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http://www.franciscopaesbarreto.com/2017/05/a-direcao-do-tratamento-e-os-principios.html
A direção do tratamento e os princípios de seu poder
Trata-se de texto de 1958, publicado nos “Escritos”. Para localizá-lo minimamente: o ensino lacaniano propriamente dito começara em 1953, com o Discurso de Roma, e sua excomunhão da IPA (Associação Psicanalítica Internacional) ocorreu em 1963. “A DIREÇÃO DO TRATAMENTO” é parte do primeiro ensino de Lacan, no qual se situam também os outros temas que serão abordados no primeiro semestre deste ano. O texto versa essencialmente sobre teoria da prática psicanalítica e apresenta duas vertentes cruciais: uma crítica dos pressupostos vigentes na IPA e uma exposição das formulações lacanianas.As críticas de Lacan ao pós-freudismo não são apenas ácidas. São simplesmente demolidoras. Não fica pedra sobre pedra...
	
PÓS-FREUDISMO
	
PRIMEIRO LACAN
	
Desvio de Freud
	
Retorno a Freud
	
Imaginarização da psicanálise
(Eu, Defesa, Pessoa do analista, Contratransferência, Identificação, etc.)
	
Significantização da psicanálise
(Sujeito, pulsão, desejo, fantasia, inconsciente, transferência, sintoma, etc.)
	
Prevalência do eu
	
Prevalência do inconsciente
	
Contratransferência
	
Desejo do analista
	
Análise das resistências
	
Interpretação
	
Presença do analista
(ser do analista)
	
O analista paga com sua pessoa
(falta-a-ser do analista)
	
Reeducação emocional
	                  
                   Transmutação do sujeito
	
A análise como relação dual
(relação de objeto)
	
A análise como relação com o analista
(relação com o objeto)
	
