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Avaliação Psicológica

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Avaliação Psicológica 
 
 
Introdução 
 
Segundo O´Campo: 
“O processo psicodiagnóstico configura uma situação com papéis bem 
definidos e com um contrato no qual uma pessoa (o paciente) pede que a 
ajudem, e outra (o psicólogo) aceita o pedido e se compromete a satisfazê-lo na 
medida de suas possibilidades. É uma situação bipessoal (psicólogo- paciente ou 
psicólogo-grupo familiar), de duração limitada, cujo objetivo é conseguir uma 
descrição e compreensão, o mais profundo e completa possível, da personalidade 
total do paciente ou do grupo familiar. Enfatiza também a investigação de algum 
aspecto em particular, segundo a sintomatologia e as características da indicação 
(se houver). Abrangem os aspectos passados, presentes (diagnóstico) e futuros 
(prognóstico) desta personalidade, utilizando para alcançar tais objetivos, certas 
técnicas.” 
 O psicodiagnóstico tem como objetivo explicar a dinâmica do caso tal como 
aparece, integrando–o num quadro global. Após ter alcançado um panorama 
preciso e completo, incluindo aspectos patológicos e os adaptativos, fazem-se 
as recomendações terapêuticas adequadas. 
O processo do psicodiagnóstico segue os seguintes passos: 
 
1. Teoria do desenvolvimento; 
2. Entrevista inicial-anamnese; 
3. Entrevista com o paciente; 
4. Atendimento familiar; 
5. Levantamento de habilidades e dificuldades do paciente, hora de jogo 
diagnóstica, testes na área intelectual e psicomotora; 
6. Entrevista de devolução; 
7. Roteiro para elaboração de relatório. 
I.3.A - Teoria do Desenvolvimento da Criança 
 
 
Introdução 
 
 Estuda-se o desenvolvimento da criança desde sua origem, suas funções e 
sua evolução no tempo, levando em consideração as suas potencialidades em 
cada etapa de sua evolução, em relação ao organismo e meio ambiente. As 
transformações são graduais, sucessivas e imperceptíveis através das quais se dá 
uma modificação que não é obrigatoriamente progressiva nem regular. 
 
A importância do estudo do desenvolvimento da criança dentro do processo do 
psicodiagnóstico é observar em qual etapa do desenvolvimento intelectual, 
motor, emocional e social a criança se encontra. O desenvolvimento geral da 
criança é abordado por vários autores em bibliografias diversas. Iremos abordar 
em seguida como referencia algumas delas. 
É importante enfatizar que no processo psicodiagnóstico deve-se levar em conta 
o estágio evolutivo da criança e qualquer alteração intelectual, motora e 
emocional pode dificultar e criar frustrações levando-a a tensões no nível intra e 
interpessoal. 
 
Correlações teóricas 
 
Tomando como referência os conceitos de desenvolvimento segundo Arminda 
Aberastury (ABERASTURY, 1972), tentaremos fazer sua correlação com outros 
autores. 
 
A criança começa a ser formada muito antes do seu nascimento. Uma boa 
maternidade e uma boa paternidade permitem à criança superar grande parte 
das dificuldades inerentes ao seu desenvolvimento. 
 
Ao nascer, o ser humano é incapacitado à verdadeira percepção, e esta vai se 
construindo progressivamente através do intercâmbio com as estimulações do 
ambiente, principalmente da relação mãe e filho, que já se faz presente desde a 
vida intra-uterina. 
Até o terceiro mês do primeiro ano de vida, o interesse da criança centraliza-se 
quase que exclusivamente na mãe. Com poucos dias de vida é capaz de 
reconhecê-la pela voz e pelo olfato. Ao nascer, reconhece o ritmo de seu 
coração, ao qual se habituou durante os nove meses em que viveu dentro dela. 
Pode fixar os olhos em um objeto e distinguir luz e sombra. Sua capacidade de 
provar e reconhecer os sabores são notáveis desde as primeiras horas de vida, e 
todas essas experiências vão enriquecendo a imagem da mãe em sua mente. 
 
Segundo Spitz (SPITZ, 1993), essa é a etapa pré-objetal. Nessa fase, o ego é 
rudimentar. Não há representação psíquica de pensamento e vontade. Sua 
interação com o meio é fisiológica. 
Para Moreno (MORENO, 2002), essas coexistência, co-ação e co-experiência 
exemplificam a relação da criança com o mundo na fase primária da matriz de 
identidade. 
 
Fonseca Filho (FONSECA FILHO, 1980) atribui a essa fase a indiferenciação. A 
criança não distingue o “eu” do “tu”, estando misturada com o mundo no seu 
“berço cósmico”. Essa fase de identidade cósmica serve como fundamento 
teórico para a técnica psicodramática do duplo, que será explicada 
posteriormente. 
 
Entre o terceiro e o quarto mês, a criança já conhece a mãe, ama-a e rejeita-a, 
toca-a e começa a brincar com o corpo dela, sente-se amada e rejeitada. O 
objeto de seu amor e de seu ódio é a mesma pessoa. Essa revelação de totalidade 
inicia um processo de desprendimento que conduzirá sua procura pelo pai e pelo 
mundo circundante. 
Em torno do quarto mês inicia-se a atividade lúdica. Algo fundamental ocorre na 
vida mental da criança. Os objetos funcionam como símbolos; ao mesmo tempo, 
produzem-se, em seu corpo, modificações que lhe facilitam o exame do mundo. 
Começa a ser capaz de controlar seus movimentos, coordena-os com a vista e já 
pode, com muita precisão, aproximar a mão dos objetos, desde que estes 
estejam próximos. Entre quatro e seis meses, é capaz de se sentar, a relação com 
os objetos que a rodeiam modifica-se, e, com habilidade cada vez maior, 
apodera-se do que necessita. Sempre que o objeto está próximo dela, toca-o, 
põe-no na boca e abandona-o à vontade. O lençol atrás do qual se esconde e que 
leva à boca representa a mãe. 
Conforme Spitz (SPITZ, 1993), essa é a segunda etapa, a do objeto precursor. 
Surge o sorriso que, decorrendo de seu amadurecimento somático e de seu 
desenvolvimento psíquico, constitui a primeira manifestação ativa dirigida e 
intencional da criança. 
 
De acordo com Fonseca Filho (FONSECA FILHO, 1980), na simbiose a criança vai 
caminhando para ganhar sua identidade como pessoa, dando os primeiros passos 
para discriminar o “outro”, o “tu” e o mundo. 
 
