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2. Meios de Solução dos conflitos sociais Conceitos processuais básicos

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Teoria Geral do Processo 
Profa. Vanessa Correia Mendes 
1. Análise de conceitos processuais básicos 
> NECESSIDADE: Esta expressão “necessidade”, difícil de ser definida, traduz-se numa 
situação de carência ou desequilíbrio biológico ou psíquico, e, etimologicamente, deriva 
de nec + esse, que significa não ser, não existir, traduzindo a falta de alguma coisa ou 
algo que não é. O homem experimenta necessidades as mais diversas, sob variados 
aspectos, e tende a proceder de forma que sejam satisfeitas; que desapareça a carência ou 
se restabeleça o equilíbrio perdido. A necessidade decorre do fato de que o homem 
depende de certos elementos, não só para sobreviver, como para se aperfeiçoar social, 
política e culturalmente, pelo que não seria errôneo dizer que o homem é um ser 
dependente. Sendo a necessidade satisfeita mediante determinados elementos, emerge, 
em seguida, conceito de bem ou bem da vida. Se o homem é um ser dependente, podemos 
concluir que a necessidade é uma relação de dependência do homem para com algum 
elemento. 
> BEM: bem é o elemento capaz de satisfazer a uma necessidade do homem. Bem é tudo 
o que é apto para satisfazer, ou que satisfaz, a uma necessidade, permitindo a amplitude 
do conceito que ele compreenda tanto bens materiais, como a água, o alimento, o 
vestuário e o transporte, quanto imateriais, como a paz, a liberdade, a honra e amor. 
> UTILIDADE: aptidão de um bem para satisfazer a uma necessidade. É preciso que a 
utilidade se alie uma necessidade presente ou de previsão futura, exemplificando 
Carnelutti que o pão é um bem e tem sempre utilidade, mas não haverá interesse a não 
ser para quem não tem fome ou possa prever que venha a tê-la. 
> INTERESSE: é uma posição do homem; ou mais precisamente a “posição favorável à 
satisfação de uma necessidade”, e, portanto, uma relação entre o homem que experimenta 
a necessidade e o bem apto a satisfazê-la. Que o interesse consista numa relação verifica-
se através da própria palavra, que é uma das mais expressivas, derivada de quod inter est 
(que está entre), pelo que aquele que está entre uma necessidade e um bem apto a 
satisfazê-la estará numa posição ou situação de “interesse”. Assim, se o homem tiver 
fome, tendo o alimento à sua disposição, estará numa posição ou situação de interesse; 
mas, se tiver fome, sem ter o alimento à sua disposição, não estará. 
O interesse pode ser de duas espécies: interesse imediato e interesse mediato. 
Quando uma posição ou situação se presta diretamente à satisfação de uma necessidade, 
o interesse se diz imediato; como, por exemplo, a posição ou situação de quem possui o 
alimento, o qual se presta diretamente à satisfação da necessidade de alimentar-se. Se, no 
entanto, a posição ou situação do homem apenas indiretamente se presta à satisfação de 
uma necessidade, enquanto dela possa derivar outra situação (intermediária), que se 
presta à satisfação da necessidade, diz-se interesse mediato; como, por exemplo, a posição 
ou situação de quem possui o dinheiro para adquirir o alimento. 
O interesse se diz individual quando a posição ou situação favorável à satisfação 
de uma necessidade pode determinar-se em relação a um indivíduo, isoladamente; como, 
por exemplo, o uso de uma casa, porque cada um pode ter uma casa para si. O interesse 
se diz coletivo quando a situação favorável à satisfação de uma necessidade não se pode 
determinar senão em relação a vários indivíduos, considerados em conjunto; como, por 
exemplo, o uso de uma grande via de comunicação, porque esta não pode ser construída 
para a satisfação da necessidade de um só homem, mas apenas das necessidades de muitos 
homens. A existência dos interesses coletivos explica a formação dos grupos sociais, e, 
porque a satisfação de muitas necessidades humanas não pode ser conseguida 
isoladamente, os homens se unem em grupos, fazendo surgir a família, a sociedade civil, 
a corporação, o sindicato, o Estado etc. 
Classifica-se, ainda, o interesse em interesse primário e interesse secundário, 
enquanto o juízo de utilidade considere o bem em si mesmo, como apto diretamente para 
satisfazer da necessidade, ou o estime, apenas indiretamente, como meio para a 
consecução de outro bem, que satisfaça à necessidade 
- Como os bens são limitados, ao contrário das necessidades humanas, que são ilimitadas, 
surge entre os homens, relativamente a determinados bens, choques de forças que 
caracterizam um conflito de interesses, sendo esses conflitos inevitáveis no meio social. 
