturais e sociais. Essas relações acarretam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e políticos de transformação da natureza e da sociedade”. São muitas as definições de meio ambiente, o que indica que não existe um consenso na comunidade científica em geral. A dificuldade reside no próprio caráter difuso do conceito, que acaba sustentando inclusive as noções mais restritas de meio ambiente. No entender de Reigota (1997, p. 14): [...] este caráter difuso e variado faz com que a noção de meio ambiente seja uma representação social, ou seja, o entendimento de meio ambiente varia conforme os modos de pensar de cada sociedade, historicamente constituída. A Educação Ambiental é um instrumento que nos permite, ao mesmo tempo, pesquisar e catalisar as transformações nas individualidades e no coletivo. Para tanto, é preciso diagnosticar as representações e padrões que emergem do imaginário dos grupos comunitários e institucionais, criando espaços de comparação, desconstrução e ressignificação destes padrões. FONTE: Adaptado de: <www.fortium.com.br/blog/material/Metodo3.doc>. Acesso em: 24 ago. 2011. As representações sociais, conforme Reigota (1994, p. 70) são modos de pensar que orientam a condutas dos indivíduos na sociedade e equivalem a “um conjunto de princípios construídos interativamente e compartilhados por diferentes grupos que através delas compreendam e transformam a realidade”. Nesta perspectiva, pode ser favorável ao educador ambiental identificar, primeiramente, quais são as representações sociais do educando. Com este diagnóstico, o educador pode estabelecer metas e, mais facilmente, atingir resultados na orientação do educando, pois estará ciente do modo como o meio ambiente é percebido e vivido pelas comunidades. A definição de cada um tem vínculo com os interesses científicos, artísticos, políticos, filosóficos, religiosos e profissionais. TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO, MEIO AMBIENTE E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 55 Algumas representações sociais de meio ambiente são categorizadas, segundo Sauvé (apud SATO, 2004), como: natureza (que devemos apreciar e respeitar); recurso (água, energia, resíduos, biodiversidade); problema (contaminação, danos ambientais, irregularidades climáticas, ameaças de destruição); meio de vida (a casa, o trabalho e seu entorno, tudo o que nos rodeia); sistema (ambiente como um grande sistema, os efeitos das transformações se inter- relacionam e não podem ser isolados); biosfera (visão de totalidade, da unidade cósmica e da unicidade da vida); projeto de vida (interdependência sociedade/ meio ambiente, responsabilidade e capacidade de transformação socioambiental). As sociedades que, simplesmente, visualizam o meio ambiente como recursos têm dificuldade para compreender o contexto atual e definir a problemática decorrente do utilitarismo imbuído nos modos predatórios de apropriação. A população tende a se retrair nas situações em que o meio ambiente se encontra degradado e os ecossistemas descaracterizados resultando em efeitos encadeados e trágicos que afetam a economia e a qualidade de vida. As pessoas diretamente afetadas tendem a se afastar da natureza, principalmente, quando perdem as referências de um meio ambiente dinâmico, biodiverso, estável e produtivo. A compreensão efetiva do problema depende de referenciais positivos das dinâmicas naturais e as bases sociais de convivência possível e equilibrada com o meio a ser traduzida em beleza, alimentação abundante e variada, serviços ambientais de lazer e alimentação saudável, rica e abundante. O educador precisa compreender quais referenciais são constituintes das experiências de vida por ele vivida e pelo educando. A reflexão sobre o que pensamos sobre o meio ambiente primeiramente passa pela equipe de educadores e gestores do espaço educacional. É comum presenciarmos a falta de coesão entre o que a sala preconiza e as atitudes dos gestores pelo fato que primeiramente é preciso refletir a formação dos próprios educadores, buscando incluso redefinir representações sociais de meio ambiente utilitaristas, românticas e fragmentadas. Ao compreender o que o educador e educando pensam do meio ambiente é possível saber quais são os conceitos, valores e crenças a serem redefinidos ou considerados no processo educativo. Isto porque, os conteúdos escolares, os meios de comunicação, a família e o mundo do trabalho ainda estão distantes de uma visão sistêmica, holística, de biosfera e de compromisso planetário. UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS 56 3 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO (DES)ENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL O desenvolvimento sustentável não obteve grandes avanços porque não pode ser implementado apenas pelas agências representantes de alianças nacionais e internacionais sensibilizados pelas efetivas ameaças globais. As tentativas de imposição de cima para baixo não possibilitam o crescimento orgânico a partir das respostas das pessoas. Vai depender de uma contínua criação de espaços políticos e sociais em que o poder das pessoas possa, efetivamente, ser exercido, e construído a partir doconhecimento e representações já existentes. Também se trata de decidir quem tem o poder de realizar as reformas institucionais necessárias. NOTA A proposta do desenvolvimento sustentável se complexifica com o próprio entendimento sistêmico da questão ambiental, sua implementação engloba múltiplas dimensões: social (progresso no sentido da equidade e justiça social); cultural (conscientização e valorização dos ecossistemas, a integração dos povos e a não violência); do meio ambiente; da distribuição territorial equilibrada dos assentamentos e atividades humanas; econômica (visando à satisfação das necessidades humanas básicas); política (reconciliando e integrando o desenvolvimento com a conservação da biodiversidade, participação e autonomia). (SACHS, 2000). O debate sobre as estratégias de promoção do desenvolvimento sustentável reconhece a necessidade de se contar com uma participação ativa das populações alvo, no planejamento e na implementação das atividades definidas para melhorar o seu bem-estar, como destaca Guivant (2006): “O “empowerment” destas pessoas através de sua participação é um elemento chave, combinado com um claro conhecimento dos limites ambientais e dos requisitos para atingir a satisfação das necessidades básicas.” [grifo meu] DICAS Como sugestão, leia o livro: CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Em direção ao mundo da vida: interdisciplinaridade e educação ambiental. Conceitos para se fazer educação ambiental. Brasília: IPE – Instituto de Pesquisas Ecológicas, 1998, p. 101. Disponível em: <http://www.ambiente.sp.gov.br/EA/adm/admarqs/didatico.pdf>. Acesso em: 8 abr. 2011. Procure fazer um diálogo com o autor observando os conceitos utilizados e as metodologias propostas. Anote suas conclusões e suas dúvidas. TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO, MEIO AMBIENTE E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 57 Porém, a participação pode se constituir apenas como uma resistência frente aos contrapontos encontrados. Como questiona Guivant (2006), é possível pensar em programas nacionais ou internacionais para o desenvolvimento sustentável ganhem aprovação política? Ou é este desenvolvimento uma ideia que provê uma base para estudos teóricos, mas que não pode sobreviver no mundo das realidades econômicas, de propriedades políticas de curto prazo, de conflitos entre Norte e Sul, e a prevalência da corrupção? Será que este conceito é tão aberto que pode permitir que interesses estabelecidos ignorem suas implicações radicais e se contentem com ajustes menores? Será possível que as implicações mais radicais desta proposta podem sobreviver à mediação através das máquinas institucionais do desenvolvimento dominante, com uma elite com cargos assegurados? Certamente, não temos todas as respostas para estes questionamentos. Como nos prevenir destas ameaças, que sem dúvida enfraquecem os esforços mundiais que clamam por uma nova pedagogia de uma sociedade integrada e engajada numa nova forma de ser e de estar no planeta Terra? Pode a educação exercer sozinha este papel de formação de valores? O documento da UNESCO esclarece como a EA pode participar deste movimento de transformação cultural em direção a uma sociedade sustentável: A busca pelo desenvolvimento sustentável é multifacetada – não pode depender unicamente da educação. Muitos outros parâmetros sociais afetam o desenvolvimento sustentável, como, por exemplo, a governança, relações de gênero, formas de organização econômica e de participação dos cidadãos. Na realidade, seria preferível falar em aprendizagem para o desenvolvimento sustentável, já que aprender não está restrito à educação como tal. Aprender inclui o que acontece nos sistemas educacionais, mas se estende na vida cotidiana – de modo que importantes aspectos da aprendizagem acontecem em casa, em contextos sociais, em instituições comunitárias e no local de trabalho. (UNESCO, 2005, p. 42). DICAS Caro acadêmico! Para aprofundar os seus conteúdos, sugerimos a leitura do texto: A Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (DEDS). Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001399/139937por.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2011. UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS 58 4 O ENGAJAMENTO POLÍTICO NA CONCRETIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A organização social é fundamental para a efetivação de novos padrões de produção e consumo; isso implica que as pessoas estejam envolvidas nas decisões de modo a apreender as potencialidades específicas de seus ecossistemas, através de um olhar diferenciado sobre sua própria condição de realidade. Sachs (1986) indica que a ideia de autonomia e de autoconfiança é essencial na tomada de decisão sobre as estratégias e ações conceituais de desenvolvimento local. Esta perspectiva rompe com as soluções baseadas no mimetismo cultural e internaliza a preocupação pelo resgate atento das especificidades da região e da dinâmica dos ecossistemas, como resultado das interações historicamente instituídas entre sociedade/natureza. A autonomia local é resultado de um planejamento participativo, engajado, contextual e contratual. A gestão dos recursos naturais, na perspectiva da solidariedade diacrônica com as gerações futuras, visa oportunizar a eliminação de práticas predatórias, geradoras de desperdícios, poluição e exaustão da capacidade regenerativa dos ecossistemas. Isso requer nova organização da produção apelando sempre que possível para a geração de energias renováveis e limpas e no desenvolvimento das ecotécnicas - aquelas técnicas que demandam recursos naturais abundantes sem ameaçar sua capacidade de regeneração ou seu caráter de renovação. Em síntese, este novo estilo de desenvolvimento equivale à busca de padrões de aproveitamento de recursos naturais coadunados com as condições de cada ecorregião, avaliando-se os potenciais dos recursos aproveitáveis, base para um novo modelo de organização social e também a preocupação pela experimentação concreta com os atores locais, privilegiando os interesses da coletividade e evitando particularismos ou demandas exógenas às necessidades locais. Da perspectiva do enfoque da participação social, a solução para a problemática ambiental transcende a preocupação pela proteção de um dado recurso ou pela instituição de medidas que apenas limitam os prejuízos causados pela poluição. As diretrizes de gestão decorrentes deste enfoque levam em conta duas demandas essenciais, por um lado assegurar sua boa integração ao processo de desenvolvimento econômico, e por outro assumir as interações entre os recursos e condições de reprodução do meio ambiente, promovendo assim uma articulação satisfatória da gestão do espaço com aquela relativa aos meios naturais. (GODARD, 1997). TÓPICO 1 | DESENVOLVIMENTO, MEIO AMBIENTE E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 59 As ações de cogestão incorporam, portanto as inter-relações, globais e de longo prazo, entre o sistema socioeconômico e o sistema ecológico, refletindo a adoção de novas opções de desenvolvimento e a preocupação pela renovação dos recursos no longo prazo. Esse conceito sistêmico de gestão para o desenvolvimento alimenta todas as esferas de tomada de decisão política enfatizando a corresponsabilidade e a valorização da ética e da cultura. 60 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você viu que: • São muitas as definições de meio ambiente, pois estão relacionadas com as representações de meio ambiente, historicamente definidas. • O conceito síntese de meio ambiente, numa perspectiva mais ampla é o que integra o homem no contexto, contempla as relações sociais, econômicas, naturais e tecnológicas numa perspectiva dinâmica e processual. • O conceito de meio ambiente é difuso e variável, conforme os modos de pensar dos indivíduos e da sociedade, assim constituindo uma representação social. • As representações sociais variam desde uma perspectiva mais utilitarista a uma perspectiva holística. • Ao compreendero que o educando pensa de meio ambiente o educador tem clareza dos valores e crenças a serem redefinidos através do processo educativo. • Quando o desenvolvimento sustentável é restrito a uma única dimensão ou sobrevaloriza uma em detrimento de outra a proposta perde seus pressupostos. • O desenvolvimento sustentável é resultado da participação orgânica das pessoas, com iniciativas voluntárias redefinindo, incluso, as relações de poder local e seu empowerment. Quando a proposta é introduzida de cima para baixo não se concretiza. • A proposta de desenvolvimento sustentável se concretiza coma participação ampla da sociedade engajada em nova pedagogia que mobiliza as pessoas no movimento pela transformação cultural. • O engajamento social pressupõe autonomia, autoconfiança e ligação das pessoas com seus territórios, valorizando o conhecimento ecológico local. • O gestor ambiental pode ser valorizado como um grande agente de transformação nas relações sociedade/natureza ou perder sua potencialidade de condução do planeta em caso de supremacia dos padrões atuais de racionalidade da sociedade moderna. • Com este diagnóstico, o educador pode estabelecer metas e, mais facilmente, atingir resultados na orientação do educando, pois estará ciente do modo como o meio ambiente é percebido e vivido pelas comunidades. A definição de cada um tem vínculo com os interesses científicos, artísticos, políticos, filosóficos, religiosos e profissionais. 61 AUTOATIVIDADE 1 Defina desenvolvimento sustentável. 2 Defina meio ambiente, ressaltando as consequências de uma definição que tende a ignorar a sua própria influência humana na transformação do meio ambiente. 3 O que são representações sociais? Quais os tipos mais comuns de representações do meio ambiente? 4 Quando os educadores possuem o entendimento de meio ambiente restrito, no qual o homem não faz parte da natureza cometem-se alguns equívocos quanto à avaliação do problema e à busca de soluções. Faça uma análise dos equívocos resultantes, comentando sobre o descompromisso das pessoas quanto à situação ambiental local. 5 Por que é importante o educador ambiental identificar as representações sociais do educando? 6 Por que o desenvolvimento sustentável não tem uma grande penetração na sociedade? Em que medida a falta de participação e engajamento político dos cidadãos impede a implementação de uma política para o desenvolvimento? 62 63 TÓPICO 2 A DIMENSÃO DA QUESTÃO AMBIENTAL: DIVERSIDADE E COMPLEXIDADE UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A década de 90 se caracteriza pela busca de um novo entendimento das relações sociedade/natureza, trazendo a realidade das ameaças de destruição como resultado do crescimento industrial. O perigo da destruição global nos remete à busca da superação das soluções parciais e localizadas, pois até recentemente os problemas ambientais têm sido considerados como problemas característicos de ecossistemas específicos. As soluções para problemas ambientais de natureza global implicam negociações nos mais diversos níveis de intervenção política: da casa para a cidade, do rural para o urbano e destes para as regiões, das imediações locais/regionais para escalas internacionais e intercontinentais. Neste tópico, será exposto como a ciência vem redefinindo suas concepções sobre a dinâmica e o funcionamento dos ecossistemas, numa perspectiva sistêmica e integrada do conhecimento. 2 A COMPLEXIDADE DA QUESTÃO AMBIENTAL A relação local/global fica evidente quando planejamos ações para a conservação dos ecossistemas estratégicos como os florestais. A conservação das florestas traz benefícios diretos para os moradores próximos, mas também para as populações mais distantes tributárias da mesma bacia hidrográfica ou mesmo para humanidade que tem um futuro com garantia de água potável. Além disso, a floresta é uma reserva de valor inestimável por contemplar uma biodiversidade que pode ser estratégica para as necessidades futuras. UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS 64 Caro acadêmico! Observe que os problemas ambientais relacionados com água potável, áreas verdes, contaminação do ar atmosférico, transportes, saneamento básico e resíduos sólidos se repetem nas cidades brasileiras. Selecione um problema de contaminação ambiental e observe como ele se inter-relaciona com o contexto local e suas derivações do local para dimensões mais amplas - do município ao território nacional. ATENCAO A noção de limites estabelecida, em última instância, pela escala da biosfera, ao findar do século XX, é facilmente evidenciada pelos efeitos das intervenções sem precauções da sociedade industrial. Em especial, nos países do Norte, os limites do crescimento econômico são denotados pela ameaça nuclear, do desemprego estrutural e o crescente apelo ao consumo desenfreado. (SACHS, 1986). Em parte desfaz-se o argumento de que o mercado, por si mesmo seria suficiente para efetivar a regulação do uso dos recursos naturais. São situações mais ou menos drásticas no que tange à evidência do grau de escassez dos recursos naturais. Há recursos cuja ameaça de desaparecimento é dada pelo esgotamento da capacidade de renovação nos ritmos de exploração, pela escala industrial e pela pressão populacional, como é o caso da conservação dos recursos hídricos. Além disso, há limites definidos pela capacidade dos ecossistemas de absorver e amortecer os impactos dos resíduos depositados e da escala das intervenções realizadas. As problemáticas ambientais contemporâneas locais são de natureza global, requerem atitudes amplamente sincronizadas e de massivo comprometimento social, como destaca o Art. 5º ao explicitar os objetivos da EA (BRASIL, 2007): V- o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; IV- o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; VII- o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. FONTE: Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>. Acesso em: 24 ago.2011. TÓPICO 2 | A DIMENSÃO DA QUESTÃO AMBIENTAL: DIVERSIDADE E COMPLEXIDADE 65 A problemática ambiental configura uma dimensão sistêmica complexa e é consequência da multiplicidade do desenvolvimento humano (político, social, cultural, ético, econômico e ecológico). Isto significa que não estamos nos referindo a uma educação estritamente vinculada a uma área do conhecimento, tal como o ensino de ciências e biologia. Estamos nos referindo a um campo de conhecimento síntese, compondo a inter e a multidisciplinaridade e que tem como meta uma sociedade constituída sob novas bases de produção e consumo, capaz de se autogerir e perpetuar, sociedades sustentáveis. NOTA A perspectiva sistêmica busca identificar todos os componentes da realidade, compreender as interações, retroações, emergências e imposições que ocorrem entre os componentes. (MORIN, 1977). A abordagem é adequada à compreensão das questões que não estão vinculadas a uma área específica do conhecimento. Refere-se a fenômenos naturais ou sociais, que não são somente biológicos, econômicos ou religiosos, mas resultam da interação de todos estes campos. A perspectiva sistêmica visa, portanto, romper com as abordagens dos especialistas que tendem a compartimentalizar e simplificar a complexidade da realidade. A questão ambiental constitui-se na contemporaneidade num espaço complexo de relações e interações sociais, o qual evidencia diversos interesses, em especial vinculados ao crescimento econômicoda sociedade de consumo e ao privilégio de setores detentores do capital, o qual traduz interesses conflitantes ao bem comum, à qualidade de vida e à conservação dos ecossistemas. Nesta ótica, são múltiplas as dimensões da questão ambiental, traduzida em um campo de disputas de atores sociais e de interesses de poder. A Educação Ambiental se refere a um campo do conhecimento integrado e diverso, que por ser sistêmico não nega as disciplinas específicas (Química, Biologia, Física, Matemática, Economia, Artes e Engenharias), mas requer o diálogo destes saberes, marcados pelas inter-relações. Está na obra de Morin (1980, p. 24) a definição de ambiente como um sistema complexo: O ambiente concebido como biótopo e de uma biocenose é plenamente um sistema, isto é, um todo organizando-se a partir das interações entre constituintes (biológicos e geofísicos); é plenamente uma unidade complexa, ou Unitas multiplex, que comporta uma extraordinária diversidade de espécies [...]; é um sistema que produz as suas emergências, não só ao nível global, mas também ao nível dos seres que o constituem, os quais manifestam qualidade de que não disporiam isoladamente [...]. As relações entre o todo e as partes são de uma extrema ambiguidade e complexidade o que ilustra o princípio de que o todo é, ao mesmo tempo, superior ou inferior ao todo, de que as UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS 66 partes são superiores e inferiores às partes, de que há cisões, buracos negros, zonas de penumbra no interior do todo, e também nas inter- relações entre partes. Como todo o sistema ativo, o ecossistema é, ao mesmo tempo, constituído e dilacerado pelas suas interações internas. São muitas as reflexões que contemplam a abordagem sistêmica de conceber o mundo e as relações sociedade/natureza. Edgar Morin (1980) apresenta uma das obras mais completas neste campo, entre as quais se destaca: • O paradigma perdido. • O homem e a morte. • O método I – A natureza da natureza. • O Método II – A vida da vida. • O Método III - O conhecimento do conhecimento. • Ciência com Consciência. • O problema Epistemológico da complexidade. Através da teoria da complexidade, temos uma nova compreensão da temática ambiental, remetendo educadores e pesquisadores à prática da inter e transdisciplinaridade. A teoria da complexidade passa a ser valorizada, recentemente, entre o meio acadêmico, devido à crise do paradigma científico vigente em resolver problemáticas da realidade de natureza sistêmica. Esta crise se manifesta nos mais diversos campos do conhecimento: Saúde, Ecologia, Astronomia, Engenharia, Economia e Psiquiatria. A teoria da complexidade vem preencher as seguintes lacunas do conhecimento: • Frente à questão da incompletude da ciência, a simplificação da realidade e a sua mutilação se buscam a articulação, a identidade e a diferença de todos os aspectos físico, biológicos, sociais, culturais, psíquicos e espirituais. A ambição da complexidade é resgatar estas articulações perdidas e fragmentadas pelos recortes entre disciplinas, categorias cognitivas e tipos de conhecimento. O autor propõe “o método” integrador do conhecimento multidimensional, o que é diferente do mero exercício de soma de conhecimentos. (MORIN, 1996, p. 178). • Este primeiro exercício nos remete ao rompimento com a simplificação, enunciada através de leis e princípios reducionistas, presos a análises de causas e efeitos, a busca de objetos determinantes e a regularidade dos fenômenos observáveis. • Ao romper com o reducionismo das abordagens, corre-se o risco de cometer um segundo erro o da abstração universalista ao qual tende a dissimular a singularidade, a localidade e a temporalidade. O singular e o local não podem TÓPICO 2 | A DIMENSÃO DA QUESTÃO AMBIENTAL: DIVERSIDADE E COMPLEXIDADE 67 ser esquecidos ou apagados pela totalidade. Os ecossistemas são a referência para delimitar as condições de vida específicas de um determinado organismo, sua singularidade pode ser definitiva para que uma determinada espécie tenha possibilidades de se desenvolver em outros ecossistemas. A compreensão do local é fundamental no estudo das ciências ambientais ao qual não pode perder de vista, como esta singularidade se manifesta na sua relação com o todo, considerando seu papel na constituição de determinados ecossistemas. • Um terceiro elemento dos sistemas complexos é quanto à questão da organização dos organismos enquanto unidade constituída a partir da multiplicidade. Isto se justifica pelo princípio do Holograma, a imagem física apresenta as mesmas qualidades de cor, relevo e forma devido ao fato de que cada um dos pontos contém a mesma informação do conjunto que ele representa. Cada ponto do holograma possui toda a informação do objeto e todo o holograma possui informação de um só ponto do objeto. Tal fato pode facilmente demonstrar- se, tapando parte de um holograma que ao ser observado revela na mesma toda a imagem do objeto, portanto “não só a parte está no todo, mas o todo está na parte”. (MORIN, 1997, p. 181). Esse tipo de organização está presente nos organismos vivos, mesmo uma célula epidérmica com papel de proteção contém a informação genética do ser global. UNI Observe como na fotografia das flores cada uma das pétalas são exatamente iguais. Ao sair na rua direcione seu olhar aos padrões geométricos presentes na natureza do entorno. FIGURA 4 – PADRÕES DAS PLANTAS FONTE: Acervo da autora UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS 68 3 A DINÂMICA DOS ECOSSISTEMAS A crítica ecológica ao estilo de desenvolvimento baseado no crescimento econômico a qualquer custo se fundamenta em novas definições quanto à evolução dos ecossistemas. Conceitualmente, são incorporadas dimensões relacionadas à sua durabilidade temporal (com novas contribuições da física, geologia e astronomia), à estabilidade espacial e à harmonia nas associações biológicas (contribuições dos estudos em ecologia de sistemas e de populações). O sentido temporal nos remete aos processos históricos e geológicos que constituem coevolutivamente o estado atual do meio ambiente. Determinado estado do meio ambiente pode apresentar condições favoráveis à durabilidade (como qualidade de poder viver muito), o que implica a presença de um estado não estático para a interação compartilhada entre os componentes humanos, sociais e os componentes físicos, químicos e biológicos, captando as eventuais mudanças geológicas e históricas que formam coevolutivamente o estado do meio ambiente. Portanto, o meio ambiente resulta das interações de origem natural, não humanas, e das ações antrópicas (a forma como as sociedades exploram e administram os recursos naturais frente à sua capacidade de intervenção), as quais podem ora originar efeitos favoráveis à ampliação da diversidade do sistema, o complexificando positivamente; ora gerar efeitos destrutivos, que consistem nos amplos e extensos impactos ambientais gerados na atualidade. Nesta perspectiva, o meio ambiente constitui o: Conjunto de meios naturais (milieux naturels) ou artificiais da ecosfera, onde o homem se instalou e que ele explora e administra, bem como o conjunto dos meios não submetidos à sua ação antrópica e que são considerados necessários à sua sobrevivência. (JOLLIVET; PAVÈ, 1997, p. 63). Os meios se referem às características de configuração e distribuição espacial dos seus componentes; aos processos de transformação, ação ou interação que implicam mudança espaço-temporal; às dependências (múltiplas) com relação às ações humanas e sua importância para o desenvolvimento das sociedades. Nessa direção, Morin (1980, p. 38) questiona as noções que restringem os processos evolutivos a atributos da espécie: “[...] a ecoevolução está marcada por inúmeras mutações ecológicas, isto é, reestruturações novas sob efeito de perturbações a longo e em curtoprazo: submersões, emersões, enrugamentos, elevações, erosões, tropicalizações, glaciações, migrações e aparecimento de espécies novas”. TÓPICO 2 | A DIMENSÃO DA QUESTÃO AMBIENTAL: DIVERSIDADE E COMPLEXIDADE 69 Observe que a harmonia na natureza nos ecossistemas clímax, dificilmente, se manifesta de modo permanente, ao contrário da ideia de estabilidade altamente difundida no meio acadêmico no século XX. ATENCAO Nessa visão de coevolução define-se a estabilidade do ecossistema em termos de situações transitórias onde podem se manifestar “estados de equilíbrios”. Esta estabilidade é decorrente de um estágio avançado da sucessão vegetal, e ocorre quando as exigências impostas às condições do meio natural tornam-se insignificantes frente à capacidade de tolerância e adaptação das espécies. As interações entre os seres vivos atingem autonomia na condição de reprodução da vida indefinidamente a partir da sua própria sustentação. Assim o equilíbrio apresenta um “ideal regulativo”, e os conceitos de estado e de dinâmica permitem uma abordagem mais condizente com a realidade observada. Compreende-se que a ecosfera não está e nunca esteve “em equilíbrio” no sentido usual do termo. O que ocorre são processos de evolução de estados de “equilíbrio” temporário em situações de um clímax dinâmico, no qual, por exemplo, o equilíbrio de um agrupamento florestal é considerado como um mosaico composto por diferentes estágios de desenvolvimento considerando a heterogeneidade das formações vegetais tropicais. Variações de natureza estocástica devem ser consideradas, tais como: as microclimáticas, pedológicas e ainda aquelas de natureza biótica (polinização, atrativos aos dispersores, predação, perturbações antrópicas e existência de um grande número de espécies raras). A compreensão da complexidade dos ecossistemas tropicais requer abordagens multidisciplinares, capazes de gerar informações diversificadas (pedologia, florística, fenologia e fisiologia), que permitem elucidar os mecanismos dinâmicos, frequentemente, mascarados, nas interações que regulam a sucessão vegetal dos ecossistemas. O desenvolvimento dos ecossistemas pode ser interrompido pelas mudanças climáticas provenientes de outras regiões, pela introdução de novas espécies dominantes ou de tantas outras perturbações antrópicas. (CALLENBACK, 2001). Tais perturbações, mesmo que pequenas, podem ser duradouras, reivindicando uma nova reorganização do ecossistema e novas capacidades de desenvolvimento, apresentando, portanto, potencialidades que afetam o próprio ecossistema. Uma mudança na temperatura, por exemplo, afeta a dinâmica das interações populacionais: as espécies que não toleram as mudanças tendem a migrar e algumas a desaparecer, ao passo que espécies a elas tolerantes vêm habitar por meio de relações intra e interespecíficas, estabelecendo a reorganização definida por Morin (1980, p. 36) como qualidade eco-organizadora: “não é manter UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS 70 incessantemente, em condições iguais, através de nascimentos e mortes, o estado estacionário do clima, é ser igualmente capaz de produzir ou inventar novas organizações a partir de transformações irreversíveis que sobrevêm no biótipo ou na biocenose”. O mais importante não é a estabilidade em si, mas a capacidade de construir estabilidades novas, em que a evolução pode ocorrer com a interrupção de condições favoráveis e das desorganizações daí decorrentes. A partir desse arcabouço conceitual, ocorrem novos entendimentos da dinâmica coevolutiva do desenvolvimento dos ecossistemas, em particular as florestas tropicais. Entendia-se que as florestas, naturalmente, tinham uma estabilidade intrínseca na sua estrutura e composição e apenas a ação antrópica intervinha sobre o seu estado permanente de equilíbrio. Atualmente, se consideram as interações das populações mais dinâmicas, reguladas por variações na estrutura adaptativa, em resposta às imposições do meio. Novamente, a contribuição da teoria da complexidade nos coloca um novo entendimento da dinâmica dos ecossistemas, onde a ordem obtida através de um estado “clímax” de sistemas florestais é apenas temporalmente definida e está sujeita à instabilidades e transformações intrínsecas. FIGURA 5 – APRESENTA UMA SUCESSÃO FLORESTAL INCLUINDO O CLÍMAX DINÂMICO FONTE: Disponível em: <http://www.onganama.org.br/images/esquema_sucessao. jpg>. Acesso em: 19 ago. 2011. Esse novo olhar proporcionará novas bases para conservação dos ecossistemas tendo como elemento uma estratégia permissível à contribuição humana na recuperação dos estágios sucessionais de florestas amplamente afetadas pela exploração predatória, como se observa na Figura anterior. O conhecimento em profundidade da questão da dinâmica interna de sucessão vegetal será essencial para definir as políticas de manejo e conservação dos ecossistemas. TÓPICO 2 | A DIMENSÃO DA QUESTÃO AMBIENTAL: DIVERSIDADE E COMPLEXIDADE 71 FIGURA 6 – ÁREA DEGRADADA COM ÁRVORES SE INSTALANDO SOB A ROCHA FONTE: Acervo da autora 72 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você viu que: • As problemáticas ambientais contemporâneas locais são de natureza global, requerem atitudes amplamente sincronizadas e de massivo comprometimento social. A ação local é imprescindível para gerar um somatório de comportamentos de efeitos sinérgicos e cooperativos, objetivando a melhoria das condições e da qualidade de vida local. • A problemática ambiental configura uma dimensão sistêmica complexa e é consequência da multiplicidade do desenvolvimento humano (político, social, cultural, ético, econômico e ecológico). • A Educação Ambiental se refere a um campo do conhecimento integrado e diverso, que por ser sistêmico não nega as disciplinas específicas (Química, biologia, Física, Matemática, Economia, Artes e Engenharia), mas requer o diálogo destes saberes, marcados pelas inter-relações. • Neste sentido, a EA tem como objetivo a solidariedade e a cooperação nas relações internacionais, a construção de uma sociedade mundial democrática, livre e corresponsável, o direito ao acesso amplo dos cidadãos à qualidade ambiental. • Os educadores precisam fundamentar seu ponto de vista crítico quanto à questão ambiental, rompendo com os reducionismos e simplificações característicos das ciências naturais de cunho positivista. • A teoria da complexidade representa um contraponto às tentativas de simplificação da realidade, busca um método integrador do conhecimento e que permite articular campos da ciência tradicionalmente incomunicáveis. • Os sistemas complexos apresentam as seguintes características: o todo não é igual à soma das partes, a organização dos organismos enquanto unidades autônomas e múltiplas; opõem a busca de regularidades e determinismos, reconhece as relações antagônicas e integradoras, a dialética da ordem/ desordem dos fenômenos. • As definições de ecossistemas precisam ser atualizadas, na ótica da teoria da complexidade, o que implica entendimento da durabilidade, estabilidade, equilíbrio dinâmico, coevolução, cooperação e autonomia. • O meio ambiente é resultado das interações historicamente constituídas pelas ações antrópicas e também resultado das dinâmicas da biologia evolutiva e geologia. 