Brincar de se esconder é sua primeira atividade lúdica, e com ela a criança 
elabora a angústia de desprendimento, a desolação pela perda de um objeto. De 
seu corpo saem sons, e agora é capaz de repeti-los. Escuta-os, e sua expressão 
modifica-se. Esses sons, chamados balbucios, são suas primeiras tentativas de 
expressão verbal; começam a ser um objeto concreto para sua mente, e com eles 
pode brincar. Seu primeiro brinquedo é o chocalho. 
 
A criança também descobre através dos movimentos que, ao bater em um objeto, 
pode produzir sons. Sabe que um corpo que cai ou uma porta que se fecha de 
repente produzem sons que lhe interessam. Como muitos desses sons a assustam, 
tenta reproduzi-los para vencer o medo, e o chocalho serve para isso. Morde-o, 
amassa-o e manipula-o. É algo fora do seu corpo que simboliza a mãe, e que ela 
controla com suas mãos. Quando atira os brinquedos ao chão, espera e exige que 
lhe sejam devolvidos, experimentando assim a possibilidade de perder e 
recuperar o que ama. 
 
Entre os quatro e oito meses, a criança adquire diversos modos de elaborar a 
angústia de perda. Através dos seus brinquedos intui, sente e elabora que as 
pessoas ou os objetos podem tanto aparecer quanto desaparecer. É capaz de 
passar muito tempo reconhecendo os objetos, afastando-os e aproximando-os de 
si. Emite sons e brinca com eles. Paradoxalmente, ao encontrar a forma de 
elaborar suas angústias de perda, exigem com urgência incontrolável a presença 
de seus verdadeiros objetos, os pais. Chora e fica com raiva se não consegue essa 
presença, se não é compreendida. Não é o alimento o que exige de sua mãe. Esta 
já representa mais do que uma voz, um contato, um sorriso. Precisa da mãe 
simplesmente para saber que esta não desapareceu que pode possuí-la e contar 
com ela. O temor de perdê-la é a angústia mais intensa nessa idade. Toda a sua 
vida emocional está impregnada dessaangústia. Inicia-se o processo de abandono 
da relação única com a mãe e de aceitação definitiva da presença do pai. Nesse 
período, sofre verdadeiras depressões. Sua tendência destrutiva aumenta quando 
nascem seus primeiros dentes, instrumentos que podem ser usados para morder e 
dilacerar; com o aparecimento dos dentes, o desprendimento, até então fruto da 
fantasia, converte-se em realidade. 
Para Spitz (SPITZ, 1993), essa é a terceira etapa — a do objeto real — e nela a 
capacidade do ego está aumentada em função da maturação neurológica 
progressiva e da acumulação de marcas na memória. Ocorre o reconhecimento da 
agressão como uma função psíquica. A essa situação o autor denominou angústia 
dos oito meses, o segundo organizador. 
Segundo Fonseca Filho (FONSECA FILHO, 1980), a criança continua seu caminho e 
passa para um estágio de reconhecimento de si mesma, de descoberta de sua 
própria identidade, do seu corpo e do mundo. Percebendo-se agora separada da 
mãe, dos objetos e das pessoas, consegue distinguir suas próprias sensações 
corporais (fome e dor) e toma conhecimento dos seus papéis psicossomáticos 
(dormir, defecar etc.). Essa fase, conhecida também como fase do espelho, é a 
do reconhecimento do “eu” e serve de embasamento teórico para a técnica 
psicodramática do espelho, que será detalhada no próximo capítulo. 
 
A perda do vínculo único com a mãe e a necessidade de um terceiro agente 
determina uma nova primazia de necessidades na vida da criança. Já não lhe 
basta sua mãe para o desenvolvimento. Necessita de um pai que responda às suas 
necessidades de paternidade, que possa lhe dar banho, que a alimente, que 
brinque e saia com ela, fortalecendo sua união com a mãe e oferecendo-lhe o 
casal como fonte de identificação. 
 
A criança descobre que há partes de seu corpo que indicam a diferença entre os 
sexos e que esses órgãos podem levá-la à união. A angústia da separação que 
motivou suas primeiras brincadeiras continua sendo elaborados nesse período, e 
em seu transcurso os objetos juntam-se e separam-se num contínuo repetir-se de 
encontros e desencontros. Seu mundo lúdico origina-se desses primeiros jogos de 
perda e recuperação. Na segunda metade do primeiro ano, a criança apresenta 
novo interesse por seus brinquedos, ao descobrir que algo oco pode conter 
objetos, que algo penetrante pode entrar em objeto oco. Esse descobrimento é o 
anúncio da forma adulta de manifestar amor, união e separação. Explora tudo 
que é penetrável, usando seus próprios olhos, ouvidos e boca ou até mesmo a 
boca das pessoas que estão próximas a ela; passa depois a explorar objetos 
inanimados, buracos, canos e fechaduras, a tirar objetos (por exemplo, um lápis) 
de uma caixa e a recolocá-los dentro dela, a unir e a separar qualquer artefato 
que lhe chegue às mãos. 
 
Entre oito e doze meses, as diferenças anatômicas dos sexos manifestam-se nos 
brinquedos. A menina prefere colocar objetos em lugares ocos, e os meninos 
escolhem objetos com os quais possam penetrar, podendo também desfrutar do 
brinquedo do outro sexo. Nesse período, a criança desloca-se, engatinhando; com 
isso, amplia seu campo de ação e passa a explorar pacientemente os objetos. 
Quando começa a andar, afasta-se e reaproxima-se voluntariamente dos objetos. 
 
Nessa fase, conforme Spitz (SPITZ, 1993), a criança incorpora o “não”, que 
corresponde ao primeiro símbolo adquirido. 
 
De acordo com Freud (FREUD, 1969), todo esse processo de desenvolvimento da 
criança — que compreende desde o início da vida extra-uterina até o final do 
primeiro ano de vida — é denominado “fase oral” e caracteriza-se pelo fato de a 
sede da libido estar localizada na região oral (boca, lábios, pele, pele que 
contorna os lábios e toda a mucosa que reveste internamente a cavidade oral). 
 
Segundo Fonseca Filho (FONSECA FILHO, 1980), esse é o momento do 
reconhecimento do “tu”. Ao mesmo tempo em que a criança reconhece a si 
mesma como pessoa (“eu”), percebe também o outro (“tu”). Nessa fase, ela 
descobre que o outro sente e reage em relação às suas expectativas. Os 
reconhecimentos do “eu” e do “tu” são diferentes por mera razão didática. 
As fezes e a urina que seu corpo produz dão à criança modelos fantasiados do que 
seja a concepção. Os alimentos entram em sua boca, passam através de seu 
corpo e saem transformados. O sólido, susceptível de originar formas, 
transforma-se no símbolo de sua capacidade criadora. A criança ama e teme as 
substâncias que saem do seu corpo. Uma vez que estão condenadas a desaparecer 
devido às proibições do adulto, a criança busca na água, terra, areia e nas massas 
os substitutos permitidos para as fezes e a urina. 
 
