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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA UNOESC XANXERÊ ÁREA DAS CIÊNCIAS DA VIDA CURSO DE FARMÁCIA ANDRESSA RODRIGUES DOS SANTOS COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA Xanxerê/SC 2017 ANDRESSA RODRIGUES DOS SANTOS COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA Revisão bibliográfica apresentada ao curso de Farmácia, Área das Ciências da Vida, da Universidade do Oeste de Santa Catarina, como requisito a obtenção de nota da disciplina de Patologia. Professor (a): Thaiza Savaris XANXERÊ/SC 2017 Sumário 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 4 2. CONDIÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS À CIVD .................................................................. 4 3. MECÂNISMO DE OCORRÊNCIA DA CIVD .......................................................................... 5 4. DIAGNÓSTICO ............................................................................................................................ 6 5. TRATAMENTO ............................................................................................................................ 7 6. RELATO DE CASO ..................................................................................................................... 8 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 11 1. INTRODUÇÃO A Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD) não é uma doença específica, mas sim uma complicação de várias condições associadas à ativação sistêmica da trombina. É, atualmente, definida como uma síndrome adquirida, caracterizada pela ativação difusa da coagulação intravascular, levando à formação e deposição de fibrina na microvasculatura. A deposição de fibrina pode levar à oclusão dos vasos e consequente comprometimento da irrigação sanguínea de diversos órgãos, o que, em conjunto com alterações metabólicas e hemodinâmicas, contribui para a falência de múltiplos órgãos, em particular cérebro, pulmões, coração e rins. O consumo e consequente depleção dos fatores de coagulação e plaquetas, resultantes da contínua atividade procoagulante, pode levar a sangramento difuso, o que frequentemente é a primeira manifestação notada. É importante ressaltar que a CIVD é sempre secundária a uma doença de base e a identificação e tratamento da condição predisponente são fundamentais para a resolução da síndrome. 2. CONDIÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS À CIVD A CIVD é uma coagulopatia causada por uma grande variedade de condições clínicas ocasionada por um problema de base, que pode ser: Sepse, Síndrome de Kasabach-Merritt, neoplasias, leucemia, reações alérgicas, hipotermia, trauma, lesão SNC, embolia gordurosa, aborto séptico, aborto retido, reação transfusional aguda, entre outros. As doenças infecciosas, em particular a septicemia, são as mais comumente associadas à CIVD. Apesar de qualquer microorganismo (como vírus e parasitas) desencadear a síndrome, as infecções bacterianas são as mais frequentemente associadas à CIVD. Trauma grave também é frequentemente relacionado à CIVD e uma combinação de mecanismos, que inclui liberação de gordura e fosfolipídios tissulares na circulação, hemólise e lesão endotelial, contribui para a ativação sistêmica da coagulação em tal situação. O padrão de liberação de citocinas em pacientes politraumatizados é semelhante àquele observado em pacientes sépticos. A incidência de CIVD em pacientes que sofreram trauma grave com síndrome da resposta inflamatória sistêmica é de 50% a 70%. Tumores sólidos e neoplasias hematológicas podem cursar com CIVD. O mecanismo envolvido é ainda pouco compreendido, mas parece estar relacionado ao fator tissular (FT), expresso na superfície das células tumorais. 