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65 Unidade VII - Teoria Cinética dos Gases 1. Situando a Temática Até agora tratamos as propriedades da matéria em termos de energia térmica sob o ponto de vista macroscópico, estudando a pressão, o volume e a temperatura. Entretanto, um gás é composto de átomos ou moléculas. A pressão de um gás deve estar relacionada com as colisões das suas molécula com o recipiente que o contém. A capacidade de um gás em ocupar um recipiente – volume - deve estar ligada à liberdade de movimento das moléculas. Por outro lado, a temperatura e a energia térmica de um gás devem estar relacionadas à energia cinética destas moléculas. A descrição macroscópica está intimamente relacionada com a descrição microscópica. Por exemplo, a pressão atmosférica é igual a 10 5 Pa em condições normais. Para produzir esta pressão, cerca de 10 32 moléculas colidem com anteparos na terra. 2. Problematizando a Temática Nesta unidade, usaremos descrições macroscópicas e microscópicas para compreender as propriedades térmicas da matéria. Daremos enfoque ao estudo dos gases ideais. Esses gases não são reais mas devido à complexidade das propriedades em um caso realístico optamos por começar com este caso mais simples. Gases assumem papel importante no tratamento de processos termodinâmicos. Aqui seguiremos as seguintes hipóteses: - o número de moléculas é ‘grande’. - o gás é diluído, isto é, tende ocupar os espaços. - as moléculas são tratadas como objetos pontuais. - as moléculas obedecem as leis de Newton. fig. VII.1. Nesse processo, a pressão em um gás aumenta e o volume diminui. Isto é, a colisão de suas moléculas deve aumentar, sua energia cinética aumenta e diminui a liberdade de movimento das moléculas. 66 - as moléculas se movem aleatoriamente. - as moléculas não interagem, exceto quando colidem. - supomos as colisões elásticas. Denominamos variáveis de estado as variáveis que indicam o estado do material, como volume, massa, temperatura e pressão. A relação entre essas variáveis pode ser expressa através de uma equação chamada: equação de estado. 3. Equação do Gás Ideal Um mol é definido como 231002,6 de partículas, que podem ser elétrons, átomos, moléculas, etc. Nós dizemos que 12 g de carbono é um mol de carbono. O carbono tem 6 prótons e 6 nêutrons. A massa atômica do carbono é 12. Isto significa que 12 g de carbono contém 231002,6 átomos, chamado número de Avogadro. Moléculas são agrupamentos de átomos, a massa molecular é a soma das massas atômicas da molécula. Experimentalmente é encontrado que a pressão, volume e temperatura absoluta (K) de um gás ideal obedecem aproximadamente a seguinte equação de estado, chamada lei dos gases ideais: nRTpV eq. VII. 1 onde n é o numero de mols do gás e R = 8,31 J/K, a constante dos gases ideais. 4. O Conceito de Pressão e Temperatura do Ponto de Vista Molecular Vamos deduzir uma expressão para a pressão devido a um gás ideal. Considere N moléculas contidas em um recipiente (cubo) de lado L, com os limites alinhados aos eixos x, y, z. Uma molécula movendo-se ao longo de x com velocidade xv colidirá elasticamente com uma parede e vem de volta com uma velocidade - xv . Seu momentum mudará de xmv para - xmv , uma resultante de -2 xmv . Depois de bater na parede, a molécula volta numa direção oposta e bate na parede oposta e volta a bater na primeira parede uma segunda vez. Ela viaja uma distância 2L na direção x e isso gasta um tempo 2L/ xv , tempo entre as colisões com a primeira parede. A força exercida sobre a molécula pela parede, pela secunda lei de Newton: F’ = L mv vL mv tempomudança momentummudança x x x 2 /2 2 . Pela terceira lei de Newton, a força exercida sobre a parede pela molécula é F = -F’. A força total exercida sobre a parede é a soma das forças exercidas por cada molécula, F )...