Para Freud (FREUD, 1969), essa fase é denominada “anal” e tem como zona 
erógena a mucosa anal, que é excitada pela passagem das fezes. Estas, ao serem 
retidas, provocam contrações musculares, gerando uma forte excitação ao 
passarem pelo ânus. A criança faz uso desse controle para presentear (defecação) 
ou hostilizar (retenção) sua mãe. Esse expediente, que se torna um objeto 
simbólico de permuta e de expressão, cria um modo de relacionamento 
característico da fase anal. O prazer do controle esfincteriano pela criança é 
completado pelo seu desejo de dominar, de possuir e de exercer o poder não 
apenas sobre seu próprio corpo, mas também sobre as pessoas que a cercam. A 
relação da criança com o objeto é marcada pela idéia de posse. Sobre todo 
objeto desejado ela exerce seus direitos, e todo objeto compara-se à posse 
primitiva, isto é, as suas fezes. 
 
Assim como as bonecas, os animais também corporificam os filhos imaginados 
pela criança. Ao alimentá-los, ela os transforma em objetos de amor e maus 
tratos (aprendizagem da maternidade e paternidade), vivenciando experiências 
de perda e recuperação. Aos dois anos, aproximadamente, a criança começa a se 
interessar por recipientes, que utiliza para derramar substâncias e mudá-las de 
um lugar para outro. Essa atividade pode ser tomada como indício de que espera 
e necessita aprender a controlar seus esfíncteres, isto é, a adquirir a capacidade 
de submeter à sua vontade os conteúdos do corpo. 
Como afirma Fonseca Filho , na chamada “relação de corredor” a criança vai se 
relacionando com os “tus” de sua vida, fazendo relacionamentos exclusivistas e 
possessivos, sentindo que o “tu” existe só para si. Por ainda não conseguir captar 
o mundo e a relação das pessoas à sua volta, não internaliza a dinâmica familiar. 
 
Desde bem cedo, a imagem que aparece e desaparece ocupa a vida mental da 
criança. O fato de a imagem — tanto externa quanto a que faz de si — ser fugaz 
provoca-lhe angústia. Mas, por volta dos três anos, descobre como recriá-la e 
retê-la mediante desenhos e, assim, diminui a angústia. Começa a explorar seu 
corpo, para logo se interessar pelos objetos imaginados. No desenho, seu 
primeiro interesse é o corpo. A casa, que simboliza o corpo, é o objeto central de 
suas paisagens. 
 
Em torno do terceiro ano os carros e as locomotivas são a paixão dos meninos, 
que é compartilhada pelas meninas. A organização genital desenvolve-se pouco a 
pouco. A menina e o menino sentem-se impelidos a experiências genitais e 
sublimam-nas através do brinquedo. Ao brincar, representam suas fantasias de 
vida amorosa dos pais e de si próprios, o nascimento de filhos e as atividades 
masturbatórias. As pequeninas garagens e pontes ferroviárias são usadas para 
brincadeiras de penetração intimamente ligadas à alimentação e à reparação. 
Bonecas e animais satisfazem suas necessidades de paternidade e maternidade. 
Nessa idade, começam a valorizar gavetas ou pequenos móveis onde possam 
guardar seus brinquedos. A destruição e a desordem produzem-lhes angústia, o 
que lhes desperta o interesse pela limpeza e pela ordem. A intensidade ao 
brincar e a riqueza das fantasias permitem a avaliação da harmoniamental. Os 
desejos genitais expressam-se em vários tipos de atividade, de modo que 
somente uma parte deles fica livre para a relação edípica com os pais. As 
brincadeiras sexuais entre crianças são a norma e contribuem para seu bom 
desenvolvimento. Os desejos genitais podem se canalizar em brincar de mamãe-
e-papai, médico-e-enfermeira, namorados, casados e em tipos de brinquedos que 
satisfaçam suas necessidades de tocar, de se mostrar, de ser vistos e de ver. 
Segundo Fonseca Filho , a criança está, nesse momento, na fase de pré-inversão. 
Joga seu papel (papel do “eu”) no mundo e, depois, o papel do outro (papel do 
“tu”) como sendo outras pessoas, animais e objetos. Realiza o jogo do papel do 
“tu”, mas sem inversão e sem reciprocidade. 
Para Freud , essa fase é denominada “fálica” e organiza-se em torno das 
atividades dessa zona genital erógena. Toda a vida psíquica da criança, sua 
curiosidade, seus jogos, seus interesses e suas relações com os objetos 
centralizam-se na sexualidade genital. Nessa fase, a criança demonstra 
curiosidade sexual tanto pela diferença dos sexos, quanto pela procriação, pela 
gravidez, pelo parto e pelas relações sexuais. O menino e a menina tomam uma 
atitude interna hostil com o genitor do sexo oposto, ou seja, contra tudo que 
represente um impedimento ou que se traduza em perspectiva de separação do 
objeto amado. A essa situação, que tem como base a proibição (tabu) do incesto, 
o autor denominou “complexo de Édipo”. Com seus interesses libidinais ligados a 
um dos pais sendo impedida pelo tabu, a criança vê-se obrigada a providenciar 
uma saída para o impasse. Essa fase fálica edípica inicia-se após o segundo ano 
de vida e conclui-se aos quatro ou cinco anos de idade. 
Conforme Fonseca Filho , na triangulação a criança percebe que não é a única 
para o seu “tu”: existe um “ele”, e esse “ele” tem relação com o seu “tu”. A 
relação “eu–tu” depende diretamente do “tu–ele”, do “eu–ele” e assim por 
diante. 
 
