Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
BIANCA MARINELLI – DIREITO PENAL 2º TERMO Imputação Objetiva FATO TÍPICO Fato típico é composto da ação, resultado, nexo de causalidade e tipicidade. Segundo a teoria finalista da ação, a ação é uma atividade consciente dirigida pela finalidade. O homem pode prever, dentro de certos limites, as consequências possíveis de sua atividade. Segundo a teoria naturalística, adotada pelo Código Penal, o resultado é a modificação do mundo exterior produzida pela conduta do agente. Art. 13 CP: O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. O nexo de causalidade é o vínculo, elo, ligação, conexão entre a conduta e o resultado produzido no mundo real. Sem ele não tem como imputar o resultado a alguém. O resultado é imputável a quem deu causa a ele. Adota-se a teoria de equivalência entre antecedentes causais (conditio sine qua non), que propõe que tudo aquilo que de alguma forma contribui para alcançar o resultado é considerado causa e que todos os antecedentes causais são equivalentes, nenhum elemento de que depende a sua produção pode ser excluído da linha de desdobramento causal. O inconveniente do sine qua non é o regressus ad infinitum, uma coisa causa a outra, que causa outra infinitamente. Para resolver esse problema faz-se uma limitação da amplitude por meio do dolo e da culpa, a partir de qual causa há esses dois fatores. § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam- se a quem os praticou. É uma exceção que ameniza o rigorismo do art. 13, caput. Exemplo: João fere mortalmente Maria, que vem a morrer em razão de um acidente automobilístico com a ambulância. O acidente é a causa relativamente independente superveniente, exclui desse a imputação do resultado morte e é imputado fato anterior (lesões ou tentativa de homicídio). BIANCA MARINELLI – DIREITO PENAL 2º TERMO IMPUTAÇÃO OBJETIVA Teoria da imputação objetiva: Objeto de suprir as múltiplas deficiências que a causalidade material encerra, resolver do ponto de vida normativo a atribuição de um resultado penalmente relevante a uma conduta. Por meio da imputação objetiva há uma reconstrução do nexo de causalidade, pois este passa a ser mais do que causalidade física, acrescenta-se a imputação objetiva. Para saber se um resultado pode ser imputado a alguém: 1. Determinar a relação de causalidade nos termos do art. 13, caput. 2. Verifica a hipótese do art. 13, § 1º. 3. Analisa a imputação objetiva, restrição da causalidade material. Imputação objetiva seria critérios de atribuição objetiva de lesão de um bem jurídico a alguém, que se baseiam em: risco permitido, risco proibido, incremento do risco permitido e finalidade protetiva da norma. Um resultado causado por um agente só pode ser imputado ao tipo objetivo se a conduta do autor tiver criado um perigo para o bem jurídico não coberto por um risco permitido e esse perigo tiver se materializado no caso concreto (resultado). A sua natureza jurídica é um elemento normativo do tipo, seja crime doloso ou culposo. Seu efeito é a atipicidade do fato. Se difere da responsabilidade objetiva, na qual é a imputação de uma responsabilidade sem dolo e sem culpa. Exemplo: caso fortuito. Risco permitido é o risco tolerado, afasta imputação, excludente de tipicidade. São fatos relacionados com lex artis, comportamentos praticados com a estrita observância das regras técnicas de determinada atividade, como a medicina ou engenharia. São exemplos de normas jurídicas que autorizam comportamentos perigosos as regras de trânsito de veículos, práticas desportivas, atividades industriais, construção de uma ponte e cirurgia cardíaca. São exemplos de fatos socialmente adequados os passeios de lancha, caminhar por uma montanha e levar alguém para comer baiacu. Risco proibido é aquele a partir do qual a conduta adquire relevância penal. Exemplo: Dirigir com velocidade incompatível, “racha”, passar no sinal vermelho, agir com imperícia. Requisitos da imputação objetiva: a) Criação de um risco juridicamente desaprovado e relevante ao bem jurídico. BIANCA MARINELLI – DIREITO PENAL 2º TERMO b) Repercussão do risco no resultado. O resultado tem que ser causado em resultado do risco criado. c) O alcance do tipo incriminador abrange o gênero de resultado produzido. Exemplo: X mata Y e a mãe de Y morre de ataque cardíaco ao receber a notícia. Apesar da conduta de X ter dado causa do resultado morte da mãe (tudo aquilo que deu causa ao