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Capítulo I
A China molda o mundo
A história se repete na economia, mas não no mesmo lugar: as Províncias Unidas (atualmente Países Baixos) foram o primeiro canteiro industrial do mundo no século XVII. Sua criatividade, alicerçada em uma educação básica amplamente abrangente, seu poderio naval e seu engenho financeiro as levou aos quatro cantos do mundo. A Inglaterra foi a sucessora durante mais de dois séculos, impondo ao resto do mundo suas mercadorias, sua moeda e também sua supremacia naval. Os Estados Unidos tomaram seu lugar em meados do século XX: a Europa, enfraquecida por duas guerras mundiais, tinha sede de dólares e necessidade de segurança que somente a América podia oferecer. O domínio norte--americano ainda provavelmente perdura, mas surge uma nova situação: a China está a caminho de tornar-se a nova potência mundial. Presente em todos os mercados, ela acumula excedentes comerciais consideráveis que lhe outorgam poder financeiro global. É capaz de investir no exterior e de emprestar dinheiro: seu crescimento, por enquanto extenso, consome tudo: energia e minerais de todos os tipos. Em Davos, já em 2006, os ricos do mundo puderam medir a ascensão do poderio chinês e lamentá-la. 
Em um artigo que se tornou célebre, Celso Furtado, economista brasileiro e ex-ministro da Cultura, enumerou as “Fontes de Poder”: grande mercado interno, base tecnológica forte, moeda sólida, exército poderoso. A China de antes das reformas da década de 1980 não era elegível para esse posto, porém o é hoje porque passou a dispor de todos os trunfos citados. Tudo isso ocorreu em 30 anos.
Em 2010, a China se tornou a segunda potência econômica mundial, deslocando o Japão do lugar que ocupava havia 45 anos. No ritmo de crescimento atual, superará a primeira colocação dos Estados Unidos por volta de 2020. A ofensiva é primordialmente comercial. O crescimento do poderio chinês no comércio mundial é notável. 
Desde 2005, a China passou ao quarto lugar nas trocas mundiais, atrás dos Estados Unidos, da Alemanha e do Japão. Esse avanço comercial é acompanhado por investimentos externos chineses crescentes nos setores de energia e de produtos de base, e pela participação maciça de empresas chinesas nos grandes mercados e obras públicas e de equipamentos das operadoras de telecomunicações no mundo. Os investimentos chineses se tornam significativos em todos os continentes; a China aumenta e diversifica suas aplicações financeiras, principalmente em termos de compra de dívidas soberanas na Europa, às quais esse país presta especialmente atenção, como se deve prestar atenção a um bom cliente. Essa nação asiática tem 7% da dívida pública norte-americana, equivalente a 800 bilhões de dólares, e cada vez maior parcela da dívida europeia, atualmente 8%. É o maior poupador do mundo, mas também o maior emprestador. A China dá conselhos públicos sobre a gestão das finanças norte-americanas a fim de proteger suas reservas em dólar. Os Tesouros europeus, clientes novos atraídos pelo baixo nível das taxas de juros, colocam títulos em instituições chinesas muito próximas ao governo. Uma zona yuan está sendo constituída em torno de Hong Kong e de Xangai, a fim de ocupar-se das operações financeiras de empresas para a China. 
Desempenhos econômicos
Na década de 2000, as economias asiáticas tiveram alta taxa média anual de crescimento, sobretudo quando comparada às taxas das décadas de 1950 a 1970. A China e a Índia apresentaram os melhores desempenhos da região, evidentemente com números mais baixos. Crises e recessões de curta duração ocorreram na maioria dos países, porém se manteve a abertura econômica em um maior número de especializações baseadas nas vantagens naturais do país, uma atração constante de investimentos diretos a fim de diversificar a economia e de reduzir seletiva e progressivamente as proteções.
Crescimento na Ásia (2006-2010)
	2006
	2007
	2008
	2009
	2010
	China
	12,7
	14,2
	9,6
	9,1
	10
	Índia
	9,3
	9,8
	4,9
	9,1
	8,6
	Indonésia
	5,5
	6,3
	6
	4,5
	5,5
	Coreia do Sul
	5,2
	5,1
	2,3
	0,2
	4,5
	Malásia
	5,8
	6,7
	4,7
	- 1,7
	5,3
O recuo do crescimento em 2009 foi pequeno, e a retomada após a crise foi substancial. Houve diversificação geográfica das exportações dos países e aumento não só da demanda asiática, mas também das dimensões do mercado interno. Se a Coreia do Sul sofreu mais com a crise, devido à sua maior exposição aos mercados norte-americano e europeu, o retorno do crescimento foi fácil para ela por causa de sua diversificação em termos de produtos e de mercados. A demanda mundial específica dirigida a esse país também teve papel estabilizador
.
Crescimento e equilíbrio na China
	2006
	2007
	2008
	2009
	2010
	Crescimento do PIB em volume
	12,7
	14,2
	9,6
	9,1
	10
	Índice de preços ao consumo
	1,5
	4,8
	5,9
	- 0,7
	3
	Equilíbrio orçamentário % PIB
	- 0,8
	0,6
	- 0,4
	- 2,8
	- 1,8
	Pagamentos correntes % PIB
	9,4
	10,6
	9,4
	6
	5,5
	Dívida externa % PIB
	11,9
	10,6
	8,3
	8,7
	-
	Reservas externas
	1.066
	1.527
	1.946
	2.400
	2.765
O crescimento econômico chinês foi forte desde o começo do século, com ligeira redução no momento da crise. A inflação permaneceu baixa durante o período, com um avanço maior em 2011. O equilíbrio orçamentário continua sob controle, apesar do programa de apoio ao crescimento concedido pelo governo em 2008, diante da crise mundial. Os equilíbrios externos são sólidos; os pagamentos correntes, com notável excedente, alimentam reservas externas crescentes, enquanto a dívida externa permanece em nível baixo
Setores e bens específicos
A inserção da China no comércio mundial ocorreu na década de 1980 por meio da exportação maciça de produtos de base, agrícolas e não agrícolas. Prosseguiu na de 1990 com produtos industriais simples, especialmente têxteis, com a primeira onda de investimentos externos provenientes da região. Até o final do século XX, a China aparecia com país “primo-emergente”, aproveitando seus recursos naturais e sua mão de obra barata, assim como antes dela haviam feito os quatro “dragões”, Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong. O país, ainda pobre em capitais, acolheu empresas estrangeiras a fim de ampliar suas possibilidades de desenvolvimento. 
A terceira fase é mais recente. A China tem poupança relevante e mercado interior crescente; necessita mais de tecnologias e de conhecimento especializado, para diversificar suas exportações, reter maior valor agregado local e satisfazer seu próprio mercado. Como o Brasil e a Índia, os chineses usaram a carta de compradores a fim de atrair investidores estrangeiros e exigir deles a transferência de tecnologias. A China soube tirar partido da presença de grandes empresas internacionais em seu território para consolidar seu lugar nos setores de alta tecnologia, dispondo também de um competente sistema local de formação e pesquisa. Passou assim da “primo-emergência” para a emergência plena e total. Alguns exemplos vindos de diferentes setores de tecnologia avançada ilustram essa política e seu êxito.
Energia: hidrocarbonetos e energia nuclear
No setor de hidrocarbonetos, as empresas chinesas progrediram rapidamente não só no interior do país, mas também no exterior. A PetroChina, segunda mais capitalizada do mundo no setor, com 500 mil assalariados e 18 mil postos de gasolina, controla 40% do mercado de carburantes do país. Desenvolve-se no mundo todo, no Canadá, na Austrália, no Iraque. O Sinopec, outro gigante, investiu recentemente 7,1 bilhões de dólares no Brasil, assim como 500 milhões de dólares no Equador. Em maio de 2010, o grupo CNOOC, terceiro ator chinês no setor, particularmente ativo além das fronteiras chinesas, comprou da British Petroleum (BP) 60% de participação na empresa Pan American Energy. A produção mundial da CNOOC deverá, assim, aumentar em cerca de 10% e aproximar-se dos 260 milhões de barris equivalentes de petróleo, enquanto suas reservas aumentaram em14%. Graças a essa transação, o total acumulado das cessões de ativos da BP chegou a 21 bilhões de dólares desde a maré negra americana, na primavera de 2010, que quase afogou a empresa. Além do investimento na Pan American Energy, a CNOOC aplicou também mais de 2 bilhões de dólares em gás não convencional nos Estados Unidos. Em 2006, ela já havia investido 2,3 bilhões de dólares em uma jazida na Nigéria. Atualmente, negocia a compra de parcelas da jazida iraquiana de Maysan, cujas reservas são estimadas em 2,5 bilhões de barris. No Sudão, uma empresa chinesa permitiu que esse país fizesse as primeiras exportações de petróleo cru, especialmente em direção à China. O petróleo sul-americano interessa às empresas petroleiras chinesas no momento em que diversas grandes firmas do ramo se retiram da Argentina. Sinochem comprou da norueguesa Staroil, por 3,1 bilhões de dólares, 40% de uma jazida situada em águas profundas brasileiras. 
