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CRIMES CONTRA ADMINISTRAÇÃO PUBLICA

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CRIMES CONTRA ADMINISTRAÇÃO PUBLICA 
2 – CONCUSSÃO
2.1 – PREVISÃO LEGAL E DEFINIÇÃO
Nos termos do art. 316 do Código Penal (CP), concussão é “exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes, de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida”
O núcleo exigir presente no tipo penal em exame é utilizado pelo texto legal, de acordo com Rogério Greco (2011, p. 398), no sentido de impor, ordenar e determinar.
Cabe cuidado especial para a expressão “ainda que fora da função, ou antes, de assumi-la, mas em razão dela”, haja vista que o agente, quando da conduta típica, já gozava dos status de funcionário público, mesmo não estando no exercício e sua função. Valendo bem salientar é que ele já seja considerado funcionário público, de acordo com o conceito expresso no art. 327, §1º do Código Penal:
Funcionário Público.
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.
Outra discussão que merece destaque acerca do tipo penal em epígrafe é acerca da natureza da expressão “indevida vantagem” exigida pelo funcionário público. Para Damásio e alguns outros doutrinadores a vantagem pode ser “patrimonial ou econômica, presenta ou futura, beneficiando o próprio agente ou terceiro”. Porém, há outra corrente que advoga a tese ampla do conceito de indevida vantagem. Nessa linha, Mirabete afirma que “referindo-se à lei, porém, a qualquer vantagem e não sendo a concussão crime patrimonial, entendemos como Bento e Faria que a vantagem pode ser expressa por dinheiro ou qualquer outra utilidade, seja ou não de ordem patrimonial, proporcionando um lucro ou proveito”.
            Greco também está alinhado a essa segunda posição, que adota um conceito amplo de vantagem indevida, sobretudo, pelo fato de não estarmos diante do Título do Código Penal correspondente aos crimes contra o patrimônio, o que nos permite ampliar o raciocínio a fim de entender que a vantagem indevida, mencionada no texto do art. 316 do CP, pode ter qualquer natureza (sentimental, moral, sexual, etc.).
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida. 
2.2 – CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
 A doutrina e jurisprudência majoritária entendem que o crime de concussão é um delito formal ou de consumação antecipada, haja vista que se consuma com a simples exigência da vantagem indevida. Assim, caso venha a, efetivamente, receber a vantagem indevida, tal fato será considerado mero exaurimento do crime, que se consumou no momento da sua exigência.
Apesar de a concussão ser um crime formal, ou seja, considerado de consumação antecipada, a tentativa não estará inviabilizada. O que se deve verificar no caso concreto, segundo Greco, para efeito de reconhecimento da tentativa, é a possibilidade de fracionamento do iter criminis (agir com o fim desejado), dependendo do modo como o crime é praticado. Nessa mesma linha Noronha afirma que:
“Realmente, a regra será a impossibilidade da tentativa; porém, casos haverá em que a extorsão ficará em grau de tentativa, sempre que não se constituir só de um ato (único actu perficiuntur). A carta extorsionária interceptada, antes que chegue ao conhecimento do lesado, é ato de execução (a leitura é consumação e a escritura, ato preparatório), caracterizando a tentativa.” 
3 – CORRUPÇÃO PASSIVA
3.1 – PREVISÃO LEGAL E DEFINIÇÃO
Corrupção passiva, nos termos do art. 317 do Código Penal, é “solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa”.
            Em regra, na corrupção passiva há um acordo entre o funcionário público que “solicita a indevida vantagem” e aquele que presta, principalmente quando os núcleos “receber” e “aceitar” promessa de tal vantagem estiverem presentes no ato. Desta forma, receber significa tomar, entrar na posse. Por outro lado, aceitar a promessa diz respeito ao comportamento de anuir, concordar, admitir em receber a indevida vantagem.
 Cabe elucidar, ainda, que, de acordo com a inteligência do art. 333 do CP (corrupção ativa), pode-se concluir que nem sempre quando houver corrupção passiva haverá necessariamente a corrupção ativa ou vice e versa, ou seja, não são crimes necessariamente bilaterais.
Corrupção ativa
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa
            Nessa esteira, Hungria elucida que:
