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Trabalho Direito Penal. Artigos 91 a 99

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Governador Valadares – MG
Maio/2014
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FACULDADE DE DIREITO DO VALE DO RIO DOCE – FADIVALE CURSO DE DIREITO
ESTUDO DOS ARTS. 91 A 99 DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO
Celio Rodrigues do Carmo – 20113
Clarice Fonseca – 20111
Eliziomar Pascoal – 20094
Géssica Cristina – 20115
Sara Batista Gonçalves da Silva – 20479
Stenio Oliveira Garcia – 20089
Vinícios Santos – 20114
2º Período A N
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CELIO RODRIGUES DO CARMO CLARICE FONSECA ELISIOMAR PASCOAL GESSICA CRISTINA
SARA BATISTA G. DA SILVA STENIO OLIVEIRA GARCIA VINÍCIOS SANTOS
ESTUDO DOS ARTS. 91 A 99 DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO
Trabalho acadêmico apresentado à disciplina de Direito Penal II da Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce (FADIVALE) como requisito para a obtenção de conhecimentos na referida disciplina.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 03
2 DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO
04
2.1 DOS EFEITOS GENÉRICOS DA CONDENAÇÃO (ART.91)
04
2.2 DOS EFEITOS ESPECÍFICOS DA CONDENAÇÃO (ART. 92)
06
3 DA REABILITAÇÃO (ART. 93 A 95) 09
4 DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA
12
4.1 ESPÉCIES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA. (ART. 96)
12
4.2 IMPOSIÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA PARA INIMPUTÁVEL
(ART. 97)
16
4.2.1 Quanto à extinção e suspenção da medida de segurança
17
4.3 SUBSTITUIÇÃO DA PENA POR MEDIDA DE SEGURANÇA PARA O SEMI-
IMPUTÁVEL (ART. 98) 17
4.4 DIREITOS DO INTERNADO (ART. 99) 19
5 CONCLUSÃO 21
REFERÊNCIAS 22
3
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por escopo abordar um breve estudo acerca dos artigos 91 a 99, da parte geral do Código Penal Brasileiro, que tem como assunto os Efeitos da Condenação, a Reabilitação e as Medidas de Segurança.
O primeiro capítulo se apresenta com os efeitos da condenação penal, que tem como finalidade da sentença penal condenatória a aplicação ao agente da pena que, proporcionalmente, mais se aproxime do mal por ele praticado, a fim de cumprir as suas metas de reprovação e prevenção do crime. Assim, passaremos a estudar os efeitos genéricos e específicos da condenação.
No segundo capítulo será analisada a reabilitação criminal, que é um instituto do direito penal que tem por objetivo, uma vez que medida de política criminal, conceder ao condenado com pena cumprida, desprovido de ônus penais e sociais, a possibilidade de ver seu nome reabilitado, sem que constem em certidões expedidas pelo poder púbico quaisquer menções à condenação anteriormente sofrida. Tal instituto promove a suspensão condicional de alguns efeitos penais da condenação, podendo, em caso de eventual reincidência, haver revogação.
Por fim, no último capítulo, o objeto de estudo serão os artigos 96 a 99, elencados no título das medidas de segurança, que tem como finalidade a aplicação de uma sanção àqueles que praticam crimes e que, por serem portadores de doenças mentais, não podem ser considerados responsáveis pelos seus atos e, portanto, devem ser tratados e não punidos. Assim, para o melhor entendimento sobre o assunto, serão estudadas as espécies de medidas de segurança; como se dá a imposição destas medidas aos inimputáveis, os casos de suspenção e extinção, bem como a substituição da pena por medida de segurança para o semi- imputável e os direitos do internado.
O trabalho se encerra com a conclusão, demonstrando a grande relevância do tema para o aprendizado acadêmico.