O analista frustra (ou atende) a demanda
	
O analista sustenta a demanda
	
Imaginarizar o desejo
	
Tomar o desejo ao pé da letra
	
Fim de análise:
Identificação com o analista
	
Fim de análise:
Identificação com o nome próprio
Des-ser
Desvio de Freud X Retorno a Freud
Para Lacan, o pós-freudismo é um desvio de Freud. Não se trata, propriamente, de um abandono de Freud, mas de uma leitura recortada. Poderia ser dito que toda leitura é um recorte. É verdade. Sendo então, mais preciso: uma leitura recortada de Freud que deixou fora exatamente o que há de fundamental, o que há de subversivo na descoberta freudiana. 
Sendo ainda mais preciso: o recorte deixou fora aspectos cruciais da primeira tópica e privilegiou aspectos amenos da segunda tópica. Houve um abrandamento, uma domesticação da psicanálise, que contribuiu para fazer dela uma pílula palatável para a cultura ocidental, mormente a norte-americana. Operação que surtiu efeito: a psicologia do ego dominou amplamente o cenário psi nos Estados Unidos, durante tempo considerável.
O preço, entretanto, foi alto: a descaracterização da psicanálise, deixando de lado exatamente a pérola do legado freudiano. Daí a expressão forte: desvio de Freud. Forçando um pouco os termos, poderia ser dito que, para Lacan, os pós-freudianos são pré-freudianos.
Imaginarização X Significantização da psicanálise
Qual é o cerne do desvio pós-freudiano? Em termos lacanianos, poderia ser dito que se trata de uma imaginarização da psicanálise. O conceito fundamental, como já foi dito, é o de eu (ego). A partir daí, é dada grande importância às defesas do eu, responsáveis pelas resistências à análise. Outra concepção imaginarizada é a ênfase dada à pessoa do analista, que, com sua presença no cenário analítico, desempenharia papel de relevo no processo terapêutico. Outros termos amplamente utilizados foram abordados sobretudo pelo viés imaginário: transferência, contratransferência, fantasia, identificação, etc.
Prevalência do eu X Prevalência do inconsciente
A psicologia do ego tornou explícita uma tendência que grassava na IPA: a de valorizar o ego e os processos conscientes em detrimento do inconsciente e da pulsão. A isso se opôs com veemência o retorno lacaniano a Freud.
O retorno à primazia do inconsciente está resumido numa frase, sobre a qual muita tinta já se gastou: “O inconsciente está estruturado como uma linguagem”. Inconsciente concebido não como um conteúdo, mas como uma hiância (ou um lugar), e regido por duas operações principais: a metáfora (condensação) e a metonímia (deslocamento).
Contratransferência X Desejo do analista
A bússola do tratamento estaria baseada numa imaginarização, num espelhismo, apoiados no par transferência X contratransferência.
Lacan faz oposição radical a essa postulação. Para ele, como para Freud, a contratransferência é, sim, uma reação à transferência, mas é algo que perturba o andamento de uma psicanálise. 
No lugar da contratransferência, como bússola da psicanálise, Lacan cunha novo conceito: o de desejo do analista, cujo sintagma mais próximo é desejo de saber. Como se vê, de novo um salto do imaginário ao simbólico. Importa assinalar que o saber que está em jogo é o saber inconsciente: quer dizer, aquele capaz de decifrar o enigma do sintoma.
Análise das resistências X Interpretação
Se existe a primazia do eu, se ele está no centro da análise, o principal a ser feito é trabalhar as defesas, ou seja, as resistências que ele oferece ao que está subjacente. Tal a proposta dos pós-freudianos.
Lacan contrapõe: numa análise, a resistência não está do lado do analisante, está do lado do analista. Dizendo o mesmo em outras palavras: se o analisante resiste, ele está no seu papel; se o analista resiste, porém, está nele o entrave de uma análise. 
Não é papel do analista centrar-se nas defesas. Seu papel é: interpretar.
E o que é interpretar, no primeiro momento de Lacan?
É decifrar. É desvendar o sentido oculto do sintoma, ou da formação do inconsciente. É transpor a barra que separa o enigma do sintoma (ou o sonho) e seu sentido latente. 
A interpretação pode fazer desaparecer o sintoma.
O sentido latente, porém, traz um outro significante, um novo enigma...
Ser do analista X Falta-de-ser do analista
Outra tendência marcante entre os pós-freudianos: a de considerar o psicanalista como uma pessoa. Ou enquadre é de uma relação interpessoal, ou intersubjetiva. Enquadre que faz apelo a concepções humanistas, ou, na melhor das hipóteses, existencialistas. 
Lacan, quanto a isso, é rude: o que importa não é o ser do analista, mas, sim, sua falta-de-ser. Em outras palavras, o analista não deve se apresentar como pessoa; pelo contrário, deve esquivar-se disso, deve pagar com sua pessoa. Abrir um parêntesis em seu julgamento moral, em seus valores éticos, em suas preferências pessoais. Ocultar seus dados pessoais e suas inclinações políticas ou religiosas, fazendo semblante, ou transformando-se numa tela, onde será projetado o atributo da transferência.
Reeducação emocional X Transmutação do sujeito
Na bojo da proposta do analista como pessoa está a ideia de reeducação emocional. Ideia que concebe a análise como pedagogia. Isso tem implicações sérias. Significa admitir que uma nova relação possa corrigir os erros de uma relação pregressa. De novo, o espelhismo, ou a abordagem imaginarizada: uma ação e reação diferente pode retificar uma ação e reação problemática.
Lacan é, decididamente, antipedagogo. Não se trata de corrigir mediante nova relação. Trata-se de interpretar e trabalhar (perlaborar). 
A reeducação emocional propõe mudança gradativa, contínua, quantitativa.
A proposta psicanalítica implica transmutação do sujeito, ou mudança subjetiva: o que exige ruptura, mudança qualitativa.
Relação de objeto X Relação com o objeto
