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O CDC E OS SERVIÇOS PÚBLICOS


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APLICAÇÃO DO CDC NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS
O Código de Defesa do Consumidor será aplicado em casos específicos, como naqueles serviços prestados de forma individual ao usuário final assim como essenciais e contínuos, da mesma forma, será utilizado naqueles casos em que há omissão por parte do Direito Administrativo e na medida que as suas normas não sejam contrárias e incompatíveis com os princípios norteadores dos serviços.
Assim, Código de Defesa do Consumidor não atrai para si a aplicação em todos os serviços públicos prestados, sendo considerados objetos de relação de consumo apenas aqueles serviços prestados mediante uma remuneração específica, corroborando o entendimento de que este serviço precisa ser prestado de forma individualizada, e remunerado por meio de tarifas ou preços públicos, visto ser fruto de uma relação estabelecida em contrato. Portanto, quando fica caracterizada que o serviço prestado é custeado por meio de tributos, não será considerada assim uma relação de consumo e consequentemente, sem a aplicação do CDC. (STJ, REsp 1.187.456, Rel. Min. Castro Meira, 2ª T., DJ 01/12/10). Na mesma linha, o STJ decidiu que “o CDC se aplica na hipótese de serviço público prestado por concessionária, tendo em vista que a relação jurídica tem natureza de direito privado e o pagamento é contraprestação feita sob a modalidade de tarifa, que não se classifica como taxa” (STJ, AgRg no Ag 1.398.696, Rel. Min. Castro Meira, 2a T ., DJ 10/11/11).
Logo, não será possível a aplicação de forma automática para todo e qualquer tipo de serviço público prestado aos seus usuários finais, sendo necessária a análise prévia para determinar a aplicação ou não do Código de Defesa do Consumidor como normativo.
Para complementar e finalizar esse tópico veja alguns julgados em que é possível identificar relações de consumo em que participam usuários de serviços públicos específicos e remunerados, adotando assim a aplicação do CDC aos serviços públicos no que couber:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS. PROGRAMA DE INTEGRACAO SOCIAL.PIS E CONTRIBUIÇÃO PARA FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL. COFINS. SERVIÇOS DE TELEFONIA. RELAÇÃO DE CONSUMO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ÔNUS DA PROVA. 1. Relação de consumo. Responsabilidade objetiva. Ônus da prova.1.1 Como regra, vigora tanto na relação de consumo comum quanto especial envolvendo os serviços públicos (CDC, art. 12; CF, art. 37, § 6º), a responsabilidade objetiva do fornecedor, caso em que a inversão do ônus da prova ocorre ope legis. Só vigora a responsabilidade subjetiva quando o fornecedor é profissional liberal (CDC, art. 14, § 4º), caso em que o juiz pode inverter o ônus da prova inversão ope judici, desde que demonstrada a condição de hipossuficiência face ao fornecedor e a verossimilhança da alegação (CDC, art. 6º, VIII).1.2 Se, mesmo não sendo caso de inversão ope judici, ela subsiste ope legis, o recurso desmerece acolhida no ponto. 2. Dispositivo.Negativa de seguimento por manifesta improcedência (CPC, art. 557, caput). (Agravo de Instrumento Nº 70031257546, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Irineu Mariani, Julgado em 21/07/2009.) (grifo nosso)
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO COMINATÓRIA. CORTE DO FORNECIMENTO DE ÁGUA. DÉBITOS PRETÉRITOS. DESCABIMENTO. LEGITIMIDADE ATIVA DO USUÁRIO DO SERVIÇO PÚBLICO ESSENCIAL. APLICABILIDADE DO CDC. 1. Embora a fatura de abastecimento de água esteja em nome de terceiro (avô da autora e já falecido), comprovando a parte autora que residia no imóvel desde a sua infância, incluindo a demanda a discussão a respeito da suspensão do fornecimento de água por débito pretérito, na qualidade de usuária do serviço essencial, possui a autora legitimidade ativa para postular o restabelecimento e a manutenção do serviço público essencial, mediante o adimplemento das faturas de consumo regulares mensais e atuais. 2.Independentemente da responsabilidade pelo consumo de água não pago, assiste ao consumidor o direito de não ter interrompido o fornecimento do serviço público essencial, pois se trata de débito antigo e consolidado, cumprindo à concessionária buscar a cobrança por intermédio das vias ordinárias. APELAÇÃO PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70058939059, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Torres Hermann, Julgado em 30/04/2014) (grifo nosso). (TJ-RS – AC: 70058939059 RS, Relator: Ricardo Torres Hermann, Data de Julgamento: 30/04/2014, Segunda Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 12/05/2014)
Possibilidade de interrupção
É bom esclarecer que nem todo serviço público é essencial. Há serviços públicos que são burocráticos, envolvendo basicamente o funcionamento da máquina estatal. É o caso do fornecimento de certidões, alvarás e outros, emitidos por repartições públicas e órgãos de fiscalização.