10 a 15% dos pacientes com tumores metastáticos e 15% a 20% dos pacientes com leucemia exibem evidências de ativação intravascular da coagulação. A gravidez caracteriza-se por estado de hipercoagulabilidade e por complicações como descolamento prematuro de placenta, pré-eclâmpsia e síndrome HELLP que representam algumas das condições associadas à CIVD. A liberação de material tromboplástico é o que provavelmente desencadeia a síndrome, uma vez que o grau de descolamento placentário correlaciona-se com a gravidade do quadro e o líquido amniótico é um potente ativador da coagulação in vitro. Doenças vasculares, como hemangiomas gigantes (síndrome de Kasabach-Merritt) ou grandes aneurismas de aorta, podem resultar em ativação local da coagulação e ter como consequência a depleção sistêmica dos fatores de coagulação e plaquetas, consumidos localmente. A incidência de CIVD clinicamente detectável em pacientes com hemangioma gigante é de 25% e em aneurisma de aorta é de 0,5% a 1%. 3. MECÂNISMO DE OCORRÊNCIA DA CIVD A CIDV decorre da integração de três processos: formação intravascular de trombina, redução da função dos mecanismos reguladores da coagulação e diminuição da atividade fibrinolítica, que reduz a remoção de fibrina depositada. Em linhas gerais, pode-se dizer que a deposição sistêmica de fibrina é resultado da geração de trombina, mediada pelo complexo fator tissular/fator VII ativado e da inibição ou disfunção dos anticoagulantes naturais (antitrombina, proteína C, proteína S e inibidor da via do fator tissular). Em adição, a inibição da atividade fibrinolítica pelo aumento dos níveis do inibidor do ativador do plasminogênio do tipo 1 (PAI-1) resulta em remoção inadequada de fibrina, contribuindo, dessa forma, para a trombose da microvasculatura. Citocinas, principalmente a interleucina-6, têm ação central nesse processo. A ativação sistêmica da coagulação promove não somente deposição de fibrina e trombose, mas também, consumo e consequente depleção dos fatores da coagulação e plaquetas, o que, frequentemente, resulta em manifestações hemorrágicas. No conjunto, esses mecanismos fisiopatológicos explicam a ocorrência simultânea de trombose e sangramento na CIVD. Figura 1. Fluxograma do mecanismo da CIVD 4. DIAGNÓSTICO Não existe exame laboratorial que isoladamente estabeleça ou afaste o diagnóstico de CIVD, porém a combinação de alterações clínicas e laboratoriais compatíveis e, principalmente, a presença de doença sabidamente relacionada à síndrome permitem diagnóstico confiável na maioria dos casos. Clinicamente, pode-se observar os sinais de resposta inflamatória sistêmica, como febre, hipotensão, acidose, manifestações de sangramento difuso (petéquias, equimoses, sangramento em locais de punção venosa e cicatriz cirúrgica ou traumática) e sinais de trombose. As principais manifestações clínicas apresentadas pela trombose são: delírio, isquemia focal, gangrena, oligúria (diminuição e a ausência da produção de urina), azotemia, ulceração aguda e anemia hemolítica. Já as manifestações clínicas da hemorragia são: sangramento, petéquias, equimoses, sítios de venopunção, epistaxis e hematúria. Os exames laboratoriais necessários para a confirmação diagnóstica de CIVD são: -Tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa) e tempo de trombina (TT). O prolongamento do TP e do TTPa reflete o consumo dos fatores da coagulação e, portanto, uma fase de ativação franca da coagulação. O resultado normal desses exames não exclui a presença de CIVD,uma vez que, nas fases iniciais da síndrome, não há consumo suficiente de fatores de coagulação para prolongar o TP e o TTPa. O TT, por sua vez, reflete a hipofibrinogenemia relacionada ao consumo de fibrinogênio, além de alterar-se mediante ação dos produtos de degradação da fibrina/ fibrinogênio (PDFs) sobre o fibrinogênio. - Contagem de plaquetas. A contagem de plaquetas inicialmente baixa e, particularmente, a sua queda progressiva são um achado sensível, ainda que pouco específico, para avaliar a evolução da síndrome, uma vez que a agregação plaquetária é consequência da geração de trombina. A estabilização da contagem de plaquetas sugere que a formação de trombina tenha cessado. - Fibrinogênio e produtos da degradação da fibrina (PDFs). A dosagem de fibrinogênio plasmático deve ser feita, porém em fases iniciais da CIVD, seus níveis podem permanecer normais ou mesmo elevados apesar da ativação da coagulação, uma vez que se trata de proteína de fase aguda. A hipofibrinogenemia aparece em casos graves de CIVD. -Dosagem de fatores da coagulação e anticoagulantes naturais (proteína C, antitrombina). A diminuição dos níveis plasmáticos de fatores da coagulação é refletida no prolongamento dos tempos de coagulação e é resultado do seu consumo. A dosagem de fatores específicos (por exemplo, fatores V e VIII) pode ser útil em algumas situações, como, para auxiliar na diferenciação entre coagulopatia associada à insuficiência hepática e CIVD. -Observação do esfregaço de sangue periférico. Tem importância nos casos de suspeita de CIVD, à medida que a presença de hemácias fragmentadas (esquisócitos) é indicativa da presença de trombose microvascular. 