resultado, conditio sine qua non), o tipo de risco causado por X em relação a mãe de Y não é alcançado pelo tipo incriminador em questão. Princípios: a) Princípio geral de imputação objetiva: Criação pela ação humana de um risco juridicamente desvalorado, consubstanciado em um resultado típico. b) Princípio da confiança: Na vida em sociedade, as pessoas não podem ser obrigadas a sempre desconfiar dos outros, supondo constantemente que as demais pessoas não cumprirão seu papel social. Justamente por isso, haverá exclusão da responsabilidade penal quando alguém agir confiando que outrem cumprirá o seu papel. Exemplo: Motorista acredita que o pedestre não vai atravessar com o sinal aberto. c) Princípio da proibição do regresso: Um comportamento lícito não permite que se imputem objetivamente a quem o praticou atos subsequentes de terceiros. Exemplo: Motorista de táxi conduz um passageiro até o seu destino, não poderá ser responsabilizado pelas atitudes de outrem (ainda que criminosas), mesmo que tenha tomado conhecimento delas no trajeto. Exemplo: VIII Exame OAB Unificado — setembro/2012). José conversava com Antônio em frente a um prédio. Durante a conversa, José percebe que João, do alto do edifício, jogara um vaso mirando a cabeça de seu interlocutor. Assustado, e com o fim de evitar a possível morte de Antônio, José o empurra com força. Antônio cai e, na queda, fratura o braço. Do alto do prédio, João vê a cena e fica irritado ao perceber que, pela atuação rápida de José, não conseguira acertar o vaso na cabeça de Antônio. Com base no caso apresentado, segundo os estudos acerca da teoria da imputação objetiva, as‐ sinale a afirmativa correta: a) José praticou lesão corporal culposa. b) José praticou lesão corporal dolosa. c) O resultado não pode ser imputado a José, ainda que entre a lesão e sua conduta exista nexo de causalidade. d) O resultado pode ser imputado a José, que agiu com excesso e sem a observância de devido cuidado. R: De acordo com a teoria da imputação objetiva, o agente não responde pelo resultado por que sua conduta diminuiu o risco produzido por terceiro ao bem jurídico (evitou um homicídio). BIANCA MARINELLI – DIREITO PENAL 2º TERMO Causalidade = Causalidade física (art. 13, caput) + Imputação Objetiva. C = Cf + Io Critérios: a) Diminuição do risco. Exemplo: A atira uma pedra na direção da cabeça de B, com intenção de matá-lo. O arremesso, pela forma de execução, é mortal. C desvia a pedra com as mãos, vindo esta atingir D, causando-lhe lesões corporais. A responde por tentativa de homicídio. E quanto a C? Seria justo incriminá-lo? Deve ser isento de responsabilidade? Atipicidade por falta de dolo, exclusão de tipicidade do fato em face de ausência de imputação objetiva ou incidência de causa de justificação? A ação do C tem causalidade física, mas não tem imputação objetiva quando o sujeito age com o fim de diminuir o risco de maior dano ao bem jurídico. O agente causa um dano menor ao objeto jurídico para lhe evitar um maior. Não cria e nem aumenta o perigo juridicamente reprovável à objetividade protegida. Ao contrário, atua para reduzir a intensidade do risco de dano. Efeito de atipicidade da conduta, por faltade imputação objetiva. b) Criação ou não de um risco juridicamente relevante. Exemplo: O sobrinho, querendo matar o tio para receber uma herança, compra-lhe uma passagem de avião para as Bahamas. O avião sofre uma pane, cai e o tio morre. O sobrinho responde pelo crime? No caso, estariam presentes, no fato típico, o comportamento doloso, o resultado (morte do tio), o nexo de causalidade (entre a indução e o evento) e a tipicidade. E, ausente causa excludente da antijuridicidade, o sobrinho responderia por homicídio doloso. Porém, em todos os casos nos quais a ação não tenha criado um risco juridicamente relevante de lesão para um bem jurídico não se pode falar em fato típico. c) Aumento do risco permitido. Exemplo: A, industrial, infringindo o dever de cuidado, entrega a seus trabalhadores matéria prima não desinfetada para manejo, o que provoca a morte de quatro deles. Ao depois, constata-se que tampouco a desinfecção aconselhada teria eliminado a possibilidade de as mortes virem a ocorrer. Só existe imputação objetiva quando a conduta do sujeito aumenta o risco já existente ou ultrapassa os limites do risco juridicamente tolerado. Em casos como esse, cumpre afirmar a imputação objetiva do resultado quando a conduta do agente, ao inobservar