Buscar

O papel da Perícia Psicológica na Execução Pena

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

175 
 
O PAPEL DA PERÍCIA PSICOLÓGICA NA EXECUÇÃO 
PENAL1 
Saio de Carvalho 
Introdução 
A investigação objetiva analisar o papel dos técnicos na execução da 
pena criminal, sobretudo da pena privativa de liberdade cumprida em regime 
fechado (carcerário). Ao longo dos 25 anos de vigência da Lei de Execução 
Penal (LEP), consolidou-se determinada forma de atuar dos peritos-crimi- 
nólogos voltada quase exclusivamente à satisfação das demandas do Poder 
Judiciário através da elaboração de laudos e pareceres. 
No entanto, alteração produzida com o advento da Lei 10.792/03 
possibilitou reavaliar o papel dos atores da execução, dentre eles o do corpo 
criminológico formado por profissionais das áreas da psicologia, medicina 
(psiquiatria) e serviço social. 
A hipótese que orienta essa pesquisa é a de que, na atualidade, existem 
condições legais de superação do antigo modelo, com a incorporação, por 
parte dos criminólogos que atuam nas instituições carcerárias, de práticas 
voltadas à redução dos danos causados pelo processo de prisionalização. 
Os laudos e as perícias criminológicas na Lei de Execução Penal 
Em 1984, com a edição da LEP, instituiu-se a avaliação criminológica como 
requisito para que o condenado atingisse a última fase da individu-
 
1 Os resultados apresentados neste artigo são fruto de pesquisa financiada pela Pontifícia Univer-
sidade Católica do Rio Grande do Sul, desenvolvida junto ao seu Programa de Pós-graduação em 
Ciências Criminais. 
Saio de Carvalho 
176 
 
 
alização da pena (individualização executiva). Após a aplicação da sanção 
(individualização judicial), caberia aos técnicos do sistema carcerário classi-
ficar os condenados com intuito de definir programa ressocializador e avaliar 
seu comportamento durante a execução, de forma a orientar a decisão do 
magistrado. Conforme determina a LEP, “os condenados serão 
classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a 
individualização da execução penal” (art. 5o). 
Os condenados à pena privativa de liberdade, principalmente aqueles 
a quem foram determinadas penas com modalidade de cumprimento em 
regime fechado, seriam submetidos ao diagnóstico para obtenção de 
elementos necessários à adequada classificação, objetivando estabelecer os 
parâmetros do tratamento penal. 
A Comissão Técnica de Classificação (CTC),para obtenção dos dados 
reveladores da personalidade, deveria realizar inúmeros procedimentos de 
prova, dentre os quais requisitar de repartições ou de estabelecimentos 
privados informações do condenado e entrevistar pessoas, ou seja, realizar 
todas as diligências que considerasse necessárias (art. 92, LEP). Determi-
nação legal aditiva à CTC, conforme a redação original da LEP, era a de 
acompanhar a execução das penas privativas de liberdade (art. 6-, LEP)2, 
propondo à autoridade competente as progressões (art. 112, LEP) e regres-
sões (art. 118, LEP) dos regimes, bem como as conversões de penas (art. 
180, LEP). Presidido pelo Diretor da instituição carcerária, sua estrutura era 
composta, no mínimo, por dois chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um 
assistente social (art. 7o, LEP). 
Diferiam da CTC, cujo labor tinha como escopo avaliar o cotidiano 
do condenado, os afazeres dos técnicos do Centro de Observação 
Criminológica (COC). Este local autônomo da instituição carcerária 
realizaria exames periciais e pesquisas criminológicas que retratariam o perfil 
do preso, fornecendo instrumentos de auxílio nas decisões judiciais dos 
incidentes da execução, nota- damente nos casos de livramento condicional 
e de progressão de regime. Desta forma, enquanto a CTC atuaria no local da 
execução, como observatório do cotidiano do apenado, o COC teria por 
função realizar exames criminológicos mais sofisticados, com intuito de 
 
2 "Art 6o. A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que elaborará o programa 
individuali- zador e acompanhará a execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, 
devendo propor, à autoridade competente, as progressões e regressões dos regimes, bem como as 
conversões."(Redação Original). 
Saio de Carvalho 
177 
 
 
auxiliar os órgãos judiciais da execução.
178 
 
Não obstante os dispositivos da 
LEP, o Código Penal determinava 
funções ao corpo criminológico (COC), 
mormente realizar prognósticos de não 
delinquência, requisito subjetivo obri-
gatório para concessão do livramento 
condicional - “para o condenado por 
crime dolosó' cometido com violência 
ou grave ameaça à pessoa, a concessão 
do livramento ficará também subordi-
nada à constatação de condições 
pessoais que façam presumir que o 
liberado não voltará a delinquir” (art. 
83, parágrafo único, CP). E, segundo o 
Código, nos casos em que o apenado 
havia praticado delitos considerados 
graves, eram estabelecidas condições 
especialíssimas para concessão do 
direito ao livramento condicional - 
última etapa do sistema progressivo da 
pena. 
Conforme a doutrina, 
A ESTRUTURA DA EXECUÇÃO da pena no 
Brasil é moldada pelo sistema progressivo (art. 
33 do Código Penal); ou seja, após 
cumprimento de um determinado período de 
tempo, dependendo do'mérito'e da'avaliação 
da personalidade' (laudos e pareceres), o 
apenado será transferido a um regime menos 
gravoso (p. ex„ progressão do regime fechado 
ao semiaberto e deste ao aberto). 
O livramento condicional, apesar de ser 
considerado a última etapa deste sistema, no 
qual o condenado readquire sua liberdade 
submetendo-se a um controle por parte das 
agências judiciais e penitenciárias, a legislação 
prevê a possibilidade de alcance do direito 
sem a passagem pelas instâncias 
intermediárias (art. 83 do Código Penal). 
No entanto, da mesma forma que o sistema 
permite a transferência para regime menos 
severo, em face de prática de faltas graves (p. 
ex„ participação em fuga, rebelião ou motim - 
art. 50, incisos I e II da Lei de Execução), o 
condenado pode regredir seu reime (art. 118 
da Lei de Execução).
 
...o dispositivo se inspira na reclamada defesa social e tem por 
objetivo a prevenção geral. Se após o exame criminológico (ou 
resultar da convicção do juiz) ainda revelar o condenado sinais 
de desajustamento aos valores jurídico-criminais, deverá 
continuar a sofrer imposição daquela pena até o seu limite final 
se a tanto for necessária em nome da prevenção especial. 
(FRANCO, 1993: 535) 
O exame pericial que se estabeleceu na prática forense, após a 
Reforma Penal de 1984, como idôneo para a prognose das condições do 
detento, foi o de cessação de periculosidade, em avaliação análoga àquela 
realizada pelo inimputável sujeito à aplicação de medida de segurança 
quando do incidente de insanidade mental (art. 175, LEP3). Caso
 
3 À guisa de ilustração: "a verificação dos requisitos inseridos no art. 83 e seus incisos, impondo-se 
também a realização da perícia, para verificar a superação das condições e circunstâncias que levaram 
o condenado a delinqüir, consoante o conteúdo do parágrafo único do mesmo dispositivo, e ressalva, 
ainda, que a norma, destinada ao sentenciado por crime violento, caracteriza exigência necessária 
179 
 
