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ARTIGO VIOLENCIA DOMESTICA CONTRA O IDOSO

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Machado WCA, Figueiredo NMA, Miranda RS de et al. Violência doméstica contra idosos: reflexos... 
Português/Inglês 
Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(12):6936-41, dez., 2013 6936 
DOI: 10.5205/reuol.2950-23586-1-ED.0712201329 ISSN: 1981-8963 
 
 
 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA IDOSOS: REFLEXOS NA ASSISTÊNCIA E 
CUIDADOS DE ENFERMAGEM 
DOMESTIC VIOLENCE AGAINST THE ELDERLY: REFLECTIONS ON ASSISTANCE AND NURSING 
CARE 
VIOLENCIA INTRAFAMILIAR HACIA PERSONAS MAYORES: REFLEJOS SOBRE LA ATENCIÓN Y 
CUIDADOS DE ENFERMERÍA 
Wiliam César Alves Machado1, Nébia Maria de Almeida Figueiredo2, Rodrigo Sousa de Miranda3, Carla 
Oliveira Shubert4 
RESUMO 
Objetivo: contribuir na discussão da temática maus tratos para com idosos e sua contextualização na agenda 
da enfermagem contemporânea. Metodologia: estudo reflexivo, realizado a partir da análise de artigos 
científicos, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Política Nacional de Saúde do Idoso, leis, 
portarias e documentos oficiais do Ministério da Saúde. Resultados: são apresentados os fundamentos legais 
acerca do aumento da violência contra idosos no Brasil, e suas implicações para a assistência e cuidados de 
enfermagem. Conclusão: a escalada de violência contra idosos em nosso país, pelo que representa em termos 
de comprometimento da saúde, bem estar e segurança deste segmento da população em acentuado 
crescimento, requer dos enfermeiros intervenções específicas nas esferas institucionais, unidades de saúde, 
associações comunitárias, bem como adequar os programas de formação profissional para atendimento a essa 
demanda contemporânea. Descritores: Maus Tratos ao Idoso; Violência Doméstica; Cuidado de Enfermagem; 
Enfermagem Geriátrica. 
ABSTRACT 
Objectives: to contribute to the thematic discussion about ill-treatment of the elderly and its 
contextualization in the contemporary nursing agenda. Methodology: this was a reflexive study conducted 
from the analysis of scientific articles and data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics, 
National Health Policy for the Elderly, laws, ordinances, and official documents from the Ministry of Health. 
Results: the legal foundations about the increase in violence against the elderly in Brazil are presented with 
its implications for assistance and nursing care. Conclusion: the escalation of violence against the elderly in 
our country is reflected in the compromised health, well-being, and safety of this growing segment of the 
population and requires specific interventions of nurses in the realm of institutions, health units, community 
associations, and the adaptation of professional training programs to meet this demand. Descriptors: Ill-
treatment to the elderly; Domestic Violence; Nursing Care; Geriatric Nursing. 
RESUMEN 
Objetivo: contribuir a la discusión respecto al tema de los malos tratos hacia las personas mayores y su 
contextualización en el programa de enfermería contemporánea. Metodología: estudio reflexivo, realizado 
desde los análisis de artículos científicos, con datos del Instituto de Geografia e Estatística, Política Nacional 
de Saúde do Idoso, leyes, porterías y documentos oficiales del Ministerio de Salud. Resultados: son 
presentados los fundamentos legales sobre el aumento de la violencia contra las personas mayores en Brasil, y 
sus implicaciones para la atención y cuidados de de enfermería. Conclusión: el aumento de la violencia 
contra las personas mayores en nuestro país, por lo que representa en términos de compromiso con la salud, 
bienestar y seguridad de este segmento de la población en acentuado crecimiento, requiero de los enfermeros 
intervenciones específicas en las esferas institucionales, unidades de salud, asociaciones comunitarias, así 
como adecuar los programas de formación profesional para la atención a esa demanda contemporánea. 
Descriptores: malos tratos a personas mayores; violencia intrafamiliar; cuidados de enfermería; enfermería 
geriátrica. 