De encontro às normas consumeristas, há diplomas legislativos que preveem a possibilidade de interrupção no fornecimento em caso de inadimplemento do usuário de serviços públicos essenciais pelas concessionárias. De início, a própria Lei das Concessões Públicas (Lei 8.987/95) admite a descontinuidade do serviço (artigo 6º, inciso II, parágrafo 3º). A Lei 9.427/96, que disciplina a concessão do serviço de fornecimento de energia elétrica, permite a suspensão do serviço por falta de pagamento (artigo 17). No tocante à interrupção do serviço de fornecimento de água, a lei 11.445/07 prevê expressamente sua possibilidade (artigo 40, inciso V).
Fato é que a jurisprudência dos nossos tribunais, em especial a do STJ, admite a interrupção de serviço público essencial em caso de inadimplemento do consumidor. Porém, deve a concessionária observar alguns requisitos para que não haja abuso do direito de suspender o serviço nem abuso na cobrança do débito, o que, de acordo com o caso, viola o disposto no artigo 42 do CDC, ao estabelecer que “na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça”. 
Em casos envolvendo o fornecimento de energia elétrica, por exemplo, é possível o corte no fornecimento, desde que o consumidor seja previamente notificado (STJ, REsp 604364/CE, Rel. Ministro Luiz Fux, DJ 21/06/2004) 
Por fim, nos casos envolvendo pessoas em situação de miserabilidade, a interrupção do serviço é absolutamente proibida, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana (STJ, REsp 684442/RS, Rel Ministro Luiz Fux, DJ 05/09/2005).
Informações adicionais e súmulas provenientes do site do STJ 
 A relação entre concessionária de serviço público e o usuário final para o fornecimento de serviços públicos essenciais é consumerista, sendo cabível a aplicação do Código de Defesa do Consumidor.
 As empresas públicas, as concessionárias e as permissionárias prestadoras de serviços públicos respondem objetivamente pelos danos causados a terceiros, nos termos do art. 37, §6º da Constituição Federal e dos art. 14 e 22 do Código de Defesa do Consumidor.
É obrigatória a restituição em dobro da cobrança indevida de tarifa de água, esgoto, energia ou telefonia, salvo na hipótese de erro justificável (art. 42, parágrafo único, do CDC), que não decorra da existência de dolo, culpa ou má-fé.
 O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública visando tutelar direitos dos consumidores relativos aos serviços públicos.
Súmula 356 - É legítima a cobrança da tarifa básica pelo uso dos serviços de telefonia fixa. (Súmula 356, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/06/2008, DJe 08/09/2008)
Súmula 357 - A pedido do assinante, que responderá pelos custos, é obrigatória, a partir de 1º de janeiro de 2006, a discriminação de pulsos excedentes e ligações de telefone fixo para celular. (Súmula 357, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/06/2008, DJe 08/09/2008) REVOGAÇÃO DA SÚMULA: A Primeira Seção, na sessão de 27/05/2009, ao julgar o REsp 1.074.799/MG, determinou a REVOGAÇÃO da Súmula 357 do STJ (DJe 22/06/2009).