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2 DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO
A sanção penal é a consequência jurídica direta e imediata da sentença penal condenatória. No entanto, além dessa consequência, a sentença penal condenatória produz outros efeitos, descritos como secundários, de natureza penal e extrapenal. Os de natureza penal podem ser encontrados em diversos dispositivos do próprio Código Penal, de Processo Penal e da Lei de Execução Penal. Já os efeitos de natureza extrapenal encontram-se elencados nos arts. 91 e 92 do CP, denominados efeitos genéricos (art. 91) e efeitos específicos (art. 92). Como se passa a seguir:
2.1 DOS EFEITOS GENÉRICOS DA CONDENAÇÃO (ART.91)
O art. 91 do Código Penal dispõe:
Art. 91. São efeitos da condenação:
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito;
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.
Os efeitos da sentença penal condenatória extrapolam o status libertatis do condenado, alterando também as relações jurídicas estabelecidas no âmbito civil. O Capítulo VI do Volume 1 do Código Penal, delimita o alcance civil da condenação
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criminal, mas não o esgota, pois a legislação ordinária também pode estabelecer outros efeitos.
O artigo 91 trata dos efeitos genéricos da condenação, ditos assim porque todas as condenações criminais os contêm, são automáticos, sendo desnecessária sua determinação expressa na sentença, operando-se ope legis.
O primeiro efeito é a obrigação de reparar o dano, descrito no inciso I do artigo em questão, assim como no inciso II do artigo 475-N do Código de Processo Civil. Tal dispositivo encerra salutar medida de economia processual, pois a vítima ou seus sucessores não estão obrigados a aguardar o desfecho da ação penal, podendo buscar o ressarcimento do dano mediante ação própria no juízo cível (art.
1.525 do CC), sem embargo ao reconhecimento dessa obrigação, para que ela se torne líquida contra o condenado, deve ser fixado ainda o valor do dano, em procedimento próprio de liquidação de sentença.
A ocorrência da prescrição ou de qualquer outra causa extintiva da punibilidade, não afasta a obrigação de reparar o dano. A sentença penal absolutória não impede a propositura da competente ação indenizatória, no juízo cível, a menos que o fundamento da absolvição seja o reconhecimento da inexistência material do fato, de que o acusado não foi o autor do fato, ou de que agiu sob a excludente de criminalidade.
O inciso II do artigo 91 do Código Penal trata do confisco dos instrumentos do crime, já que resulta na perda de bens do condenado em favor do Estado. Sua aplicação restringe-se às infrações que constituam crimes, sendo inadmissível interpretação extensiva para abranger as contravenções penais.
A lei determina a apreensão dos instrumentos utilizados na prática do crime (art. 240, § 1º, d, do CPP), quaisquer que sejam eles, ou qualquer bem de valor, incluindo-se aí eventual vantagem pecuniária obtida pelo autor do fato criminoso.
No entanto, admite o confisco tão somente daqueles instrumentos cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito. Com o confisco o Estado visa impedir que instrumentos idôneos caiam em mãos de certas pessoas para delinquir, ou que o produto do crime enriqueça o patrimônio do delinquente, constituindo-se em medida salutar, saneadora e moralizadora.
O confisco pode recair somente em objeto pertencente a quem participou da prática do delito. O lesado e o terceiro de boa-fé não podem ser prejudicados pelo confisco. Mas, se os objetos forem ilícitos, deve-se agir prudencialmente, pois é
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possível que, excepcionalmente, determinadas pessoas obtenham autorizações especiais para possuir ou utilizar objetos originalmente ilícitos. E, em havendo permissão especial, estará eliminada a natureza ilícita, legitimando o afastamento do confisco (ex.: colecionador de armas de guerra).
Por fim, inexistindo restrição legal à incidência do confiscodos bens, compreende-se que esta medida prescinde manifestação do Juízo, operando-se automaticamente, por força de lei.
2.2 DOS EFEITOS ESPECÍFICOS DA CONDENAÇÃO (ART. 92)
Art. 92 - São também efeitos da condenação:
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.
II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado;
III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.
Parágrafo único - Os efeitos de que trata este
artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.
Esses efeitos extrapenais não se operam automaticamente, dependem de motivação na sentença, que por força do parágrafo único do artigo, eles devem ser declarados pelo Juiz na sentença, de modo fundamentado. No mais, sua imposição deve observar a relação entre o dever funcional, familiar e/ou legal violado e o delito praticado, assim como o alcance da responsabilidade do autor, da sua culpabilidade, da extensão do dano etc.