 
 
diante da extinção 
da medida de segurança para os imputáveis"(TA/RS, HC 285039624, Rei.Talai Selistre). 
Saio de Carvalho 
180 
 
 
contrário, na ausência do exame, o juízo seria absolutamente hipotético, 
cabendo com exclusividade ao julgador atribuir o grau de periculosidade do 
condenado (COSTAJR., 1999: 206).4 
Conclui Alvino Augusto de Sá, ao discutir a natureza dos exames 
criminológicos e as formas de prognose, que 
...o parecer da CTC deveria voltar-se eminentemente para a 
execução, para a terapêutica penal e seu aproveitamento por 
parte do sentenciado. Já o exame criminológico é peça pericial, 
analisa o binômio delito-delinquente e o foco central para o 
qual devem convergir todas as avaliações é a motivação 
criminal, a dinâmica criminal, isto é, o conjunto dos fatores que 
nos ajudam a compreender a origem e desenvolvimento da 
conduta criminal do examinado. Ao se estabelecerem as 
relações compreensivas entre essa conduta e esses fatores, se 
estará fazendo um diagnóstico criminológico. Na discussão, 
devem ser sopesados todos os elementos desse diagnóstico e 
contrabalance- ados com os dados referentes à evolução 
terapêutico-penal, de forma a se convergir o trabalho para um 
prognóstico criminológico, do qual resultará a conclusão final. 
(SÀ, 1993: 43) 
Em outras palavras, a decisão sobre a periculosidade depende exclu-
sivamente da análise do juiz, que utiliza, como instrumento de prova, o 
parecer da CTC e o exame do COC. 
A atuação pericial e o controle da identidade do preso 
A hipótese que fundamentou inúmeras análises críticas sobre os 
exames e os prognósticos criminológicos foi acerca da definição de matriz 
inquisitiva de processo na execução penal. Neste quadro, a LEP estabelecia 
rito e conteúdo de provas que violavam direitos fundamentais do cidadão 
preso, notadamente os procedimentos relativos à reconstrução e à valoração 
de sua personalidade que se encontram em oposição aos direitos de livre 
 
4 Nesse sentido, "a verificação das condições pessoais e subjetivas do sentenciado não se faz só e 
necessariamente por exame similar ao antigo exame de verificação de cessação de periculosidade. Por 
outros meios, inclusive sem qualquer tipo de verificação pericial, pode concluir-se de tal ausência de 
perigosidade na devolução do sentenciado à comunidade"(TJ-RS, RA, Rei. Gilberto Niederauer Corrêa 
- RTJE 36/364). 
181 
 
 
manifestação do pensamento de preservação da intimidade e da vida 
privada, e que reforçam, no âmbito social, o estigma delinquente. 
A afirmativa adquire consistência na análise metodológica empregada 
pelos técnicos do sistema penitenciário (psicólogos, assistentes sociais e 
psiquiatras). 
Percebe Hoenisch que o trabalho do perito, principalmente do 
psicólogo, era fundado na técnica de reconstituição de vida pregressa, que “via de 
regra vem a confirmar o rótulo de criminoso” (HOENISCH, 2002: 110). 
Desta forma, “a elaboração dos exames psiquiátricos obedece a um 
determinismo causal, onde o nosólogo‟ não só descreve a doença/ delito do 
paciente/preso, mas também prescreve a sua conduta futura” (IBRAHIM, 
1995: 52-53). 
O sistema penalógico adotado pela LEP psiquiatrizava a decisão do 
magistrado. A constante delegação, por parte dos magistrados, da motivação 
do ato decisório ao perito, que o realiza a partir de julgamentos morais sobre 
as opções e as condições de vida do condenado, estabelecia mecanismo de 
(auto)reprodução da violência pelo reforço da identidade criminosa (self-
fullfillingprofecy). Lembra Vera Malaguti Batista, ao estudar a atuação dos 
operadores secundários do sistema, dentre eles os técnicos que atuam na execução 
penal, que “estes quadros técnicos, que entraram no sistema para 
„humanizá-lo‟, revelam em seus pareceres (que instruem e têm enorme 
poder sobre as sentenças a serem proferidas) conteúdos moralistas, 
segregadores e racistas, carregados daquele olhar lombrosiano e darwinista 
social erigido na virada do século XIX e tão presente até hoje nos sistemas 
de controle social” (BATISTA, 1997: 77). 
Sabe-se que os mais perversos modelos de controle social punitivo 
são aqueles que fundem o discurso do direito com o discurso da psiquiatria, 
ou seja, que regridem aos modelos positivistas de coalizão conceituai do 
jurídico com a criminologia naturalista. O sonho da medição da peri- 
culosidade, forjado no interior do paradigma criminológico positivista 
(etiológico), encontra guarida nesse sistema. Assim, retomando conceitos 
como propensão ao delito, causas da delinquência e personalidade voltada para o crime, o 
discurso etiológico se reproduzia, condicionando o ato judicial ao exame 
clínico-criminológico - “psicólogos, psiquiatras, pedagogos, médicos e 
assistentes sociais trabalham em seus pareceres, estudos de caso e diag-
nósticos, da maneira mais acrítica, com as mesmas categorias utilizadas na 
Saio de Carvalho 
182 
 
 
introdução das idéias de Lombroso no Brasil”(BATISTA, 1997: 86).
183 
 
A TEORIA ESTRUTURAL-FUNCIONAUSTA da anomia e da 
criminalidade constitui a primeira alternativa 
clássica à concepção dos caracteres diferenciais 
biopsicopatológicos do delinquente e, por 
consequência, à variante positivista do princípio 
do bem e do mal. A teoria estrutural-
funcionalista da anomia e da criminalidade, 
segundo a leitura de Baratta, afirmaria que: (1) as 
causas do desvio não devem ser pesquisadas 
nem em fatores bioantropológicos e naturais 
(clima, raça), nem em uma situação patológica da 
estrutura social; (2) O desvio é um fenômeno 
normal de toda estrutura social; (3) somente 
quando são ultrapassados determinados limites, 
o fenômeno do desvio é negativo para a 
existência e o desenvolvimento da estrutura 
social. Segundo Durkheim, o fenômeno criminal 
é encontrado em todo tipo de sociedade, ou 
seja, não existiria nenhuma na qual não exista 
uma criminalidade. O delito faz parte da 
sociedade como elemento funcional, da 
fisiologia e não de sua patologia (BARATTA, 
Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penai, p. 
59-61). 
Eugênio Raúl Zaffaroni sustenta 
que o ideal de medição da pericu- 
losidade representa as pretensões mais 
ambiciosas desta criminologia 
etiológico-individualista equivocada 
(ZAFFARONI, 1988: 244). O peri- 
culosômetro, como ironiza o pensador 
porteno, cientificamente denominado de 
prognósticos estatísticos, consiste em 
estudar quantidade mais ou menos 
numerosa de reincidentes, quantificar 
suas causas e projetar seu futuro. Maria 
Palma Wolff lembra que 
...esta discricionaridade dos 
profissionais embasada em 
critérios, que não são tão neutros 
e científicos como pretendem ser, 
faz com que, muitas vezes, o 
parecer técnico afigure-se quase 
como um exercício de suposições, 
de futurologia. Isto, a partir de um 
discurso que já está dado como única verdade, bastando ajustá-lo a 
cada caso avaliado. (WOLFF, 2003: 93) 
A despatologização do delito ocorreu com a TEORIA ESTRUTURAL- FUNCIONALISTA 
de Durkheim, no início do século passado, incrementando verdadeiro giro 
copernicano na criminologia contemporânea, que culminou com a 
consolidação (acadêmica) do paradigma da reação social e, posteriormente, 
com a criminologia crítica. O reducionismo sociobio- lógico, modelo em 
voga no Brasil, revelava-se, portanto, obsoleto. No entanto, mesmo 
desqualificado epistemologicamente, acabava por seguir ditando as regras na 
execução da pena, sobretudo em decorrência de sua adesão pelos técnicos 
do sistema penitenciário. 
Apesar de a instrução probatória na primeira fase do processo penal 
(processo de conhecimento) ser sustentada por premissas acusatórias
Saio de Carvaiho 
184 
 
