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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA-UNIFOR LUCIANO RAMOS DE MENEZES QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E SUA INFLUÊNCIA NO CLIMA ORGANIZACIONAL: ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DO SETOR DE ALIMENTOS FORTALEZA 2008 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA-UNIFOR LUCIANO RAMOS DE MENEZES QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E SUA INFLUÊNCIA NO CLIMA ORGANIZACIONAL: ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DO SETOR DE ALIMENTOS Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração de Empresas da Universidade de Fortaleza, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Administração. Orientador: Prof. Dr. Francisco Tarciso Leite -PhD FORTALEZA 2008 LUCIANO RAMOS DE MENEZES QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO E SUA INFLUÊNCIA NO CLIMA ORGANIZACIONAL: ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DO SETOR DE ALIMENTOS Dissertação julgada e aprovada para obtenção do Título de Mestra em Administração de Empresas da Universidade de Fortaleza Área de Concentração: Estratégia e Gestão Organizacional Linha de Pesquisa: Gestão Pública Social e Ambiental Data de Aprovação: 27/06/2008 Banca Examinadora: Prof. PhD. _______________________________________________ Francisco Tarciso Leite (Orientador UNIFOR) Prof. PhD. _______________________________________________ Raimundo Eduardo Silveira Fontenele (Membro UNIFOR) Profa. Dra. _______________________________________________ Maria Isolda Castelo Branco B. de Menezes (Membro UFC) AGRADECIMENTOS A minha família, pela generosa compreensão diante de minha ausência em tantos momentos da vida em comum. Ao professor Dr. Tarciso Leite, pela competência na orientação, paciência e disponibilidade no atendimento e, principalmente, pela confiança depositada na capacidade de cada um dos seus discípulos. A meus colegas de curso, pelo companheirismo e amizade ao longo de todo um convívio. Aos professores do Mestrado em Administração de Empresas, firmes incentivadores do conhecimento, pela qualidade e conteúdo dos programas ministrados. À coordenação do Mestrado e pessoal de apoio, que tornou nossa tarefa menos cansativa, com seu diligente trabalho. A todos que, de alguma forma, colaboraram para a realização desta Dissertação. MENEZES, Luciano Ramos de. Qualidade de Vida no Trabalho e sua Influência no Clima Organizacional: Estudo de Caso em uma Empresa do Setor de Alimentos. 2008. 94 págs. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Fortaleza, 2008. Perfil do Autor: Graduado em engenharia elétrica pela Universidade Federal do Espírito Santo, especializado em economia de empresas pela Universidade Estadual de Santa Cruz, atualmente exercendo a função de gerente industrial na Pepsico do Brasil, unidade de Recife/PE. RESUMO A qualidade de vida no trabalho é um dos grandes desafios da administração e do desenvolvimento de pessoas nas empresas contemporâneas. As ações, os estudos e as práticas gerenciais na direção da qualidade de vida pessoal vêm se alinhando com as novas formas de gestão de pessoas e processos. Com a renovação do estilo de vida, com a evolução da consciência social e do direito á saúde, construiu-se novos modelos de gestão de qualidade de vida no trabalho. Objetivando estudar e analisar a influência da qualidade de vida no trabalho no clima organizacional de uma empresa como estudo de caso, elaborou-se o presente trabalho, através da aplicação de um programa de qualidade de vida no trabalho, contemplando a participação dos colaboradores e dos familiares, com base no referencial teórico da abordagem dos autores Huse & Cummings (1985). A pesquisa realizada para coleta de dados e informações foi de natureza quantitativa e com abordagens qualitativas, visando estabelecer a compreensão e inter-relação dos resultados. Foi aplicado questionário sob forma de censo a fim de possibilitar a participação efetiva dos colaboradores da área industrial da empresa pesquisada, possibilitando avaliar o clima de uma organização através de alguns instrumentos que caracterizam uma representação ou uma percepção da realidade organizacional denominada de "pesquisa de clima". O resultado da aplicação do programa de qualidade de vida no trabalho refletiu em melhoria da saúde mental, física e psicológica dos funcionários, repercutindo positiva e instantaneamente na qualidade do seu trabalho profissional na empresa objeto do estudo de caso. Palavras-chave: Qualidade de vida no trabalho. Pesquisa de Clima. Motivação. ABSTRACT Quality of work life is one of the administration great challenges and of the development of people in the contemporary companies. The action, the studies and the managerial practices in the quality direction of personal life come aligning itself with the administration new forms of people and processes. With the lifestyle renewal, with the evolution of the social conscience and of the right health, it built quality administration new models of life at work. Objectifying study and to analyze quality of work life influence in the ORG HEALTH of a company as study of case, it elaborated the present work, through the application of a quality of work life program, contemplating collaborators' participation and theirs parents, using the authors approach Huse & Cummings (1985). The research accomplished for data and information collection belonged to nature is quantitative and with approach of qualitative, content analysis, aiming establish the results comprehension and interrelation. It was applied questionnaire under census form in order to enable effective participation of the industrial collaborators of the company X, evaluate the ORG HELTH through some instruments that characterize a representation or a reality perception denominated of "climate research". The result of quality program application of life at work reflected in improvement of the mental, physical and psychological health of employees improving positive and instantly in the quality of your professional work in the study company object of case. Key words: Quality of Work Life. Climate Research. Motivation. LISTA DE ILUSTRAÇÕES QUADRO Página 1 Classificação das atividades de recursos humanos e de gestão de pessoas, segundo diferentes autores ................................................. 34 FIGURAS Página 1 Processo de ARH nas organizações .................................................... 35 2 O ciclo motivacional ............................................................................... 51 LISTA DE TABELA Página 1 Perfil dos Pesquisados .........................................................................77 SUMÁRIO Página INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10 1 CULTURA ORGANIZACIONAL ............................................................ 16 1.1 Clima Organizacional ............................................................................. 20 1.1.1 A Avaliação do Clima Organizacional: modelos ..................................... 24 1.1.1.1 Modelo de Ltiwin e Stringer .................................................................... 26 1.1.1.2 Modelo de Sbragia ................................................................................. 27 1.1.1.3 Modelo do Great Place to Work Institute ………………………….…....... 29 1.1.1.4 Outros modelos ...................................................................................... 30 1.2 Aspectos comportamentais da Gestão de Pessoas ............................... 31 1.2.1 Gestão de Pessoas (GP) ........................................................................ 33 1.2.2 Administração de Recursos Humanos (RH) .......................................... 35 1.3 Os Fatores que Influenciam o Clima Organizacional ............................. 36 1.3.1 A Motivação no Trabalho ........................................................................ 37 1.3.2 Forças Motivacionais .............................................................................. 38 1.3.3 Teoria da Expectação ............................................................................. 39 1.3.4 Motivação e Liderança ........................................................................... 40 2 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO ............................................... 42 2.1 Conceituação e Dimensões .................................................................... 44 2.2 Principais modelos ................................................................................. 46 2.2.1 As oito dimensões .................................................................................. 45 2.2.2 Os estados psicológicos ......................................................................... 47 2.2.3 Mudanças ideológicas na organização .................................................. 47 2.2.4 A humanização do trabalho .................................................................... 48 2.2.5 Concepção do cargo .............................................................................. 