No inciso I, ―a‖, a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo, (é um efeito de natureza administrativa da condenação criminal), não se destina
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exclusivamente aos chamados crimes funcionais (arts. 312 a 347 do CP), como ocorria na redação original da Lei n. 7.209/84, mas a qualquer crime que um funcionário público cometer, e poderá ser imposta quando o réu for condenado à pena privativa de liberdade igual ou superior a um ano e o delito for praticado com abuso do poder ou violação do dever para com a administração pública.
Importante ressaltar que, é imprescindível que a infração penal tenha sido praticada com abuso de poder ou violação de dever inerente ao cargo, função ou atividade pública. É necessário que o agente, de alguma forma, tenha violado os deveres que a qualidade ou condição de funcionário público lhe impõe. Restringindo- se a perda somente àquele cargo, função ou atividade no exercício do qual praticou o abuso.
No inciso I, ―b‖ – Quando aplicada a pena privativa de liberdade superior a quatro anos, a perda do cargo, função pública ou mandato pode ser declarada independentemente do fato conter abuso do poder ou violação do dever para com a administração pública.
O que tange à incapacidade para o exercício do pátrio-poder (a partir do novo Código Civil 2002, designado como poder familiar, constante no inciso II do referido artigo), tutela ou curatela, deve resultar da incompatibilidade de tal munus, tendo em conta a natureza do fato praticado contra a vítima. Destacam-se, entre outros, os casos de estupro, favorecimento à prostituição etc.
Pode ser imposta nos crimes dolosos, em que a pena cominada é a de reclusão, excluindo-se as hipóteses de crimes culposos e as com sanções mais brandas (ex. detenção). O legislador penal não arrolou, entre as hipóteses de incapacidade do inciso II do artigo 92 do Código Penal, a relação jurídica decorrente da guarda, ainda que, de fato, trate-se de instituto jurídico muito semelhante ao poder familiar e à tutela.
Poderia argumentar, a partir de então, que nos casos em que a vítima está sob a guarda do autor do fato, o Juízo não poderia declarar sua inaptidão para o exercício da guarda, justamente pela ausência de previsão legal nesse sentido, ainda que presentes os demais requisitos para o reconhecimento de tal efeito.
Contudo, deve se ponderar que o objetivo da norma, neste ponto, é o de tutelar o interesse da vítima, e não do autor, mesmo que em razão da taxatividade da lei penal não se possa impor restrições não contidas nela.
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No mais, é cediço que nosso ordenamento vem se orientando pelo princípio da proteção integral à criança e ao adolescente (artigo 3.º da Lei n.º 8.069/90), razão pela qual, neste caso, é de se compreender que o interesse do menor/vítima prevalece sobre o do autor do fato, impondo-se também, a partir de então, que se reconheça a inaptidão do guardião para manter a vítima sob os seus cuidados.
Assim, compreende-se que o Juiz também pode declarar, na sentença penal condenatória, a incapacidade do autor para o exercício da guarda da vítima, não obstante ausente previsão legal para esta hipótese específica. Caso não seja reconhecido na sentença penal tal impedimento, nada obsta que, em ação própria, junto ao Juizado da Infância e da Juventude, seja formulado pedido equivalente, justamente em face do interesse preponderante da vítima.
Quanto à inabilitação para dirigir veículo utilizado em crime doloso, descrito no inciso III, considera-se uma medida muito semelhante à restritiva de direitos prevista no artigo 47, inciso III, do Código Penal, consistente na suspensão da habilitação para dirigir veículo automotor. Contudo, difere-se desta por só ser aplicável ao crime doloso em que o veículo é utilizado como meio para seu cometimento, perdurando-se a inabilitação até a reabilitação do réu.
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3 DA REABILITAÇÃO (ARTS. 93 A 95)
Art. 93 - A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao condenado o sigilo dos registros sobre o seu processo e condenação. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).
Parágrafo único - A reabilitação poderá, também,
atingir os efeitos da condenação, previstos no art.