Sempre fortalecendo os abastecimentos à China, os grupos chineses também aproveitam o crescimento do mercado petrolífero global, aumentando suas aquisições na escala internacional. Nesse setor, a política chinesa tem privilegiado a parceria entre operadores nacionais e grandes grupos mundiais, quase todos presentes no país. Essa parceria frequentemente combina projetos comuns no país e investimentos na esfera internacional, aproveitando as tecnologias e os recursos humanos de uns e de outros. Recentemente, a Total, ausente da China, em parceria com a CNNC, obteve licença de pesquisa e de produção em uma grande jazida de gás. As duas empresas finalizam simultaneamente uma parceria em Uganda. O desenvolvimento nuclear da China, precoce e rápido, foi lançado por Deng Xiaoping na década de 1980. Uma estratégia de cooperação diversificada, com vários parceiros, se aliou a uma importante decisão de aprendizado e de “sinização” das tecnologias
Energia nuclear na China
	Operadores
	Capacidades e datas de início de produção
	Tecnologias e parceiros
	Onze reatores em operação
	CNNC ou CGNPC
	De 300 MW a 2 x 1.000 MW Entrada em funcionamento de 1991 a 2000
	EFD e Framatome – Filão canadense 
Candu – WER russa – Areva CPR “sinizada” – Westinghouse
	Oito reatores em construção
	CNNC ou CGNPC
	2 x 1.000 MW
	Filão 
canadense Candu
EPR Areva – EDF
	Cerca de 30 reatores em fase de projeto
	CNNC ou CGNPC
	2 x 1.000 MW 
2 x 1.100 MW 
2 x 1.600 MW
	CPR “sinizada” – Westinghouse – WER russa
Os primeiros engenheiros franceses da EDF e da Framatome chegaram à China em 1984. Os primeiros reatores de tecnologia francesa foram construídos em Dayan Bay – tecnologia transformada em chinesa com a CPR “sinizada”. Mais recentemente, um contrato com a Areva previu duas fábricas de EPR. Uma tecnologia propriamente chinesa foi desenvolvida em Qishan, com uma derivada específica apoiada no filão canadense Candu. Estão sendo discutidos um contrato celebrado com os russos sobre duas fatias de tecnologia WER e dois outros contratos. Está em curso um esforço notável para desenvolver um reator HTR de alto desempenho no filão chamado “quarta geração”. 
A China, que ainda depende dos norte-americanos e franceses para fabricar reatores de terceira geração, contempla exportar os modelos mais antigos. A CNNC se estende ao mercado asiático vizinho e poderá fazer concorrência ao Japão. Esta empresa, pouco conhecida no exterior, começou as atividades de exportação ao construir dois reatores de 300 MW no Paquistão. Ela anuncia que, nos dois próximos anos, estará em condições de exportar grande número de seus reatores. Sua concorrente chinesa CGNPC encomendou dois EPR à Areva e pretende vender reatores nucleares à África do Sul. Em 2011, a China assinou um acordo com empresas francesas do ramo nuclear para a concepção, o desenvolvimento e a fabricação conjunta de um novo reator nuclear. É a primeira aventura comum entre as empresas dos dois países. Depois da catástrofe de Fukushima, em março de 2011, o governo chinês passou a submeter à auditoria todos os reatores em funcionamento e a um novo exame todos os projetos aprovados ainda não lançados, além de ter suspendido a aprovação de novos projetos. Contudo, o país não renunciará ao filão do qual, em fins de 2009, obtinha apenas 2% de sua eletricidade.
Transportes: infraestrutura e equipamentos
Na aeronáutica, o grupo Comac encerrou simbolicamente o duopólio Boeing-Airbus no mercado de aviões de mais de 150 lugares com a produção de uma centena de seu modelo C19. Os primeiros clientes são as companhias públicas chinesas. O primeiro cliente norte-americano, Gecas, pertence à General Electric, que produz juntamente com a Safran os motores do C19. A China já dispõe de 7,5 mil km de linhas férreas de alta velocidade, as LGV. Atualmente, estão sendo construídos mais de 20 mil km – e o dobro disso deve ser feito até 2020. A CNR, no norte do país, e a CSR, no sul, são as duas grandes fabricantes de material ferroviário.
Graças à transferência de tecnologia operada pela Siemens e pela Kawasaki, as duas empresas colocaram sobre os trilhos o CHR2 e o CHR3, irmãos gêmeos dos trens de alta velocidade alemão e japonês. Por haver recusado transferir as tecnologias, a francesa Alstom foi excluída do país. Os chineses estão construindo Ligas na Turquia e na Venezuela, entraram em acordos com o Brasil e a Rússia e se colocaram na Arábia Saudita e na África do Sul. Os construtores chineses estão igualmente presentes na Malásia, na Tailândia e recentemente em Gana. Finalmente, em parceria com a General Electric, os chineses constroem Ligas na Califórnia e em Nevada. Também farão a ligação de Londres à Escócia. Preços baixos e financiamento barato são seus trunfos nas concorrências. 
O colossal esforço chinês em matéria de estradas e autoestradas recorda o programa similar dirigido por Roosevelt logo após a grande crise de 1929, que permitiu enfrentar o desemprego maciço sofrido pelos Estados Unidos. Era o New Deal. Esse esforço se apoia em uma poderosa indústria de construção. Em 2010, o giro de negócios dessa indústria chegou a mil bilhões de dólares, pouco mais do que o do setor da construção nos Estados Unidos.
Estima-se que, em torno de 2020, um quinto da produção mundial do setor de construção será chinês. A construção de moradias (57% das vendas), de instalações profissionais e de infraestruturas socioeconômicas permitiu o êxito dos grupos chineses de materiais para obras públicas, levadas a cabo pelos gigantes Xugong, Zoomlion e Sany Heavy. Em 2009, a China foi responsável por 43% da produção mundial desses equipamentos, enquanto que em 2002 fabricava apenas 18%.
Telecomunicações, informática e internet
Três atores da telefonia e de equipamentos de telecomunicação, que juntos representam mais de 46 bilhões de euros, são concorrentes em um mercado muito atraente. A Huawei Technologies, empresa privada com 95 mil funcionários – dos quais 43,6 mil estão na área de pesquisa e desenvolvimento – e vendas de 16,7 bilhões de euros em 2009, causa cada vez mais preocupação aos rivais. Já é a segunda no mundo em vendas de infraestrutura de acesso móvel, atrás da Ericsson, e segue de perto a Alcatel-Lucent na telefonia fixa. Fornece equipamento a France Telecoms, Bouygues, Free e SFR.
O mercado local de informática (materiais, software e serviços) está avaliado em 37,6 bilhões de dólares e experimentou um crescimento de 1,6% em 2010. A Lenovo (22,5 mil assalariados e 13 bilhões de euros em vendas), produtora histórica de computadores, comprou em 2005 a divisão PC e portáteis da IBM e formou um joint venture com uma empresa japonesa. Desenvolve novos produtos, especialmente servidores e tablets, utilizando o know-how norte-americano que permaneceu na empresa. ZTE, empresa pública com 70 mil colaboradores – dos quais 52,5 mil profissionais – e 6,7 bilhões de euros em vendas, desenvolve soluções chinesas para o mercado interno e de exportação. Em 2000, a China representava apenas 2% da produção global de chips eletrônicos. Em 2009, quatroempresas chinesas já figuravam entre as 15 primeiras do mundo: Smic, Grace, Hejian e Hua Hong Nec. Por iniciativa da China, foi construído o cabo terrestre de fibra ótica euro-asiático, de 27 mil km, o mais longo do mundo, que liga Xangai a Frankfurt, passando por 20 países.
A China tem 457 milhões de internautas. Gigantes privados de motores de busca fazem concorrência ao Google. Recentemente, os grandes órgãos públicos da mídia se lançaram nesse mercado altamente lucrativo, mas estima-se que levarão alguns anos para instalar-se verdadeiramente nesse segmento, cuja tecnologia evolui com grande rapidez. Em outubro de 2010, a China colocou em funcionamento o Tianhe-I, o supercalculador mais potente do mundo, à frente do norte-americano Jaguar.
Automóveis
A China já é – e será mais ainda – o maior mercado do mundo para automóveis.
O mercado de automóveis chineses
	2010
	2020
	China
	15,1
	28
	Estados Unidos
	11,6
	13
	Índia
	2
	6
	Brasil
	3,3
	5,5
	Japão
	4,4
	4
	Alemanha
	3,1
	3,4
	Rússia
	1,7
	3,2
É fácil perceber as dinâmicas econômicas e sociais durante os próximos 10 anos, especialmente o crescimento das classes médias nos países emergentes. O mercado chinês ultrapassou o norte-americano no ano passado, tornando-se o primeiro do mundo, lugar que confirmará este ano, com cerca de 17 milhões de veículos vendidos, mesmo com uma taxa média ainda débil de equipamento. O aumento total esperado para as vendas no ano de 2010 é de 30%. Isso explica o entusiasmo em relação à China por parte das grandes montadoras norte-americanas, europeias e asiáticas, que estarão ainda mais prósperas ao final do próximo decênio. Todas estão presentes e desenvolvem suas capacidades, seguidas pelos fabricantes de equipamentos. Os construtores chineses, frequentemente em parceria com estrangeiros, também desenvolvem rapidamente seus produtos. Essas coempresas internacionais não têm capacidade suficiente para produzir na China todos os veículos que poderiam comercializar ali, tanto mais que o crescimento agora é impulsionado pelas províncias do interior, onde a admiração pelo automóvel apenas se inicia. Os construtores, portanto, trataram de aumentar sua capacidade produtiva, mas alguns deles poderiam estar a braços com supercapacidade em alguns anos. Volkswagen vai abrir a 10a fábrica no sul do país e anunciou a construção de uma 11a até 2013. Peugeot-Citröen aumentará, juntamente com a Dongfeng, sua capacidade de produção de 450 mil para 750 mil unidades, lançando ao mesmo tempo outra parceria com a montadora Chang’an, em Shenzen. As japonesas BMW, a coreana Hyundai e a chinesa FAW anunciaram, em 2010, entre outras, a construção de novas fábricas. Inúmeros projetos de fábricas se encontram também nos planos de províncias e municipalidades, o que preocupa a Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento (NDRC), o órgão chinês de planejamento. As capacidades de produção anunciadas pelos 30 principais construtores chegam, no total, a mais de 31 milhões de veículos até 2015, mais que o dobro da capacidade atual. Segundo os cálculos da comissão, a capacidade acumulada anunciada pelas províncias para a mesma data é ainda bem mais elevada. A NDRC lançou uma advertência, em setembro de 2010, por considerar que os “investimentos cegos” trazem riscos para um setor-chave e para o conjunto da economia.