5. TRATAMENTO A CIVD acomete pacientes com graves doenças de base, que devem ser o primeiro alvo no tratamento. Enquanto isto se faz, estratégias de “suporte” (administração de fluidos, antibioticoterapia, correção de distúrbios hidroeletrolíticos e do equilíbrio acidobásico, suporte ventilatório e cardiocirculatório) podem ser necessárias. Adicionalmente, medidas baseadas principalmente nos conhecimentos que se tem sobre a fisiopatologia da CIVD podem ser implementadas. De forma geral, as intervenções se baseiam no uso de anticoagulantes, reposição de plasma e plaquetas e administração de inibidores fisiológicos da coagulação. Anticoagulantes: Estudos experimentais mostraram que a heparina pode, pelo menos em parte, inibir a ativação da coagulação relacionada à septicemia e outras causas. Estudos não controlados, envolvendo pacientes com diagnóstico de CIVD sugeriram benefício do uso de heparina. A profilaxia com heparina pode prevenir tromboembolismo nos pacientes com CIVD. A administração de doses profiláticas de heparina por via subcutânea ou endovenosa ainda é recomendada em pacientes com CIVD em numerosos centros. Doses maiores devem ser reservadas para pacientes com tromboembolismo ou situações de deposição extensa de fibrina. Transfusão de plasma e plaquetas: Baixos níveis de fatores da coagulação e plaquetas podem aumentar o risco de sangramento na CIVD. No entanto, a transfusão desses produtos não deve ser feita apenas com base em exames laboratoriais, mas também, no quadro clínico do paciente. Não existem estudos bem controlados que provem a eficácia da transfusão “profilática” de plasma e plaquetas, mas ela parece ser uma opção racional para pacientes com sangramento e para aqueles que vão ser submetidos a procedimento invasivo. Concentrado de inibidores da coagulação: A restauração das vias naturais de anticoagulação parece ser um objetivo terapêutico adequado. A proteína C é um anticoagulante natural que promove fibrinólise, inibe trombose e inflamação e é um importante modulador desses processos em pacientes sépticos. 6. RELATO DE CASO O seguinte relato de caso retirado do artigo COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA de Maria Carolina Tostes Pintão e Rendrik F. Franco apresenta uma ocorrência de CIVD em um paciente portador de insuficiência renal crônica, submetido a uma cirurgia para formação de fístula arteriovenosa no membro superior direito. A.Z.C., 68 anos, pardo, casado, natural e residente em Rio Grande (RS), prontuário do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Côrrea Júnior (HU-FURG) n.o 081825, era portador de insuficiência renal crônica (IRC) devido a nefropatia úrica. Em programa de hemodiálise, foi submetido a uma cirurgia em 18 de novembro de 2006 para formação de fístula arteriovenosa no membro superior direito. No mesmo dia da cirurgia, o paciente se apresentou hipotenso, taquipnéico, apresentando também palidez cutâneo-mucosa ao exame físico. Para manter a hemodiálise, implantou-se um cateter de Schiller na veia jugular interna esquerda. Após o procedimento, o paciente apresentou dor no hemitórax esquerdo e dispnéia. O exame físico revelou diminuição do murmúrio vesicular e percussão maciça dos dois terços superiores do hemitórax esquerdo. Solicitaram-se, então, os seguintes exames complementares: exame radiológico de tórax, no qual se detectou grande opacificação nos dois terços superiores de HTE; uma aortografia, cujo resultado não revelou quaisquer alterações da aorta e da trama arterial adjacente; uma tomografia computadorizada de tórax, que evidenciou uma lesão hipodensa (coleção líquida) com debris de depósito