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Aula Revolução Industrial

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A Revolução Industrial e 
a Arquitetura 
Unidade 01
Introdução
 A era conhecida como “Revolução Industrial” foi um 
período em que mudanças fundamentais ocorreram na 
agricultura, na manufatura têxtil e de artigos metálicos, 
nos transportes, nas políticas econômicas e na estrutura 
social;
 O ano de 1760 é comumente aceito 
como o ponto de partida da Revolução 
Industrial;
 A Inglaterra foi o seu local de origem, 
mas logo espalhou-se para outros países 
europeus (com maior ou menor atraso).
 Não podemos esquecer que os pensadores iluministas já 
mostravam um grande interesse em mudanças 
tecnológicas, pois uma maior prosperidade era “um 
objetivo válido e possível de ser alcançado”;
Introdução
 Contudo, o principal fator das 
mudanças, segundo L. Benevolo, 
teria sido o espírito 
empreendedor; ou seja, “o desejo 
não preconcebido de novos 
resultados, e a confiança em 
poder obtê-los por meio de 
cálculos e reflexões”.
Monumento em homenagem a 
Matthew Boulton, William 
Murdoch e James Watt (“The
Golden Boys”), em Birmingham 
 Os avanços nas técnicas agrícolas resultaram em um 
aumento da oferta de alimentos e de matéria-prima e 
em mudanças na própria organização industrial; 
 O aumento na produção do setor de alimentos 
também pode ser creditado ao movimento de cercar 
os terrenos e às melhores práticas e técnicas 
desenvolvidas no período (entre as quais a 
recuperação da fertilidade de terrenos exauridos).
Introdução
 Com o aumento da oferta de alimentos na Europa 
ocidental em virtude da maior eficiência na agricultura 
e da introdução de novas culturas, por sua vez, 
observou-se um grande aumento populacional, 
disponibilizando assim uma enorme quantidade de 
mão de obra para outros fins;
 E ao garantir comida suficiente para sustentar uma 
força de trabalho adequada (que agora era atraída aos 
centros industriais), a Inglaterra então preparou o 
caminho para a expansão da economia e da indústria.
Introdução
A batata, introduzida na Europa na segunda 
metade do século XVI, tornou-se uma das 
mais importantes culturas do continente.
 Exemplo do aumento populacional: em meados do 
século XVIII, a Inglaterra possui cerca de 6,5 milhões 
de habitantes; em 1801 são quase 8,9 milhões, mas em 
1831 a população já atinge quase 14 milhões de 
habitantes;
 Esse aumento deveu-se a uma decisiva redução no 
índice de mortalidade;
 Esta redução da mortalidade, por sua vez, foi possível 
graças a uma série de melhorias ocorridas em diversas 
frentes quase ao mesmo tempo: na alimentação, na 
higiene pessoal, nas instalações públicas, nas moradias, 
e principalmente das práticas médicas.
Introdução
 As redes de esgotamento sanitário e as de fornecimento 
de água também ficaram mais eficientes graças aos 
progressos da técnica hidráulica.
Introdução
 Alguns dos melhoramentos 
higiênicos, por sua vez, 
dependiam da indústria: a 
melhoria na limpeza pessoal, por 
exemplo, foi favorecida pela 
maior quantidade de sabão e 
roupas íntimas (de algodão) a 
preço razoável;
 As moradias tornam-se mais higiênicas graças à 
substituição da madeira e da palha por materiais mais 
duráveis e também pela separação entre a casa e a área 
de trabalho (ou seja, a produção doméstica de vários 
artigos agora não existia mais, pois a zona de trabalho 
fora transferida para as fábricas).
Introdução
Até o advento da R.I., parte do 
processo fabril de algumas 
indústrias (especialmente a 
têxtil) era realizado na própria 
residência dos trabalhadores.
 As novas tecnologias, por sua vez, levaram ao aumento 
da produção, da eficiência, do comércio (interno e 
externo) e, naturalmente, dos lucros.