> CONFLITO: Ocorre um conflito entre dois interesses, quando a posição ou situação 
favorável à satisfação de uma necessidade exclui ou limita a posição ou situação favorável 
à satisfação de outra necessidade 
- Conflito entre dois interesses de um mesmo homem, a que se denomina conflito 
subjetivo de interesses. Essa modalidade de conflito ocorre quando alguém tem 
necessidade de alimentar-se e vestir-se, mas possui dinheiro para satisfazer apenas a uma 
delas; e, como se trata de dois interesses de uma mesma pessoa, o conflito se resolve com 
sacrifício do interesse menor em favor do interesse maior. Este conflito pode ser relevante 
para o grupo, na medida em que um desses interesses esteja, mais do que o outro, coligado 
a um interesse coletivo, mas não haverá aí um conflito entre dois interesses de uma mesma 
pessoa, mas entre um interesse individual e um interesse coletivo. 
- Os conflitos podem ocorrer entre interesses individuais, como, por exemplo, se Tício e 
Caio têm necessidade de alimentar-se, mas não existe alimento senão para um deles; entre 
interesse individual e interesse coletivo, como o interesse de Tício à segurança pessoal e 
o interesse coletivo à defesa do território, que reclama a sua exposição aos perigos da 
guerra; entre dois interesses coletivos, como o conflito entre o interesse à instrução 
pública e o interesse à defesa pública, quando os meios à disposição do Estado forem 
suficientes para a satisfação de apenas um deles. 
- O conflito intersubjetivo de interesses ou, simplesmente, conflito de interesses, tende a 
diluir-se no meio social, mas, se isso não acontece, levando os contendores a disputar, 
efetivamente, determinado bem da vida, para a satisfação de suas necessidades, delineia-
se aí uma pretensão. 
> PRETENSÃO: exigência de subordinação do interesse alheio ao interesse próprio. A 
pretensão é, assim, um ato e não um poder; algo que alguém faz e não que alguém tenha; 
uma manifestação e não uma superioridade da vontade. Esse ato não só não é o direito 
como sequer o supõe; podendo a pretensão ser deduzida tanto por quem tem como por 
quem não tem o direito, e, portanto, ser fundada ou infundada. Tampouco, o direito 
reclama necessariamente a pretensão; pois tanto pode haver pretensão sem direito como 
haver direito sem pretensão; pelo que, ao lado da pretensão infundada, tem-se, como 
fenômeno inverso, o direito inerte. 
- Pode acontecer que, diante da pretensão de um dos sujeitos, o titular do interesse oposto 
decida pela subordinação, caso em que basta a pretensão para determinar a resolução 
pacífica do conflito; mas, quando à pretensão do titular de um dos interesses em conflito, 
o outro oferece resistência, o conflito assume as feições de uma verdadeira lide ou litígio. 
- A lide nada mais é do que um modo de ser do conflito de interesses, pelo que Carnelutti 
definiua como “conflito de interesses, qualificado pela pretensão de um dos interessados 
e pela resistência do outro”, ou, sinteticamente, “conflito de interesses, qualificado por 
uma pretensão resistida ou insatisfeita”. A lide tem que ser solucionada, para que não seja 
comprometida a paz social e a própria estrutura do Estado, pois o conflito de interessesé 
o germe de desagregação da sociedade. 
2. Formas de resolução dos conflitos de interesses: autodefesa, autocomposição e 
processo 
- Surgindo um conflito entre dois interesses contrapostos, pode acontecer que seja 
resolvido por obra dos próprios litigantes ou mediante a decisão imperativa de um 
terceiro, tendo-se, no primeiro caso, uma solução parcial do conflito, por obra das próprias 
partes, e, no segundo, uma solução imparcial do conflito, por ato de um terceiro, que não 
é parte. São formas parciais de resolução dos conflitos7 a autodefesa e a autocomposição, 
e forma imparcial, o processo,9 sendo estas as três possíveis desembocaduras de um 
litígio. 
2.1 Autodefesa 
 O vocábulo “autodefesa” é formado pelo prefixo “auto”, que significa 
“próprio”,e pelo substantivo “defesa”, traduzindo a defesa que alguém faz de 
si mesmo; 
 forma de resolução dos conflitos apontada como a mais primitiva; 
 imperava, assim, a lei do mais forte, em que o conflito era resolvido pelos 
próprios indivíduos, isoladamente ou em grupo; 
 por se revelar uma solução “egoísta”, em que a satisfação da necessidade de 
um dos litigantes não interessa à do outro, os Estados modernos geralmente a 
proíbem, consentindo-a em casos excepcionais, e, mesmo assim, tornando 
necessário um processo ulterior, justamente para, se for o caso, declarar a 
licitude da mesma no caso concreto; 
 a ausência de um juiz, distinto das partes litigantes e a imposição da decisão 
por uma das partes à outra. 
