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petição aula 7

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA DE FAMÍLIA E REGISTRO CIVIL DA COMARCA DE RECIFE DO ESTADO DE PERNAMBUCO.
MARIO, brasileiro, solteiro, profissão..., portador do RG nº..., inscrito no CPF nº..., endereço eletrônico..., residente e domiciliado na rua..., nº..., bairro..., CEP..., cidade de Pernambuco, estado do Recife, por intermédio de seu advogado legalmente constituído conforme instrumento procuratório em anexo, com endereço profissional..., endereço eletrônico..., endereço que indica para fins do artigo 106 do CPC, vem a este juízo propor:
AÇÃO DE AUTERAÇÃO DE GÊNERO CUMULADA COM RETIFICAÇÃO DO NOME CIVIL
I- DOS FATOS
O autor, hoje com 40 anos de idade, relata que embora tenha nascido geneticamente sob o sexo masculino, desde os seus 16 anos de idade, não se sente confortável com sua natureza biológica. Assim, nos últimos anos realizou diversas cirurgias plásticas e estéticas de caráter tipicamente feminino; tendo, atualmente, sua aparência física contrastante com o seu nome e registro.
Narra ainda que se sente extremamente discriminado pela sociedade, pois acredita ter nascido em um corpo que não corresponde ao gênero por ele exteriorizado, social, espiritual, emocional e sexualmente.
Motivado pelo exposto, o autor, há alguns meses realizou a cirurgia de transgenitalização. Após a intervenção ele requereu junto ao Registro Civil de Pessoas Naturais a respectiva alteração, entretanto, o requerimento foi negado pelo cartório.
Portanto, diante do declarado, o autor vem a esse juízo pedir que seus direitos legais sejam respeitados, por meio da regularização de seu gênero e nome social nos documentos civis, a fim de que haja a completa correspondência entre os mesmos e sua realidade de vida.
II- DA NECESSIDADE DE TRAMITAÇÃO DO PRESENTE FEITO EM SEGREDO DE JUSTIÇA
Considerando que a presente demanda versa exclusivamente sobre tema pertinente à intimidade do autor, sendo essa de proteção Constitucional, pede-se que o pleito tramite em segredo de justiça, com fulcro no artigo 189 do CPC. Dessa forma restringe-se às partes e aos seus procuradores o direito de consultar os autos
III- DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
A narrativa do autor demonstra seu sofrimento de longa data, originado por sua condição genética contrastante com seu reconhecimento civil, como pertencente ao sexo masculino; embora, apresentasse um comportamento condizente com o sexo oposto ao seu.
A declaração de angústia, decorrente da transexualidade, não é um caso particular do autor; mas, de maneira oposta, mostra-se como uma realidade na sociedade contemporânea. Nesse sentido, o Conselho Federal de Medicina já se manifestou por meio da Resolução CFM nº 1.955/2010, reconhecendo a importância do procedimento cirúrgico para o paciente com desvio psicológico permanente de identidade sexual, com rejeição do fenótipo.
Nesse contexto, retrata-se que o autor, após vencer uma batalha interna para entender sua identidade, infelizmente, ainda tem que vivenciar a discriminação social, proveniente de seu comportamento fora do padrão estipulado para o sexo masculino. 
Após o martírio vivido pelo autor até poder, enfim, ser esteticamente uma mulher, como sempre se sentiu, o mesmo imaginou que poderia ser legalmente reconhecido como tal; contudo, a negativa do Registro Civil de Pessoas Naturais à respectiva alteração de nome e sexo do autor ratificou, novamente, a discriminação suportada em sua trajetória de vida.
A vedação do Cartório mantém o autor em uma insustentável posição de angústia, incerteza e conflitos, que inegavelmente atinge sua Dignidade como pessoa Humana e, portanto, está em confronto com os fundamentos da Estado Democrático de Direito, exposto no artigo 1º, III da Constituição Federal.
Ressalta-se também o descompasso da decisão, afinal se o Estado reconhece o procedimento cirúrgico como aceitável para a vida daqueles que nasceram biologicamente pertencentes a um sexo, mas não se reconhecem dessa forma, não faz sentido impossibilitar a retificação civil de seu gênero e prenome. É notório que essa divergência acarretará mais preconceito na vida prática do autor, estando em desacordo com o preceito Constitucional de pôr fim aos atos discriminatórios, como apresentado:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
[...]
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
 
