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DIREITO CIVIL – ATOS E FATOS JURÍDICOS PROFESSORA CRISTIANE MALUF RODRIGUES CORREIA UNIDADE I 1 DOS FATOS JURÍDICOS FATOS, ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS 1. CONCEITOS INICIAIS O entendimento essencial das relações jurídicas está atrelado ao estudo de conceitos basilares de Direito Privado; quais sejam as concepções de fato, ato e negócio jurídico. Nesse contexto, para a compreensão do que seja o ato jurídico, primordial a conceituação inicial de fato que, no entender de Flávio Tartuce, significa qualquer ocorrência que interessa ou não ao âmbito jurídico. Segundo o supracitado autor os fatos podem ser não jurídicos (irrelevantes para o Direito); e fatos jurídicos, ou seja, qualquer ocorrência com repercussões jurídicas. No mesmo seguimento Carlos Roberto Gonçalves e Silvio de Salvo Venosa lecionam que fatos jurídicos são todos os acontecimentos que podem ocasionar efeitos jurídicos, todos os atos capazes de produzir aquisição, modificação ou extinção de direitos, mesmo que seja fato ilícito. 2. CLASSIFICAÇÃO Os fatos jurídicos podem ser subdivididos da seguinte forma: Fatos jurídicos 1 – Fatos naturais (fatos jurídicos stricto sensu) 2 – Fatos humanos (atos jurídicos lato sensu) Lícitos (meramente lícitos e negócios jurídicos). Ilícitos DIREITO CIVIL – ATOS E FATOS JURÍDICOS PROFESSORA CRISTIANE MALUF RODRIGUES CORREIA UNIDADE I 2 O quadro acima demonstra que os fatos jurídicos englobam os fatos naturais e os fatos humanos ou atos jurídicos lato sensu. 2.1. FATOS JURÍDICOS NATURAIS (fatos jurídicos em sentido estrito) são os que decorrem da natureza, são eventos que independentemente da atuação humana (não há elemento volitivo) podem acarretar efeitos jurídicos e podem ser classificados da seguinte forma: A) Fatos naturais ordinários – são os comuns, esperados e previsíveis. Sofrem forte influência do elemento tempo. Exemplos: Nascimento, morte, maioridade etc. B) Fatos naturais extraordinários – ocorrem raramente, sendo impossível prevê- los, tampouco evitá-los. Exemplos: casos fortuitos/força maior – terremoto, raio, tempestade etc. Nesse sentido, Flávio Tartuce alerta que não há unanimidade doutrinária ou jurisprudencial quanto a conceituação de caso fortuito e força maior. Essa concepção pode ser retirada do art. 393, parágrafo único do CC. O referido dispositivo leva em conta a inevitabilidade e a irresistibilidade do vento, não considerando se ele decorre da natureza ou de fato humano. Por este átimo cumpre ressaltar que tem considerável entendimento, tanto no âmbito doutrinário quanto jurisprudencial, de que caso fortuito e a força maior são expressões sinônimas. 2.2. FATOS JURÍDICOS HUMANOS (atos jurídicos em sentido amplo) – decorrem da atividade humana. Também denominado por parte da doutrina como fato jurígeno pela presença da vontade humana elemento volitivo incluindo os atos lícitos ou ilícitos. A) Lícitos: atos humanos que a lei defere os efeitos almejados pelo agente em conformidade com o ordenamento jurídico. Podem ser: DIREITO CIVIL – ATOS E FATOS JURÍDICOS PROFESSORA CRISTIANE MALUF RODRIGUES CORREIA UNIDADE I 3 A.1. Ato jurídico em sentido estrito (meramente lícito) - efeito da manifestação da vontade está predeterminado na lei e não na manifestação de vontade das partes. São atos que não contem um intuito negocial e são contemplados no artigo 185 do CC pois não são negócios jurídicos. Exemplos: notificação que constitui em mora o devedor; reconhecimento de um filho; a ocupação de um imóvel etc. A.2. Ato-fato jurídico: alguns doutrinadores defendem sua existência dentro da categoria dos atos lícitos. Nesse sentido, Carlos Roberto Gonçalves assevera que não se leva em consideração a vontade de praticar, mas sim o fato resultante. Ou seja, não é levado em consideração à vontade, a intenção ou a consciência do agente, demandando apenas o ato material de achar. Decorre de uma conduta e é sancionado pela lei. Compactuam do mesmo entendimento Sílvio Venosa e Pablo Stolze. Exemplo: pessoa (ainda que seja louco) que acha casualmente um tesouro – consequência prevista no artigo 1.264 CC. A.3. Negócio jurídico: é espécie do gênero ato jurídico lícito em sentido amplo (lato sensu) e exige vontade qualificada. Produz múltiplos efeitos; assim, a manifestação de vontade tem finalidade negocial, ou seja, o propósito de adquirir, conservar, modificar ou extinguir direitos. Portanto, há o intuito negocial e desses atos brotam os efeitos jurídicos porque essa é a intenção dos declarantes da