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Filosofia und 2 tp 4

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Unidade 2: Tópico 4
A valorização dos sentidos e do estudo da natureza
Aristóteles nasceu na Macedônia e chegou à cidade de Atenas aos dezoito anos, ingressando na Academia, escola de ensino superior criada por Platão, e só a deixando com a morte do mestre, em 347 a. C. Sua obra aborda todos os ramos do saber: lógica, física, filosofia, botânica, zoologia, metafísica, etc. Seus livros fundamentais são: Retórica, Ética a Nicômaco, Ética a Eudemo, Órganon – conjunto de tratados de lógica –, Política, Física e Metafísica.
Contudo, suas ideias, em sua maturidade, ganham contornos próprios e diferentes daqueles defendidos por seu mestre Platão. É por esta razão que, em uma primeira apresentação do pensamento do criador do Liceu (escola filosófica fundada por Aristóteles), costuma-se lembrar a seguinte afirmação: "Sou amigo de Platão, porém ainda mais amigo da Verdade".
A noção de alma* e sua relação com o corpo, a importância do mundo empírico (empirismo enfatiza o papel da experiência e da evidência, experiência sensorial, especialmente, na formação de ideias) para o filósofo (recusado à investigação pela tradição místico-matemática iniciada por Pitágoras e retomada por Platão), bem como a confiança na disposição humana para o conhecimento, enfim, em tudo isto Aristóteles se mostrará bastante inovador.
Todos os homens, por natureza, tendem ao saber. Sinal disso é o amor pelas sensações. De fato, eles amam as sensações por si mesmas, independentemente da sua utilidade e amam, acima de todas, a sensação da visão.
ARISTÓTELES. Metafísica II. Org. Giovanni Reale. Trad. Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2002, p. 03.
SAIBA MAIS!
Na tradição clássica grega, a metafísica é a parte mais central da Filosofia, a ontologia (doutrina que estuda o Ser) geral, que procura entender o ser enquanto ser. A metafísica define-se assim como filosofia primeira, como ponto de partida da Filosofia ao passo que examina os princípios e causas primeiras da realidade. Por isso, se constitui como doutrina do ser em geral, e não de suas determinações particulares; inclui ainda a doutrina do Ser Divino ou do Ser Supremo – no caso de Platão, como já estudado, as Ideias/Formas. No caso de Aristóteles, o ato e a potência.
Neste tópico, mostraremos, em linhas gerais, o quanto o pensamento de Aristóteles se distancia da reflexão de seu antigo mestre.
*ALMA
Deve-se conferir o tópico anterior para melhor entender esse termo. A noção de alma, em linhas gerais, assim como comentado em Sócrates e Platão, vale de maneira substancialmente distinta para Aristóteles.
Esclarecimentos sobre a noção de alma em Aristóteles
Atente-se para a noção de alma. Para Platão, alma e corpo estão em constantes conflitos, uma vez que são entidades distintas. O corpo, segundo o Platão, era aquilo de que a alma precisaria se separar, já que o corpo se compõe em certa amarra que impede a alma de se desenvolver. Não será assim, contudo, para um filósofo interessado pelo mundo natural como Aristóteles, sendo, por isso, mais pragmático.
Aristóteles redefiniu em seus próprios termos naturalistas a psyché (alma). A alma humana, conforme nosso pensador, será a parte pensante do ser humano, sendo um princípio que origina o próprio pensamento; melhor, a alma se identifica ao próprio pensamento humano, sendo, consequentemente, um princípio de vida, uma vez que é a primeira forma de realização de um corpo. Ela é ato do corpo, que é vida em potência.
SAIBA MAIS!
A distinção entre ato e potência, no pensamento aristotélico, perfaz uma distinção que permite explicar a mudança e a transformação da realidade e da existência de todas as coisas. A semente é, em ato, semente, embora contenha em potência a árvore. A árvore é árvore em ato, mas em potência pode ser lenha. Ato, assim, é realidade, e potência, possibilidade.