49 2.2.6 Participação ............................................................................................ 50 3 METODOLOGIA DA PESQUISA ........................................................... 55 3.1 Procedimento técnico ............................................................................. 57 3.2 Proposições da Pesquisa ....................................................................... 60 3.3 Coleta de dados ..................................................................................... 62 3.4 Característica e atuação da empresa pesquisada ................................. 64 3.5 Programa de Qualidade de Vida no Trabalho ........................................ 68 3.6 Questionário da pesquisa de clima ........................................................ 72 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................... 75 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 79 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 83 APÊNDICE A - Instrumento Utilizado na Pesquisa .............................................. 88 10 INTRODUÇÃO Nos últimos anos, as empresas nacionais passaram por uma revolução na produtividade. O Brasil foi o segundo país no ranking de aumento de produtividade na década de 1990. Essa revolução transformou a vida das pessoas, estabelecendo um ritmo considerado alucinante, com excesso de horas de trabalho e uma pressão sempre crescente para ser cada vez mais competitivo. Nesse contexto, o “super profissional” despertou, então, para as outras dimensões do ser humano e questionou como conciliar trabalho e família. O lado profissional tornou-se assim, a face predominante do ser humano, que se sentiu forçado a ser este “super profissional” e, para tanto, não poupou esforços em jornadas laborativas acima de 12 horas diárias. O fato é que esse ritmo, sendo assimilado por todos na sociedade, passa a ser um novo padrão. Trabalha-se aos sábados e domingos, desaparecem os feriados etc. Tudo parece ir bem até que uma ou mais das esferas da vida do ser humano (familiar, social e física) passam a apresentar transtornos e, em conseqüência, surgem mais acentuadamente problemas familiares, stress, insônia e problemas de saúde. Nesse momento, inicia-se um processo degradativo do clima organizacional. Sabe-se que as organizações são constituídas por um conjunto de variáveis, visando objetivos e uma missão, voltados para um negócio ou um fim. Para atingir tais propósitos, elas precisam se estruturar, utilizando ao máximo seus pontos fortes, principalmente no que concerne à força de trabalho. Admite-se que estruturas, procedimentos, rotinas, métodos, fluxos e outras funções inerentes ao trabalho administrativo sejam de grande valor no processo de tomada de decisão. Se os colaboradores contidos neste cenário não estiverem motivados, comprometidos e com muita saúde, nada funcionará a contento. Em cenários diferentes e com outros nomes, o ser humano, desde o início de sua existência tem dado atenção à qualidade de vida no trabalho. Tal preocupação, 11 sempre esteve voltada para a satisfação e bem estar do trabalhador, facilitando, o quanto possível, a execução das tarefas. Rodrigues (2002, p. 76) cita exemplos de alguns fatos históricos como os ensinamentos de Euclides de Alexandria sobre o princípio da geometria, 300 anos a.C, aplicados para melhorar o método de trabalho dos agricultores à margem do Nilo, ou a “lei das alavancas” de Arquimedes, que, em 287 anos a.C, veio diminuir o esforço físico de muitos trabalhadores. Como esses, historicamente podem ser citados centenas de exemplos que minimizaram o esforço físico dos trabalhadores e trouxeram, intrinsecamente, melhorias nas condições de trabalho e bem estar das pessoas. Nos séculos XVIII e XIX, foram sistematizados os métodos de produção e com isso a preocupação com as condições de trabalho; a influência delas na produtividade vieram a ser, posteriormente, estudadas pela ciência. Iniciaram-se os estudos através dos economistas liberais e depois pelos autores da Administração Científica e Escolas das Relações Humanas e várias formas foram teorizadas, umas se complementando e outras se contradizendo. Na Inglaterra, nos anos 50, Eric Trist e sua equipe estudaram um modelo com o intuito de agrupar o trinômio Indivíduo/Trabalho/Empresa, denominado “Qualidade de Vida no Trabalho”. O mesmo Eric Trist, em 1975, referiu-se à qualidade de vida no trabalho como ponto de fundamental importância para as organizações. Para Nader & Lawler (1983), as organizações que esperam atingir níveis de excelência na produtividade deverão concentrar a grande esperança na qualidade de vida no trabalho, namotivação e na satisfação das pessoas. Os anos 60 foram marcados pela convulsão social gerada pelo questionamento do funcionamento das estruturas da sociedade. De acordo com Rodrigues (2002), os movimentos reivindicatórios dos trabalhadores norte-americanos e a não passividade dos estudantes franceses foram dois grandes marcos daquela fase. Toda essa agitação provocou reflexos imediatos no interior das organizações, e a 12 dicotomia clássico-moderna foi indutora de conflitos e crises neste meio. Tal cenário tornou o indivíduo mais consciente e favoreceu os estudos científicos iniciados nos anos 50, principalmente nos Estados Unidos e na Inglaterra. Foi naquela década que o movimento de qualidade de vida no trabalho tomou impulso. De acordo com Huse & Cummings (1985), a evolução da responsabilidade social das organizações e a conscientização dos trabalhadores da época influenciaram de forma decisiva para que os estudiosos e os dirigentes das organizações estudassem as melhores formas de executar os trabalhos. Essa fase, que se estendeu até 1974 e seguia a linha sócio-técnico, tinha, como princípio maior, a organização do trabalho a partir da reestruturação da tarefa. Huse & Cummings (1985) citam alguns fatos importantes que aconteceram nos Estados Unidos como: a criação da “Nacional Comission on Productivity”, que estudava a baixa produtividade das empresas americanas, a criação do “National Center for Productivity and quality of Work Life”, cuja função era estudar a produtividade e a qualidade de vida no trabalho e os grupos de estudos como o “Quality of Work Program” e o “American Center of Work Program”. Enfatiza-se que os anos 70 foram caracterizados pelo sucesso das indústrias japonesas, onde os estilos e técnicas gerenciais eram focados nas pessoas e com elevada atenção para a competitividade internacional. As empresas ocidentais mudaram o enfoque do gerenciamento organizacional e fizeram surgir os primeiros movimentos e aplicações estruturadas nas organizações, utilizando a qualidade de vida no trabalho. O agravamento da crise energética e a alta inflação da época fizeram com que as organizações mudassem o rumo da Qualidade de Vida no Trabalho. Até o final da década de 70, tivemos uma grande paralisação no desenvolvimento e preocupações com a Qualidade de vida no trabalho. As organizações preocupavam-se e tinham suas atenções desviadas para a alta inflação e a substituição do petróleo, que até 1974 era uma fonte de energia de baixo custo. (RODRIGUES, 2002, p. 78). Após 1979, as técnicas de administração voltaram-se para o modelo das empresas japonesas, e a qualidade de vida no trabalho ganhou novas abordagens. 13 Na visão atual, multiplicaram-se as ações, os estudos e as práticas gerenciais nessa direção, alinhando-se com as novas formas de gestão de pessoas e processos, com a evolução da consciência social e do direito à saúde. Com a renovação do estilo de vida, construiram-se novos modelos de gestão de qualidade de vida no trabalho. Davis & Werther (1983 apud CARVALHO, 2002) citam ser a qualidade de vida no trabalho um dos grandes desafios da administração e do desenvolvimento de pessoas. Rodrigues (2002) relata que as principais abordagens sobre qualidade de vida no trabalho foram realizadas pelos autores Walton (1973), Westley (1979), Davis & Werther (1983 apud CARVALHO, 2002), Nader & Lawler (1983) e Huse & Cummings (1985). É importante destacar que a empresa estudada, foco da pesquisa como objeto do estudo de caso deste tema, adotou a abordagem dos autores Huse & Cummings (1985) como referencial teórico para sua experiência. Nessa abordagem, a operacionalização do modelo é explicitada através de quatro programas, ou seja, a participação do trabalhador nos problemas operacionais; o projeto do cargo em que os mesmos devem atender às necessidades tecnológicas do trabalhador; inovação no sistema de recompensa que visa minimizar as diferenças salariais e de status entre os trabalhadores e a melhoria do ambiente, diretamente ligada às mudanças físicas nas condições de trabalho. O tema “qualidade de vida no trabalho e clima organizacional” vem ganhando cada vez mais destaque no âmbito acadêmico, organizacional e administrativo. O problema de pesquisa reside na seguinte questão: é possível demonstrar a influência da qualidade de vida no trabalho e no clima organizacional da empresa pesquisada através da aplicação de um programa de qualidade de vida no trabalho que contemple a participação