Os construtores que tenham verdadeira capacidade de pesquisa em veículos elétricos ou híbridos terão uma vantagem decisiva na competição, no contexto do previsível encarecimento do preço do petróleo. Renault destinou até agora 4 bilhões de dólares para a pesquisa nesse campo.
Nanotecnologias
No início de 2006, o Conselho de Negócios do Estado chinês lançou o programa do Plano Nacional de Longo Prazo Sobre o Desenvolvimento Científico e Tecnológico. As nanotecnologias constituem um dos principais eixos desse plano.
A China deve ter atualmente 26 mil pesquisadores em mais de 350 universidades, cerca de 30 institutos de pesquisa e mais de 400 empresas dedicadas ao setor das nanotecnologias, especialmente em torno de Pequim, ao norte, e em torno de Xangai, ao sul. Em comparação, a França dispõe de somente quatro mil pesquisadores nesse terreno, e as publicações científicas destes são menos numerosas que as dos chineses. O Comitê Nacional de Coordenação das Nanotecnologias foi criado em 2001, conjuntamente pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, pela Academia de Ciências e pela Fundação Nacional de Ciências Naturais. A Academia Chinesa de Ciências está altamente envolvida; seus institutos e universidades representam 85% da pesquisa e do desenvolvimento na China nesse campo. Os objetivos do desenvolvimento das nanotecnologias estão ligados principalmente aos nanomateriais e aos nanodispositivos. Os projetos importantes de nanotecnologia se destinam à nanoeletrônica, à nanobiologia, ao desenvolvimento de novos materiais funcionais e à sua industrialização. Segundo o Comitê Nacional de Coordenação de Nanotecnologias, a China investiu 60 milhões de dólares na pesquisa e no desenvolvimento de nanotecnologias de 2006 a 2010, contra 200 milhões de dólares de 2001 a 2005.
O número de patentes de nanotecnologia passou de 4,6 mil em 2005 para 12 mil em 2009, colocando a China na segunda posição mundial nesse ano. A China reforça também seus esforços nesse campo a fim de realizar descobertas originais e atender às necessidades industriais nessa tecnologia.
Note-se que os chineses acompanham em seu território os grandes laboratórios internacionais no aperfeiçoamento do tratamento do câncer de fígado e de estômago. No entanto, as despesas consagradas à pesquisa médica e farmacêutica permanecem relativamente modestas em setores que exigem consideráveis recursos financeiros.
Biotecnologias
O setor das biotecnologias chinês, apoiado pelo Estado, acumula sucessos econômicos e inovações, com produtos rapidamente colocados no mercado. Frequentemente fundadas por chineses que regressam ao país após estudar no exterior, as jovens empresas do setor recebem do Estado forte apoio financeiro – a prioridade ao investimento neste ramo é atribuída à comercialização da pesquisa. O setor se encontra bem estabelecido. Não é um boom comparável aos de São Francisco, Boston ou Toronto, mas o crescimento é grande, segundo uma pesquisa com 22 empresas chinesas publicada pela revista Nature Biotechnology.
A SiBiono Genetech, uma dessas empresas, foi a primeira no mundo a comercializar terapia de genes. Seu medicamento, Genedicine, combate o câncer da nasofaringe, injetando um adenovírus diretamente no tumor, o que impede a reprodução das células cancerosas. O Genedicine obteve, em 2004, a aprovação da autoridade reguladora chinesa, a SFDA. A Shenzen Beike Technologies propõe injeções de células-tronco retiradas de cordões umbilicais para curar a ataxia (uma doença neurológica), os traumatismos do cérebro e da medula espinhal, a arteriosclerose e também a doença de Alzheimer. A Chipscreen Biosciences desenvolve, juntamente com a Huya Bioscience, empresa de San Diego (Califórnia), um medicamento inibidor para o tratamento do câncer. Quando o medicamento for lançado no mercado, a Shenzen Chipscreen possuirá os direitos para a China, e a Huya para o resto do mundo. A Wuxi Pharmatec realiza pesquisas para multinacionais do setor, entre as quais a norte-americana Merck e a britânica AstraZeneca.
Espaço e armamentos
Os chineses recordam a recusa norte-americana de lançar o satélite europeu de telecomunicações Symphonie em meados da década de 1970 e a construção pela Europa de seu próprio foguete, Ariane, cujo 200o lançamento acaba de ser comemorado. A indústria espacial é indispensável para as telecomunicações e para a teledetecção, pois coloca em órbita os satélites necessários para o desenvolvimento desse setor.
A China se tornou o quinto país do mundo no lançamento de satélites de diversos tipos e o terceiro na recuperação de seus satélites. As primeiras naves espaciais habitadas foram lançadas em 2007,dando início à exploração lunar. A sonda lunar chinesa Chang-e2, lançada em órbita em torno da Lua, acaba de enviar as primeiras fotos da baía do arco-íris, futuro terreno de alunissagem da Chang-e3.
A China começou a exportar equipamentos e serviços espaciais para a América Latina. 
A indústria de armamento também progride. As despesas militares chinesas, da ordem de 80 bilhões de dólares, que ao que se diz aumentam em 17% anualmente, sustentam uma indústria cada vez mais poderosa, mas que ainda está tecnologicamente atrasada em relação à do Ocidente. A cooperação com os russos se fortaleceu no campo da aviação militar durante os últimos anos. O avião furtivo J-20, atualmente em fase de protótipo, seria produzido em série. Os helicópteros Dauphin, de origem francesa, são também produzidos em série para fins militares.
Sessenta submarinos estão no mar, e 20 outros em produção. O país também produz drones, os famosos aviões espiões sem piloto. Jiaolong, primeiro submersível que deverá atingir uma profundidade de sete mil metros, já desceu a cinco mil metros no verão de 2010.
A nova base industrial do país permitiu a diversificação das exportações, além dos produtos de base e dos produtos de indústrias de mão de obra intensiva, o que explica o avanço comercial chinês no mundo. O economista chileno Gabriel Palma mediu a evolução do grau de competitividade da China mediante comparação com suas fatias de mercado nas importações dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) nos períodos de 1963 a 1985 e de 1985 a 2000. Ao final do primeiro período, a parcela de mercado dos Estados Unidos nas importações dos países da OCDE era de 10% e a da China, de 0,5%; contudo, 60% das exportações norte-americanas eram compostas de produtos que foram perdendo progressivamente a competitividade, ao contrário do caso da China. Ao final do segundo período, em 2000, a fatia de mercado dos Estados Unidos permaneceu em 10%, e 57% dos bens exportados eram menos competitivos; em relação à China, no entanto, a parcela chegou a 5%, dos quais 97% de produtos competitivos. Desde então, confirmou-se o dinamismo comercial deste país.
Parcela da China no comércio global dos países desenvolvidos
	Estados Unidos
	Alemanha
	França
	Reino Unido
	Japão
	1992 (em %)
	3,5
	2,3
	1
	0,6
	5
	2010 (em %)
	14,3
	6,1
	3,8
	6,2
	20,4
	Comércio global em 2009 (bilhões de dólares)
	252-78
	53-56
	41-13
	35-25
	104-125
Dois países, Japão e Alemanha, ainda têm excedentes em relação à China, em virtude da forte competitividade de produtos e preços desses dois países. As nações europeias e os Estados Unidos, cujos déficits comerciais com a China aumentam, continuam a dar ênfase à fraqueza do yuan.
Excedente comercial chinês
	2007
	2008
	2009
	Estados Unidos 
(bilhões de dólares)
	- 258
	- 268
	- 227
	Europa dos 27 
(bilhões de euros)
	- 161
	- 169
	- 133
	Japão 
(bilhões de yens)
	- 2.197
	- 1.880
	- 1.200
	Crescimento do PIB chinês
	11,3
	10,5
	9 
Um fenômeno importante é frequentemente ignorado: o excedente comercial da China não resulta unicamente de suas exportações, mas também da queda relativa das importações, porque as empresas, locais e estrangeiras, lançaram-se à conquista de seu mercado interior em um contexto de apreciação relativa do yuan e de depreciação do dólar (período de 2003 a 2009): 22% para um e 20% para o outro. O yuan ganhou 10% em relação ao dólar, em 2010.
Devido à atonia atual e previsível do crescimento nos países desenvolvidos, o comércio chinês se reorienta progressivamente, com mais energia em direção a outros países emergentes, como o Brasil, o Chile, a Indonésia etc.
Parcela da China no comércio global dos países emergentes (em porcentagem)
	Índia
	Indonésia
	Chile
	Brasil
	México
	Coreia
	Malásia
	Turquia
	Rússia
	Af. Sul
	1992
	0,4
	3,5
	0,8
	0,9
	0,1
	4
	2,2
	0,7
	3,8
	1,8
	2010
	10,5
	12,7
	17
	14
	5,7
	22,8
	16,3
	6,4
	8,9
	13,1
Os laços comerciais e financeiros da China com os países emergentes são crescentes e ainda mais intensos com os vizinhos da Ásia, notadamente Taiwan, Malásia e Coreia. Esse comércio prevê efeitos benéficos para esses países, cujas exportações aumentaram – sobretudo de produtos de base –, mas também efeitos menos favoráveis, devido à conquista de parcelas importantes dos mercados de bens de consumo e de bens de equipamento nesses países.
Empreendedores: setor público e investidores estrangeiros dominam, mas o setor privado progride rapidamente
A abertura econômica da China, ocorrida há 30 anos, beneficiou todos os idealizadores de projeto ou um número limitado de empre-endedores mais ou menos próximos das autoridades centrais ou locais? Os especialistas estão divididos quanto a essa questão. Algumas indicações estão disponíveis.
