Prévia do material em texto
Direito Civil V - FAMÍLIA Prof. Dr. Paulo Roberto Barroso Soares ORIGEM DA FAMÍLIA Com o vínculo surge o afeto. O afeto é a base de tudo. É no afeto que há a relação de família. FAMÍLIA – um agrupamento espontâneo de pessoas com vínculos entre si, regulado pelo Direito. Trata-se de uma construção cultural, com uma estrutura, onde todos tem um lugar. Antigamente todos os vínculos afetivos, para serem aceitos e terem reconhecimento jurídico, precisavam estar ligados ao casamento (era uma regra de conduta). A família incentivava a procriação e os filhos eram mão- de-obra no campo. Com a Revolução Industrial, a mulher começou a trabalhar e a família migrou do campo para a cidade, diminuindo o número de filhos e aumentando o vínculo afetivo. A Família Moderna é formada pelo afeto. Acabando o afeto acaba a família. ORIGEM DO DIREITO DE FAMÍLIA A primeira lei do Direito de Família é lei do incesto: proibir que irmãos transem com irmãos, que pais transem com suas filhas, tio com sobrinho. Atualmente – art. 1521, CC. Por exemplo: casamento entre tio e a sobrinha – ver artigo 2º do Decreto-Lei 3.200/41, que trata do casamento entre colaterais de 3º grau. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA Primeira norma sobre casamento é o código civil de 1916: Só existia família se houvesse casamento. Era proibido se divorciar. O casamento era indissolúvel. Existia o desquite, que separava o casal e o seu patrimônio, mas mantinha o vínculo conjugal e não permitia casar de novo. A lei discriminava pessoas unidas sem casamento e a mulher ao casar, tornava-se relativamente incapaz. O Homem era o chefe da família. Administrava seus bens, escolhia o domicílio e autorizava a mulher a trabalhar ou não. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA Em 1962 - Estatuto da Mulher Casada, devolvendo a capacidade para a mulher casada e assegurando a propriedade exclusiva dos bens adquiridos pelo seu trabalho. Em 1977 - Lei do Divórcio 6.515/77. Transforma o desquite em separação. E depois de 3 anos separada a pessoa se divorciava. E depois de divorciada poderia casar novamente.Constituição Federal de 1988 - Art. 226. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA Código Civil de 2002 – revogou o de 1916. Em 2007 - Lei 1441 que passa a prever o fim do casamento através de escritura pública no Tabelionato, desde que os filhos sejam maiores e capazes. Em 2008 - a regulamentação da guarda compartilhada, lei 11.698. Em 2010 – EC nº 66 - acaba com a separação, e atualmente, do casamento vai direto para o divórcio. (Não existe mais culpa na separação e no divórcio). A legislação ainda não abordou união homoafetiva. DIREITO DE FAMÍLIA é o complexo de normas que regulam a não só as relações entre pais e filhos, mas também entre cônjuges e conviventes, isto é, a relação entre pessoas ligadas por um vínculo de consanguinidade, de afetividade ou de afinidade. (Berenice Dias). OBS: a lei Maria da Penha é a 1ª legislação que fala sobre afeto no seu art. 5º, III, Lei 11.340/06. NATUREZA DO DIREITO DE FAMÍLIA. Presume-se privado, pois está no CC, mas possui interferência pública, pois o Estado, cada vez mais, tenta regulamentar as relações familiares. TIPOS DE FAMÍLIAS 1 – TRADICIONAL Pai, mãe, filhos, noras, genros, avós. TIPOS DE FAMÍLIAS: 2 – HOMOAFETIVA Não está prevista em lei, mas é consagrada na jurisprudência, e é composta por pessoas do mesmo sexo. TIPOS DE FAMÍLIAS: 3 – MONOPARENTAL Composta por qualquer um dos pais e seus descendentes. Base legal, art. 226, §4º da CR. TIPOS DE FAMÍLIAS: 4 – ANAPARENTAL Formada por parentes ou não, independente de gerações, diferença de sexo ou idade, mas com os mesmos propósitos. Ex.: 2 irmãs que moram juntas. TIPOS DE FAMÍLIAS 5 – PLURIPARENTAL Formadas depois da desconstituição de outra formação familiar, ocorre quando um casal se une, tendo filhos de outros relacionamentos, “os teus, os meus e os nossos”. TIPOS DE FAMÍLIAS 6 – PARALELA Ainda não é reconhecida pelo Direito, apesar de existir, ocorre quando um cônjuge é casado e possui outra família. A lei não protege a família paralela. Súmula 380 do STF - “Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum”. ESTADO DE FAMÍLIA É a posição e a qualidade que cada pessoa ocupa dentro da família, decorre do vínculo conjugal. É atributo personalíssimo. Ex. eu sou filho do meu pai, não posso passar esse direito á outro, salvo na adoção. ESTADO DE FAMÍLIA – Características: a) Intransmissibilidade – é intransmissível entre vivos e causa mortis. Exceção = adoção. b) Irrenunciabilidade – ninguém pode renunciar seu estado de família. (Art. 1.634, CC) Quando se perde esse poder familiar, outro poderá exercê-lo por tutela. (Art. 1.728, CC) c) Imprescritibilidade –não prescreve com o tempo, em razão do seu caráter personalíssimo. d) Universalidade – compreende todas as relações familiares. e) Indivisibilidade – não se admite que alguém tenha um estado de família para uma situação e outro estado para outra. Ex.: eu sou casado pros meus parentes, mas para os parentes da minha esposa eu sou solteiro... f) Correlatividade – é recíproco entre os membros da família. Ex. se eu sou o filho, ele é o pai... g) Oponibilidade – é oponível à todas as pessoas. COMO SE PROVA O ESTADO DE FAMÍLIA? Pela certidão do registro. AÇÕES DE ESTADO DE FAMÍLIA Para provar o estado de família: (ação positiva) - Investigação de Paternidade. Para retirar um estado de família: (ação negativa) - Negatória de paternidade (para retirar o pai do registro). PRINCÍPIOS DE DIREITO DE FAMÍLIA A) Dignidade da pessoa humana: art. 1º, III-CF. É o macroprincípio do qual irradiam todos os demais, liberdade, cidadania, igualdade e solidariedade; B ) Princípio da Liberdade: é a liberdade do ser humano em relação a sua vida familiar. Liberdade de escolher o seu par, o sua opção sexual, o tipo de união... C) Princípio da Igualdade: homens e mulheres são iguais perante a lei em direitos e deveres. Todos os filhos são iguais perante a lei. PRINCÍPIOS DE DIREITO DE FAMÍLIA D) Princípio da Solidariedade Familiar: compreende a fraternidade e reciprocidade. É o dever de assistência aos filhos. É o dever de amparo aos idosos. É a solidariedade entre o homem e a mulher. E) Princípio do Pluralismo das Entidades Familiares: o direito de família reconhece os vários tipos de arranjos familiares. PRINCÍPIOS DE DIREITO DE FAMÍLIA F) Princípio da Monogamia: trata-se de um princípio não escrito que faz parte da história do mundo ocidental. Ter um cônjuge só. Não mais de um. (art. 1566 e 1724, CC). G) Princípio da Afetividade: é a base das relações familiares se sobrepondo inclusive às relações de sangue. O afeto decorre da liberdade que todos têm de afeiçoar-se a outro. A sobrevivência humana depende do afeto e sua ausência tem acarretado inúmeras ações de indenização por abandonoafetivo.