Introdução
 Enquanto as ferramentas ainda eram operadas 
manualmente, a expansão da manufatura doméstica 
(especialmente a têxtil) estimulou importantes 
inovações técnicas, voltadas ao aumento da eficiência;
 Melhorias no processo de fiação logo surgiram, e assim, 
a economia ocidental encaminhou-se em direção a uma 
verdadeira Revolução Industrial.
Introdução
 O aumento populacional e o desenvolvimento industrial, 
na verdade, são interdependentes e acabam 
influenciando-se mutuamente de modo relativamente 
complexo; 
População x Desenvolvimento Industrial
 A necessidade de alimentar, vestir e fornecer 
moradia para uma população crescente, 
dependendo da situação, tanto pode ter 
consequências positivas – quando estimula a 
produção de manufaturados – quanto 
negativas – quando produz apenas uma 
redução da qualidade de vida (exemplo: 
Irlanda – “The Great Famine”: 1845-1852). 
Irlanda: uma praga 
trazida da América 
destruiu safras 
inteiras de batata, 
matando 1 milhão de 
pessoas de fome.
 Detalhe: a rápida mecanização da indústria inglesa foi 
devida, entre outros fatores, ao fato da população 
não crescer no mesmo ritmo da implementação e 
evolução das máquinas. Ou seja, na falta de mão de 
obra qualificada, os empresários são estimulados a 
aumentar a produtividade;
 Pela razão exatamente inversa – uma população 
muito mais abundante, de quase 27 milhões ao final 
do século XIX -, a mecanização da indústria francesa 
ocorreu com atraso (em relação à Inglaterra). 
População x Desenvolvimento Industrial
 Contudo, não podemos esquecer que, em 
contrapartida, as condições de vida nestas cidades 
industriais rapidamente se deterioram...
População x Desenvolvimento Industrial
População x Desenvolvimento Industrial
Típica zona residencial londrina (c.1860)
 Dentro das fábricas a situação era ainda pior: áreas de 
trabalho mal ventiladas, barulhentas, sujas, úmidas e 
mal iluminadas; ou seja, essas fábricas eram locais 
extremamente insalubres e perigosos, nas quais os 
operários normalmente trabalhavam de 12 a 14 horas 
por dia.
População x Desenvolvimento Industrial
 As péssimas condições de trabalho enfrentadas por 
homens, mulheres e crianças, levariam os parlamentos 
europeus a tentar regulamentar o número de horas 
trabalhadas;
 Aos poucos, contudo, os trabalhadores – sem força 
política e sob a influência de uma cruel política de não-
intervenção adotada pelos governos - começaram a 
perceber a força que tinham quando se uniam; 
 Foi, de fato, uma longa batalha enfrentada por eles para 
finalmente ter o direito de se organizarem formalmente 
em sindicatos. 
População x Desenvolvimento Industrial
Reflexos na Sociedade
 A velocidade – e o alcance – das mudanças afeta a 
sociedade como um todo. O sentimento de “ânsia pela 
novidade” domina cronistas e escritores já na metade 
do século XVIII;
 Texto de um autor inglês do 
período: “O século vai ficando 
cada vez mais desvairado à cata de 
inovações, todas as coisas deste 
mundo estão sendo feitas de uma 
maneira nova; é preciso enforcar 
as pessoas de maneira nova (...).”
Balão tripulado (Joseph e Jacques 
Montgolfier) - 1783
Reflexos na Sociedade
 Texto de um autor alemão (Século XVIII): “É de 
admirar o fato de hoje em dia se julgar 
desfavoravelmente tudo que é velho. As ideias novas 
abrem-se caminho até o coração da família e 
perturbam a ordem desta. Nem mesmo nossas velhas 
domésticas querem mais deixar-se ver ao redor de 
seus velhos móveis”. 
Alexander Cummings: 
privada (1775)
Georges Le Sage: telégrafo 
elétrico (1774)
 Os progressos da Revolução Industrial,
no entanto, são perturbados por crises –
sociais, políticas etc. - que resultam em 
sofrimento para muitas categorias da 
população; 
 Assim sendo, os cronistas deste período, 
dependendo da forma como foram 
“atingidos” pelos efeitos da R. I., 
deixaram-nos duas visões contrastantes 
da época: uma delas, “rósea e otimista”, 
e a outra, “tétrica e pessimista”.