( 221 Nxx vvL m . 67 Mas o valor médio de 2xv para N moléculas é )...(1 221 2 Nxxx vvN v . Então, F L Nmvx 2 Se uma molécula tem componentes da velocidade zyx vvv ,, , então pelo teorema de Pitágoras, 2222 zyx vvvv , e os valores médios estão relacionados por 2222 zyx vvvv Como o movimento é aleatório, 2 xv = 2 yv = 2zv = 3 1 2v A força total sobre a parede é, F = )( 3 2 L vmN A pressão sobre a parede é p = 2L F A F , ) 2 1)(( 3 2 2vm V Np eq. VII. 2 Isto é utilizado para definir a constante de Boltzmann, 231038,1 Bk J/K, onde R = N A Bk . A lei do gás ideal e a eq. VII. 2 nos leva a ) 2 1( 3 2 2vm k T B eq. VII. 3 Este resultado nos diz que a temperatura absoluta de um gás é proporcional à energia cinética molecular. 2 xv = 2 yv = 2 zv = 3 1 2v , assim m 2 1 2 xv = m2 1 2 yv = m2 1 2 zv = 3 1 ( m 2 1 2v ) = 2 1 TkB Esta última equação ilustra o chamado teorema da equipartição da energia que nos diz que cada grau de liberdade de um gás contribui com uma quantidade de energia 2 1 TkB para energia interna total. Um grau de liberdade é um movimento independente que pode contribuir para energia total do sistema. Por exemplo, o grau de liberdade de uma molécula está associado com a rotação e vibração da molécula A energia interna total de n mols de um gás monoatômico com 3 graus de liberdade é nRTTNvmTNE 2 3k 2 3) 2 1(k B 2 B eq. VII. 4 A eq. VII. 3 pode ser resolvida para encontrarmos a raiz quadrada da velocidade quadrada média molecular, 68 MRTmTv /3/3k B 2 eq. VII. 5 Onde BAkNR e mNM A = massa molar em gramas e m = massa de uma molécula. Note que essa raiz quadrada da velocidade quadrada média é uma velocidade média, e que algumas moléculas se movem com mais ou menos velocidade. Nessa discussão supomos as moléculas como partículas pontuais. Se formos mais realistas podemos supor as moléculas como esferas de diâmetro d e assim possível calcular ao livre caminho médio entre as colisões das moléculas. Isto é, a distância média percorrida entre duas colisões sucessivas. Usando uma abordagem estatística nos leva a pNd RT VNd A 22 2/2 1 eq. VII. 6 5. A Distribuição de Maxwell-Boltzmann As moléculas em um gás se propagam em uma ampla faixa de velocidades. Usando-se métodos da mecânica estatística podemos chegar ao número de partículas dN em um gás com velocidade entre v e v + dv, dN = Nf(v)dv, onde Tkmv B Bev k mvf 2/22 3 2 ) 2 (4)( eq. VII. 7 f(v) é a função de distribuição de Maxwell-Boltzmann, N é o número de partículas do gás de massa m. A fig. VII. 2 mostra a função de distribuição para três temperaturas. Note que a unidade de f(v) é s/m. A velocidade mais provável é aquela que corresponde ao pico da distribuição, onde df/dv = 0. O resultado é M RT m Tkv Bmp 22 eq. VII. 8 Onde M = N A m é a massa molar. Através da distribuição podemos calcular também a velocidade média, M RT m Tkdvvvfv B 88)( 0 eq. VII. 9 fig. VII.2. Função de distribuição para temperaturas, 1T > 2T > 3T . 