 
vinculadas ao direito penal do fato, todo processo de execução das penas e 
os procedimentos que demandavam avaliação pericial eram balizados por 
juízos inquisitórios sobre a identidade do sujeito. Estas avaliações mora- 
lizadorassobre a personalidade do encarcerado conformam modelo de 
direito penal de autor e práticas criminológicas etiológicas refutadas pelo 
sistema constitucional de garantias, visto a notória oposição às garantias da 
inviolabilidade da intimidade, do respeito à vida privada e à liberdade de 
consciência e de opção. 
Roberto Lyra, na vigência do Código de 40, chamava atenção para a 
estrutura antissecular deste tipo de prova: 
...virão laudos que são piores do que devassas a pretexto de 
anam- neses, com diagnósticos arbitrários e prognósticos 
fatalistas. A vida do réu e também a da vítima são vasculhadas. 
O anátema atinge a família por uma conjectura atávica. O labéu 
ultrapassa gerações. Remotos e ridículos preconceitos 
distribuem estigmas. O processo penal, além de todas as 
ocupações e preocupações, será atado ao torvelinho dos 
habituais e tendenciosos falsários bem pagos, com humilhações 
e vexames para o acusado e sua família, para a vítima e sua 
família, com base em „quadrinhos‟ e formulários. (LYRA, 1977: 
132)5 
Outrossim, além de violar os direitos fundamentais da pessoa presa 
pelo conteúdo moral do juízo, em relação à forma o laudo atuava como 
substitutivo da fundamentação judicial. 
O papel de sustentação (e de legitimação) das decisões assumido pela 
criminologia oficial foi percebido com precisão por Michel Foucault. Ao 
responder indagação sobre o porquê de sua crítica à criminologia ser tão 
rude, Foucault afirma que os textos criminológicos “não têm pé nem cabeça 
(...). Tem-se a impressão de que o discurso da criminologia possui uma tal 
utilidade, de que é tão fortemente exigido e tornado necessário pelo 
funcionamento do sistema, que não tem nem mesmo necessidade de se 
justificar teoricamente, ou mesmo simplesmente ter uma coerência ou uma 
 
5 Foucault, em Os Anormais, lembra que “(...) o exame psiquiátrico permite constituir um duplo psicoló- 
gico-ético do delito. Isto é, deslegalizar a infração tal como formulada pelo código, para fazeraparecer 
por trás dela seu duplo, que com ela se parece como um irmão, ou uma irmã, não sei, e que faz dela 
não mais, justamente, uma infração no sentido legal do termo, mas uma irregularidade em relação a 
certo número de regras que podem ser fisiológicas, psicológicas, morais, etc." (FOUCAULT, 2002:20-
21). 
185 
 
 
estrutura. Ele é inteiramente utilitário” (FOUCAULT, 1986: 138). 
A utilidade ressaltada seria a de fornecer argumentos ao julgamento, 
permitindo aos magistrados boa-consciência, caracterizando sua isenção de 
responsabilidade pelo ato6. 
O juiz da execução penal, de acordo com esta hipótese, desde a 
instituição dos postulados da criminologia clínico-administrativa, deixou de 
decidir, passando apenas a homologar laudos técnicos. Seu julgamento passa 
a ser informado por um conjunto de microdecisões (micropo- deres) que 
sustentarão cientificamente‟ o ato decisório. Assim, perdida no emaranhado 
burocrático, a decisão torna-se impessoal, sendo inominável o sujeito 
prolator. Lembra Foucault que 
...o juiz de nossos dias - magistrado ou jurado - faz outra coisa, 
bem diferente de „julgar‟. Ele não julga mais sozinho. Ao longo 
do processo penal, e da execução da pena, prolifera toda uma 
série de instâncias anexas. Pequenas justiças e juizes paralelos se 
multiplicam em torno do julgamento principal: peritos 
psiquiátricos e psicólogos, magistrados da aplicação da pena, 
educadores, funcionários da administração penitenciária 
fracionam o poder legal de punir; dir-se-á que nenhum deles 
partilha realmente do direito de julgar; que uns, depois das 
sentenças, só têm o direito de fazer executar a pena fixada pelo 
tribunal, e principalmente que outros — os peritos - não 
intervêm antes da sentença para fazer um julgamento, mas para 
esclarecer a decisão dos juizes. (FOUCAULT, 1991: 24) 
Ferrajoli afirma que estes modelos correcionalistas de reeducação - 
“qualquer coisa que se entenda com esta palavra”7 - acabam se tornando 
aflição aditiva à pena privativa de liberdade e, sobretudo, prática profunda-
mente autoritária. “Esta comporta uma diminuição da liberdade interior do 
detento, que viola o primeiro princípio do liberalismo: o direito de cada um 
 
6 Afirma Foucault: "a partir do momento em que se suprime a idéia de vingança, que outrora era 
atributo do soberano, lesado em sua soberania pelo crime, a punição só pode ter significação numa 
tecnologia de reforma. E os juizes, eles mesmos, sem saber e sem se dar conta, passaram, pouco a 
pouco, de um veredito que tinha ainda conotações punitivas, a um veredito que não podem justificar 
em seu próprio vocabulário, a não ser na condição de que seja transformador do indivíduo. Mas os 
instrumentos que lhes foram dados, a pena de morte, outrora o campo de trabalhos forçados, 
atualmente a reclusão ou a detenção, sabe-se muito bem que não transformam. Daí a necessidade de 
passar a tarefa para pessoas que vão formular, sobre o crime e sobre os criminosos, um discurso que 
poderá justificar as medidas em questão" (FOUCAULT, 1986:139). 
7 FERRAJOLI, Quattro PropostedlRiforma dellePene, p. 46. 
Saio de Carvaiho 
186 
 