vontade. Em regra, é bilateral, mas por vezes é unilateral – hipótese em que ocorre o aperfeiçoamento com uma única manifestação de vontade. (Carlos Roberto Gonçalves). Exemplificando: compra e venda (bilateral) / testamento, renúncia à herança (unilateral) DIREITO CIVIL – ATOS E FATOS JURÍDICOS PROFESSORA CRISTIANE MALUF RODRIGUES CORREIA UNIDADE I 4 B. Atos ilícitos: segundo Carlos Roberto Gonçalves são aqueles praticados em desacordo com o prescrito no ordenamento jurídico com efeitos impostos por lei que criam deveres. Assim, são atos que promanam direta ou indiretamente da vontade, voluntários ou involuntários, que ocasionam efeitos jurídicos contrários ao ordenamento, e no campo cível, importa conhecê-los à medida que ocasionam dano a outrem. O interesse em conhecer o ilícito se dá em virtude da reparação do dano que foi ocasionado a alguém. É, portanto, o ato praticado com infração ao dever legal de não lesar a outrem (arts. 186 c/c 927, CC); bem como quem pratica abuso de direito, art. 187, CC. Dessa forma, para muitos, os atos ilícitos integram a categoria dos atos jurídicos pelos efeitos que produzem definidos nos artigos supramencionados; esse é o entendimento do autor acima mencionado; também compactuado por Sílvio Venosa; Pontes de Miranda dentre outros. No entanto, há os que defendem que, embora o ato ilícito seja fato jurígeno, pela presença da vontade humana, não deve ser chamado de ato jurídico, que, por definição, é lícito. Oportuno ressaltar que este é o entendimento de Flávio Tartuce, Rodolfo Pampola, Pablo Stolze etc. Portanto, verifica-se que há controvérsia doutrinária acerca do tema em análise. DIREITO CIVIL – ATOS E FATOS JURÍDICOS PROFESSORA CRISTIANE MALUF RODRIGUES CORREIA UNIDADE I 5 LEMBRE-SE FATO significa qualquer ocorrência que interessa ou não ao âmbito jurídico. Assim, os fatos podem ser não jurídicos (irrelevantes para o Direito), ou seja, não tem repercussão no campo do Direito. Enquanto serão considerados fatos jurídicos qualquer ocorrência com repercussões jurídicas. Portanto, todos os atos capazes de produzir aquisição, modificação ou extinção de direitos, mesmo que seja fato ilícito. FATO JURÍDICO pode ser: FATO NATURAL (fato jurídico stricto sensu): ordinário (nascimento, morte) e extraordinário - caso fortuito / força maior. FATO HUMANO (elemento volitivo – fato jurígeno): o LÍCITO - ato jurídico lato sensu: NEGÓCIO JURÍDICO – composição de vontades/interesses - cria instituto próprio, novo – (ex.: contrato); ato jurídico stricto sensu (meramente lícitos): efeitos legais – não cria algo novo – (ex:. reconhecimento de filho). o ILÍCITO – ato praticado com infração ao dever legal de não lesar a outrem (arts. 186 c/c 927, CC); bem como quem pratica abuso de direito, art. 187, CC. DIREITO CIVIL – ATOS E FATOS JURÍDICOS PROFESSORA CRISTIANE MALUF RODRIGUES CORREIA UNIDADEI 6 ASSIMILE O CONTEÚDO 01) Tício deve R$ 100.000,00 (cem mil reais) a Caio. Na data convencionada Tício efetua a quitação da mencionada dívida. Analisando a situação supracitada responda de forma fundamentada: o pagamento pode ser considerado um ato-fato jurídico? 02) Há certas ações humanas que a lei encara com o fatos, sem levar em consideração a vontade, a intenção ou a consciência do agente, demandando apenas o ato material de achar. Assim, o achado de um tesouro que não está sendo procurado caracteriza um fato natural ordinário. Analise a afirmação supramencionada e assinale a alternativa correta: Justifique sua resposta. ( ) certo ( ) errado 03) Negócio jurídico é ato jurídico: ( ) lato sensu ( ) stricto sensu DIREITO CIVIL – ATOS E FATOS JURÍDICOS PROFESSORA CRISTIANE MALUF RODRIGUES CORREIA UNIDADE I 7 REFERÊNCIAS GONÇALVES. Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Vol. I – Parte Geral. Ed. Saraiva. 2015. GAGLIANO. Pablo Stolze / FILHO. Rodolfo Pampola. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral. Vol. I. Editora Saraiva. 2015. VENOSA. Silvio de Salvo. Direito Civil. Parte Geral. Editora Atlas. 2015. TARTUCE. Flávio. Direito Civil. 12ª edição. Lei de Introdução e Parte Geral. Vol. 1. Editora Forense. 2016. PONTES de MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito Privado. T. II, 1974. APUD TARTUCE. Flávio. Direito Civil. 12ª edição. Lei de Introdução e Parte Geral. Vol. I. Editora Forense. 2016. FIUZA. Ricardo. Código Civil Comentado. Editora Saraiva. 2015. Vade Mecum RT. Editora Revista dos Tribunais. 12ª edição; revista, atualizada e ampliada. Revista dos Tribunais. 2016.
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