92 deste Código, vedada reintegração na situação anterior, nos casos dos incisos I e II do mesmo artigo.
A Reabilitação é a declaração judicial de reinserção do sentenciado ao gozo de determinados direitos que foram atingidos pela condenação, ou seja, é a declaração judicial de que estão cumpridas ou extintas as penas impostas ao
―sentenciado‖. Ou, como ensinam Reale Júnior, Dotti, Andreucci e Pitombo, ―é uma medida de Política Criminal, consistente na restauração da dignidade social e na reintegração no exercício de direitos, interesses e deveres, sacrificados pela condenação‖.
Não há qualquer vantagem prática na reabilitação, considerando-se que seu maior efeito é garantir o sigilo sobre a condenação, cuja garantia é assegurada imediata e automaticamente pelo art. 202 da LEP, independentemente de qualquer providência jurisdicional ou administrativa. Trata-se, em verdade, de instituto de pouquíssima utilidade.
Quanto ao prazo e procedimentos para seu pedido, poderá ser pedida 2 anos após a extinção ou término da pena, incluindo nesse período o prazo do sursis ou do livramento condicional, se não houver revogação, e deverá ser instruído com novas provas dos requisitos necessários (art. 94, parágrafo único).
Se for indeferida a reabilitação, não há mais o prazo de dois anos para renovar o pedido, conforme previsto no art. 749 do Código de Processo Penal, nessa parte, revogado pela Reforma Penal de 1984.
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A Competência para a concessão da reabilitação é do juiz da condenação, nos termos do art. 743 do CPP.
Art. 94. A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua execução, computando-se o período de prova da suspensão e o do livramento condicional, se não sobrevier revogação, desde que o condenado:
I — tenha tido domicílio no País no prazo acima referido;
II — tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e constante de bom comportamento público e privado;
III — tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a absoluta impossibilidade de o
fazer, até o dia do pedido, ou exiba documento
que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida.
Parágrafo único. Negada a reabilitação, poderá
ser requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido seja instruído com novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários.
A lei atualnão faz distinção entre reincidente e não reincidente, mantendo o mesmo prazo de carência.
Consta como finalidades da reabilitação duas hipóteses: permitir ao condenado uma folha corrida in albis e restaurar os direitos atingidos pelos efeitos específicos da condenação, com exceção das ressalvas expressas.
Art. 95. A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa.
Duas condições, que são cumulativas, devem incidir na hipótese para que haja revogação da reabilitação. O reconhecimento da reincidência e a cominação de pena, que não a de multa.
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Cogita-se, então, um limite temporal à revogação da reabilitação – a sentença em que se julga infração penal anterior a 05 anos não tem o condão de afetar o benefício, já que este é o limite temporal da reincidência.
A natureza da sanção cominada – de outro lado – também pode ser inócua à revogação, já que, pela pena de multa também não pode cogitar a revogação do benefício.
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4 DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA
De acordo com a parte final do art. 59 do Código Penal, a pena tem por finalidade reprovar e prevenir a prática de infrações penais.
Ao lado da pena existe o instituto da medida de segurança. Durante a vigência do Código Penal de 1940, prevalecia entre nós o sistema do duplo binário, ou duplo trilho, no qual a medida de segurança era aplicada ao agente considerado perigoso, que havia praticado um fato previsto como crime, cuja execução era iniciada após o condenado cumprir a pena privativa de liberdade ou, no caso de absolvição, de condenação à pena de multa, depois de passada em julgado a sentença, conforme incisos I e II do art. 82 do Código Penal de 1940.
4.1 ESPÉCIES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA (ART. 96)
Art. 96. As medidas de segurança são:
I — internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em
outro estabelecimento adequado;
II — sujeição a tratamento ambulatorial.
Parágrafo único. Extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança nem
subsiste a que tenha sido imposta.
Antes da reforma efetuada pela Lei n.º 7.209/84, adotava-se no Brasil do sistema repressivo duplo binário, ou seja, ao infrator inimputável aplicava-se apenas a medida de segurança; ao infrator semi-imputável e ao imputável perigoso eram cumuladas a medida de segurança e a pena cominada; e ao infrator plenamente imputável, não considerado perigoso, somente a pena cominada.