 
ser e permanecer ele mesmo; e, portanto, a negação ao Estado de indagar 
sobre a personalidade psíquica do cidadão e de transformá-lo moralmente
através de medidas de premiação ou de punição por aquilo que ele é e não 
por aquilo que ele fez”8. 
Converge, nesta perspectiva, Fabrizio Ramacci, ao criticar as teorias 
da emenda que sustentam a Lei Penitenciária italiana. Leciona que 
...a exasperação da idéia de correção, ínsita na doutrina de 
emenda, é bloqueada pela proibição constitucional de 
tratamento contrário ao senso de humanidade, tanto nas formas 
de violência à pessoa, quanto nas de violência à personalidade 
(v.g. lavagem cerebral) porque contrastante com a dignidade 
humana (art. 3 da Constituição) e com a liberdade de 
desenvolver e inclusive manter a própria personalidade (art. 2 
da Constituição). (RAMACCI, 1991:133) 
A importância probatória dos pareceres e dos laudos periciais na reforma 
penal de 1984 
O sistema progressivo, baseado na ideia de mérito do condenado, foi 
eleito em 1984 como o instrumento hábil para atingir a finalidade de rein- 
serção social. Típico dos modelos estatais intervencionistas, o escopo resso- 
cializador legitimou a ação dos aparelhos punitivos para avaliação e forma-
tação da identidade do preso. Assim, o condenado ressocializado, no 
discurso da LEP, era aquele adequado às regras do estabelecimento 
carcerário e ao programa individualizador, ou seja, o sujeito disciplinado e 
ordeiro que se submetia e respondia satisfatoriamente ao tratamento penal. 
Segundo o nível de ressocialização, o condenado atingiria índices 
positivos ou negativos, condições para o desencarceramento progressivo 
(progressão de regime). 
Assim, para alcançar o gozo dos direitos de progressão previstos na 
LEP, o apenado deveria cumprir requisitos de ordem objetiva e subjetiva, 
segundo o art. 112. O critério objetivo foi vinculado ao tempo de cumpri-
mento da sanção: um sexto da pena no regime anterior ou, no caso de 
prática de crime hediondo, dois quintos (primário) e um quinto 
(reincidente)9. O pressuposto subjetivo foi determinado pelo mérito do 
 
albid., p. 46. 
9 Redação conforme o art. 2o, § 2°, da Lei dos Crimes Hediondos: "a progressão de regime, no caso dos 
0 papei da perícia psicológica na execução penal 
187 
 
 
condenado (art. 112, parágrafo único), ao ser instituída a necessidade de o 
preso ser submetido à Comissão Técnica de Classificação (CTC), para 
elaboração de parecer, ou ao Centro deObservação Criminológico (COC), 
para fins de exame pericial - prognósticos de não reincidência e/ou medição 
do grau de adaptabilidade e arrependimento. 
Em relação ao livramento condicional (art. 83 do Código Penal), a 
duplicidade de requisitos igualmente se impunha: (a) requisito objetivo, 
vinculado ao tempo - cumprimento de um terço (condenado primário), 
metade (reincidente), ou dois terços (crimes hediondos)10 da pena - e à 
reparação do dano; e (b) requisito subjetivo, relacionado com o comprovado 
comportamento satisfatório. E, em caso de condenação por crime doloso, 
cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, o parágrafo único do art. 
83 do Código Penal remetia o condenado à avaliação técnica, concretizada 
em laudo criminológico. 
O comportamento carcerário satisfatório, apesar de ser requisito 
subjetivo, sempre esteve vinculado à comprovação processual, de forma que 
foram estabelecidas condições de objetivação do critério. Doutrina e a 
jurisprudência fixaram como elemento a indicar o bom comportamento 
carcerário a ausência de registro, no prontuário do preso, de sanção por falta 
grave devidamente homologada pelo juiz competente. Ao magistrado 
caberia avaliar se o procedimento de apuração seguiu os requisitos formais e 
materiais do devido processo legal (ampla defesa, contraditório, recurso, 
assistência de advogado etc). 
A estrutura meritocrática da LEP, porém, era potencializada pela 
presença dos demais requisitos subjetivos, sobretudo nos casos de crimes 
graves. Se a ausência de falta grave comprovava comportamento satisfatório 
no que diz respeito à adequação do condenado às regras prisionais e à sua 
boa relação de convivência, os exames criminológicos atestariam o grau de 
ressocialização do preso a partir da ausência de conflitos internos. O mérito 
representaria, pois, (a) o bom convívio com as pessoas com as quais deveria 
relacionar-se (bom comportamento) e (b) a sadia relação do apenado 
consigo mesmo (adaptabilidade), sobretudo com a internali- zação dos 
limites estabelecidos pela lei (prognóstico de não reincidência) e a 
 
condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da 
pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente." (Redação dada pela Lei n° 
11.464, de 2007). 
10 Requisito incluído pela Lei n° 8.072/90. 
Saio de Carvalho 
188 
 
 
demonstração de arrependimento (consciência do delito). Definidos os 
critérios, são estabelecidas as provas processuais que os validariam: (a) 
ausência de sanção em Processo Administrativo Disciplinar (bom compor-
tamento); e (b) parecer técnico (CTC) e/ou laudo criminológico (COC) 
favorável (atestado grau de ressocialização). 
Os laudos e pareceres criminológicos que ingressavam no processo de 
execução penal como prova pericial adquiriram, no passar dos anos, 
tamanha importância que acabaram (re) criando sistema de prova tarifada11. 
O sistema de tarifas legais (prova tarifada), apesar de estar superado na 
legislação processual atual por força da adoção do sistema do livre 
convencimento judicial motivado (art. 157 e art. 182 do CPP), institui 
verdadeira armadilha, mormente nos casos de pareceres desfavoráveis: em 
face da linguagem técnica, o parecer aprisiona a decisão do juiz, sem deixar 
alternativas ao intérprete. E exatamente por expor juízo probabi- lístico, 
empiricamente indemonstrável (possibilidade de vir a cometer delito no futuro), as 
perícias impediam o direito ao contraditório, obstaculizando os direitos ao 
devido processo legal e à presunção de não culpabilidade em relação a fatos 
futuros. 
Em que pese a deturpação material gerada no sistema de prova e a 
consequente revivificação da prova tarifada com a adoção de valores irre-
futáveis, a crítica aos laudos foi historicamente direcionada à ilegitimidade 
de os técnicos realizarem julgamentos morais dos presos. A categoria 
ressocialização, encarada como índice de valoração da vida do periciando, 
invariavelmente cedeu espaço à violação da intimidade, em decorrência da 
possibilidade da avaliação e do julgamento morais da história pessoal e das 
opções de vida do objeto de análise. Veja-se, ^, ex., que, se eventualmente o 
preso houvesse silenciado ou negado o delito durante a primeira fase do 
processo (processo de conhecimento), fato absolutamente possível e do qual 
não pode haver qualquer prejuízo, tais posturas perante os técnicos revela-
riam a incapacidade de arrependimento e/ou torpeza moral, contraindicando o direito 
postulado. 
 
" A Constituição de 1988, ao adotar sistema de prova baseado no princípio do iivre convencimento 
motivado, refuta a ideia de prova tarifada. No sistema da prova tarifada, o Magistrado está vinculado à 
graduação prévia e hierarquizada de provas, não podendo, como ocorre na estrutura do livre 
convencimento, deixar de apreciar determinados elementos em detrimento de outros, mesmo que 
fundamente sua decisão. De acordo com a Constituição (art. 93, IX), o Código de Processo Penal 
permite, no caso de laudo pericial, que o juiz rejeite a opinião dos técnicos, desde que demonstre o's 
rpotivos:"o juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte" (art. 
182,'CPP). 
0 papei da perícia psicológica na execução penal 
189 
 