no seu interior, medindo cerca de 13cm x 11cm x 17cm, envolvendo o espaço extrapleural do hemitórax esquerdo, com compressão do parênquima pulmonar adjacente (diagnóstico radiológico de hematoma extrapleural). Na parte laboratorial, o paciente apresentou hematócrito em 24%; hemoglobina em 8,8g%; eritrócitos em 2,58 milhões/mm3 ; VCM de 93,02fL; HCM de 34,1pg; CHCM de 36,66%; RDW de 14,2; leucócitos em 10700/mm3 ; plaquetas em 195 mil/mm3 ; uréia em 84 mg%; creatinina em 6,16 mg%; sódio em 140mEq/L; potássio em 4mEq/L; DHL em 130 U/L; CPK em 91 U/L; CPK-MB em 18 U/L; pH em 7,394; pCO2 em 25,8mmHg; pO2 em 106,9mmHg; HCO3 em 18,4mmol/L; saturação de 02 em 98% e base excess em -7,6mmol/L. Levantou-se que a provável etiologia do hematoma, devido à rápida instalação, fora uma punção iatrogênica da artéria carótida primitiva esquerda. Como o paciente apresentou instabilidade hemodinâmica, foi transferido para a Unidade de Terapia Intensiva do HU-FURG, na qual foi submetido a três hemotransfusões com concentrado de hemácias, além de medidas terapêuticas sintomáticas. Evoluiu com estabilidade hemodinâmica e permaneceu internado na UTI por três dias, sendo enviado posteriormente à Unidade de Clínica Médica, onde permaneceu sob processo de diálise via cateter de Schiller e com boa evolução do quadro clínico até o dia 17 de dezembro de 2006. Nesse dia, percebeu-se que o paciente apresentava petéquias disseminadas pelo tórax e diversas equimoses pelo corpo, sendo chamativa uma grande equimose em hemiface direita com projeção para a mucosa jugal. Foi solicitado um exame de urgência de plaquetas, que revelou plaquetopenia severa (de 14000 plaquetas/mm3). Dois dias após, houve piora do quadro clínico, no qual o paciente apresentou instabilidade hemodinâmica com hemorragia digestiva alta e acentuação dos fenômenos hemorrágicos cutâneos. O coagulograma baseado em amostra colhida em 19 de dezembro de 2006 revelou: 6000 plaquetas/mm3; tempo de ativação de protrombina de 15,1 segundos com 76,8% de atividade; KTTP de 57,4 segundos; D-dímero de 1:4 ou 1000-1200 (positivo); fibrinogênio de 572mg/dL; RNI de 1,24. Diante desse quadro súbito de discrasia sanguínea, levantou-se a hipótese de coagulação intravascular disseminada (CIVD) devido à presença do hematoma extrapleural, o qual estaria consumindo os fatoresde coagulação e as plaquetas. Uma ecocardiografia com dopplerfluxometria colorida, realizada também em 19 de dezembro de 2006, evidenciou o hematoma extrapleural, o qual ainda se alimentava (presença de fluxo no interior), alastrando- se pela região cervical anterior esquerda. O paciente foi submetido, na ocasião, a transfusão com concentrado de hemácias, plasma fresco congelado, crioprecipitado e concentrado de plaquetas. Contactou-se o Serviço de Cirurgia Vascular do HU-FURG, o qual indicou tratamento clínico. O paciente recebeu transfusão de plaquetas por três dias e dos outros hemoderivados por cinco dias. Em 26 de dezembro de 2006, os exames complementares demonstraram uma melhora significativa do coagulograma, com 399000 plaquetas/mm3, tempo de ativação de protrombina de 14,7 segundos, KTTP de 31,5 segundos e RNI de 1,17. O paciente recebeu alta hospitalar em 29 do mesmo mês, após se constatar estabilidade hemodinâmica e hemostática, e foi encaminhado para o Serviço de Hemodiálise, dando continuidade ao tratamento para IRC. REFERÊNCIAS BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. xiv, 1542 p. LOPES, Antonio Carlos. Tratado de clínica médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2006. 1 v. MARTINS, Daniel LuÍs Pires et al. Coagulação Intravascular Disseminada devido a um hematoma intratorácico de grandes proporções – um relato de caso. Vittalle, Rio Grande, v. 1, n. 20, p.51-58, jan. 2008. Disponível em: <file:///C:/Users/Usuario/Downloads/946- 2004-1-PB.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017 PINTÃO MCT & FRANCO RF. COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA. Medicina, Ribeirão Preto, 34: 282-291, jul./dez. 2001. Disponível em: http://revista.fmrp.usp.br/2001/vol34n3e4/coagulacao_intravascular_disseminada.pdf. Acesso em: 20 set. 2017
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