As orientações de Deng Xiaoping datam do início da década de 1980. A abertura econômica se tornou progressivamente uma realidade com a constituição de zonas econômicas especiais no litoral do país, especialmente a zona de Pu Dong, diante de Xangai, decidida e realizada por instruções do presidente. Grandes empresas públicas a ela se dedicaram, como a China Construction Company, seguidas por empresas de Taiwan e de Hong Kong. Essas empresas públicas rapidamente abriram seus capitais na Bolsa, permitiram a pequenos investidores ganhar dinheiro com elas e reinvestir esses ganhos em outras empresas, geralmente de construção, de obras públicas ou de transformação leve.
As maiores empresas do setor imobiliário ou financeiro são públicas: energia, com a Sinopec, a CNOOC, a Chinalco; construção, com a China Construction Company; transporte aéreo e construção ferroviária, com a Cetic. No início da década de 2000, o governo fechou empresas e privatizou minas e outras atividades. Dezenas de milhares de trabalhadores ficaram desempregados.Essa combinação peculiar entre empresas públicas, estrangeiras e privadas locais foi complementada pelo papel especial das empresas públicas regionais ligadas a bancos públicos da área associados a empresas estrangeiras em diversas atividades. A poupança local, muito abundante, serviu de apoio para essa articulação muito específica. Sabe-se, sem grande surpresa, que a parceira da Airbus na China é uma coletividade local e que o administrador da Volvo é um jovem chinês sócio de uma empresa pública e de um banco locais. O setor público da região, propriedade das coletividades locais, é importante tanto no setor real quanto no financeiro. Essas empresas, frequentemente ligadas a bancos locais, firmam parcerias com empresas estrangeiras, e não unicamente com pequenas e médias empresas (PMEs).
Segundo fontes chinesas, a progressão do setor privado foi espetacular: entre as 500 maiores empresas chinesas, mais de 170 seriam privadas ou mistas. Entre as 500 maiores empresas mundiais, 26 são chinesas, das quais seis são privadas. O setor privado ou cooperativo seria majoritário em 27 dos 40 setores industriais e chegaria a 70% em alguns destes. 
A trajetória clássica de um empreendedor privado na China é a seguinte: acumulou pequeno capital em comércio ou em serviços, associou-se a amigos ou a membros da família e criou sua primeira empresa. O setor de construção e de promoção imobiliária são os mais rentáveis, mas é possível também aplicar dinheiro na Bolsa e aproveitar o crescimento das grandes empresas para, em seguida, reinvestir a mais--valia nos negócios – caminho trilhado pelos mais dinâmicos.
As empresas privadas não acedem, ou o fazem marginalmente, ao crédito bancário local e devem financiar seu desenvolvimento por meio de recursos próprios ou dos da família e de amigos. Não são, porém, afastadas dos mercados públicos na China e participam maciçamente na realização de grandes projetos no exterior, geralmente financiados por empréstimos concessionais chineses, o que permite indiretamente o financiamento de seu desenvolvimento. É o caso especialmente das empresas privadas de construção,de telecomunicações etc. Há algum tempo assiste-se a uma forte intervenção de fundos estrangeiros de investimento, que cada vez mais precisam entrar em acordo com competidores locais e que financiam milhares de PMEs, muito necessitadas de liquidez. De 30, em 2008, o número de fundos registrados passou para 82, em 2010. Os recursos investidos crescem rapidamente com a chegada ao mercado dos fundos de pensão e de companhias chinesas de seguros. Os fundos de investimento que buscam aplicações rentáveis e seguras para seus clientes por vezes refletem preocupações sobre a transparência e a governança das empresas chinesas. Contudo, a prosperidade à sombra do setor público e estrangeiro não torna menos ambiciosos os empreendedores privados: os empreendedores mais visíveis são acolhidos no seio do Partido e já são numerosos no CCPP, órgão consultivo junto ao CNP, o Parlamento chinês. O grande patronato é, assim, parte integrante dos negócios econômicos. É o caso do proprietário da Wahaha, empresa agroalimentar, o homem mais rico da China. O generoso proletariado chinês suspendeu a luta de classes em nome da economia socialista de mercado. 
A abertura aos investidores estrangeiros foi importante, crescente, porém seletiva. O princípio diretor dessa política é o seguinte: se uma empresa estrangeira deseja exportar para a China, precisa simultaneamente instalar uma capacidade de produção neste país. No mais das vezes, as empresas estrangeiras se tornam parceiras de grupos chineses, o que abre o caminho para a transferência de tecnologia – como se viu no setor nuclear, na aeronáutica, na construção ferroviária, na eletricidade, na indústria farmacêutica, na informática, nas telecoms etc. Algumas dessas parcerias operam na China, mas também partem para a conquista de escoamento no exterior.
A primeira onda de investidores estrangeiros veio de Taiwan e de Hong Kong, que continuam, com altos e baixos, a contribuir com 50% do volume de investimentos.
A cidade de Pu Dong, em frente a Xangai, foi concebida, construída e gerida por autoridades políticas como um símbolo visível da nova política econômica do país. Grandes empresas públicas precederam nessa área inúmeras companhias estrangeiras. Ali, como nas outras zonas econômicas especiais, encontram-se as indústrias automobilística, aeronáutica, de informática, elétrica e farmacêutica, com os líderes mundiais em cada setor.
Evolução dos investimentos externos diretos, para a China e da China
	2005
	2006
	2007
	2008
	2009
	2010
	ID externos na China
	62
	65
	74
	92
	90
	91
	ID chineses no exterior
	12
	16
	19
	43
	56
	60
Cerca de três quartos dos investimentos diretos chineses no exterior ocorrem na Ásia (71,5% dos casos); 13% na América latina; 5,8% na Europa; 2,6% na América do Norte; e 2,5% na África. Observa-se um paralelismo entre o crescimento dos investimentos estrangeiros na China e o movimento de exportações que alimenta a acumulação de reservas.
Na China, há uma dúzia de montadoras de automóveis, quatro das quais são estrangeiras. Os maiores são listados a seguir, em uma revista das tropas.
A General Motors vendeu na China 2.325.000 veículos em 2010, ou seja, 30% das vendas mundiais, e 135 mil veículos a mais que nos Estados Unidos. A segunda montadora mundial, quase em paridade com a Toyota, produz na China o essencial para seus veículos, com os parceiros locais, como modelos mais adaptados ao gosto e ao bolso dos chineses.
A Volkswagen esteve entre as pioneiras. Havendo chegado à China em 1990, produziu no país 850 mil veículos, o que representa 13% de sua produção mundial. 
A PSA, empresa francesa, está também presente na China, onde desenvolve uma estratégia ambiciosa de crescimento.
A General Electric realiza na China 20% de seus negócios mundiais e aceita a transferência de tecnologia, a fim de permanecer no país. Forma joint ventures com outras companhias.
A China Airlines é a principal cliente do A380. A Airbus internalizou a necessidade de fazer a montagem de aviões na China e de aceitar uma integração local progressiva em uma empresa mista, formada com um banco local e uma coletividade territorial. 
A Areva se diz satisfeita por construir seu EPR na China e afirma que os engenheiros e técnicos chineses que se dedicam à tarefa entregam o equipamento a tempo e pontualmente, enquanto seus homólogos norte--americanos e finlandeses demoram, sem esquecer Flamanville, na França, onde a falta de mão de obra especializada a obriga a trazer operários da longínqua Romênia. Nada disso ocorre na China, onde a disponibilidade de trabalhadores de diversas qualificações não traz problemas para a produção.
A Intel investiu 4,7 bilhões de dólares, dos quais 2,5 bilhões em uma fábrica de microprocessadores de última geração em Dalian, inaugurada em outubro de 2010, que mobiliza 80 fornecedores locais para a indústria.
A Google também está presente, mas vai encontrar dificuldades específicas de seu campo de atividade.
As duas maiores cimenteiras do mundo, Lafarge e Holcim, acompanham o boom de construção no país, implantando inúmeras fábricas: ambas afirmam realizar a maior parte de suas vendas nos dois gigantes asiáticos, China e Índia.Os grandes distribuidores Carrefour e Wal-Mart também estão presentes, cada qual com centenas de lojas na costa leste, porém com desenvolvimento em direção às regiões do interior. As Galerias Lafayette instalaram na China sua maior loja fora de Paris.
Os japoneses estão em severa concorrência com os coreanos no mercado chinês. Recentemente, fabricantes japoneses de telas planas autorizaram suas filiais na China a produzir no país as telas mais modernas, seguindo nesse particular as coreanas Samsung e LG, que já se dedicavam ao ramo. O mercado chinês está avaliado em 60 milhões de clientes para esse tipo de produto.
As empresas francesas do CAC 40 auferem parcela crescente de seus lucros no mercado chinês: 2010, o Ano do Macaco, lhes foi muito favorável. É preciso assinalar também que os grandes grupos internacionais realizam sua pesquisa e desenvolvimento na China, especialmente nos polos biotech, parques eletrônicos e projetos aeronáuticos, mais frequentemente em Xangai. É o caso da Rhodia, a gigante química francesa que produz plásticos para os fabricantes de brinquedos e pó para polimento das telas planas. As políticas de incentivos fiscais e as subvenções estimulam as multinacionais a registrar suas patentes na China. Não faltam conflitos com as multinacionais, mas nunca se atinge o ponto de ruptura, pois cada parte conhece seu interesse em prosseguir no jogo: mercado e lucros contra transferência de conhecimento e de know-how. Aos críticos das empresas norte-americanas sobre a débil proteção à sua propriedade intelectual e sobre a sua exclusão dos mercados públicos os chineses respondem: as empresas estrangeiras devem respeitar um código de conduta em matéria de transferência de tecnologia, de impulso às atividades locais e de preços de transferências internas. Com essas condições, receberão tratamento de nacionais, de acordo com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), da qual a China é membro. Há conflito entre a China e o Google. O caso é interessante: o motor de busca norte-americano, em pleno desenvolvimento no mercado chinês, foi convidado a aceitar a partilha de um contingente de internautas que ultrapassa, atualmente, 400 milhões de pessoas. Por sua vez, a Siemens e a Kawasaki jamais puderam provar que uma obscura transferência de tecnologia permitiu a seus homólogos chineses construir trens de velocidade superior aos seus. Sabe-se que a China planeja construir 50 mil km de vias férreas.
