Buscar

Hipoglicemia e repercussões

Prévia do material em texto

Rotinas Clinicas em Urgência e Emergência no HRMS 
Organizadores: Fernando Goldoni e Márcio Estevão Midon 
CAPÍTULO 39 
HIPOGLICEMIA 
Sylvian Greicy Rocha de Souza 
 
DEFINIÇÃO 
 
Hipoglicemia é um estado metabólico caracterizado por níveis de glicose plasmática 
inferiores a 50mg/dl, acompanhada de manifestações clínicas de intensidade e expressões 
variáveis. 
Hipoglicemia não é uma doença, mas sim uma alteração laboratorial que pode ser 
consequência de várias patologias ou do uso de medicações. 
Valores glicêmicos após o jejum entre 60-200mg/dl podem ser normais, porém valores 
menores que 45mg/dl quase sempre estão relacionados com alguma doença de base. 
Para que se estabeleça o diagnóstico de hipoglicemia, é necessária a presença da tríade de 
Whipple: 
1. Sintomas compatíveis com hipoglicemia 
2. Glicemia plasmática < 50mg/dl 
3. Alívio dos sintomas após administração de glicose 
 
Se tal tríade está presente, deve-se seguir a investigação de sua provável etiologia. 
 
 
ETIOLOGIA DA HIPOGLICEMIA 
 
Didaticamente alguns autores classificam a hipoglicemia de acordo com o momento do 
aparecimento jejum ou pós-prandial (Tabela 39.1) ou de outra maneira, que é classificar 
esta condição pelo o aspecto clínico do paciente (Tabela 39.2). 
 
HIPOGLICEMIA DE JEJUM 
� Hipoglicemia induzida por drogas 
� Hiperinsulinismo endógeno permanente: insulinoma, nesidioblastose, hipoglicemia 
pancreatógena 
� Hipoglicemia factícia (autoaplicação de insulina ou uso de sulfoniluréias) 
� Insuficiência hepática, cardíaca ou renal 
� Doenças endócrinas: insuficiência adrenal 1ª ou 2ª, deficiência de GH e glucagon ou 
adrenalina 
� Infecções: septicemia, malária 
� Desnutrição grave, anorexia nervosa 
� Hipoglicemia autoimune 
� Tumor de células não-Beta (fibrossarcoma, mesotelioma, rabdomiossarcoma, 
lipossarcoma, tumores carcinóides, carcinomas de mama, estômago, cólon, próstata, 
pâncreas, testículo e pulmão 
� Síndrome de Reye 
� Erros inatos do metabolismo (doença do armazenamento do glicogênio, deficiência da 
glicogênio-sintetase) 
� Acidose láctica 
 
Rotinas Clinicas em Urgência e Emergência no HRMS 
Organizadores: Fernando Goldoni e Márcio Estevão Midon 
� Pós retirada de feocromocitoma 
HIPOGLICEMIA PÓS-PRANDIAL 
� Alimentar 
� Pós-gastrectomia 
� Idiopática 
� Erros inatos do metabolismo: galactosemia, intolerância hereditária à frutose 
� Hiperinsulinismo endógeno permanente: hipoglicemia pancreatógena “não-
insulinoma” 
Tabela 39.1: Classificação Clínica das Hipoglicemias 
 
Hipoglicemia em pacientes com aspecto 
saudável 
- hipoglicemia reativa 
- Hipoglicemia do diabético em uso de 
insulina ou hipoglicemiante oral 
- hipoglicemia por uso de medicamentos 
- hipoglicemia por uso de etanol 
- hipoglicemia em insulinoma 
- hipoglicemia por jejum prolongado e/ou 
exercício intenso 
Hipoglicemia em pacientes com aspecto 
enfermo ou debilitado 
- Hepatopatias graves, Insuficiência renal 
crônica, desnutrição crônica, neoplasia ou 
infecções graves, endocrinopatias 
Hipoglicemia em pacientes hospitalizados - hipoglicemia iatrogênica 
Hipoglicemia por artefato laboratorial 
Tabela 39.2: Classificação das hipoglicemias quanto ao aspecto do paciente 
 
Respostas hormonais e sintomatologia na hipoglicemia 
- 80dl: começa a diminuir a secreção de insulina 
- 70-65 dl: � secreção de glucagon/catecolaminas 
- 65-60 dl: aumento na secreção de GH 
- < 60 dl: secreção de cortisol começa a aumentar 
 início dos sintomas (fome, sudorese, palpitações, tremores) 
- < 50 dl: início de disfunção cognitiva 
Tabela 39.3: Respostas hormonais e sintomatologia na hipoglicemia 
 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
 