Após os cinco anos, o menino compraz-se com brincadeiras de conquista, de 
mistérios, de ação, de bandido-e-mocinho. A menina prefere brincadeiras mais 
tranqüilas com bonecas e comidinhas; identificando-se com a mãe, usa suas 
roupas e fantasia-se. A entrada para a escola modifica profundamente o mundo 
do brinquedo. As letras e os números convertem-se em brinquedo para as 
crianças, tornando-as curiosas pelo conhecimento. Com a aprendizagem, novos 
jogos aparecem e combinam-se com as aptidões intelectuais e de sorte. 
Dos sete ou oito anos até a puberdade, o corpo volta a ter um papel 
fundamental. Brincadeiras como futebol, lutas, jogos de pegar-e-esconder, 
brincadeiras em quarto escuro e com as mãos têm importância capital. 
Para Fonseca Filho , na circularização a criança passa a entrar em contato com 
grupos de amigos e colegas de escola. Essa fase, que corresponde à socialização 
da criança, representa a entrada do ser humano na vivência do grupo. 
Se, no início, a criança passou do brinquedo com o corpo para o brinquedo com 
objetos, agora irá abandonando esses objetos para se orientar, novamente e de 
modo definitivo, para seu corpo e o de seu par. A criança sublima as pulsões 
primitivas fundamentais, transformando-as: a necessidade de possuir o objeto 
primário de amor é substituída pela aquisição de conhecimentos, e a curiosidade 
sexual é convertida em competição edipiana. A supressão relativa das pulsões 
sexuais durante o período da latência torna a sublimação possível e permite que 
a energia pulsional seja investida nas atividades sociais, na aquisição dos 
conhecimentos e no gozo dos divertimentos. 
Segundo Fonseca Filho , na inversão de papéis aparece à capacidade de realizar 
uma relação humana de reciprocidade e mutualidade. Essa fase serve de 
representação teórica para a técnica psicodramática da inversão de papéis, que 
será explicada posteriormente. Após todo esse processo, o ser humano já se 
encontra numa situação ideal de plena capacidade de inversão de papéis. É o 
instante em que a espontaneidade/criatividade presente é liberada no ato de 
entrega mútua. As pessoas envolvidas fundem-se na reunião cósmica que todos 
trazem dentro de si. É à volta às origens (encontro). 
A título de ilustração, transcrevemos a seguir, de forma literal, algumas histórias 
trazidas por crianças na faixa etária de 7-8 anos, participantes de grupos de 
psicoterapia psicodramática, histórias estas que, após escolha sociométrica, 
foram dramatizadas. 
História 1 
“Um dia uma mulher estava andando e encontrou um homem, que era seu pai. A 
avó dela morreu, e ela queria namorar o pai. Os dois não sabiam que queriam 
namorar. 
 
Um dia a mãe viajou e, quando voltou, encontrou os dois namorando. A mãe 
puxou o cabelo da menina e chamou um tio que, fingindo que era médico, 
quebrou o pé do pai. O tio saiu correndo para os Estados Unidos. O pé do pai 
ficou com um tanto de pelotões e inchou, e o pai morreu. 
“A filha da mãe saiu sozinha para a floresta, onde foi pega por dois caras que a 
mataram e fizeram sabão dela.” 
Nessa história, a criança remete-se às seguintes fases: 
– Freud: Fase fálica; 
– Fonseca: Fase da triangulação. 
 
História 2 
“Era uma vez um menino muito feio, que se chamava Francisco. 
Um dia ele foi ao parque, e os meninos que lá estavam, quando olharam para ele, 
assustaram-se e saíram correndo. Nem os mosquitos queriam ficar perto dele. 
 
Uma menina muito bonita que passava no parque chegou perto dele e, ao vê-lo, 
correu com medo e assustada com sua feiúra. 
Francisco então foi para o festival que estava acontecendo no parque. Quando lá 
chegou, foi tocar pandeiro. O Chiquinho chegou e disse: ‘Nossa! Além de feio, 
toca muito mal!’ 
Francisco foi então tocar cavaquinho. Joaquim chegou e disse o mesmo que 
Chiquinho. O festival estava tão ruim, que foi suspenso. Francisco foi para casa 
muito triste e, ao chegar a frente ao espelho, este quebrou. Francisco ficou triste 
e caiu morto. 
No dia seguinte foi enterrado. “A menina bonita foi vê-lo no caixão, sentiu 
remorso por ter dito que ele era feio e ficou triste.” 
Essa história relaciona-se às seguintes fases: 
- Freud: Fase fálica; 
– Spitz: Angústia dos oito meses na terceira etapa do objeto real, segundo 
organizador; 
– Fonseca: Fase da circularização e do reconhecimento do EU e do TU. 
 
Conclusão 
Conclui-se que a divisão das fases do desenvolvimento só ocorre didaticamente. 
Observa-se, na clínica, uma sobreposição que impede uma separação rígida das 
mesmas, uma vez que o indivíduo circula entre elas. 
 
No processo psicoterápico, a rematrização das fases faz com que o sujeito 
consiga se organizar, superando as dificuldades encontradas e atingindo o 
Encontro. 
 
No trabalho com as crianças, a dramatização possibilita-lhes revivenciar as etapas 
e conseguir evolução. 
 
Fonte: 
Paula, Julia Maria C. Coelho, Maria Inês T. P., Psicodrama na Instituição Pública: 
uma realidade possível. Contagem: Santa Clara Editora, 2006. 
I.3.B-Entrevista inicial-anamnese 
 
A entrevista com os pais inicia-se com uma parte livre, em que se explora o 
motivo da consulta e outra dirigida, enfatizando dados da vida do paciente. 
 
Quando os pais decidem consultar um psicólogo sobre o problema de seu filho, o 
primeiro passo é colocar-lhes a necessidade de uma entrevista inicial com o 
casal, da qual o filho não deve participar, mas deve ser informado. O adolescente 
deve estar presente no primeiro encontro. Embora o ideal seja entrevistar o 
casal, o freqüente é que só a mãe compareça ou em casos especiais, outro 
familiar ou amigo.Qualquer que seja a situação, ela revela o funcionamento do 
grupo familiar em relação com o filho.No caso do comparecimento de um dos 
pais,é importante que o outro ausente seja convocado para uma entrevista. 
 
A entrevista com o casal requer maiores cuidados porparte do psicólogo que não 
deve mostrar preferência, opinar, embora inevitavelmente produzirá uma melhor 
compreensão com um deles. Este entendimento, contudo deve servir para uma 
melhor compreensão do problema e não para criar um novo conflito. Para 
formarmos um juízo aproximado sobre as relações do grupo familiar onde o 
problema da criança surgiu nos apoiaremos nas impressões que tivermos ao 
reconsiderar os dados obtidos na entrevista, que não deve se assemelhar a um 
interrogatório. 
 
O problema do filho é um acontecimento que afeta os pais de maneira diversa e é 
uma circunstância na qual se revelam distintos aspectos da relação dos pais com 
ele e dos pais entre si e o grupo familiar. Estes aspectos ,às vezes 
inconscientemente ocultos e outros “propositalmente” omitidos, condicionam o 
medo em dar informações, que estarão freqüentemente alteradas por omissões, 
inexatidões e imprecisões. 
 
Um dos fatores responsáveis por esta conduta é a ansiedade. Os pais 
desconhecem o que realmente tem o filho, qual será seu destino e estão por isso 
temerosos e inseguros. Podem até se sentir julgados, culpados, o que aumenta 
sua angústia. Além disso, não podem em tempo tão limitado estabelecer uma 
relação com o psicólogo até então desconhecido, que lhes permita aprofundar em 
seus problemas com abertura e confiança. O psicólogo deve tentar aliviar a 
angústia e a culpa que o conflito do filho lhes desperta, com uma atitude que os 
tranqüilize e crie um clima mais favorável para uma comunicação livre e 
espontânea. 
 