73 AUTOATIVIDADE 1 Quais são as contribuições da teoria da complexidade para as ciências ambientais? 2 Caracterize uma problemática ambiental de natureza global. Faça uma lista de problemas ambientais locais, mas que se replicam por muitos continentes do planeta Terra. 3 Quais são as características do ambiente entendido como unidade complexa, tal como define Edgar Morin? 4 Quais são os parâmetros para se realizar uma educação que aborde a problemática ambiental na sua dimensão sistêmica e complexa? Quais são os impasses que os educadores devem enfrentar e superar para realizar esta abordagem? 5 Os ecossistemas apresentam possibilidadesde recuperação conforme o grau de perturbações a eles impostas. Porém, a intensidade de pressão pode desencadear um processo de desordem em cadeia, ficando difícil a evolução do sistema para estágios anteriormente estabelecidos. Faça um comentário sobre os processos de coevolução dos ecossistemas relacionando com situações dos ecossistemas degradados que você presencia na sua cidade. 6 Por que se diz que os sistemas florestais atingem um estágio de desenvolvimento do tipo “clímax” apenas temporariamente? 74 75 TÓPICO 3 A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM PROL DO PATRIMÔNIO NATURAL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O tema relativo à questão da sobrevivência da humanidade na escala planetária revela a faceta complexa da questão socioambiental. Coloca em evidência a diferença inter-regional, seja no que tange à responsabilidade pelos históricos processos de degradação ambientais causados pelas culturas invasoras do Ocidente, seja pelas drásticas diferenças entre países e regiões e a natureza diferente da dependência com relação ao uso dos recursos naturais (pela localização geográfica específica dos ecossistemas mais estratégicos para a conservação). Os efeitos resultantes da forma predatória de intervenção da sociedade industrial sobre os ecossistemas vêm afetando diferentemente os continentes, trazendo mais tragédias para uns, e para outros benefícios. Um dos maiores desafios da educação ambiental está na redefinição de meio ambiente como sendo um bem de uso comum e patrimônio da humanidade. Esta definição traz grandes consequências para os agentes econômicos que utilizam e exploram os recursos indistintamente, como se fossem objetos de sua única e exclusiva posse, portanto de livre iniciativa para seu uso, extração e transformação. O educador ambiental está defronte de uma concepção distante do que usualmente os detentores do capital costumam exercer. Busca-se o ideário de que cada indivíduo em particular, enquanto participante, vivente e atuante no planeta, tem uma responsabilidade com o coletivo enquanto direito de acesso aos recursos naturais e para com os ecossistemas e os demais seres vivos quanto à integridade e qualidade de vida no planeta Terra, além do propiciado pela privatização do bem. O ambiente como bem comum numa sociedade capitalista, que preserva a propriedade privada, tradicionalmente, entra em contradição com os interesses coletivos e da natureza. Então se propõe uma grande evolução conceitual, pois passa do direito individual para o direito coletivo. Há que se ter claro que são muitas as resistências quando, por meios legais e efetivos, se pretende regular a forma de acesso e estabelecer regras sobre as formas de utilização dos recursos apropriados privadamente. Neste tópico, você verá que a Educação Ambiental tem o desafio de avaliar e romper com concepções arraigadas e contraditórias, quanto à noção de 76 UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS patrimônio e recursos de bem comum, ao qual prevê a política ambiental para a biodiversidade em ecossistemas florestais estratégicos como a Mata Atlântica, Cerrado e Floresta Amazônica. É importante destacar que a Educação Ambiental faz parte de um programa mais amplo, sendo suporte para implementação da gestão ambiental integrada e participativa. 2 DEFINIÇÃO DE PATRIMÔNIO NATURAL E IMPLICÂNCIAS PARA A GESTÃO AMBIENTAL Como efeito da dimensão planetária e humanitária das questões, registra-se uma série de medidas de conservação para países como o Brasil, em especial no que tange à conservação das florestas tropicais: a perspectiva dos controles climáticos em função das ameaças da mudança global e a dimensão da biodiversidade. A sua colocação estratégica força um posicionamento para a institucionalização das florestas como patrimônio - entendido como o conjunto de elementos materiais e imateriais que permite a seu titular salvaguardar sua autonomia e sua identidade e se adaptar a um futuro pouco previsível. A noção de patrimonialidade implica a disseminação de um discurso que apela menos para uma humanidade abstrata e mais para o comprometimento das pessoas com a geração da qualidade de vida nas suas localidades e com aquilo que deve ser legado para as gerações futuras. (WEBER, 1997). O enfoque da gestão patrimonial negociada, foi desenvolvido nas décadas de 1970 e 1980 a partir da tomada de consciência “daqueles tipos de recursos que as gerações presentes pretendem legar às gerações futuras e que compreendem ao mesmo tempo os recursos utilizados atualmente e os elementos do meio que podem ser considerados recursos potenciais no futuro”. (GODARD, 1997, p. 213). A noção de patrimônio, originalmente procedente do vocabulário jurídico, foi transposta para a pesquisa socioambiental inter e transdisciplinar. Nessa transposição, tornou-se necessário romper com a concepção tradicional de patrimônio restrito ao universo doméstico, no qual há transmissão de bens entre diferentes gerações de uma mesma família. Faz-se o apelo à ideia de herança a ser transmitida de uma geração, a outra independente do grau de parentesco do seu titular. Na noção tradicional as “espécies patrimoniais” são de propriedade do seu titular, o qual tem o direito absoluto de julgar as escolhas e de dispor delas. A propriedade permite que cada um possa destruir os bens, considerados objetos do proprietário, pois a posse lhe confere a possibilidade de exercer as ações materiais de uso a seu bel-prazer. Já na nova versão há o patrimônio comum, o titular do recurso deixa de ser identificado concretamente como um indivíduo com poder absoluto sobre o recurso, as possibilidades de uso e desfruto estão limitadas pela obrigação de prestar conta sobre o modo como o utiliza, ultrapassando o compromisso do uso presente. Ele se orienta no sentido de ultrapassar a propriedade identificada dos elementos do meio ambiente, mas mantém a possibilidade de assumir “como um bom pai de família” a conservação e a gestão. TÓPICO 3 | A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM PROL DO PATRIMÔNIO NATURAL 77 Nessa ótica, Weber (1986) define o patrimônio natural como o conjunto de elementos naturais e dos sistemas que eles formam que são suscetíveis de serem transmitidos às gerações futuras. Fazem parte do patrimônio natural as espécies animais e vegetais, as populações animais e vegetais cuja duração de vida e ritmo de renovabilidade permite a acumulação e também a transmissão. O patrimônio natural exclui os elementos que não podem ser transformados pelo homem e de que ele não pode se apropriar, e aqueles que originalmente são de sua total responsabilidade. A abordagem patrimonial é, portanto, muito recente como instrumento de análise eficaz para compreender e melhorar a prática de processos locais descentralizados de desenvolvimento. A legislação que confere à Mata Atlântica e à Floresta Amazônica o estatuto de patrimônio natural nacional e o debate em curso sobre a função social da propriedade convergem com essa linha de pensamento. Descortinam novas perspectivas de gestão de recursos comuns, mas ao preço de um aprofundamento e enraizamento da democracia no nível local, da reestruturação do Estado e do fortalecimento das instituições. Para se viabilizar, a abordagem patrimonial pressupõe um processo educacional de transformação profunda nas relações entre o poder público, os agentes econômicos e a sociedade civil. IMPORTANT E Caro acadêmico! Observe que este tema pode ser desenvolvido no espaço escolar e também nas empresas. O importante é redefinir as bases estruturantes de apropriação privada dos recursos naturais, desenvolvendo o respeito pelo bem de uso comum, em prol da humanidade presente e futura, e acima de tudo a toda a forma de existência da biodiversidade da vida. A gestão democrática presente no planejamento territorial e na definição das responsabilidades de conservação da Mata Atlântica favorecerá o reconhecimento público do estatuto do patrimônio.Esta noção contrapõe-se às tentativas de mercantilização da natureza, pois restabelece o pertencimento da natureza como um bem comum, disponibilizado aos cidadãos através da gestão ambiental participativa que promova o seu envolvimento na busca da qualidade ambiental. (GODARD, 1997). 78 UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS No início de um processo que visa à educação patrimonial, é preciso reconhecer que na percepção das populações e dos governos persistem antagonismos entre conservação e desenvolvimento. O diagnóstico participativo dos ecossistemas e o resgate do processo histórico de desenvolvimento regional podem vir a se transformar num importante instrumento de sensibilização e de envolvimento comunitário. FONTE: Disponível em: <www.unidavi.edu.br/PESQUISA/revista/material_publico/2ed/paulo.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2011. Tal abordagem é contrária às posições centralizadoras do decisor individual, apelando para o envolvimento e a responsabilidade dos múltiplos atores sociais interessados na utilização dos recursos naturais. Para fomentar o pluralismo nos programas de desenvolvimento sustentável é necessário considerar, segundo Weber (1995), os seguintes riscos: • A marginalização de alguns grupos (mulheres, jovens e alguns atores econômicos), ameaçando a equidade. • A perda da eficiência na gestão dos projetos e das ações, por uma tomada de decisão lenta, um debate falseado pelo acirramento dos conflitos e pelos custos de transações e de controle elevados. • A presença de agentes governamentais dependentes das pressões do mercado e das oportunidades. O respeito ao pluralismo, pressupõe a negociação de diferentes representações e ideologias sociopolíticas. Reconhece que não há uma solução única e definitiva para os problemas relacionados à apropriação dos recursos naturais e que, ao serem explicitadas as divergências em termos de valores e objetivos, o trabalho de gestão pode ser desenvolvido com base na responsabilização dos atores sociais envolvidos. No que tange ao desenvolvimento florestal sustentável, esta abordagem é revolucionária. Implica a experimentação com métodos de intervenção social no nível local. A busca da participação das populações na gestão dos espaços verdes em numerosos países vem demonstrar que a população local pode auxiliar, consolidando formas mais eficazes de supervisão da qualidade do meio. Como resultado, o controle social torna-se mais econômico e eficaz do que o controle administrativo burocrático, autoritário e centralizador. Se as populações rurais aprovam as diretrizes, se os objetivos e os resultados da gestão dos recursos são apropriados pelas populações, conflitos violentos podem ser evitados. A gestão ambiental assim concedida deve ser voltada para o território, para a bacia hidrográfica, para o espaço de convivência, o lugar onde as pessoas moram, promovendo o conhecimento dessas áreas, de suas riquezas e carências, TÓPICO 3 | A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM PROL DO PATRIMÔNIO NATURAL 79 de suas demandas de equilíbrio, promovendo o encontro e a negociação entre diferentes atores sociais, perguntando ao cidadão o que é que ele deseja, que desenvolvimento e meio ambiente prefere para trabalhar e viver, para seus filhos. É necessário construir uma cidadania local e planetária, que integre a melhoria da qualidade de vida no meio ambiente e busque o enfrentamento preventivo às ameaças globais. Uma educação que incentive e seja exemplo nos processos participativos com cidadãos que influenciam nos fóruns de negociação, nas decisões municipais, na construção das Agendas 21 e na sua implementação. IMPORTANT E A Educação Ambiental participativa requer o fortalecimento dos laços entre cidadania e direito, pois o direito, como resultado das lutas sociais, sintetiza conquistas e embates. Em situações mais consolidadas do exercício da cidadania, o direito provém dos diversos interesses em projetos sustentados pelos cidadãos ativos. Já, a cidadania ambiental se consolida por meio de uma lei justa e legítima que responda às aspirações sociais e que seja vigilante quanto ao descumprimento das leis e à sua viabilidade de aplicação. Os seguintes pressupostos devem ser levados em conta na aplicação do enfoque: • A interdependência entre os recursos implica que a intervenção ambiental, mesmo se realizada sobre um recurso específico, de alguma forma afeta os demais recursos. • Os recursos naturais têm sua qualidade resguardada se for garantido o processo dinâmico de renovação e de recriação dos meios. • O compromisso de legar às gerações futuras um patrimônio natural com qualidade consiste em um processo dinâmico em que o meio evolui com seu titular. Os problemas ligados à degradação dos recursos dizem respeito à apropriação e gestão dos recursos de propriedade comum. Isto pressupõe o reconhecimento de “uma pluralidade de atores que descobrem, cada um deles, um interesse patrimonial pelo mesmo recurso ou pelo mesmo espaço, para além dos recortes jurídicos estabelecidos através de direitos de propriedade.” (GODARD, 1997, p. 261). A gestão patrimonial requer uma organização que permita a negociação entre os atores envolvidos na resolução não violenta de conflitos socioambientais. O processo de negociação baseia-se na elaboração de diagnósticos socioambientais, na construção de cenários e na negociação de situações, rompendo-se assim com 80 UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS as formas tradicionais de gestão mais ou menos autoritárias; e no uso e adequação dos mais diversos meios para a gestão (regulamentos, incentivos financeiros, informações) como resultado de decisões negociadas e coletivas. A gestão ambiental deve apreender as diversas preocupações subjacentes à intervenção pública para além de preferências particulares ou individuais de consumidores e usuários. No regime atual, a população desconhece os negócios do Estado e os grupos que se mobilizam acabam se fragmentando, tendo pouca eficácia em termos de oposição às medidas tomadas. É preciso recriar e multiplicar os espaços do cidadão, de modo que a população estimulada seja capaz de se mobilizar para orientar a qualquer momento a ação do Estado. Isso exige muito mais do que as atuais instituições representativas têm oferecido em termos de engajamento das coletividades nas decisões. Trata-se de fomentar uma democracia ampliada, usando-se, para isso, as novas técnicas de informação e de comunicação e Educação Ambiental. Como instrumento de estímulo à conservação, é importante manter uma perspectiva interligada que alie a valorização econômica à ambiental. Inovações começam a ser apresentadas em muitos países envolvendo a iniciativa privada e a ação governamental. Também se deve considerar a integração entre as políticas educacionais, de formação dos profissionais, de gestão do território e outras políticas setoriais que incidem direta ou indiretamente sobre as florestas. Antes das soluções técnicas é preciso efetuar as escolhas de ordem política, econômica e social de modo partilhado e aplicar o critério da equidade; nessas condições uma gestão efetiva pode-se instaurar coadunada com os esforços dos educadores ambientais. 3 CONTRAPONTOS DA GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA E PARTICIPATIVA Nas últimas décadas do século XX, ampliou-se a consciência dos problemas ambientais, e o discurso do desenvolvimento sustentável penetrou nas mais diversas instâncias da administração pública e do setor privado. Por outro lado, a inserção da economia brasileira nos mercados globais e regionais permaneceu orientada no sentido da busca do crescimento contínuo. O meio ambiente continuou a ser degradado e a ótica do desenvolvimento sustentável passou a ser um exercício de retórica. Esse estilo de desenvolvimento não resolveu o problema da pobreza que afeta uma larga fração da humanidade e contribui para a degradação dos recursosnaturais, o que, por sua vez, reforça a pobreza. A gestão ambiental que tem demonstrado maior eficácia é na qual os usuários diretos dos recursos ambientais são engajados nas decisões de como geri- los, participando da implementação das ações, mudando seus comportamentos de consumo e de produção. No Brasil, os processos democráticos tiveram seu curso retomado na década de 80, e sua consolidação tem sido prejudicada por uma série de ciladas. Para muitos, a democratização parece ter-se esgotado na alteração das regras do jogo institucional, como uma técnica de organização e de administração. TÓPICO 3 | A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM PROL DO PATRIMÔNIO NATURAL 81 As causas da desordem ecológica residiram na própria formação social da política brasileira, cujos elementos mais importantes são a hierarquia, o paternalismo, a repressão e o autoritarismo. Do paternalismo resulta uma sociedade formalista, em que regras e regulamentos são muito mais importantes que fatos, mas, quando oportuno, elas são ignoradas para favorecer os interesses particulares. (FERREIRA, 1993). Ao centrar sua atuação em uma legislação ambiental estabelecida, sem buscar a legitimação mais ampla da comunidade, o governo acaba estimulando a competição ativa entre os grupos que pretendem se beneficiar dos recursos do meio ambiente, gerando um hiato entre a lei ditada e o cumprimento efetivo da legislação e acirrando as competições pelo território e apropriação de seus recursos, ao invés de incentivar seu uso corresponsável. O predomínio da tecnocracia e a defesa aos interesses da elite propiciam uma orientação voltada para a alocação privada dos recursos naturais, exprimindo a primazia da dimensão econômica sobre a conservação. O clientelismo político permite o não discernimento do que contorna a vida pública e a privada, o familiar e o habitual, além de fortalecer os muros que separam drasticamente a ciência, a pesquisa e as esferas de gestão ambiental. O resultado é a face trágica de devastação que atingiu o Brasil em todas as esferas da produção (agricultura e indústria, em especial) afetando a qualidade de vida de seus habitantes (seja pelo processo segregador da urbanização brasileira, seja pelos efeitos da Revolução Verde, que contaminam os habitantes do meio rural). Nesse sentido, uma das marcas registradas da política ambiental brasileira é a perspectiva da democracia delegativa – que busca manter a fragilidade das instituições públicas, permitindo a coexistência de um comportamento político- administrativo ora moderno ora tradicional. O Estado mantém uma posição defensiva ao priorizar a dinâmica econômica, não a problematizando como a origem dos problemas socioambientais gerados durante o período do Milagre do Crescimento Econômico. Desse modo, nos anos de 1980, a criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente não atende prontamente aos desafios para a disseminação de uma gestão ambiental efetiva. Da mesma forma, os órgãos de fiscalização não configuram um modelo institucional adaptado a esses novos desafios. O modelo de gestão ambiental usado pelos órgãos estaduais também entrou em crise: prefeituras de grandes e médias cidades procuram atender a população que está mais atenta às questões ambientais, mas as demandas locais são muitas e os órgãos ambientais são insuficientes. A transição democrática fica, muitas vezes, ameaçada pela forma tradicional de gestão pública, centrada no poder do coronelismo, do chefe de repartição e da discriminação social. 82 UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS Experiências de descentralização, municipalização, desburocratização, parcerias e terceirização têm avanços mais lentos devido à indefinição dos espaços institucionais. A crise é política, não há equilíbrio de forças, não há harmonia concertada no sentido de um planejamento ou de uma política claramente definida para atender a critérios ambientais de mais longo prazo. Em consequência, o sistema político brasileiro atual reflete a hegemonia de uma democracia restrita, pois nele não há igualdade de oportunidades constituindo- se num instrumento para diminuir as diferenças sociais. Como as práticas políticas são muito incipientes, as políticas são veiculadas de cima para baixo, sem um controle social efetivo. No campo ambiental, sinalizam-se indicativos de avanços referentes à participação democrática a partir da criação dos órgãos colegiados, que abrangem as instâncias regionais e locais do país – são os Conselhos de Meio Ambiente e que implicam a representação dos mais diversos setores da sociedade, a realização de audiências públicas para o licenciamento de empreendimentos, nos quais passa a ser exigido um Estudo de Impacto Ambiental (EIA), e o apoio do Fundo Nacional de Meio Ambiente, entre outros. Por outro lado, os movimentos ecológicos, universidades, oligarquias, empresas e o poder público. Raramente, conseguem negociar uma política comum e avançar de forma convergente para a consolidação de uma agenda ambiental global referendada pelas parcerias entre o setor público e o privado. Tal indefinição não permite concretizar o próprio instrumento da Agenda 21 Nacional referendado pelas organizações governamentais e não governamentais, mas sem a correspondente execução e convergência com as Agendas 21 locais. Contrariamente, há limites na democratização do próprio Estado e dos processos de gestão ambiental das diferentes políticas públicas, quando prevalece o autoritarismo nas decisões de investimento dos programas de despoluição e nas ações de fiscalização – apesar das exigências de participação demandadas pelos credores, geralmente agências internacionais. NOTA Caro acadêmico! No contexto apresentado de restrição da prática democrática a educação ativa, não neutra pode alertar o educando para conquistar e multiplicar os espaços de modo que a população possa mobilizar-se a qualquer tempo a ação do Estado. TÓPICO 3 | A ATUAÇÃO DO EDUCADOR EM PROL DO PATRIMÔNIO NATURAL 83 Isso exige muito mais do que as atuais instituições representativas podem oferecer – uma poderosa esfera pública, nem puramente privada, nem puramente estatal, que opere entre a multidão dispersa, de um lado, e o poder concentrado no Estado, de outro, ampliando os espaços da participação e usando, para isso, os recursos que o avanço das técnicas de informação e de comunicação propiciam. Poderemos sair, assim, da democracia restrita para a ampliada refletindo em uma gestão ambiental preventiva e integrada. Há fragilidade na política das relações entre a vida pública e a privada, entre o familiar, o habitual e o inesperado, entre os muros aparentemente intransponíveis das disciplinas científicas e os das diversas esferas de competência que compõem a face trágica da devastação que tradicionalmente assolou a história de ocupação do Brasil. Para a análise das políticas ambientais devem-se considerar as dimensões da política nas quais se configuram as interdependências recíprocas entre as instituições políticas, os processos políticos e os conteúdos concretos da política. Além disso, para compreender os programas e projetos de gestão ambiental é necessário conhecer as diretrizes e objetivos gerais da política setorial e os objetivos globais da política municipal ou nacional como um todo. 84 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você viu que: • A dimensão estratégica de conservação florestal no contexto da política ambiental mundial nos remete à noção de patrimônio de bem comum. • Propõe a noção de patrimonialidade como resgate do comprometimento das pessoas com a geração da qualidade de vida nas suas localidades e com aquilo que deve ser legado para as gerações futuras. • Na noção tradicional as “espécies patrimoniais” são de propriedade do seu titular, o qual tem o direito absoluto de julgar as escolhas e de dispor delas e exercer as ações materiais de uso a seu bel-prazer. • Na nova concepção o patrimôniocomum, o titular do recurso deixa de ser identificado concretamente como um indivíduo com poder absoluto sobre o recurso, as possibilidades de uso e desfruto estão limitadas pela obrigação de prestar conta sobre o modo como o utiliza, ultrapassando o compromisso do uso presente. • O patrimônio natural é definido como o conjunto de elementos naturais e dos sistemas que eles formam que são suscetíveis de serem transmitidos às gerações futuras. (WEBER 1986). • A abordagem patrimonial é, portanto, muito recente como instrumento de análise eficaz para compreender e melhorar a prática de processos locais descentralizados de desenvolvimento. • A gestão democrática, o diagnóstico participativo dos ecossistemas e o resgate do processo histórico de desenvolvimento regional podem vir a se transformar num importante instrumento de sensibilização e de envolvimento comunitário. • Ressaltados serão efetivos com a integração entre as políticas educacionais, de formação dos profissionais, de gestão do território e outras políticas setoriais atuando de modo partilhado e sob o critério da equidade. • A gestão ambiental que tem demonstrado maior eficácia é aquela com participação dos usuários dos recursos ambientais nas decisões de como gerir e na implementação das ações. • No Brasil, a consolidação dos processos democráticos tem sido prejudicada por uma série de ciladas. O predomínio da tecnocracia e a defesa aos interesses da elite expressam a primazia da dimensão econômica sobre a conservação. 85 • O clientelismo político permite o não discernimento do que contorna a vida pública e a privada, há uma democracia restrita, sem igualdade de oportunidade, com políticas ditadas de cima para baixo, prevalece o autoritarismo nas decisões de investimento dos programas de despoluição e nas ações de fiscalização. • A educação contribuirá neste contexto para recriar e multiplicar os espaços do cidadão visando sair da democracia restrita para a ampliada refletindo em uma gestão ambiental preventiva e integrada. 86 1 Como a EA pode ser instrumento para a construção de uma noção de conservação como dever coletivo, considerando os impactos ambientais diferenciados em situações em que a desigualdade social é um imperativo? 2 Quais as consequências advindas da noção de meio ambiente como sendo um bem de uso comum e patrimônio da humanidade? 3 Quais são os riscos que podem impedir o desenvolvimento de programas que promovam o pluralismo, ou seja, o envolvimento e a responsabilização dos múltiplos atores sociais? 4 Qual a importância da gestão negociação entre atores sociais em situação de conflitos de uso dos recursos naturais? Quais os procedimentos da gestão patrimonial nestes casos? 5 Como a fragilidade do avanço da democracia brasileira afeta as conquistas no campo ambiental e compromete os avanços da proposta de desenvolvimento sustentável? 6 Quais são os mecanismos institucionais e legais que visam constituir e estabelecer uma gestão ambiental integrada e genuinamente participativa? AUTOATIVIDADE 87 TÓPICO 4 TEMAS TRANSVERSAIS E INTEGRAÇÃO CURRICULAR UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A emergência da questão ambiental tem resultado em certo engajamento das empresas, a sociedade em geral e das instituições que coordenam as políticas públicas a programarem ações de gestão e educação ambiental. Neste contexto, o tema Meio Ambiente, pela própria urgência e gravidade do problema, foi incluído nas orientações curriculares do Ministério da Educação como um tema transversal que permeia toda prática educacional. Na perspectiva da transversalidade, o tema meio ambiente será desenvolvido na interface das disciplinas escolares, considerando os aspectos físicos e biológicos e, principalmente, os modos de interação do ser humano com a natureza, por meio de suas relações sociais, do trabalho, da ciência, da arte e da tecnologia. Neste tópico, iremos definir como se configuram os temas transversais nos projetos das escolas, a inclusão da questão ambiental na interdisciplinaridade e multidisciplinaridade, sugerindo conteúdos fundamentais na formação do cidadão. Também retrataremos como praticamente podem ser incluídas pequenas atividades que contribuem para efetivar a Educação Ambiental nas escolas. 