Podem ser divididas didaticamente em sintomas neuroglicopênicos, decorrentes da 
diminuição da oferta de glicose no sistema nervoso central, e sintomas adrenérgicos, 
decorrentes da ativação do sistema nervoso autônomo (Tabela 39.4). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rotinas Clinicas em Urgência e Emergência no HRMS 
Organizadores: Fernando Goldoni e Márcio Estevão Midon 
Sintomas Neuroglicopênicos Sintomas Adrenérgicos 
Turvação visual, perda do senso do tempo, 
sonolência, tontura, astenia, cefaléia, 
movimentos e pensamentos lentos, dificuldade 
de concentração. Atividade reduzida. 
Hipoglicemia prolongada: confusão, 
irritabilidade, impaciência, distúrbios do 
comportamento, convulsão e coma. 
Sudorese, tremores, taquicardia, palpitações, 
ansiedade, náuseas, fome, parestesias. 
Tabela 39.4: Sintomatologia da Hipoglicemia 
 
 
AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA 
 
Uma vez confirmada a tríade de Whipple deve-se partir para investigar sua etiologia, 
através da anamnese e avaliação laboratorial. 
 
Anamnese 
 
- Descartar uso de drogas potencialmente causadoras de hipoglicemias. 
- descartar ingestão excessiva de álcool. 
- hipoglicemia factícia. 
 
Avaliação Laboratorial 
 
- dosagem da glicemia plasmática no momento do evento. 
- considerar dosagens de insulina, peptídio C e, se possível pró-insulina e sulfoniluréias. 
 
 
TRATAMENTO 
 
O tratamento da hipoglicemia tem como objetivos controlar a glicemia, aliviar os sintomas 
clínicos e atingir a doença de base, evitando-se, assim, a ocorrência de novas crises. 
Dependendo da etiologia, consiste em mudanças alimentares, tratamento medicamentoso 
e/ou cirúrgico. 
No momento da crise hipoglicêmica, o tratamento dependerá da intensidade do quadro 
clínico: 
 
• Leve: o próprio paciente conseguirá fazer a ingestão de 10-15 gramas de hidratos de 
carbono de absorção rápida (um copo de suco de laranja ou de refrigerante ou uma 
colher de sopa de mel ou quatro colheres de chá de açúcar), seguida de alimentação à 
base de proteínas e hidratos de carbono complexos com absorção mais lenta. 
 
• Moderada: em que o nível de consciência ainda está preservado, assim como a 
deglutição, o tratamento é seguido como descrito anteriormente com quantidades mais 
generosas. 
 
 
Rotinas Clinicas em Urgência e Emergência no HRMS 
Organizadores: Fernando Goldoni e Márcio Estevão Midon 
• Grave: paciente torporoso, inconsciente ou em convulsões, evita-se a oferta via oral 
pelo risco de aspiração, dando preferência à glicose endovenosa na dose 70 a 100 ml de 
solução de glicose a 50% em bolus, seguida por um plano de manutenção de SG 5% 
100 ml/hora ou Glicose 10%. 
 
Na impossibilidade técnica do uso de glicose IV, a opção é glucagon IM ou SC 
 
- Até 5 anos: 0,25-05mg 
- 5-10 anos: 05-1mg 
- > 10 anos: 1mg 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rotinas Clinicas em Urgência e Emergência no HRMS 
Organizadores: Fernando Goldoni e Márcio Estevão Midon 
 
Figura 39.1: Algoritmo de abordagem ao paciente com hipoglicemia 
 
 
 
 
 
 
 
ABORDAGEM AO PACIENTE COM HIPOGLICEMIA 
Diabetes Sem diabetes 
Tratado com 
- Insulina 
- Sulfoniluréia 
Ajustar esquema 
 
Documentar 
melhora e 
monitorar 
Aparentemente sadio 
 
Indícios Clínicos 
� Fármacos: pentamidina, 
salicilatos, etc 
� Etanol 
� Doenças hepáticas e renais 
� Sepse 
� Deficiências endócrinas 
� Tumor de células não-β 
� Cirurgia gástrica prévia 
� Distúrbios metabólicos 
hereditários 
Tratar doença de base, 
fornecer glicose 
 
Glicemia em jejum 
 
> 50mg/dl < 50mg/dl 
História 
Fraca Forte 
� Insulina, + sintomas 
 
Jejum estendido 
 
< 50mg/dl > 50mg/dl 
� Peptídio C � Peptídio C 
Insulinoma Hipoglicemia 
autoimune 
Sulfonilureia + Insulina exógena 
Provavelmente factícia 
Refeição 
mista 
 
Tríade de 
Whipple 
Hipoglicemia 
reativa 
Hipoglicemia 
excluída 
 
Rotinas Clinicas em Urgência e Emergência no HRMS 
Organizadores: Fernando Goldoni e Márcio Estevão Midon 
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS 
 
1. Harisson. Tratado de Medicina Interna.16. ed. Rio de Janeiro, 2006. 
2. Endocrinologia Clínica. 2ª ed. Editora Medsi, Rio de Janeiro, 2001. 
3. Sebastião Eurico de Melo-Souza. Tratamento de doenças Neurológicas. 2ª ed. 
Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2008. 
4. Pronto Socorro: condutas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da 
Universidade de São Paulo. Barueri, SP. Manole 2007.

Continue navegando