 
 
Entre os erros técnicos mais habituais entre os principiantes temos: 
 
 
1-Tendência a fazer um excesso de perguntas, colocadas com precipitação, ou 
sem ordem e, por insegurança, se submetem á rigidez de um questionário, 
transformando o que deveria ser uma conversa em um interrogatório que mais 
sugere um procedimento policial do que uma relação humana. Deve-se recordar 
que uma disposição serena e aberta, uma expressão cordial e uma simples frase: 
“como? Que mais pode dizer-me?” acompanhada de um gesto receptivo, tem o 
efeito de muitas perguntas e facilita a associação de fatos e evocação de 
recordações. 
 
2-Quando o casal comparece, é freqüente que surjam discrepâncias na 
informação e que essas suscitam discussões entre ambos. É um erro tomar partido 
nesta discussão, cortá-la abruptamente ou manifestar aberta preferência por um 
deles. Em tal caso é mais operante trazer a atenção para um ponto sobre o qual 
houve um acordo e ajudá-los a retomar a exposição mais naturalmente. 
 
3-Se só um comparece e fica a tecer comentários sobre o outro ausente, de modo 
que o objetivo da entrevista, que é a criança, passe para o segundo plano, é 
necessário que o psicólogo retorne a atenção para o paciente em questão e não 
emita comentários sobre o outro. 
 
 
4-Uma dúvida que com freqüência enfrentam os principiantes e que pode dar 
lugar a erros é a duração da entrevista. Uns procuram obter dados os mais 
detalhados no menor tempo possível. Outros crêem que quanto maior seja a 
entrevista, maior as possibilidades de alcançar uma história completa. A pressa 
ou demora excessiva podem ser igualmente prejudiciais. No primeiro caso pode 
se ganhar em precisão acerca de alguns detalhes, mas seguramente se cairá em 
um nível puramente descritivo e superficial. No segundo, corre o risco de perder-
se em um conjunto de dados que dificultam uma visão clara do que se necessita 
saber. 
 
A entrevista deve ser fixada para uma hora determinada, e não se deve exceder 
de uma hora, uma hora e meia. Outro erro freqüente é a atitude adotada. Os que 
estão preocupados em ser objetivos conferem a entrevista um caráter frio, 
impessoal ou, podem cair em uma posição oposta, ou seja, falar de seus aspectos 
pessoais. Facilitar uma entrevista mediante uma disposição afetuosa e 
compreensiva não implica que o entrevistado entre em sua vida privada. 
 
Os sentimentos do grupo familiar, seguramente se projetarão na entrevista que 
se constituiria na reprodução do campo psicológico da criança. Muitas vezes, o 
filho problema é o expoente de uma relação grupal patológica e adquire o papel 
de emergente e de depositário dos conflitos conscientes e inconscientes da 
família. Isto se manifesta claramente, em muitos casos, nos quais como resultado 
do tratamento, a criança melhora e aparece o conflito familiar grave, não 
aparente naquele momento. 
 
A ansiedade do casal pode estar relacionada à culpa, levando um pai a 
responsabilizar o outro pela enfermidade do filho, o que interfere nas relações. 
Os pais projetam no filho suas aspirações e desejos e quando este não consegue 
corresponder às expectativas cria nos mesmos frustrações, decepções além de 
provocar sentimentos de incompetência pela enfermidade do filho. 
 
Nem sempre uma só consulta com os pais é suficiente para coletar os dados 
necessários e poder se formar uma idéia do campo psicológico da criança. 
 
Devem ser pesquisados os seguintes temas: 
 
A- Motivo da consulta. 
B- Histórico e desenvolvimento. 
C- Um dia da vida da criança. 
D- Relação familiar. 
E - Antecedentes familiares. 
 
A - Motivo da consulta 
 
A primeira entrevista deve ser livre deixando que o motivo da mesma seja 
verbalizado espontaneamente. O psicólogo deve estar atento pois este é um dos 
momentos mais importantes da avaliação e o mais difícil para os pais devido à 
resistência e ao enfrentamento da enfermidade do filho. Para ajudá-los a 
diminuir esta angústia, devemos encarar e enfrentar o conflito de forma 
tranqüila, situando-nos na posição de como se soubéssemos resolver a questão. É 
importante não os interromper, deixando-os expressar o mais amplamente 
possível como sentem o problema. Neste momento, nem sempre surge o principal 
motivo, mas sim sintomas mais recentes, que são basicamente o que os pais 
consideram mais incomodativos. Tudo do que se recordam é importante para nós 
e dentro do possível devemos registrar o início, o desenvolvimento, o agravante 
ou melhora do sintoma, para logo confrontá-lo com os relatos conseguidos no 
transcurso da entrevista. Ao sentirem-se aliviados, recordam mais corretamente 
os outros dados, mas devemos aceitar que ocorram esquecimentos totais ou 
parciais de fatos importantes que às vezes meses mais tarde tomamos 
conhecimento pela criança em tratamento ou pelos próprios pais que, por terem 
diminuído sua angústia que motivou o esquecimento, podem então recordar as 
circunstâncias desencadeantes que ficaram reprimidas na entrevista inicial. 
 
B - Entrevista dirigida (histórico da criança) 
 
Aqui interessa saber a resposta emocional em especial da mãe, diante da 
constatação de sua gravidez, se foi planejada ou acidental, se houve rejeição, 
desejos ou tentativas de abortar, se houve aceitação real. É importante 
perguntar como evoluíram seus sentimentos, se o aceitaram, sentiram felizes ou 
se desiludiram, porque desde que uma criança é concebida tudo o que ocorre é 
importante em sua evolução posterior. Muitas vezes a motivação de ter um filho 
se situa no contexto do casal, o filho foi calculado para servir a um fim específico 
(ex: unir o casal) e o nascimento, não produzindo o fim desejado, a criança é 
rejeitada. O fracasso determinará na criança uma grande desconfiança em si 
mesmo e em sua capacidade para realizar-se na vida. 
 
Embora na realidade algumas crianças não sejam desejadas no momento da 
concepção, a resposta mais comum é que foram ou que logo “aceitaram a idéia”. 
 
Algumas mães não recordam e não valorizam conscientemente a importância dos 
fatos relacionados com a gestação e o parto, mas em seu inconsciente tudo está 
gravado. Não devemos, pois nos desconsertar, se ao falar sobre o parto só saibam 
dizer se foi rápido ou demorado. É importante verificar se foi a termo, induzido, 
com anestesia,que relação tinha a mãe com o médico, se no momento doparto 
conhecia bem o processo, se estava acordada , sozinha ou acompanhada. 
 