dos colaboradores e dos familiares? Se isso for possível, como pode ser feito? A identificação do problema foi fundamental na determinação do objetivo dessa dissertação e sua respectiva pesquisa, qual seja analisar a influencia da qualidade de vida no trabalho no clima organizacional da empresa pesquisada. Isso seria 14 viável através da aplicação de um programa com esse propósito e que contemplasse a participação dos colaboradores e seus familiares. O referencial teórico partiria da abordagem de Huse & Cummings (1985) e o modelo de pesquisa de clima organizacional utilizado no Great Place to Work Institute, do autor Levering (1984). Como objetivos específicos, salientam-se: a) verificar o comportamento e a participação do grupo estudado na pesquisa de clima organizacional e no programa de qualidade de vida no trabalho da empresa estudada; b) investigar se existiu percepção de progresso dos funcionários quanto à inovação no sistema de recompensa, que visa minimizar as diferenças salariais e de “status” entre os trabalhadores; c) verificar como é considerado pelos funcionários o “lay out” dos equipamentos e ferramentas de trabalho, bem como o horário de trabalho (flexibilidade ou inflexibilidade) e o grau de satisfação do sistema de gestão utilizado pela unidade fabril, incluindo a forma de liderança dos gestores; d) investigar o grau de satisfação com programas de qualidade praticados pela empresa pesquisada; O estudo de caso realizado é de natureza qualitativa, com abordagem de análise quantitativa visando estabelecer a compreensão e inter-relação dos resultados. A pesquisa foi aplicada sob forma de censo a fim de possibilitar a participação efetiva de todos os colaboradores da área industrial da empresa pesquisada. Um programa de qualidade de vida no trabalho deve atingir todos os níveis da organização, pois é necessário canalizar esforços para atingir tal propósito. No presente trabalho, além da introdução e conclusão, foram elaborados quatro capítulos. No primeiro, abordou-se a cultura organizacional e a qualidade de 15 vida no trabalho; no segundo tratou-se da empresa pesquisada; no terceiro, a metodologia usada na pesquisa e no quarto capítulo foi exposta a análise e os resultados. 16 1 CULTURA ORGANIZACIONAL A sociedade está em um momento de transição que se reflete na busca incessante pelo incremento da concorrência organizacional. Esse desafio, por sua vez, pode ser registrado como um dos responsáveis pelo imperativo da qualidade. Em tal conjuntura, é determinante que as organizações pensem em sedimentar suas capacidades e potenciais com intuito de seguir o novo conceito de trabalho, bem como as provocações a ele intrínsecos. Assim, quando se comenta sobre qualidade de vida no trabalho, necessita-se ressaltar constantemente a íntima relação da abordagem do tema com a questão da motivação e da liderança nas organizações. É perfeitamente conexo e extremamente importante o incremento de aspectos que beneficiemo atendimento e o desenvolvimento do indivíduo como ser multidisciplinar, reconhecendo suas mais variadas e vastas necessidades. Isso porque, todos os aspectos e facetas influenciam no clima organizacional e, consequentemente, na qualidade de vida no trabalho. É relevante lembrar, nessa perspectiva, que o ser humano possui sentimentos e ambições; cria expectativas, envolve-se, procura o crescimento dentro daquilo que desenvolve e realiza. Por isso, há de se deixar de lado a obsoleta concepção de que o ser humano trabalha apenas para a aquisição do salário, que recusa seus sentimentos, que não se frustra com a falta de crescimento e que não se aborrece com o total descaso dos seus gestores. Importante, também, é saber que o ser humano, ao ingressar na empresa, é um “ser” integrado e indivisível, que possui direito a sonhar e especialmente direito à auto-estima e auto-realização. O favorecimento do desenvolvimento desse perfil humano, que obviamente condiz com os padrões do paradigma emergente, consiste em estabelecer os fundamentos para uma organização perspicaz e inovadora. Assim como respeitá-lo como “ser humano” é o mesmo que cooperar para a edificação de uma sociedade mais humana e para um desenvolvimento sustentável, 17 o investimento em qualidade de vida denota investimento no progresso da sociedade e da economia global. Neste novo milênio, tem sido intenso o esforço empreendido pelas organizações para sobreviver, como também enorme o desgaste e o sacrifício infligido ao trabalhador moderno. Isto porque, os trabalhadores passam a maior parte de suas vidas nas organizações, portanto seria ideal que essas organizações fossem transformadas em lugares mais aprazíveis e saudáveis para a execução do trabalho. Assim, em uma sociedade, em que as organizações estão passando por grandes transformações, a questão “motivar pessoas” está em foco, ou seja, motivar é ter motivos para trabalhar, dedicar-se, comprometer-se, querer aprender, ir em busca de resultados tendo, portanto, qualidade de vida. De acordo com as pesquisas realizadas, percebe-se haver uma ampla concordância de que a cultura organizacional se refere a um sistema de valores, compartilhado pelos membros de uma organização e que difere uma da outra (ROBBINS, 2004). Define, portanto, como um conjunto de valores, crenças, costumes, rituais, slogans, mitos, tabus, tradições, sentimentos, normas e princípios que são constituídos através de ações do homem, pelo fundador, pelo ramo de atividade e localização da empresa. A cultura pode ser vista de diferentes ângulos, através do comportamento dos funcionários, o ambiente interno da empresa, as decisões tomadas, o modo de administrar, o processo de comunicação interna e externamente. A cultura precisa ser inventada, transmitida e perpetuada pelo homem. Segundo Vergasta (2001), a cultura organizacional não é algo pronto e acabado, mas está em constante transformação, de acordo com sua história, os seus atores e com a conjuntura. É importante salientar que as organizações, muitas vezes, estão inseridas em um mesmo contexto sócio-econômico-cultural, podem apresentar características singulares. Isso se deve a inúmeras variáveis: o modelo 18 de gestão que recebem; o tipo de liderança predominante; o comprometimento de seus colaboradores; a sub-cultura local com suas respectivas crenças e tabus; enfim, a uma diversidade de fatores que irão constituir uma cultura organizacional diferente em cada organização (LIMA; ALBANO, 2002). Dessa forma, segundo Vergasta (2001), toda cultura se apresenta em três diferentes níveis: Artefatos: constituem o primeiro nível da cultura e incluem os produtos, serviços e os padrões de comportamento, vestuário das pessoas, rituais e mitos organizacionais, assim como crenças expressas em documentos. São fáceis de serem percebidos, mas difíceis de serem interpretados. Valores compartilhados: constituem o segundo nível da cultura, baseiam-se no problema da diferença existente entre os valores aparentes e os valores em uso. Para identificá-los, a observação direta não é o recurso mais viável. É preciso entrevistar os membros chave, que expressam o que as pessoas reportam ser e a razão do seu comportamento (na maioria das vezes idealizações). Pressuposições básicas: constituem o nível mais intimo, normalmente inconsciente, mas que na realidade determinam como os membros do grupo percebem, pensam e sentem. À medida que certos valores compartilhados pelo grupo conduzem a determinados comportamentos que se mostram adequados para solucionar problemas, eles são gradualmente transformados em pressupostos inconscientes sobre como as coisas realmente são. De acordo com Vergasta (2001), a cultura da organização possui também pressupostos básicos ou pontos fundamentais para o sucesso do diagnóstico organizacional, geralmente naquelas intervenções em que se torna fundamental compreender como a organização funciona sob o ponto de vista do comportamento humano: Normas: são padrões ou regras de conduta nos quais os membros da 19 organização se enquadram. A norma é um padrão que as pessoas obedecem sem levar em conta o lado bom ou mau. As normas podem ser explícitas, e as pessoas a elas se adaptam conscientemente. Ex.: manuais, estatutos, regulamentos, etc. Podem ainda ser implícitas (subentendidas), como aquelas regras de conduta às quais as pessoas se conformam, mas não têm dela consciência. Quanto mais conformidade existir entre os dois tipos de normas, mais desenvolvida e eficaz será uma organização. Valores: é o conjunto daquilo que a força de trabalho julga positivo ou negativo numa organização. Normas e valores relacionam-se, existindo, conseqüentemente, uma interdependência entre eles; os valores podem estar refletidos nas normas, mas pressupõem se a norma é boa ou ruim, uma vez que há avaliação. Reflete esses valores a sociedade no qual se insere a organização. Recompensa: segundo um postulado das ciências do comportamento, as pessoas agem e se apresentam em função do que recebem de recompensa ou reforço. É indispensável, portanto, no desenvolvimento do trabalho, que se faça ver aos gerentes que não se deve laurear apenas os empregados de