2 ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA A educação bancária não focaliza sua prática para o desenvolvimento de conteúdos procedimentais, voltados para a formação de sujeitos comprometidos com a transformação social. Associado a isto, a tendência crescente de urbanização das pessoas as têm distanciado da convivência com os ecossistemas naturais. De um modo geral, os contatos das pessoas se restringem a ambientes construídos, geralmente, com fins de lazer (jardins, animais de estimação, parques e praças revitalizados, hotéis, fazendas, parques aquáticos e praias). Tais experiências não dão suporte suficiente para a compreensão real da dinâmica de interações possíveis nos ecossistemas livres da manipulação planejada para os desígnios humanos. Como resultado, são crescentes as incompreensões das pessoas quanto aos fenômenos ecológicos o que aumenta o desafio da pedagogia. Ela precisa 88 UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS dar conta da complexidade ambiental para efetivar a alfabetização ecológica (usualmente, denominada de consciência ecológica) que consiste em redefinir o olhar sobre o mundo e o modo de nele se relacionar, articulando redes de cooperação solidária que originam as comunidades de aprendizagens. NOTA A alfabetização ambiental inclui além de um processo de codificação e decodificação da palavra escrita, o domínio do conhecimento quanto aos fenômenos naturais e a dinâmica de transformação social e cultural a ele inscrita. (MELLO; TRABJER, 2007). Como ponto de partida para o educador se integrar nas comunidades de aprendizagem é preciso conhecer os seguintes princípios ecológicos destacados por Capra (apud GADOTTI, 2000): • Interdependência: os ecossistemas são interligados em uma teia de relações que se autossustentam. A sociedade é parte de um sistema que se desenvolve positivamente se estabelecidas as inter-relações entre os diferentes níveis de estruturação do conhecimento (dos pesquisadores, educadores e educandos) em que o conhecimento prático e teórico esteja em relação de coesão e complementaridade. • Sustentabilidade: o padrão de uso dos recursos naturais, econômicos, culturais e sociais pode eliminar, num futuro mais ou menos próximo, as bases de sobrevivência das espécies. O gestor do processo de aprendizagem deve ter claro dos impactos que gera sobre os participantes. • Ciclos ecológicos: são circuitos de regeneração, autorreguláveis nas relações de trocas. A informação para fluir ciclicamente depende do intercâmbio bidirecional professor/aluno. • Fluxo de energia: a energia em transformação comanda a produção de alimentos nos ciclos ecológicos. A liberdade de fluir no espaço de aprendizagem é fundamental para os resultados produtivos onde há espaços de liberdade para fluir. • Associação: os seres vivos participam, cooperam e se ajudam mutuamente para contrapor aos competidores. Num coletivo a coesão se dá pela participação democrática. • Flexibilidade: não há uma programação que se estrutura linearmente na natureza. Precisa-se de elasticidade para aceitar as adversidades e encarar os novos desafios, nem tudo pode ser previsto ou controlado. TÓPICO 4 | TEMAS TRANSVERSAIS E INTEGRAÇÃO CURRICULAR 89 • Diversidade: as diferentes formas de apreender a realidade e inventar saídas para os problemas enfrentados conferem maior estabilidade para os sistemas. A estabilidade dos ecossistemas depende da variabilidade genética e da diversidade na oferta de recursos dos ecossistemas. • Coevolução: em cooperação a evolução ocorre concomitantemente entre os parceiros. As espécies dos ecossistemas interagem e se adaptam às mudanças, muitas vezes, com a ajuda mútua.Este conhecimento pressupõe uma abordagem somente recentemente redefinida no campo da ecologia e biologia, em especial. Cabe ressaltar que o educador precisa saber distinguir a educação ambiental enquanto conteúdos informações do campo da ecologia e a educação enquanto educação política de ação para a transformação da sociedade. (PELICIONE, 2004). Desta forma, a alfabetização ecológica tem o desafio de romper com a racionalidade dominante da sociedade moderna, redefinindo o próprio conceito que temos de capacidade de autossustentação do planeta terra. Assumir que somos os principais responsáveis pela gestão dos ecossistemas, e podemos construir jardins democráticos, diversos, harmônicos, produtivos ou construir quintais monoculturais, desiguais, caóticos e inférteis. Os gestores e educadores ambientais serão os administradores essenciais do futuro, por auxiliar na orientação do sentido da condução do desenvolvimento da humanidade no planeta Terra. A base de conhecimento ecológica preconizada para o bom desempenho do educador ambiental pode ser buscada no próprio conhecimento popular, além do adquirido no meio acadêmico. Observe como o pensamento das populações tradicionais apresentava o compromisso e o respeito aos ciclos naturais que impedia as apropriações praticadas pela sociedade moderna e sua ilimitada capacidade de intervenção tecnológica no planeta Terra. Neste sentido, é ilustrativo o filme Amazônia em Chamas, que retrata a história do sindicalista Chico Mendes e a luta das populações tradicionais em garantir sua sobrevivência a partir do extrativismo sustentável dos recursos da floresta. As sociedades modernas, ao contrário das tradicionais, se livraram dos mitos, das explicações místicas da origem e continuidade da vida, podendo assim se apropriar dos territórios, eliminando as culturas e suas racionalidades. 90 UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS 3 O MEIO AMBIENTE NOS CURRÍCULOS ESCOLARES Comumente, pensamos a escola como currículo, disciplinas, salas de aula, classes e professores. Instituímos que a escola deve se atualizar sobre questões emergentes na sociedade, portanto a questão ambiental deve ser inserida nos conteúdos escolares. Mas falta perguntar: “como os conteúdos elencados em cada disciplina tratam da realidade?” É importante avaliar o quanto as nossas divisões da realidade em temas isolados acabam segmentando, fragmentando, simplificando e isolando os componentes fundantes da realidade. Como relatamos, anteriormente, não se faz Educação Ambiental apenas criando uma disciplina de meio ambiente, sem que se atribuam novas responsabilizações a cada um dos componentes curriculares que apresenta atributos pertinentes à área ambiental. Busca-se a conexão permanente entre as questões culturais, políticas, econômicas, sociais e culturais, determinantes da nossa relação com o ambiente de modo a ampliar o entendimento, integrar ações e evitar novas divisões do conhecimento, buscando compreender a interdependência entre os componentes dos sistemas urbanos ou rurais. Além desta integração de conteúdos entre as disciplinas, a Educação Ambiental requer a integração entre saberes científicos e populares, sendo esta a base para o diálogo com a realidade socioambiental do educando. Também implica aprender com a realidade (uma perspectiva vivencial) e não sobre a realidade (numa perspectiva de quem trata a realidade como objeto do pesquisador). Nesse ínterim, a Educação Ambiental lança dois novos desafios metodológicos. Primeiro, introduzir temáticas inerentes à realidade econômica social e ambiental. Segundo, programar a inter e transdisciplinaridade rompendo com o reducionismo das disciplinas e a busca da compreensão da totalidade da realidade. FONTE: Adaptado de: <www.espacoacademico.com.br/091/91encarnacao.htm>. Acesso em: 26 ago. 2011. TÓPICO 4 | TEMAS TRANSVERSAIS E INTEGRAÇÃO CURRICULAR 91 FIGURA 7 – ESTRUTURA DOS PCN PARA O ENSINO FUNDAMENTAL Objetivos Gerais do Ensino Fundamental Caracterização da Área ÁREA DE LÍNGUA PORTUGUESA ÁREA DE MATEMÁTICA ÁREA DE CIÊNCIAS NATURAIS ÁREA DE HISTÓRIA ÁREA DE GEOGRAFIA ÁREA DE EDUCAÇÃO FÍSICA ÁREA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA ÁREA DE ARTE Ética - Saúde - Meio Ambiente - Orientação Sexual - Pluralidade Cultural - Trabalho e Consumo 1º Ciclo (.ª e 2ªs.) Objetivos da Área para o Ciclo Conteúdo da Área para o Ciclo Critérios de Avaliação da Área para o Ciclo Orientações Didáticos Objetivos Gerais da Área 2º Ciclo (3ª e 4ªs.) 3º Ciclo (5ª e 6ªs.) 4º Ciclo (7ª e 8ªs.) 1ª Parte Ensino Fundamental 2ª Parte Especificação por Ciclos FONTE: Brasil (1998) Os temas transversais, tradicionalmente, foram esquecidos pela escola, por não se encaixarem prontamente em uma das matérias obrigatórias dos currículos. Entre eles estão questões de grande urgência social tais como, violência, degradação ambiental, sexualidade, racismo, subdesenvolvimento e direitos humanos escolares. Observe na figura anterior como na articulação das áreas o tema transversal meio ambiente está incluído de modo a permear todas as disciplinas e incluindo todas as séries de ensino fundamental. A definição da área e a forma como se inserem em cada ciclo as temáticas são realizadas pelo coletivo de educadores; além disso, a participação de cada um é garantida pela motivação dos orientadores. 92 UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS A transversalidade constitui, conforme Yus (1998, p. 21), “numa forma de entender o tratamento de determinados conteúdos educativos que não fazem parte das disciplinas ou áreas clássicas do saber e da cultura”. O tratamento dos temas transversais pressupõe as seguintes orientações: • Promovem a interdisciplinaridade, o pensamento complexo e holístico. • Orientam para a integração curricular constituída a partir do diálogo entre educadores, estabelecendo as inter-relações dos conteúdos. • Propõem a elaboração de projetos como forma de esforço conjunto e complementar e proporcionam direção e durabilidade nas atividades pedagógicas da escola. Ao traçar objetivos e metas comuns, o grupo define de modo coerente o tipo de cidadão que pretende formar. • Incluem a dimensão da formação crítica e participativa, abrindo-se para a vida ao fazer a conexão dos conteúdos de ensino com problemáticas relevantes do contexto do educando. • Incentivam maior proximidade da escola com a comunidade, rompendo com o seu isolamento característico em relação às questões de urgência social, econômica e ambiental, enfrentadas pelo educando. Ao indicar os temas nos Parâmetros Curriculares Nacionais se pretende “apontar metas de qualidade que ajudam o aluno a enfrentar o mundo atual como cidadão participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de seus direitos e deveres”. (SEF, 1997, p. 9). Portanto, buscam proporcionar flexibilidade aos currículos, estimulando a elaboração coletiva e autônoma dos projetos educacionais, atentos às especificidades de cada escola. A seguir, leia o texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais que trata da importância e da forma inclusão do Meio Ambiente como um tema transversal e tem significado grande avanço na concepção da educação ambiental que se pretende efetivamente praticar no universo escolar da nação brasileira. TÓPICO 4 | TEMAS TRANSVERSAIS E INTEGRAÇÃO CURRICULAR 93 LEITURA COMPLEMENTAR A NECESSIDADE DE TRANSVERSALIZAÇÃO DO TEMA NAS ÁREAS Secretaria de Educação Fundamental Nos Parâmetros Curriculares Nacionais os conteúdos de Meio Ambiente foram integrados às áreas, numa relação de transversalidade, de modo que impregne toda a prática educativa e, ao mesmo tempo, crie uma visão global e abrangente da questão ambiental, visualizando os aspectos físicos e histórico- sociais, assim como a articulação entre a escala local e planetária desses problemas. Trabalhar de forma transversal significa buscar a transformação dosconceitos, a explicitação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à realidade cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participantes. Cada professor, dentro da especificidade de sua área, deve adequar o tratamento dos conteúdos para contemplar o Tema Meio Ambiente, assim como os demais Temas Transversais. Essa adequação pressupõe um compromisso com as relações interpessoais no âmbito da escola, para haver explicitação dos valores que se quer transmitir e coerência entre estes e os experimentados na vivência escolar, buscando desenvolver a capacidade de todos para intervir na realidade e transformá-la, tendo essa capacidade relação direta com o acesso ao conhecimento acumulado pela humanidade. A organização do território depende da formação social, de fatores de ordem política, econômica e cultural e, portanto, pode sempre ser transformada a fim de, por exemplo, buscar a ideia de justiça e de um ambiente saudável. Essa preocupação é central na formação de cidadãos que procuram a equidade na melhoria das condições de vida. Para isso, a preocupação ambiental inserida nas várias áreas do saber é decisiva. Na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, essas áreas apontaram a relação de seus conteúdos com o tema Meio Ambiente e algumas destacaram um bloco de conteúdos ou eixo temático que trata diretamente da relação sociedade/natureza ou vida e ambiente. Isso retrata a dimensão do trabalho que se deseja com essa questão, diante das necessidades impostas pela realidade socioambiental. As áreas de Ciências Naturais, História e Geografia são as tradicionais parceiras para o desenvolvimento dos conteúdos aqui relacionados, pela própria natureza dos seus objetos de estudo. Mas as demais áreas ganham importância fundamental, pois, cada uma, dentro da sua especificidade, pode contribuir para que o aluno tenha uma visão mais integrada do ambiente: Língua Portuguesa, trabalhando as inúmeras “leituras” possíveis de textos orais e escritos, explicitando os vínculos culturais, as intencionalidades, as posições valorativas e as possíveis 94 UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS ideologias sobre meio ambiente embutidas nos textos; Educação Física, que tanto ajuda na compreensão da expressão e autoconhecimento corporal, da relação do corpo com ambiente e o desenvolvimento das sensações; Arte, com suas diversas formas de expressão e diferentes releituras do ambiente, atribuindo- lhe novos significados, desenvolvendo a sensibilidade por meio da apreciação e possibilitando o repensar dos vínculos do indivíduo com o espaço; além do pensamento Matemático, que se constitui numa forma específica de leitura e expressão. São todas fundamentais, não só por se constituírem em instrumentos básicos para os alunos poderem conduzir o seu processo de construção do conhecimento sobre meio ambiente, mas também como formas de manifestação de pensamento e sensações. Elas ajudam os alunos a trabalhar seus vínculos subjetivos com o ambiente, permitindo-lhes expressá-los. É interessante, ainda, que se destaque o ambiente como parte do contexto geral das relações ser humano/ser humano e ser humano/natureza, em todas as áreas de ensino, na abordagem dos diferentes conteúdos: seja no estudo das variadas formas de organização social e cultural, com seus mais diversos conflitos, ou no trabalho com as várias formas de comunicação, expressão e interação, seja no estudo dos fenômenos e características da natureza ou na discussão das tecnologias que mediam as várias dimensões da vida atual. Cada professor pode contribuir decisivamente ao conseguir explicitar os vínculos de sua área com as questões ambientais, por meio de uma forma própria de compreensão dessa temática, de exemplos abordados sobre a ótica de seu universo de conhecimentos e pelo apoio teórico-instrumental de suas técnicas pedagógicas. Os conteúdos foram reunidos em três blocos: • A natureza “cíclica” da Natureza • Sociedade e meio ambiente • Manejo e conservação ambiental O primeiro bloco apresenta conteúdos que possibilitam ampliar e aprofundar o conhecimento da dinâmica das interações ocorridas na natureza. Essa fundamentação dá consistência à argumentação em defesa e proteção daquilo que as pessoas amam e valorizam. O segundo bloco trata de aspectos mais abrangentes da relação sociedade/ natureza, enfatizando as diferentes formas e consequências ambientais da organização dos espaços pelos seres humanos. Tendo como base as características integradas da natureza, e de como ela se altera segundo as diferentes formas de organização socioculturais, este bloco inclui desde a preocupação do mundo com as questões ecológicas até os direitos e responsabilidades dos alunos e sua comunidade com relação à qualidade do ambiente em que vivem, e as possibilidades de atuação individual e coletiva. TÓPICO 4 | TEMAS TRANSVERSAIS E INTEGRAÇÃO CURRICULAR 95 O último bloco trata mais especificamente das possibilidades, positivas e negativas, de interferências dos seres humanos sobre o ambiente, apontando suas consequências. Busca discutir algumas formas adequadas de intervenção humana para equacionar melhor os seus impactos. Estes são três aspectos das questões ambientais: os blocos não são estanques, nem sequenciais, mas aglutinam conteúdos relativos aos diferentes aspectos que configuram a problemática ambiental. Eles possibilitam enxergar de maneira mais consistente esses determinantes dos vários ambientes, como eles se configuraram e como poderiam ser modificados. Entre outros fatores, alguns dos que mais mobilizam tanto os adolescentes e jovens quanto os adultos a respeitar e conservar o meio ambiente são o vínculo afetivo, o desafio de conhecer as características, as qualidades da natureza; o perceber o quanto ela é interessante, rica e pródiga, podendo ser ao mesmo tempo muito forte e muito frágil; o perceber e valorizar, no dia a dia, a identificação pessoal com o ambiente local; o saber se parte dela, como os demais seres habitantes da Terra, dependendo todos — inclusive sua descendência — da manutenção de condições que permitam a continuidade do fenômeno da vida, em toda a sua grandiosidade. Entre os conteúdos, os procedimentos merecem atenção especial. Os conteúdos dessa natureza são aprendidos em atividades práticas. São um “como fazer” que se aprende fazendo, com orientação organizada e sistemática dos professores. A atuação nessas atividades favorece tanto as construções conceituais quanto o aprendizado da participação social. Além disso, constituem situações didáticas em que o desenvolvimento de atitudes pode ser trabalhado por meio da vivência concreta e da reflexão sobre ela. Dentre esses conteúdos destacam-se: • alternativas variadas de expressão e divulgação de ideias e sistematização de informações como realização de: cartazes, jornais, boletins, revistas, fotos, filmes, dramatização; • técnicas de pesquisa em fontes variadas de informação (bibliográficas, cartográficas, memória oral etc.); • análise crítica das informações veiculadas pelos diferentes canais de comunicação (TV, jornais, revistas, vídeos, filmes comerciais etc.); • identificação das competências, no poder local, para solucionar os problemas ambientais específicos; • identificação das instituições públicas e organizações da sociedade civil em que se obtêm informações sobre a legislação ambiental (nos níveis municipal, estadual e federal) e possibilidades de ação com relação ao meio ambiente; 96 UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS • formas de acesso aos órgãos locais e às instâncias públicas de participação, tais como Conselhos Estaduais, Conselhos Municipais, Consórcios Intermunicipais etc., onde são debatidos e deliberados os encaminhamentos das questões ambientais; • acompanhamento das atividades das ONGs (Organizações Não Governamentais) ou de outrostipos de organizações da sociedade que atuam ativamente no debate e encaminhamento das questões ambientais. (SEF, 1997, p. 203 -205). FONTE: SEF/MEC. PARÂMETROS CURICULARES NACIONAIS: Primeiro e segundo ciclo do Ensino Fundamental: introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria Educação Fundamental –Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ttransversais. pdf>. Acesso em: 26 abr. 2011. 97 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você viu que: • A alfabetização ecológica é um processo educativo que visa redefinir o olhar sobre o mundo e o modo de nele se relacionar, articulando redes de cooperação solidária que originam as comunidades de aprendizagens. • Os princípios que norteiam a dinâmica dos ecossistemas e a sustentação da vida podem nortear o processo pedagógico, colaborando no fortalecimento das comunidades de aprendizagens. • O gestor ambiental pode ser valorizado como um grande agente de transformação nas relações sociedade/natureza ou perder sua potencialidade de condução do planeta em caso de supremacia dos padrões atuais de racionalidade da sociedade moderna. • O tema transversal meio ambiente é desenvolvido na interface das disciplinas escolares. • O conhecimento em meio ambiente envolve além da dimensão da física e da biologia, a dimensão das relações sociedade/natureza que tem a contribuição das ciências econômicas e sociais. • No desenvolvimento de habilidades e sensibilidades as artes e as linguagens são fundamentais para introduzir novos significados nas relações sociedade/ natureza. • A visão geral e abrangente da questão depende da integração curricular. • A formação de novas atitudes e valores depende de conteúdos que se referem à realidade cotidiana e que tenham relevância social. • Disciplinas do campo das ciências sociais e humanas são fundamentais para desenvolver conhecimentos atitudinais, motivam o cidadão para a participação ativa na transformação da realidade. • Cada professor, dentro da especificidade de sua área, deve adequar o tratamento dos conteúdos para contemplar o tema. • Os conteúdos sugeridos para serem trabalhados na escola podem abranger as questões de natureza reflexiva, de compreensão da dinâmica das relações sociedade/natureza ou das formas de intervenção. 98 • As situações didáticas podem envolver atividades extraescolares, tais como enquetes, pesquisa de campo, parcerias com os meios de comunicação, participação em conselhos e movimentos ambientalistas. • Os temas transversais consistem numa forma de organizar o trabalho didático onde os conteúdos são incorporados às áreas já existentes, sem eliminá-las, contemplando a complexidade das questões sociais e ambientais. 99 1 Em que consiste a alfabetização ecológica? Observe que muitos estudantes frequentaram todo o Ensino Fundamental, mas não obtiveram nas aulas de Ciências, História, Geografia conceitos, informações, trocas de experiências e vivências estruturantes para uma base sólida para a compreensão da questão ambiental. 2 Quais são as mudanças a serem estruturadas na sua vida e no espaço de trabalho se orientadas pelos princípios da alfabetização ecológica? 3 Por que nos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) o meio ambiente é reconhecido como um tema transversal? 4 O que significa trabalhar um conteúdo de forma transversal? 5 Como as diversas áreas do conhecimento contribuem para o desenvolvimento de uma visão integrada e abrangente das questões ambientais? 6 Quais são as possíveis dificuldades enfrentadas pelas escolas para avançar na adoção da proposta da transversalização dos conteúdos? 7 Como se integram os três blocos sugeridos nos PCN, permitindo uma visão abrangente e multi e interdisciplinar da questão ambiental? AUTOATIVIDADE 100 101 TÓPICO 5 MEIO AMBIENTE NOS CONTEÚDOS ESCOLARES UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Os educadores ambientais precisam estar preparados para utilizar os mais diversos materiais que o cotidiano nos apresenta, explorando a sua diversidade de forma crítica. Ao estar atentos a aspectos da cultura popular e de outros elementos que provenham do contexto do educando terá estudantes motivados na busca de sua própria aprendizagem. São muitas atividades que tem despertado a atenção dos educandos no campo da educação ambiental: campanhas educativas, gincanas ecológicas; eventos ecológicos (como seminários, feiras e oficinas); mutirões, festas, concursos, caminhadas e trilhas, programas de rádio e jornais escolares, entre outros. Estas atividades não podem se restringir a um momento do espaço da escola em que o professor interrompe a continuidade dos conteúdos para organizar um evento sem relacionar a temática tratada com o cotidiano escolar. Mesmo que a instituição de ensino tenha incluído este evento no calendário a Educação Ambiental não se resume a estas ações pontuais, ao contrário a atividade precisa ser planejada como parte de um envolvimento dos educadores e da comunidade escolar mais ampla. No ato de organização do currículo as atividades lúdicas sustentam o foco de interesse do educando pela escola sempre se for considerado cada momento de aprendizado das crianças, adolescentes e adultos. 2 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DO EDUCANDO Na perspectiva piagetiana de educação, o desenvolvimento da inteligência no indivíduo ocorre nas ações e nas percepções, nas imagens e na linguagem. O desenvolvimento é um processo adaptativo que se estende da adaptação biológica para a adaptação psicológica seguindo estágios sucessivos. FONTE: Adaptado de: <http://www.robertexto.com/archivo5/teoria_construtivista.htm>. Acesso em: 26 ago. 2011. 102 UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS Cada estágio integra as aquisições anteriores e as reorganiza dentro de um contexto mais amplo, e assim as aquisições sensoriais da primeira e da segunda etapa de desenvolvimento se mantêm nos adultos, mas submetidas ao controle do pensamento formal. Nesta concepção piagetiana, a educação é formada por sujeitos que não se limitam a experimentar as influências do ambiente de forma passiva, mas ativamente busca a informação e elabora a conduta. Sempre é um ato de conhecer e transformar a realidade, e esta transforma a si mesmo e reelabora. Cada indivíduo apresenta uma motivação interna de busca do saber e desenvolve os seus próprios mecanismos de recompensas, os quais se sucedem de modo evolutivo e por etapa, respeitando os tempos cíclicos de cada idade. Jean Piaget evidenciou regularidades traduzidas em estágios sucessivos de desenvolvimento que iniciam a partir do nascimento e vão se sucedendo até a adolescência. Também percebeu que estes não ocorrem meramente através do acúmulo de conhecimento (como ato de apreender para aprender), mas sim do desenvolvimento das estruturas de pensamento (ato de desenvolver). Porém, tais estágios não são delimitados de forma rígida, mas seguem variações individuais, nem sempre de superação clara entre um estágio e o seu subsequente. Conforme argumento central do autor, o desenvolvimento infantil é um processo temporal por excelência. O tempo é apresentado na sua dimensão de duração: enquanto invariável na aquisição das estruturas e operações cognitivas e enquanto ritmo - podendo modificar conforme a velocidade com que a maturidade ocorre em cada pessoa, dadas pela herança genética, a experiência física individual com os objetos e a transmissão social. (GARCIA; FERNANDEZ; MENDELLÍN, 2007). NOTA Para aprofundar o conhecimento desta abordagem na educação sugiro a leitura do livro: LA TAILLE, Yves D.; OLIVEIRA, Marta; DANTAS, Heloisa. Piaget, Vygostky, Wallon, teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Ed Summus, 1992. É na fase denominada pela escola piagetiana de Pré-Operatória que há o desenvolvimento da função semiótica com o uso crescente dos símbolos e signos, no domínio da linguagem. Já, no estágio das Operações Concretas da idadeescolar, dos 7 aos 12 anos, ocorrem as operações mentais que permitem resolver problemas lógico/matemáticos como a classificação; constituem inferências características do raciocínio lógico. As crianças nesta fase estão lidando com noções de causa/efeito, nas brincadeiras passam a combinar regras, com a capacidade de desenvolver esquemas, realizar o jogo até o final e retornar à situação inicial. Também a criança TÓPICO 5 | MEIO AMBIENTE NOS CONTEÚDOS ESCOLARES 103 terá uma avaliação mais pormenorizada do todo e sua composição em partes, retornando ao todo através das partes. Nessa fase, ocorre a sistematização e a estabilidade de muitas noções relacionadas aos objetos, tendo como referência o sujeito. É uma fase muito importante, pois, é nela que ocorre o preparo para a alfabetização. Tudo aquilo que ela representou através da linguagem oral e de desenhos, assume novas formas quando lida com essa nova representação. Neste período operatório a criança passa a dissociar a ação da expressão oral: passa do conceito falado ao conceito escrito e lida com operações matemáticas. FONTE: Disponível em: <www.cefac.br/library/teses/6cebb2f37b7aaf0d8cf301c0a0630edc.pdf>. Acesso em: 26 ago. 2011. A criança distingue o desenho e a escrita fazendo uso de sinais gráficos para reproduzir letras, realiza a ordem linear dos elementos gráficos na escrita. Mas como a Educação Ambiental se concretiza nesta fase de alfabetização? Primeiramente, é necessário identificar nas crianças as representações sociais de meio ambiente, utilizando o lúdico como base de dados e como forma de despertar e cativar o interesse da criança pela temática. Através da representação visual dos desenhos, teatro e redação podemos envolver as crianças de forma intensa e assim, resgatar sua compreensão de mundo. As relações indivíduo/sociedade resultam da interação dialética do homem e seu meio sociocultural, através da informação simbólica da linguagem e as vivências provenientes do meio cultural em que ela está inserida. Assim ao proporcionar excursões e observações na realidade local (um riacho próximo ou uma praça) se está despertando a criança para conhecer e pensar o mundo em que se insere. Num primeiro momento do desenvolvimento, o pensamento da criança continua centrado no seu próprio ponto de vista. Representam a imagem da realidade que lhes é aparente, ora romanticamente bela e ordenada, ora drasticamente contaminada e caótica. Na perspectiva construtivista cabe ao educador ambiental proporcionar à criança o sentido da observação, valorizando a percepção lúdica e sensitiva, sem se preocupar em trazer conceitos predefinidos situadas em problemáticas complexas e abstratas. Com o desenvolvimento a criança passa a ter noção de tempo, espaço e ordem; é capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Já compreende regras e as cumprindo, não mais se limita a uma representação imediata do mundo concreto; pode chegar à abstração e consegue representar uma ação. 104 UNIDADE 2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS Neste período, a criança está em constante formação estrutural da ideia, dá significado à realidade vivida. Cabe ao educador oportunizar as experiências de convivência com a natureza. As aulas de ciência se compartilhadas em ecossistemas, hortas, pomares, praças implicarão em afetividades e conhecimento da natureza. Gradativamente, utiliza-se de forma coerente e fluente da linguagem para acompanhar e apoiar seu raciocínio. Passa então a coordenar mentalmente mais de uma relação, justificando suas respostas e baseando-se em argumentos lógicos. Consegue assimilar o objeto que é percebido, separando as partes (elementos, propriedades ou relações) do todo, compreendendo de forma mais coerente e ágil. Nesta etapa a dimensão da problemática ambiental pode então ser pedagogicamente tratada. São problemas comuns, nos campos e nas cidades, tais como: poluição, biodiversidade erosão, doenças hídricas e perda dos benefícios múltiplos que o recurso hídrico pode oferecer (nadar, pescar, beber água, lavar e outros). Somente, então se avança para as explicações de causas, consequências e a busca de responsabilidades. Convêm domínios do campo filosófico, político e social para evitar possíveis simplificações e posicionamentos normativos, característicos de uma educação acrítica, que prefere atribuir culpados à essência do homem genericamente definido, destituído de uma racionalidade e de um “espírito de bondade”. Propõem saídas baseadas em comportamentos individuais e ações pontuais, nada condizentes com a complexidade das questões ambientais. Ao se direcionar a Educação Ambiental para respostas apressadas e justificativas simplificadoras impede-se de realizar uma verdadeira alfabetização ecológica, formadora de sentidos expressos em dramatizações, poesia, literatura, práticas de laboratório, descobertas do universo e da dinâmica da natureza. Construções gramaticais específicas relatando a dramatização, como ponto específico introduzem o cotidiano no sentido real da paisagem local, de modo a expressar o sentido e atingir os alunos para a contribuição na formação de cidadão e de profissionais docentes mais informados e comprometidos com ações que promovam a conscientização da preservação, conservação, recuperação ambiental como forma de garantir às gerações futuras desenvolvimento com qualidade de vida, surge como proposta conteúdo da dramatização no que se refere à EA que informalmente pretende desenvolver. TÓPICO 5 | MEIO AMBIENTE NOS CONTEÚDOS ESCOLARES 105 3 ATIVIDADES DE SENSIBILIZAÇÃO E INTERVENÇÃO NA REALIDADE Fazem parte da proposta de sensibilização da comunidade em geral frente a um problema ambiental evidente e abrangente, com potencial para originar risco de saúde pública e comprometimento da integridade dos ecossistemas locais. As campanhas podem envolver temáticas, como: • Denúncias contra desmatamentos, queimadas, ocupações de áreas de preservação permanente, caça predatória, maus tratos com animais e perda da biodiversidade local. • Esclarecimento quanto a riscos ambientais tanto no que se refere a riscos individuais como alimentação e saúde do trabalhador, quanto a riscos coletivos como a questão nuclear. • Deposição irregular do lixo doméstico com coleta seletiva. • Programas de envolvimento comunitário e empresas na conservação de recursos naturais no estilo “Adote uma árvore”, “adote uma praça”. • Mutirões de limpeza de rios e terrenos, visando expor o problema da deposição irregular dos resíduos sólidos, os riscos para a saúde, a fauna e flora e a poluição visual. • Combate a zooneses devido ao uso indevido dos recursos hídricos como depósito, o descuido com animais domésticos e a geração de focos de contaminação provenientes da deposição no ambiente de resíduos sólidos e esgoto cloacal. As experiências, neste campo, têm demonstrado que a escola pode desencadear estas ações, mas se fortalecem quando ocorrem parcerias com empresas associações de moradores, prefeituras e ONGs. É importante que educadoras(es) estejam atentos(as) quanto à forma como será a participação das turmas de estudantes, observando a integração dos conteúdos com as temáticas, de modo reflexivo e de acordo com o estágio de desenvolvimento do educando. Adolescentes e crianças terão diferentes envolvimentos nas campanhas, o que poderá trazer resultados significativos para a aprendizagem ou não. Os riscos da atividade não ter êxito é maior quando o planejamento da campanha for realizado de modo não participativo. A mesma observação se estende para o respaldo na comunidade. O esclarecimento inicial dos envolvidos é uma etapa imprescindível, mais do que a própria campanha em si. O apoio de profissionais da área da educação pode ser fundamental. Para divulgar a campanha é necessária a preparação de folhetos, cartazes, palestras e o apoio da imprensa local. 