Pergunta-se então se a lactância foi materna, se o bebê tinha os reflexos de 
sucção normais, quando mamou pela primeira vez, e as condições do seio, 
obtendo dados sobre o ritmo da amamentação (intervalos). A forma em que se 
estabelece a relação com o filho nos proporciona um dado importante não só de 
história da criança, mas da mãe e de seu conceito de maternidade. É de grande 
importância no desenvolvimento posterior da criança, a forma em que se 
estabelece a primeira relação pos-natal, e que o bebe tenha um contato físico 
suficiente com sua mãe logo ao nascer. 
 
Caso a mãe não tenha amamentado seu bebê, deverá ser pesquisado como ela 
introduziu a mamadeira. É de extrema importância o contato estabelecido entre 
a mãe e o filho, o que possibilita uma relação mais afetiva e efetiva, evitando a 
frustração e o desamparo do bebê. Para uma mãe atenta, nada do que acontece 
ao bebê, fome, calor, frio, sede, necessidade de contato, escapa à compreensão 
da mãe que se sente estar ligada a seu filho. 
 
É de grande importância para compreender a relação mãe-filho interrogar sobre a 
forma que o acalmava quando chorava e como reagia quando pretendia alimentá-
lo e ele rejeitava o alimento. 
 
Quando perguntamos às mães quantas horas depois do parto viram seu filho ou se 
o puseram no peito, muitas não se recordam, pois emoções tão intensas, 
geralmente são reprimidas por conflitos. 
 
Pergunta-se como foi o desmame do peito e/ou mamadeira, a mudança para 
outros alimentos líquidos e sólidos e as épocas correspondentes. O desmame que 
habitualmente ocorre ao final do primeiro ano de vida significa muito mais do 
que dar à criança um novo alimento. É a elaboração de uma perda definitiva e 
depende dos pais que ele se realize com menos dor. É importante ver a época do 
desmame e suas condições, o que normalmente deveria ocorrer ao final do 
primeiro ano de vida. 
 
É de grande importância pesquisar o início e o desenvolvimento da linguagem 
para se avaliar o grau de adaptação da criança à realidade e o vínculo que se 
estabeleceu entre a criança e os pais. O atraso na linguagem (após um ano, um 
ano e meio) ou inibição no seu desenvolvimento são indícios de sérias 
dificuldades na adaptação com o mundo. Com um ano a criança já começa a 
formar conceitos, e compreende várias palavras e ordens. 
 
A linguagem até 3 meses é reflexa, tem um caráter de auto estimulação, e pode-
se nessa época diagnosticar-se a surdo mudez, pois se ela não ouve e não fala, 
conseqüentemente deixa de emitir sons. 
 
Sobre o desenvolvimento psicomotor pesquisamos a época do primeiro sorriso (+- 
terceiro mês), sentar, engatinhar, andar. Para as crianças a marcha tem um 
significado, entre muitos outros, de separação da mãe, iniciada desde o 
nascimento. Verificar a época em que a criança alcançou as etapas do 
desenvolvimento da marcha, que são:sentar(quinto,sexto mês); 
engatinhar(oitavo,nono mês); ficar em pé(dez meses); e a marcha (um ano e dois 
meses). 
 
A aprendizagem do controle dos esfíncteres deve-se iniciar após a criança ter 
iniciado sua marcha. Quando ocorre antes dessa época , de forma severa ou 
ligada a acontecimentos traumáticos, pode levar a transtornos como a enurese. A 
enurese é considerada distúrbio apenas após os 3 anos e meio para a noturna e 2 
anos e meio para a diurna. 
Sobre o sono, pesquisamos hábitos e características. Verifica-se a conduta da 
criança e os sentimentos que desperta nos pais o sintoma. É importante precisar 
até que idade dormiu nos quartos dos pais, como foi retirado, presença de 
insônia, sono agitado, sonambulismo, pavor noturno,hábitos e rituais ligados ao 
sono. 
 
As doenças contraídas pela criança devem ser pesquisadas: se houve internação; 
precisou consultar um neurologista, psiquiatra, psicólogo; se as vacinas estão em 
dia. Esta pesquisa é para verificar a relação afetiva família/doença com relação 
ao filho. 
Quando perguntamos aos pais sobre sexualidade do filho, é importante 
verificarmos a facilidade ou dificuldade como abordam tal assunto. A rejeição ou 
aceitação dos pais podem ter uma grande influência na vida sexual do indivíduo. 
 
A presença de hábitos, manipulações e tiques são pesquisadas para observarmos o 
comportamento social da criança e as reações diante de situações difíceis. 
Quanto ao aspecto escolar devemos perguntar quando foi enviado à escola, se 
freqüentou o maternal e como foi sua adaptação. É importante pesquisar os 
motivos que os levaram a colocar a criança na escola e geralmente vemos que a 
maioria dos casos não se deveu a uma necessidade ou desejo da criança e sim às 
dificuldades da mãe.É comum que a entrada da criança na escola coincida com o 
nascimento de um irmão e neste caso em vez de favorecer a elaboração deste 
acontecimento, constitui um novo elemento de perturbação. 
C - Um dia de vida 
A reconstituição de um dia de vida da criança deve-se fazer mediante perguntas 
concretas que nos oriente sobre as experiências básicas de dependência e 
independência, liberdade ou coerção externa, instabilidade das normas 
educativas, etc. Saberemos assim se as exigências são adequadas ou não para a 
idade se há precocidade ou atraso no desenvolvimento e suas reações às 
proibições. Isto nos permitirá uma visão completa da vida familiar. Deve-se 
investigar também: quem o acorda, como, a que horas, se veste sozinho, desde 
quando, se come sozinho, toma banho sozinho, etc.(A.V.D.). 
D - Relações familiares 
Neste ponto da entrevista, os pais já se sentem mais à vontade para falar de sua 
relação afetiva com a criança e o que esta significa para eles. Verifica-se a 
colocação da criança na constelação familiar, as inter-relações 
(pais/filho,irmãos,casal), profissão dos pais, horas que passam fora de casa, 
condições gerais de vida , sociabilidade, lazer familiar, religião. 
E - Antecedentes familiares 
Pesquisar a respeito das doenças dos antecedentes familiares da criança tais 
como avós, tios e primos. Devemos dar enfoque às doenças psíquicas, internações 
em hospitais psiquiátricos, suicídio, alcoolismo, drogadição e como a família 
reage a estas questões. 
No final da entrevista perguntamos aos pais à expectativa dos mesmos frente ao 
tratamento do filho deixando claro que, nosso papel é para ajudá-los a 
compreender e melhorar a situação da criança. 
Devemos estar atentos durante toda a entrevista à atitude dos entrevistados e 
como se posicionam. 
Roteiro resumido – Anamnese 
 