excepcional rendimento, mas que também possa servir de estimulo aos menos dedicados. Poder: quem tem poder na organização? Até que ponto esse poder é distribuído? Qual o grau de centralização ou descentralização da autoridade? Quem determina as recompensas? Vale salientar que a cultura organizacional original deriva da filosofia do fundador da empresa. Isso, por sua vez, influencia fortemente os critérios utilizados na contratação da força de trabalho, tanto que as ações dos dirigentes estabelecem o clima geral dos comportamentos aceitáveis. A maneira como os funcionários serão socializados vai depender tanto do sucesso obtido no processo de seleção, em relação à adequação entre os valores dos recém-chegados e os da organização, quanto da preferência dos dirigentes quanto aos métodos de socialização. Um ajustamento inicialmente imperfeito não implica necessariamente que a 20 pessoa esteja no emprego errado. O indivíduo provavelmente fará ajustes enquanto se socializa dentro das práticas da organização. É provável que ocorra a necessidade desse tipo de adaptação mesmo quando o empregado e a organização forem muito compatíveis. Se, desde o início, isso for bom, esses ajustes tendem a ser pequenos e indolores tanto para o indivíduo quanto para os seus companheiros de trabalho.Por outro lado, as tentativas de fazer grandes mudanças podem ser traumáticas e terão pouca probabilidade de sucesso. Claro que a organização também pode fazer concessões para acomodar o indivíduo, mas essas normalmente são de pequena grandeza e demoram a acontecer. 1.1 Clima Organizacional Segundo Rizzatti (2002), nos Estados Unidos, em 1960, surgiram os primeiros estudos sobre o clima organizacional com os trabalhos sobre comportamento organizacional de Forehand e Gilmer, dentro de um movimento da administração chamado comportamentalismo. Esse movimento buscou na psicologia, as ferramentas necessárias para alcançar o objetivo de combinar a humanização do trabalho com as melhorias na produtividade. Os estudos dos autores acima mencionados chegaram aos conceitos iniciais e a alguns indicadores do clima organizacional a partir de estudos comportamentais do indivíduo. Tais trabalhos tinham como objetivo, medir e conceituar o clima organizacional, realizando assim uma comparação com estudos sobre comportamento individual. Existem várias propostas para tentar explicar a relação entre o clima organizacional e a produtividade, mas a grande maioria esbarra em um paradoxo: nem sempre os funcionários mais felizes são os mais produtivos. As empresas que possuem os colaboradores mais satisfeitos no entanto, acabam propiciando um clima favorável, e assim tendem a ser mais eficazes. (ROBBINS, 2004). 21 Intuitivamente, a maioria das pessoas (senso comum) entende que o clima de um ambiente de trabalho tem um impacto em como as pessoas se sentem e como são suas performances (TANAJURA; JESUS, 2003). Falar em clima organizacional é fazer uma abordagem do que se chama de ambiente organizacional ou ambiente de trabalho. Para Dejours (1994), esse último é o palco onde o indivíduo coloca as suas projeções, os seus desejos e desempenha seu papel. É através do trabalho que o homem participa das relações sociais e transfere os seus anseios infantis e a sua história afetiva. Para Cavedon (1988, p.45): se os trabalhadores forem aceitos como agentes da organização, portadores de uma personalidade madura e lhes for permitido expressar suas necessidades, bem como concretizá-las, o seu ambiente será sadio, predisposto ao crescimento, tanto organizacional quanto pessoal. Os conceitos de cultura e clima organizacional são, às vezes, confundidos. É importante compreender e aceitar que a cultura organizacional existe e é um importante instrumento para tentar explicar ou predizer o comportamento das organizações e de seus membros. Ela atua profundamente sobre as percepções e os procedimentos no ambiente empresarial. Compreender as suas diferenças torna- se essencial, uma vez que tanto a cultura como o clima organizacional afetam a organização de modo diferenciado (SHEIN, 1999). Muitas empresas vivenciam problemas de clima decorrentes diretamente da cultura organizacional. Nestes casos, algumas medidas podem gerar mudanças no clima, porém, para o problema ser definitivamente resolvido, é necessário haver mudanças culturais. O clima organizacional é a expressão ou manifestação da própria cultura. Tem nno entanto, uma natureza mais transitória, podendo aceitar intervenções de curto prazo; a cultura envolve mudanças organizacionais mais profundas e normalmente de longo prazo. Sendo o clima mais facilmente manipulável, algumas mudanças organizacionais podem ter reflexo imediato (SANTOS, 2000). 22 De acordo com Souza: o clima organizacional é um fenômeno resultante da interação dos elementos da cultura, como preceitos, caráter e tecnologia. Decorre do peso dos efeitos de cada um desses elementos culturais, valores, políticas, tradições, estilos gerenciais, comportamentos, expressões dos indivíduos envolvidos no processo e também resultante do conjunto de instrumentos, conhecimentos e processos operacionais da organização (SOUZA, 1978, p.56). Litwin e Stringer (1968), ao estudarem o fenômeno, utilizaram um questionário baseado em nove dimensões que explicariam o clima organizacional existente numa determinada empresa e cada uma dessas dimensões está relacionada com certas propriedades da organização, tais como: estrutura; responsabilidade; recompensa; desafio; relações; cooperação; padrões; conflito; identidade. o conceito de clima organizacional envolve uma visão mais ampla e flexível da influência ambiental sobre a motivação. É a qualidade ou propriedade do ambiente organizacional que é percebida ou experimentada pelos membros da organização e influenciada no seu comportamento. Refere-se ao ambiente interno existente entre as pessoas que convivem no meio organizacional e esta relacionada com o grau de motivação de seus participantes (CHIAVENATO, 2004, p.87). O clima organizacional é, assim, um fenômeno resultante da interação dos elementos da cultura organizacional; é uma conseqüência do peso da cultura da instituição e seu efeito sobre os outros dois (costumes e valores). Uma excessiva importância dada à tecnologia, leva a um clima desumano. Pritcharal e Karasich (apud CHIAVENATO, 2004) sintetizaram muitas definições em uma só: uma qualidade relativamente permanente do ambiente interno de uma organização,que distingue uma organização da outra: a) é resultante do comportamento e política dos membros da organização, especialmente da alta administração; b) é percebido pelos membros da organização; c) serve como base para interpretar a situações; d) atua como fonte de pressão para direcionar a atividade. No mesmo sentido, Abbey e Dicson (apud CHIAVENATO, 2004) definem o tema como “a qualidade de um ambiente interno de uma organização, que resulta do comportamento e conduta dos seus membros, serve como uma base para interpretar a situação e age, também, com uma fonte de pressão direcionando as 23 atividades.” Dessa forma, nota-se que o clima organizacional influencia direta e indiretamente nos comportamentos, na motivação, na produtividade do trabalho e também na satisfação das pessoas envolvidas com a organização. Isso porque o clima retrata o grau de satisfação material e emocional das pessoas no trabalho. Observa-se que ele influencia profundamente a produtividade do indivíduo e, conseqüentemente, da empresa. Assim sendo, o mesmo deve ser favorável e proporcionar motivação e interesse aos colaboradores, além de uma boa relação entre os funcionários e a empresa (LUZ, 2002). Em um cenário caracterizado pela globalização, pela competitividade e pela qualidade, um desafio a ser buscado pelos gestores da administração é a investigação científica do clima organizacional. Essa variável pode ser definida como um conjunto de atributos mensuráveis da organização, que é percebido pelos seus membros e influencia seu comportamento. Pode-se dizer que organização é um sistema de atividades conscientemente coordenadas por duas ou mais pessoas, onde, devido a limitações pessoais, os indivíduos são levados a cooperarem uns com os outros para alcançar certos objetivos que a ação individual isolada não conseguiria. Portanto, as organizações se constituem nessa interação que faz com que sejam dinâmicas e complexas, ou seja, um organismo vivo. Assim, pode-se compreender porque a definição etimológica do termo é organom = órgão (LIMA; ALBANO, 2002). A organização é composta por agrupamento humano, metas, tecnologia, insumos e metas individuais, em que cada indivíduo desempenha um papel definido, segundo suas características pessoais, e todos, de forma coerente e sistemática, visam a um objetivo comum.Sendo as pessoas dotadas de personalidade única, inalienável e irrepetível, cada uma apresenta uma capacidade de adaptação de comportamento aos diversos tipos de ambiente como trabalho, casa, igreja, escola ou qualquer outro lugar. A história de vida de cada uma compõe sua personalidade e fazem parte dela, 24 diversos traços, os quais podem ser positivos ou negativos, o que vem a intervir no meio em que se encontra. No cenário competitivo em que as organizações vivem, e com a grande facilidade de acesso a quase todo tipo de informação, o que diferencia uma empresa da outra são detalhes muito sutis, mas que implicam muita diferença no resultado final. Na busca por esse diferencial competitivo, as organizações passaram a perceber que o capital humano poderia ser sua grande riqueza, tendo em vista que o mercado não teria como comprar ou copiar esse tipo de inteligência. Ao administrador, especialmente de recursos humanos, cabe a tarefa de identificar e intervir de maneira a canalizar estes traços para a obtenção de resultados satisfatórios dentro da organização. E, para tanto, é preciso que faça uma análise de fatores importantes, tais como o clima organizacional que pode ser visto como o “termômetro” da empresa, por mostrar como a organização se encontra, podendo prever se a meta vai ou não ser atingida. Faz-se necessário salientar que o clima organizacional é um fator essencial para a geração de um ambiente de trabalho motivador que possa inclusive suscitar alguns fatores que possibilitam a identificação da Qualidade de Vida do Trabalhador (QVT). 