106 UNIDADE2 | ABORDAGENS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESPAÇOS ESCOLARIZADOS 3.1 DATAS COMEMORATIVAS E EVENTOS Os eventos relacionados com as datas comemorativas, se incluídos na rotina dos educadores podem ser mais um espaço para tratar de temas específicos. Esta ação tem importância quando o tratamento da questão não se restrinja a este dia homenageado. O ideal seria correlacionar as datas com os acontecimentos da sala de aula para não fragmentar conteúdos ou gerar a impressão de descontinuidade do problema. São muitas datas: controle da poluição por agrotóxicos, turismo ecológico, datas comemorativas ao dia mundial da água, conservação do solo, índio, caatinga, mata atlântica, meio ambiente, combate à poluição, pela limpeza da água, limpeza de praias, mares, oceanos, árvore, cidade sem meu carro entre outras. A escola precisa se planejar para decidir em quais destas datas vai realizar ações ou como o fará de modo a garantir seu papel educativo e as atribuições quanto à sistematização dos conhecimentos e organização dos estudos dos educandos. Eventos que envolvam a comunidade escolar são importantes para o desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental. Podem ser propostas atividades que promovam uma reflexão sobre as questões ambientais, através da formação de grupos de alunos com trabalhos como: reciclagem, arte a partir dos resíduos sólidos, jornal ecológico, painéis, cartazes e maquetes, manejo de culturas e debates sobre problemas ambientais da comunidade. Os temas poderão ser resultados de atividades de grupos, envolvendo várias disciplinas e os estudantes. 3.2 A MÚSICA, A ARTE E A LITERATURA NO APRENDIZADO A sala de aula precisa sair da sua rotina de quadro, conteúdo, apresentações de data show e exposição oral sempre demandando do estudante o silêncio, a repetição e a anotação. Assim o espaço da sala de aula torna-se como um local frio e distante da capacidade criativa e exuberante que vive o adolescente. Uma das formas de tornar mais estimulante o ensino das ciências ambientais é aproximando mais intrinsecamente o professor e o aluno com o uso da música, a literatura, poesia, fotografias, pinturas que retratam e instigam a reflexão sobre as temáticas socioambientais. Mais especificamente através da música temos uma possibilidade de despertar a curiosidade, imaginação e integração do ser. Através do canto, a interpretação, os aplausos a sala de aula perde sua monotonia característica e são estimulados os domínios da leitura e da interpretação. Constitui-se numa forma de refletir sobre as questões da realidade e estimulando para que o educando se torne um sujeito mais crítico em suas escolhas pela vida. TÓPICO 5 | MEIO AMBIENTE NOS CONTEÚDOS ESCOLARES 107 Temos o desenvolvimento socioafetivo em que o estudante se identifica com grupos que traduzem suas linguagens e se descobre com os outros, melhorando sua socialização e seu sentido de pertencimento com a comunicação e a descontração. Atividades musicais desenvolvidas em grupos favorecem a afetividade, a participação e a autoestima do educando. UNI INDICAÇÃO DE LEITURAS! Veja a obra Não verás país nenhum de Ignácio Loyola Brandão. Uma obra que pode ser trabalhada em conjunto com o professor de literatura. Pode instigar uma série de discussões por apontar de modo realístico situações decorrentes do aquecimento global, da poluição e de segurança alimentar. Também leva ao questionamento sobre as consequências políticas e sociais de uma sociedade sujeita a situações de derradeira crise ecológica. Para ajudar esta reflexão são interessantes os filmes: Home – Nosso Planeta, Nossa casa de Yann Hartus Bertrand; O dia depois de amanhã de Roland Hemmrech e O Dia seguinte de Nicholas Meyer. Todos estes temas são salutares para gerar um debate sobre as questões ambientais do mundo contemporâneo. Já, a obra de José Saramago Ensaios sobre a Cegueira retrata a suscetibilidade do ser humano quanto ao sentido da visão, faz uma crítica aos valores sociais quando sem os sentidos tudo pode ser ocultado, inclusive no que se refere aos hábitos de higiene e da sexualidade. Neste caso, também há o filme de mesmo nome dirigido por Fernando Meirelles. São muitas as músicas que podem ser introduzidas em sala de aula, visando desenvolver a sensibilidade quanto à questão ambiental. Entre elas destacamos as seguintes: Luiz Gonzaga com Xote Ecológico, A volta da asa branca, Assum preto, Asa Branca e Boiadeiro; Legião Urbana com Índios; Roberto Carlos com As Baleias, Progresso; Guilherme Arantes com Planeta Água; Cio da terra com Milton Nascimento e Beto Guedes com O Sal da terra. 108 RESUMO DO TÓPICO 5 Neste tópico, você teve oportunidade de estudar os seguintes assuntos: • Na perspectiva piagetiana de educação o desenvolvimento da inteligência no indivíduo ocorre nas ações e nas percepções como um processo adaptativo que se estende de modo sucessivo da adaptação biológica para a adaptação psicológica. • As motivações do educando para o aprendizado é interno e depende de sua interação com a realidade. Porém, há estágios que se sucedem temporal e se repetem no desenvolvimento cognitivo dos e entre os indivíduos. • A velocidade com que o desenvolvimento acontece depende das situações de crescimento individuais. • O desenvolvimento foi categorizado por Piaget nas seguintes fases: pré- operatória (linguagem oral e imagens), operações concretas (linguagem escrita, símbolos, cálculos). • Nesta fase, a EA pode realizar interações usando linguagens das artes e literatura, das observações em contato direto da criança com a natureza o que implicarão em afetividades e conhecimento efetivo. • Com o desenvolvimento a criança passa a ter noção de tempo, espaço e ordem; é capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. • Passa então a coordenar mentalmente mais de uma relação, justificando suas respostas e baseando-se em argumentos lógicos. Nesta etapa a dimensão da problemática ambiental pode então ser pedagogicamente tratada e se avança para as explicações de causas, consequências e a busca de responsabilidades. 109 1 Como ocorre o desenvolvimento da inteligência na perspectiva piagetiana? Quais são e em que consistem os estágios de desenvolvimento? 2 Quais as contribuições da abordagem piagetiana no planejamento da Educação Ambiental, em cada estágio de desenvolvimento do estudante? 3 Enumere um conjunto de exemplos de questões ambientais que podem despertar o interesse da comunidade em geral para o aprendizado e o engajamento. 4 Como gerar ações educativas que se estendem pela comunidade do entorno gerando um movimento pedagógico amplo de adultos e crianças? 5 Qual a importância da música, a arte e a literatura para a Educação Ambiental? 6 Dê exemplos e caracterize os materiais literários e músicas que podem contribuir para gerar o aprendizado nas temáticas ambientais. AUTOATIVIDADE 110 111 TÓPICO 6 UMA PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO CURRICULAR VIA TEMA GERADOR UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A questão dos temas geradores precisa ser bem compreendida para que não façamos confusão entre o que a criança deseja conhecer no seu mundo e o que os pais, agricultores, enfrentam na esfera produtiva. O contexto do trabalho e da família é inter-relacionado e está localizado no mesmo espaço, mas as crianças não necessariamente têm que assumir toda a dureza das preocupações dos adultos. Já na adolescência há uma grande abertura para as discussões de ordem política, ética, até pela facilidade do adolescente em questionar o contexto e os valores dos pais. Os educadores devem ter cuidado no trato de questões que geram conflitos e desencantamento na relação pais e filhos, visando evitar julgamentos apressados e certos ruídos na comunicação entre pais/filhos e educadores. Por este motivo é importante um envolvimento de grupo com os mais diversos professores colaborando no processo de esclarecimento de questões complexas e que desestruturamsituações consolidadas do contexto. Neste tópico, faremos a descrição de uma experiência desenvolvida em sala de aula com crianças, envolvendo o tema dos agrotóxicos, de natureza complexa, portanto aberto à participação de educadores das mais diversas disciplinas escolares. 2 AGROTÓXICOS: UMA QUESTÃO DE INTERFACE DOS SABERES A partir da revolução agrícola são introduzidas tecnologias causadoras de grandes impactos ambientais. Os agricultores familiares e os trabalhadores rurais são diretamente afetados pelo uso indiscriminado e inadequado dos agrotóxicos. Esta questão é uma preocupação que permanece entre os estudantes como consumidores de alimentos ou como filhos de agricultores. Normalmente este tema é desmerecidamente tratado nas escolas, devido à sua complexidade e pelo desencaixe característico dos conteúdos programáticos. Neste tópico, far-se-á uma sugestão de integração curricular, indicando os avanços que a transversalização pode trazer para o tratamento das questões interdisciplinares. 112 Vimos que desde a conferência de Tiblisi, realizada em 1977, cresce a preocupação com a natureza complexa, portanto, não disciplinar das questões ambientais. Pesquisadores e educadores questionam o modo reducionista e mesmo ingênuo com que os temas são trabalhados dentro dos compartimentos disciplinares. Como exemplo, temos o caso da questão dos agrotóxicos que geralmente fica sob a responsabilidade do professor de Ciências ou de BIologia. Será este um tema que pode ser livremente abordado com crianças do primeiro ciclo da educação fundamental? Há dois cuidados a serem tomados, quando educadores elencarem os agrotóxicos como um tema de relevância social: primeiro relacionado com o método de definição do tema gerador (que necessariamente deve considerar a questão cognitiva da criança e seus estágios de desenvolvimento) e outro relacionado com a fragmentação do conhecimento (muitos temas não são explicados nos trâmites das disciplinas científicas, sua compreensão depende de um diálogo de saberes que vão além dos limites entre ciências naturais, sociais e exatas). Se esta for uma questão que faz parte da realidade, na qual a criança vive e se constitui num tema prioritário, não há como negar. A atribuição do educador é esclarecer os efeitos dos princípios ativos na cadeia alimentar e o poder de toxidade na circulação sanguínea. Portanto, não há possibilidade dele abordar as causas sociais e econômicas e, muito menos, é capacitado para julgar e identificar os responsáveis pela liberação dos agrotóxicos. São muitas as experiências desenvolvidas e amplamente testadas na educação popular e na Educação Ambiental que buscam superar o isolamento das disciplinas e descolamento dos conteúdos das questões mais significativos da atualidade. Com esta preocupação, Passing (1993), desenvolve este tema em uma escola rural, com crianças de segundo ciclo. Inicialmente, as crianças representaram em ilustrações e histórias como é o meio ambiente da sala de aula, da escola e do estabelecimento agrícola onde residem. Neste levantamento o problema do uso dos agrotóxicos é ressaltado pelas crianças. Visando despertar o interesse sobre a questão, foi solicitada a leitura da história infantil O armazém do mundo da Turma do Pererê, elaborado pelo Ziraldo. Na sequência, cada estudante foi convidado a retratar (consultando os familiares) como é o uso dos agrotóxicos no cotidiano da sua casa. Após o relato os estudantes perceberam que todos apresentam o mesmo cotidiano e a contaminação do meio ambiente resultante deste somatório é agravada. Então foi feita a leitura da obra Além do rio, também do Ziraldo. Na sequência, em grupos, cada um falou de suas histórias que foram fixadas no mural da escola. Após finalizar as apresentações os alunos fizeram um teatro ilustrando as histórias por eles elaboradas. Na fase de busca das alternativas, há a demonstração do Equipamento de Proteção Individual (EPI) indicado para uso nos estabelecimentos. Os alunos 113 vestem o equipamento e puderam perceber a importância da proteção de todo o corpo, em especial os olhos, a boca, o nariz, as mãos e os pés. Relatam como são feitas as aplicações no estabelecimento da família. Nesta etapa pode haver a contribuição dos técnicos da extensão rural e, conforme o interesse dos educandos, muitos pais agricultores podem ser convidados para relatar sua experiência. Na disciplina de Ciências é importante trabalhar em detalhe os efeitos dos agroquímicos nos ecossistemas. Durante o desenvolvimento da atividade foram desenvolvidos os seguintes conteúdos, considerando o estágio de desenvolvimento cognitivo de cada turma: a) contaminação - ênfase para os rios, reservatórios e nascentes; b) cadeia alimentar e as resistências quanto às dosagens elevadas e o uso contínuo; c) bioacumulação no corpo humano e os distúrbios e males que o uso de praguicidas agrícolas pode acarretar para a saúde humana; d) sintomas de intoxicação; cuidados quanto ao destino das embalagens, a proximidade dos animais domésticos e pessoas durante a aplicação de agrotóxicos. A colaboração dos professores da escola (nas áreas de Matemática, Português, Ciências, História, Geografia e Artes) e convidados da comunidade (médicos, agrônomos e agricultores) foi crucial para o tratamento adequado da questão ambiental. Os instrumentos visuais e lúdicos são imprescindíveis para envolver e sensibilizar o educando. Com adolescentes, foram trabalhados assuntos, tais como a resistências dos insetos aos inseticidas. Como apoio, foi utilizado a música Mosca na Sopa de Raul Seixas. Por meio da interpretação da letra, o professor pode abordar uma questão complexa (do crescimento populacional) com humor e simplicidade. No caso também foi possível o debate da condição humana de conviver com os animais indesejados, que nos afetam cotidianamente sem que tenhamos uma solução técnica definitiva. A partir disso foi possível debater o próprio desenvolvimento tecnológico, desmitificando o potencial da tecnologia de controle sobre a dinâmica da vida. Na sequência, apresenta-se outro exemplo de tema que implicou na integração de conteúdos, sendo factível de desenvolver no ensino fundamental e possa ser adaptado aos conteúdos pragmáticos do ensino médio: a questão do aquecimento global. Questão atual e altamente noticiada o que tem desapertado o interesse da opinião pública mundial. 114 No Brasil, o problema se manifesta a partir dos desmatamentos, sendo este um tema interessante para ser abordado na escola. Sua abrangência envolve os mais diversos aspectos: da economia, da história agrícola, da exploração madeireira, da geografia de ocupação territorial, da política ambiental e da constituição da estrutura agrária. Além disso, vimos que a ecopedagogia integra a dimensão lúdica ao conhecimento científico e técnico. Sugere-se que sejam envolvidas as seguintes áreas do conhecimento: QUADRO 1 – UNIDADE DIDÁTICA ORGANIZADA EM TORNO DE UM TEMA DE CARÁTER TRANSVERSAL Temas Transversais/ Unidade Didática Conteúdos em Interface Território, Sociedade e diversidade (Geografia, Artes, História e Sociologia) Colonização e ocupação dos territórios, etnias, modos de apropriação e uso dos recursos naturais, pressões populacionais, empreendimentos econômicos e tecnológicos causadores dos desmatamentos. Agricultura indígena e pousios; agricultura predatória dos colonos e dos patronais. Tempo de vida dos povos e sua relação com os recursos da floresta. Expansão e Progressão dos desmatamentos (Matemática, Física e Artes) Abundância e frequência populacional. Valoração econômica dos desmatamentos. Extensão territorial afetada pelos desmatamentos. Tempo de recuperação (capacidade de resiliência). Formas de folhas, móbiles com folhas, cores da natureza – figurados na pintura. Instrumentos e sons da natureza através da música. Relações indivíduo, sociedade e natureza. Estilos de desenvolvimento (EducaçãoFísica, Sociologia, Filosofia e Português) Racionalidade técnico instrumental, sociedades ocidentais. Desenvolvimento. Capitalismo e colonialismo. Exercícios de respiração, necessidade vital a qual necessariamente, dependemos do ambiente. Teatro, dança e rituais da natureza. Formas de expressões dos povos. Comunicação oral e escrita, debates, poesia e literatura da floresta. Dinâmica e evolução dos ecossistemas. (Biologia e Geografia) Biogeografia. Evolução geológica. Aquecimento global. Dinâmica e estrutura dos ecossistemas florestais. Cadeia alimentar, seres vivos, biodiversidade e fotossíntese. Sucessão, efeito estufa e ciclos biogeoquímicos. FONTE: Adaptado de Medina e Santos (1999) Ao se inserir um tema transversal no currículo é importante identificar as disciplinas que têm mais afinidades e relações entre si com os temas elencados, destacando que “na transversalidade os temas passam a ser parte integrante das áreas e não externos e/ou acoplados a elas, definindo uma perspectiva para o trabalho educativo que se faz a partir delas.” (SEF, 1997, p. 41). 115 Ao situar a contribuição de cada disciplina para a temática é importante que o grupo de professores interage, visando constituir a ideia do todo, evitando o tratamento em blocos isolados e os riscos de passar para o educando a tentativa da somatória das partes, que impede a visão da totalidade, constituinte da realidade da questão. ATENCAO A interdisciplinaridade pode ser considerada como uma forma de se chegar à transdisciplinaridade, rompendo com as fronteiras entre as disciplinas. O texto Interdisciplinaridade atitude e método, de Moacir Gadotti (1999) permite situar o surgimento da questão e seus desmembramentos na educação: o debate sobre a interdisciplinaridade, como um enfoque teórico-metodológico, avança a partir da segunda metade do século XX, questionando a tendência dominante de fragmentação das ciências e a perda da unidade entre o todo e as partes na leitura da realidade. No entanto, já em 1912, esta questão é parte dos estudos do Instituto Jean-Jacques Rousseau. Ao final do século, os efeitos da fragmentação do saber refletem muitos dos problemas enfrentados pelos educadores. Em contrapartida, são apontados avanços na proposta de construção do conhecimento integral e totalizante do mundo, como revela Gadotti (1999, p. 4): a ação pedagógica através da interdisciplinaridade aponta para a construção de uma escola participativa e decisiva na formação do sujeito social. O seu objetivo tornou-se a experimentação da vivência de uma realidade global, que se insere nas experiências cotidianas do aluno, do professor e do povo e que, na teoria positivista era compartimentizada e fragmentada. Articular saber, conhecimento, vivência, escola comunidade, meio ambiente etc., tornou-se, nos últimos anos, o objetivo da interdisciplinaridade que se traduz, na prática, por um trabalho coletivo e solidário na organização da escola. A metodologia do trabalho interdisciplinar implica integrar conteúdos, conceber o conhecimento como totalidade; integrar o ensino à pesquisa e a complementaridade entre as ciências; e o ensino-aprendizagem se constitui durante toda a vida do indivíduo. Porém, o educador ambiental precisa ter boa fundamentação da dinâmica de organização dos ecossistemas e da manutenção da vida. Além disso, é importante que o educador tenha o domínio sobre a história da educação, seus pensadores e as diferentes abordagens pedagógicas constituídas. Os conhecimentos das ciências humanas (filosofia, psicologia, e sociologia) vêm subsidiar os educadores na concepção de um novo projeto civilizatório que redefine as relações do ser humano com a natureza. (PELICIONE, 2004). 116 ESTUDOS FU TUROS No Tópico 1 da Unidade 3 veremos como a Educação Ambiental se insere neste movimento por uma educação totalizante e integral. 117 RESUMO DO TÓPICO 6 Neste tópico, vimos que: • Temas complexos são descaracterizados se tratados nos compartimentos disciplinares. • Um exemplo é a questão dos agrotóxicos, quando fica a cargo do professor de Ciências e Biologia não há a devida ênfase às causas sociais, econômicas e psicológicas do usuário dos agrotóxicos. • É preciso considerar o estágio de desenvolvimento cognitivo da criança, ao elencar temas complexos de natureza política e econômica. • O outro cuidado é quanto às possibilidades de agregar recursos humanos para dar conta, de modo integrado, das diversas dimensões da temática envolvida. • Ao se definir um tema gerador é importante aliar o foco de interesse da criança com a relevância socioeconômica que o assunto demanda. • Os adolescentes apresentam uma estrutura cognitiva mais apropriada para se envolver temas que demandam profundas transformações no mundo do trabalho. • Temas que implicam crítica ao contexto local demandam uma abertura da escola para que haja o efetivo diálogo com a sociedade afetada. Assim, evitam- se conflitos não esclarecidos entre escola/família. • Os instrumentos didáticos são os mais diversos envolvendo literatura, desenhos, teatro, música, saídas de campo, depoimentos, entrevistas e palestras. • Os conteúdos e suas respectivas áreas disciplinares são definidos conforme a demanda de cada tema, mas depende da constituição de um diálogo entre os educadores, para que não se mantenham como partes desintegradas. • O esforço tem que ir além da mera somatória de conteúdos. É preciso que o educador faça as relações, saindo assim dos seus limites disciplinares. • A interdisciplinaridade se constitui nas experiências cotidianas, na determinação dos educadores de se abrirem para os saberes compartilhados, significativos e vivenciados na realidade global. 118 1 Se você tiver possibilidade ouça e sinta a música do Raul Seixas. Observe a letra, teça comentários e destaque os versos mais significativos que expressam as características dos agrotóxicos. 2 Como a música e a literatura podem contribuir para o aprendizado em sala de aula? Quais os problemas que uma atividade lúdica ajuda a evitar no espaço da sala de aula? 3 Observe nas letras das músicas a seguir enumeradas quantas possibilidades de temáticas podem ser retratadas no espaço de ensino-aprendizagem. Faça uma lista de atividades a serem trabalhadas a partir das músicas. AUTOATIVIDADE MOSCA NA SOPA Raul Seixas Eu sou a mosca que posou em sua sopa Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar Eu sou a mosca que pousou em sua sopa Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar Eu sou a mosca que pousou em sua sopa Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar Eu sou a mosca que perturba o seu sono Eu sou a mosca no seu quarto a zumbizar Eu sou a mosca que perturba o seu sono Eu sou a mosca no seu quarto a zumbizar E não adianta vir me dedetizar Pois nem o DDT pode assim me exterminar Porque você mata uma e vem outra em meu lugar Eu sou a mosca que pousou em sua sopa Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar Eu sou a mosca que pousou em sua sopa Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar Atenção, eu sou a mosca A grande mosca A mosca que perturba o seu sono Eu sou a mosca no seu quarto A zum-zum-zumbizar Olha do outro lado agora Eu tô sempre junto de você Água mole em pedra dura Tanto bate até que fura Quem, quem é? A mosca, meu irmão Eu sou a mosca no seu quarto a zumbizar Eu sou a mosca que perturba o seu sono Eu sou a mosca que pousou em sua sopa Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar Eu sou a mosca que pousou em sua sopa Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar E não adianta vir me dedetizar Pois nem o DDT pode assim me exterminar Porque você mata uma e vem outra em meu lugar Eu sou a mosca que pousou em sua sopa Eu sou a mosca que pousou em sua sopa Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar Eu sou a mosca que pousou em sua sopa Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar Eu sou a mosca que perturba o seu sono Eu sou a mosca no seu quarto a zumbizar 119 ÚLTIMO PAU DE ARARA Luiz Gonzaga (Venâncio/Corumbá/José Guimarães) A vidaaqui só é ruim Quando não chove no chão Mas se chover dá de tudo Fartura tem de porção Tomara que chova logo Tomara, meu Deus tomara Só deixo o meu Cariri No último pau de arara Enquanto a minha vaquinha Tiver o couro e o osso E puder com o chocalho Pendurado no pescoço Eu vou ficando por aqui Que Deus do céu me ajude Quem sai da terra natal Em outro canto não para Só deixo o meu Cariri No último pau de arara É SÓ SAUDADE – Flávio José (Oséas Lopes/Luiz Guimarães) Vi o riacho correndo Quando o inverno chegou Vi também tudo morrendo Quando o riacho secou Foi aí que eu disse adeus! A um pedacinho de terra Que ficou lá bem distante No sertão num pé de serra E agora é só saudade Que me invade o coração Meu calor minha amizade Ficou naquele sertão (BIS) Eu quisera que a saudade Fosse embora de uma vez Ou que fosse me deixando Cada dia em cada mês Juro por Nossa Senhora Do sertão nunca esqueci Mas a seca me devora Vou ficando por aqui E agora é só saudade Que me invade o coração Meu calor minha amizade Ficou naquele sertão (BIS) 4 Faça uma reflexão comentando sobre como é a relação das pessoas com os animais indesejados (tais como ratos, raposas, capivaras, lagartos, formigas, gafanhotos, gatos e outros) no seu espaço de trabalho e de convivência (escola, comunidade, fábrica, igreja). 5 Como o educador pode introduzir assuntos que expressam conflitos entre os usuários, sem cair na condenação das más práticas? 6 Como inserir temas transversais no currículo? O que é interdisciplinaridade? 7 Como as disciplinas vão sendo inseridas numa determinada unidade didática? 120 121 UNIDADE 3 ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Ao final desta unidade, você será capaz de: • compreender a dimensão conceitual da ecopedagogia; • conhecer os princípios da carta da terra e sua interface com a ecopedagogia; • apresentar exemplos de atividades de Educação Ambiental desenvolvidas com crianças, adultos em espaços escolares e na comunidade; • apresentar exemplos de práticas de Educação Ambiental com adultos, ten- do como base a sensibilização, a mobilização e a participação social; • identificar os pressupostos teórico/metodológicos que orientam a forma- ção do sujeito ecológico crítico; • perceber a importância da convivência com a natureza para desenvolver o sentimento de afetividade. Esta unidade está organizada em seis tópicos, sendo que, em cada um deles, você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – CARTA DA TERRA NA ECOPEDAGOGIA TÓPICO 2 – ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM ADULTOS TÓPICO 3 – O SENTIDO DA APRENDIZAGEM TÓPICO 4 – O CONTEXTO DAS COMUNIDADES EM UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL TÓPICO 5 – O APREÇO DAS CRIANÇAS PELA NATUREZA TÓPICO 6 – ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM CRIANÇAS 122 123 TÓPICO 1 CARTA DA TERRA NA ECOPEDAGOGIA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A Carta da Terra é equivalente à Declaração Universal dos Direitos Humanos, no que concerne à sustentabilidade, à equidade e à justiça social. Deverá se constituir num documento vivo, apropriado pela sociedade planetária, e revisto periodicamente em amplas consultas globais. Pretende ser uma carta dos povos, um código universal de conduta para pessoas, para instituições e para Estados. FONTE: Adaptado de: <http://www.cubos.com.br/blog/?p=103>. Acesso em: 19 set. 2011. Neste tópico será apresentado o debate mais recente da questão ambiental, que teve como objetivo ampliar o número de parceiros comprometidos com uma sociedade sustentável. Veremos os princípios e o conteúdo da Carta da Terra que se relacionam com a educação, constituindo o que Moacir Gadotti denominou de Pedagogia da Terra. Na sequência, serão apresentados elementos da abordagem sistêmica, do desenvolvimento sustentável, da participação social e da ética socioambiental. 