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Abandonando o chamado sistema ―duplo binário‖, a reforma penal de 1984 adotou, em toda a sua extensão, o sistema vicariante, eliminando definitivamente a aplicação dupla de pena e medida de segurança para os imputáveis e semi- imputáveis. A aplicação conjunta de pena e medida de segurança lesa o princípio do bis in idem, pois, por mais que se diga que o fundamento e os fins de uma e outra são distintos, na realidade é o mesmo indivíduo que suporta as duas consequências pelo mesmo fato praticado.
Ao semi-imputável sempre será aplicada a pena correspondente à infração penal cometida, e somente se necessitar de ―especial tratamento curativo‖, como diz a lei, será aquela convertida em medida de segurança. Em outros termos, se o juiz constatar a presença de periculosidade (periculosidade real), submeterá o semi- imputável a medida de segurança.
Apresenta-se como diferenças entre as penas e as medidas de segurança: As penas têm caráter retributivo-preventivo, já as medidas de segurança têm natureza eminentemente preventiva. O fundamento da aplicação da pena é a culpabilidade; a medida de segurança fundamenta-se exclusivamente na periculosidade. As penas são por tempo determinado; as medidas de seguranças são por tempo indeterminado. Só findam quando cessar a periculosidade do agente. As penas são aplicáveis aos imputáveis e semi-imputáveis; as medidas de segurança são aplicáveis aos inimputáveis e, excepcionalmente, aos semi-imputáveis, quando estes necessitarem de especial tratamento curativo.
Assim, as medidas de segurança têm uma finalidade diversa da pena, pois se destinam à cura ou, pelo menos, ao tratamento daquele que praticou um fato típico e ilícito. Assim sendo, aquele que for reconhecidamente declarado inimputável, deverá ser absolvido, pois o art. 26, caput, do Código Penal diz ser isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, sendo que o Código de Processo Penal, em seu art. 386, VI, com a nova redação que lhe foi dada pela Lei nQ 11.690, de 9 de junho de 2008, assevera que o juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena, ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência.
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Portanto, o inimputável, mesmo tendo praticado uma conduta típica e ilícita, deverá ser absolvido, aplicando-se lhe, contudo, medida de segurança, razão pela qual esta sentença que o absolve, mas deixa a sequela da medida de segurança, é reconhecida como uma sentença absolutória imprópria.
Os pressupostos para aplicação de medida de segurança são:
a) Prática de fato típico punível – É indispensável que o sujeito tenha praticado um ilícito típico, e esteja presente as excludentes de criminalidade ou de culpabilidade e a ausência de prova impedem a aplicação de medida de segurança.
b) periculosidade do agente – É indispensável que o sujeito que praticou o ilícito penal típico seja dotado de periculosidade, que pode ser definida como um estado subjetivo mais ou menos duradouro de antissociabilidade. . É um juízo de probabilidade — tendo por base a conduta antissocial e a anomalia psíquica do agente — de que este voltará a delinquir.
Há duas espécies de periculosidade: A presumida, quando o sujeito for inimputável, nos termos do art. 26, caput; E a periculosidade real — também dita judicial, ou reconhecida pelo juiz, quando se tratar de agente semi-imputável (art. 26, parágrafo único), e o juiz constatar que necessita de ―especial tratamento curativo‖
c) ausência de imputabilidade plena – Se dá a partir da proibição de aplicação de medida de segurança ao agente imputável, a ausência de imputabilidade plena passou a ser pressuposto ou requisito para aplicação de tal medida.
O agente imputável não pode sofrer medida de segurança, somente pena. E o semi-imputável só excepcionalmente estará sujeito a medida de segurança, isto é, se necessitar de especial tratamento curativo, caso contrário também ficará sujeito somente a pena: ou pena ou medida de segurança, nunca as duas.
