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A diferenca entre culpa consciente e dolo eventual

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A diferença entre culpa consciente e dolo eventual 
Preliminarmente, ressalta-se que, por se tratar de distinção teoricamente relevante, mas de caráter complexo e difícil na prática, necessário se torna, para fins didáticos, fazer breve e objetiva diferenciação entre a culpa consciente e inconsciente, bem assim do dolo direto do eventual. Nesta senda, sintetiza Guilherme de Souza Nucci (2012, p. 248):
Culpa inconsciente: significa que o agente tem a previsibilidade (possibilidade de prever) do resultado, mas na prática não o previu (ausência de previsão);
Culpa consciente: significa que o agente tem não somente a previsibilidade do resultado, mas a efetiva previsão (ato de prever) do resultado, esperando sinceramente que não aconteça;
Dolo eventual: significa querer um determinado resultado, vislumbrando a possibilidade de atingir um outro, que não deseja, mas lhe é possível prever, assumindo o risco de produzi-lo;
Dolo direto: significa querer a ocorrência do resultado típico sem tergiversação na vontade.
Isto posto, infere-se que a culpa consciente e o dolo eventual são figuras limítrofes entre o dolo e a culpa em sentido amplo, haja vista que “em ambas as situações o agente tem a previsão do resultado que sua conduta pode causar, embora na culpa consciente não o admita como possível e, no dolo eventual, admita a possibilidade de se concretizar, sendo-lhe indiferente” (NUCCI, 2012, p. 247).
Assim, a distinção se encontra no plano volitivo, ou seja, se assume ou não o risco de produzir o resultado, e não apenas no plano intelectivo ou cognitivo do agente, pois em ambas as figuras há a previsão concreta do evento danoso resultante da conduta anteriormente perpetrada.
Outrossim, por ser praticamente impossível comprovar o que se passou especificamente na cabeça do autor no momento da infração penal, isto é, se assumiu o risco ou se acreditou firmemente que referido evento não se realizaria, é de sine qua non importância a análise das circunstâncias que envolveram o contexto fático. Exemplos:
‘A’, com a capacidade motora efetivamente alterada em razão da ingestão de bebidas alcóolicas, conduzindo seu veículo em alta velocidade e desrespeitando o sinal luminoso do semáforo (vermelho), cruza a via e colide com uma motocicleta, causando instantaneamente o óbito do condutor desta.
‘B’, com a capacidade motora efetivamente alterada em razão da ingestão de bebidas alcóolicas, conduzindo o seu veículo em velocidade levemente acima do compatível com a via que estava e respeitando o sinal luminoso do semáforo (verde), colide com uma motocicleta, causando instantaneamente o óbito do condutor desta.
Pois bem, compulsando os contextos acima reproduzidos, traz-se que os indivíduos ‘A’ e ‘B’, embora tenham conduzido o veículo sob a influência de álcool e mesmo não direcionando suas condutas ao resultado morte (“matar alguém”), comportaram-se de forma totalmente diferente: 1) ‘A’ optou por conduzir o veículo em alta velocidade e, em seguida, efetuou cruzamento com o sinal vermelho, circunstâncias que dão indícios de o autor ter assumido o risco de produzir o resultado (dolo eventual), 2) Por sua vez, ‘B’ preferiu dirigir seu veículo em velocidade levemente acima do permitido e respeitando os sinais de trânsito, o que pode indicar, em tese, que acreditava veemente na não ocorrência do evento (culpa consciente).
A família Endireitados espera que tenham gostado da coluna de hoje e lhes deseja bons estudos para o Exame de Ordem e outras provas. Para dúvidas e sugestões, segue e-mail: richardlucaskondo@gmail.com. Até a próxima, Endireitandos!
Referência: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal: parte geral: parte especial. 8 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012

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