1
Enfermeiro, Professor Doutor em Enfermagem, Departamento de Enfermagem Fundamental, Escola de Enfermagem Alfredo Pinto/EEAP. 
Niterói (RJ), Brasil. Email: wilmachado@uol.com.br; 2Enfermeira, Professora Titular, Doutora em Enfermagem, Departamento de 
Enfermagem Fundamental, Escola de Enfermagem Alfredo Pinto/EEAP. Niterói (RJ), Brasil. E-mail: nebia@unirio.br; 3Enfermeiro, 
Mestrando, Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Enfermagem, Escola de Enfermagem Alfredo Pinto/PPGENF/EEAP. Niterói (RJ), 
Brasil. E-mail: drigo_pan@yahoo.com.br; 4Enfermeira, Mestranda, Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Enfermagem, Escola de 
Enfermagem Alfredo Pinto/EEAP. Niterói (RJ), Brasil. Email: carlashubert@yahoo.com.br 
 
 
 
 
 
ARTIGO ANÁLISE REFLEXIVA 
Machado WCA, Figueiredo NMA, Miranda RS de et al. Violência doméstica contra idosos: reflexos... 
Português/Inglês 
Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(12):6936-41, dez., 2013 6937 
DOI: 10.5205/reuol.2950-23586-1-ED.0712201329 ISSN: 1981-8963 
 
Mudanças na constituição familiar dos 
brasileiros trazem a reboque substantivos 
embates no plano dos valores de cada ente 
componente dessa importante célula do nosso 
organismo e sistema social – a família, cenário 
tradicionalmente considerado sagrado de 
respeitosas trocas de experiências de vida 
cotidiana, que podem se transformar em 
espaços para grandes embates e conflitos, no 
qual os mais frágeis – as pessoas acima de 60 
anos – sempre ficam em desvantagem. É nesse 
contexto, que se colocam questões relevantes 
para a enfermagem contemporânea, 
considerando ser esta uma área de 
conhecimento voltada para a promoção da 
vida e saúde de cada membro da sociedade 
em que se esteja inserido, como por exemplo: 
Como interagir para cuidar dos membros das 
famílias que se desintegram em face da 
escalada de violência praticada dentro de 
casa contra pessoas idosas? 
Não há como desconsiderar que o processo 
de envelhecimento é uma realidade sem 
retrocesso, que preocupa países do mundo 
todo, em especial países em desenvolvimento, 
em que houve aumento do número de anos 
vividos pelas pessoas, sem que houvesse 
melhoria na qualidade de vida dos mesmos. 1 
Perspectiva que sugere tomada de 
providências no âmbito da enfermagem para o 
planejamento de ações focadas na promoção 
da saúde e melhoria da qualidade de vida 
dessas pessoas, com atendimento da 
crescente demanda pela assistência e 
cuidados para idosos, neste caso, vítimas de 
maus tratos dentro de seus próprios lares. 
 O papel do Enfermeiro e a Estratégia 
de Saúde da Família 
Presume-se, da competência dos 
enfermeiros que atuam na Estratégia Saúde da 
Família (ESF), o planejamento dos cuidados e 
assistência de enfermagem para todos os 
membros dessas famílias 2, inclusive, 
diagnosticando, planejando e executando 
estratégias intersetoriais voltadas para a 
eliminação gradativa dos elementos 
desencadeadores desses conflitos, atuando 
junto com demais membros da equipe de 
saúde na origem, no cerne dos impulsos que 
movem os eventuais agressores. Isto porque, 
em decorrência da complexidade inerente ao 
fenômeno em baila, há que se reconhecer que 
ele requer atuação de diversos profissionais 
com conhecimentos e respaldos legais 
específicos para lidar com seus múltiplos 
aspectos. Uma equipe multiprofissional 
empenhada na conjunção de esforços para o 
resgate de laços fraternos essenciais ao 
convívio saudável e harmonioso entre os 
atores sociais componentes desses núcleos 
familiares desintegrados. 