A corrupção nem sempre é crime bilateral, isto é, nem sempre pressupõe (em qualquer de suas modalidades) um pactum sceleris. Como a corrupção passiva já se entende consumada até mesmo na hipótese e simples solicitação, por parte do intraneus, da vantagem indevida, ainda que não seja atendida pelo extraneus, assim também a corrupção ativa se considera consumada com a simples oferta ou promessa de vantagem indevida por parte do extraneus, pouco importando que o intraneus a recuse.
3.2 – CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
 Assim como a concussão, a corrupção passiva é considerada crime formal, que independe da ocorrência do resultado pretendido pelo agente, consumando-se com o simples ato de solicitar e/ou receber/aceitar a vantagem indevida ou a simples promessa. 
A corrupção passiva pode se consumar em três momentos diferentes, dependendo do modo como o crime é praticado. Na primeira modalidade, o delito se consuma no momento em que o agente, efetivamente, solicita, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, vantagem indevida, que se vier a ser entregue, deverá ser considerada mero exaurimento do crime.
Na segunda modalidade determinada no caput do art. 317, ocorrerá a consumação quando o agente, sem que tenha feito qualquer solicitação, recebe vantagem indevida, oferecida por outrem (corruptor ativo).
Na terceira e última modalidade, o comportamento diz respeito ao fato de o agente tão somente aceitar promessa de tal vantagem.
Nessa linha, Greco esclarece que, na primeira hipótese, o agente assume uma postura ativa, no sentido de que parte dele a ideia da corrupção; nas duas últimas, sua situação é de passividade, ou seja, a ideia da corrupção parte do corruptor. Não obstante, de qualquer forma, em todos os casos, seu crime será o de corrupção passiva, em virtude da sua especial qualidade de funcionário, exigida pelo tipo penal em estudo.
            Assim como na concussão, dependendo da hipótese concreta, poderá ou não ser fracionado o iter criminis e, consequentemente, pode-se cogitar ou não da possibilidade de tentativa.
4 – DIFERENÇA ENTRE CONCUSSÃO E CORRUPÇÃO PASSIVA
Como vistos os crimes de concussão e corrupção passiva possuem diversos pontos em comum, o que gera, por conseguinte, diversos equívocos, sobretudo, nos meios de comunicação.
            As principais semelhanças, como exposto alhures, são: os dois tutelam a Administração Pública (bem jurídico tutelado) e possuem como objeto material a vantagem indevida (de qualquer natureza). São crimes próprios, uma vez que somente o funcionário público pode ser sujeito ativo (art. 327 do CP). O particular até pode ser coautor ou partícipe do crime, à luz do art. 30 do CP. O sujeito passivo (que sofre a ação do sujeito ativo) é o Estado, bem como, a pessoa física ou jurídica diretamente prejudicada. São crimes formais, ou seja, a consumação ocorre com o simples ato (exigir, solicitar, receber vantagem indevida ou aceitar promessa).
Apesar das semelhanças, esses dois crimes não se confundem,estando a diferença fundamental entre as duas figuras típicas no fato de que na concussão o agente exige da vítima uma vantagem indevida, enquanto, na corrupção passiva, embora a situação seja parecida, ocorre uma solicitação, isto é, um pedido de vantagem indevida, ou seja, a diferença é antológica expressa no sentido dos verbos núcleos do tipo.
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena - reclusão, de 1 (um) ano a 8 (oito) anos, e multa.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. 
5 – CONCLUSÃO:
Como vistos, nos retro capítulos, esses crimes, apesar das semelhanças, são diferentes, não só com relação à previsão legal, mas também pelo conceito. Desta forma, não apenas os profissionais de direito, como também os jornalistas e a população deverão ficar atentos e esclarecidos quanto a isto, sobretudo, para evitar equívocos e confusões na qualificação de cada caso concreto (subsunção).
            Sendo a principal diferença entre a concussão e corrupção passiva ontológica expressa no sentido dos verbos núcleos de cada tipo penal, exigir no primeiro caso e solicitar no segundo caso. Exigir, nesse sentido, significa mais uma obrigação, uma coação, enquanto solicitar é apenas um simples pedido.
            Ambos são crimes formais, ou seja, se consumam simplesmente com a prática do ato de exigir, solicitar, receber vantagem indevida ou aceitar promessa, não sendo, portanto, indispensável que haja bilateralidade. Dependendo do modo como são executados, com possibilidade de divisão em etapas (iter criminis), poderá haver tentativa.
ART. 318 CP – FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO E DESCAMINHO Pena de 3 a 8 anos 
 