Plantas crescem, animais movem-se e reproduzem-se; a alma é a atividade do corpo na realização desse fim. Cabe frisar, mais uma vez, que este termo, como já marcado anteriormente, não possui nenhuma conotação com qualquer expressão cristã. O corpo de um ser vivo é organizado por conta exatamente da ação diretora da alma. A alma tende a formar um corpo, a ordená-lo organicamente.
Aristóteles diz que a alma é que responde pela forma do corpo. De forma mais simples, ele escreveu, lembrando a função estruturante da psyché: "A alma é a forma do corpo".
As comparações escritas pelo próprio Aristóteles em seu tratado De Anima permitem que vejamos essa alma como mortal, pois nessa obra fica esclarecido que a alma está para o corpo assim como a visão para o olho, o que significa dizer que, sem o suporte material, isto é, sem o corpo, a alma não tem existência.
Contudo, a questão não é tão simples: no mesmo tratado, Aristóteles informou sobre uma parte da alma "que não se mistura" ao corpo. É por onde a imortalidade da alma humana se infiltra nesse complexo sistema de pensamento – não sem nos deixar atordoados, tentando conciliar o Aristóteles naturalista com esse outro que vê numa porção racional da alma humana, o intelecto superior agente, um destino diverso daquele experimentado pelas formas organizadoras de todos os outros seres vivos.
Tentar entender o modo com que a sobrevivência dessa alma pôde ser aí imaginada abrange uma discussão que se desdobra por muito tempo na Filosofia e não com poucas implicações. Por ora, concentremo-nos na imagem do mundo aristotélico – em particular dos seres animados.Cada espécie de ser vivo ocupando um lugar fixo numa verdadeira escada dos seres (imagem que influenciou vivamente o pensamento biológico posterior, mas que hoje não tem mais força), procura atingir seu princípio de perfeição. Move-se, portanto. Esforça-se na consecução desse fim.
Todas as espécies encontram-se assim dispostas, de tal modo que parecem se elevar, mas nunca passando de um degrau para o outro, até o mais organizado dos seres, um em que não há mais por que se mover em busca de um fim, pois ele já é puro intelecto. Esse ser seria responsável por todo o universo estar se movendo em sua direção, embora permaneça imóvel, uma vez que nele já se encontra realizada a própria perfeição.
1 - A árvore é um exemplo de vida vegetativa, ela está presente em todos os seres vivos. É a capacidade de se manter vivo.
2 - A criança, ou ser humano, é um exemplo de alma racional, que tem a capacidade de reflexão, pensar sobre os seus pensamentos.
3 - O cachorro é um exemplo de vida sensitiva. ele percebe e sabe o que está acontecendo no mundo à sua volta.
SAIBA MAIS!
O modelo de um mundo de seres hierarquizados e explicados em termos de causas finais é hoje insustentável. O darwinismo, no século XIX, destruiu por completo essa visão finalista do mundo. A biologia imaginada por Aristóteles pode certamente ser tomada como admirável, mas seus princípios são indefensáveis. A teoria da evolução vigente hoje é ostensivamente não-teleológica (isto é, não visa uma finalidade, enquanto uma causa única e criadora das demais, como um Deus – telos – fim) e com várias comprovações científicas, abrindo mão desse tipo de explicação finalista, progressivamente, desde a tradução mecânica do mundo operada pela Revolução Científica, a exemplo de Galileu, já comentado em tópicos anteriores, além da Unidade1.
De qualquer forma, Aristóteles incluiu na agenda filosófica uma preocupação com o mundo natural. Passar dias na descrição de um inseto não é tarefa vã, pois, para o estudioso atento à Natureza, permite ver a finalidade para que concorram aquelas estruturas todas. Debruçar-se sobre o mundo natural é perceber o esquema de ordenação de um universo. Estudar a natureza volta a ter uma nobreza que a tradição místico-racionalista a que pertenciam Platão e Pitágoras recusara.

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