Apresentam-se duas espécies de medida de segurança previstas no ordenamento:
a) internação hospitalar - esta espécie é chamada também de medida detentiva, que, na falta de hospital de custódia e tratamento, pode ser cumprida em outro estabelecimento adequado. Tal espécie de medida de segurança é aplicável tanto aos inimputáveis quanto aos semi-imputáveis (arts. 97, caput, e 98 do CP) que necessitem de especial tratamento curativo.
b) tratamento ambulatorial - a medida de segurança detentiva (internação), que é a regra, pode ser substituída por tratamento ambulatorial, ―se o fato previsto
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como crime for punível com detenção‖. Esta medida consiste na sujeição a tratamento ambulatorial, por meio do qual são dados cuidados médicos à pessoa submetida a tratamento, mas sem internação, que, no entanto, poderá tornar-se necessária, para fins curativos, nos termos do § 4º do art. 97 do Código Penal.
Para o semi-imputável tem duas alternativas: redução obrigatória da pena aplicada (art. 26, parágrafo único) ou substituição da pena privativa de liberdade por medida de segurança (internação ou tratamento ambulatorial) (art. 98).
Quanto ao local de tratamento, a internação deverá ocorrerem hospital de custódia e tratamento ou, à sua falta, em outro estabelecimento adequado (art. 96 do CP). Já o tratamento ambulatorial deverá ser realizado também em hospital de custódia e tratamento, mas, na sua falta, poderá ser em ―outro local com dependência médica adequada‖ (art. 101 da LEP).
O art. 96, parágrafo único, do CP deixa claro que todas as causas extintivas de punibilidade (art. 107) são aplicáveis à medida de segurança, inclusive a prescrição. Os prazos prescricionais das medidas de segurança são aqueles disciplinados nos arts. 109 e 110 do CP. Em segundo lugar, para fins de contagem do prazo prescricional, deve-se distinguir o inimputável do semi-imputável.
Para o semi-imputável sofrerá uma condenação, na qual o juiz fixará a pena justa para o caso, individualizando-a (art. 59). A pena estabelece o marco da prescrição in concreto e constitui ―o limite da intervenção estatal‖, seja a título de pena, seja a título de medida. Substituída a pena por medida de segurança, esta durará no máximo o tempo da condenação.
Sobre a prescrição temos:
a) Prescrição da pretensão punitiva – Ocorre antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Subdivide-se em: prescrição in abstrato, prescrição retroativa e prescrição intercorrente. Estas três subespécies de prescrição só podem ocorrer quando o agente for semi-imputável. Quando for inimputável, somente será possível a primeira hipótese, isto é, a prescrição abstrata, uma vez que, sendo absolvido, nunca terá uma pena concretizada na sentença.
b) Prescrição da pretensão executória – Quando se tratar de inimputável, o prazo prescricional deve ser regulado pelo máximo da pena abstratamente cominada, já que não existe pena concretizada. Em relação ao semi-imputável a solução é outra: conta-se o prazo prescricional levando se em conta a pena fixada na sentença e, posteriormente, substituída.
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4.2 IMPOSIÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA PARA INIMPUTÁVEL (ART. 97)
Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.
§ 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando
enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do
prazo mínimo fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução.
§ 3º - A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de
1 (um) ano, pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade.
§ 4º - Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar a internação do agente, se essa providência for necessária para fins curativos.
Como já mencionado, não é a inimputabilidade ou semi-imputabilidade que determinará a aplicação de uma ou outra medida de segurança, mas a natureza da pena privativa de liberdade aplicável, que, se for de detenção, permitirá a aplicação de tratamento ambulatorial, desde que, é claro, as condições pessoais o recomendem.
Por outro lado, o submetimento a tratamento ambulatorial não é imutável, uma vez que, em qualquer fase, poderá ser determinada a internação, para fins curativos (art. 97, § 4º). Na prática, pode-se constatar a inadaptabilidade de um semi-imputável com o tratamento ambulatorial, necessitando de ―especial tratamento curativo‖. Nessa hipótese, deve-se converter o tratamento ambulatorial em internação, que será a medida adequada (art. 184 da LEP).
Quanto aos prazos da medida de segurança, como consta no §1º, têm, em princípio, duração indeterminada, perdurando enquanto não for constatada a cessação da periculosidade, mediante perícia médica (§ 2º). A lei não fixa o prazo máximo de duração, e o prazo mínimo estabelecido, de um a três anos, é apenas
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um marco para a realização do primeiro exame de verificação de cessação de periculosidade.