Reflexosna Sociedade
 Os efeitos maléficos da Revolução Industrial decorrem 
principalmente da falta de coordenação entre o 
progresso técnico-científico e a organização geral da 
sociedade; em particular, da falta de providências 
administrativas adequadas para controlar as 
consequências negativas das mudanças econômicas.
Reflexos na Sociedade
 Em 1776, Adam Smith (como já vimos) 
publicou “Uma investigação sobre a natureza
e a causa da riqueza das nações”. Essa obra 
“dá uma forma científica” à teoria liberal e 
convence seus contemporâneos de que o 
mundo da economia era regido “por leis 
objetivas e impessoais, como o mundo da 
natureza”; os principais fundamentos destas 
leis, baseiam-se na livre iniciativa dos 
indivíduos, movidos pelo próprio interesse 
pessoal.
Reflexos na Sociedade
 O “Um ensaio sobre o princípio da população” 
de Thomas Malthus (1798) possui uma 
importância quase igual “na determinação do 
comportamento prático dos protagonistas da 
Revolução Industrial”. Malthus relaciona, pela 
primeira vez, o problema do desenvolvimento 
econômico com o da população, e defende 
que “somente a pobreza de um certo número 
de pessoas mantém em equilíbrio os dois 
fatores, pois o aumento natural da população 
é mais rápido do que o aumento dos meios de 
subsistência e encontra sua limitação apenas 
na fome”, a qual impede uma futura 
multiplicação. 
Reflexos na Sociedade
 A interpretação “radical” que o público liberal fez destas 
duas obras levou à disseminação do conceito de que o 
Estado, de fato, não deveria intervir nas relações 
econômicas e que, para preservar o interesse público, 
bastaria dar a cada um a liberdade para se ocupar de 
seus próprios interesses; 
 Além disso, muitos também passaram a sustentar a 
ideia de que Malthus havia demonstrado “a 
impossibilidade de abolir a miséria e a inutilidade de 
toda intervenção filantrópica em favor das classes 
menos abastadas”. 
Reflexos na Sociedade
 Enfim, acreditou-se que estaria em andamento um 
ordenamento “natural” da economia e da sociedade;
Reflexos na Sociedade
 Sob esta ótica, as estruturas da 
sociedade tradicional – ou seja, “os 
privilégios políticos de ordem feudal, 
o ordenamento corporativo da 
economia, as limitações políticas à 
liberdade dos negócios” – aparecem 
como obstáculos artificiais a serem 
superados, de forma a poder-se 
então atingir o imaginado 
“ordenamento natural”. (L. Benevolo)
 No século XVIII, o Iluminismo, como vimos, propôs-se 
a “discutir todas as instituições tradicionais, 
avaliando-as à luz da razão”;
A R.I. e a Arquitetura
 Quando aplicado à cultura 
arquitetônica, o racionalismo 
iluminista procurou analisar de 
forma objetiva “os ingredientes da 
linguagem corrente” e estudar 
“suas fontes históricas, ou seja, as 
arquiteturas antigas e do 
Renascimento”. 
 Dessa forma, o pensamento iluminista não pôde deixar 
de negar a “sustentada universalidade dessas regras”, 
colocando-as sob uma perspectiva histórica correta;
A R.I. e a Arquitetura
 Ou seja, o Iluminismo “subverte os 
pressupostos do Classicismo em 
vigor por mais de três séculos”: 
Renascimento, Barroco e Rococó. 
 Exige-se, a partir deste momento, que os monumentos 
antigos sejam obrigatoriamente conhecidos com a 
maior exatidão possível, por meio de rigorosos exames 
diretos dos edifícios e não mais através de “vagas 
aproximações” (gravuras, textos descritivos etc.).