2 PRINCÍPIOS DA CARTA DA TERRA Pode-se dizer que nas últimas décadas do século XX, a questão ambiental deixou de ser um campo de preocupação restrito a biólogos e ativistas naturalistas. Economistas, políticos, jornalistas, engenheiros, agrônomos, psicólogos, agentes da saúde, extensionistas, geógrafos e arquitetos são envolvidos para participar na construção de uma nova forma de se relacionar com o planeta Terra. A questão ecológica deixa de ser uma disciplina, um campo restrito de especialistas e passa a ser vista como um campo interdisciplinar e complexo. A Carta da Terra é expressão deste novo movimento é resulta da interação de diversas referências do conhecimento, incluindo a ecologia e outras ciências contemporâneas, as tradições religiosas e as filosóficas. Como resultado, permite romper com as abordagens simplistas e voluntaristas da problemática ambiental, que omitia as causas e, em consequência, os principais responsáveis pela degradação dos ecossistemas e os impactos ambientais de natureza sistêmica. UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 124 Na Eco-92 formou-se uma secretaria internacional incumbida de dar prosseguimento ao projeto de elaboração da Carta da Terra. Porém, foi somente na Rio+5 que foi estruturada a minuta da Carta da Terra, constituindo-se num documento de referência mundial, um código ético planetário. Ela é resultado de um processo mundial de consulta pública, que agregou o comprometimento de organizações e instituições governamentais e não governamentais de diferentes setores que influem no desenvolvimento sustentado. Entre os princípios da minuta de referência destacam-se os seguintes: 1) o respeito à Terra e à sua existência; 2) a proteção e a restauração da diversidade, da integridade e da beleza dos ecossistemas da Terra.; 3) a produção, o consumo e a reprodução sustentáveis; 4) o respeito aos direitos humanos, incluindo o direito a um meio ambiente propício à dignidade e ao bem-estar dos humanos; 5) a erradicação da pobreza; a paz e a solução não violenta dos conflitos; 6) a distribuição equitativa dos recursos da Terra; 7) a participação democrática nos processos de decisão; 8) a igualdade de gênero; 9) a responsabilidade e a transparência nos processos administrativos; 10) a promoção e aplicação dos conhecimentos e tecnologias que facilitam o cuidado com a Terra; 11) a educação universal para uma vida sustentada; 12) o sentido da responsabilidade compartilhada, pelo bem-estar da comunidade da Terra e das gerações futuras. (FERRERO; HOLLAND, 2004). A Carta da Terra é uma declaração de princípios fundamentais com significado perdurável a ser compartilhada amplamente pelos povos de todas as raças, culturas e religiões. Percebe-se que ela articula valores universais e se constitui num chamado para a ação, agregando novas dimensões significativas de valores às que já se encontram expressos em outros documentos relevantes. O preâmbulo da Carta da Terra nos coloca uma nova visão de mundo e nos chama para participar de um movimento de resgate para uma sociedade global sustentável: TÓPICO 1 | CARTA DA TERRA NA ECOPEDAGOGIA 125 Encontramo-nos atualmente numa fase crítica da história do Planeta, num momento em que a humanidade precisa escolher seu futuro. O progresso rumo a modelos cada vez mais interdependentes, mas frágeis e contraditórios, projeta um futuro repleto de grandes perigos e de grandes promessas. Para progredir, temos de reconhecer que, não obstante a extraordinária diversidade de culturas e de formas de vida, somos uma única família humana e uma única comunidade terrestre com o mesmo destino. Temos de nos empenhar para construir uma sociedade global sustentável, baseada no respeito à natureza, aos direitos humanos universais, à justiça econômica e numa cultura da paz. Para alcançar este objetivo, é imperativo que nós, todos os povos da Terra, declaremos nossas responsabilidades uns em relação aos outros, bem como o respeito à vasta comunidade dos seres vivos e das gerações futuras. (FERRERO, HOLLAND, 2004, p. 43). A proposta rompe com a motivação a uma solidariedade abstratapara com as gerações futuras e resgata a brevidade da questão ambiental. Tradicionalmente, o apelo às gerações futuras teve uma carga emotiva, mas foi pouco eficiente. O compromisso individual é unitário e depende de um engajamento coletivo. Todos os povos da Terra, respeitando a sua diversidade cultural e sua contribuição diferenciada na geração dos desequilíbrios, são igualmente afetados e podem dar a sua parcela de contribuição para a sustentabilidade da Terra. 3 A CARTA DA TERRA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO O engajamento da comissão brasileira, encarregada de discutir e construir a versão local do manifesto da Carta da Terra foi de grande relevância. Em São Paulo, no período de 23 a 26 de agosto de 1999, foi realizado o Primeiro Encontro Internacional, sob a organização do Instituto Paulo Freire e o Apoio do Conselho da Terra e a UNESCO-Brasil. Disso resultou o movimento pela Ecopedagogia que elaborou a minuta apresentada ao final deste tópico. A Carta da Ecopedagogia sintetiza os princípios, os objetivos e as metodologias que estão em proposição neste curso de Educação Ambiental. Mas o que cada um de nós pode fazer para compreender e participar dos desafios para uma nova forma de existir no planeta Terra? Segundo Ferrero e Holland (2004), precisamos nos colocar em nova relação com os objetos de consumo, perguntando-nos o que é desnecessário, mudando nossa sensibilidade para com o outro e para com a Terra. Sugerem-se alguns aspectos que podem ser buscados para o início da transformação individual: • Valorizando e consumindo produtos locais e produzidos com o mínimo de ônus local. • Buscando alimentos saudáveis, livres de contaminações, produzidos por agricultores familiares, locais, de baixo uso de insumos externos e de combustíveis fósseis. Também podemos produzir parte dos alimentos. UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 126 • Fazendo uso dos recursos renováveis e seguindo os princípios dos 3Rs (reduzir, reutilizar, reciclar). • Evitando o consumo de produtos florestais provenientes de desmatamentos predatórios. • Condenando toda a forma de comércio de animais silvestres e cativeiros domésticos que comprometem o bem estar animal e a reprodução da espécie. • Utilizando transportes coletivos e de baixo uso de energia. Fazendo caminhadas, andando de bicicleta, quando possível. Buscando residir mais próximo possível do trabalho. • Buscando trabalhos construtivos de uma sociedade melhor, cooperando com os colegas e evitando empregos com fins apenas utilitários. • Promovendo a vida em comunidades, participando de movimentos contra o crescimento demográfico e a concentração urbana. • Participando e sendo voluntário em movimentos ambientalistas e outras organizações atentas às questões de injustiça social e ambiental. UNI Para saber como você pode participar da iniciativa da Carta da Terra visite e consulte a página da Carta da Terra na Internet - <http://www.cartadelatierra.org>. Além de dicas sobre como você pode estar se envolvendo no movimento ambientalista, poderá se inteirar com mais informação sobre o assunto. TÓPICO 1 | CARTA DA TERRA NA ECOPEDAGOGIA 127 LEITURA COMPLEMENTAR CARTA DA ECOPEDAGOGIA Em defesa de uma Pedagogia da Terra (Minuta de discussão do Movimento pela Ecopedagogia) 1 Nossa Mãe Terra é um organismo vivo e em evolução. O que for feito a ela repercutirá em todos os seus filhos. Ela requer de nós uma consciência e uma cidadania planetária, isto é, o reconhecimento de que somos parte da Terra e de que podemos perecer com a sua destruição ou podemos viver com ela em harmonia, participando do seu devir. 2 A mudança do paradigma economicista é condição necessária para estabelecer um desenvolvimento com justiça e equidade. Para ser sustentável, o desenvolvimento precisa ser economicamente factível, ecologicamente apropriado, socialmente justo, includente, culturalmente equitativo, respeitoso e sem discriminação. O bem-estar não pode ser só social; deve ser também sociocósmico. 3 A sustentabilidade econômica e a preservação do meio ambiente dependem também de uma consciência ecológica e esta da educação. A sustentabilidade deve ser um princípio interdisciplinar reorientador da educação, do planejamento escolar, dos sistemas de ensino e dos projetos político- pedagógicos da escola. Os objetivos e conteúdos curriculares devem ser significativos para o(a) educando(a) e também para a saúde do planeta. 4 A ecopedagogia, fundada na consciência de que pertencemos a uma única comunidade da vida, desenvolve a solidariedade e a cidadania planetárias. A cidadania planetária supõe o reconhecimento e a prática da planetaridade, isto é, tratar o planeta como um ser vivo e inteligente. A planetaridade deve levar-nos a sentir e viver nossa cotidianidade em conexão com o universo e em relação harmônica consigo, com os outros seres do planeta e com a natureza, considerando seus elementos e dinâmica. Trata-se de uma opção de vida por uma relação saudável e equilibrada com o contexto, consigo mesmo, com os outros, com o ambiente mais próximo e com os demais ambientes. 5 A partir da problemática ambiental vivida cotidianamente pelas pessoas nos grupos e espaços de convivência e na busca humana da felicidade, processa- se a consciência ecológica e opera-se a mudança de mentalidade. A vida cotidiana é o lugar do sentido da pedagogia, pois a condição humana passa inexoravelmente por ela. A ecopedagogia implica uma mudança radical de mentalidade em relação à qualidade de vida e ao meio ambiente, que está diretamente ligada ao tipo de convivência que mantemos com nós mesmos, com os outros e com a natureza. UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 128 6 A ecopedagogia não se dirige apenas aos educadores, mas a todos os cidadãos do planeta. Ela está ligada ao projeto utópico de mudança nas relações humanas, sociais e ambientais, promovendo a educação sustentável (ecoeducação) e ambiental com base no pensamento crítico e inovador, em seus modos formal, não formal e informal, tendo como propósito a formação de cidadãos com consciência local e planetária que valorizem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações. 7 As exigências da sociedade planetária devem ser trabalhadas pedagogicamente a partir da vida cotidiana, da subjetividade, isto é, a partir das necessidades e interesses das pessoas. Educar para a cidadania planetária supõe o desenvolvimento de novas capacidades, tais como: sentir, intuir, vibrar emocionalmente; imaginar, inventar, criar e recriar; relacionar e interconectar- se, auto-organizar-se; informar-se, comunicar-se, expressar-se; localizar, processar e utilizar a imensa informação da aldeia global; buscar causas e prever consequências; criticar, avaliar, sistematizar e tomar decisões. Essas capacidades devem levar as pessoas a pensar e agir processualmente, em totalidade e transdisciplinarmente. 8 A ecopedagogia tem por finalidade reeducar o olhar das pessoas, isto é, desenvolver a atitude de observar e evitar a presença de agressões ao meio ambiente e aos viventes e o desperdício, a poluição sonora, visual, a poluição da água e do ar etc. para intervir no mundo no sentido de reeducar o habitante do planeta e reverter a cultura do descartável. Experiências cotidianas aparentemente insignificantes, como uma corrente de ar, um sopro de respiração, a água da manhã na face, fundamentam as relações consigo mesmo e com o mundo. A tomada de consciência dessa realidade é profundamente formadora. O meio ambiente forma tanto quanto ele é formado ou deformado. Precisamos de uma ecoformação para recuperarmos a consciência dessas experiências cotidianas. Na ânsia de dominar o mundo, elas correm o risco de desaparecer do nosso campo de consciência, se a relação que nos liga a ele for apenas uma relação de uso. 9 Uma educação para a cidadania planetária tem por finalidade a construção de uma cultura da sustentabilidade, isto é, uma biocultura, uma cultura da vida, da convivênciaharmônica entre os seres humanos e entre estes e a natureza. A cultura da sustentabilidade deve nos levar a saber selecionar o que é realmente sustentável em nossas vidas, em contato com a vida dos outros. Só assim seremos cúmplices nos processos de promoção da vida e caminharemos com sentido. Caminhar com sentido significa dar sentido ao que fazemos, compartilhar sentidos, impregnar de sentido as práticas da vida cotidiana e compreender o sem sentido de muitas outras práticas que aberta ou solapadamente tratam de impor-se e sobrepor-se a nossas vidas cotidianamente. TÓPICO 1 | CARTA DA TERRA NA ECOPEDAGOGIA 129 10 A ecopedagogia propõe uma nova forma de governabilidade diante da ingovernabilidade do gigantismo dos sistemas de ensino, propondo a descentralização e uma racionalidade baseadas na ação comunicativa, na gestão democrática, na autonomia, na participação, na ética e na diversidade cultural. Entendida dessa forma, a ecopedagogia se apresenta como uma nova pedagogia dos direitos que associa direitos humanos – econômicos, culturais, políticos e ambientais - e direitos planetários, impulsionando o resgate da cultura e da sabedoria popular. Ela desenvolve a capacidade de deslumbramento e de reverência diante da complexidade do mundo e a vinculação amorosa com a Terra. FONTE: CARTA DA ECOPEDAGOGIA. Em defesa de uma Pedagogia da Terra. Primeiro Encontro Internacional- São Paulo, 23 a 26 de agosto de 1999. Organização: Instituto Paulo Freire - Apoio: Conselho da Terra e UNESCO-Brasil. Disponível em: <http://www.paulofreire.org>. Acesso em: 26 abr. 2011. 130 Neste tópico, você viu que: • A Carta da Terra é equivalente à Declaração Universal dos Direitos Humanos, no que concerne à sustentabilidade, à equidade e à justiça social. Resultante de uma consulta pública local, nacional e internacional é um documento com caráter interdisciplinar. • Uma sociedade de bases sustentáveis é aquela que tem a satisfação das necessidades humanas materiais e não materiais com respeito à vida e à biodiversidade. • A participação social, a redefinição das relações de poder e os esforços contínuos das organizações governamentais e não governamentais são essenciais para superar a imobilidade na promoção do desenvolvimento sustentável e de participação incisiva dos sistemas educacionais. • A educação para a promoção de uma cultura de sustentabilidade é um processo permanente, interdisciplinar e de formação política. A ecopedagogia é uma nova forma de ensinar formando valores de caráter universal e comprometimento de atuação local. • Uma educação para a cidadania planetária tem por finalidade a construção de uma biocultura isto é uma cultura da vida, da convivência harmônica entre os seres humanos e entre estes e a natureza. • A ecopedagogia tem por finalidade reeducar o olhar das pessoas, isto é, desenvolver a atitude de observar e evitar a presença de agressões ao meio ambiente e aos viventes e o desperdício, a poluição sonora, visual, a poluição da água e do ar etc. para intervir no mundo no sentido de reeducar o habitante do planeta e reverter a cultura do descartável. RESUMO DO TÓPICO 1 131 1 Em que consiste a Carta da Terra? 2 Quais são os campos do conhecimento e os profissionais que contribuíram para elaborar a Carta da Terra? 3 Entre os princípios da Minuta de referência da Carta da Terra, quais se referem especificamente à educação? 4 Que tipo de mudanças nos valores de consumo e de organização social a Carta da Terra pressupõe? 5 Quais as dificuldades a serem enfrentadas para as pessoas romperem com a cultura do consumo, considerando todo o apelo do mercado para o ciclo curto de durabilidade dos objetos? 6 Como as experiências simples do cotidiano podem fazer a diferença na nossa forma de existir no planeta Terra? 7 O que significa uma cultura da sustentabilidade? 8 Como o princípio da sustentabilidade contribui para orientar a prática pedagógica? 9 Quais sãos os aspectos comportamentais que podem ser mais imediatamente adotados pelas pessoas? 10 Como a ecopedagogia orienta a questão da estrutura organizacional das escolas em termos de participação política? AUTOATIVIDADE 132 133 TÓPICO 2 ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM ADULTOS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Na Unidade 2, você viu que a escola se abre para a sociedade quando a Educação Ambiental consiste num projeto transversal que traz questões emergentes da realidade do educando e da comunidade. Nesta perspectiva, o educando não mais precisa despir-se da sua vida real ao entrar na escola; ao contrário, ela é o espaço que permite a reflexão da realidade, trazendo a esperança da mudança. Assim, a escola vai além das informações. É suporte para o indivíduo atuar, como ser histórico que constrói e elabora a realidade. Esta ação educativa de inserção da escola na sociedade pressupõe um sujeito que reflete a realidade vivida o que se encaixa com a meta do movimento ambientalista de trazer as questões ambientais para o debate público. Também, a legislação ambiental prevê estratégias para garantir a continuidade da Educação Ambiental ao cidadão que não frequenta a escola. Primeiramente, os meios de comunicação, o poder público, os grupos, as associações, as cooperativas e ONGs são incumbidos de promover o envolvimento do cidadão nos programas de gestão ambiental. Visando ampliar a participação da sociedade nas decisões, quanto ao uso dos recursos naturais, foram criados espaços públicos de debate, tais como o orçamento participativo, a Agenda 21 e o Estatuto das Cidades. FONTE: Extraído de: <www.coave.org.br/lista-downloads.php?baixar=53>. Acesso em: 19 set. 2011. 2 A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL E EDUCACIONAL À LUZ DE UM PROJETO DE CIVILIZAÇÃO A educação transformada primeiramente precisa interagir com a dimensão cultural de cada grupo social, visando lançar questionamentos quanto ao estilo de vida da sociedade de consumo, o desenvolvimento mimético alheio à satisfação das reais necessidades e o predomínio da urbanização e das paisagens construídas. 134 UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA Apostar na ideia de autonomia e de autoconfiança implica empoderamento das pessoas, para o diagnóstico e tomada de decisão sobre as estratégias e ações de desenvolvimento local. A perspectiva do desenvolvimento local visa romper com as soluções miméticas e internalizar a dimensão das especificidades da região e a dinâmica dos ecossistemas, como resultado das interações historicamente instituídas entre sociedade/natureza. A autonomia local é resultado de um planejamento participativo, engajado, contextual e contratual. Essa perspectiva deve buscar compatibilizar os projetos locais entre si com os projetos de civilização nacional, respeitando as diferenças em termos de opções plurais e em transformação. (SACHS, 1986). Pensar um projeto de civilização significa redefinir as decisões orientando- as para o futuro, o qual implica o planejamento dos valores objetivos, meios e as instituições no sentido da transcendência: considerando as trocas globais de mais longo prazo e a dimensão do local no espaço e tempo definido. Isso implica o engajamento efetivo dos cidadãos no que tange à participação na tomada de decisões orientadas no sentido do futuro. A questão da participação é preciso ser problematizada, pois de um modo geral é difícil convidar as pessoas a participar de decisões orientadas ao futuro, com uma perspectiva que não seja apenas de curto prazo. Além disso, a participação que se preconiza vai além daquela restrita à abertura dos direitos à eleição dos representantes ou da centrada na delegação de atribuições e poder de decisão a supostas lideranças políticas. A participação ampla implica processos emancipatórios e de autonomia (de sentir que a coisa pertence a você) o qual se desencadeia num ambiente de diálogo, informação, linguagem inteligível, espaços de criatividade e de tomada de decisão. A intervenção cultural aqui preconizadadepende dos esforços de uma pedagogia social que implica processos educativos engajados na formação de pessoas com vontade de participação e de mudança de comportamentos materialistas. Todo o projeto de civilização comporta nos termos de Sachs (1981) uma dimensão pedagógica essencial, uma educação para o ecodesenvolvimento o que implica que se rompa com a reprodução dos estilos antigos de formação dos cidadãos e se aposte numa educação emancipatória. O processo educativo é o fator mobilizador do engajamento da cidadania, que, ao contar com suas “próprias forças” (autonomia), aposta num projeto de desenvolvimento superador da dimensão restrita do mercado. TÓPICO 2 | ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM ADULTOS 135 3 IMPASSES DA EMANCIPAÇÃO NA COMUNICAÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE O Poder Público atribui responsabilidades aos agentes empresariais e não formais para promover a educação ambiental. Busca-se a ação integrada envolvendo um conjunto amplo de parcerias que visam gerar iniciativas públicas e privadas e constituir uma rede de educadores ambientais, conforme define a lei de Educação Ambiental, n° 9.795, de 27 de abril de 1999: Parágrafo único. O Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal, incentivará: I - a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de temas relacionados ao meio ambiente; II - a ampla participação da escola, da universidade e de organizações não governamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à educação ambiental não formal; III - a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as organizações não governamentais; IV - a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de conservação; V - a sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades de conservação; VI - a sensibilização ambiental dos agricultores; VII - o ecoturismo. FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm>. Acesso em: 19 set. 2011. Todavia, a implantação destas determinações legais ainda não teve o alcance desejado. O Poder Público constituído não tem mecanismos eficientes para a cobrança e orientação destes parceiros na promoção de programas contínuos de Educação Ambiental. Geralmente, os meios de comunicação não são suficientemente explorados como espaços de informação para trazer a público os problemas emergentes, instituindo um ambiente aberto de debate. O desafio de realizar uma comunicação sobre o meio ambiente de modo emancipatório é contraditório. Pretende-se que O entendimento das novas relações ecológicas numa dimensão da complexidade das inter-relações locais, planetárias e intergeracionais, implica um processo pedagógico e de constituição de relações mais autônomas, baseada nas potencialidades ecossistêmicas de cada lugar e na capacidade das pessoas de potencializar essas especificidades. A educação para o ecodesenvolvimento implica o próprio diagnóstico das possibilidades de sobrevivência, ultimamente desprezadas ou ignoradas face ao apelo global de consumo. 136 UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA esta comunicação noticie as questões ambientais emergentes e até assuma um caráter de denúncia dos problemas ambientais, evidenciando sua relevância. Porém, esta visão acaba instrumentalizando a comunicação para o fim último de conscientização sem que seja constituído um processo contínuo de esclarecimento e debate. Os modelos convencionais de comunicação dos programas de Educação Ambiental buscam levar informação para que as pessoas assumam a importância da preservação do meio ambiente. No entanto, não apontam para a construção de políticas efetivas que favoreçam a solução dos problemas. Nos meios de comunicação o discurso ecológico, muitas vezes, é composto de informações parciais, de caráter fragmentário, permeadas de apelos românticos em nível de senso comum, restritas à enumeração de problemas do mundo contemporâneo, sem gerar questionamentos quanto ao modelo de desenvolvimento capitalista e da sociedade de consumo. Fica-se na constatação da existência de processos de degradação da qualidade de vida, mas se obscurece a constituição histórico-social destes processos. UNI Observe como os meios de comunicação veiculam as informações sobre meio ambiente. Selecione uma reportagem de uma problemática ambiental que está em discussão no momento, faça uma leitura e analise a forma como as informações estão sendo veiculadas. Ao primar pela informação genérica, distancia-se da possibilidade de sair da evidência do problema para a corresponsabilidade na construção de novas relações sociais. Isto implica o resgate da prática política, baseada no consenso e no engajamento político capaz de superar a tecnocracia característica do estado. Sem a prática do debate os meios de comunicação de massa parecem ocultar as questões polêmicas e contraditórias como a noção de progresso como crescimento econômico, as questões da fome e segurança alimentar, crescimento populacional e consumismo. Mantém-se a dualidade do discurso, posicionando- se favorável ao desenvolvimento sustentável, sem resolver a contradição do processo em curso que prioriza a produção baseada na utilização dos recursos naturais para a maximização do lucro, sem considerar os efeitos das novas tecnologias para a saúde da população, a perda agrobiodiversidade e a destruição dos ecossistemas. TÓPICO 2 | ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM ADULTOS 137 O fato é que o discurso ambientalista de denúncia ao modo predatório de acumulação do capital, intensificação da produção e os decorrentes desequilíbrios e degradação ambiental, foram incorporados pelos meios de comunicação e educadores ambientais na linha conservacionista sem explicitar as contradições fundamentais que o constitui. Os problemas ambientais e de desigualdade social que afetam as nações, são resultado de modelos tecnocráticos, autoritários e descomprometidos com a sociobiodiversidade. Esta crítica é necessária para o início das reflexões sobre a promoção da educação via processos comunicativos como forma de superação da crise ambiental e social. Os modelos convencionais de comunicação dos programas de educação ambiental buscam levar informação para que as pessoas assumam a importância da preservação do meio ambiente. Confunde-se informação com comunicação, distanciando-se da proposta de comunicação ambiental, baseada nos princípios da democratização, promoção da autonomia e emancipação, que se materializa pela inclusão ampla no direito à comunicação, tendo acesso aos bens materiais, culturais mediatizados e à participação na gestão dos meios. No entanto, não apontam para a construção de políticas efetivas que favoreçam a solução dos problemas. "O discurso ecológico” largamente propalado pelos meios de comunicação, composto de informações recortadas, de caráter fragmentário e permeadas de apelos românticos em nível de senso comum, não tem ido muito além da enumeração de problemas do mundo contemporâneo, provenientes da tecnociência tornada autônoma. Fica-se na constatação da existência de processos de degradação da qualidade de vida, mas se obscurece a constituição histórico-social destes processos. A proposta educacional que está imbuída nesta comunicação é meramente informativo/descritiva e tende a um apelo mágico de gerar mudança de atitude dos indivíduos para ocasionar soluções à "crise ecológica". Assim se afasta da proposta da educação como ato político o que pressupõe a busca ampla de consenso e bases de sustentação para as transformações sociais, caminho alternativo para soluções preconcebidas pela tecnocracia. Com o afastamento da prática política de debate e de diálogo, ficam limites para se passar da tomada de consciência da questão ambiental para a articulação deações concretas, ou seja, não se tem as bases para ultrapassar a fase de conhecimento do problema no sentido da responsabilização pela construção de alternativas. 138 UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA Muitas questões não têm respostas que se sustentam teoricamente, nem soluções provenientes da prática dos educadores ambientais e dos meios de comunicação de massa. E uma questão, aparentemente oculta, demonstra as contradições imbuídas nas perspectivas educativas: como combinar as relações de sustentabilidade ecológica nas relações sociedade/natureza com um modelo de produção baseado na utilização dos recursos naturais para a maximização do lucro? Processos produtivos, sob a perspectiva da economia convencional, buscam o crescimento econômico como necessário para o desenvolvimento; o "progresso" da sociedade é compatível com a preservação ambiental? O fato é que o discurso ambientalista de denúncia ao modo predatório de acumulação do capital com base na intensificação da produção foi incorporado pelos meios de comunicação e educadores, ambientais na linha conservacionista depurado das contradições fundamentais que o constitui. Os problemas ambientais e a pobreza que afetam os países do terceiro mundo, o Brasil em particular, devem ser interpretados como resultado de modelos tecnocráticos e autoritários, bem como da falência dos pressupostos que os moviam. Esta crítica é o nosso ponto de partida para as reflexões sobre as condições de superação da crise ambiental e social no que tange a exigências para a educação via processos comunicativos. Cabe ao poder público incentivar a difusão nos meios de comunicação de massa de programas e campanhas de esclarecimento à população em geral. A participação dos sindicatos, associações, empresas públicas e privadas na formulação e execução de programas competentes, garantirá estes espaços nos mais diversos meios de comunicação (televisão, rádios comunitárias ou não e internet). NOTA Espaços não escolarizados são “lócus” não formais de atividade educacional, que estão fora de ação direta da rede formal de ensino e que são ocupados pelos mais diversos atores, consiste na valorização dos saberes tradicionais das populações evoluídas e do desenvolvimento sustentável. (MMA/MEC, 2005). MMA (Ministério do Meio Ambiente). MEC (Ministério da Educação). TÓPICO 2 | ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM ADULTOS 139 NOTA Veja como você tem um leque amplo de possibilidades de atuação na profissão de educador ambiental! Contudo, a questão ambiental está presente nos discursos dos empresários e políticos, mas nem sempre há correspondência com uma atitude, voluntária e desinteressada, que rompe com o sentido utilitário do tipo: – O que eu ganho com isso? 140 Neste tópico, você viu que: • A educação visa redefinir os padrões atuais de globalização da sociedade de consumo e de predomínio do urbano sobre as sociedades locais. Os padrões de desenvolvimento global impedem a autonomia e autoconfiança regional das populações locais. • Isto significa em outro projeto de civilização, sob nova base de valores e significados fundados em relações democráticas que fortaleçam a participação ativa e não delegativa. • A educação emancipatória pressupõe o diálogo e o planejamento participativo Isto constitui o que Sachs denominou de educação para o ecodesenvolvimento, visando resgatar o conhecimento ecológico local de uso e valorização dos ecossistemas. • A Educação Ambiental é responsabilidade ampla da sociedade (empresas privadas e comunitárias, organização sociais, escolas, universidades) assim formando uma rede de educadores ambientais. • Cabe ao poder público incentivar estas ações, porém ainda não há mecanismos eficazes para a efetiva aplicação de ações na perspectiva da emancipação. • Os meios de comunicação são um exemplo da insuficiente penetração da proposta de Educação Ambiental: mantêm uma perspectiva informacional parcial, fragmentada e acrítica, não realizando o papel de esclarecimento necessário ao próprio entendimento público da questão ambiental na sua complexidade desejada. • A proposta dos meios informacionais se distancia da informação como forma de esclarecimento e emancipação, o que não soma a proposta pedagógica de participação política na gestão de um novo estilo de desenvolvimento e valores socioambientais. • Os meios ficam a serviço dos grandes grupos econômicos que o financiam perdendo a dimensão da liberdade do mercado e a verdade da informação. RESUMO DO TÓPICO 2 141 AUTOATIVIDADE 1 Comente sobre a proposta de um novo projeto de civilização argumentando como a dimensão da participação das pessoas é fundamental para a efetivação deste projeto. 2 O que são espaços não escolarizados? 3 Como se constitui uma educação para o ecodesenvolvimento? 4 Qual a importância da mobilização da educação em espaços não escolarizados para o contexto como o do Brasil em que a população se distancia das leituras e da busca constante de uma cultura geral? 5 Argumente sobre a importância dos meios de comunicação para a educação ambiental. 6 Como a mídia tem gerado contrainformações quanto à questão ambiental e assim se distanciando do propósito de uma educação para o ecodesenvolvimento? 7 Quais os impactos da informação fragmentada da problemática ambiental veiculada pelos meios de comunicação? 