 
As perícias técnicas, fundamentadas no discurso correcionalista, 
instrumentalizaram práticas em absoluta ofensa ao princípio ilustrado da 
secularização. Sua funcionalidade à teoria da prevenção especial positiva 
(ressocialização), segundo a crítica criminológica, segue processo de inversão 
ideológica do discurso dos direitos humanos, pois de forma apenas 
superficial orientaram política penitenciária de humanização das penas. A 
função disciplinadora do agir criminológico, oculta no ideal ressocializador, 
expõe a programação da sanção criminal no século passado: não mais inti-
midar ou reprimir, mas criar condições ótimas de controle e de formatação 
da identidade do preso de forma a impor o arrependimento e a dosar os 
níveis de probabilidade de delinquência futura. 
Não por outro motivo o positivismo criminológico deixou os direitos 
dos apenados reféns de discurso dúbio que pendia entre as noções, sempre 
abertas e isentas de significado, porém altamente funcionais, de disciplina e 
ressocialização. Outrossim, no aspecto processual, agregava sistema admi-
nistrativo altamente burocratizado que substancialmente se sobrepunha à 
jurisdicionalização da execução da pena. 
A exclusão dos laudos e pareceres criminológicos pela lei 10.792/03 e 
a sua manutenção pela jurisprudência 
Não obstante a Lei 10.792/03 ter institucionalizado o Regime 
Disciplinar Diferenciado (RDD) - espécie absolutamente autoritária e 
desumana de execução da pena12 -, a nova Lei pretendeu modificar a estru-
tura da individualização científica do sistema progressivo, fato que merece 
atenção. A alteração projetada pela Lei 10.792/03 ocorre em relação aos 
requisitos e ao procedimento para que o condenado alcance os direitos 
públicos subjetivos instrumentalizados pelos incidentes da execução penal, 
notadamente a progressão de regime e o livramento condicional. 
No que tange ao procedimento, a nova redação do art. 112 da LEP 
reforça o devido processo legal e seus corolários da ampla defesa e do 
contraditório, recapacitando o princípio da jurisdicionalização, norteador 
formal da redação do código penitenciário13. O antigo parágrafo único do 
art. 112, que previa decisão judicial precedida de parecer da CTC ou exame 
 
12 No que tange às críticas ao Regime Disciplinar Diferenciado(RDD), conferir Carvalho, Tântalo no 
Divã, p. 91-118. 
13 A jurisdicionalização da pena (sistema jurisdicionalizado) submete todos os atos de execução ao juiz, 
limitando os poderes do administrador, absolutos no sistema oposto (sistema administrativizado). 
Saio de Carvalho 
190 
 
 
do COC, é substituído por dois importantes parágrafos, os quais remodelam 
a forma dos atos processuais.
0 papei da perícia psicológica na execução penal 
191 
 
 
O parágrafo primeiro do art. 112 define que a decisão sobre 
progressão de regime deve ser fundamentada pelo juiz e precedida de 
manifestação do Ministério Público e do defensor14; o parágrafo segundo 
projeta procedimento idêntico à concessão de livramento condicional, 
indulto e comutação das penas, respeitados os prazos previstos nas normas 
vigentes15. 
Assim, à exceção da remição16, comutação17 e unificação18, os princi-
pais incidentes em execução penal serão orientados pela estrutura do devido 
processo legal constitucional baseado no sistema acusatório, no qual juiz, 
agente do ministério público, defesa, membros do conselho penitenciário e 
técnicos possuem papéis claros e determinados, sem sobreposições ou apro-
priações. O contraditório pleno entre as partes (acusação e defesa) pretende 
derrogar os procedimentos inquisitoriais que tendiam a diminuir os direitos 
e garantias dos condenados na execução. Desta forma, entendeu-se na 
reforma scr necessário reestruturar o sistema executivo, aproximando-o da 
estrutura acusatória que rege o processo de conhecimento, ou seja, aquele 
que inicia com o recebimento da denúncia e termina com a decisão judicial 
(no caso condenatória) transitada em julgado. 
Não obstante a alteração do procedimento (forma dos atos do 
processo de execução), em relação aos requisitos (conteúdo) para concessão 
dos direitos na execução há significativa alteração. 
A substituição do texto anterior19 e a exclusão da referência aos 
laudos e aos pareceres criminológicos produzem dois efeitos distintos: (Io) 
retira o caráter vinculativo que as perícias e os pareceres criminológicos 
 
14 "Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência 
para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um 
sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor 
do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão."(Redação dada pela Lei 
10.792/03). 
'§ 1o. A decisão será sempre motivada e precedida de manifestação do Ministério Público e do 
defensor." (Redação dada pela Lei 10.792/03). 
15"ldêntico procedimento será adotado na concessão de livramento condicional, indulto e comutação 
de penas, respeitados os prazos previstos nas normas vigentes."(Art. 112, § 2o, LEP, incluído pela Lei 
10.792/03) 
16 Redução proporcional da pena pelos dias de trabalho ou de estudo na instituição prisional, na razão 
de um dia de pena por três de trabalho/estudo. 
17 O indulto é causa de extinção de punibilidade no qual o Poder Executivo, através da Presidência da 
República, extingue (indulto) ou diminui (indulto parcial ou comutação) pena para determinados 
condenados que cumprem as condições estabelecidas no Decreto de Indulto. Os Decretos de Indulto 
são publicados anualmente, antes do natal, e os requisitos são constantemente alterados. 
,s5oma de penas em caso de nova condenação. 
19 "A decisão será motivada e precedida de parecer da Comissão Técnica de Classificação e do exame 
criminológico, quando necessário." (Art. 112, parágrafo único, redação original da Lei 7.210/84). 
Saio de Carvalho 
192 
 
 
tinham sobre a decisão judicial, notadamente porque deixam de ser peça 
processual a informar o incidente executivo', ou (2o) vedam a possibilidade de CTCs e 
COC‟s produzir material opinativo (pareceres) destinado à instrução do 
incidente executivo (prova técnico-pericial), seja progressão de regime, livra-
mento condicional, indulto ou comutação. 
Parece não haver dúvida de que a redação da Lei 10.792/03 deixa 
clara a opção legislativa em retirar do cenário jurídico a obrigatoriedade dos 
laudos e pareceres criminológicos. As justificativas apresentadas para 
exclusão deste requisito subjetivo foram as inúmeras falhas, distorções e/ ou 
impossibilidades técnicas e materiais de realização da prova pericial ou do 
parecer técnico. Entende-se, portanto, que, se a reforma penitenciária optou 
pela remoção do requisito, não caberia ao julgador revivificar o antigo 
modelo, sujeitando o apenado ao laudo ou ao parecer. Sustenta-se, inclusive, 
que eventuais entraves ao alcance dos direitos previstos na LEP em face de 
perícias ou de pareceres desfavoráveis caracterizam ofensa à legalidade 
penal, em virtude de se vedar efeito retroativo à lei penal anterior mais 
favorável. 
Apesar de a Lei 10.792/03 institucionalizar regime bárbaro de 
execução de pena (RDD) - fundamentalmente por isolar o condenado em 
regime gótico de execução da pena -, o texto normativo inovou na retirada 
dos laudos e dos pareceres técnicos, peças processuais cuja eficácia histórica 
foi a de manter absoluta sobreposição do discurso da criminologia adminis-
trativa e psiquiatrizada sobre o sistema jurisdicional de garantias. 
No entanto, após meia década de vigência da Lei 10.792/03, é 
possível diagnosticar a eficácia da modificação legislativa pela posição dos 
Tribunais Superiores em relação ao tema da investigação. 
Recentes acórdãos do Supremo Tribunal Federal (STF) refletem o 
entendimento consolidado sobre a matéria: 
“HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE 
REGIME. REQUISITOS SUBJETIVOS. PROGRESSÃO DEFERIDA 
PELO JUÍZO DE EXECUÇÕES CRIMINAIS E CASSADA PELO 
TRIBUNAL ESTADUAL. ACÓRDÃO CARENTE DE 
FUNDAMENTAÇÃO VÃLIDA. INCISO IX DO ART. 93 DA 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ORDEM CONCEDIDA. 
1. De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a aferição do 
pressuposto subjetivo para a progressão de regime prisional admite balizamento pelo exame 
O papel da perícia psicológica n 
193 
 