A R.I. e a Arquitetura
 O patrimônio arqueológico, que 
até então havia sido apenas 
“tocado de leve” pelo 
Renascimento e pelos 
humanistas, é agora (como já 
vimos) explorado de maneira 
sistemática, com os trabalhos 
desenvolvidos em Herculano, 
Pompéia, no monte Palatino 
(Roma) etc.
A R.I. e a Arquitetura
 A partir dessas pesquisas, publicam-
se as primeiras coleções sistemáticas 
de relevância;
 Desta vez, porém, as publicações não 
se limitam apenas às obras romanas: 
procura-se um conhecimento direto 
também da arte grega, da arte 
paleocristã, da etrusca etc. 
A R.I. e a Arquitetura
A R.I. e a Arquitetura
 Por conseguinte, a Antiguidade 
Clássica, que até agora havia 
sido guardada como “uma 
idade do ouro, colocada
idealmente nos confins do 
tempo”, começou a ser 
conhecida dentro de “uma 
estrutura temporal objetiva”. 
A R.I. e a Arquitetura
 A conservação de objetos antigos deixa de ser “um 
passatempo particular” e torna-se uma questão de 
interesse público: em 1732, inaugura-se em Roma o 
primeiro museu público de escultura antiga; em 1739, 
tornam-se acessíveis as coleções do Vaticano; em 1759, 
a casa de Sir H. Sloane em Londres é aberta ao público 
(com sua imensa coleção de arte), transformando-se no 
primeiro núcleo do British Museum etc.
A R.I. e a Arquitetura
 Conforme vimos, as contribuições recolhidas na 
primeira metade do século XVIII “são sistematizadas de 
forma racional” por Johann Joachim Winckelmann em 
obras fundamentais, tais como a “História da Arte na 
Antiguidade”;
 Ao mesmo tempo, ele propôs que as 
obras antigas fossem tomadas como 
“modelos precisos a serem imitados”, 
tornando-se assim o principal teórico 
do novo movimento: o neoclassicismo. 
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Relembrando: a partir do século XVIII, vários arquitetos 
franceses eram enviados à Académie de France, em 
Roma, com a função de estudar a arquitetura clássica;
 Ao chegar em Roma, além do contato direto com os 
monumentos clássicos, estes arquitetos também 
entravam em contato com a incrível obra de Giovanni 
Battista Piranesi (1720-1778), um arquiteto veneziano 
que, apesar de ter construído muito pouco (e de modo 
decepcionante, segundo os historiadores), tornou-se 
mundialmente conhecido por suas gravuras 
“fantásticas”, quase todas procurando retratar a 
Antiguidade romana.
Via Appia - Piranesi
Roma - Piranesi
Ruínas de Roma - Piranesi
Ruínas de Roma - Piranesi
Ruínas de Roma - Piranesi
A Pirâmide de Cestius - Piranesi
A Pirâmide de Cestius (c.15 a.C.), em Roma (foto atual)
Piranesi (série das “Prisões”)
Piranesi (série das “Prisões”)
Dante Ferreti (filme “O Nome da Rosa”, de 1986)
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Do ponto de vista dos detalhes, até que as pranchas de 
Piranesi estão corretas; porém, na que se refere à 
escala e à composição, “são de uma grandeza 
visionária que (...) ultrapassa aquilo que era o orgulho 
de Roma, mesmo no auge do seu esplendor”;
 Em suas gravuras, “todos os edifícios parecem obras de 
gigantes, e as figuras humanas aparecem aí diminutas” 
(N. Pevsner);
 De fato, alguns viajantes, visitando Roma após terem 
visto as gravuras de Piranesi, declararam-se bastante 
decepcionados com as ruínas existentes...
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Dentre os arquitetos a serem fortemente influenciados 
pelas obras de Piranesi, destaque para Étienne-Louis
Boullée (1728-1799) e Claude-Nicolas Ledoux (1736-
1806); 
 Curiosamente, nem Boullée e nem Ledoux conheceram 
a Itália (ou seja, a assimilação de elementos clássicos 
ocorreu mesmo pelo estudo das publicações 
disponíveis).