Por outro lado, a medida de segurança só poderá ser executada após o trânsito em julgado da sentença (art. 171 da LEP). E para iniciar a execução é indispensável a expedição de guia de internamento ou de tratamento ambulatorial (art. 173 da LEP).
4.2.1 Quanto à extinção e suspenção da medida de segurança
Quando se fala em término da medida de segurança, devem-se utilizar duas expressões que definem com precisão essas situações: suspensão e extinção da medida de segurança.
Quanto à suspensão da medida deverá sempre estar condicionada ao transcurso de um ano de liberação ou desinternação, sem a prática de ―fato indicativo de persistência‖ de periculosidade (art. 97, § 3º, do CP). Somente se esse período transcorrer in albis será definitivamente extinta a medida suspensa ou
―revogada‖, como diz a lei.
Comprovada pericialmente a cessação da periculosidade, o juiz da execução determinará a revogação da medida de segurança, com a desinternação ou a liberação, em caráter provisório, aplicando as condições próprias do livramento condicional (art. 178 da LEP). Na verdade, essa revogação não passa de simples suspensão condicional da medida de segurança, pois, se o desinternado ou liberado, durante um ano, praticar ―fato indicativo de persistência de sua periculosidade‖, será restabelecida a medida de segurança suspensa.
4.3 SUBSTITUIÇÃO DA PENA POR MEDIDA DE SEGURANÇA PARA O SEMI- IMPUTÁVEL (ART. 98)
Art. 98. Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena privativa de
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liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1º a 4º.
Em duas hipóteses a pena aplicada poderá ser substituída por medida de segurança (semi-imputabilidade ou superveniência de doença mental), e, em uma, a própria medida de segurança — tratamento ambulatorial — pode ser convertida em internação.
A substituição de pena por medida de segurança somente será possível quando se tratar de condenado semi-imputável que necessitar de especial tratamento curativo, jamais de um imputável.
Para semi-imputável, somente medida de segurança substitutiva aplicando primeiramente a pena, para depois poder substituí-la, por duas razões: 1ª) em primeiro lugar, porque o art. 26, parágrafo único, determina que ―A pena pode ser reduzida...‖, e o art. 98 estabelece que, na hipótese do dispositivo citado, ―a pena privativa de liberdade pode ser substituída‖. Logo, a pena tem de ser aplicada para poder ser reduzida, ou então, se for o caso, substituída.
E para que alguma coisa possa ser ―substituída‖ por outra é preciso que tal coisa exista, e a pena privativa de liberdade só terá existência se for aplicada na sentença condenatória; 2ª) em segundo lugar, somente a pena privativa de liberdade pode ser substituída por medida de segurança, uma vez que o art. 98 exclui as demais modalidades de penas. E como saber qual a pena ―necessária e suficiente‖ (art. 59), se não concretizá-la na sentença, individualizando-a? Sabe-se, pois, que a pena cominada no tipo penal infringido não será necessariamente a que, finalmente, será aplicada na sentença condenatória, tampouco a que será executada.
Nos casos em que ocorrer superveniência de doença mental, o condenado deve ser recolhido a hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, ou, em não havendo, a outro estabelecimento adequado. O art. 41 do Código Penal determina (e o art. 183 da LEP permite), nesta hipótese, a substituição da pena por medida de segurança, cujo cumprimento passa a reger-se pelas normas de cumprimento de tal medida e não mais pelas normas de execução da pena.
A Duração da medida de segurança substitutiva de réu semi-imputável, como nesta, desuperveniência de doença mental, a medida de segurança não poderá ter
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duração superior ao correspondente à pena substituída. Na hipótese de, ao esgotar- se o prazo inicialmente fixado na condenação, o paciente ainda não se encontrar recuperado, e não podendo ser liberado, em razão de seu estado de saúde mental, deverá, obrigatoriamente, ser colocado à disposição do juízo cível competente.