69 A velocidade quadrada média é dada por, M RT m Tkdvvfvv B 33)( 0 22 eq. VII.10 6. Calor Específico de um Gás O calor específico molar de um gás é a quantidade de calor necessária para aumentar a temperatura de um mol por 1 o C. Considere 1 mol de um gás ideal monoatômico a volume constante. A energia interna do gás é dada, paran = 1, E = 3/2 RT. Teremos o calor específico, vC , a volume constante, n ,ETCv n = 1; .2/3/ RTECv Então, a volume constante para este gás monoatômico, RC v 2 3 eq. VII.11 Caso o gás não seja monoatômico e tem f graus de liberdade, cada grau de liberdade contribui com ½ R T para a energia interna e assim C v = fR/2. O gás se expande quando calor é adicionado a um recipiente que o contém e o volume não é mantido constante. Imagine um gás contido em um cilindro, dentro tem um pistão com um peso em cima, como mostra a fig. VII. 3. O pistão mantém uma pressão constante sobre o gás. Como o gás expande, ele puxa o pistão para cima e realiza um trabalho sobre ele. Se a área da base do pistão é levantada uma distância dx, o trabalho realizado pelo gás é dW = Fdx = PAdx = FdV, onde o volume cresce dV = Adx e P = F/A. Usando conservação de energia, dQ = dE + dW = dE + pdV Daí podemos escrever dQ/dT = dE/dT + dW/dT = dE/dT + pdV/dT. O calor específico molar é então, pC dQ/dT. Da lei dos gases ideais dE/dT = 3R/2. Logo, para um gás monoatômico, 2 5 2 3 RRRC p eq. VII.12 Para um caso geral, isto é, para um gás ideal qualquer, vp CCR eq. VII.13 Para um gás diatômico teremos RCv 2 5 e RC p 2 7 . fig. VII. 3. Cilindro com um pistão interno e um peso em cima do pistão. 70 7. Processos Adiabáticos Um processo adiabático em um gás é aquele em que nenhum calor é trocado para fora ou para dentro do recipiente que contém este gás. Este processo pode ser obtido mudando o volume rapidamente ou por manter o recipiente bem fechado de forma que somente uma quantidade muito pequena de calor pode ser trocada. Se o volume do gás cresce por dV, o trabalho realizado pelo gás sobre um pistão imaginário é dW = pdV. O calor absorvido é zero e assim a mudança de energia do gás é dE = -dW = -pdV, onde dE pode ser expressa em termos de mudança de temperatura. Daí encontramos p dp V dV , onde v p v v C C C CR e da equação anterior encontramos uma equação que relaciona p com V .constpV eq. VII.14 e ).(1 adiabáticaconstTV eq. VII.15 Podemos estudar os gráficos de p versus V para o caso adiabático sem fluxo de calor, isto é, Q = 0 e constpV . Para o caso isotérmico pV = nRT = const. Exercícios Resolvidos Exemplo VII. 1 Um compressor de ar usado para fazer pinturas em automóveis tem um tanque de capacidade 0.40 m 3 que contem ar a uma temperatura de 27 0 C a 6 atm. Quantos mols de ar têm no tanque? Solução: moles RT pVn 5,97 30031,8 4,010013,16 5 Exemplo VII. 2 Um pequeno vaso de de volume V contém um gás ideal a 300 K e 5 atm. Esse vaso é conectado a um vaso de volume 6V que contém o mesmo gás a uma pressão de 1 atm e 600 K. A temperatura de cada vaso é mantida constante.Qual será a pressão final em cada vaso, após a mistura? Solução: 1 11 1 RT Vpn e 2 22 2 RT Vpn 71 No final ppp 21 e 1 1' 1 RT pVn e 2 2' 2 RT pVn e assim '2 ' 121 nnnn , note que 216 VV , logo, p = 5,3 atm. Exemplo VII. 3 22106 moléculas de um gás ideal são armazenados em um tanque de 0,5 atm a 37 0 C. Determine a pressão em pascal e a temperatura em Kelvin, o volume do tanque e a pressão quando a temperatura aumenta para 152 0 C. Solução: 33101,5 m p RT N N p nRTV A , então, atmp V nR T p T p 69,01 2 2 1 1 . Exemplo VII. 4 O melhor vácuo que se atinge no laboratório é cerca de 18105 Pa a uma temperatura de 293 K. Quantas