1.1.1 A Avaliação do Clima Organizacional: modelos Existem inúmeros tipos e subtipos de clima organizacionais. A classificação de somente alguns deles se deve apenas a um fator meramente didático e sistemático. Litwin e Stringer (1968) aproveitaram os estudos iniciados por Forehand e Gilmer e realizaram experiências em três companhias americanas, onde ficou demonstrado que os resultados, obtidos em termos de satisfação e desempenho no trabalho em cada uma das empresas, apresentaram-se completamente diferentes. As conclusões ali encontradas ajudaram a disseminar os estudos sobre clima 25 organizacional e auxiliou outros trabalhos do movimento comportamentalista. No Brasil, Souza (1978) utilizou o modelo de Litwin e Striger para aplicar e difundir a pesquisa de clima, realizando diversos trabalhos em órgãos públicos e empresas privadas. Para esse autor, o clima organizacional depende de cinco dimensões: 1) Estrutura da organização: afeta o sentimento das pessoas sobre as restrições em sua situação de trabalho, como regras excessivas, regulamentos e procedimentos, autoridade hierárquica, disciplina etc; 2) Responsabilidade: produz o sentimento de ser seu próprio chefe e de não haver dependência nem dupla verificação em suas decisões; 3) Riscos: levam à iniciativa e ao senso de ousar e enfrentar desafios no cargo e na situação de trabalho; 4) Recompensas: conduzem ao sentimento de ser recompensado por um trabalho bem feito; são as substituições do criticismo e das punições pela recompensas; 5) Calor e apoio: o sentimento de boa camaradagem geral e de ajuda mútua. O clima afeta o comportamento das pessoas, que por sua vez afetam o próprio desempenho dos negócios. Assim, hoje, para que uma organização alcance bons resultados, não basta dispor apenas dos recursos necessários. É preciso que as pessoas que nela trabalham tenham competência para tal função, que se encontrem motivadas para operar a função e que tenham ao alcance os meios necessários para fazê-lo. O diagnóstico do clima organizacional, conforme Souza (1978) não pretende “colocar em cheque” as posições pessoais dos empresários, mas ajudá-los a entender melhor suas empresas e minimizar-lhes os prejuízos. Os instrumentos utilizados para avaliar o clima de uma organização são na verdade, uma pesquisa 26 de opinião, que caracteriza uma representação ou uma percepção da realidade organizacional. Chamamos isto de “pesquisa de clima”. De acordo com os trabalhos acadêmicos de Rizzatti (2002), Pereira (2003) e Luz (2002) apresentam-se em detalhes três principais modelos para pesquisa de clima organizacional desenvolvidos para serem aplicados em empresas. Posteriormente são expostos outros modelos mais específicos em alguma área de organização ou em algum assunto específico do próprio estudo de clima nas organizações. 1.1.1.1 Modelo de Ltiwin e Stringer O modelo proposto por Ltiwin e Stringer (apud SANTOS, 2000) utiliza questionário que aborda nove fatores: 1) A “Estrutura”, que representa a percepção dos membros da organização sobre a quantidade de regras, procedimentos e outras limitações enfrentadas para a realização dos trabalhos e a ênfase que ali é colocada na burocracia comparada com a que é posta em um ambiente de trabalho livre e informal. 2) A “Responsabilidade”, na qual se considera o sentimento dos membros da organização a respeito da sua autonomia nas decisões relacionadas ao seu trabalho dia a dia, levando-se em conta o sentimento de ser seu próprio chefe. 3) O “Desafio”, concernente à percepção dos membros da organização quanto as novas propostas impostas pelo trabalho. É neste tópico que a organização promove a aceitação de riscos calculados para atingir os objetivos propostos. 4) A “Recompensa”, que corresponde à percepção dos membros sobre as propostas de prêmio sugeridas pela organização por um trabalho bem feito. Isso avalia se a organização utiliza mais a premiação do que a punição. 5) As “Relações”, nas quais se constata ou não a existência de um bom ambiente de trabalho e de boas relações sociais, tanto entre os pares quanto entre 27 os chefes e subordinados. 6) A “Cooperação” é o sentimento dos colaboradores sobre a existência de um espírito de solidariedade pelas lideranças e pelos demais colegas de trabalho. É a ênfase no trabalho em equipe. 7) O “Conflito” é a percepção de que os colaboradores, em todos os níveis, aceitam opiniões contrárias e não temem enfrentar problemas e achar soluções tão logo esses apareçam. 8) A “identidade” é o sentimento de pertencer à organização como elemento importante dentro da equipe de trabalho. 9) O “padrão” que é o grau que a organização enfatiza os processos e as normas. 1.1.1.2 Modelo de Sbragia O modelo de Sbragia (1983), um estudo de clima organizacional em uma determinada instituição de pesquisa, utilizou um instrumento de coleta de dados com vinte fatores: 1) Grau de tensão - que é o grau com que as pessoas agem e decidem de forma lógica e racional; 2) Conformidade exigida - em que se percebe como as normas e regulamentos são captadas pelos membros de uma organização; 3) Proximidade da supervisão - indica como a gestão é exercida pelo supervisor e qual o grau de autonomia que o colaborador tem para redefinir os métodos de trabalho; 28 4) Ênfase na participação - revela o quanto estão envolvidos os membros da organização no processo decisório e na aceitação das idéias e sugestões; 5) Adequação na estrutura - descreve o quanto a organização facilita as ações dos colaboradores em termos de normas, procedimentos, comunicação, de acordo com os requisitos de trabalho; 6) Consideração humana - mostra o patamar de humanização da organização em relação a seus membros; 7) Recompensas proporcionais - dizem respeito a como as pessoas são distinguidaspelo trabalho e se é justa ou não a política de remuneração e os planos de carreira; 8) Autonomia presente - reflete o grau de liberdade que os colaboradores detêm na tomada de decisões; 9) Prestígio obtido - demonstra a percepção de como os membros da organização são vistos externamente; 10) Cooperação existente - descreve o grau de confiança entre os colaboradores e o quanto essa relação é boa; 11) Atitude perante os conflitos - registra o quanto os colaboradores estão dispostos a considerar opiniões diferentes e a explicitar os conflitos existentes; 12) Padrões enfatizados - descrevem a importância dada às metas e aos padrões de desempenho; 13) Sentimento de identidade - mostra o quanto os colaboradores sentem que pertencem à organização; 14) Clareza percebida - revela o quanto a organização se importa com a 29 comunicação interna, ou seja, o quanto ela informa seus membros sobre assuntos relevantes para eles; 15) Tolerância existente - indica como a organização trata os erros das pessoas; 16) Justiça predominante - mostra o grau com que os critérios de habilidade e desempenho são considerados nas decisões da organização; 17) Apoio logístico proporcionado - diz respeito ao quanto a organização oferece de recursos necessários para que as pessoas possam desempenhar determinada função adequadamente; 18) Condições de progresso - mostram como a organização disponibiliza oportunidades e estimula o crescimento profissional; 19) Reconhecimento proporcionado - é indicativo do quanto as ações diferenciadas são reconhecidas e valorizadas pela organização; e 20) Forma de controle - monitora os indicadores de performance para melhorias contínuas, em vez de usá-las como regras de punição. 1.1.1.3 Modelo do Great Place to Work Institute O modelo utilizado no Great Place to Work Institute (GPTWI), consultoria americana que atua no Brasil desde 1997, não se propõe a avaliar o clima e sim a estabelecer um conjunto de fatores que permitem a comparação do grau de satisfação dos empregados em diversas organizações empresariais. Na verdade, conforme descreve Levering (1984), inicialmente a idéia era verificar a existência de alguma correlação entre satisfação dos colaboradores e 30 desempenho econômico e financeiro da organização. Após entrevistar os colaboradores de diversas organizações americanas, o autor concluiu ser um excelente lugar para se trabalhar aquele onde o indivíduo gosta dos colegas de trabalho, confia na organização e tem orgulho do que faz. O modelo que foi proposto por Levering (1984) possui cinco fatores, mostrados a seguir. 