Independente da esfera em que atue, como 
ativo partícipe da equipe de saúde, o 
enfermeiro deve promover intervenções 
imediatasde cuidados para atender aos 
déficits e necessidades humanas básicas 
afetados no universo do idoso vitimado. 3 Mais 
ainda, deve planejar assistência e respectivos 
cuidados a serem prestados e orientados aos 
cuidadores domiciliares, em consonância com 
a Estratégia Saúde da Família 4, equipes que 
atuam em maior proximidade com entes 
familiares nas comunidades. 
Nesse aspecto, é primordial que seja 
estabelecida e preservada rede interligada de 
profissionais de enfermagem atenta para 
assegurar a prestação da assistência e 
cuidados aos idosos vítimas de maus tratos, 
inclusive, servindo-se dos registros de 
avaliação e acompanhamento dos casos, 
elaborados pelos enfermeiros das ESF. 
Profissionais diretamente envolvidos e 
responsáveis pela assistência e cuidados na 
atenção básica de saúde prestada às famílias 
da área geográfica de abrangência 
correspondente às Unidades Básicas de Saúde 
em que atuem. 
Sabe-se que os integrantes da equipe da 
ESF têm a responsabilidade ética e legal de 
identificar e relatar a suspeita de maus tratos 
às autoridades competentes, o que facilitaria 
a investigação e a ação dos serviços de 
proteção ao idoso onde estiver inserido. 
Entretanto, é importante ressaltar que há 
poucos registros dessa natureza no sistema de 
informação do SUS, talvez pela falta de 
percepção do profissional, que, ao prestar 
atendimento, direciona suas ações para os 
danos e não para as causas, mesmo porque, 
como geralmente abordado pela ESF, os idosos 
não expressam a violência sofrida. 4 
No âmbito da atenção primária, espera-se 
que os cuidados de enfermagem prestados aos 
idosos vulneráveis substituam o modelo 
fragmentado e de demanda por uma 
perspectiva antecipatória, ou seja, cuidados 
pró-ativos, em que os idosos, seus familiares e 
enfermeiros busquem, em conjunto, as 
soluções para os problemas, com vistas na 
melhoria da qualidade de vida, da saúde 
física, mental, emocional e ao apoio social a 
esses idosos. 5,6 A adoção de estratégias 
pautadas na perspectiva antecipatória de 
cuidados pró-ativos, enquanto se apuram 
elementos das denúncias de maus tratos 
contra idosos, possibilita, efetivamente, ao 
enfermeiro investir no fortalecimento dos 
INTRODUÇÃO 
Machado WCA, Figueiredo NMA, Miranda RS de et al. Violência doméstica contra idosos: reflexos... 
Português/Inglês 
Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(12):6936-41, dez., 2013 6938 
DOI: 10.5205/reuol.2950-23586-1-ED.0712201329 ISSN: 1981-8963 
laços fraternos entre os entes familiares em 
conflito, atuando com profissionalismo, 
respeito e sabedoria no resgate dos vínculos, 
responsabilidades e competências de cada um 
de seus membros na reconstrução do bem 
estar e harmonia familiar perdidos. 7 
A atuação em Unidade Básica de Saúde, por 
conseguinte, permite aos enfermeiros 
verificar grande incidência de idosos que 
procuram esse serviço, devido à 
vulnerabilidade que os envolve, e faz com que 
sejam identificados como pessoas com 
inúmeros problemas que demandam 
assistência adequada.1 A esse respeito, 
reiteram-se dados que se destacam na 
avaliação quantitativa dos milhares de 
atendimentos prestados na Secretaria 
Municipal do Idoso e da Pessoa com 
Deficiência de Três Rios, Região Centro Sul do 
Estado do Rio de Janeiro, aos idosos com 
queixas de maus tratos, no período janeiro a 
dezembro de 2010 7, seja intercedendo junto 
ao Ministério Público Estadual como forma de 
chamar atenção e esclarecer aos agressores 
aspectos legais envolvidos na ocorrência, seja 
na visita realizada pela equipe ao domicílio 
das famílias, momento em que o enfermeiro 
tem oportunidade de elaborar estratégias 
para uma assistência e cuidados mais 
adequados a cada caso. 