Os pós-freudianos teorizam de diferentes maneiras a relação de objeto. Um ponto a ser considerado: para Freud a pulsão sexual buscaria primariamente satisfação; para alguns autores, buscaria primariamente objeto. A ênfase no objeto pode ser estendida, até conceber a psicanálise como relação simétrica, entre duas pessoas, ou entre dois sujeitos, numa interação terapêutica. 
Para Lacan, o analista não é uma pessoa, nem um sujeito, é simplesmente um ator quese apaga enquanto pessoa ou enquanto sujeito. Trata-se de relação assimétrica.
Mais precisamente, o analista é ator que faz semblante (simulacro) de objeto. A relação analítica, por conseguinte, é peculiar, diferente de toda e qualquer relação existente.
Na tela dessa relação peculiar, é tecido e desenvolvido o drama da análise, sob o espectro da transferência.
Não uma relação de objeto, mas uma relação com o objeto.
Frustrar X Sustentar a demanda
Freud costuma dizer que uma análise se faz sob abstinência. Os pós-freudianos entenderam que os analistas devem frustrar a demanda dos analisantes. Ou seja: que uma análise deve acontecer sob atmosfera de frustração.
Para Lacan, a abstinência freudiana não implicaria frustrar nem gratificar, possibilidades que se inserem, uma vez mais, numa perspectiva imaginarizada. Trata-se, isso sim, de sustentar a demanda, ou seja, de tentar elevá-la a outro patamar, que não seja o da satisfação imediata. Operação que abriria campo para a interpretação e para o trabalho da análise.
Imaginarizar o desejo X Tomar o desejo ao pé da letra
Embora reconheça a dimensão imaginária da fantasia e do desejo, Lacan prioriza sua dimensão simbólica. A fantasia pode ser condensada numa frase. E o desejo deve ser tomado ao pé da letra.
Todo um seminário é dedicado ao desejo e sua interpretação. A conclusão é uma frase que resume todo o percurso: o desejo é sua interpretação. 
Fim de análise: 
Identificação com o analista X Identificação com o nome próprio
Lacan comenta que a IPA promoveu uma obsessivação do tratamento psicanalítico, ao estabelecer um standard do que seria uma psicanálise propriamente dita. Estão predeterminados a frequência das sessões, a duração de cada sessão, o contrato analítico, os procedimentos técnicos mais importantes, a forma de terminação. 
Será dado destaque a um aspecto. O final de análise é concebido como uma identificação com o analista, ou mais precisamente, uma identificação com o ego do analista, ou mais precisamente ainda, com o ego forte do analista. Como se vê, por onde quer que se caminhe reencontra-se a estrutura: imaginarização da psicanálise.
Lacan concebe o final de análise de diferentes maneiras, ao longo de seu ensino. Em “Variantes do tratamento padrão”, texto publicado em 1955, o fim de análise é formulado como identificação com o nome próprio. Na “DIREÇÃO DO TRATAMENTO” Lacan diz que a interpretação aponta o horizonte desabitado do ser, ou o nada que é o ser (des-ser). As duas formulações não são incompatíveis, uma vez que, nesse momento em que é nítida a influência hegeliana, a palavra é tomada como a morte da coisa. Também aqui, reencontra-se a estrutura: significantização da psicanálise.
Para concluir esta parte, uma confirmação: é possível opor, passo a passo, a psicanálise lacaniana à pós-freudiana, ainda que se considere que os pós-freudianos não formam um conjunto homogêneo, mas uma colcha de retalhos.
Lacan, por sua vez, é autor complexo, que se reformula várias vezes ao longo de seu ensino. Por muitas razões, também os lacanianos se pluralizaram, também eles passaram a constituir uma colcha de retalhos.
De vez em quando, alguém me pergunta: Será que ainda é possível, nos dias atuais, falar em psicanálise? Haveria ainda alguma consistência nesse termo? 
Tenho uma resposta. Sim, é possível. O caminho passa por um critério epistemológico e por um critério metodológico.
Critério epistemológico: só há psicanalista freudiano. Diferentes leituras, diferentes recortes, mas a base é Freud. Seu texto é, por assim dizer, a nossa Bíblia. O campo epistemológico aberto por Freud reune os psicanalistas.
Critério metodológico: a formação psicanalítica é constituída por um tripé. Em primeiro lugar, o mais importante: a própria análise. Em segundo lugar, a formação teórica, ou o que os lacanianos chamam de matema. E em terceiro lugar, a supervisão ou controle. Não há psicanálise minimamente defensável que não tenha sua formação baseada nesse tripé.
O percurso de uma análise
Freud compara o percurso de uma análise a uma partida de xadrez. O início e o fim são bem definidos, mas o meio é inteiramente imprevisível, devido a um número infinito de situações possíveis.
A procura de uma análise se faz a partir de um sofrimento, o sofrimento do sintoma, também chamado de gozo do sintoma. Mas o sintoma não é só sofrimento, é também enigma; ou seja, faz questão para o sujeito, que não sabe por que sofre. 
 
Se o interesse é apenas conseguir alívio, não há demanda de análise, há apenas demanda terapêutica. A demanda de análise ocorre quando o sujeito, mais do que alívio, quer saber sobre o sintoma.
E mais: é preciso que o sujeito atribua ao analista um saber sobre seu sintoma, fazendo dele um sujeito suposto saber. Algo que se constata a partir do significante da transferência.
O saber de que se trata é o saber inconsciente do próprio sujeito, um saber que não se sabe. Se a notação do enigma é S1, a notação do saber é S2.
Situado o analista como sujeito suposto saber, a interpretação consiste numa decifração, que desvela o enigma do sintoma. Ou seja, o saber inconsciente, de modo retroativo, aponta o sentido latente do sintoma, desfazendo o enigma.
 O enigma do sintoma, portanto, é da ordem do significante, e a decifração põe em jogo um outro significante, que estava latente no discurso do analisante. Passa-se de significante a significante: por esse motivo, é mais preciso dizer que, em vez de desaparição, há transmutação do sintoma.

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