A solução pacífica desses conflitos é muito necessária aos chineses porque eles próprios se tornaram grandes investidores no exterior, especialmente mediante a rápida internacionalização de firmas chinesas que frequentemente agem por meio de aquisições. Desde 2007, as empresas chinesas adquiriram 400 companhias fora do país por um valor de 80 bilhões de dólares: bancos, seguradorase instituições financeiras na Europa; mineradoras na Austrália, no Vietnã e na América do Sul; petroleiras e exploradoras de gás na África; empresas de eletrônica, telecomunicações e instrumentos de medição nos Estados Unidos. Isso parece pouco em comparação com as cinco mil aquisições feita por empresas norte--americanas durante o mesmo período, no valor de 400 bilhões de dólares. Contudo, o movimento está em curso, e as finanças externas da China permitem a suas empresas ainda maiores desenvolvimento internacional. Essa política de aquisições apresenta diversas vantagens: diversificar os ativos demasiadamente dominados por ativos financeiros (bônus do Tesouro norte-americano, europeu ou japonês), aceder aos recursos naturais, à alta tecnologia, às tecnologias emergentes, ao conhecimento das atividades bancárias e financeiras, assim como às melhoras práticas de gerência empresarial pelas empresas públicas chinesas, principalmente as mais importantes. Nenhum setor escapa dessa onda das profundezas: siderurgia, telecomunicações, bancos, hotelaria de luxo, infraestruturas portuárias e até mesmo vinhedos, com investimentos no Chile e na França.
Durante os últimos anos, algumas aquisições de prestígio despertaram atenção: Lenovo adquiriu a divisão de microinformática da IBM; Sinopec obteve o controle da petroleira suíça Addax Petroleum; e, ainda recentemente, a Geely tomou conta da Volvo, recomprada à Ford. O porto do Pireu foi objeto de concessão a outro grupo chinês.
Em 2007, os principais bancos comerciais chineses já haviam aberto 60 filiais em 29 países. O grande grupo ICCB, banco chinês de comércio e indústria, primeiro banco do mundo em tamanho (235 milhões de clientes e 16 mil agências), capitalização e lucros, frequentemente apresentado como braço financeiro de Pequim, investiu maciçamente no exterior, implantando sucursais diretamente ou comprando bancos e ativos bancários. No início de 2011, abriu cinco sucursais na Europa (Milão, Bruxelas, Madri, Amsterdã e Paris). Acompanha empresas chinesas no exterior e subscreve empréstimos lançados pelos Tesouros europeus.
No entanto, segundo estatísticas europeias de 2011, o estoque de investimentos europeus na China é 60 vezes maior do que o dos investimentos chineses na Europa. Esses dados estatísticos medem melhor o possível domínio chinês sobre empresas ou tecnologias sensíveis, como o armamento, as atividades nucleares ou os meios de comunicação.
Da mesma forma, a diversificação dos riscos explica a nova política financeira exterior da China, que se distancia parcialmente do dólar e se dirige ao euro, para buscar um equilíbrio sutil entre rentabilidade, segurança e influência política.
Os grandes projetos chineses na África
	Petróleo
	Infraestruturas
	Água
	Agricultura
	Argélia,
Sudão
	Argélia,
Rep. Democrática 
do Congo
	Rep. Democrática 
do Congo
	Mali,
Rep. Democrática do Congo
Cerca de três quartos dos investimentos diretos chineses no exterior ocorrem na Ásia (71,5% dos casos); 13% na América latina; 5,8% na Europa; 2,6% na América do Norte; e 2,5% na África. Observa-se um paralelismo entre o crescimento dos investimentos estrangeiros na China e o movimento de exportações que alimenta a acumulação de reservas.
Na China, há uma dúzia de montadoras de automóveis, quatro das quais são estrangeiras. Os maiores são listados a seguir, em uma revista das tropas.
A General Motors vendeu na China 2.325.000 veículos em 2010, ou seja, 30% das vendas mundiais, e 135 mil veículos a mais que nos Estados Unidos. A segunda montadora mundial, quase em paridade com a Toyota, produz na China o essencial para seus veículos, com os parceiros locais, como modelos mais adaptados ao gosto e ao bolso dos chineses.
A Volkswagen esteve entre as pioneiras. Havendo chegado à China em 1990, produziu no país 850 mil veículos, o que representa 13% de sua produção mundial. 
A PSA, empresa francesa, está também presente na China, onde desenvolve uma estratégia ambiciosa de crescimento.
A General Electric realiza na China 20% de seus negócios mundiais e aceita a transferência de tecnologia, a fim de permanecer no país. Forma joint ventures com outras companhias.
A China Airlines é a principal cliente do A380. A Airbus internalizou a necessidade de fazer a montagem de aviões na China e de aceitar uma integração local progressiva em uma empresa mista, formada com um banco local e uma coletividade territorial. 
A Areva se diz satisfeita por construir seu EPR na China e afirma que os engenheiros e técnicos chineses que se dedicam à tarefa entregam o equipamento a tempo e pontualmente, enquanto seus homólogos norte--americanos e finlandeses demoram, sem esquecer Flamanville, na França, onde a falta de mão de obra especializada a obriga a trazer operários da longínqua Romênia. Nada disso ocorre na China, onde a disponibilidade de trabalhadores de diversas qualificações não traz problemas para a produção.
A Intel investiu 4,7 bilhões de dólares, dos quais 2,5 bilhões em uma fábrica de microprocessadores de última geração em Dalian, inaugurada em outubro de 2010, que mobiliza 80 fornecedores locais para a indústria.
A Google também está presente, mas vai encontrar dificuldades específicas de seu campo de atividade.
As duas maiores cimenteiras do mundo, Lafarge e Holcim, acompanham o boom de construção no país, implantando inúmeras fábricas: ambas afirmam realizar a maior parte de suas vendas nos dois gigantes asiáticos, China e Índia.Os grandes distribuidores Carrefour e Wal-Mart também estão presentes, cada qual com centenas de lojas na costa leste, porém com desenvolvimento em direção às regiões do interior. As Galerias Lafayette instalaram na China sua maior loja fora de Paris.
Os japoneses estão em severa concorrência com os coreanos no mercado chinês. Recentemente, fabricantes japoneses de telas planas autorizaram suas filiais na China a produzir no país as telas mais modernas, seguindo nesse particular as coreanas Samsung e LG, que já se dedicavam ao ramo. O mercado chinês está avaliado em 60 milhões de clientes para esse tipo de produto.
As empresas francesas do CAC 40 auferem parcela crescente de seus lucros no mercado chinês: 2010, o Ano do Macaco, lhes foi muito favorável. É preciso assinalar também que os grandes grupos internacionais realizam sua pesquisa e desenvolvimento na China, especialmente nos polos biotech, parques eletrônicos e projetos aeronáuticos, mais frequentemente em Xangai. É o caso da Rhodia, a gigante química francesa que produz plásticos para os fabricantes de brinquedos e pó para polimento das telas planas. As políticas de incentivos fiscais e as subvenções estimulam as multinacionais a registrar suas patentes na China. Não faltam conflitos com as multinacionais, mas nunca se atinge o ponto de ruptura, pois cada parte conhece seu interesse em prosseguir no jogo: mercado e lucros contra transferência de conhecimento e de know-how. Aos críticos das empresas norte-americanas sobre a débil proteção à sua propriedade intelectual e sobre a sua exclusão dos mercados públicos os chineses respondem: as empresas estrangeiras devem respeitar um código de conduta em matéria de transferência de tecnologia, de impulso às atividades locais e de preços de transferências internas. Com essas condições, receberão tratamento de nacionais, de acordo com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), da qual a China é membro. Há conflito entre a China e o Google. O caso é interessante: o motor de busca norte-americano, em pleno desenvolvimento no mercado chinês, foi convidado a aceitar a partilha de um contingente de internautas que ultrapassa, atualmente, 400 milhões de pessoas. Por sua vez, a Siemens e a Kawasaki jamais puderam provar que uma obscura transferência de tecnologia permitiu a seus homólogos chineses construir trens de velocidade superior aos seus. Sabe-se que a China planeja construir 50 mil km de vias férreas.
A solução pacífica desses conflitos é muito necessária aos chineses porque eles próprios se tornaramgrandes investidores no exterior, especialmente mediante a rápida internacionalização de firmas chinesas que frequentemente agem por meio de aquisições. Desde 2007, as empresas chinesas adquiriram 400 companhias fora do país por um valor de 80 bilhões de dólares: bancos, seguradoras e instituições financeiras na Europa; mineradoras na Austrália, no Vietnã e na América do Sul; petroleiras e exploradoras de gás na África; empresas de eletrônica, telecomunicações e instrumentos de medição nos Estados Unidos. Isso parece pouco em comparação com as cinco mil aquisições feitas por empresas norte--americanas durante o mesmo período, no valor de 400 bilhões de dólares. Contudo, o movimento está em curso, e as finanças externas da China permitem a suas empresas ainda maior desenvolvimento internacional. Essa política de aquisições apresenta diversas vantagens: diversificar os ativos demasiadamente dominados por ativos financeiros (bônus do Tesouro norte-americano, europeu ou japonês), aceder aos recursos naturais, à alta tecnologia, às tecnologias emergentes, ao conhecimento das atividades bancárias e financeiras, assim como às melhoras práticas de gerência empresarial pelas empresas públicas chinesas, principalmente as mais importantes. Nenhum setor escapa dessa onda das profundezas: siderurgia, telecomunicações, bancos, hotelaria de luxo, infraestruturas portuárias e até mesmo vinhedos, com investimentos no Chile e na França.