1-Identificação 
2-Motivo da consulta 
3- Antecedentes pessoais 
-Concepção 
-Gestação 
-Condições de nascimento (parto) 
-Primeiro ano de vida 
4-Conduta- Comportamento- Desenvolvimento 
-Alimentação 
-Desenvolvimento psicomotor 
-Manipulações e tiques 
-Sono 
-Doenças 
-Sexualidade 
-Escolaridade 
-Outras situações (sociabilidade) 
-Um dia na vida da criança 
-Religião 
5-Ambiente familiar 
-Relacionamento pai-Pr 
-Relacionamento mãe-Pr 
-Interação do casal 
 
-Relacionamento Pr e irmãos 
-Atitude dos pais 
-Outras pessoas-interferências 
-Propósitos e imagens familiares sobre Pr 
6-Antecedentes familiares 
7-Anamnese familiar 
8-Expectativa frente ao atendimento 
9-Atitude do entrevistador. 
Fonte: 
Texto não publicado de Maria Luísa de O. Salomon 
(Adaptação: Júlia Maria Chalita de Paula e Maria Inês Tavares Pinto Coelho) 
 
I.3.C-Entrevista dirigida com o paciente 
 
Auxilia na descontração da criança e/ou adolescente. Observa-se durante a 
mesma a maturidade emocional e social, conflitos existentes com relação à 
família e a si mesmo e ao ambiente sócio familiar. 
Modelo de entrevista 
................................. 
Entrevista dirigida com crianças e adolescentes 
 
1-O que você deseja ser quando crescer? 
2-O que você não desejaser quando crescer? 
3-De que você mais gosta? 
4-De que você não gosta? 
5-O que lhe dá mais medo? 
6-O que lhe dá mais raiva? 
7-O que lhe dá mais pena? 
8- O que lhe dá mais vergonha? 
9-Quais são seus três maiores desejos? 
10-Quais as pessoas que você mais gosta? 
11-Quais são as pessoas que você menos gosta? 
12-Quais as pessoas que você tem mais medo? 
13-Quais as pessoas que você tem menos medo? 
14-Quais as pessoas que você tem mais pena? 
15- Quais as pessoas que você tem mais raiva? 
16-Quais as pessoas que você tem mais vergonha? 
17-Qual a lembrança mais antiga que você tem? 
18-Das coisas que aconteceram na sua vida, qual a melhor? 
19- E a pior? 
20-Como se sente mais freqüentemente? 
21- O que você acha de você mesmo? 
............................. 
I.3.D. Atendimento familiar 
 
Como a criança situa-se num ambiente familiar o seu sintoma pode ser o 
emergente deste sistema. Alguns jogos são usados com o intuito de esclarecer 
esta dinâmica familiar. Estes propiciam condutas observáveis tanto pelos pais 
como pelos filhos e proporcionam ao profissional um ponto de referencia na 
devolução do diagnóstico e sua estratégia terapêutica. 
Quando menor a criança mais importante será considerar esta entrevista, pois ela 
está em processo de formação, em estreita e direta dependência emocional dos 
pais. 
 
O que observar na entrevista familiar: 
• Se os papéis pais/ filhos, pai/mãe aparecem e estão bem discriminados ou 
confusos, inclusive invertidos; 
• Se os papéis permanecem fixos ou intercambiáveis; 
• Quem exerce liderança executiva do cargo familiar e como a exerce; 
• Identificações que predominam: o que é ser como o pai ou como a mãe para 
essa família; 
• Se a função dos pais em transmitir conhecimentos e impor limites está bem 
definida; 
• Observar a capacidade de compreensão e resolução das dificuldades dos filhos; 
• Observar os mitos familiares, o que equivale às defesas do indivíduo, que 
ocorrem na família; 
• A capacidade de proceder espontaneamente durante a entrevista; 
• O lugar que cada membro ocupa na sala. 
A função do psicólogo é de observador. 
 
Jogos utilizados: 
 
A- Desenho familiar 
 
(Adaptação: Júlia Maria Chalita de Paula e Maria Inês Tavares Pinto Coelho) 
 
Consiste em que a família fique ao redor de uma folha de cartolina. 
 
Instruções: “Todos irão fazer um desenho livre, em conjunto”. 
 
Observar: 
 Dinâmica da família; 
 Quem lidera o desenho; 
 Espaço ocupado por cada membro; 
 Quem participa da tarefa. 
 
O papel do terapeuta é de observador. 
 
B – Escultura 
(Adaptação: Júlia Maria Chalita de Paula e Maria Inês Tavares Pinto Coelho) 
Consiste em que a família faça uma escultura que a represente. 
Sugere-se que cada um visualize uma escultura de sua família. Uma deverá ser a 
escolhida para ser feita com o grupo. 
A escolhida deverá ser montada por quem a imaginou. 
Ele vai colocando as pessoas de sua família na posição e no lugar que imaginou. 
 
É feita uma troca de papéis rápida com cada integrante da escultura. Depois se 
pede ao escultor para ficar no lugar de cada membro e pedir a ele para dizer 
como está se sentido no lugar e na posição de cada um. 
Depois de terminar, cada um deverá fazer um breve comentário de como se 
sentiu no lugar que foi colocado na escultura. 
Objetivo: Observar a dinâmica familiar. 
Observação: Esta técnica será detalhadamente explicada no capítulo “Jogos 
dramáticos”. 
 
C-Escolha de objetos ou animais 
(Adaptação: Júlia Maria Chalita de Paula e Maria Inês Tavares Pinto Coelho) 
 
Instrução: ”Se você não fosse gente o que gostaria de ser. Pode ser um animal ou 
um objeto qualquer”. 
Cada um faz sua escolha e passa a ser o objeto ou animal escolhido e é feita uma 
pequena entrevista. Todos poderão perguntar o que quiser. 
Exemplo: Eu gostaria de ser uma flor. Gosto de ficar no vaso e cuidada por uma 
só pessoa. Sou vermelha e gosto de tomar sol na janela e aproveito para ver as 
pessoas. 
 