 A experiência na gestão pública do 
Planeta Vida 
O bem sucedido conjunto de serviços 
focados na inclusão, saúde, reabilitação e 
resgate da cidadania dos idosos atendidos pela 
equipe transdisciplinar do Planeta Vida, 
demonstra que as ocorrências de maus tratos 
a essas pessoas podem ser conduzidas de 
forma integrada, objetivando a minimização 
ou a resolução dos conflitos entre idosos, seus 
familiares ou cuidadores domiciliares. 
Unidade de gestão pública municipal 
localizada na região Centro Sul Fluminense, 
que, apenas em 2010, registrou 2.363 
encaminhamentos de relatórios com 
sistemática descrição das ocorrências de 
queixas de maus tratos contra idosos para que 
agentes do Ministério Público tomassem 
devidas providências, inclusive, convocando as 
partes para apuração dos fatos com o 
indiciamento de familiares, vizinhos e demais 
pessoas que exerçam maus tratos para com 
seus semelhantes vulneráveis aos abusos de 
autoridade. 7 
Diz-se bem sucedido pelo caráter inovador 
de incluir o enfermeiro como elemento 
fundamental no processo de avaliação para 
elaboração do diagnóstico e respectivas 
intervenções de enfermagem, no sentido de 
atuar conjunta e concomitantemente com 
demais membros da equipe na resolução dos 
problemas decorrentes dos quadros de 
violência doméstica praticada contra idosos. 
 A violência contra o idoso e a 
perspectiva do nosso país 
A violência e maus tratos para com idosos 
eram vistos como uma questão estritamente 
familiar, permanecendo encoberta até a 
metade do século XX. Representa, hoje, um 
grande desafio para a sociedade em geral, e 
particularmente para o setor de saúde. 
Provoca, além de óbitos, traumas físicos e 
emocionais, o que redunda no aumento da 
demanda por serviços e programas de saúde 
específicos. Em 2000, o Brasil teve 34.132 
internações hospitalares geradas por 
violência, dos quais 4% representaram 
violência contra pessoas com 60 anos ou mais. 
8 Nesse ritmo, imprescindível se torna a 
criação de políticas públicas para o 
enfrentamento de suas causas e que 
assegurem atendimento aos familiares 
envolvidos no conflito, proporcionando meios 
para que os profissionais possam atender a 
essas pessoas e aos idosos com prioridade na 
agenda de diagnósticos situacionais, no 
âmbito da saúde do idoso. 9 
A violência contra idosos é um fenômeno 
de notificação recente no mundo e no Brasil. 
A vitimização desse grupo social, no entanto, 
é um problema cultural de raízes seculares e 
suas manifestações são facilmente 
reconhecidas desde as mais antigas 
estatísticas epidemiológicas. 10 A quantidade 
crescente de idosos oferece um clima de 
publicidade e de politização das informações 
sobre maus tratos de que são vitimas, 
tornando o problema uma prioridade na pauta 
de questões sociais. No Brasil, a questão 
começou a ganhar visibilidade na década de 
90, depois que a preocupação com a 
qualidade de vida dos idosos entrou na agenda 
da Saúde Pública. 11 
Além disso, a violência intrafamiliar é 
caracterizada pela ação ou omissão que 
prejudique o bem estar, a integridade física e 
psicológica, ou a liberdade e o direito ao 
pleno desenvolvimento de um integrante do 
núcleo familiar. 4 
A violência contra o idoso pode assumir 
várias formas e ocorrer em diferentes 
situações 12, e, por diferentes motivos, é 
subdiagnosticada e subnotificada. Entre as 
causas para o difícil diagnóstico estão: 
sentimentos, da vítima, de culpa e vergonha, 
medo de retaliação ou represália por parte do 
agressor, ou ainda receio de ser internada em 
asilo. A maioria dos casos de violência contra 
Machado WCA, Figueiredo NMA, Miranda RS de et al. Violência doméstica contra idosos: reflexos... 