Condutas: Facilitar a prática de rompeu com a teoria monista (Art. 29 CP) contrabando e descaminho (334 CP) (penas iguais para condutas iguais) 
 
Elementar subjetiva: Não há previsão culposa. Somente modalidade dolosa. 
 
Sujeito ativo: Funcionário público responsável pela fiscalização de importação e exportação. 
 
Classificação: Crimes funcionais próprios; crime de resultado; crime de mãos próprias. 
 
ART. 334 – CONTRABANDO E DESCAMINHO Pena de 1 a 4 anos 
 
Condutas: Importar ou Exportar Mercadoria Proibida = contrabando 
Iludir o pagamento de imposto = descaminho 
 
Elementar subjetiva: Só existe na modalidade dolosa. Não existe na forma culposa. 
 
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, inclusive funcionário público que não seja responsável pela fiscalização. 
 
Classificação: Crime comum, material, instantâneo, de dano. 
 
Obs: O artigo 334 é “Norma Penal em Branco”, pois dependerá de outras leis, portarias, resoluções, etc. para definir o que mercadoria proibida.
ART. 319 CP – PREVARICAÇÃO 
 
Conduta: Retardar... 
 Deixar de praticar... ... ato de ofício. 
 Praticar “ex lege” ... 
 
Elementar subjetiva: Para satisfazer interesse ou sentimento pessoal Dolo específico. 
Obs: Diferencia-se da corrupção (Art. 317CP) por ser de motivo pessoal e, não, para obter vantagem indevida. 
 
Classificação: Funcionais próprios, comissivo/omissivo, material/formal, de dano, instantâneo/permanente.
ART. 329 CP - RESISTÊNCIA 
 
Conduta: Particular que se opõe a ato legal de funcionário público competente. 
 Mediante violência ou ameaça. 
 
Característica: Crime comissivo (a resistência passiva não é crime), formal, comum, instantâneo. 
 
Ato legal: Formal, extrínseco. 
 Material, substancial, intrínseco. 
 
Obs: O Art. 20 CP (quem está em erro) exclui a tipicidade. 
 
Qualificadoras: §1 º Quando produz resultado. Pena 1 a 3 anos. 
§2º Quando a violência resultar crime contra pessoa (lesão corporal, homicídio) a pena será cumulativa. 
 
ART. 330 CP - DESOBEDIÊNCIA 
 
Conduta: Desobedecer a ordem legal de funcionário público. 
 Pena: Detenção de 15 dias a 6 meses e multa. 
Características: Comissivo ou omissivo (depende da ordem); doloso; formal, de dano, comum. 
 
Concurso de crimes: 329 CP (resistência) e 330 CP. 
 Obs: O Art. 20 CP (quem está em erro) exclui a tipicidade. 
 
 Art. 331 CP – DESACATO 
 
Conduta: Desacatar funcionário público no exercício ou em razão da função. 
 (Menosprezar o agente público que espelha o estado) 
 Pena: 6 meses a 2 anos. 
 Classificação: Crime formal, instantâneo, de dano, comum, de modo livre (escrita, gestos, palavras, etc)

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