 
criminológico, desde que o juiz demonstre a necessidade de realização deste. 
2. Na concreta situação dos autos, de posse do laudo técnico psicológico e demais elementos de 
convicção, o Juízo da Execução Penal entendeu satisfeito o requisito subjetivo e deferiu a progressão 
de regime. Decisão que, desmotivadamente,foi reformada pelo Tribunal de Justiça. Ofensa ao inciso 
IX do artigo 93 da Constituição Federal. Precedentes. 
3. Ordem concedida.” (STF — Ia Turma — HC 9511 l/RS - Relator Min. Carlos 
Britto,j. 03/02/2009) 
“HABEAS CORPUS. AGRAVO EM EXECUÇÃO: DEVOLUTIVI- DADE. 
ELABORAÇÃO DE EXAME CRIMINOLÓGICO PARA FINS DE 
PROGRESSÃO: POSSIBILIDADE, MESMO COM A SUPERVENIÊNCIA DA 
LEIN. 10.792/03. NECESSIDADE, CONTUDO, DE DECISÃO FUNDA-
MENTADA. ORDEM CONCEDIDA. 
1. O Agravo em Execução previsto no art. 197 da Lei de Execução Penal devolve toda a matéria 
objeto da decisão recorrida ao Tribunal ad quem, nada impedindo, em tese, que, ao julgar o 
recurso, se proceda à nova análise quanto ao preenchimento dos requisitos de ordem objetiva e 
subjetiva para progressão de regime. 
2. Conforme entendimento firmado neste Supremo Tribunal, a superveniência da Lei n. 
10.792/2003 não dispensou, mas apenas tornou facultativa a realização de exames 
criminolágicos, que se realiza para a aferição da personalidade e do grau depericulosidade do 
sentenciado (v.g, Habeas Corpus n. 85.963, Rei. Ministro Celso de Mello, DJ27.10.2006). 
3. As avaliações psicossociais estão compreendidas no gênero “exame criminológico” epodem servir 
de subsídio técnico para aformação da livreconvicção do magistrado. 
4. Ao analisar os requisitos de ordem subjetiva, o Tribunal ad quem pode se amparar - de acordo 
com a sua livre convicção — em laudos psicossociais elaborados em atendimento à requisição do 
Juízo das Execuções, e a par dos quais a decisão recorrida foiprolatada (Código de Processo Penal, 
art. 157 e 182). 
5. Não se presta o procedimento sumário e documental do Habeas Corpus ao reexame de prova 
pericial em que se traduz o exame criminológico. 
6. Na linha dos precedentes deste Supremo Tribunal posteriores à Lei n. 10.792/03, o exame 
criminológico, embora facultativo, deve ser feito por decisão devidamente fundamentada, com a 
indicação dos motivos pelos quais, conside- rando-se as circunstâncias do caso concreto, ele seria 
necessário. 
7. Ordem concedida para restabelecer a decisão proferida pelo Juízo das Execuções.” (STF - Ia 
Turma - HC 94503/RS - Relatora Min. Cármen Lúcia, j. 28/10/2008) 
No mesmo sentido, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ): 
"HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. LIVRAMENTO 
CONDICIONAL. REQUISITO SUBJETIVO NÃO PREENCHIDO. 
Saio de Carvalho 
194 
 
 
DECISÃO FUNDAMENTADA COM BASE NOS LAUDOS 
TÉCNICOS. POSSIBILIDADE. 
1. Para aferição do requisito subjetivo para a concessão do benefício de livramento 
condicional, não mais se exige, de plano, a realização de exame criminológico, contudo 
uma vez realizado, observadas as peculiaridades do caso concreto, este deve ser considerado 
parafins de concessão ou negativa do benefício. 
2. Na hipótese, foi devidamente negado pelo Juízo das Execuções Criminais e Tribunal a 
quo o pedido de livramento condicional, ante a ausência de atendimento do requisito 
subjetivo, com fundamento nos laudos técnicos e sua conclusão desfavorável ao Reeducando. 
3. Ordem denegada.” {ST] - Habeas Corpus 118.379/RS - Rei. Ministra 
Laurita Vaz, DJe 09/02/2009) 
“HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO. PROGRESSÃO DE REGIME. 
LAUDOS TÉCNICOS DESFAVORÁVEIS. CONSIDERAÇÃO. 
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA, COM 
RECOMENDAÇÃO. 
1. O exame criminológico e os laudos técnicos, anteriormente indispensáveis para se aferir 
o preenchimento do requisito subjetivo exigido para a concessão de benefícios, após o 
advento da nova legislação tornaram-se recursos excepcionais, mas, se realizados e 
desfavoráveis, nada obsta que sejam considerados na análise do pedido de progressão. 
2. Ordem denegada.” (STJ - Habeas Corpus 52.560/PR - Rei. Ministra 
Maria Thereza de Assis Moura, DJe 19/12/2008) 
A interpretação dos Tribunais Superiores acerca do laudo criminoló-
gico, que tende a ser universalizada aos Tribunais locais, é a de sua facultati- 
vidade. Diferentemente do que é sustentado no presente artigo, o entendi-
mento majoritário é o de que a Lei 10.792/03, ao retirar do parágrafo único 
do art. 112 da LEP a necessidade do laudo ou do parecer, não excluiu do 
julgador a possibilidade de requisição e posterior valoração. Assim, caberá às 
partes, no caso concreto, se entenderem necessário, requisitar a perícia 
técnica ao juiz. Em casos episódicos, segundo o novo regramento, poderia o 
magistrado designar de ofício. 
A modificação legislativa, porém, possibilitou aos Tribunais fixar o 
entendimento de que a negativa da progressão de regime ou do livramento
0 papei da perícia psicológica na execução penal 
195 
 
 
condicional com base exclusiva no laudo é incabível, sendo dever do magis-
trado fundamentar adequadamente sua decisão, contrária ou aderente à 
manifestação dos experts. 
O posicionamento dos Tribunais frente à Lei 10.792/03 renova a 
atualidade do debate acerca do papel dos técnicos, especialmente o dos 
psicólogos, na execução das penas privativas de liberdade. 
Considerações finais: a função dos psicólogos no sistema penitenciário: o 
atuar criminológico 
O discurso psiquiátrico-disciplinar da reforma de 1984 que originou a 
LEP, baseado nos princípios moralizadores da Nova Defesa Social, 
propunha legitimar o discurso jurídico, atuando como seu suporte. Neste 
quadro, produzia dois efeitos em áreas distintas: (a) no plano 
epistemológico, reforçava o narcisismo da ciência do direito penal que 
historicamente entendeu os demais saberes como meramente auxiliares, 
funcionais ou instrumentais aos seus objetivos (CARVALHO, 2004: 79-98); 
(b) no plano processual, ao impregnar a decisão judicial com elementos 
alienígenas, criava terceiro discurso, não jurídico e não psiquiátrico, 
autoproclamado criminológico que, apesar da absoluta carência 
epistemológica, era altamente funcional20. 
Foucault entendeu este duplo efeito como derivado de técnica de 
normalização do poder, a qual não é apenas resultado do encontro entre o 
saber médico e o poder judiciário, mas da composição de certo tipo de 
poder, para além da psiquiatria e do direito, que colonizou e repeliu ambos 
(FOUCAULT, 2002: 31-32). 
Cria-se, pois, discurso absolutamente independente, que resolve de 
forma autônoma os problemas da execução da pena (e das medidas de segu-
rança), sem quaisquer referências aos limites impostos pelo direito ou pela 
ciência médico-psiquiátrica. 
A técnica criminológica, ao se autoproclamar como o‟ discurso da 
verdade no processo de execução penal, acabou por reeditar, conforme 
destacado, um sistema de prova tarifada típico dos modelos jurídicos inqui- 
sitivos pré-modernos, incapacitando as normas de garantia ao obstruir 
 