o dever de cuidado, dá lugar a um incremento do risco permitido. Ao desatender o cuidado devido, o empresário aumentou a esfera do risco permitido, o que possibilita a imputação objetiva do resultado. BIANCA MARINELLI – DIREITO PENAL 2º TERMO d) Âmbito de proteção da norma. Exemplo: A mãe da vítima de um crime de latrocínio, quando tem notícia do fato, sofre um ataque cardíaco e morre. A segunda morte (a morte da mãe da vítima do latrocínio) pode ser imputada ao latrocida? A segunda morte não pode ser atribuída ao latrocida, que só responde pelas lesões jurídicas imediatamente produzidas pelo perigo advindo da conduta. A morte da mãe não se encontra no campo de proteção da norma incriminadora que define o latrocínio. Não há imputação objetiva quando a extensão punitiva do tipo incriminador não abrange o gênero de risco criado pelo sujeito ao bem jurídico. e) Compreensão do resultado no âmbito de proteção da norma. Exemplo: “A”, policial, sabe que sua namorada “B” tem intenções de suicidar- se e, descuidando-se, deixa uma arma no banco do seu carro. “B” aproveita a oportunidade para disparar contra si e matar-se. A norma que proíbe matar não alcança a produção do resultado morte em se tratando de possíveis suicidas maiores de idade. Assim, apesar da conduta de “A” ter gerado uma situação de perigo, o resultado morte produzido não se encontra compreendido pela esfera de proteção da norma. “A”, policial, sabe que sua namorada “B” tem intenções de suicidar-se e, descuidando-se, deixa uma arma no banco do seu carro. “B” aproveita a oportunidade para disparar contra si e matar-se. A norma que proíbe matar não alcança a produção do resultado morte em se tratando de possíveis suicidas maiores de idade. Assim, apesar da conduta de “A” ter gerado uma situação de perigo, o resultado morte produzido não se encontra compreendido pela esfera de proteção da norma. Princípio da autonomia da vítima. Exemplo: “A”, dirigindo de forma imprudente, ocasiona um acidente. “B”, ferido nessa oportunidade, é levado a um hospital e morre em razão de uma intervenção cirúrgica realizada com imperícia pelo médico “C”. Ao ser o paciente conduzido ao hospital e atendido pelo médico entra na esfera de responsabilidade deste último, que cria e realiza um risco para sua vida (cumpre ressaltar que na hipótese mencionada o acidente não gerou um risco para a vida do transeunte e sim a intervenção médica. Trata-se de um caso similar aos englobados nas hipóteses de desvio de cursos causais. Atribuição do resultado a diversos âmbitos de responsabilidade. A intervenção cirúrgica realizada com imperícia é uma causa superveniente de fato relativamente independente que por si só ocasiona o resultado. Há nexo de causalidade físico, mas a lei exclui imputação, ameniza o rigorismo da conditio sine qua non. Pode ser resolvido também com a imputação objetiva ao invés da superveniência de causa relativamente independente. A responsabilidade do A se estende até o resultado/lesões que ele causou por imprudência, o resultado morte não pode ser imputado a ele pois inexiste imputação objetiva. BIANCA MARINELLI – DIREITO PENAL 2º TERMO f) A realização do plano do autor. Críticas: A pessoa humana fica em segundo plano. O homem dirige sua conduta com uma determinada finalidade. Em primeiro plano fica o aspecto subjetivo, e não a imputação objetiva. O importante é elaborar critérios de atribuição de algo, no caso um resultado, a alguém, independentemente do conteúdo da vontade do sujeito da imputação. Não é possível determinar o sentido social de uma ação sem examinar qual é o conteúdo da vontade do autor. A unidade causal final de sentido da ação é desprezada, passando-se a enfatizar somente a parte causal, restringida por critérios objetivos-normativos de imputação. O sentido social de uma conduta depende, fundamentalmente, da concorrência de dois fatores, que o sujeito, fazendo uso de sua capacidade intelectual, deve ter aceitado o possível sentido que os elementos objetivo-causais apresentam no mundo físico. O tipo subjetivo é anterior ao tipo objetivo, sendo imperioso que se parta do tipo subjetivo para se saber qual o tipo objetivo efetivamente realizado, visto que este último não se trata de mera causação de um evento no mundo exterior, mas produto de uma ação finalista controlada e dirigida pelo sujeito, revelando-se então a proeminência do tipo subjetivo na determinação do sentido social típico da conduta.
Compartilhar