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LESÕES CORPORAIS Fundamento da tutela penal: artigo 5º do Decreto 678/92: 1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral. 2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano. 3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente. 4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias excepcionais, e devem ser submetidos a tratamento adequado à sua condição de pessoas não condenadas. 5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para seu tratamento. 6. As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenados. LESÃO CORPORAL (Arts. 129) Bem jurídico tutelado Protege o homem na sua saúde corporal, fisiológica e mental. Tal orientação vêm da própria exposição de motivos do Código Penal (item 42). Topografia do crime de lesão corporal Art.129, caput → lesão dolosa leve Art. 129, §1º → lesão dolosa ou preterdolosa grave Art. 129, §2º → lesão dolosa ou preterdolosa gravíssima Art. 129,§3º → lesão corporal seguida de morte = ‘homicídio preterdoloso’ Art. 129,§ 4º → lesão corporal dolosa privilegiada Art.129, §5º → substituição de pena Art. 129,§6º → lesão corporal culposa Art. 129, §7º → majorantes da pena Art. 129,§ 8º → perdão judicial Art.129, §§9º, 10 e 11 → violência doméstica (Lei 11.340/06) Art. 129,§12. causa de aumento de pena. (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) Lesão corporal leve Será leve toda lesão corporal que não for grave, gravíssima ou qualificada pelo resultado. Os crimes de lesão corporal leve ou culposa, pela regra do art. 88 da Lei 9.099/95 (Juizados Especiais) procedem mediante representação: Ação Penal Pública Condicionada à Representação do Ofendido. (Representação é condição de procedibilidade p/ que o MP ofereça a denúncia). Prazo penal decadencial de 06 meses do conhecimento de quem é o autor do crime pelo ofendido ou pela pessoa que o represente. Lesão corporal grave ● a incapacidade para as atividades normais deve ser comprovada mediante laudo (art. 168,§2º do CPP). Assim, não pode alguém que nunca esquiou dizer que não pode esquiar durante mais de 30 dias, ou alguém que nunca tocou o piano alegar que determinada lesão o afasta desse instrumento. – ● perigo de vida deve gerar uma situação que de fato coloque a vítima em situação onde a morte é uma possibilidade real, como é o caso de uma lesão que perfura o pulmão ou abre uma artéria importante do corpo humano. Cuidado com este tipo de lesão corporal grave, pois é muito fácil confundí-la com tentativa de homicídio, ● a debilidade permanente de membro, sentido ou função é a perda permanente do uso de membros (pernas e braços), de um dos sentidos (olfato, tato, paladar, etc.) ou de função orgânica (função digestiva, renal, circulatória, etc.)(neste caso estamos diante de um crime instantâneo). ● a aceleração do parto é a lesão corporal grave que leva ao nascimento prematuro de criança viável existente dentro do ventre da vítima. O agente deve saber que a vítima está gestante, sendo que esta modalidade de lesão corporal não admite tentativa. Lesão corporal gravíssima ● É a descrita no parágrafo 2º do artigo mencionado, que gerará para a vítima a incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurável, perda ou inutilização de membro, sentido ou função, deformidade permanente ou gere o aborto em gestante. ● a incapacidade permanente para o trabalho é aquela em que é impossível prever, com base no atual estado da medicina, quando (ou se) o indivíduo poderá novamente assumir suas funções no mercado de trabalho. Esta modalidade pode ter agente operando com dolo ou culpa, sendo que se dolosa a intenção, admite tentativa. ● enfermidade incurável é aquela que a medicina atual não consegue curar, inclusive as que são tratadas mediante tratamentos muito arriscados ou utilizando meios que não os da medicina tradicional. Esta modalidade pode ter agente operando com dolo ou culpa, sendo que se dolosa a intenção, admite tentativa. ● deformidade permanente é o dano estético ainda que não visível, duradouro e que causa constrangimento à vitima. O fato de existirem próteses no mercado, como por exemplo, olho de vidro, não afasta a natureza gravíssima desta lesão. Esta modalidade pode ter agente operando com dolo ou culpa, sendo que se dolosa a intenção, admite tentativa. ● que gere aborto na vítima. Somente admite a forma preterdolosa, pois se o agente agiu com dolo enquadrar-se-á no crime de aborto propriamente dito. Não admite responsabilidade objetiva, de modo que se o agente desconhecia o fato da vítima ser gestante, não será gravíssima a lesão. Por não admitir forma dolosa, não admite tentativa. Transmissão dolosa do vírus HIV: Os aportes doutrinários específicos apontam “algumas doenças que são entendidas como incuráveis, a exemplo da lepra, da tuberculose, da sífilis, da epilepsia, etc.”