O Coliseu (Piranesi)
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Étienne-Louis Boullée (1728-1799), assim como 
Piranesi, nunca chamou atenção por sua prática 
arquitetônica. Tornou-se famoso, porém, em função de 
um conjunto de grandes desenhos (realizados entre 
1780 e 1790) para serem apresentados em conferências 
ou voltados à publicação;
 Estes desenhos, como veremos a seguir, 
apresentam as mesmas características 
“megalômanas” de Piranesi e, no caso de 
Boullée, uma falta total de preocupação 
com as “necessidades práticas” e 
limitações técnicas dos projetos.
As Experiências de Boullée e Ledoux Ele defendia, na verdade, uma “arquitetura sentida e 
não racionalizada”, advogando a favor “do caráter, da 
grandeza e da magia”.
Casa da Ópera
As Experiências de Boullée e Ledoux
Catedral em plano de cruz grega, com pórticos de 16 
colunas gigantes compondo as 4 fachadas
Interior da Catedral de Boullée
As Experiências de Boullée e Ledoux
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Biblioteca Nacional com uma vasta sala de leitura, coberta com uma 
gigantesca abóbada de berço.
As Experiências de Boullée e Ledoux
Biblioteca Nacional (vista da abóbada de berço)
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Cemitério cuja entrada teria a forma de uma pirâmide baixa e de base ampla, 
flanqueada por dois obeliscos.
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Monumento fúnebre (Cenotáfio) de 75m de altura para um guerreiro
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Monumento a Isaac Newton, completamente esférico no interior e com 
um diâmetro de quase 300 metros 
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Monumento a Isaac Newton, corte e visão interna durante o dia
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Monumento a Isaac Newton, corte e visão interna durante a noite
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Monumento a Isaac Newton - maquete virtual em 3D
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Claude-Nicolas Ledoux (1736-1806), no entanto, do 
ponto de vista profissional, teve muito mais sucesso; 
 Apesar de “excêntrico e irritadiço”, foi contratado para 
projetar várias residências, casas de campo e outros 
edifícios.
Casa de campo
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Das construções mais importantes de Ledoux, 
destacamos, em primeiro lugar, os postos de arrecadação 
de impostos (Barriére) de Paris, construídos entre 1784 e 
1789;
 Estes postos possuíam uma grande variedade de plantas 
e fachadas, sendo construídos “sempre num estilo 
vigoroso e maciço”, com colunas dóricas ou toscanas. (N. 
Pevsner)
Barriere de La Villete
As Experiências de Boullée e Ledoux
Conjunto de fachadas das Barrieres de Ledoux
Barriere des Bons 
Hommes
Barriere de Chartres
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Em segundo lugar, merece destaque o Teatro de 
Besançon, construído entre 1778 e 1784.
As Experiências de Boullée e Ledoux
Interior do Teatro de Besançon, mostrando a colunata dórica em seu interior, 
erguida na parte superior do teatro semicircular
As Experiências de Boullée e Ledoux
Teatro de Besançon
(foto atual)
As Experiências de Boullée e Ledoux
Teatro de Besançon (foto atual))
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Porém, o trabalho “mais emocionante de Ledoux, 
mesmo em sua forma fragmentária” é a Salines des
Chaux (Salinas Reais em Arcs-et-Senans, perto de 
Besançon), cuja maior parte foi construída entre 1775 e 
1779.
Salines des Chaux
(planta baixa)
Salines des Chaux (vista aérea atual)
As Experiências de Boullée e Ledoux
As Experiências de Boullée e Ledoux
 A entrada, por exemplo, possui um pórtico bem largo, 
com colunas toscanas; atrás dele, um nicho “gigantesco 
e rusticado como se fossem rochas brutas”.
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Nas paredes laterais do pórtico, urnas das quais “jorra” 
água esculpida em pedra: a perfeita harmonia entre o 
clássico e o romântico”, segundo Nikolaus Pevsner. 