1) Credibilidade - indica o grau de acesso e abertura na comunicação, integridade, competência na coordenação dos recursos humanos e materiais, bem como consistência nas decisões; 2) Imparcialidade - é concernente à igualdade, ao tratamento equilibrado e justo para todos em termos de recompensas, bem como ausência de paternalismo e/ou favoritismo em novas contratações e oportunidades internas, discriminação e possibilidade de apelação; 3) Respeito - apóia o desenvolvimento profissional e os colaboradores são vistos como indivíduo com vida pessoal e familiar; 4) Orgulho - existentes pelos produtos da organização, pelo trabalho realizado, pelos resultados alcançados e metas atingidas por um membro ou pelo grupo; e 5) Camaradagem - que é estimulada no ambiente organizacional, o trabalho em equipe e a hospitalidade. 1.1.1.4 Outros modelos O modelo de KOZLOWSKI foi criado a partir de trabalhos da psicologia aplicada por Kozlowski e Dohert (1989), visando avaliar a relação existente entre a liderança e o clima organizacional. 31 O modelo de Kolb et al. (1986) surgiu nos Estados Unidos, duas décadas após o modelo proposto por Litwin e Striger (1968). Esse modelo utiliza o desenvolvimento dos estudos da psicologia aplicada para aperfeiçoar a proposta dos autores Litwin e Striger. Observa-se que o modelo Sbragia e modelo utilizado no Great Place to Work Institute são os mais abrangentes, por cobrirem a maioria dos aspectos relacionados ao clima organizacional e à qualidade de vida no trabalho. O modelo de pesquisa de clima organizacional utilizado no presente trabalho foi o proposto por Robert Levering do Great Place to Work Institute, pois, este modelo vem sendo utilizado pela maioria das empresas que participam da pesquisa “Guia exame – As 100 Melhores Empresas Para você Trabalhar”. A participação das empresas brasileiras na pesquisa elaborada por essa revista vem aumentando a cada ano e tem como objetivo principal visibilidade na mídia, através de uma imagem favorável para atrair e manter talentos e verificar o desempenho de todo seu sistema de gestão de pessoas. É relevante demonstrar que todos os modelos de avaliação do clima organizacional propostos acima e, mais especificamente o proposto por Levering, contemplam a importância da motivação dos trabalhadores como fator de verificação do clima organizacional e da melhora da qualidade de vida dos trabalhadores. Determina ainda que essa motivação esteja intrinsecamente ligada à liderança nas organizações, normalmente responsáveis pela facilitação e/ou promoção da motivação ou de fatores motivacionais. 1.2 Aspectos comportamentais da Gestão de Pessoas A evolução tecnológica observada nas últimas décadas trouxe mudanças na força de trabalho, nas expectativas dos clientes, nos gerentes, nas carreiras e nas organizações. É no âmbito dos diferentes modelos organizacionais que os aspectos referentes ao comportamento das pessoas vêm ganhando destaque. 32 Os novos modelos organizacionais, nos quais a participação e a autonomia dos colaboradores são valorizadas, priorizam a atuação em equipes e no processo decisório, aumentando, assim, sua responsabilidade. A maior participação no processo decisório e a flexibilidade da produção de bens e serviços requerem conhecimentos mais amplos e técnicas específicas para a realização das atividades. Nesse contexto, a inovação assume um papel de sobrevivência para a organização, vez que essa depende do comprometimento das pessoas com os objetivos organizacionais. De acordo com Chiavenato (2003, p.46), “a inovação, essencial à sobrevivência das organizações, só se materializa quando a ambiência é favorável”, fazendo com que aspectos específicos (como atitude de aprendizado, liderança, trabalho em equipe, comunicação participativa e prazer em realizar o trabalho) tornem-se importantes. Nada disso será suficiente se as pessoas não tiverem, no entanto, comportamento inovador, cuja principal característica é a aceitação de riscos. Nas organizações contemporâneas, os comportamentos organizacionais devem contemplar a partilha, a colaboração, a confiança e a autoridade fundamentada no conhecimento, o que contraria frontalmente as práticas burocráticas de impessoalidade, defesa do território, controle e autoridade estabelecidos pelos cargos (NADLER et al., apud CHIAVENATO, 2003). Na prática, a motivação dos colaboradores e as ações diretamente ligadas à satisfação de clientes, como atendimento, cobrança e assistência técnica ganharam destaque. A ética também influi no comportamento humano nas organizações, segundo as percepções de Schermerhorn Jr. et al. (apud ROBBINS, 2004). Para os autores, o local de trabalho é uma fonte de possíveis dilemas éticos, em que as pessoas podem ser requisitadas ou tentadasa fazer coisas que violam padrões éticos, e os focos do comportamento organizacional ajudam a desenvolver e manter ambientes de trabalho que oferecem alta qualidade de vida no trabalho. Considerando que aspectos éticos influem no comportamento humano nas 33 organizações, e que a lealdade em muitos ambientes organizacionais está em declínio, os ambientes organizacionais precisam ser transformados, para que haja um real comprometimento das pessoas. Somente colaboradores motivados e capazes, que demonstrem satisfação pessoal em seu trabalho, levarão as organizações a um alto desempenho. 1.2.1 Gestão de Pessoas (GP) As empresas, desde os meados da década de 80, vêm enfrentando desafios, tanto de natureza ambiental quanto organizacional: globalização da economia, evolução das comunicações, desenvolvimento tecnológico, competitividade, etc. Nem todas se adaptaram, porém, as novas propostas e metas. As que sobreviveram passaram por experiências como a reengenharia, a terceirização e o downsizing, produzindo conseqüências para seu pessoal (GIL, 2002). A partir daí, aliados às novas concepções acerca do papel dos indivíduos nas organizações, surgiram sérios questionamentos à forma como vinha sendo desenvolvida a Administração de Recursos Humanos naquele contexto. Uma das críticas mais severas referia-se à terminologia utilizada para designá-la. Se tratadas como recursos, as pessoas precisariam ser administradas, para obter-se delas o máximo rendimento possível. Se focadas como parceiras na organização, passariam a ser fornecedoras de conhecimentos, habilidades, capacidades, constituindo-se no capital intelectual da organização (CHIAVENATO apud GIL, 2002). Esses fatos revelam que se está evoluindo para uma nova forma de gestão de recursos humanos, designada como GP. A GP constitui-se, ainda, numa tendência que se manifesta mais no meio acadêmico que propriamente nas empresas. De qualquer maneira, muitas empresas estão dispostas a tratar seus empregados como parceiros, incentivando-lhes a participação nas decisões e utilizando ao máximo seu talento para a obtenção de resultados (GIL, 2002). Como 34 indica o Quadro 1, as diferentes classificações sugeridas para as atividades de recursos humanos, de certa forma, podem ser consideradas as mesmas da GP. Quadro 1 - Classificação das atividades de recursos humanos e de gestão de pessoas, segundo diferentes autores. Fonte: Gil (2002, p.24). A GP abrange um amplo leque de atividades, como recrutamento de pessoal, descrição de cargos, treinamento e desenvolvimento, avaliação de desempenho etc. Tais atividades , para efeitos de classificação, como atividades clássicas de recursos humanos, podem ser agrupadas em certo número de categorias amplas, muitas vezes designadas como sistemas. Os sindicatos de trabalhadores, no período pós Segunda Guerra Mundial, exerceram influência marcante no estabelecimento de novas relações empregado- empregador. O movimento de relações industriais emerge assim como conseqüência do aumento do poder daqueles sindicatos, com notável expansão a partir da década de 50. Atualmente, as partes sentem a necessidade de negociação, pois, sabe-se da importância das condições de trabalho e dos benefícios para os trabalhadores. De acordo com Gil (2002, p.20), em virtude dessa nova relação de forças, as empresas passaram a preocupar-se mais com as condições de trabalho e a concessão de benefícios a seus empregados; também passaram a sentir a necessidade de negociar com as entidades representativas dos trabalhadores. Cabe ressaltar que, em nosso País, tais mudanças significaram muito pouco, além da mudança do nome da unidade de pessoal, já que, na época, a pressão dos 35 sindicatos não era tão efetiva. Segundo Gorz (2003) a notável expansão desse movimento ocorreu a partir da década de 50 e deu-se em função do estabelecimento de sindicatos e de seu fortalecimento como entidades representativas dos empregados. 