Durante os últimos anos, algumas aquisições de prestígio despertaram atenção: Lenovo adquiriu a divisão de microinformática da IBM; Sinopec obteve o controle da petroleira suíça Addax Petroleum; e, ainda recentemente, a Geely tomou conta da Volvo, recomprada à Ford. O porto do Pireu foi objeto de concessão a outro grupo chinês.
Em 2007, os principais bancos comerciais chineses já haviam aberto 60 filiais em 29 países. O grande grupo ICCB, banco chinês de comércio e indústria, primeiro banco do mundo em tamanho (235 milhões de clientes e 16 mil agências), capitalização e lucros, frequentemente apresentado como braço financeiro de Pequim, investiu maciçamente no exterior, implantando sucursais diretamente ou comprando bancos e ativos bancários. No início de 2011, abriu cinco sucursais na Europa (Milão, Bruxelas, Madri, Amsterdã e Paris). Acompanha empresas chinesas no exterior e subscreve empréstimos lançados pelos Tesouros europeus.
No entanto, segundo estatísticas europeias de 2011, o estoque de investimentos europeus na China é 60 vezes maior do que o dos investimentos chineses na Europa. Esses dados estatísticos medem melhor o possível domínio chinês sobre empresas ou tecnologias sensíveis, como o armamento, as atividades nucleares ou os meios de comunicação.
Da mesma forma, a diversificação dos riscos explica a nova política financeira exterior da China, que se distancia parcialmente do dólar e se dirige ao euro, para buscar um equilíbrio sutil entre rentabilidade, segurança e influência política.
Os grandes projetos chineses na África
	Petróleo
	Infraestruturas
	Água
	Agricultura
	Argélia,
Sudão
	Argélia,
Rep. Democrática 
do Congo
	Rep. Democrática 
do Congo
	Mali,
Rep. Democrática do Congo
O continente africano também entrou para a corrida econômica: a China importa dessa região um volume crescente de produtos de base, entre os quais estão o petróleo e toda a espécie de minerais, e exporta bens de consumo, equipamento para obras públicas e serviços ligados à construção. Esse comércio cresce rapidamente, com cerca de 50 bilhões de dólares nos dois sentidos, atualmente. Cem mil africanos residem na China, muitos deles são comerciantes, e há aproximadamente 700 mil chineses na África, trabalhando nos canteiros de obra, mas também como comerciantes em todos os ramos.
Em busca de minerais, energia e produtos alimentícios, a China constrói na África diversos tipos de infraestrutura (inclusive muitos estádios de futebol), a fim de escoar os produtos importados. Desde 1984 a China faz parte do Banco Africano de Desenvolvimento, excelente ponto de observação do desenvolvimento da infraestrutura do continente. 
Intermediação financeira
A macroeconomia chinesa pode ser atualmente resumida da seguinte maneira: um recuo no consumo da riqueza produzida permitiu obter alto nível de poupança, que financiou uma aceleração rápida da taxa de investimento, a mais elevada do mundo.
Poupança, investimento e consumo na China
	2000 
	2005
	2009
	Taxa de poupança (%)
	35
	45
	49 
	- lares
	17
	20
	22
	- empresas
	15
	20
	22
	- administrações
	3
	5
	5
	Taxa de investimento (%)
	36
	42
	48
	Taxa de consumo (%)
	45
	37
	35
Desde 2000, a parcela de consumo dos lares no PIB diminuiu 10 pontos percentuais, enquanto a do investimento aumentou em 12 pontos, financiada por uma poupança cuja taxa aumentou 14 pontos em 10 anos.
Os lares, notadamente no meio rural, poupam muito em função do baixo nível de proteção social. As famílias têm de arcar com as despesas de doença e educação das crianças, a verdadeira garantia para as aposentadorias; além disso, as importações ainda custam caro, devido à supervalorização do yuan.
Por causa das recentes medidas do governo de proteção social aos camponeses e do estímulo ao crédito para o consumo no meio rural, é possível que a poupança dos lares diminua, mas isso ocorrerá lentamente.
Como mostra a tabela anterior, a taxa de poupança das empresas progrediu 10 pontos percentuais do PIB em 10 anos, o que é considerável. As empresas poupam devido à moderação dos salários que alimentam lucros importantes em um contexto de contínua elevação da produtividade. A parcela dos salários na renda nacional recuou e a dos lucros progrediu devido a uma oferta abundante de mão de obra, alimentada por um êxodo rural regulamentado.
Essa poupança considerável é depositada nos bancos, que dispõem assim de grande capacidade de distribuição do crédito. A indústria bancária chinesa está quase totalmente dominada pelo setor público, com bancos nacionais e uma multidão de bancos locais país afora. Quatro grandes bancos públicos dominam a indústria bancária: ICBC, primeiro banco do mundo em tamanho (235 milhões de clientes e 18 mil agências) e em capitalização e lucros (19 bilhões de dólares); o China Agricultural Bank, com uma rede ainda mais importante, porém menos rentável; o China Construction Bank, com 12 mil agências, muito difundido no meio rural e muito dedicado ao crédito imobiliário; finalmente, o Banco da China. O Eximbank e o Bank of China for Development acompanham a expansão internacional das empresas chinesas sustentadas por um excesso de poupança local.
Os bancos comerciais do Estado criaram e reorganizaram mais de 120 bancos comerciais acionários, de dimensões pequenas ou médias. A Caixa de Poupança do Correio da China, inaugurada em 2006, fornece serviços financeiros de proximidade à população urbana em regiões rurais.
Em 2008, 120 companhias de seguro coletaram 978 bilhões de yuans em prêmios e despenderam 297 bilhões em indenizações, o que reflete uma robusta rentabilidade após a dedução dos custos de operação, mas também um fluxo institucional de poupança que alimenta a Bolsa. O crescimento rápido, de mais de 25% anuais, e a excepcional rentabilidade do setor de seguros, tanto para os seguros de vida quanto de danos, evidentemente atraiu seguradoras estrangeiras. Os europeus esperava conquistar 10% do mercado ao trazer seus conhecimentos para essa indústria; porém, depois de cinco anos, têm dificuldade em passar além de 5% do mercado e se queixam dos obstáculos regulamentares e burocráticos que encontram. O mercado está ainda quase totalmente dominado por empresas chinesas, entre as quais a gigante China Life. Alguns bancos estrangeiros foram autorizados a abrir sucursais e filiais, mas seu peso na indústria bancária continua débil: eram, ao todo, 26 em fins de 2007, dispondo de 125 filiais e 160 sucursais
.
A política de crédito
Os bancos locais, que coletam grande quantidade de recursosno meio rural, canalizam-nos para o meio urbano, alimentando atividades como a promoção imobiliária a tal ponto, que alguns temem o desenvolvimento de bolhas especulativas e, no fim, o desenvolvimento de contas de créditos inadimplentes e de perdas bancárias importantes, que será necessário apagar, sabendo que se trata de bancos públicos, com garantia estatal implícita.
Assim, a recente entrada em funcionamento do plano de relançamento produziu um rápido aumento dos créditos no âmbito das coletividades locais, e a expansão monetária não deixou de produzir uma pressão para aumento de salários e preços, que atualmente as autoridades procuram controlar.
O dinamismo da distribuição do crédito também produziu aumento do volume de créditos não saldados, notadamente nas províncias estimuladas pelo plano de relançamento econômico a realizar enormes projetos de infraestrutura. Isso aconteceu apesar do acesso limitado do setor privado ao crédito.
Os peritos se questionam sobre as dificuldades da política monetária chinesa, já que todos os bancos são públicos ou amplamente dominados pelo setor público. O combate à inflação, que levou as autoridades monetárias a elevar em três ocasiões o teto de reservas obrigatórias dos bancos em 2010 e em três vezes a taxa de redesconto do Banco Central, não parece lograr seus objetivos, devido à grande liquidez dos bancos, maciçamente irrigados pelos yuans depositados pelos exportadores como contrapartida das divisas auferidas. A capacidade de distribuição do crédito pelos bancos é, por isso, bastante insensível à política monetária do Banco Central. Se o yuan fosse revalorizado, a liquidez dos bancos seria menor, e a distribuição do crédito mais passível de controle. O órgão regulador bancário, a CBRC, publicou recentemente informações sobre o risco gerado pelos créditos bancários, especialmente os outorgados aos veículos de investimento dos governos locais. Segundo o relatório, o ressarcimento dos empréstimos concedidos a esses veículos teria atingido 1,122 bilhões de dólares em fins de junho de 2010. São considerados viáveis 27% dos créditos, 50% devem passar por uma segunda avaliação e 23% comportam elevado risco de inadimplência. Diante dessas dificuldades, o Banco Central anunciou um controle individual dos bancos e a imposição de reservas obrigatórias específicas para cada um deles. 
As bolsas de valores de Xangai e de Shenzen, que iniciaram as operações em 1990 e em 1991, deram grande alento ao mercado de capitais. Surgiram bem cedo no panorama das reformas na China e beneficiaram especialmente a reforma das empresas do Estado, cujo capital foi aberto na Bolsa em favor dos pequenos investidores chineses, que puderam assim diversificar suas aplicações fora dos bancos. Existem mais de 1,6 mil empresas cotadas na Bolsa, a maior parte pública. Os chineses gostam da bolsa, pois se contam cerca de 125 milhões de pessoas titulares de ações e 25 milhões de participantes em fundos comuns de aplicação.
Políticas públicas
O êxito da China é o êxito de seu povo e de seus dirigentes, mas se explica também pela estabilidade das políticas levadas a cabo ao longo de 30 anos. As orientações fixadas por Deng Xiaoping no início da década de 1980 podem ser assim resumidas: mais mercado e menos planificação; mais trabalho e menos ideologia; mais abertura e menos isolacionismo. 