Casa do diretor das Salinas de Chaux
As Experiências de Boullée e Ledoux
Casa do diretor das Salinas de Chaux (detalhe)
As Experiências de Boullée e Ledoux
Salines des Chaux: entrada do 
dormitório dos trabalhadores
As Experiências de Boullée e Ledoux
Salines des Chaux: cocheira
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Essas mesmas “qualidades”, porém, levaram Ledoux 
(semelhante a Boullée) a propor alguns projetos que 
“por bons motivos, nunca foram executados”;
 Exemplo: eles quis dar à casa do inspetor do rio Loue
um centro em forma cilíndrica através do qual o rio 
pudesse passar, formando quedas d’água.
Casa do inspetor do 
rio Loue
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Para os guardas do parque de Maupertius (Normandia), 
Ledoux propôs casas completamente esféricas.
Casa da guarda de Maupertius (Ledoux)
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Para Chaux, no entanto, Ledoux havia projetado, na 
verdade, uma cidade inteira (da qual as salinas fariam 
parte).
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Este projeto – que incluiu Ledoux entre os precursores do 
movimento denominado “utópico” - foi publicado junto 
com um texto “confuso” e com denominações bem 
esquisitas para alguns prédios (ex.: Palácio de Culto aos 
Valores Morais).
Cidade de Chaux : 
Casa da Educação
Oikema, ou “Casa do Prazer” em Chaux, onde os jovens do sexo masculino 
deveriam ter aulas práticas de sexo...
As Experiências de Boullée e Ledoux
As Experiências de Boullée e Ledoux
 Assim, “a busca daquelas formas geométricas 
elementares, que o Rococó havia substituído em todos 
os lugares por curvas mais complexas e graciosas”, 
levou um grupo de arquitetos a praticarem uma 
“arquitetura pela arquitetura”, totalmente separada de 
qualquer preocupação com a utilidade;
 Apesar das incongruências, os arquitetos Boullée e 
Ledoux “estavam certos quando afirmavam que em 
arquitetura não é possível um estilo saudável enquanto 
for uma simples imitação de um estilo passado”, uma 
prática que será adotado por muitos arquitetos do final 
do século XVIII e início do XIX.
A Ciência das Construções
 A ciência das construções, da maneira como a 
compreendemos hoje, nasceu no século XVII; 
 Galileu, em 1638, discute os problemas de 
estabilidade; em 1676, Robert Hooke formula a célebre 
lei (que mede as deformações: ) que leva o seu 
nome etc.; 
 Entre o final do século XVII e início 
do século XVIII, vários cientistas, 
entre os quais Leibniz, Mariotte e 
Bernoulli, estudam o problema da 
flexão.
Robert Hooke
(1635-1703)
 Em meados do século XVIII, o conceito de carga de 
segurança é estabelecido e inventam-se mecanismos 
capazes de medir a resistência dos materiais;
A Ciência das Construções
 As regras da geometria descritiva são 
formuladas por Gaspard Monge 
(1746-1818) no final do século XVIII, 
dando “uma forma rigorosa aos vários 
sistemas de representação de um 
objeto tridimensional sobre as duas 
dimensões da folha de papel”.
 Curiosidade: o sistema métrico decimal é introduzido 
pela Revolução Francesa, “em seu esforço de mudar as 
instituições da velha sociedade de acordo com modelos 
racionais”;
 O modelo em platina do metro é depositado no Museu 
de Artes e Ofícios de Paris em 22 de junho de 1799, e o 
novo sistema é tornado obrigatório na França a partir de 
1801.
A Ciência das Construções
A Ciência das Construções
Medidas antigas no Brasil: 
palmos e braças
 Os resultados de todos esses 
estudos são então coordenados e 
completados nas primeiras 
décadas do século XIX por Louis-
Marie H. Navier (1785-1836), 
professor da École Polythecnique, 
(fundada em 1794, sob tutela do 
Ministério da Defesa) considerado 
“o fundador da moderna ciência 
das construções”.