moléculas possui por centímetro cúbico desse vácuo? Solução: 333 /102,11240 cmm TR pN V N p RT N N p nRTV A A . Exemplo VII. 5 O gás hélio com massa molar 4 g a 330 K tem raiz quadrada da velocidade quadrada média molecular é 1350 m/s. Qual a raiz quadrada da velocidade quadrada média molecular do oxigênio com massa molar 32 g a essa temperatura? Solução: A relação entre as velocidades do oxigênio e hélio é: 35,0 /3 /3 He O mRT mRT Assim, raiz quadrada da velocidade quadrada média molecular do oxigênio é igual a 0,35 da do hélio, isto é, 0,35 1350 m/s = 472,5 m/s. Exemplo VII. 6 Gás argônio tem um diâmetro de aproximadamente 10101,3 m e é usado em um recipiente de laboratório, mantido a uma temperatura de 300 K. Qual a pressão que devemos empregar para evacuar o gás de forma que o livre caminho médio seja de 1cm. Solução: pNd RT VNd A 22 2/2 1 , atmp 15103 Exemplo VII. 7 Uma sala está bem isolada e possui 120 m 3 de ar. O ar da sala está a uma temperatura de 21 0 C. Quanto de calor devemos adicionar ao ar de forma que a temperatura aumente de 1 0 C. 72 Solução: TnCQ v , onde: RT pVn , RCv 2 5 , logo 51006,2 Q J Exemplo VII. 8 Dois mols de ar, vC = 5R/2, a uma temperatura de 300 K, estão contidos em um pistão pesado dentro de um cilindro de volume 6 L. Se o 5,2 kJ de calor é adicionado ao ar, qual será o volume resultante de ar? Solução: TnCQ p , onde RCC vp KTTTnRQ 389)(72 1 212 22 nRTpV e 11 nRTpV , teremos LVT TV 8,71 1 2 2 Exemplo VII. 9 Durante a compressão de uma máquina de combustão interna, a pressão muda adiabaticamente de 1 para 18 atm. Supondo que o gás é ideal e tem 4,1 , por qual fator a temperatura muda? Qual o fator de mudança do volume? Solução: 1 /1 1 2 22211 13,0 Vp pVVpVp Usando que ,nRTpV encontramos uma relação entre as temperaturas. 12 3,2 TT . Exercícios Propostos Exercício VII. 1 Um motorista começa uma viagem em uma manhã fria quando a temperatura é de 4 0 C. Em um posto, ele checa a pressão no pneu de 32 psi + 15 psi (1 atm), onde 15 psi é a pressão atmosférica. Depois de rodar o dia todo, a temperatura do pneu subiu para 50 0 C. Supondo que o volume é constante, qual a pressão que o ar do pneu tem aumentado? Resposta: 54,8 psi Exercício VII. 2 A temperatura e pressão padrão de um um gás é definida como 0 0 C ou 273 K e 1 atm ou 1,013 10 5 Pa. Qual o volume que um mol de gás ideal ocupa? Resposta: 22,4 L. Exercício VII. 3 Quantas moléculas tem em 1 cm 3 de hélio a uma tempertura de 300 K? Resposta: 2,410 19 73 Exercício VII. 4 Qual a raiz quadrada da velocidade quadrada média molecular de uma molécula de nitrogênio no ar a uma temperatura de 300 K? A massa atômica do nitrogênio é 14. Resposta: 517 m/s Exercício VII. 5 Estime o livre caminho médio de uma molécula de ar a 273 K e uma pressão de 1 atm, supondo que ela é uma esfera de diâmetro 410 10 m. Estime também o tempo médio entre as colisões para uma molécula de nitrogênio sob essas condições. (use a velocidade do exercício VII.4) Resposta: 5,210 8 m t = 10 10 s Exercício VII. 6 4 mols de argônio estão contidos em um cilindro a uma temperatura de 300 K. Quanto de calor deve ser adicionado para aumentar a temperatura a 600 K a volume constante? E a pressão constante? Resposta: 1,510 4 J e 2,5 10 4 J. Exercício VII. 7 O gás hélio a uma temperatura de 400 K e 1 atm é comprimido adiabaticamente de 20 para 4 L. Qual a temperatura final e pressão? Resposta: 1170 K e 14,6 atm
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