O primeiro princípio concretizou-se pela fórmula da chamada “economia socialista de mercado”; a segunda, pela multiplicação das formas de organização na economia; e a terceira, pela abertura seletiva e vigilante às empresas do exterior. O Estado permanece no centro do jogo econômico chinês, como produtor, regulador, protetor e estrategista. Os desempenhos chineses são variáveis. A estratégia é sem dúvida eficaz; a regulamentação, aceitável; a produção, crescente; e a proteção, insuficiente.
A organização da economia e a atração dos investidores estrangeiros
A economia socialista de mercado significa planificação e domínio da propriedade pública. O setor público controla ainda todos os setores de base: as minas, a siderurgia, a metalurgia, os hidrocarbonetos, a eletricidade, a água, as infraestruturas de transporte e de telecomu-nicações. As dimensões da China e a conquista recente e dispendiosa de sua região ocidental impõem um esforço colossal de investimento e a associação entre o esforço de investimento do equipamento público e o fortalecimento das empresas de execução. As empresas públicas ainda investem muito, mas a eficácia do capital pode ser aperfeiçoada.
As terras agrícolas são de propriedade pública, mas os direitos de exploração e uso, geralmente por 75 anos, foram assegurados principalmente pela transmissão aos filhos, mas também a terceiros, por meio de associações de todos os tipos, inclusive de capitais. O capital agrário, os imóveis e os equipamentos são de propriedade do explorador, mas a terra é inalienável.
O setor privado estimulado não tem, no entanto, acesso ao crédito e deve autofinanciar-se, porém cresceu rapidamente, especialmente na esfera internacional, ao beneficiar-se de créditos chineses para exportação a fim de conquistar mercados.
A política de abertura foi seletiva: alguns setores ainda são pro-tegidos, como os armamentos e a energia, e para muitos outros impõe-se aos estrangeiros uma parceria minoritária. O setor financeiro, bancário e de seguros continua pouco aberto enquanto a China ainda pouco conhece das atividades modernas da banca e dos seguros. Nos setores em que os estrangeiros têm 100% de propriedade, as mudanças acionárias são submetidas à autorização em nome da “segurança econômica” do país. Os mercados públicos estão fechados para eles.
Recursos humanos e pesquisa
O 12o plano chinês, 2011-2015, tenciona fazer com que o país passe “de uma economia de mão de obra intensiva a uma economia de inovação”. Foram identificados sete novos setores estratégicos, entre os quais as tecnologias de informação, os novos materiais, os veículos movidos por energias alternativas, os componentes e equipamentos de telecomunicações.
Em 2007, a China contava com 1,5 milhão de pesquisadores, ou 20% do total mundial, em igualdade com os Estados Unidos e a Europa. No entanto, encontra-se somente na quarta posição quanto ao número de pesquisadores por mil habitantes. Em 2010, a China ultrapassou o Japão em matéria de despesas em pesquisa e desenvolvimento: investiu 142 bilhões de dólares, ou seja, 1,5% de seu PIB, o que indica um crescimento de 50% a partir de 2002. Atualmente, está em segundo lugar, atrás dos Estados Unidos, que despendem 396 bilhões de dólares anuais (de um total mundial de 1,2 trilhões), sendo a parcela chinesa de 12% e a dos norte-americanos, de um terço. O esforço chinês se dirige em grande parte para os setores avançados, como as energias alternativas, as ciências biológicas e os novos materiais, enquanto os japoneses e norte-americanos ainda gastam muito dinheiro nos campos tradicionais, como as indústrias de transporte.
A China não economizou em suas despesas de pesquisa em épocas de crise, enquanto as empresas norte-americanas e as instituições públicas foram obrigadas a fazê-lo. Em 2010, os pesquisadores chineses se tornaram mais numerosos que seus colegas norte-americanos e japoneses. O papel da diáspora científica chinesa, cujo retorno abrange dezenas de milhares de pessoas, é muito importante. Em 2008, o país acolheu cem mil pesquisadores estrangeiros visitantes. As crianças de quarta geração (a partir da Revolução de 1949) e as elites econômicas atualmente em posições de comando foram formadas nas melhores universidades do mundo. Desde o lançamento das reformas, a China aproveitou a ajuda de Bruxelas para formar centenas de gerentes para suas empresas. A severa seleção para ingresso nas melhores universidades chinesas leva os menos afortunados a tentar a sorte nas universidades ocidentais. A emigração chinesa é importante e uniforme: ela acompanha a expansão internacional das empresas nacionais para investir ou construir. Contudo, tambémocorre, especialmente no caso da diáspora científica, um fluxo importante de regresso à China.
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Política cambial: entre desenvolvimento das exportações e combate à inflação
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A China é constantemente acusada de subvalorizar sua moeda para estimular as exportações e desencorajar as importações. Chegou-se a falar em guerra de moedas em Seul, na reunião do G20, em novembro de 2010, e novamente quando da visita do presidente chinês a Washington, em janeiro de 2011. A China havia efetuado, desde 2005, uma série de ajustes do valor de sua moeda, cujos efeitos sobre o comércio exterior, contudo, foram mínimos. Em 2010, a China operou uma revalorização de sua taxa de câmbio em mais de 10% em termos reais, levando em conta os diferenciais de inflação com seus principais parceiros. O governador do Banco Central e o ministro do Comércio não têm a mesma opinião sobre a paridade do yuan. Para o primeiro, nada deve mudar porque esse é o preço da competitividade chinesa. O Banco Central, mobilizado para a luta contra a inflação, tanto na China como alhures, dá mais atenção a uma taxa de câmbio mais realista que permita limitar a expansão do crédito, reduzir o custo das importações em um país que importa muito (todo tipo de produtos de base, inclusive o petróleo) para equipar-se e alimentar-se. Os norte-americanos procuram, até o momento sem êxito, persuadir os chineses de que a revalorização é de interesse deles. Uma moeda subvalorizada não permitiria compensar a muito provável e próxima elevação dos custos de matérias-primas. Essas considerações sem dúvida levaram diversos diretores de empresas chinesas a apoiar os apelos urgentes dos Estados Unidos no sentido de uma revalorização da moeda chinesa.
Frequentemente um aspecto da política cambial é esquecido: seu impacto sobre as finanças públicas. Uma taxa de câmbio revalorizada produziria menos recursos fiscais ao Tesouro público. No entanto, as necessidades deste último são importantes, especialmente para a generalização da proteção social pretendida e cuja permanência precisa ser assegurada em um contexto de baixos ressarcimentos, sobretudo no meio rural. A taxa de câmbio comporta um risco tanto orçamentário quanto comercial: enriquece os exportadores e o Estado por meio dos impostos.
 
Economia e sociedade: menos pobres, mais classes médias
A redução da pobreza no mundo é antes de tudo o resultado de uma melhoria das populações chinesa e indiana, que por si sós representam 2,5 bilhões de habitantes. O Banco Mundial calcula que 300 milhões de chineses saíram da situação de pobreza durante os últimos 30 anos. O desenvolvimento das classes médias, a melhoria do status das mulheres e o progresso no consumo e equipamento das famílias, em quantidade e qualidade, não impedem a fragilidade do poder de compra dos assalariados, a espinhosa questão da moradia e a persistência das disparidades entre as cidades e o campo. 
A ascensão das classes médias
Estima-se em 300 milhões o número de chineses que compõem as classes médias que participam permanentemente do crescimento. Segundo o Boston Consulting Group (BCG), 250 milhões de outros chineses vão engrossar as classes médias do país e expandir mais ainda o mercado de bens e serviços de consumo durável. O BCG estima que 800 novas cidades chinesas gozarão, até 2020, de um nível de consumo per capita superior ao da Xangai de hoje. O parque de veículos e o acesso à internet conheceram crescimento espetacular. As vendas de automóveis e utilitários leves passaram de 4,3 milhões em 2003 para 15 milhões em 2010. O número de internautas é estimado em 400 milhões, e o comércio on-line já atingiu 50 bilhões de dólares. O turismo das classes médias se desenvolve em ritmo acelerado: em 2010, as vendas do setor atingiram 250 bilhões de dólares, dos quais 2,2 bilhões em vendas a chineses. O governo anunciou um programa de 145 milhões de euros para construir 45 novos terminais aéreos e equipar as companhias de aviação, em sua maioria públicas, a fim de transportar centenas de milhões de chineses para interior do país e em direção ao exterior. 
Oito milhões de diplomados saem a cada ano das instituições de ensino superior da China, aumentando os efetivos da classe média. A origem social da maior parte dos estudantes é modesta, e as famílias fizeram grandes investimentos em esperança e em dinheiro para a educação dos filhos. O status das mulheres melhora com a urbanização e a educação, mas as diferenças de remuneração continuam consideráveis, especialmente para as que têm diplomas de ensino superior.
Se 30% dos formados encontra colocação, as frustrações se acumulam quanto aos demais, obrigados a aceitar empregos aquém de suas qualificações. O acesso à moradia constitui outra dificuldade para o desenvolvimento das classes médias. A alta dos preços de imóveis afeta tanto as cidades quanto o campo. Nas cidades, o metro quadrado em Pequim, em 2010, aumentou 42%; em Xangai, 29%; e em Chongqing,megalópole do sudoeste do país, as classes médias estão de fato excluídas do acesso à propriedade. Os analistas preveem o estouro da bolha imobiliária e esperam a ocorrência de dificuldades para os bancos, enquanto as autoridades procuram reduzir os preços mediante um sistema de taxação sobre transações e novos programas. 