 Casos típicos de autodefesa podem ser citados no direito moderno: a legítima 
defesa, no âmbito penal; o desforço incontinenti (imediato), no âmbito civil; o 
direito de greve, no âmbito trabalhista. 
2.2 Autocomposição 
 > prefixo auto, que significa “próprio”, e do substantivo “composição”, que 
equivale a solução, resolução ou decisão do litígio por obra dos próprios litigantes. 
 > A autocomposição aparece como uma solução altruísta, pois traduz atitudes de 
renúncia ou reconhecimento a favor do adversário. Assim, “A” desiste de reclamar o 
pagamento de seu crédito; “B” acede em satisfazer a dívida; a vítima de uma ofensa à 
honra perdoa o seu ofensor etc. 
> Existem três formas autocompositivas: a) renúncia ou desistência; b) submissão 
ou reconhecimento; e c) transação 
> A espontaneidade, que deveria ser o traço essencial de toda modalidade 
autocompositiva, pode estar ausente, pois, muitas vezes, a desigual capacidade de 
resistência econômica dos litigantes ou a lentidão e carestia dos procedimentos conduzem 
as partes a autocomposições, que, no fundo, configuram verdadeiras rendições. 
> Sendo a autocomposição uma forma altruísta de composição dos conflitos, em 
princípio poderia parecer a mais recomendável, mas não o é, porque pode ocultar ou 
dissimular atos de autodefesa em que o litigante mais fraco, não podendo resistir, prefere 
renunciar. 
> A autocomposição também não desapareceu dos ordenamentos jurídicos 
modernos, sendo consentida e até estimulada em muitos casos, como é o caso da 
transação, no âmbito civil, e do perdão do ofendido, no âmbito penal. Pode a 
autocomposição ocorrer “antes” ou “depois” do processo, e pressupõe que o litigante 
possua a faculdade de disposição sobre direito material, pois, quando se trata de direitos 
indisponíveis (rectius, interesses intransigíveis) ou hipóteses em que a lei imponha, 
obrigatoriamente, a via processual com a finalidade de constatação judicial, não pode ter 
lugar essa modalidade autocompositiva; razão por que são raras as autocomposições fora 
das esferas civil e trabalhista. 
2.3 Processo 
> Com o evoluir dos tempos, os homens compreenderam a excelência de outro 
método, em que a solução dos conflitos era entregue a uma terceira pessoa, desinteressada 
da disputa entre os contendores, surgindo, então, a arbitragem facultativa, em tudo 
superior aos métodos anteriores; 
> No princípio, a arbitragem foi voluntária, exercida pelos sacerdotes, a pedido 
dos litigantes, pois se acreditava, devido à formação mística desses povos, que eles tinham 
ligações com os deuses e a sua decisão era a manifestação viva da vontade divina; depois, 
a solução dos conflitos passou a ser entregue aos anciãos do grupo, na crença de que, 
conhecendo eles os costumes dos antepassados, estavam em melhores condições de 
decidir o conflito; 
> De facultativa, a arbitragem, pelas vantagens que apresenta, torna-se obrigatória, 
e, com a arbitragem obrigatória, surge o processo como última etapa na evolução dos 
métodos de resolução dos conflitos; 
> O processo se apresenta como última etapa na busca do método mais adequado 
para assegurar, com paz e justiça, a estabilidade da ordem jurídica, e o mais satisfatório 
para preservar e restabelecer a razão do que tem razão. 
> Abstratamente considerado, o processo aparece como o melhor método para se 
resolver litígios, pela nota de imparcialidade que o caracteriza e pela força que se 
empresta às decisões nele proferidas, respaldadas pelo mecanismo coativo do Estado; 
> O processo é o instrumento de que se serve o Estado para, no exercício da função 
jurisdicional, resolver os conflitos de interesses, solucionando-os 
> No processo, a lide é resolvida por um terceiro sujeito, que é o juiz, que dele 
participa na qualidade de órgão estatal, investido de jurisdição, imparcial e equidistante 
dos interesses das partes. O juiz não possui interesse direto naquilo que constitui objeto 
da disputa judicial; sendo o seu interesse, como órgão estatal, secundário, ou seja, o de 
aplicar o direito objetivo, assegurando a cada um o que é seu; 
> No processo, a lide é resolvida não segundo critérios de exclusiva conveniência 
do juiz, mas mediante a aplicação da lei, com justiça. 
> Grosso modo o processo é a “operação, mediante a qual se obtém a composição 
da lide”; 
> O processo não se compõe de um único ato, mas de um conjunto de atos 
coordenados entre si e ligados uns aos outros pelo fim colimado, que é o de obter a justa 
composição da lide.

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