Frisa-se, que o nome civil é um dos principais elementos individualizadores da pessoa natural. Trata-se de um símbolo da personalidade do indivíduo, capaz de particularizá-lo no contexto da vida social e produzir reflexos na ordem jurídica. Portanto, essa característica diretamente ligada a sua intimidade deve ser juridicamente respeitada, como demostra o artigo 5º, X da Constituição Federal:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
A importância social e jurídica do nome também é ratificada nos ensinamentos de Maria Berenice Dias
Os direitos da personalidade constituem direitos inatos, cabendo ao Estado apenas reconhecê-los, dotando-os de proteção própria. São indisponíveis, inalienáveis, vitalícios, intransmissíveis, irrenunciáveis,
 Extrapatrimoniais, imprescritíveis e oponíveis erga omnes. O nome é um dos direitos mais essenciais da personalidade e goza de todas essas prerrogativas. Reconhecido como bem jurídico que tutela a intimidade e permite a individualização da pessoa, merece proteção do ordenamento jurídico de forma ampla. Assim, o nome dispõe de um valor que se insere no conceito de dignidade da pessoa humana. (DIAS, Manual de direito das famílias, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p.120).
Portanto, a Lei Maior e a Doutrina são cristalinas ao dispor sobre a importância do nome para o indivíduo e como esse permite o distinguir, e consequentemente, reflete sua identidade pessoal e social. Dessa forma, o pedido, do autor, de mudança de prenome encontra-se legalmente amparado pelo já exposto e também pela lei 6.015/73 (Lei de Registros Públicos) que dispõe em seus artigo 57, a possibilidade de mudança do nome, mediante sentença do Juiz, quando essa ocorrer de forma motivada 
Corroborando com o pensamento doutrinário e com ordenamento jurídico descrito, o Tribunal de Justiça do Paraná apresentou o seguinte entendimento em recente julgado de apelação:
APELAÇÃO CÍVEL. REGISTRO CIVIL. ALTERAÇÃO. MUDANÇA DE PRENOME E DE SEXO. CIRURGIA DE TRANSGENITALIZAÇÃO. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. SENTENÇA MANTIDA. É cabível a alteração do prenome e do designativo de gênero/sexo no registro civil, independentemente de realização de cirurgia de transgenitalização, quando comprovada cabalmente a identidade de gênero diferente do denominado quando do nascimento. Identificação psicológica que se sobrepõe à morfológica, em atenção ao comportamento e à identificação existentes, e em afirmação à dignidade da pessoa humana. Precedentes do STJ e desta Corte de Justiça. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70069514883, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em 30/06/2016, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 05/07/2016)
Assim, conclui-se que o autor tem completo amparo legal em seu pleito, uma vez que ficou demostrado que a mudança de seu gênero e prenome, no registro civil, são fundamentais para que tenha uma vida digna e de acordo com as garantias Constitucionais. Portanto pede-se a resposta positiva do juízo para os pedidos expostos. 
III- DOS PEDIDOS
Diante do exposto, vem requerer a Vossa Excelência:
1– A intimação do ilustre representante do Ministério Público para acompanhar o feito, nos termos do artigo 178, I, do CPC e artigo 58 da lei 6.015/73;
2 – que seja julgado procedente o pedido de retificação do registro de nascimento do autor, fazendo constar o sexo feminino e o prenome civil....
IV- DAS PROVAS
Requer a produção de todas as provas em direito admitidas, na amplitude dos artigos 369 e seguintes do CPC, em especial documental, testemunhal, pericial e depoimento pessoal do autor.
V- DO VALOR DA CAUSA
Dá-se à causa o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), para fins exclusivamente fiscais;
	Nestes termos pede deferimento.
Vitória, 12 de outubro de 2016.
ADVOGADO....
OAB/UF nº ...

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