Português/InglêsRev enferm UFPE on line., Recife, 7(12):6936-41, dez., 2013 6939 
DOI: 10.5205/reuol.2950-23586-1-ED.0712201329 ISSN: 1981-8963 
idosos é devido à autonegligência ou é 
perpetrado por um membro da família, o que 
pode explicar por que as vítimas tendem a 
minimizar a gravidade da agressão e se 
mostrarem leais a seu agressor, 
frequentemente negando-se a adotar medidas 
legais contra membros da família ou a discutir 
sobre esse assunto com terceiros. Elas 
preferem conviver com maus tratos a abrir 
mão de um relacionamento pessoal em suas 
vidas. 13 
Nesse aspecto, vale reiterar a importância 
do papel exercido pelos profissionais de saúde 
na busca de estratégias conciliadoras para 
harmonia do conflito intrafamiliar, em 
particular os enfermeiros das equipes da ESF e 
aqueles que atuam em unidades voltadas para 
a oferta de serviços consoantes com as 
diretrizes da Política Nacional de Saúde do 
Idoso, uma vez que esses estão na linha de 
frente e são os que interagem mais 
precocemente junto aos casos de violência 
contra os idosos. Agir com prudência e 
sabedoria, sobretudo cônscios de que o 
convívio familiar harmonioso é fator 
fundamental para o bem estar, saúde e 
qualidade de vida das pessoas que vivenciam o 
envelhecimento. 
No plano legal é imperativo ressaltar que, 
em 2003, o Congresso Nacional aprovou, e o 
Presidente da República sancionou, o Estatuto 
do Idoso,14 elaborado com intensa 
participação de entidades de defesa dos 
interesses dos idosos. O Estatuto do Idoso 
amplia a resposta do Estado e da sociedade às 
necessidades da população idosa, mas não 
traz consigo meios para financiar as ações 
propostas. O Capítulo IV do Estatuto reza 
especificamente sobre o papel do SUS na 
garantia da atenção à saúde da pessoa idosa 
de forma integral, em todos os níveis de 
atenção. Assim, embora a legislação brasileira 
relativa aos cuidados da população idosa seja 
bastante avançada, a prática ainda é 
insatisfatória. A vigência do Estatuto do Idoso 
e seu uso como instrumento para a conquista 
de direitos dos idosos, a ampliação da 
Estratégia Saúde da Família que revela a 
presença de idosos e famílias frágeis e em 
situação de grande vulnerabilidade social e a 
inserção ainda incipiente das Redes Estaduais 
de Assistência à Saúde do Idoso tornaram 
imperiosa a readequação da Política Nacional 
de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI). 15 
A finalidade primordial da Política Nacional 
de Saúde da Pessoa Idosa é recuperar, manter 
e promover a autonomia e a independência 
dos indivíduos idosos, direcionando medidas 
coletivas e individuais de saúde para esse fim, 
em consonância com os princípios e diretrizes 
do Sistema Único de Saúde. É alvo dessa 
política todo cidadão e cidadã brasileiros com 
60 anos ou mais de idade. 
Nas últimas décadas, o número absoluto de 
pessoas com 60 anos ou mais de idade 
aumentou nove vezes. Não só a população 
brasileira está envelhecendo, mas a proporção 
da população “mais idosa”, ou seja, a de 80 
anos ou mais de idade, também está 
aumentando, alterando a composição etária 
dentro do próprio grupo. Significa dizer que a 
população idosa também está envelhecendo. 
Em 2000, esse segmento representou 12,6% do 
total da população idosa brasileira. Isso leva a 
uma heterogeneidade do segmento idoso 
brasileiro, havendo no grupo pessoas em pleno 
vigor físico e mental e outras em situações de 
maior vulnerabilidade.11 
O Brasil é considerado um país de 
população envelhecida16, uma vez que os 
dados do censo de 2010 retratavam que o 
número de idosos na população já 
representava 11%, e, a população de um país 
é dita envelhecida quando a proporção de 
idosos alcança 7%, com tendência a aumentar. 