[31]. Ao lado disso, cuida anotar que o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais abalizou entendimento que aquele que, tendo conhecimento que é portador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS), transmite a outrem, terá incorrido na hipótese que torna a lesão corporal gravíssima, para tanto, cita-se o precedente: Ementa: AIDS – Transmissão por meio de Relação Sexual – Lesões Corporais Gravíssimas - Condenação – Recurso Provido. Está incurso nas sanções do art. 129, § 2º, II, do Código Penal, aquele que, sabendo- se portador do vírus HIV, mantém relação sexual, tornando sua parceira soropositiva. (Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais – Segunda Câmara Crimina/ Apelação Crime 1.0000.00.342300-1/000/ Relator Desembargador José Antonino Baía Borges/ Julgado em 30.10.2003) Lesão corporal seguida de morte Tratado no parágrafo 3º do artigo 129, este é um crime que somente admite a forma preterdolosa, pois se o agente agiu com dolo, ou seja, com a intenção de matar, trata-se de homicídio. Neste caso, o agente tem que desejar ferir sua vítima (lesão corporal dolosa) mas a morte deve ser consequência imprevisível e indesejada de sua ação. Não admite tentativa. O dolo não é de matar, mas apenas de ferir a vítima e a morte sobreveio como resultado indesejado. Exemplo de Lesão corporal seguida de morte é quando "A" discute com "B", e o empurra. "B" escorrega e bate a cabeça e morre. "A" não agiu com dolo de matar. ■ SUJEITO ATIVO: qualquer pessoa (crime comum) ■ SUJEITO PASSIVO: qualquer pessoa salvo nos seguintes casos: §1º, IV e §2º, V (crime próprio). ■ OBJETO JURÍDICO: integridade corporal ou da saúde humana. ■ TIPO OBJETIVO: ofender: atingir. ■ TIPO SUBJETIVO: dolo direto ou eventual (animus laedendi) salvo nos seguintes casos: §1º, incs. II e IV e §2º, inc. V (crimes preterdolosos) ■ CONSUMAÇÃO: com a lesão corporal ou mental. ■ TENTATIVA: cabível (Crime material) ■ AÇÃO PENAL: pública incondicionada quando grave ou gravíssima pública condicionada à representação do ofendido ou representante legal – art. 88 da Lei 9.099/95 – lesão leve ou culposa VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ■ Lei 10.886 de 17 de junho de 2004. Acrescentou os §§9ºe 10 no art. 129 do CP. Pena- detenção, de 3 meses a 3 anos (lesão leve). Pena modificada pela lei 11.340 de agosto de 2006. LEI 11.340/06- MARIA DA PENHA ■ Histórico: símbolo luta contra a violência familiar e doméstica. aquela mulher sofreu duas tentativas de homicídio por parte do ex-marido: Primeiro, levou um tiro enquanto dormia, sendo que o agressoralegou que houve uma tentativa de roubo. Em decorrência do tiro, ficou paraplégica. Duas semanas depois de regressar do hospital, ainda durante o período de recuperação, sofreu um segundo atentado contra sua vida: seu ex-marido, sabendo de sua condição, tentou eletrocutá-la enquanto se banhava. ■ A punição do agressor só se deu 19 anos e 6 meses após o ocorrido. Essa situação injusta provocou a formalização de denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos OEA – órgão internacional responsável pelo arquivamento de comunicações decorrentes de violação desses acordos internacionais, pelo Centro pela Justiça pelo Direito Internacional (CEJIL) e pelo Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos Mulher (CLADEM), juntamente com a vítima. ■ Após 7 anos de uma recomendação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), o governo do Ceará entregou uma indenização no valor R$ 60 mil à bioquímica. A indenização foi uma sugestão da OEA, instituição a que recorreu Maria da Penha, depois de ver seu processo esquecido no Fórum de Fortaleza Biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, cuja tragédia pessoal sensibilizou organismos internacionais. ■ SUJEITO ATIVO: qualquer pessoa ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, convivente. (crime próprio) ■ SUJEITO PASSIVO: qualquer pessoa ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, convivente. (crime próprio). ■ OBJETO JURÍDICO: integridade corporal ou da saúde humana. ■ TIPO OBJETIVO: ofender: atingir. ■ TIPO SUBJETIVO: dolo direto ou eventual (animus laedendi) ■ CONSUMAÇÃO: com a lesão corporal ou mental. ■ TENTATIVA: cabível (Crime material) ■ AÇÃO PENAL: pública incondicionada quando leve, grave ou gravíssima
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