142 143 TÓPICO 3 O SENTIDO DA APRENDIZAGEM UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Você viu no Tópico 3 da Unidade 1, que a sensibilização é o ponto de partida do trabalho em Educação Ambiental. Na sequência, detalharemos como se atinge o objetivo de caminhar com sentido e de aprender com sentido. Se quisermos dar sentido ao que fazemos o sentimento, a intuição, a emoção e a percepção conotativa, devem ser considerados. Na abordagem da ecopedagogia múltiplas áreas do conhecimento podem contribuir para o efetivo envolvimento das pessoas, reafirmando-a não como mais uma disciplina escolar, mas como um projeto coletivo amplo, acordado pela comunidade escolar. A Educação Ambiental, na perspectiva da ecopedagogia, busca suporte na Ecologia Humana para gerar ações de mobilização social e de transformação nas relações sociedade/natureza. Contribuem para esta construção os métodos que incorporam os elementos da vida cotidiana, da percepção e das representações sociais numa construção dinâmica, dando significado ao processo de aprendizagem. Neste tópico, veremos exemplos de atividades que podem ser implementadas no espaço das escolas, dando um sentido ao aprendizado de meio ambiente, envolvendo educadores das mais diversas áreas e gerando um movimento de aprendizado que vai além dos espaços da sala de aula. 2 A APRENDIZAGEM DO EDUCANDO NA ECOPEDAGOGIA O educador ambiental, ao atuar no processo de educação permanente, primeiro precisa reconhecer seus limites no conhecimento e na compreensão sobre as causas e efeitos e da crise pessoal, social e ambiental que vivemos. Ao mesmo tempo, ele próprio deve abrir-se para novas experiências e para as possibilidades de superação criativa desta crise. Assim, ele poderá atuar como exemplo vivo nas relações que fazem parte de sua vida profissional, familiar e comunitária. Como se referem Gutiérrez e Prado (1999) “educar-se é impregnar de sentido as práticas da vida cotidiana”. [grifo do autor]. Isto significa que aprendizagem é resultado da busca que parte do ser humano, por sua própria iniciativa de se desenvolver, de conhecer, de observar, compreendendo e aprendendo nas coisas e nos acontecimentos. O ser humano está em constante processo de aprendizagem e vai assim, atualizando suas potencialidades. UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 144 Nesta abordagem, o educando é o verdadeiro agente de busca e construção do sentido da aprendizagem. O objetivo do que aprender não é definido pelo educador que planeja sozinho o conteúdo a ser dado aos aprendizes. Como destaca Gadotti (2004, p. 405), “a nova pedagogia precisaconstruir sentido para os conteúdos curriculares a partir da demanda, isto é, das necessidades das pessoas”. Esta é uma pedagogia que busca relacionar o conteúdo de aprendizagem à utilidade, ao trabalho e às fontes de produção. Ao mesmo tempo, relaciona simbolicamente os conteúdos ensinados com a totalidade da vida do educando. Uma pedagogia centrada no ecossistema, corpo humano-meio, inserida no processo emocional, cognitivo e existencial do indivíduo, da cultura e do planeta Terra. Uma pedagogia baseada na formação e no desenvolvimento da personalidade e que, por isso, inclui todas as dimensões da vida: o corpo, a natureza, a sociedade e as ideias, imagens e emoções. Um método de ensino centrado na vivência, que evoca diariamente a imaginação de alunos e educadores ativada pelas mais variadas técnicas expressivas de aprendizado: a música, a poesia e a literatura, o concreto, o passeio, as dinâmicas de grupos, a experimentação, a observação e a convivência. As metodologias de vivência permitem consolidar relações de compartilhamento, de grupo e de exercício da cidadania. Sua utilização tem-se mostrado bastante eficaz nos contextos de crise socioambiental, por dar a sustentação psicossocial indispensável para participação direta de cada um nos processos de diagnosticar, decidir e implementar localmente ações coletivas sobre questões ambientais. A participação cidadão é um dos objetivos centrais da ecopedagogia, como destaca Gadotti (2004, p. 404): a aprendizagem com sentido forma protagonistas, não repetidoras de ideias. Os autores insistem muito o sem sentido da educação atual, que obriga crianças e jovens a repetir conhecimentos e informações absolutamente sem qualquer relação com a vida deles e que nada significam e jamais significarão para o resto das suas vidas. Um referencial pedagógico baseado no próprio desenvolvimento simbólico e arquetípico da personalidade e da cultura para tornar o estudo naturalmente lúdico, emocional, cômico e dramático, atraente e emergente da relação transferencial amorosa entre o aluno, a classe e o professor. A ideia de que somos todos, simultaneamente, educadores e educandos conduz a uma constatação básica: trata-se de perceber que enquanto educadores que se autoeducam, precisamos desenvolver nosso poder pessoal de desencadear processos de mudança na nossa relação existencial individual e com o outro na comunidade onde vivemos. FONTE: Adaptado de: <www.fortium.com.br/blog/material/Metodo3.doc>. Acesso em: 19 set. 2011. TÓPICO 3 | O SENTIDO DA APRENDIZAGEM 145 3 O ATO DE PESQUISA COMO FORMA DE APRENDIZADO COM SENTIDO A proposta do educador pesquisador é operacionalizada quando se realizam diagnósticos da realidade. Esta é uma forma de aproximar os educadores e a instituição de ensino às comunidades e se torna uma oportunidade para que as questões ambientais sejam abordadas, em especial aquelas diretamente ligadas ao contexto. Propostas de pesquisa-ação permitem desencadear a reflexão das situações reais através do debate e problematização na busca de alternativas e na participação nas relações da economia e da sociedade na apropriação dos recursos naturais. As pesquisas sobre meio ambiente podem contribuir para aperfeiçoar a compreensão da realidade ambiental local nos seguintes aspectos: • Conhecimento do estado de conservação dos ecossistemas locais. • Avaliação das atividades agrícolas, turísticas e industriais sobre os recursos hídricos; condições de vida na cidade – transportes, saneamento básico, água potável, áreas verdes e condições do ar atmosférico. • Pressão populacional sobre os recursos naturais. • Situação da fauna e flora do município. • Gestão dos resíduos sólidos; participação dos usuários e destino dos resíduos. • Entre as metodologias utilizadas para o diagnóstico destacaremos aqui as histórias de vida e memória, os estudos de caso e as gincanas. 3.1 HISTÓRIAS DE VIDA E AÇÕES DA SOCIEDADE NA NATUREZA As histórias de vida visam conhecer as características dos ecossistemas locais, a evolução dos desmatamentos e dos processos de transformação das paisagens tendo em vista a pressão das populações urbanas e rurais, em especial com a evolução tecnológica e do desenvolvimento. Através do conhecimento da historicidade o educador terá uma visão mais ampla dos processos atuais, a dinâmica evolutiva dos ecossistemas, a dimensão temporal, as fragilidades impostas ao território e as possibilidades de mudanças. Para o resgate da memória vivida se pode convidar as pessoas mais antigas da comunidade, que tenham experiências quanto ao tema tratado e que apresentam facilidades para contar suas histórias e de realizar observações dos fatos cotidianos. Nesta atividade de contextualização cronológica dos fatos, é UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 146 importante a colaboração dos professores de história e geografia. Esta é uma forma rica de aproximar professores e comunidade (moradores, comerciantes, agricultores, jardineiros, industriais, profissionais liberais) da escola, assim gerando temáticas que dão sentido ao aprendizado escolar. No resgate da memória pode-se solicitar aos contadores para falar sobre: • Fatos que traduzem as mudanças ocorridas na ocupação do espaço, no uso dos recursos naturais e no desenvolvimento das atividades produtivas (agricultura, indústria). Destaque para as questões de infraestrutura (estradas, fontes de energia, meios de transporte e acesso a bens de consumo). • Hábitos alimentares e suas mudanças, a importância de produzir para o autoconsumo (pomar, horta, criações de animais e animais silvestres). • As brincadeiras e as relações estabelecidas na infância com os rios e demais elementos da natureza. • A presença atual e antiga de áreas de lazer de uso comum (praias, rios, mangues, praças, bosques e parques). • Os modos de apropriação dos recursos naturais com objetivos econômicos: agentes e intensidade de uso. • As relações de comunidade, as festas e demais manifestações culturais com vínculos relacionadas aos eventos da natureza e da agricultura. • A geração e o destino dos resíduos sólidos e esgotos domésticos. • Os problemas de acesso aos recursos naturais, desmatamentos e poluição ambiental e agentes indutores. A proposta de Paulo Freire de organizar os “Círculos de Cultura” como forma de diálogo com os adultos na alfabetização pode aqui ser resgatada como forma de pensar a sua própria realidade visando traduzir o seu mundo construído através do resgate de fotografias de cada tempo histórico, retratando familiares no espaço. (BRANDÃO, 2005). Através de fotografias contendo cenas de seu cotidiano, esses educandos são motivados a falar sobre o desenrolar de suas vidas reconstruindo sua história, e assim são desafiados a perceberem-se enquanto sujeitos dessa história. O professor neste ato de investigação/ação deixa de ser o detentor do saber para ser o animador de debates, com o papel de coordenar as discussões precavendo para que ocorra a participação ampla com relatos diversos. Através de suas histórias, de seus “causos” e, através do diálogo constante, em parceria com o educando, cabe ao educador conhecer o universo do educando compreendendo sua oralidade e sua bagagem cultural. (BRANDÃO, 2005). TÓPICO 3 | O SENTIDO DA APRENDIZAGEM 147 Aspectos da realidade são gradativamente desvelados nos diálogos com o grupo, incluso aspectos não tão perceptíveis se revelam e uma “readmiração da realidade inicialmente discutida de modo superficial será realizada, porém gradativamente abre-se para uma visão mais crítica e ampla, necessária para a transformação socioambiental ao qual é o desafio do educador. 3.2 ESTUDOS DE CASO NO APRENDIZADO DA REALIDADE AMBIENTAL LOCAL Na proposta freiriana, o planejamento da Educação Ambiental depende da pesquisa das situações que constituam ameaças ao meio a que pertencemos e subsidie a reflexão conjunta (escola e comunidade). O objetivo é gerar sentido ao aprendizadoa partir da compreensão da problemática específica e suscitar no cidadão o compromisso de intervenção. Trata-se de uma técnica pedagógica, onde educador e educando, com o envolvimento da comunidade local, irão pesquisar e avaliar um caso que reúna os problemas de maior interesse ambiental, para serem aprofundados, questionados e debatidos, até sugerirem propostas de solução. A escolha da temática deve emergir do diagnóstico que aponte para a relevância da questão tanto para a escola como para a comunidade envolvida; e que seja de fácil apreensão e discussão. Ao fazer a escolha do caso a ser investigado sugere-se: • Identificar a relevância e o estado de conservação do ecossistema em questão. • Avaliar o grau de dificuldade para compreender o caso em termos de abrangência e nível de complexidade. • As condições estruturais (acesso e deslocamento) para realizar o estudo. • Os recursos materiais necessários e disponíveis. • Formação de uma equipe de educadores realmente engajados no projeto. • Apoio pedagógico e institucional para executar o projeto. • Integração dos planos de ensino à temática tratada. É necessário um direcionamento de conteúdo que irá delinear mais ou menos o que se pretende aprofundar no estudo. Metodologicamente o estudo de caso implica recortes específicos da realidade visando detalhar uma situação e configurar o problema podendo envolver caminhadas de reconhecimento, entrevistas, registros fotográficos, análises de laboratório, consulta a especialistas, consulta a arquivos e registros jornalísticos, entre outros. UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 148 Também envolve o aprendizado do estudante para a organização de dados com tabulação, análise estatística, geração de tabelas e gráficos. A etapa de análise dos dados poderá ser efetuada e ser discutida com a comunidade envolvida. Também é importante gerar uma síntese do estudo com elaboração do relatório. Todos os estudos e resultados gerados poderão ser abertos à comunidade envolvida diretamente com o problema, discutindo com a mesma as informações que fazem parte do seu cotidiano. No final pode haver a divulgação dos resultados, gerando informações para a sociedade em geral, através dos debates em seminários, reportagens de jornais, rádio, televisão e vídeos. A apresentação dos resultados poderá ser realizada através de painéis, dramatização, jogral e mural, entre outros meios. O processo de avaliação deve percorrer todos os momentos do estudo de caso do planejamento aos resultados finais dos estudos. Este tipo de atividade gera um grande movimento da escola e da sala de aula, caracterizando a atitude de pesquisa no processo de conhecimento e de aperfeiçoamento da linguagem. A execução das atividades poderá envolver educandos e educadores em atividades extraclasses o que pressupõe o engajamento do professor com reconhecimento institucional visando operacionalizar o projeto quanto a condições de trabalho. Este tipo de trabalho pode ter estranhamentos na instituição escolar, pois a tendência é encarar o processo pedagógico restrito ao espaço e tempo da sala de aula, não se reconhecendo a importância de outros tempos e interações com o espaço. 3.3 AS GINCANAS COMO MOVIMENTO EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE Consiste numa atividade integradora que pode ser promovida envolvendo a escola ou a comunidade mais ampla (pais, vizinhos, empresas, clubes, ONGs e instituições públicas). A gincana implica um planejamento composto de regulamento e calendário, prevendo premiações de caráter ecológico e uma equipe suporte para as atividades. As tarefas a fazerem parte das ações dependem de cada localidade, se na cidade litorânea, se na serra ou no campo. Pode implicar coleta de sementes, fotografias de árvores nativas, animais silvestres, aves e paisagens, coleta e separação de lixo em locais públicos determinados, coleta de alimentos e frutas nativas raras, receitas de alimentos preparados com frutas, cereais e legumes característicos de cada ecossistema, entre outras atividades. A gincana pode envolver atividades de arte e literatura por meio de leitura e interpretação de poesia, contos, teatro, composição de músicas, artesanato, poesia ou redação com temáticas que suscitem o debate e retrate questões ambientais emergentes ou que fazem parte da preocupação local. Especificamente na área de música pode envolver concursos de composições, confecção de instrumentos com elementos da natureza. A pontuação se dará com o somatório gerado pela música mais aplaudida ou mais cantada pelo público, instrumentos mais originais entre outros critérios a serem definidos. TÓPICO 3 | O SENTIDO DA APRENDIZAGEM 149 A gincana também pode envolver os mutirões de limpeza de rios e praias, reflorestamentos, paisagismos e jardinagens de praças e áreas verdes. A ação frente aos meios de comunicação visando gerar o debate ou suscitar uma denúncia quanto a crimes ambientais pode ser parte da gincana. Neste caso, os estudantes precisam estudar para constituir argumentos, realizar abaixo-assinados, redigir notícias para rádio e televisão e fazer manifestações de rua. Os seminários são uma forma de aproximar a escola da comunidade acadêmica e de introduzir a discussão de temas da atualidade, visa estimular o debate sobre temas nem sempre presente nos programas de ensino. As manifestações podem ser uma forma de exigir melhoria de qualidade de vida aos moradores do local em que se insere a escola e mesmo para melhorar os ambientes da escola com arborização, jardins, pomares, hortas e salas de aulas agradáveis com maior biodiversidade. Já as oficinas de reciclagem constituem espaços de criatividade com o aproveitamento de materiais desperdiçados ou inutilizados, proporcionando sentido aos programas de coleta seletiva dos resíduos sólidos. UNI Na autoatividade, na questão 1 deste tópico, veremos uma experiência que é ilustrativa sobre os passos de uma atividade de Educação Ambiental em espaços não escolarizados envolvendo todas as faixas etárias da comunidade. Observe que são seguidas as etapas propostas de educação ambiental apresentadas no Tópico 3 da Unidade 1. 150 Neste tópico, você viu que: • O educador para o exercício da ecopedagogia precisa buscar seu próprio aprendizado estando aberto aos avanços do conhecimento e a novas experiências. • O educador tem o papel de ser motivador das situações de aprendizagens, buscando interagir com a realidade na posição de pesquisa e levantamento de problemas, observando, analisando indo muito além da mera reprodução do conhecimento. • A definição dos conteúdos de aprendizagem não é mais um ato individual centrado no educador, mas construído coletivamente. • Esta é uma pedagogia que busca relacionar o conteúdo de aprendizagem ao trabalho e as fontes de produção, a totalidade da vida (o corpo, a natureza, a sociedade e as ideias, imagens e emoções do educando). Visa à formação e ao desenvolvimento da personalidade. • Estimula a criatividade e utiliza as mais variadas técnicas e áreas do conhecimento (artes e literatura, em especial) para gerar relações interativas com a natureza e a reflexão da relação sociedade /meio ambiente. • O aprendizado do educador o posiciona no ato de pesquisador social, comprometido com a realidade a qual investiga, participa e propõe mudanças. • Através das pesquisas os educadores podem ter os elementos para o aprendizado tais como conhecer ecossistemas, avaliar impactos e gestão de resíduos. • Entre as metodologias utilizadas para o diagnóstico destacam-se: histórias de vida e memória (para conhecer a dinâmica espaço/temporal dos modos de apropriação dos recursos naturais), estudos de caso e gincanas. • Os “Círculos de Cultura” é um método de diálogo com os adultos, permite identificar como cada um pensa a sua própria realidade, motivados por imagens e fatos que estimulam o sentido de reconhecimento da identidade e de pertencimento. • Estudos de caso também podem auxiliar noaprendizado da realidade ambiental local específica. Como método implica identificação do problema, caracterização por meio de técnicas de levantamento de dados síntese e apresentação de resultados. • As gincanas contribuem para gerar um movimento em defesa do meio ambiente e estimular o estudante a agir em busca de seu próprio aprendizado em situações fora do espaço da sala de aula. RESUMO DO TÓPICO 3 151 AUTOATIVIDADE 1 Elabore uma proposta de gincana ecológica para um grupo de estudantes, enfatizando a questão da biodiversidade. Planeje a atividade pensando em cada faixa etária, tempo de duração, envolvimento dos professores e comunidade, patrocinadores e premiação. Detalhe passo a passo de cada uma das atividades, elucidando os objetivos a serem atingidos. 2 São muitas as pesquisas que visam realizar o diagnóstico de uma determinada realidade. Qual é a importância do diagnóstico para o planejamento escolar? 3 Qual é a contribuição dos círculos de cultura para o educador? 4 Qual é a importância do estudo de caso? 5 De um modo geral, as instituições de ensino não são habituadas a gerar atividades de ensino/aprendizagem que envolvam a comunidade, ou que acabe com os ritmos repetitivos dos horários/aula, a disciplina do professor e seu planejamento individual de conteúdos orais e provas. a) Como as atividades de pesquisa podem contribuir para outras formas de aprendizado e de planejamento pedagógico? b) Como a escola pode romper seu preconceito quanto à pesquisa redefinindo os valores da prática do professor limitados a reproduzir conhecimentos provenientes dos livros didáticos? 152 153 TÓPICO 4 O CONTEXTO DAS COMUNIDADES EM UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Há muitas possibilidades metodológicas de reconhecimento da realidade local. As práticas participativas de reconhecimento são as que têm apresentado resultados efetivos quanto à qualidade das informações e o envolvimento dos aprendizes e educadores. De um modo geral, projetos de educação e formação ambiental foram gerados sem que os moradores das localidades fossem suficientemente envolvidos. 2 O CONTEXTO DAS COMUNIDADES EM UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Apesar dos meios de comunicação, realizar programas de televisão diários, relacionados com os empreendimentos agrícolas, a linguagem e os conteúdos tratados não eram suficientemente abrangentes para elucidar as questões ambientais, não contemplando as necessidades mais específicas das populações tradicionais (tais como ribeirinhos, agricultores, quilombolas, indígenas, entre outros). Este estranhamento ocorre devido ao tradicional distanciamento entre o conhecimento formal e os saberes populares na construção das práticas de produção agrícola e de criações animais, causando discrepâncias nas práticas de uso dos recursos naturais, adequadas à legislação ambiental. Frequentemente, agricultores familiares podem ser induzidos a agirem de modo clandestino ao manejar os recursos naturais e ao utilizarem técnicas agrícolas com potencial de toxidade ao meio ambiente. Como contraponto, as orientações sobre como modificar sua forma de sobrevivência, adotando práticas agrícolas sustentáveis são precárias. FONTE: Adaptado de: <http://ciencialivre.pro.br/89596.html>. Acesso em: 20 set. 2011. UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 154 Para superar tais impasses, as metodologias participativas visam ir além do mero conhecimento da realidade e o apontamento de problemas e incongruências de comportamento. Objetiva-se durante a pesquisa, a própria transformação da realidade, a qual pode ser estruturada com as seguintes etapas: a) sensibilização, conhecimento e habilidades - diagnóstico da realidade socioeconômica e cultural dos moradores (conhecimento e habilidades); estudo das representações sociais; definição dos temas geradores, palestras e oficinas de educação ambiental; b) projeção - reuniões de moderação para problematização da realidade; c) mobilização, ação ambiental e participação - mutirões de limpeza do ribeirão e para plantios de mudas em áreas de mata ciliar. 2.1 CONHECIMENTO E DEBATE DA REALIDADE Após realizar as reuniões, entrevistas, questionários e visitas a várias famílias o grupo constituiu com a comunidade um nível de convivência suficiente para compreender como cada família estabelece suas relações cotidianas com o meio ambiente. Com essa convivência se obtêm os elementos básicos para gerar os conteúdos de Educação Ambiental, cujos eixos norteadores são as características dos ecossistemas e as formas de apropriação dos recursos por parte dos usuários. Trata-se de começar com o estudo da realidade socioambiental e os modos de apropriação dos recursos naturais onde o educando vive. Neste ato pedagógico, busca-se um posicionamento de criticidade e de compromisso do educando com os seus atos e sua forma de existir no mundo, assim tomando para si a consciência das origens, causas (e agentes causadores) e consequência da problemática ambiental. Neste ato, não são salutares relações horizontais e democráticas entre educador e educando na medida em que ambos são sujeitos do ato do conhecimento. IMPORTANT E Caro acadêmico! Fique atento(a) para o fato de que cada pessoa, cada grupo envolvido na ação pedagógica não está totalmente desprovida dos conhecimentos e de questionamentos sobre o seu mundo. Como o educador nem sempre partilha da mesma realidade, pode haver certo estranhamento e dúvidas quanto à presença deste conteúdo nas pessoas. Evite o ato inicial de mera transmissão de conteúdos estruturados e busque estabelecer uma relação dialógica com os educandos, buscando conhecê-los enquanto indivíduos sociais inseridos num determinado trabalho, classe social e localidade. TÓPICO 4 | O CONTEXTO DAS COMUNIDADES EM UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 155 Com a sensibilização, se espera que as pessoas participem no processo de definição dos problemas, permitindo que os dados levantados fossem analisados pela comunidade em interação com os acadêmicos. Desse modo, pode-se definir claramente a forma como os aspectos econômicos, sociais e culturais influenciam nos modos de apropriação dos recursos naturais. Os gestos, os modos de expressão e a forma das pessoas traduzirem a sua relação com o meio ambiente; se considerados facilitam a identificação de temáticas com urgência social e ambiental. Assim as palavras geradoras identificadas expressam o cotidiano, as relações da comunidade e os usos dos recursos hídricos. Ao se dialogar sobre o seu meio e a realidade, realizar as observações das condições deste meio, são desvelados aspectos da realidade até então não percebidos. Gera-se então um movimento de observação-reflexão-readmiração-ação, a educação passa a ser um ato político de conscientização e de exercício de cidadania. Esta proposta é valorizada por Paulo Freire que propõe um processo de ensino aprendizagem visando à libertação do pensamento, das atitudes e formas de existir no mundo, além do exercício da cidadania, onde “aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta” isto é, da situação real vivida pelo educando e só tem sentido se resultar de uma aproximação crítica dessa realidade. Quando os conteúdos de ensino são definidos emergindo do contexto social do educando são realmente significativos. Por meio do ato educativo se poderá desencadear o debate sobre a origem do problema e os agentes causadores do dano, assim resultando na ressignificação da realidade com o despertar do pensamento crítico e desprendimento dos processos de domínio e inibição do pensamento. UNI Caro acadêmico! A prática de observação/reflexão permite o desenvolvimento de uma sociedade consciente de sua existência no planeta Terra e com capacidade de atuação. Este é o grande propósito da Educação Ambiental. Perceba que não existe educação neutra quando ela visa à construção e reconstrução de significados observando uma realidade, geralmentemascarada por crenças e mitos de que a situação está dada, não havendo possibilidade de transformação. Consiste numa consciência ingênua (também conhecida como mágica), bastante comum no nosso meio. Isto impede o exercício da liberdade onde as pessoas se sintam à vontade para definir e optar por uma existência, como sujeitos responsáveis e capazes de transformação social. Para desencadear uma educação ativa é importante compreender como identificar os Temas Geradores, obtidos da problematização da realidade e da experiência de vida dos educandos. Os temas são traduzidos em conteúdos de ensino definidos através de uma relação dialógica entre educandos e educadores. UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 156 Neste caso, há um saber popular valorizado e este é desvelado na proposta do que se aprende. Gera-se então um processo pedagógico diferente da tradicional proposta de “invasão cultural” que consiste em repassar conteúdos universais, genéricos e comumente, descaracterizados da realidade onde a própria metodologia de ensino/aprendizagem fica restrita ao simples ato de transferir informações. (BRANDÃO, 2005). O diagnóstico não pode ser restrito a uma única dimensão de caráter biológico ou ecológico, pois são as características socioeconômicas que fornecem os elementos para uma compreensão mais acurada das situações circunstanciais, causadoras das relações predatórias no uso dos recursos hídricos. Os problemas ambientais locais evidenciados apresentam inúmeras causas e as soluções são complexas. 2.2 SENSIBILIZAÇÃO A Educação Ambiental tem o propósito de transformação da tomada de consciência ambiental de modo a despertar no ser humano a sensibilidade e a criatividade sobre a problemática ambiental compartilhada local ou globalmente. São muitas as possibilidades de gerar o interesse através do desvelamento da realidade aparentemente conhecida. Feita a avaliação da percepção das pessoas em relação ao ribeirão, desenvolveu-se uma oficina de Educação Ambiental. Na ocasião, foi realizada uma dramatização para sensibilizar a comunidade tendo como temas a escassez de peixes, o esgoto, o lixo, as embalagens de agrotóxicos e o desmatamento (figura a seguir). O objetivo da oficina foi de construir no coletivo as primeiras alternativas para os problemas diagnosticados. FIGURA 8 – DRAMATIZAÇÃO PARA OS ESTUDANTES FONTE: Arquivo da autora TÓPICO 4 | O CONTEXTO DAS COMUNIDADES EM UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 157 Através das fotos do local que retratam períodos históricos diferentes, os moradores puderam comparar as situações e identificar as mudanças. O exercício de reflexão temporal recolocou o problema das relações atuais da sociedade com o uso dos recursos naturais, permitiu a autocrítica, restabeleceu o compromisso coletivo quanto a novas formas de uso dos recursos e a participação na tomada de decisões no bairro. No caso estudado, o significado do rio na percepção dos moradores decorre da própria história de apropriação das vertentes hídricas. A descaracterização da mata ciliar e os assoreamentos resultantes das construções (barragens, represas, moradias, agricultura) são pressões que intensificaram o dano ambiental. Os recursos hídricos são os ecossistemas que sofreram a maior desestabilização na região, e por isso, são reconhecidos como o problema ambiental de maior gravidade. FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO DO RIO POR UM ESTUDANTE DA COMUNIDADE FONTE: Arquivo da autora UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 158 Gradativamente, com a descaracterização do ecossistema a água do ribeirão deixa de ter o significado de fonte de vida. Ela passa a ser representada como sinônimo de problemas: enchentes, mau cheiro e risco de contaminação (Figura 9). Neste contexto, o processo educativo implica a redefinição do problema, identificando as causas e buscando ancorar outros significados para os recursos hídricos inclusive a possibilidade de recuperação. 2.3 PROJEÇÃO A vivência de situações que denotam a possibilidade de um rio como fonte de vida implica o resgate do sentido de corresponsabilidade de cada cidadão. Antes disso, uma educação para a mudança exige o diagnóstico socioeconômico, que é ilustrativo dos impactos ambientais resultantes. A resolução de problemas ambientais cujas causas residem nos modos de apropriação dos recursos naturais, passa necessariamente pelo questionamento do estilo de desenvolvimento. Isto pressupõe ações de gestão participativa, gerando ecotécnicas e redefinindo valores de consumo. Depois de verificar a existência desses problemas, tivemos os elementos necessários para gerar um programa de Educação Ambiental diretamente vinculado ao contexto característico da população em estudo. A escolha dos temas geradores e a descoberta dos principais elementos que faziam parte da linguagem local foram possíveis com a convivência dos educadores na comunidade. NOTA Cuidado! Comumente encontramos a defesa da racionalidade técnica-instrumental (conhecimento utilitário) como a forma mais importante ou única de conhecimento. Aqui se propõe que a educação também valorize outras formas de conhecimento e de percepção, deixando a intuição e a imaginação, a paixão e a emoção se manifestarem, envolvendo o educando na sua realização pelo conhecimento. (GADOTTI, 2004). 