A Ciência das Construções
 A ciência das construções, portanto, “democratizou 
e popularizou o fato estático“ (P. L. Nervi), 
permitindo que muitos projetistas, de agora em 
diante, “enfrentassem de maneira correta, com 
fórmulas preexistentes, alguns temas antes 
reservados a uma minoria de pessoas 
excepcionalmente bem dotadas”;
 Além disso, produziu uma clara separação entre a 
teoria e a prática, contribuindo para a mudança da 
cultura tradicional do período.
A Ciência das Construções
O Ensino
 A França, que durante muito tempo esteve navanguarda do progresso científico, serviu como 
modelo às outras nações quanto à organização do 
ensino; 
 Em 1671, ainda no período do Ancien Regime, é 
fundada (como vimos) a Académie d’Architecture; 
 Essa instituição goza de grande prestígio na Europa, e 
embora seja “guardiã da tradição clássica francesa”, se 
mantém aberta às novas experiências e ao progresso 
técnico, discute as teorias racionalistas e “participa 
com vivacidade na vida cultural de seu tempo”. (L. 
Benevolo)
O Ensino
 No entanto, as tarefas cada vez mais extensas e 
complexas assumidas pela administração do Estado 
francês resultam na necessidade de formar um pessoal 
técnico especializado;
 As tradições humanistas da Académie “não se prestam à 
instrução de técnicos puros” e, assim, em 1747, funda-
se a École des Ponts et Chaussées.
Hôtel Fleury, antiga sede da École
des Ponts et Chaussées
O Ensino
 Em 1748, institui-se a École royal du génie de Mézières, 
da qual saem os oficiais engenheiros (ligados ao 
Exército); 
 O ensino, em ambos casos, fundamenta-se em rigorosas 
bases científicas.
O Ensino
 A partir da criação dessas escolas, estabelece-se assim, 
pela primeira vez, o dualismo entre “engenheiros” e 
“arquitetos”;
 Por um tempo, “o brilho da Academia ofusca as prosaicas 
escolas de pontes e estradas” e de engenharia civil de 
Méziéres, e os engenheiros parecem estar destinados a 
ocupar-se apenas com “temas secundários”. (Benevolo)
O Ensino
 O progresso da ciência, contudo, vem ampliar as tarefas 
dos engenheiros e restringir as dos arquitetos;
 Aos poucos, a Académie percebe que 
as discussões sobre o papel da razão 
e do “sentimento da arte” são os 
primeiros sinais de uma “reviravolta 
cultural e de organização” que se 
aproxima, e infelizmente fecha-se 
cada vez mais, numa “defesa 
intransigente da arte contra a 
ciência”. (L. Benevolo)
O Ensino
 O advento da Revolução Francesa modifica mais uma 
vez a situação: a Academia de Arquitetura é 
simplesmente suprimida em 1793 (junto com as 
academias de pintura e escultura); 
 Em 1795, porém, cria-se o Institut de France para 
substituir as antigas academias e a Escola de Arquitetura 
passa a fazer parte deste complexo. 
O Institut de France 
em 1838
O Ensino
O Institut de France (foto atual)
O Ensino
 Porém, com a extinção da Academia, o título de 
arquiteto perde todo o valor de diferenciação: tanto 
assim que, com o pagamento de uma taxa, qualquer um 
poderia ser chamado de arquiteto, independentemente 
dos estudos feitos;
 Essas medidas obviamente enfraquecem ainda mais o 
prestígio (já escasso) dos arquitetos...
O Ensino
 Entre 1794 e 1795, reunindo todos os ensinamentos 
especializados em uma única organização, é instituída 
a École Polytechnique, que absorve boa parte do 
pessoal da escola de Mézières; 
 A escola acolhe um número limitado de jovens, 
selecionados em exames rigorosos e após haver-se 
assegurado do seu “apego aos princípios republicanos”. 
O Ensino
 Os alunos da École Polytechnique estudam juntos por 
dois anos e depois passam para uma das “escolas de 
aplicação”: a École des Ponts et Chaussées, de Paris, a 
École d’Application d’Artillerie et de Génie Militaire de 
Metz, a École de Mines de Paris, ou a École du Génie
Maritime de Brest.