Objetivo: Observar como a pessoa se vê, inserida nesta família. 
D- Modelagem com argila 
(Adaptação: Júlia Maria Chalita de Paula e Maria Inês Tavares Pinto Coelho) 
 
Consiste em colocar a família ao redor de um bloco de argila. 
Instrução: Cada um irá durante um determinado tempo manusear a argila. Ao 
sinal dado, quem começou deverá passar para quem estiver a sua direita 
continuando o que foi iniciado. Todos deverão fazer o mesmo. 
Objetivo: Observar à dinâmica e interação da família. 
I.3.E – Levantamento Habilidades e Dificuldades 
do paciente 
 
 
Após as atividades feitas, levando-se em conta a queixa, elaboram-se as 
atividades que serão executadas. 
Na área emocional usam-se: desenho livre e desenho da família. Inicia-se a 
avaliação com os desenhos para descontrair a criança proporcionando uma 
adaptação com o psicoterapeuta e com o novo ambiente, o que favorece uma 
avaliação mais fidedigna. Através destas atividades identifica-se a maturidade da 
criança, dificuldades psicomotoras e emocionais. 
Hora de jogo diagnóstica: 
A hora de jogo diagnóstica é usada com crianças mais novas por ser uma 
atividade lúdica onde o brincar é sua forma de expressão. Ao oferecer à criança a 
possibilidade de brincar num contexto particular que envolve espaço, tempo e 
definição de papéis, a expressão das variáveis internas de sua personalidade é 
facilitada. É no “aqui agora” que a criança expressa através de sua relação com 
os objetos o conjunto de fantasias. Na hora de jogo diagnóstica não ocorre 
intervenção do terapeuta por ser diferente da hora de jogo terapêutica. Nesta o 
psicoterapeuta observa a escolha de brinquedos e brincadeiras, como é 
executada, a motricidade, a criatividade, capacidade simbólica, assim como 
adequação à realidade e tolerância à frustração. 
Instruções e material a ser usado: 
• Oferecer a criança à oportunidade de brincar como deseja, com o material 
disponível na sala, esclarecendo sobre o tempo, o papel dela e do psicólogo (que 
será de observador) e quais os objetivos dessa atividade, que é conhecê-la e 
posteriormente ajudá-la; 
• Material: objetos que representem o mais comum do mundo real, de diferentes 
tipos, estruturados e não estruturados como papel, lápis de diferentes cores, 
canetinha, tinta, pincel, cola, argila, borracha, bonecos da família, carrinhos, 
espadas, revólver, animais domésticos e selvagens, bola, índios, soldados, 
material de cozinha, enfermagem, quebra cabeças. Devem ser expostos sobre a 
mesa, ao lado de uma caixa aberta para evitar o incremento da ansiedade 
persecutória que pode surgir no primeiro contato diante de um continente-caixa-
desconhecido. Devem estar de maneira ordenada e não agrupada, em bom estado 
de conservação. 
Papel do psicólogo 
Passivo, pois age como observador e ativo, no sentido em que sua atitude é 
atenta na compreensão e formulação de hipóteses sobre a problemática do 
entrevistado assim como na ação de efetuar perguntas, esclarecer dúvidas 
limitar, observar, compreender e cooperar com a criança. Interpretações não 
podem ser feitas. 
Sondagem das habilidades nas àreas intelectual e psicomotora 
Se houver queixa na área intelectual e psicomotora aplica-se o WISC (Escala de 
inteligência de WESCHSLER para criança) e o Bender 
Wisc 
É um teste de inteligência que consta de grupos de provas chamadas de 
subtestes. Estes subtestes avaliam uma função específica ou um conjunto de 
funções. Segundo Weschsler, a classificação dos subtestes é feita em verbal e de 
execução. Desde então a experiência clínica mostra que esta classificação vem 
sendo modificada. Os resultados são avaliados, de forma qualitativa e 
quantitativa. 
 
Bender 
O teste gestáltico visomotor de Bender foi construído por Laureta Bender em 
1938 com o propósito de proporcionarum índice de maturação percepto-motora. 
Acreditava que a mensuração deste tipo de maturação poderia ser obtida pelo 
uso de padrão com diferentes graus de complexidade e princípios de organização. 
A correção do Bender pode ser feita baseando-se em diversos autores. Utilizamos 
como referência a correção da Koppitz por abranger o nível qualitativo e 
quantitativo, levando em conta alguns índices de comprometimento neurológico. 
 
 
I.3.F - Entrevista de devolução 
 
É o momento em que o psicólogo, através da comunicação verbal, especifica 
todos os momentos do processo realizado, sintetizando de maneira clara o 
diagnóstico, prognóstico e indicações terapêuticas. 
I.3.G - Roteiro para elaboração do relatório final 
 
1- Identificação completa do cliente 
 Nome completo; 
 Data de nascimento; idade; 
 Escolaridade; 
 Sexo; 
 Filiação; 
 Endereço; 
 Encaminhado por. 
 
2- Motivo da consulta: 
 
Mencionar qual é a queixa ou qual o problema que motivou a procura do 
psicólogo. Incluir queixa explícita, usando dados da anamnese e entrevistas 
posteriores. 
(Não se trata de reproduzir textualmente as palavras do cliente, mas de “traduzi-
las” numa perspectiva psicológica). 
 
3- Resumo dos dados significativos presentes na anamnese: 
 
Registrar, de forma corrente, na 3ª pessoa, as informações oferecidas pelos 
responsáveis e pela própria criança as quais podem auxiliar na compreensão do 
cliente pelo psicólogo. É um texto- síntese da história da vida do cliente, 
incluindo o que houver de desenvolvimento normal. 
 
4- Recursos usados 
 
Citar os recursos utilizados, registrando a interpretação de cada uma das técnicas 
aplicadas. É costume seguir esta ordem: 
1. Teste de inteligência; 
2. Teste de psicomotricidade; 
3. Avaliação pedagógica se houver; 
4. Testes de personalidade. 
 
5- Síntese geral do caso 
 
Este tópico deve conter sua resposta à seguinte questão: depois do exame, qual a 
compreensão que alcancei do meu cliente? Quais suas possibilidades? Que fatores 
estão dificultando seu desenvolvimento? Em que ponto do desenvolvimento se 
encontra o cliente? Que mecanismos de defesa costumam utilizar? Para elaborar 
esse item, recorra às sínteses de cada técnica utilizada: inclua dados de 
inteligência, desenvolvimento motor, afetividade e relações com o mundo. 
Neste ponto você estará em condições de preparar a entrevista de devolução. 
6- Entrevista de retorno-orientação 
A entrevista de orientação se estrutura em dois momentos; 
a) Comunicação de nossa compreensão. Apresentamos ao cliente o “retrato”, isto 
é, a compreensão que alcançamos dele. Incluir aspectos saudáveis, de 
crescimento e os aspectos em que este desenvolvimento está impedido ou 
dificultado; 
b) Encaminhamentos a serem feitos. 
Fonte: Texto não publicado de Ana Maria Sarmento.

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