2.4 MOBILIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO Gradativamente, um grupo de moradores locais, aproximadamente 15 pessoas, começou a se envolver, participando ativamente das atividades, muitos deles auxiliando no próprio processo de levantamento de dados. A etapa de geração de alternativas de conhecimentos de outras experiências foi fundamental para a motivação do grupo. Como resultado, algumas mudanças começam a se configurar nas práticas agrícolas e na melhoria das moradias. Entre as iniciativas destacaram-se as ações de cercar o entorno do ribeirão para evitar o acesso TÓPICO 4 | O CONTEXTO DAS COMUNIDADES EM UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL 159 predatório do pisoteio dos animais nas áreas de mata ciliar; a recuperação da mata ciliar com plantio de mudas (Figura 10); formação de viveiros de árvores nativas; aproveitamento de construção de fossas e esterqueiras, a reciclagem do óleo de cozinha e mutirões de limpeza do ribeirão. FIGURA 10 – MUTIRÃO PARA PLANTIO DE MUDAS NAS NASCENTES DO RIBEIRÃO FONTE: Arquivo da autora Como resultado, as técnicas de ensino-aprendizagem utilizadas tiveram o êxito almejado por envolver a dimensão do conhecimento e a mudança das ações. Nesse sentido, o resgate do conhecimento ecológico tradicional e o conhecimento dos limites socioeconômicos dos agricultores foram substanciais para gerar, de modo participativo, alternativas aos problemas diagnosticados. O envolvimento dos agricultores em todas as etapas do processo de pesquisa foi fundamental para que essas alternativas fossem assumidas como de propriedade dos próprios agricultores e haverá continuidade das ações implementadas. O processo educativo é de fundamental importância quando se visa mudança nas práticas agrícolas. De um modo geral o técnico, os pesquisadores e educadores tendem a ver o meio rural como um espaço de práticas inadequadas e cada um tem a sua receita da forma correta para a resolução dos problemas territoriais. Em contrapartida, as formas convencionais de assistência técnica e de educação de adultos, a pesquisa participante e a pesquisa-ação têm metodologias não autoritárias de intervenção e de interação na realidade. Consiste na parceria entre o agricultor e o educador tendo como meta a troca de saberes para a resolução conjunta dos problemas. As medidas geradas foram imediatamente apropriadas pelo grupo de agricultores, não sendo necessário utilizar artifícios para o convencimento do grupo. UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 160 Dessa forma, convém ressaltar que a Educação Ambiental é um processo permanente, a ser propagada durante todas as etapas de formação do cidadão. Tem como característica a sua inserção,possível, nos mais diversos programas de desenvolvimento. O poder público, os agentes de organizações não governamentais e a esfera privada são convidados para assumir o compromisso de gerar conhecimentos significativos sobre o meio ambiente e situações de vivência para que se efetive a conservação. DICAS Caro acadêmico! Você recebeu, no início deste semestre, uma agenda de encontros presenciais e de datas de avaliações. Consulte nesta agenda o período em que estará disponível a avaliação da Unidade 1. Lembre-se de que ela ficará disponível no site da UNIASSELVI: <www.uniasselvi.com.br> e deverá entrar com seu login e senha. 161 Neste tópico, você viu que: • Nas comunidades o educador ambiental terá bons resultados se souber se inserir e conviver numa atitude de respeito e humildade para com as pessoas e de observação ativa da realidade cotidiana. • Podem ser utilizadas técnicas como teatro, música, fotos e casos, como forma de promoção da participação e envolvimento das pessoas na busca das aprendizagens socioambientais. • Os temas geradores são evidenciados, após a convivência do educador com a comunidade e realizado o diagnóstico e problematização da realidade socioambiental. • A interação entre o agricultor e o educador tem como meta a troca de saberes para a resolução conjunta dos problemas. • As medidas geradas de modo participativo foram imediatamente apropriadas pelo grupo de agricultores, não sendo necessário utilizar artifícios da mídia para o convencimento do grupo. • A EA é parte de um movimento mais amplo de promoção do desenvolvimento sustentável que engloba agentes econômicos, políticos locais, nacionais e internacionais, entre outros agentes. RESUMO DO TÓPICO 4 162 AUTOATIVIDADE 1 Quem são os agentes promotores da EA nos espaços não escolarizados? 2 Como a escola pode romper com o tradicional distanciamento da realidade do educando? 3 Qual a importância dos meios de comunicação de massa no processo educativo? 4 Como foram definidas as palavras geradoras? O que elas expressam? 5 Qual foi a representação social do ribeirão identificada? Como o processo educativo pode contribuir para mudar o entendimento e as expectativas das pessoas? 6 Por que o grupo de animadores teve êxito na participação da comunidade na implementação das ações? 163 TÓPICO 5 O APREÇO DAS CRIANÇAS PELA NATUREZA UNIDADE 3 [...] é da intimidade das consciências, movidas pela bondade dos corações, que o mundo se refaz. E, já que a educação modela as almas e recria os corações, ela é a alavanca das mudanças sociais. Em primeiro lugar, porém, é preciso que a educação dê carne e espírito ao modelo de ser humano virtuoso que, então, instaurará uma sociedade justa e bela. Nada poderá ser feito antes que uma geração inteira de gente boa e justa assuma a tarefa de criar a sociedade ideal.(FREIRE,1989, p. 28). 1 INTRODUÇÃO Você viu no Tópico 4 da Unidade 1, que a sensibilização é o ponto de partida do trabalho em Educação Ambiental. Na sequência, detalharemos como se atinge o objetivo de caminhar com sentido e de aprender com sentido. Se quisermos dar sentido ao que fazemos, o sentimento, a intuição, a emoção e a percepção conotativa, devem ser considerados. Na abordagem da ecopedagogia múltiplas áreas do conhecimento podem contribuir para o efetivo envolvimento das pessoas, reafirmando-a não como mais uma disciplina escolar, mas como um projeto coletivo amplo, acordado pela comunidade escolar. Neste tópico será apresentada a importância da criança conviver na natureza, desenvolvendo sentimentos de respeito e afetividade que influenciarão nas suas atitudes da idade adulta. 2 OS AMANTES DA NATUREZA Moacir Gadotti retrata na sua obra Mestres de Rousseau o profundo sentimento de afetividade que mantém com a Terra. O autor também contribui com a obra Pedagogia da Terra, resgatando a importância de desenvolvermos uma consciência planetária. A infância de Gadotti é composta de lembranças que sustentam seu sentimento de respeito à Terra: Um lindo lugar. Nasci ali, onde não havia eletricidade, nem rádio; onde se consumia o que a terra dava. [...] Passei ali os primeiros 12 anos, que me marcaram: a necessidade de ter espaço ao redor, de respirar profundamente, de deitar no chão. Gostava de andar na chuva, de tomar água com as mãos, de andar, de apreciar as flores, as árvores, as pedras. (GADOTTI, 2004, p. 365). UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 164 O seu olhar sempre sensível de hoje é cultivado pelo prazer de contemplar e de conviver de modo simples e até mesmo contemplativo com a natureza: Gosto muito da chuva. Amo a chuva. Fui feito para a chuva, para a terra, para o amor, a música... mas, sobretudo para montanha. Sonho com ela todos os dias. [...] nasci numa montanha e sempre que estou no vale penso em voltar para ela. Gosto de observar o vale do alto. Gosto de observar uma montanha de outra montanha. (GADOTTI, 2004, p. 369). A ambientalista Rachel Carson, de grande importância acadêmica e política, relata lembranças similares a de Gadotti (2004): Eu não consigo lembrar-me de um momento sequer em que eu não tenha me interessado pelas maravilhas da natureza. Sei que tal interesse foi herdado de minha mãe, com quem compartilho até hoje. Fui uma criança bastante solitária que passava a maior parte do meu tempo nos bosques ou nas margens de riachos, aprendendo com pássaros, insetos e flores. As lembranças do ambientalista John Muir são igualmente lúdicas: Eu adorava vaguear pelos campos ou ouvir pássaros cantando nas praias; olhar e encantar-me com as conchas e algas, enguias e caranguejos nas piscinas que se formavam entre as rochas, quando a maré baixava. [...] Encantava-me observar as ondas bravias, momento em que o céu e o mar e as nuvens e as ondas tornavam-se uma só visão. As experiências vividas com intensidade podem fazer a grande diferença para o engajamento futuro do cidadão nas questões ambientais. Utilizando somente a razão, o ser humano aprende, mas quando utiliza o sentimento e a emoção ele apreende e se educa. Uma pessoa está sensibilizada quando se emociona pelo objeto e, por meio das informações recebidas, redireciona suas atitudes e ações de forma a manter o equilíbrio com o meio ambiente. NOTA Os naturalistas famosos tiveram a oportunidade de conviver com a natureza na sua infância, geralmente estimulado por um adulto. Os mestres farão o grande papel de constituir gerações atentas e cuidadosas com a sua casa, conscientes de que o planeta Terra é insubstituível e sua sustentabilidade depende de uma ação coletiva global e emergencial. TÓPICO 5 | O APREÇO DAS CRIANÇAS PELA NATUREZA 165 3 A PERDA DA AFETIVIDADE PELA NATUREZA NA INFÂNCIA O sentido lúdico e de contemplação é espontâneo na criança, mas muitas vezes, está adormecido nos adultos. Estes vivem pressionados a manter uma racionalidade que nega a paixão e a afetividade, motivados pelo apelo ao consumo, o próprio lazer e entretenimento se tornam uma forma sofisticada, geralmente cara, de consumo. Perde-se o apreço pelos momentos simples, os espaços “naturais” de livre acesso não são mais conquistados. São muitos os indícios de afastamento da sociedade moderna da “natureza” (da primeira natureza) e a sua substituição por espaços construídos (da segunda natureza). Nas últimas décadas, o homem tem perdido o contato com sua cultura, seu ambiente natural e as bases de convivência ecológica como resultado da crescente urbanização da população, desencadeada nos anos 70. Esse é um fato que se manifesta de modo preocupante entre os jovens e as crianças. Ao não se oportunizar às crianças experiências de convivência com os elementos naturais, se perde a oportunidade de desenvolver os sentidos de percepção que favorecem a valorização dos recursos naturais. Desta forma, o cidadão quando adulto não consegue discernir as delicadas relações que constituem a vida sustentada pela dinâmica dos ecossistemas estabilizadosA infância é vivida em ambientes fechados, protegidos do vento, do frio, do barro e da chuva. Igualmente, os jogos e as brincadeiras são confinados em clubes e Shoppings Centers e até os animais de estimação são treinados para se comportarem com hábitos humanos. Nestes ambientes modificados, cimentados com jardins construídos esteticamente ordenados, perde-se o significado de uma vida simples e fica difícil distanciar as crianças dos brinquedos eletrônicos, magicamente adquiridos nos supermercados. Resultante disto há a perda da criatividade (conquistada nas brincadeiras imaginadas) e da convivência com os elementos naturais que proporcionam o sentido da existência na Terra, da solidariedade planetária e da sabedoria do cuidado. Como não compartilhamos, não mais admiramos e nos relacionamos com a natureza, como reflete Gadotti: O vento movimenta as palmeiras. As palmeiras, as árvores, falam, gesticulam, gritam, e os humanos as ignoram. Elas sorriem. Elas estendem seus ramos, suas mãos, suas folhas, suas flores, e os humanos não veem, não escutam, desprezam a Terra, os seus frutos. Não aprendem nada com ela. A Terra, esse é o nosso sonho, nosso lar, nosso aconchego, nossa toca. Não viemos ao mundo. Viemos do mundo. Somos não apenas parte dele. Somos a própria Terra, viva em evolução... nos transformaremos nela... somos ela. Somos fragmentos dela, fragmentos das estrelas, poeira do além do além... E continuamos fugindo dela. Quantos seres humanos nunca abraçaram uma árvore, nunca sentiram o seu ser! Quantos seres humanos ainda não percebem a razão se ser de sua existência! Quantos ainda estão fugindo? (2004, p. 27). UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 166 UNI Você está cansado de estudar? Observe como a temperatura do ambiente pode estar influenciando no desenvolvimento da sua planta, as necessidades de água e de nutrientes. Para que uma nova forma de ver o mundo possa ser introduzida, é necessário que se mude a relação cotidiana da sociedade de consumo com o mundo material e imaterial e com as próprias relações interpessoais. À medida que a sociedade foi se distanciando da natureza, passou a encará-la como uma gama de recursos disponíveis a serem transformados em bens consumíveis, se agravaram os problemas socioambientais que constituem em ameaças evidentes a própria sobrevivência do Planeta. Para que se possa analisar a relação de uma população com seus recursos naturais, um dos instrumentos a ser utilizado é o resgate da ocupação da região, da sua história e a sua evolução. Desta forma, percebemos que a crise ambiental que atravessamos hoje foi gerada a partir da colonização das cidades e de sua civilização. Nos dias atuais, a Educação Ambiental além de proporcionar ao ser humano a possibilidade de uma mudança de atitude com o meio ambiente, também tem por finalidade, buscar o enfrentamento dos problemas sociais e culturais, que estão intimamente ligados com os ambientais. Para o desenvolvimento desses objetivos, que estão coadunados com as dimensões globais de mudança planetária, precisa-se de instrumentos que facilitem uma aprendizagem cognitiva e afetiva onde os cidadãos reflitam sobre sua existência e seu comportamento para com o meio ambiente. Através da educação, é possível que se origine uma nova consciência social sobre os problemas ambientais. No entanto, para que o processo de ensino- aprendizagem implementado seja significativo, influenciando nas atitudes dos cidadãos, se faz necessário introduzir metodologias que favoreçam o engajamento político para a conquista de uma nova visão de mundo, constituído na sintonia das pessoas com os espaços naturais e construído. No ensino pré-escolar e nas creches muitas crianças permanecem a maior parte dos seus dias, ali há a primeira oportunidade de oferecer interações, espaços de sensibilidades e espaços de convivência com o mundo natural. Há que se ressaltar que “creches e pré-escolas não são depósitos de crianças, não são abrigos, não são hoteizinhos. Creches são espaços de desenvolvimento das múltiplas dimensões humanas durante a primeira infância”. (MELLO; TRAJBER, 2007, p. 225). TÓPICO 5 | O APREÇO DAS CRIANÇAS PELA NATUREZA 167 Portanto, estes espaços precisam se constituir no local de vivência, de brincadeira e alegria. Nele as crianças podem estar em contato com experiências positivas de contato, de valorização e percepção da vida e suas necessidades de autossustentação fundamentais. Há que se lembrar que é nesta fase da infância que as pessoas têm suas primeiras sensações, portanto é a escola um espaço privilegiado para isso. Convém que estes espaços não reproduzam os ambientes urbanos insalubres e sem vida, com predomínio de calçadas, reproduzindo um estilo de pensar e viver a vida afastado de qualquer contato com os elementos da natureza e mesmo insalubres, como problematiza Mello; Trajber, (2007, p. 221): mas, como educar as crianças na perspectiva de uma vida alegre, saudável e solidária, se vivemos num mundo em que imperam o individualismo, a competição e a destruição da biodiversidade? Observando o modo de funcionamento de creches e pré-escolas, em centros urbanos e até mesmo em zonas rurais, podemos perceber que as crianças estão emparedadas: são mantidas, a maior parte do tempo, em espaços fechados, as rotinas não contemplam suas necessidades e desejos de movimentarem-se livremente nos pátios, sob o céu, em contato com o sol, a terra, a água. Raramente de pés descalços, nas áreas externas brincam sobre chão predominantemente coberto por cimento ou brita; e só se aproximam da água para beber e lavar mãos e rostos. Tomar banhos de mangueira, brincar de comidinha, dar banho em boneca, fazer barquinho para colocar na correnteza das valas quando chove... Nada disso é corriqueiro, ao contrário, é exceção! Como aprender a respeitar a natureza se as crianças não convivem com seus elementos? Como investir na produção de concepções educacionais e rotinas que se estruturem na contramão de uma tendência que é destrutiva? Buscando respostas para essas questões, alinhavei em cinco pontos algumas ideias para uma educação que esteja voltada para a formação de pessoas íntegras, solidárias e comprometidas com a manutenção da vida em nosso planeta. Esta escola sem vida está ligada a um passado recente cujo objetivo era reafirmar os valores urbanos industriais da sociedade de consumo, em contraponto ao modo de vida e de trabalho do meio rural. Valores relacionados com os espaços construídos são reforçados e as escolas se restringem a ambientes sem natureza, os conhecimentos de ciências são confinados a laboratórios restritos a exemplares de animais e plantas mortas, sem espaços abertos, ventilados com sol, negando o direito à criança aos espaços naturais, como resultado “em vez de aprenderem uma percepção de si próprias como espécie que é parte da natureza, elas aprendem a se sentir e a se comportar como se fossem natureza e seres de cultura”. (MELLO; TRAJBER, 2007, p. 224). Atualmente, novos desafios são colocados questionando esses padrões e ideais de vida, que tem causado grandes impactos ambientais. Atualmente, a escola esta sendo desafiada a assumir compromissos reflexivos quanto a seus propósitos. A educação não pode ser apenas um ensinar de conteúdos sobre o funcionamento da natureza, mas precisa desenvolver o sentido da sua conservação e preservação. Neste sentido, é preciso modificar concepções utilitaristas que atribuem à natureza uma importância meramente econômica, como mercadoria e objeto dos desígnios humanos. Esta concepção UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 168 de que a natureza não tem valor em si esteve presente nos espaços escolares, nos conteúdos e programas de ensino. Acrescido a isto, há a fragmentação do conhecimento e a separação entre o conhecimento produtivo e aquele de natureza lúdica e espiritual. São então desvalorizadas as habilidades que integram a arte, a razão lógica indutiva osdesejos e a afetividade. Os espaços de educação da primeira e segunda infância também foram afetados por esta concepção, tirando da escola o espaço de criatividade, dança, música e de afetividade. 4 CONSTITUINDO BRINCADEIRAS E APRENDIZADOS NA INFÂNCIA Na perspectiva da produção de novas relações dos seres humanos entre si e com a natureza, a educação tem um sentido amplo, extrapola o compromisso com a transmissão de conhecimentos via razão e busca abranger outras dimensões, como a intuição, a emoção. Busca-se uma formação de totalidade em respeito à integridade corpo/espírito/razão/emoção. FONTE: Adaptado de: <http://monografias.brasilescola.com/pedagogia/pedagogiaholistica-um- novo-olhar-na-educacao.htm>. Acesso em: 20 set. 2011. Buscar um equilíbrio entre as atividades da mente e do corpo, evitando rotinas cansativas de alunos sentantes em salas de aulas precárias e com ausência de espaços para o aprendizado prático. Propiciar às crianças atividades ao ar livre, atividades de interação com os espaços naturais, que promova o aprendizado de vivência com os elementos do ambiente. Isto inclui atividades de cultivo de plantas, colheita de alimentos, preparo de alimentos e artesanatos, invenção de brinquedos com materiais disponíveis nos locais, entre outros. Um instrumento de educação para os sentidos visa o resgate da identidade da população, como forma de respeito e atitude de conservação; será possível que se promova um espaço de aprendizagem e de vivência ambiental, através dos elementos que fazem parte da evolução da cidade. O indivíduo participante terá a oportunidade de se envolver nesta “história” de tal forma que possa religar os laços do ser humano que hoje se encontram rompidos. FONTE: Adaptado de: <http://www.zinder.com.br/legislacao/pcn-inf.htm>. Acesso em: 20 set. 2011. Utilizando técnicas participativas, com uma visão holística, busca-se a sustentabilidade local e biosférica. A EA busca estabelecer uma aliança entre a humanidade e a natureza, desenvolver uma nova razão que não seja sinônimo de autodestruição, exigindo o componente ético nas relações econômicas, políticas e sociais. (REIGOTA, 1994). TÓPICO 5 | O APREÇO DAS CRIANÇAS PELA NATUREZA 169 Desta forma, entendendo que o planeta não é um objeto, da qual apenas se usufrui para satisfazer as necessidades do homem, torna-se mais fácil religar os laços da integração homem-natureza. Em muitos municípios, há uma grande demanda e também uma preocupação para que haja uma mudança de comportamento com o uso dos recursos naturais, em especial com relação aos recursos hídricos. Isto ocorre devido à ocupação indevida dos espaços e a urbanização intensiva das cidades. A ocupação das margens dos rios se dá pela facilidade encontrada para a execução de tarefas, como: pesca, despejo de seus resíduos, deslocamento entre outros. Aos problemas mais amplos relativos ao uso do solo, somam-se os problemas ambientais urbanos e industriais. O deslocamento de parte da população rural em direção às cidades e o assentamento não planejado destes novos migrantes, provoca a ocupação de encostas e zonas ribeirinhas, aumentando o contingente da população em áreas de risco. A expansão da cidade não seguiu um plano urbanístico por maior que fosse o desenvolvimento. Com o desenvolvimento das atividades realizadas sem planejamento adequado, as pressões aos recursos naturais foram as mais diversas. Primeiramente, com exploração madeireira, retiram-se da Mata Atlântica as madeiras nobres que hoje são protegidas por lei, madeira esta retirada para a comercialização. Logo após vem a agricultura, que foi desenvolvida pela excelente qualidade de seu solo, eram praticadas as culturas do milho, fumo, batata, aipim, arroz, cana-de-açúcar, alfafa, amendoim, feijão, alho, cebola, uva e produtos destinados ao consumo do próprio agricultor. Por fim, a urbanização e a industrialização trouxeram mais impactos e geraram mais resíduos, criando, assim, uma nova forma de degradação e intervenção humana no ambiente. Os ecossistemas ripários sofreram impacto por todas as atividades geradas pela população. Estes apresentam uma dinâmica necessariamente construída pelas constantes intervenções e alterações. As áreas de preservação permanente (ecossistemas ripários) possuem hoje uma vegetação de desenvolvimento muito agressivo, devido a todas as pressões sofridas. Estes ecossistemas têm uma grande importância na manutenção dos recursos hídricos, por isso é grande a preocupação com a sua utilização. Ao observarmos as áreas ao longo dos rios percebemos a qual uso se destina esses ecossistemas, a população utiliza esta área para criação de gado, hortas, jardins, roças e demais modificações para seu usufruto. UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 170 Tais atividades podem trazer a cada indivíduo participante, a problemática e os novos conceitos e significados sobre os processos socioambientais, além de lhes proporcionar um contato direto com a natureza para despertar em cada um dos participantes o entendimento da sensibilidade existente na relação homem- meio ambiente. 171 Neste tópico, você viu que: • A sensibilização é a primeira etapa do trabalho de EA, pois favorece o aprendizado com sentido. • O aprendizado com sentido se desenvolve através de atividades lúdicas como a poesia, arte, literatura e teatro. • O conhecimento perceptivo, a imaginação, a paixão e a emoção são fundamentais para a ecopedagogia. • O gestor ambiental está em constante processo de aprendizagem e vai atualizando suas potencialidades de atuar como agente de transformação nas relações sociedade/natureza. • O planejamento dos conteúdos é participativo, advém das necessidades das pessoas tendo como meta contextualizar a realidade da vida e a totalidade dos ecossistemas. • A aprendizagem com sentido forma sujeitos críticos, cidadãos com consciência planetária. • A experiência positiva de convivência com a natureza na infância é decisiva no engajamento dos adultos na defesa à conservação do meio ambiente. • A sociedade atual tem afastado as crianças dos espaços naturais, transformando natureza em mercadoria, coloca em risco a possibilidade de compreensão do sentido da vida por parte de toda uma geração. Este afastamento pode levar à desvalorização dos ecossistemas conservados. RESUMO DO TÓPICO 5 172 AUTOATIVIDADE 1 Em que consiste uma aprendizagem com sentido? 2 O que é ecopedagogia? 3 Qual a importância dos espaços públicos para convivência, lazer e brincadeira? 4 Qual o significado de uma infância repleta de experiências de convivência e brincadeiras em contato com ecossistemas conservados? 5 Quais os reflexos que podemos ter ao constituir infâncias isoladas da convivência com os espaços naturais? 173 TÓPICO 6 ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM CRIANÇAS UNIDADE 3 Não aprendemos a amar a Terra lendo livros sobre isso, nem livros de ecologia integral. A experiência própria é o que conta. Plantar e seguir o crescimento de uma árvore ou de uma plantinha, caminhando pelas ruas da cidade ou aventurando-se numa floresta, sentindo o cantar dos pássaros nas manhãs ensolaradas ou não, observando como o vento move as plantas, sentindo a areia quente de nossas praias, olhando para as estrelas numa noite escura. Há muitas formas de encantamento e de emoção frente às maravilhas que a natureza nos reserva. (GADOTTI, 2000, p. 86). 1 INTRODUÇÃO Nesse tópico, descreveremos sugestões de atividades de educação ambiental não formal, especificamente direcionadas para crianças. Como referência é exemplar a proposta de um grupo de ativistas dos Estados Unidos, denominada Ciclo de Descobertas pelo Encantamento com o Mundo Natural apresentada na obra Orientando a Criança para amar a terra de Herman, Passineau, Schimpf e Treurer, publicado em 1992. O grupo centra suas experiências nas motivações de aprendizagem da criança estimulando a curiosidade, o desejo de explorar, descobrir e partilhar comafetividade (paixão e emoção). Na sequência, são sintetizadas parte das experiências e das atividades desenvolvidas pelo grupo com o objetivo de ampliar a capacidade das crianças de compartilhar e conhecer a natureza. Neste tópico será apresentada a importância da criança conviver na natureza, desenvolvendo sentimentos de respeito e afetividade que influenciarão nas suas atitudes da idade adulta. 2 ORIENTANDO A CRIANÇA PARA AMAR A TERRA A curiosidade está presente em toda a criança, mas se percebe que ela se esvaece quando os conteúdos sem sentido tomam conta dos bancos escolares. Para que a criança mantenha aceso seu encanto pela natureza, é necessário que ela tenha no seu lado um adulto com quem possa partilhar esse sentimento, redescobrindo com ele o mistério do mundo em que vive. Para manter vivo o encantamento pela Natureza, o essencial é passar algum tempo com ela com todos os sentidos em alerta. Porém, muitas localidades ou cidades não apresentam UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 174 ecossistemas mais ou menos conservados (tais como matas, lagoas, banhados, rios, campos) abertos à visitação pública. Da mesma forma as escolas não as têm, acabaram privilegiando as áreas construídas, tidas como menos perigosas, em detrimento das hortas, bosques e jardins. Nestes casos, é importante identificar lugares que podem vir a ser adaptados para as atividades de vivência das crianças nos espaços naturais. Em muitos relatos de educadores, observa-se a tendência de introduzir nos conteúdos os temas ambientais como um problema e não como uma condição de sobrevivência humana. Aliado a isto, retira-se o aspecto mais lúdico e subjetivo das interações e convivência das pessoas com a natureza, que permitiria despertar o sentido de respeito e novas experiências, desenvolvendo, assim, o sentido de amor e paixão pela terra. Por outro lado, crianças de periferia que conhecem um riacho poluído têm a experiência negativa do convívio, percebem o local como foco de doenças, como depósito de dejetos ou de resíduos. Cabe ao educador proporcionar à criança outras experiências e a descoberta de que nem todos os rios são poluídos e, portanto, desagradáveis. Esta é uma fase delicada em que a compreensão da realidade requer a compreensão crítica das causas, geralmente de natureza multifacetada, com profundo caráter político e social. A base de referência para a criança está no desenvolvimento do sentido estético e não problemático dos ecossistemas conservados, que revelam toda a diversidade e complexidade. O importante é proporcionar outras referências e a real noção da capacidade humana de transformação para as crianças que não conheçam apenas ecossistemas degradados. IMPORTANT E Antes de planejar uma atividade, identifique como as crianças que conhece vivem a sua infância: onde brincam, como é a situação ambiental do seu bairro e da escola, como são as condições socioeconômicas das moradias, as condições de saneamento básico e as relações com os espaços rurais. Também, é importante destacar que não existe uma fórmula pronta ou uma sequência única das atividades e de conteúdos de ensino a serem seguidos pelos professores. Cada grupo terá desejos, necessidades e experiências diferentes que influenciam na aprendizagem, como destaca o poeta Antonio Machado:“Caminante son tus huellas. El camino, y nada más; caminante, no hay camino, Se hace camino al andar. (...)”. O desenvolvimento de uma série de atividades planejadas pode proporcionar à criança a oportunidade de encontro com a natureza, despertando a sua curiosidade e o sentido de observação. Seguem algumas sugestões que podem ser adaptadas conforme os locais disponíveis em cada região ou as possibilidades financeiras de cada um: TÓPICO 6 | ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM CRIANÇAS 175 • Faça um passeio descomprometido ao ar livre, entre com as crianças no riacho, brinque na chuva, na poça de lama. • Desperte o sentido de observação nas crianças apressadas, lançando desafios de descoberta. Acompanhe os movimentos dos animais em diferentes horários do dia ou com as mudanças da temperatura e das estações. • Proporcione acampamentos noturnos com brincadeiras, caminhadas, jogos e dinâmicas de grupos. Supere o medo da noite e os animais que ali vivem numa expedição noturna. Desperte o sentido da audição, observe os sons dos animais, pesquise os tipos e o comportamento de animais de hábitos noturnos. • Planeje brincadeiras nos espaços naturais, aproximando às crianças o gosto pela aventura, pela descoberta e lançando desafios frente aos perigos. • Oportunize o aprendizado de sobrevivência das pessoas nas áreas verdes, introduzindo noções de cuidados e sentido de precaução quanto aos impactos das interferências humanas. • Junte um grupo para observar os pássaros e identificar os seus recantos. • Observe os tipos de teias e as diferentes aranhas, siga um carreiro de formigas, observe como elas se comunicam, observe o trabalho dos insetos e pássaros polinizadores. • Olhe para a lua nas suas diferentes fases e observe como ela influencia no comportamento dos animais e das plantas. • Deite-se sob uma árvore. Olhe para o alto e imagine como você se sentiria se estivesse no lugar dela, observe os insetos e pássaros que a visitam e a habitam, as demais plantas que convivem no seu entorno ou que nela se instalam. Perceba como uma grande árvore serve de sustentáculo para uma diversidade de plantas e animais. • Reconte as histórias infantis, desmitificando as ideias de mata como dominada por perigos e bichos ferozes. Aproveite a idade da criança no gosto pelo faz de conta e a provoque para criar os “personagens” que habitam os ecossistemas visitados. A curiosidade e a imaginação da criança podem ser uma forma de você desenvolver um rico mundo de faz de conta, mais apropriada para crianças de até oito anos de idade. Aqui é importante reinventar os contos infantis, não mais cobertos por uma floresta perigosa, abrigo de monstros ameaçadores e devoradores de crianças indefesas. Como sugestão de literatura infantil observe os contos infantis reelaborados em obras como a Turma do Pererê do Ziraldo. UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 176 A literatura contribui para a formação de valores, desperta o interesse das crianças, facilitando os questionamentos sobre a importância da conservação da natureza e a forma como a mata se constitui pela interação com flora e fauna. Por ter sido um material que propiciou a transposição da história imaginária para a realidade vivenciada pelas crianças, a literatura apresenta um caráter de interação e resgate da subjetividade. Ao contrário, muitas cartilhas acabaram descontextualizando os problemas por remeterem as crianças a lugares nos quais não se identificam. Dessa forma, pode-se concluir que a literatura infantil é um dos instrumentos de maior alcance para a urgente conscientização ecológica das crianças, sendo complementar aos passeios realizados nos espaços com a natureza. FONTE: Extraído de: <sistema1.eadcon.com.br/.../20081112_211210_Grupo5720_Etapa48.doc>. Acesso em: 20 set. 2011. A escola e a família podem contribuir para a formação de uma criança auxiliando para desenvolver o amor pela natureza através de: acampamentos, pescarias e outras tantas atividades de entretenimento em ambientes abertos; visitas à Unidade de Conservação e jardins zoológicos; convivência em áreas de produção agrícola; montagem e cuidados com jardins e hortas; adoção de animais de estimação e visitas em centros de reabilitações de animais silvestres. 