Outro fato relevante é a longevidade, que 
também vem elevando-se progressivamente, 
conforme observado através do crescimento 
dos grupos etários mais elevados, ressaltando-
se que, da década de 90 para 2000, a 
população de idosos total cresceu 36,5% e a 
de idosos com mais de 75 anos, 49,3%.5 
Reforçando o já pontuado, destacam-se 
preocupantes as estimativas para os próximos 
20 anos, de acordo com as quais os idosos 
excederão 30 milhões de indivíduos, chegando 
a representar 13% dos brasileiros, e que, em 
2050, a população de idosos poderá somar 18% 
da população total, o que corresponderá a 
aproximadamente 47 milhões de indivíduos17. 
Prenúncios de substantivos aumentos da 
população idosa no Brasil que impõem o 
enfrentamento de maiores desafios para a 
enfermagem em termos da previsão e provisão 
de assistência e cuidados para essas pessoas. 
Assim como na maioria dos países, o 
sistema de saúde brasileiro não está 
estruturado para atender à demanda 
crescente de idosos. É fato que os idosos 
consomem mais dos serviços de saúde, suas 
taxas de internação são bem mais elevadas e 
o tempo médio de ocupação do leito é muito 
maior quando comparados a qualquer outro 
grupo etário. A falta de serviços domiciliares 
e/ou ambulatoriais faz com que o primeiro 
atendimento ocorra em estágio avançado, no 
hospital, aumentando os custos e diminuindo 
as chances de prognóstico favorável. Em 
outras palavras, consomem-se mais recursos 
do que seria preciso, elevam-se os custos, sem 
Machado WCA, Figueiredo NMA, Miranda RS de et al. Violência doméstica contra idosos: reflexos... 
Português/Inglês 
Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(12):6936-41, dez., 2013 6940 
DOI: 10.5205/reuol.2950-23586-1-ED.0712201329 ISSN: 1981-8963 
que, necessariamente, se obtenham os 
resultados esperados em termos de 
recuperação da saúde e melhoria da qualidade 
de vida.18 
Dados do Censo 2010 19 revelaram que o 
envelhecimento é também uma questão de 
gênero. Posto que, cinquenta e cinco por 
cento da população idosa são formados por 
mulheres. A proporção do contingente 
feminino é tanto mais expressiva quanto mais 
idoso for o segmento. Essa predominância 
feminina se dá em zonas urbanas. Nas rurais, 
predominam os homens, o que pode resultar 
em isolamento e abandono dessas pessoas. 
Motivos suficientes para que seja ampliada a 
ação das ESF nas zonas rurais, tornando 
acessíveis cuidados e assistência de 
enfermagem aos idosos que nelas residem. 
A Constituição Federal do Brasil20 reza que 
é obrigação dos filhos darem assistência aos 
pais. Contudo, esses direitos ficam no papel. 
Estudos feitos pelo Instituto Brasileiro de 
Ciências Criminais, com base nas ocorrências 
registradas pela Delegacia de Proteção ao 
Idoso de São Paulo em 2000, revelaram que 
39,6% dos agressores eram filhos das vítimas, 
20,30% seus vizinhos e 9,3% outros familiares. 
As ocorrências com maior frequência foram 
ameaças, seguidos de lesão corporal e de 
calunia e difamação.11 
Levando-se em conta o aumento do número 
de idosos no Brasil e a ocorrência de vários 
problemas relacionados ao comprometimento 
da qualidade de vida e saúde desta 
população, são necessárias providências que 
viabilizem maior acesso a serviços de saúde e 
a cuidados de enfermagem nas áreas 
ambulatorial, comunitária e domiciliária. 
Nesse contexto, a assistência de enfermagem 
ao idoso deve prezar pela promoção da 
qualidade de vida, considerando os processos 
de perdas próprias do envelhecimento e as 
possibilidades de prevenção, manutenção e 
reabilitação de seu estado de saúde.21 
 
Por mais difícil que possa parecer, não se 
deve emitir juízos de valores morais, 
culturais, éticos, nas situações de cuidar, no 
âmbito da enfermagem, que envolvam maus 
tratos a idosos ,embora, involuntariamente, 
eles se manifestem na forma de pensamentos 
prestes a se expressar em atos e palavras. 