1.2.2 Administração de Recursos Humanos (ARH) Na década de 40, tem o início a transição da era da máquina para a dos sistemas. Historicamente, foi com a introdução de conceitos da Teoria Geral dos Sistemas à gestão de pessoal, que emerge, no âmbito das organizações, a Administração de Recursos Humanos (GIL, 2002). De acordo com Stoner (1985), o processo de ARH inclui sete atividades básicas, conforme mostra a Figura 1. Figura 1 - Processo de ARH nas organizações. Fonte: Stoner (1985, p.276). A ARH é a função que auxilia administradores na seleção, treinamento e desenvolvimento de membros da organização, cujo processo nunca pára, porque tenta manter a empresa suprida das pessoas certas, nas posições certas, na hora 36 certa (STONER, 1985). 1.3 Os Fatores que Influenciam o Clima Organizacional Para que haja um bom clima organizacional dentro de uma empresa, é necessário a existência de um ambiente agradável, onde os trabalhadores se relacionem bem com os demais, inclusive com pessoas que exercem cargos superiores e se sintam bem sob todos os aspectos, proporcionando assim um rendimento maior de produção. Alguns fatos que contribuem para isto: políticas organizacionais; estilos de liderança; reconhecimento pelo trabalho realizado; comunicação formal e informal; processo decisório; política de remuneração; métodos de trabalho; resultados empresariais; plano de carreira; participação; interação; comprometimento; tecnologia; benefícios; estrutura e treinamento (LEVERING,1984). A condição ambiental exerce grande influência sobre o clima da organizacão e conseqüentemente sobre a produtividade. Se for considerado, a existência de competição, conflitos, acomodação, revoltas, mais importante ainda será esta influência. Diz-se que quem investe dando atenção aos fatores que interferem na produtividade, colhe muito melhores resultados do que aqueles esperados. Não há preponderância de um fator sobre outro, portanto todos devem ser analisados cuidadosamente (LEVERING, 1984). Assim, acredita-se que um ambiente físico ou material adequado deve atender a: amplitude de espaço adequada; iluminação adequada; separação natural ou artificial compatível com a pessoa e o tipo de trabalho; localização de maquinário, matéria-prima, ferramentas etc.; limpeza e asseio permanentes; equipamento de segurança; dispositivos para evitar acidentes de trabalho. As características de um ambiente moral, psicológico ou espiritual propício a um bom desempenho produtivo devem atender a um nível de: tensão mínima entre 37 dirigentes e dirigidos; camaradagem entre companheiros, chefes, colaboradores; simpatia e cordialidade por parte de todos os integrantes do grupo. Somem-se a esta relação outros dados como: problemas de chefia, supervisão e liderança, diálogo (ROBBINS, 2004). 1.3.1 A Motivação no Trabalho O ser humano, constituído por traços típicos, únicos e complexos, tem a sua conduta tanto no trabalho – quanto em qualquer lugar – na maioria das vezes, influenciada por fatores analisados como motivacionais. De acordo com Fischlowitz (1970), perante o intenso impacto tecnológico e o panorama de imprevisibilidade da ciência da administração e estruturação gerencial, o foco de discussão quanto à margem de produtividade está rumando no eixo de uma abordagem mais humanística como o aspecto motivacional em uma cadeia de trabalho. O clima organizacional em uma reunião rotineira na organização, o ambiente espirituoso deum brainstorming , comumente verificado no segmento da publicidade e propaganda, resumem a amplitude e a conotação incisiva que a semântica motivacional atinge na esfera conjuntural das empresas (FISCHLOWITZ, 1970, p. 36). Para isso é importante entender o que é motivação, o que faz as pessoas prosseguirem de forma satisfatória em sua jornada de trabalho, o que gera na qualidade de vida das pessoas e na sobrevivência de empresas e empregado (CLARET, 1998). Motivação envolve sentimentos de realização e de reconhecimento profissional, manifestado por meio de exercícios das tarefas e atividades que oferecem suficiente desafio e significado para o trabalho (LOPES, 1980; RIBEIRO, 1994). Durante muito tempo, pensou-se que os objetivos motivacionais fossem genéricos, como mostram seus principais estudiosos, Maslow, McGregor e, até mesmo, Herzberg. Ora acreditava-se que as pessoas buscavam seqüencialmente 38 determinados objetivos — isto é, tão logo tivessem atingido alguns deles, partiriam necessariamente à busca de outros, também já previsíveis — ora descobria-se que há objetivos que não são propriamente perseguidos, mas são condições que asseguram a insatisfação das pessoas num grau de desconforto mínimo, e que outros são realmente perseguidos e, quando encontrados, de fato trazem muita satisfação ao indivíduo. Herzberg denominou-os, respectivamente, fatores higiênicos e motivacionais (BERGAMINI, 1997). 1.3.2 Forças Motivacionais A motivação no trabalho tem raízes no indivíduo, na organização, no ambiente externo e na própria situação do país e do mundo em determinado período de tempo. Por exemplo, uma situação de inflação elevada exerce forte pressão de insegurança e insatisfação no trabalhador. Há um consenso em grande parte dos estudiosos (psiquiatras e psicólogos do trabalho) de que certos males, como hipertensão, enfarte e úlcera, não são problemas de fundo psíquico, mas econômicos, políticos e sociais. Assim, uma pessoa motivada ou desmotivada é produto do somatório de uma gama de fatores (CLARET, 1998). Cada indivíduo tende a desenvolver certas forças resultantes do produto do ambiente cultural que vive afetando a maneira pela qual se encara o trabalho e a vida pessoal. Segundo Bergamini (1997), destacam-se algumas forças dominantes: 1) Motivação para a realização: é a força que algumas pessoas tem para vencer desafios e obstáculos e, assim, alcançar seus objetivos. Pessoas motivadas pela realização trabalham mais quando seus supervisores oferecem uma avaliação detalhada de seus comportamentos no trabalho e tendem a escolher colaboradores tecnicamente capazes, sem se importar com os sentimentos pessoais que possam ter por eles; 39 2) Motivação por afiliação: é um impulso para o relacionamento com pessoas em bases sociais. As pessoas motivadas pela afiliação trabalham melhor quando elogiadas por atitudes favoráveis e de cooperação, e inclinam-se a optar por colaboradores amigos para estarem a sua volta, pois desejam liberdade para desenvolver relacionamentos amigáveis no trabalho; 3) Motivação para a competência: é um impulso para fazer um trabalho de alta qualidade. Os motivados pela competência também esperam um trabalho de alta qualidade daqueles com quem interagem e podem tornar-se impacientes caso o trabalho saia com um nível inferior. Sua preocupação com a qualidade do trabalho é tão intensa que a quantidade da produção e a importância dos relacionamentos humanos ficam em segundo plano; e 4) Motivação para o poder: é o impulso para influenciar pessoas e mudar situações; criam impactos nas organizações e assumem os riscos de criá-los. Existem dois tipos de motivação pelo poder: 4.a) A necessidade de poder institucional: é a que visa influenciar o comportamento dos outros para o bem de toda a organização. As pessoas com essas características se tornam excelentes administradores; e 4.b) A necessidade de poder pessoal: é a que busca intervir no comportamento dos outros para prestígio próprio. As pessoas com essas características têm tendência a ser um líder mal sucedido. 1.3.3 Teoria da Expectação Atualmente, uma das explicações mais amplamente aceitas sobre motivação é a Teoria da Expectância ou Expectativa de Victor Vroom. Essa teoria sustenta que a força da motivação de uma pessoa em desempenhar depende de quanto ela acredita que possa alcançar o que está buscando. 40 Conforme Vroom (apud CHIAVENATO, 2004, p. 247) “a teoria da expectativa propõe que as pessoas são motivadas quando acreditam que podem cumprir a tarefa (resultado intermediário) e que as recompensas (resultado final) decorrentes são maiores do que o esforço feito”. O funcionário se sentirá motivado a colocar muito esforço quando acreditar que o que está fazendo trará excelentes resultados para a empresa, contribuindo para a sua boa avaliação de desempenho, trazendo com isso, excelentes recompensas organizacionais, tais como: bonificações, aumento de salário ou promoção, tudo atendendo às suas expectativas e metas pessoais. 