3 A DISSEMINAÇÃO DAS EXPERIÊNCIAS NO BRASIL Ao longo de mais de quatro décadas em que se promove a educação ambiental nos espaços de ensino aprendizagem, tivemos múltiplas experiências e como resultado as novas gerações já replicam comportamentos e concepções diferenciados, se estabelecendo novos ideários de cidadania planetária. De um início de deslumbramento onde a questão ambiental timidamenteera focada em algumas ações individuais de educadores engajados, geralmente restritos a professores das ciências naturais, passamos por uma fase de institucionalização e geração de políticas hoje não mais questionadas quanto à pertinência da questão. Amplos programas de capacitação de educadores foram implementados, pesquisas e relatos de experiências minam os congressos e seminários que culminam com o Congresso Brasileiro de Educação Ambiental alimentado pela Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA). O envolvimento de ONGs, pesquisadores e estudantes universitários tem colaborado para motivar os educadores o que tem feito a diferença na formação dos sujeitos que fazem e vivem a educação. Mesmo quando os programas são geridos por educadores isolados os resultados têm ecoado em novas representações sociais de meio ambiente. Crianças e jovens estão superando a visão antropocêntrica de mundo e novas ações são replicadas pelos territórios do país. TÓPICO 6 | ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM CRIANÇAS 177 De um modo geral, os educadores têm replicado temas que se referem aos problemas reais enfrentados em todo o território nacional, tais como: resíduos sólidos, desmatamento, poluição industrial, qualidade de alimentos, erosão genética, recursos hídricos, agrotóxicos, aquecimento global, enchentes e secas. As metodologias utilizadas estão limitadas à factibilidade de cada contexto educacional, mas são iniciativas que se estendem pelo país e traduzem múltiplas experiências relevantes seja pela criatividade nas metodologias como pelo resultado efetivo na educação. Entre as experiências sistematizadas pelos educadores a seguir você verá alguns exemplos de temáticas e metodologias que se caracterizam por serem simples de replicar. Oliveira (2011) desenvolve uma atividade extracurricular que implicou palestras, leitura e debates de textos e dinâmicas. Entre as dinâmicas por ele desenvolvidas é promissora a proposta do jogo Que animal sou eu, visando conhecer os animais (ecologia, hábitos, aspectos, comportamento) de mudo lúdico e interativo. Como material foram utilizadas figuras de animais e prendedores de roupas. O jogo envolve grupos de três ou mais participantes e começa com a figura de um animal que é presa nas costas de um dos participantes sem que ele a veja O objetivo é descobrir qual animal está ali, através de perguntas e pistas que caracterizam o animal. O professor pode complementar esta atividade aos estudos de ciências (zoologia e ecossistemas), fazendo variações quanto aos elementos a serem descritos, entendendo a brincadeira como uma forma de estudo e avaliação dos conteúdos trabalhados. Através de jogos didáticos há o desenvolvimento de habilidades, tais como a comunicação, a cooperação com a promoção de ações coletivas e a reflexão sobre a realidade. O jogo também permite ampliar o conhecimento sobre o assunto e avaliar o domínio do assunto por parte dos estudantes, motivando-os ao aprendizado. Outra experiência com jogos é desenvolvida por Silva e Castro (2011). Após realizar um diagnóstico amplo do perfil ambiental da escola e da percepção dos alunos, foi elaborado o jogo denominado “Ideias Verdes”, que aborda os principais problemas ambientais da cidade, além de situações cotidianas. Sob um tabuleiro as equipes de estudantes encontram situações ambientais problemáticas apresentadas nas cartas. Decisões precisam ser tomadas pelos jogadores, vencendo quem denotou conhecimento dos impactos gerados e percorreu o caminho da restauração dos ecossistemas. Neste instrumento foram abordadas situações ambientais encontradas no dia a dia do indivíduo no ambiente escolar e familiar e alguns problemas ambientais do município onde a escola está localizada. Os ecossistemas e as interações com as atividades humanas, associadas ao comportamento da sociedade originam caminhos que podem distanciar os indivíduos das práticas de sustentabilidade. Ao gerar instrumentos metodológicos é importante buscar materiais alternativos, que levem o estudante a repensar o descarte dos resíduos, reciclando materiais tais como papelão, tampas de garrafas, pedaços de madeira, sementes e outros. UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 178 Através de um jogo elaborado com sentido, por tratar de temas atuais e de relevância social sensibiliza-se para o aprendizado, o debate e a criação de novas relações com o meio ambiente. Como avalia Silva e Castro (2011): o ato de jogar propicia à criança a indagação, transformação, descoberta da realidade e o questionamento. Então, a utilização do jogo Ideias Verdes em alunos do 7º, 8º e 9º anos, do Ensino Fundamental, pode ser considerado um aspecto positivo na prática da EA em escolas. Visando gerar espaços de convivência muitas escolas têm implantado as Hortas Orgânicas Pedagógicas. Estas atingem objetivos de oportunizar o conhecer, sentir, experimentar, estimular a reflexão e a ação valorizando as potencialidades locais de produção de alimentos. O aprendizado mais significativo é quanto às bases ecológicas de alimentação e de produção através das propostas da agroecologia (permacultura, agricultura orgânica e agricultura biodinâmica, entre outras abordagens). Atualmente, existem muitas experiências neste campo. O importante, ao iniciar a horta, é ter uma estrutura mínima de pessoal e apoio para implementar, visando à mão de obra necessária para o preparo dos canteiros e a garantia da manutenção, evitando-se assim uma sobrecarga de trabalhos para professores e estudantes. A horta, assim como o jardim e o bosque, pode ser o espaço de convivência do estudante que está em ambientes rodeados de concreto. Portanto, este espaço é cativante quando os estudantes participam da sua construção e manutenção, criando suas próprias experiências, sendo um laboratório vivo para os professores ilustrarem os conteúdos e questionar os hábitos de consumo e de vida da sociedade técnico/informacional. Entre os exemplos deste tema merece destaque o caso citado por Darolt, (2011), da Prefeitura de Palmeira-PR, iniciada em 1996. Foi criado o Programa da Merenda Escolar Ecológica o que resultou num mercado local para os produtos orgânicos e melhorias no valor nutricional da alimentação escolar. O programa foi efetivo na geração de renda na agricultura familiar, então ameaçada pelas crises econômicas e sociais e pelo desestímulo dos jovens. Em Santa Catarina, também foi realizado um programa ”Sabor e Saber” pela Associação dos Agricultores Ecológicos da Encosta da Serra Geral, AGREGO, atingindo cerca de 30 mil crianças com a merenda orgânica. Paralelamente foram criadas leis de incentivo à alimentação saudável com a proibição da comercialização nas cantinas de bebidas alcoólicas, balas, pirulitos e gomas de mascar, refrigerantes e sucos artificiais, salgadinhos e pipocas industrializadas. Atualmente esta experiência é replicada por todo o Brasil a partir de uma política pública do governo federal e tem sido fator de fortalecimento dos agricultores. Nesta direção, o Centro de Pesquisa Mokiti Okada – CPMO desenvolve o Programa Pedagogia da Sustentabilidade implementando a Horta Orgânica nas Escolas. Além da alimentação saudável visa introduzir as práticas de manejo ecológico do solo e da água e demais ensinamentos dos princípios básicos da ecologia, o desenvolvimento do respeito pela natureza viva e uma visão sistêmica TÓPICO 6 | ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM CRIANÇAS 179 da vida. Os estudantes acompanham o processo produtivo, aprendendo sobre preparo do terreno, plantio de hortaliças, condimentos e plantas medicinais e participam da preparação da merenda. A experiência das hortas pode centrar em temas específicos, mas cuja relevância desencadeie um conjunto múltiplo de aprendizados com o foco nas inter-relações. Este é o caso do projeto educacional “Milho nosso de cada dia”. Retrata dimensões históricas e étnicas quanto ao surgimento até sua produção e desenvolvimento comoCommodities, sua importância econômica e cultural da região nordeste. O espaço de aprendizado ocorre através de vídeos, receitas gastronômicas, visitas a moinhos e o cultivo do milho na horta com a aplicação de ensaios visando gerar a observação. FONTE: Adaptado de: <http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1033&class=21>. Acesso em: 20 ago. 2011. De um modo geral, é importante a capacitação dos educadores visando desenvolver habilidades de trabalho em equipe, tratando conjuntamente de dimensões lúdicas e técnico-científicas. Os avanços mais significativos dos programas estão nos coletivos de educadores obtendo o suporte da literatura, música, artes plásticas, teatro, artesanato, entre outras. O investimento maior está nas pessoas que acreditam no coletivo, associando as habilidades internas, potencializando-as e exigindo mais capacitação e incentivo ao desenvolvimento de projetos no espaço extraclasse. Isto não envolve nada de excepcional em termos de infraestrutura, é sim uma questão de método que supera a mera disciplina, é uma questão de envolvimento de cada um, é uma questão de olhar para a realidade. Ao realizar uma prática pedagógica desta natureza o educador vai obtendo respostas compensadoras, o que retira a impressão do suposto trabalho árduo, característico de quem se envolve além da rotina da sala de aula. 4 IDEIAS PARA DESCOBRIR E OBSERVAR O MUNDO No cotidiano, as pessoas tendem a não visualizar certos aspectos da realidade que convivem. Isto porque os sentidos de observação tendem a ficar menos atentos às situações conhecidas, por não representarem riscos à condução “normal” dos acontecimentos diários. De um modo geral, os sentidos como tato, audição e olfato são pouco utilizados no nosso cotidiano, o que faz com que deixemos de perceber muitos dos sinais da natureza. Na Educação Ambiental, o resgate dos sentidos é importante para modificarmos o olhar que temos sobre a realidade, bem como a própria percepção dos sinais no meio em que nos inserimos. Se o objetivo é estimular a curiosidade das pessoas, explorando os espaços nem sempre visíveis ao olhar desatento dos transeuntes, utilize uma venda nos seus olhos, conduzindo-os sob a orientação do olfato e audição desafiando-os descobrir os elementos até então despercebidos (figura a seguir). UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 180 FIGURA 11 – DESENHO DE ADOLESCENTES APÓS PARTICIPAREM DA TRILHA COM OS OLHOS VENDADOS FONTE: Arquivo da autora Ao realizar excursões, é comum as crianças passarem pelos lugares, animais e plantas, simplesmente, sem prestar atenção ao lugar. Uma trilha mal conduzida pode se transformar num simples exercício físico ou numa competição de quem chegou primeiro a um destino. Normalmente esta atividade é seguida de gritos e depredação das plantas encontradas no caminho. Tende-se a reproduzir um comportamento tipicamente evasivo, onde os sentidos de audição e olfato são minimamente utilizados. O sentido visual tem sido suficiente para atender aos propósitos restritos da caminhada. Como resultado, poucas são as novidades acrescentadas e o grupo pode ficar estimulado. Pode ser mais interessante viajar na internet que traz imagens simultâneas e parecem mais reais que aquelas presenciadas no passeio mal sucedido. Como modificar esta atividade, despertando o sentido da exploração, trazendo questionamentos realmente significativos sobre a origem da matéria, da energia e da vida? Uma experiência similar amplamente difundida é o projeto “Trilha da Vida: (Re)descobrindo a Natureza com os Sentidos”, coordenado por um grupo de ambientalistas que tem apoio do Movimento Verde Mar Vida (MVM), a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza (FBPN) e a Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). A Trilha da Vida tem perfil interdisciplinar, onde as pessoas vivenciam diferentes situações de olhos vendados, podendo aguçar intensamente o tato, o olfato, o paladar e a audição. A experiência de realizar uma trilha de olhos vendados fundamenta-se no fato de as pessoas deixarem de utilizar o sentido da visão, despertando para os demais sentidos. TÓPICO 6 | ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM CRIANÇAS 181 A oportunidade de trilhar com os pés descalços desperta novos sentidos para as pessoas que andam somente descalças e não costumam tocar no solo. Este ato simples se perdeu no mundo atual virtual, caracterizado pelo fechamento das pessoas em espaços construídos gerando a falta do toque, do tato e do contato humano. (BOFF, 1999, p. 11). Desta forma, as atividades que desconsideram o uso da visão, desviam as preocupações que sentimos em relação a nós mesmos e liberam nossa percepção para melhor captar o mundo à nossa volta. O objetivo da trilha é o de religar o homem à natureza através dos sentidos, despertando uma consciência crítica das inter-relações históricas entre sociedade e natureza. Todas essas sensações trazem emoções passíveis de despertar as pessoas para a problemática ambiental (Figura 12). Utilizar-se-á dos princípios da pedagogia do amor. FIGURA 12 – CRIANÇAS EM UMA TRILHA ORIENTADA, ATALANTA, SC FONTE: A autora As trilhas perceptivas são concebidas como atividades de interpretação ambiental, realizadas em trilhas ecológicas mediante os chamados experimentos educacionais transdisciplinares e os experimentos de primeira mão, sem o uso da visão (MATAREZI, 2006). Adicional às trilhas interpretativas há os jogos que podem ser instrumentos para explorar os espaços do meio ambiente. Os jogos não competitivos desenvolvem a cooperação, a confiança e o cuidado, podem auxiliar na percepção sensorial e facilitar no ensino de conceitos de ecologia (tais como, cadeia alimentar, dinâmica populacional e diversidade biológica). UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 182 Também é possível realizar projetos, mais amplos e contínuos, que envolvam além da fase do passeio, a experimentação e avaliação dos resultados. No passeio, os educandos podem ter a tarefa de observar matas, a dinâmica de constituição dos ecossistemas, as inter-relações, os componentes do meio e suas adaptações. No laboratório, horta, pomar ou área verde são desenvolvidos os experimentos. Na sala de aula os conceitos complexos vão sendo trabalhados, progressivamente, com o auxílio dos exemplos, observações e experimentos. Como resultado, os educandos são estimulados a realizar suas próprias observações gerando o interesse pela descoberta, dominando técnicas de pesquisa e de registro de dados. Vários livros didáticos sugerem temas que podem ser estudados pelos estudantes, sem demandar equipamentos rebuscados de análise dos dados. Citam-se observações sobre o crescimento de espécies de plantas diferentes, periodicamente anotando as medidas de crescimento. No mesmo exercício podem-se acompanhar as diferentes exigências de água, insolação e fotoperíodismo de cada espécie. Várias disciplinas podem ser contempladas, sustentando as reflexões do estudante. Também se pode sugerir a observação do movimento de pássaros e anfíbios durante o dia ou com as mudanças de temperatura. Levar os grupos à colheita de frutos silvestres que ocorrem na sua região (araçás, pitangas, amoras, goiabas, araticum, ameixinhas, jaboticabas), valorizando e desenvolvendo o gosto pelas frutas, observando as épocas de floração, frutificação e a forma de disseminação de sementes. Trabalhos de enquete e entrevista podem trazer aos estudantes as formas tradicionais de uso e valorização dos recursos naturais. Localizando as pessoas de idade que mantêm a sua própria subsistência, extraindo e cultivando recursos da natureza para fazer objetos (cestos, tecidos, trabalho em couros, medicamentos) e para curar as doenças. Também podem vir a aprender práticas antigas de confecção de brinquedos com materiais da natureza (madeira, palhas, cordas, extratos de vegetais) ou de reaproveitamento dos resíduos sólidos gerados pela família (embalagens plásticas, papéis, metais e outros). A observaçãodo ciclo da vida e sua teia é facilmente compreendida, se o educando realizar a compostagem dos resíduos orgânicos produzidos em casa. Podem-se fazer anotações de cada etapa de decomposição do material, identificando a temperatura, cor, textura, odor e a macrovida que vai se instalando no material. O resgate de fotografias antigas das localidades permite observar como a paisagem foi sendo alterada a cada período histórico. Complemente as informações ouvindo relatos das pessoas mais antigas. O registro das informações TÓPICO 6 | ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM CRIANÇAS 183 pode resultar numa pequena publicação, tendo as pessoas do lugar os principais autores. Também se pode romper com a formalidade da ciência e simplesmente estimular os encontros em lugares especiais para que amigos e familiares compartilhem, troquem histórias, desenhos e músicas sobre situações já vividas. São momentos que propiciam a troca de saberes, percepções, memórias e descobertas que tenham sido importantes na vida de cada um. Perceba que a Educação Ambiental pode ter contribuição dos grupos artísticos formais (teatro, dança folclore e música) e nas demais expressões culturais locais. Atividades artísticas são formas de expressão da realidade e de reflexão sobre os modos de vida das pessoas. Geralmente, os conteúdos programáticos de ciências são desenvolvidos nas escolas como se não houvesse mais nada de novo a ser descoberto, ou que esta é uma tarefa apenas indicada para os especialistas do assunto. Esse posicionamento tende a tornar os conteúdos desinteressantes, já que não há mais nada a questionar e todos os problemas têm uma solução previamente definida, que é ditada pelo professor. Por outro lado, o conhecimento pode ser construído a partir do acúmulo gradativo de novas informações em diálogo com a realidade. Gradativamente, ao se desenvolver a capacidade de questionamento, observação, comparação vai se desvelando toda a complexidade da realidade, como destaca Herman, Passineau, Schimpf, Treurer (1992, p. 70): “através da reflexão e observação, será possível estabelecer relações com outras experiências, ideias e informações, proporcionando-lhe a oportunidade de ampliar seu conhecimento. As descobertas são consequências naturais da exploração, mas esse momento de reflexão que as diferencia”. 5 OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA Cabe à escola: amar o conhecimento como espaço de realização humana, de alegria e de contentamento cultural; cabe-lhe selecionar e rever criticamente a informação; formular hipóteses; ser criativa e inventiva (inovar); ser provocadora de mensagens e não pura receptora; produzir, construir e reconstruir conhecimento elaborado. (GADOTTI, 2001). UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 184 Os avanços obtidos nas escolas e nos meios de comunicação têm contribuído para o esclarecimento público de muitos dos problemas ambientais e tem colocado urgência de atitudes corresponsáveis por parte dos cidadãos. Apesar dessa nova forma de militância ambiental estar na mente de cada cidadão, precisamos sempre nos impor frente às tendências de fragmentação do conhecimento, a simplificação e o descolamento da realidade. Isto torna a educação ambiental como um processo permanente e necessário pela sua capacidade de despertar sensibilidades e transpor as concepções em atitudes realmente transformadoras da sociedade. Então é válido fazermos educação ambiental? É possível buscar uma conduta ética de corresponsabilidade planetária dos cidadãos? Quais as possibilidades de construção autônoma de novas referenciais de vida e de mundo frente à tendência emergente da globalização? Certamente não teremos de imediato a resposta para tantas perguntas, apenas os indícios de que um outro mundo ainda é possível, pois a história ainda somos nós que a constituímos e podemos sim fazer a diferença. Cabe a tentativa, para não ficarmos com a certeza de que tudo ocorreu na nossa passagem pelo planeta Terra (os sinais de alerta das ameaças globais se evidenciam e os fatos se concretizam) e nada fizemos para termos um mundo melhor. Nossa atitude tem eliminado maravilhosas e insubstituíveis florestas, as cidades são insuportáveis e o aquecimento se amplia, justificado pelos interesses individualistas de crescimento econômico. Os desafios são imensos, mas percebemos que quanto mais projeção os educadores tiverem, formando pessoas atuantes e que sabem o sentido que querem dar para a vida e tudo o que a sustenta mais possibilidades teremos para conter os processos predatórios. Fica o desafio de continuar sempre, sabendo que como educadores nunca temos certeza se as palavras foram ditas com a ênfase que se queria dar, se tivemos a capacidade de entendimento mútuo necessário para que a informação se propague sem as interferências e os ruídos de comunicação. Finalmente, cabe destacar que a Educação Ambiental é parte de um movimento mais amplo de promoção do desenvolvimento sustentável que fará a diferença na composição das novas relações da sociedade para com o ambiente. A composição dos acordos internacionais, a participação da economia na adoção dos princípios da Carta da Terra, são os pilares estruturantes das necessárias novas bases de existência das populações no planeta Terra. A sociedade pós-industrial gerou impactos ambientais irreversíveis que comprometem a resiliência dos ecossistemas, desafiando a sociedade a mudanças velozes quanto à restauração das condições de vida. O crescimento econômico sem limites foi a característica do desenvolvimento tido como necessário para garantir o bem-estar da humanidade. São muitas as TÓPICO 6 | ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM CRIANÇAS 185 advertências sobre os impactos deste caminho do crescimento que leva ao esgotamento da capacidade de sustentação do planeta Terra, causado por pressões a recursos de reservas finitas. O termo sustentável aqui não se refere à sua conotação de desenvolvimento ajustável ao qual foi rotulado, mas sim “ao próprio sentido do que somos, de onde viemos e para onde vamos como seres do sentido e doadores de sentido de tudo o que nos cerca”. [grifo meu]. (GADOTTI, 2000, p. 35). Nesta definição, se busca uma nova forma de existência do ser humano no planeta Terra, o qual implica preservação da dinâmica e estabilidade dos ecossistemas, qualidade de vida com equidade e justiça social e prudência no ritmo de crescimento econômico. Tal constituição da existência humana exige um novo caminhar, medidas efetivas, urgentes e de abrangência planetária; exige constituir uma corrente que se encadeia contra toda a forma de desmatamento, poluição, riscos alimentares, agentes tóxicos, construções de armamentos, extrativismo predatório, entre outras ameaças à diversidade de vida no planeta Terra. Estas demandas implicam esforços coletivos e planetários envolvendo os meios científicos, tecnológicos, culturais, políticos e econômicos. As atuais concepções pedagógicas têm contribuintes significativos no repensar da educação para o futuro. Categorias freirianas e marxistas ainda são atuais, em particular as noções de práxis pedagógica (ou pedagogia dialógica) e dialética. (GADOTTI, 2000). Estas categorias integram a construção da proposta da ecopedagogia, uma educação para uma sociedade sustentável. A ecopedagogia pressupõe uma nova relação com o conhecimento, sustentado pelo paradigma da complexidade, uma sociedade centrada não mais nas leis do mercado e de consumo, um paradigma civilizatório fundado na ética ecológica (global e local, interligadas) e na necessidade de convivência planetária. (GUTIÉRREZ;PRADO, 1999). A convivência e a cooperação são elementos constituintes de uma cidadania planetária, integral, ativa e plena, superadora da noção tecnocrata ou fragmentada da questão social. (GADOTTI, 2000). A proposta é gerar um movimento de cidadania ativa, formado por sujeitos que participam e modificam a realidade, comoagentes históricos capazes de autonomamente gerar suas bases de autossuficiência. A proposta da ecopedagogia vai buscar sua fonte de inspiração no método de aprendizagem a partir do cotidiano e as premissas da pedagogia freiriana, que se aproximam da ecopedagogia, são as seguintes: os conteúdos são definidos a partir da curiosidade do educando; as relações dos educadores com os educandos são dialógicas; o conhecimento é resultado de uma construção social; o aprendizado ocorre como UNIDADE 3 | ECOPEDAGOGIA E SOCIOPOÉTICA 186 uma prática de ação para liberdade que implica participação com ênfase para as necessidades populares. (GADOTTI, 2001). Os problemas ambientais da sociedade também são resultado da escola, pelo que ela veicula, pelos valores que gera ou reproduz, pelos livros que oportuniza, pela capacidade de leitura e criticidade, pelos interesses gerados e reforçados. Portanto, os problemas da atualidade são gerados pela maneira como a sociedade vive e reproduz seu modo de vida material. As instituições escolares, dialeticamente inseridas na sociedade, que precisam rever seus pontos de vista, se adiantam com currículos que reincorporam o planeta Terra como uma única comunidade onde nele habitamos, a Terra como um organismo vivo. Um currículo atento ao sentido das necessidades e da nossa existência, as diferenciações sociais e as desigualdades e injustiças quanto apropriação dos recursos naturais. Uma pedagogia que tem projeto e define a caminhada da educação com metodologias que estimulam o sentido da afetividade para com o planeta Terra, promotora da justiça intergeracional e para com a natureza. (GADOTTI, 2001). Este sentido de atualidade da educação parece ainda não se manifestar plenamente. Ele está em construção, teias estão sendo tecidas em cada bairro, povoado, escolas públicas e privadas, universidades, institutos, empresas e ONGs. A agroecologia, a gestão ambiental, as ecotécnicas, os modelos de desenvolvimento limpo são os enlaces desta rede que tece o movimento pela Ecopedagogia. Cada educador pode direcionar o seu olhar para ampliar esta rede que dá sentido à prática pedagógica, assim se distanciando do imobilismo característico da sala de aula repetitiva, acrítica, triste, descolada da natureza e distante dos temas da realidade do educando. A partir da crítica a esta escola problemática é que se expandiram as experiências de Educação Ambiental, denotando que os desafios a serem transpostos e a valorização dos educadores acontece, mais facilmente, quando os sujeitos se engajam como atores fundamentais no caminho de construção de uma sociedade sustentável e de uma educação do futuro com sentido emancipatório. A grandiosidade dos programas e propostas de educação ambiental está na superação de todos os limites, resultado de sujeitos que amam o conhecimento e que ousam e constroem o futuro, formada por uma pedagogia que é criativa, inovadora, crítica e provocadora de ideias. TÓPICO 6 | ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM CRIANÇAS 187 UNI Caro acadêmico! Você recebeu, no início deste semestre, uma agenda de encontros presenciais e de datas de avaliações. Consulte nesta agenda o período em que estará disponível a avaliação da Unidade 3. Lembre-se de que ela ficará disponível no site da UNIASSELVI: <www.uniasslevi.com.br> e deverá entrar com seu login e senha. 188 Neste tópico, você viu que: • Um conjunto amplo de sugestões de atividades envolve: a exploração, a curiosidade e a convivência. • A curiosidade está presente em toda a criança, mas ela precisa ser estimulada através da orientação do adulto e convivência com ecossistemas conservados, abertos à visitação pública. • Os educadores têm o desafio de aprendizado pedagógico valorizando o aspecto lúdico e subjetivo das interações que compõem a convivência das pessoas com a natureza. • A base de referência para a criança está no desenvolvimento do sentido estético e não problemático de ecossistemas conservados visando despertar o sentido de amor e paixão pela terra. • A literatura contribui para a formação de valores, facilitando os questionamentos sobre a importância da conservação da natureza. • A escola e a família podem oportunizar atividades de entretenimento em diversos ambientes abertos: unidades de conservação, áreas de produção agrícola, jardins, hortas e centros de reabilitações de animais silvestres. • Na Educação Ambiental, o resgate dos sentidos é importante para modificarmos o olhar que temos sobre a realidade, bem como a própria percepção dos sinais no meio em que nos inserimos. • Os educandos podem ser estimulados a realizar suas próprias observações dominando técnicas de pesquisa e de registro de dados, utilizando os espaços multidisciplinares da sala de aula, laboratórios e áreas verdes. • O conhecimento pode ser construído a partir do acúmulo gradativo de novas informações em diálogo com a realidade. • A composição dos acordos internacionais, a participação da economia na adoção dos princípios da Carta da Terra, serão os pilares estruturantes das novas bases de existência das populações no planeta Terra. • Cada educador, no seu cotidiano, pode construir a educação do futuro, tecendo uma nova forma de cultura, como parte de uma rede de ações propositivas que minam as áreas mais conservadoras da sociedade globalizada, inclusive a economia. RESUMO DO TÓPICO 6 189 AUTOATIVIDADE 1 Quais são os espaços naturais a serem buscados pelo educador para desenvolver o sentido estético e o encantamento da criança pela natureza? 2 Por que é indicativo proporcionar às crianças experiências que vão além do mero diagnóstico dos problemas ambientais? 3 Como podemos estimular as crianças a perceberem mais amplamente o meio ambiente? 4 Como a arte, a literatura e a pesquisa social podem contribuir para o fortalecimento da educação ambiental nas escolas? 5 Considerando as dificuldades para a inserção da preocupação ambiental no sistema econômico mundial, pode-se acreditar que um outro mundo ainda é possível? 6 Faça uma síntese sobre as possibilidades e os limites da educação ambiental projetar uma nova forma de existir da sociedade atual. 190 191 REFERÊNCIAS BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: Ética do humano – compaixão pela Terra. Petrópolis: Vozes, 1999. BRANDÃO. O que é método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, 2005, p.113. 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