20 Neste sentido sustenta Cristina Rauter que "a 'colonização' do judiciário pelas ciências humanas, pela 
via da Criminologia, corresponde a um processo de implantação de uma tecnologia disciplinar, com 
efeitos ao nível do discurso e também das práticas sociais"(RAUTER, 1982:80). 
196 
 
 
qualquer espécie de contraprova ou de contra-argumento, configurando o 
que se denomina como situação de irrefutabilidade de hipóteses. Assim, não 
apenas no plano processual, mas igualmente no plano material, o discurso 
correcionalista de matriz psiquiátrica alterou a face do direito penal. 
Enquanto o objeto de discussão do direito é (deveria ser) o fato concreto, 
impossibilitando avaliações morais sobre a história de vida do sujeito, no 
discurso criminológico oficial (burocrático) houve a prevalência da 
valorização da identidade da pessoa como fator decisório, como fonte de 
verdade. Não por outro motivo “os diagnósticos [laudos e pareceres 
criminológicos] são repletos de conteúdo moral e com duvidosas doses de 
cientificidade” (BATISTA, 1997: 84). 
A sobreposição dos discursos científicos e a criação de terceiro parâ-
metro para decisão sobre os incidentes de execução parecem ter sido um 
dos principais problemas processuais do modelo de execução penal insti-
tuído em 1984. Este nó‟ teórico derivado da incorporação dos ideais do 
movimento da Nova Defesa Social, na consolidação do que Garland deno-
mina de welfarismo penalm, resulta em situação jurídica na qual as garantias do 
cidadão preso são abandonadas em detrimento de juízos técnicos 
moralizadores e normalizadores em seu conteúdo, e, em sua forma, contrá-
rios aos parâmetros definidos pelo estatuto jurídico - p. ex., direitos deri-
vados das garantias individuais, como o direito à imunização da valoração de 
sua intimidade, de sua vida privada e de sua vida familiar, agregados aos 
tradicionais direitos individuais ao silêncio, à não autoincriminação, à 
presunção de inocência, ao contraditório, entre outros previstos no art. 5o 
da Constituição da República. 
Não obstante, conclui Vera Malaguti Batista que, apesar de 
aparentemente científicos, os laudos criminológicos não são em nada 
neutros, pois se destacam pela construção e consolidação de estereótipos 
(BATISTA,1997: 77). 
Com o advento da Lei 10.792/03 e com a consolidação jurispruden- 
cial sobre a não obrigatoriedade do laudo, restaria indagar qual a função dos 
criminólogos, dentre eles os profissionais da psicologia, para além das avalia-
ções e das perícias que eventualmente sejam determinadas judicialmente? 
A questão colocada tem o intuito de criticar a antiga postura que 
reduzia o técnico à exclusiva função de redigir laudos criminológicos. 
Apesar da postura conservadora do Poder Judiciário em manter a possibi-
0 papei da perícia psicológica na execução penal 
197 
 
 
lidade de o juiz requisitar o laudo, entende-se que o papel dos profissionais 
da psicologia, da psiquiatria e do serviço social, que atuam na execução, seja 
outro, de maior relevância, para além do mero auxílio técnico probatório à 
decisão judicial. Correta, neste sentido, a análise de Miriam Guindani, ao 
concluir que, ao longo da vigência da LEP, 
...os profissionais do serviço social [da psicologia e da 
psiquiatria, inclui-se] foram relegados à função de tarefeiros, 
para simplesmente atender às demandas de avaliação e perícia 
para fins de -j individualização, progressão de regime ou 
livramento condicional. Assim, perdeu sua identidade como 
categoria, ficando relegado, muitas vezes, a um papel de 
executor de laudos‟. As ações passaram a ocorrer através das 
equipes de CTC, enquanto o tratamento penal previsto em lei 
tornou-se, com algumas exceções, secundário. (GUINDANE, 
2002: 35) 
A conclusão em relação ao profissional da psicologia é idêntica, pois, 
conforme enunciam Hoenisch e Pacheco, “a despeito das diversas possibili-
dades de trabalho do psicólogo, observa-se uma restrita atuação à confecção 
de laudos técnicos” (HOENISCH, PACHECO, 2002:191-204). 
Para além do posicionamento dos operadores do direito que atuam 
nos Tribunais Superiores, é possível sustentar que a reforma disposta na Lei 
10.792/03 redesenha a pesada e burocrática máquina executivo-penitenci- 
ária, alterando substancialmente o papel dos atores da execução (psiquiatras, 
psicólogos e assistentes sociais). 
Segundo a nova redação do art. 6° da LEP21, parece ser esperado do 
técnico trabalho no sentido da criação de condições que reduzam os danos 
produzidos pela execução da pena, de construção de mecanismos que mini-
mizem os efeitos perversos da sanção penal. Caberia, portanto, às CTCs, a 
missão de efetiva elaboração de programas individualizadores, seguido do 
imprescindível trabalho de acompanhamento do preso durante a execução 
das penas privativas de liberdade e restritivas de direito. Em relação aos 
COCs, caberia à perícia técnica o auxílio na obtenção de elementos precisos 
àquela individualização, sobretudo no caso de condenado à pena privativa 
 
21 "Art. 6o. A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que elaborará o programa 
indi- vidualizador da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou preso 
provisório."(Redação dada pela Lei n° 10.792, de 1.12.2003) 
198 
 
 
de liberdade em regime fechado. 
Em síntese, a reforma legislativa permite entender o trabalho do 
técnico comopropositivo (não impositivo), no sentido de elaborar programa de 
tratamento penal objetivando a redução dos danos causados pelo processo de 
prisionalização. Embora entendendo inadequada a categoria, fundamen-
talmente pelo conteúdo ideológico que historicamente representou, utiliza- 
se o termo tratamento penal'. 
...entendendo-o não como uma finalidade em si do 
cumprimento da pena, mas como um conjunto de práticas 
educativas e terapêuticas que podem ter significados e funções 
diferenciadas no processo de cumprimento da pena, 
dependendo dos diferentes fatores teóricos, políticos e 
institucionais, que o envolvem. (WOLFF, 2003: 96) 
Atividade pautada em princípios de redução de danos possibilitaria 
construir com o apenado técnicas que possibilitassem minimizar os efeitos 
deletérios do encarceramento, sobretudo o da estigmatização, gestando 
espécie de clínica de vulnerabilidade. Se constatados problemas de ordem 
pessoal ou familiar, caberia ao técnico, em comunhão e com a anuência do 
apenado, colocar em prática instrumentos de manejo do problema, forne-
cendo elementos para superação da crise. 
A elaboração conjunta do programa de redução de danos, com a 
prévia anuência do cidadão preso, é condição fundamental para que haja 
mútuo comprometimento. A imposição de programas de ressocialização, não 
obstante ferir a mais elementar premissa do tratamento (voluntariedade), 
somente é admissível em sistemas nos quais o encarcerado é percebido 
como objeto de execução da pena, como ente coisificado entregue ao laboratório 
criminológico do cárcere ou, nas palavras de Foucault, “objeto de uma 
tecnologia e de um saber de reparação, de readaptação, de reinserção, de 
correção” (FOUCAULT, 2002: 26-27). 
Neste momento de rediscussão do papel dos técnicos da execução 
penal em face das alterações determinadas pela Lei 10.792/03, importante 
lembrar as recomendações do Relatório Final da investigação desenvolvida 
pelo Instituto Interamericano de Direitos Humanos (IIDH) no final da 
década de 80.
; papei «ia pefteta psicológica na execução penal 
199 
 