Para a verificação da cessação da periculosidade O prazo mínimo estabelecido, de um a três anos, trata-se apenas de um marco para a realização do primeiro exame pericial (art. 97, § 1º, do CP). A determinação legal é de que o exame seja realizado no fim do prazo mínimo fixado na sentença e, posteriormente, de ano em ano. Mas esse é o exame legal, obrigatório. A repetição do exame poderá ser determinado de oficio em qualquer tempo, decorrido o prazo mínimo, servindo apenas para o repetição e nunca para o primeiro exame, pois antes do prazo mínimo somente poderá ser realizado mediante provocação do Ministério Público ou do interessado (procurador ou denfensor), devendo todas elas serem devidamente fundamentadas.
Quanto à contratação de médico particular ou assistente técnico para a verificação da cessação da periculosidade, a Lei de Execução Penal assegura o direito de contratar médico particular, de confiança do paciente ou de familiares, para acompanhar o tratamento. Havendo divergências entre o médico oficial e o particular, serão resolvidas pelo juiz da execução (art. 43 e parágrafo único da LEP). Embora a LEP seja omissa nos casos de assistência técnica, o médico particular também poderá participar da realização do exame, com base no princípio da ampla defesa (art. 5º, IV, da CF).
4.4 DIREITOS DO INTERNADO (ART. 99)
Art. 99. O internado será recolhido a estabelecimento dotado de características hospitalares e será submetido a tratamento.
O art. 3º da Lei de Execução Penal assegura ao condenado e ao internado todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela Lei, sendo que o art. 99 do Código Penal, com a rubrica correspondente aos direitos do internado, diz que este
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será recolhido a estabelecimento dotado de características hospitalares e será submetido a tratamento.
Isso significa que aquele a quem o Estado aplicou medida de segurança, por reconhecê-lo inimputável, não poderá, por exemplo, recolhê-lo a uma cela de delegacia policial, ou mesmo a uma penitenciária em razão de não haver vaga em estabelecimento hospitalar próprio, impossibilitando-lhe, portanto, o início de seu tratamento.
Com isso, o tratamento adequado do internado, pretende-se impedir que o sujeito que recebeu medida de segurança fique recolhido em cadeia ou presídio comum. Devendo receber o tratamento psiquiátrico necessário em hospital de custódia e tratamento ou, na sua falta, em ―estabelecimento dotado de características hospitalares‖.
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5 CONCLUSÃO
Diante da pesquisa e estudos realizados, chega-se à conclusão que a sentença penal condenatória produz, como efeito principal, a imposição da sanção penal ao condenado, ou, se inimputável, a aplicação da medida de segurança. Produz, todavia, efeitos secundários, de natureza penal e extra-penal.
Por sua vez, a reabilitação não rescinde a condenação, não extingue os seus efeitos, mas apenas restaura alguns direitos, suspendendo alguns dos efeitos penais da condenação, que, a qualquer tempo, poderão ser restabelecidos se a reabilitação for revogada. São consequências da reabilitação: sigilo sobre os registros criminais do processo e da condenação e suspensão condicional de alguns dos efeitos da condenação.
Considerando que a sanção penal restringia ou mesmo extinguia determinados direitos fundamentais do acusado (como vida, liberdade e propriedade) o Estado limitou seu direito de punir, condicionando a um procedimento em que eram dadas oportunidades para a defesa do acusado.
O legislador procurou resguardar por todos os meios a composição moral e proteção a existência física, colocando no ordenamento jurídico as medidas de segurança visando proteger aqueles que muitas vezes, apesar de conhecerem a ilicitude, não têm a menor capacidade de se determinar em consonância com esse entendimento, pois são totalmente incapazes de se autogovernar. Conhecem o ilícito, mas não se contêm e, por força de impulso incontrolável, realizam a conduta que sabem proibida.
Assim, se justifica o presente trabalho como de grande relevância para o aprendizado acadêmico, bem como para aqueles que se interessarem no estudo sobre o direito penal.
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REFERENCIAS
BITENCOURT, Cezar Roberto. Código Penal Comentado. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. 13ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: Parte Geral. 10ª ed. rev.,
atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

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