Afinal, enfermeiros são humanos e, quando 
cuidam de pessoas com esse histórico, agem 
como se estivessem cuidando de seus pais, 
mães, avós, entre outros entes familiares e 
pessoas significativas. 22 
Então, há que se buscar equilíbrio para não 
se abater e se deixar levar pela força do 
emocional, agindo com prudência, sabedoria, 
maturidade e imparcialidade, posto que para 
cuidar, nesses casos, é fundamental controle 
dos impulsos humanos. Cuidar de idosos 
vítimas de maus tratos requer do enfermeiro 
autocontrole suficiente para se manter 
imparcial e atender às necessidades da 
pessoa, em primeiro lugar. As outras 
dimensões da ocorrência devem ser 
enfrentadas com a mesma postura 
profissional, porém, cada qual em seu tempo. 
O planejamento da assistência e cuidados 
de enfermagem aos idosos que sofrem maus 
tratos em casa deve ser elaborado de forma a 
envolver efetiva rede de enfermeiros e 
equipes que atuam nas mais diversas esferas, 
priorizando seu dimensionamento nas 
comunidades, sobretudo, com ênfase na 
competência da Estratégia Saúde da Família 
(ESF), para que não ocorra ruptura das 
intervenções junto com os membros da família 
e que seja assegurada avaliação sistemática e 
monitoramento das atitudes do agressor. 
Como escudos dessa carga emocional 
desumana, recebemos idosos com as mais 
diversas histórias para justificar as lesões 
decorrentes dos maus tratos praticados por 
filhos, netos, noras, genros, cuidadores, entre 
outros, frequentemente, amedrontados de 
que a ocorrência ganhe dimensões legais por 
temer represálias ainda maiores no retorno ao 
convívio com seus agressores. 
A experiência e o significado que cada 
enfermeiro atribui a sua prática representam 
a sua individualidade, com expressão de 
valores éticos e morais que constituem o seu 
exercício profissional e que levam a 
desenvolver-se, a exercer a enfermagem por 
competência, a ter a consciência de si e do 
outro, a vencer os percalços que limitam a 
prática de cuidar para melhor lidar com as 
decisões e escolhas, a cercar-se de segurança 
e legalidade ética, e a assumir as novas 
exigências de atuação da enfermagem nos 
diversos campos de prática contemporâneos 
com alteridade. 
 
1. Marin MJS, Amaral FS, Martins IB, Bertassi 
VC. Identificando os fatores relacionados ao 
diagnóstico de enfermagem "risco de quedas" entre 
idosos. Rev bras enferm [Internet]. 2004 Sept/Oct 
[cited 2012 Oct 10];57(5):560-4. Available from: 
http://www.scielo.br/pdf/reben/v57n5/a09v57n5.
pdf 
2. Parker C, Teel C, Leenerts MH, Macan A. A 
theory-based Self-Care Talk intervention for family 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
REFERÊNCIAS 
Machado WCA, Figueiredo NMA, Miranda RS de et al. Violência doméstica contra idosos: reflexos... 
Português/Inglês 
Rev enferm UFPE on line., Recife, 7(12):6936-41, dez., 2013 6941 
DOI: 10.5205/reuol.2950-23586-1-ED.0712201329 ISSN: 1981-8963 
caregiver-nurse partnerships. J Gerontol Nurs. 
2011 Jan; 37(1):30-5. 
3. Turner JT, Lee V, Fletcher K, Hudson K, Barton 
D. Measuring quality of care with an inpatient 
elderly population. The geriatric resource nurse 
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Submissão: 06/01/2013 
Aceito: 28/10/2013 
Publicado: 01/12/2013 
Correspondência 
Wiliam César Alves Machado 
Universidade Federal do Estado do Rio de 
Janeiro/UNIRIO 
Rua Silva Jardim, 5 – Centro 
CEP: 25805160  Três Rios (RJ), Brasil

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