1.3.4 Motivação e Liderança Liderança é o processo de influenciar as atividades de um indivíduo ou de um grupo para a consecução de um objetivo numa dada situação. É um processo do líder, do liderado e de variáveis situacionais (BARTLETT; GHOSHAL, 1997). O líder deve ser coerente, deve conhecer seu pessoal e a maturidade de cada um, para saber como tratar cada um de seus colaboradores, deve tratar todos com respeito, percebendo as diferenças individuais. Quando uma empresa possui uma liderança ruim, isso pode resultar em efeitos negativos entre os colaboradores. Sendo assim, qualquer melhora nessa competência, por menor que seja deverá ter um efeito positivo (LOPES, 1980, p. 75). Quando o gerente ou líder não consegue motivar seus subordinados, ele é apenas um gerente que está fazendo o seu trabalho razoávelmente, mas nunca um líder (BARTLETT; GOSHAL, 1997). Liderança não é sinônimo de gerência, embora cada gerente deva ser um líder. Infelizmente, muitos sabem pouco do que a liderança exige. Um líder, entretanto, não precisa necessariamente gerenciar coisa alguma. Motivação é sinônimo de liderança. O sucesso de um líder pode depender quase que exclusivamente de sua capacidade de motivar outras pessoas 41 (MARCHETI, 1997). Os incentivos à produtividade não substituem uma gerência eficaz, não são um modo decisivo de aumentar a produção, e, às vezes são oferecidos apenas como um presente para os operários e supervisores. Também as boas condições de trabalho não são motivadores; mas se as condições não forem boas, poderá ser um forte desmotivador (PONTES, 1996). O líder deve ajudar os liderados a amadurecerem até o ponto em que sejam capazes e estejam dispostos a desempenhar suas tarefas. Esse desenvolvimento do liderado deve ser realizado ajustando-se o comportamento de liderança (BERGAMINI, 1997). A motivação é um tema muito estudado dentro da administração, mais especificamente quanto aos recursos humanos e gestão de pessoas e, mesmo assim continua sendo de extrema importância na rotina das organizações. Muitas empresas investem na motivação de seus funcionários, utilizando programas motivacionais, porém tal proposta é muito complexa tendo em vista que cada ser humano é individual. Na concepção de Chiavenato (2006), a motivação está contida nas próprias pessoas e pode ser amplamente influenciada por fontes externas ao indivíduo ou pelo próprio trabalho na empresa.O líder deve conhecer o grau de motivação individual e saber extrair do ambiente de trabalho as condições externas para elevar a satisfação profissional. Já para Bergamini (1997), a motivação é definida como impulso à ação, traduzida como necessidade ou tendência, por tratar-se algo, originado basicamente no interior dos indivíduos. Segundo esse autor, para motivar não é preciso usar palavras, basta criar condições tais que mobilizem o empregado como pessoa, como realizador, como responsável que deseja ser, como um ser social, justo e produtivo que é. 42 2 Qualidade de Vida no Trabalho No século XX, muitos pesquisadores contribuíram para o estudo sobre a satisfação do indivíduo no trabalho. Entre eles destaca-se Elton Mayo, cujas pesquisas são altamente relevantes para o estudo do comportamento humano, da motivação dos indivíduos para a obtenção das metas organizacionais e da Qualidade de Vida do Trabalhador (RODRIGUES, 2002). O movimento pela qualidade de vida no trabalho surgiu a partir da segunda metade do século XX, com o propósito declarado de melhorar as condições de trabalho do indivíduo e, conseqüentemente, incrementar seu desempenho para as empresas (RODRIGUES, 2002). A análise do contexto histórico e político em que se desenvolveu o movimento de QVT possibilitam esclarecer qual sua natureza, sua lógica e, principalmente, quais os seus reais interesses. A Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é um modelo que surgiu na década de 50, na Inglaterra, a partir dos estudos de Eric Trist e colaboradores, do Tavistock Institute, pretendendo analisar a relação indivíduo-trabalho-organização. Esses pesquisadores desenvolveram uma abordagem sócio-técnica da organização do trabalho, tendo como base à satisfação do trabalhador no exercício de sua atividade e em relação a ele. (RODRIGUES, 2002, p. 41.). No entanto, só a partir da década de 60 houve um impulso nos movimentos de QVT, sendo desenvolvidas inúmeras pesquisas sobre as melhores formas de realizar o trabalho, enfocando aspectos da saúde e bem-estar geral dos trabalhadores. Em 1974, houve o início do desaceleramento dos estudos da QVT causado, basicamente, pela crise energética ligada ao aumento do preço do petróleo e pela alta inflação que atingiram os países do ocidente, em particular os Estados Unidos, gerando um deslocamento da atenção das empresas para a luta pela sobrevivência, deixando os interesses dos empregados em segundo plano. Em 43 1979, a partir da constatação da diminuição do comprometimento desses empregados em relação ao seu trabalho, foi retomado esse foco (RODRIGUES, 2002). O ambiente da década de 1970 foi considerado, mesmo assim, crucial para o desenvolvimento dos estudos sobre QVT propriamente ditos, uma vez que os problemas de competitividade das empresas norte-americanas, a crise do petróleo e a emergência dos países asiáticos convergiram a atenção do governo americano e das instituições de pesquisa para a questão do trabalho e da produtividade. Nesse período, podem ser observados o desenvolvimento dos experimentos organizacionais e industriais, bem como a preocupação de como generalizar os resultados das pesquisas voltadas para a produtividade nas empresas (CHERNS; DAVIS, 1975). A QVT tem sido pesquisada em diversos países. No Brasil, só a partir dos anos 80, foram realizados alguns estudos ainda muito influenciados pelos modelos estrangeiros. Especificamente, o período de 1990 aos dias atuais vem sendo marcado pela globalização e pela ampla concorrência entre empresas internacionais, o que exige um aparato mais sofisticado de contrapartidas ao trabalhador, no sentido de compensar as perdas históricas (RODRIGUES, 2002). Os atuais programas de QVT incluem dimensões baseadas na flexibilização do trabalho e das tarefas, na responsabilidade e na participação do trabalhador, mostrando-se como ferramenta audaciosa, por integrar, numa só ação, diversas compensações ao indivíduo (RODRIGUES, 2002). Atualmente, o estado de amadurecimento das pesquisas sobre QVT permite amplo compartilhamento dos resultados e a conseqüente prescrição de suas recomendações. Pesquisadores, gerentes, órgãos públicos, sindicatos e associações têm se manifestado em prol dos benefícios decorrentes da qualidade de vida no trabalho. Nadler e Lawler (1983), em um de seus clássicos sobre QVT, descrevem duas 44 fases distintas para o entendimento da origem do movimento. A primeira, entre 1969 e 1974, quando um grupo de pesquisadores, estudantes, líderes de empresas e figuras do governo pretenderam influenciar a qualidade da experiência no trabalho dos indivíduos. Guiados por esse propósito, uma série de estudos desenvolvida pela universidade de Michigan concentrou a atenção no que era chamado de “qualidade do emprego”. Os principais modelos de qualidade de vida no trabalho se sucedem na proposição de dimensões que minimizem o efeito desse conflito essencial entre indivíduo e capital, as quais funcionam, na verdade, como mecanismos de controle, tanto objetivos quanto subjetivos do indivíduo. Gorz (2003) atenta para o fato de que a imagem da empresa transformada em local de aperfeiçoamento pessoal para seus assalariados é, pois, uma criação essencialmente ideológica. Ela obscurece a percepção das transformações reais, a saber: a substituição do trabalho por máquinas e a maior produtividade e qualidade através de uma fração decrescente dos efetivos antes empregados, proporcionando aos trabalhadores de elite, que ela seleciona, privilégios que têm, como contrapartida o desemprego, a precariedade do trabalho, a desqualificação e a insegurança da grande maioria. 2.1 Conceituação e Dimensões A Qualidade de Vida no Trabalho é um conjunto de ações de uma empresa que envolve diagnóstico e implantação de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais dentro e fora do ambiente de trabalho. A construção da qualidade de vida no trabalho ocorre a partir do momento em que se olha a empresa e as pessoas como um todo, o que chamamos de enfoque biopsicossocial. Tal posicionamento representa o fator diferencial para a realização de diagnósticos, campanhas, criação de serviços e implantação de projetos voltados para a preservação e desenvolvimento das pessoas, durante o trabalho na empresa, 45 visando propiciar condições plenas de desenvolvimento humano na realização do seu ofício (ALBUQUERQUE; FRANÇA, 1998). Com base nas posições dos diversos autores pesquisados, percebe-se que as condições que melhorariam a Qualidade de Vida no Trabalho são abordadas de forma a contemplarem (quando não coincidentes) os seguintes aspectos: salário adequado e satisfatório; segurança e saúde no trabalho (condições físicas de atividade laborativa que reduzam ao mínimo o risco de doenças ocupacionais e acidentes do trabalho); desenvolvimento das capacidades humanas; autonomia no trabalho; múltiplas habilidades; informação e perspectivas de crescimento profissional com espaço para o desenvolvimento das potencialidades do trabalhador; integração social e senso comunitário dentro das organizações; respeito à individualidade de cada trabalhador; tratamento justo; e espaço de vida no trabalho e fora dele. Para Walton (1973, p. 11), a expressão “qualidade de vida tem sido usada com crescente freqüência para descrever certos valores ambientais e humanos, negligenciados pelas sociedades industriais em favor do avanço tecnológico, da produtividade e do crescimento econômico” Quando se fala em
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