O Ensino
 A enorme influência da École Polytechnique nas três 
primeiras décadas do século XIX pode ser atribuída 
ao fato dela ter aceito, conscientemente, um grande 
desafio: “pela primeira vez, foi feita a tentativa de 
estabelecer uma articulação entre ciência e vida, de 
trazer para a indústria as aplicações práticas das 
descobertas nas ciências físicas e matemáticas”;
 Ou seja, “a ciência devia descer 
do seu pedestal e ajudar a criar 
um mundo novo”. (S. Giedion)
O Ensino
 Jean-Baptiste Rondelet (1743-1828), 
arquiteto e teórico francês, foi o primeiro 
a insistir na importância do papel das 
técnicas científicas para a arquitetura;
 Em seu Discours pour l’ouverture du cours de 
construction à l’école spéciale d’architecture (1816), 
ele propôs que, ao contrário do que normalmente
acontecia, os sistemas construtivos deveriam ter uma 
maior influência nos projetos das edificações.
O Ensino
 Deste momento em diante, o engenheiro passou cada 
vez mais a invadir o campo de ação do arquiteto: “de 
modo inconsciente, durante o século XIX, o construtor 
havia desempenhado papel de guia para o arquiteto” 
(Giedion); 
 “O construtor rompeu o formalismo 
artificial (...) do arquiteto, bateu 
bruscamente à porta de sua torre de 
marfim. E esta continua sendo uma 
das principais funções da técnica 
construtiva: fornecer à arquitetura 
estímulo e incentivo para novos 
avanços”. (S. Giedion)
O Ensino
 O exemplo francês é seguido por outros Estados do 
continente europeu: em 1806, uma escola técnica 
superior é criada em Praga; em 1815, uma em Viena; 
em 1825, outra em Karlsruhe (Alemanha);
 Além disso, a ordem dos estudos – tanto nessas 
escolas, como nas que virão depois – também segue o 
modelo de Paris.
Escola Politécnica de Praga
O Ensino
 O caso da Inglaterra, porém, é uma exceção, pois o 
ensino técnico só vai ser realmente organizado (em 
moldes semelhantes ao francês) no final do século XIX;
 Por um longo tempo, o ensino formal da engenharia 
estava ligado (e limitado) à carreira militar;
 Fora isso, os “protagonistas ingleses 
da Revolução Industrial” são, 
invariavelmente, autodidatas ou então 
conseguem alguma formação em 
escolas particulares que chegam a ser 
criadas no período.
O Ensino
 A Institution of Civil Engineers, fundada em 1818 com o 
objetivo de promover os estudos e pesquisas na área 
de engenharia na Inglaterra, por exemplo, contava com 
apenas três diretores graduados (de um total de dez).
Sede do Institution of Civil 
Engineering em Londres (a 
partir de 1839)
O Ensino
 Por essa razão, e também pelo “caráter menos rígido” 
da sociedade inglesa, o contraste entre engenheiros e 
arquitetos nunca foi tão forte quanto o que existia no 
resto da Europa;
 Assim sendo, os arquitetos ingleses estão menos 
preocupados com suas “prerrogativas culturais”, de 
forma que arquitetos e engenheiros frequentemente 
passam de um tipo de projeto a outro sem maiores 
conflitos.
Royal Academy of Arts
(Londres, 1768)
O Ensino
 Todavia, mesmo na Inglaterra, o progresso técnico 
acaba por restringir as atribuições tradicionais dos 
arquitetos e faz com que uma parte cada vez maior de 
suas tarefas profissionais fosse absorvida por técnicos 
especializados.
Referências:
BENEVOLO, Leonardo. Historia da arquitetura moderna. São Paulo: 
Perspectiva, 1994.
DEANE, Phyllis. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 
1975.
GIEDION, Siegfried. Espaço, tempo e arquitetura: o desenvolvimento de 
uma nova tradição. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
PEVSNER, Nikolaus. Panorama da Arquitetura Ocidental. São Paulo: 
Martins Fontes, 2002.

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