 
Diagnostica o relatório que inexiste nos ordenamentos jurídicos 
latino-americanos qualquer tipo de intervenção participativa do apenado na 
eleição do programa de reinserção ao qual estará subordinado. Em regra, 
segundo informa o documento, os relatórios sobre condenados tendem a 
ser estigmatizantes, agregando expedientes com sentido infamante altamente 
negativo que: 
...al par de resultar una agresión a la personalidad, totalmente 
contraria a los fines que se propone formalmente el sistema, 
importa en una seria violación a la esfera íntima de la persona, 
que no se encuentra afectada por la pena privativa de liberdad 
más que en la estricta medida de lo que, conforme a la 
naturaleza de las cosas, se desprende dei mero hecho de la 
privación de libertad. (ZAFFARONI, 1988: 209) 
Ademais, acrescenta o informe que a pena privativa de liberdade não 
pode ter, sob nenhuma justificativa, o efeito de comprometer a personali-
dade e a intimidade do condenado, de tal sorte que os técnicos que atuam na 
execução não estão isentos do segredo profissional inerente aos seus cargos. 
Assim, enumera propostas que parecem poder ser incorporadas pelas 
aberturas fornecidas com a nova Lei: (Ia) que a observação e a classificação 
dos condenados ocorra em período de tempo razoavelmente breve, com a 
participação de equipe multidisciplinar controlada pelo juiz da execução 
penal, possibilitando a intervenção do apenado na estruturação do programa 
ao qual será submetido; (2a) que os informes das comissões de classificação 
se abstenham de penetrar em aspectos concernentes à esfera íntima da 
pessoa, baseando-se em modelos adequados às características culturais de 
cada comunidade; (3a) que os profissionais e funcionários intervenientes 
fiquem submetidos às regras do segredo profissional ou funcional e que seus 
informes não sejam agregados indiscriminadamente aos autos do processo 
(ZAFFARONI, 1988: 209-210). 
Para finalizar, importante lembrar Anabela Miranda Rodrigues 
quando sustenta que 
...o „tratamento‟, quer seja realizado em liberdade, quer em caso 
de sua privação, é sempre um direito do indivíduo e não um 
dever que lhe possa ser imposto coativamente, caso em que 
sempre se abre a via 
de uma qualquer manipulação da pessoa humana, redobrada quando 
Saio de Carvalho 
200 
 
 
esse tratamento afeta a sua consciência ou a sua escala de valores. O 
direito de não sertratado‟ é parte integrante do direito de ser diferente‟ 
que deve ser assegurado em toda sociedade verdadeiramente pluralista e 
democrática, (apud FRANCO, 1986:106) 
Bibliografia 
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do Direito Penal. Rio de Janeiro: 
Revan/ICC, 1999. 
BATISTA, Vera Malagutti. O proclamado e o escondido: a violência da 
neutralidade técnica. In: Discursos sediciosos (03). Rio de Janeiro: ICC/Revan, 
1997, p. 77-86. 
CARVALHO, Saio. Antimanual de criminologia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. 
 . Tântalo no divã. In: Revista Brasileira de Ciências Criminais (50). São 
Paulo: RT, 2004. 
COSTA JR., Paulo José. Direito Penal: curso completo. São Paulo: Saraiva, 1999. 
FERRAJOLI, Luigi. Quattro proposte di riforma delle pene. In: BORRE, Giuseppe 
e PALOMBARINI, Giovanni. II sistema sanzionatorio penale e le alternative di tutela. 
Roma: Franco Angeli, s/d, p. 37-50. 
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. 8. ed. Petrópolis: 
Vozes, 1991. 
 . Sobre a Prisão. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 6. ed. Rio 
de Janeiro: Graal, 1986. 
 . Os anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 
FRANCO, Alberto Silva. Temas de Direito Penal: breves anotações sobre a Lei ne 
7.209/84. São Paulo: Saraiva, 1986. 
 . (et alii). Código Penal e sua interpretação judicial. 4a ed. São Paulo: RT, 
1993. 
GARLAND, David. The adture of control: crime and social order in contemporary society. 
Oxford: Oxford University Press, 2001. 
GUINDANI, Miriam Krenzinger A. Violência e prisão: uma viagem na busca de um olhar 
complexo. Tese apresentada ao curso de Pós-Graduação em Serviço Social da 
PUC/RS para obtenção do título de doutor. Porto Alegre, 2002. 
HOENISCH, Julio César Diniz. Divã de Procusto: critérios para perícia criminal no Rio 
Grande do Sul. Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em 
Psicologia da PUC/RS para obtenção do título de mestre. Porto Alegre, 2002. 
 ___ e PACHECO, Pedro. A Psicologia e suas transições: desconstruindo a 
„lente‟ da Psicologia na Perícia. In: CARVALHO, Saio (coord.). Crítica à 
Execução Penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002, p. 191-204. 
0 papel da perícia psicoló 
201 
 
 
IBRAHIM, Elza. Exame Criminológico. In: RAUTER, Cristina et alii, (coord.). 
Execução Penal: estudos epareceres. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1995, p. 51-56. 
LYRA, Roberto. Direito Penal normativo. 2a ed. Rio de Janeiro: Konfino, 1977. 
RAMACCI, Fabrizio. Corso di Diritto Penale:principi costituzionali e interpretazione della 
Legge Penale. Torino: Giappichelli, 1991. 
RAUTER, Cristina. Criminologia e poder político no Brasil. Dissertação apresentada ao 
curso de Pós-Graduação em Filosofia da PUC/RJ para obtenção do título de 
mestre. Rio de Janeiro, 1982. 
SÁ, Alvino Augusto. Equipe criminológica: convergências e divergências. In: Revista 
Brasileira de Ciências Criminais (2). São Paulo: RT, 1993, p. 41—45. 
WOLFF, Maria Palma. Antologia de vidas e histórias na prisão. Tese apresentada ao 
curso de Pós-Graduação em Direito Fundamentais e Liberdades Públicas da 
Universidade de Zaragoza para obtenção do título de Doutor. Zaragoza, 2003. 
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Criminologia: aproximación desde un margen. Bogotá: 
Temis, 1988. 
 . Sistemaspenalesy derechos humanos. Buenos Aires: Depalma, 1986.
21 Segundo Garland, a estrutura penal-welfare passa a ser o resultado híbrido que combina o legalismo 
liberal do processo e seu castigo proporcional com compromissos correcionalistas baseados na reabili-
tação, no bem-estar e no conhecimento criminológico (GARLAND, 2001:27).

Outros materiais