A sensível questão da moradia
A cessão de moradias públicas em favor de seus ocupantes, levada a efeito durante o último decênio, permitiu a centenas de milhões de chineses tornarem-se, a preços muito modestos, proprietários de suas casas. A cessão maciça estabilizou as populações nas cidades. A maior renda média mensal nessa classe é de cerca de 1,8 mil yuans por pessoa. Com o aumento da taxa de emprego por família e a adição de rendimentos individuais, um certo bem-estar começa a surgir, nutrindo aspirações mais ambiciosas, especialmente em matéria de moradia. Segundo fontes chinesas, a crise que se traduz por uma rápida elevação de preços e aluguéis afeta, daqui em diante, as 70 principais cidades da China. Na maior parte delas, os aluguéis aumentaram quatro vezes desde 2003. Como a remuneração da poupança pelos bancos é ainda pequena, os imóveis se tornaram um valor de refúgio contra a inflação que nutre a inflação imobiliária; estima-se que de 20% a 40%, conforme as cidades, das compras são feitas para revenda, sem intenção de habitar. Os preços dos imóveis subiram tanto que provocam toda sorte de piadas sobre o tempo necessário para um jovem chinês – vários séculos – adquirir um apartamento conveniente em Pequim.
As autoridades tomam medidas para impedir a acumulação de apartamentos, mas não é fácil. No campo, o efeito sobre os camponeses das zonas suburbanas é dramático, porque as coletividades locais, proprietárias das terras, as vendem aos incorporadores de imóveis ou fazem elas próprias a promoção, expulsando os camponeses que apenas têm permissão de exploração. A venda de terras passíveis de construção constituiu, em 2009, mais da metade dos recursos das coletividades locais, que obtiveram com essas transações 226 bilhões de dólares. Seria necessária uma grande reforma fiscal, a fim de proporcionar às coletividades outras fontes de renda, mas isso tampouco é simples. O crédito para moradias foi facilitado nos anos recentes. As moradias públicas anunciadas em 2010 abrigarão uma dezena de milhão de famílias, uma minoria na escala chinesa; a situação geral permanece preocupante. A gestão administrativa.dos fluxos migratórios permite atenuar a crise habitacional, sem a reduzir, para prejuízo dos empreendedores do litoral, que reclamam maior número de trabalhadores para suas fábricas e canteiros de obras.
Salários e preços: surge uma nova dinâmica
A inflação afeta o poder de compra de um grande número de pessoas (as taxas reais de juros se tornaram negativas) e estanca a poupança, ponto nevrálgico da política de crédito e de investimento. Em fins de 2010, as autoridades deram prioridade ao combate à inflação, mas seus instrumentos para a luta são limitados. Além da revalorização do yuan, tornarammais rija a política de crédito, mas os resultados ainda não apareceram e alguns temem que a bolha imobiliária se infle ainda mais.
O vale das Pérolas deu a partida na insatisfação da sociedade contra a inflação. Em maio de 2010, uma fábrica de informática com 300 mil operários, pertencente a uma firma de Taiwan, entrou em greve para reclamar elevação dos salários e melhoria das condições de trabalho. Obtiveram êxito com o apoio implícito das autoridades. Essa greve serviu de exemplo, e outros movimentos ocorreram em diversas partes do país, na maior parte das vezes em filiais de transnacionais. É provável que a China adote rapidamente outra lógica de negociações salariais que seguirá de perto a situação de cada empresa, uma negociação descentralizada, como é o caso nos Estados Unidos.
Duas elevações do salário-mínimo, de 35% no total, foram decididas em 2010. Os aumentos produziram, por seu turno, efeitos inesperados sobre a inflação, especialmente em relação aos produtos alimentícios, pois não compensa a queda dos preços dos produtos manufaturados. Acarretaram simultaneamente, efeitos de oferta e de demanda no campo, ambos contribuindo para a inflação dos preços dos produtos alimentícios.
A lenta, porém segura, evolução do sistema de proteção social
Por enquanto, a proteção social é limitada aos trabalhadores do setor público nas cidades, que constituem 45% da população empregada, e evidentemente, quando o controle é possível, aos trabalhadores de empresas privadas. Após o fechamento de inúmeras empresas no início da década de 2000, houve uma regressão no nível de proteção social no país. A extensão dos benefícios dessa assistência às outras camadas da população local, evidentemente problemas financeiros de outra natureza,
e as perspectivas financeiras precisam ser esclarecidas. A generalização progressiva da política de proteção social no campo foi decidida em 2008, mas ainda levará tempo e dependerá dos recursos orçamentários das autoridades. Estas resolveram, há quatro anos, abolir os impostos sobre os rendimentos da agricultura, o que aumenta a capacidade dos camponeses de pagar mensalidades para a proteção social.
Disparidades cidades-campo em redução
Segundo fontes chinesas, a renda per capita nas cidades representa o triplo da renda no campo. Como a circulação de pessoas é regulamentada, essa situação apresenta problemas para as autoridades chinesas, que procuram corrigi-la gradualmente. No campo, a terra continua a ser de propriedade pública, mas os direitos de exploração atribuídos aos camponeses são estáveis. Desde o início da década de 1980, a dissolução das comunas populares – que tinham a virtude do aprendizado e da socialização, mas que não estimulavam muito o trabalho na terra – permitiu a distribuição individual a camponeses, de forma experimental posteriormente ampliada, de direitos de exploração por um prazo de 30 anos. Mais recentemente, mediante a supressão de impostos sobre os rendimentos da agricultura, as autoridades inauguraram uma forma de organização que associa três parceiros: os camponeses exploradores, as comunas e os clientes do setor agroalimentar. Os três atores têm interesse objetivo no crescimento da produção. Seiscentas empresas nacionais e duas mil provinciais compram contratualmente aos camponeses sua produção. 
Os camponeses exploradores têm também o direito de organi-zar-se em sociedades agrícolas, em bases voluntárias, e de trabalhar a terra reunindo seus meios. O desenvolvimento do crédito aos camponeses também se tornou prioridade rural chinesa. Os recursos coletados pelos inúmeros bancos no meio agrário tomam em seguida o caminho das cidades e não servem para fertilizar o campo; as autoridades decidiram recentemente obrigar os bancos a aumentar os créditos no meio rural em favor principalmente dos camponeses, mas isso não é simples. A recente e significativa elevação do salário-mínimo teve o efeito direto de elevar os custos de produção das atividades agrícolas e promover escassez de mão de obra, com o êxodo dos trabalhadores das explorações familiares e redução de sua produção. A multiplicação dos canteiros de obra no meio rural, seguinte ao relançamento decidido pelas autoridades de Pequim,acelerou o êxodo agrícola. As diversas elevações ocorridas induziram também um aumento da demanda de alimentos no meio rural, o que contribuiu ainda mais para a inflação.
Para muitos dos dirigentes de explorações agrícolas, a solução deve ser buscada na mecanização dos trabalhos; isso acarretaria, pela primeira vez na história da China moderna, uma profunda transformação do meio rural, pois é verdade que as reformas agrárias anteriores, mesmo modificando a forma de exploração das terras, não levaram efetivamente a uma intensificação da produção agrícola. 
O governo aboliu o imposto agrícola em 2006, que já durava dois mil anos. O dualismo econômico e social que caracteriza a China atual precisa ser atenuado: há uma grande distância entre os arranha-céus de Xangai e os arrozais do sul, que continuam a ser explorados igualmente há muitos séculos. A gestão administrativa dos fluxos migratórios, que ainda persiste, é o único obstáculo ao êxodo maciço em direção ao litoral leste do país, mas não poderá durar para sempre. A elevação atual nos preços dos produtos alimentícios, tão temida pelas autoridades, permite no entanto a redistribuição dos rendimentos em favor dos produtores agrícolas e reduz um pouco as disparidades de rendimentos entre as cidades e o campo, se as margens dos intermediários não ficarem com tudo. 
Além disso, a política chinesa de relançamento dos anos 2008--2009 concentrou-se no campo, desenvolvendo as infraestruturas rurais, reduzindo a carga fiscal sobre o campesinato, aumentando os preços de coleta dos produtos, distribuindo ajuda aos menos dotados e estimulando os créditos ao consumo e à habitação. Essa política de estímulos ao consumo sem dúvida deu frutos: o FMI estima que o crescimento da China nos últimos anos foi sustentado pela demanda interna, mais do que pelas exportações. 
Os problemas de saúde pública
A situação sanitária da China evolui, como em outras partes do mundo, ao ritmo do desenvolvimento global do país, da urbanização, de uma alimentação melhor, da generalização da educação e da redução progressiva das disparidades entre as cidades e o campo. As medidas tomadas ao longo dos anos recentes para fortalecer a proteção social dos menos afortunados sem dúvida melhoraram a cobertura sanitária no meio rural. No entanto, problemas graves são regularmente revelados. O drama das minas de carvão na China – segundo a imprensa ocidental anualmente morrem nelas cinco mil pessoas – é o mais frequentemente citado.
Na China, o tabagismo se torna um grande problema de saúde pública devido à amplitude dos danos e dos custos reais e previsíveis. O país é o primeiro produtor e consumidor de tabaco do mundo. O consumo de fumo aumentou nos últimos 30 anos. Estima-se que os custos diretos de saúde ligados ao tabagismo cresceram 154% de 2000 a 2008 e que esses custos ultrapassam em 7 bilhões de euros os impostos sobre o tabaco; em média, 23% dos chineses morrem a cada ano devido aos efeitos do tabagismo, mas 23% da população ainda ignora os riscos para a saúde decorrentes do fumo. A empresa nacional de tabaco, que detém um quase monopólio no mercado, emprega 520 mil trabalhadores na indústria e prospera, mesmo sendo encarregada por lei de tratar do combate ao tabagismo. As medidas legislativas e regulamentares da luta contra o tabagismo ainda são incipientes.
A segurança sanitária ligada aos medicamentos é também um problema de saúde pública. Mais de 170 mil licenças concedidas pela SFDA, órgão oficial que autoriza a entrada de medicamentos no mercado, estão atualmente sendo reexaminadas, especialmente as outorgadas de 1999 a 2002. A independência dessa instituição também é objeto de desconfiança. Seu antigo diretor Zheng Xiaoyu, condenado à morte por haver aceitado propina em troca de distribuição de licenças a medicamentos,