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A história e os modelos do corpo Vigarello

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Pro-Posiçães,v. 14,n. 2 (41)- maio/ago.2003
A históriae os modelosdo corpo
GeorgesVigarello.
Resumo:O corpo,pensadoemquadrosprecisosdeintercâmbiosespecíficoserelacionais,
torna-seumobjetosuscetíveldeeIucidarépocasesociedades,podendo,assim,esclarecer
ummundo.A diversidadedeseusterritórioséabundantenoseiodecadaculturaedecada
época.O investimentona elaboraçãodeumahistóriado corpoconsiste,portanto,em
recenseare explorarosmuitose múltiplosterritórioscorporais,complexificandonossas
representaçõesedesconfiandodenossasensibilidadedopresente.
Palavras-chave:Históriadocorpo,históriadasqualidadesfísicas,corpo.
Abstract:Thebodyconceivedasprecisepicturesofspecif1candrelationa!exchanges,becomes
anobjectcapableof eIucidatingtimesandsocieties,thereforecapableof enlighteninga
world.The diversiryofits territoriesisabundantin theheartofeachcultureandeachera.
Thus, theeffortof eIaboratinga historyof thebodyconsistsin surveyingandexploring
themanyandmultiplebodilyterritories,entanglingour representationsandmistrusting
oursensibiliryof thepresent.
Key-words:Historyof thebody,historyof physicalqualities,body.
As referênciasdadasàforma,àseficáciasefuncionamentosdocorpo,mudam
nodecorrerdotempo.Suasrepresentaçõessedeslocamdetalmaneiraque,algu-
masvezes,vêem-secompletamentetransformadas:o controledo pesocorporal,
porexemplo,oscuidadoscomaconstituiçãoorgânica,ahierarquiaconcedidaao
aspectofísico,osíndicesdealertaaosmales;ospadrõesestéticosatuaisnãosão
aquelesdo passado.Uma imagem,ao mesmotempoplural e global, foi
reconstitUída;"imagem"nosentidodadoporDeniseJodeletquandoserefereao
conceitoderepresentação:"atividadementalorientadaparaaprática,ou seja,o
princípioqueservedeguiadaaçãoconcretasobreoshomenseascoisasvisandoa
sistematizaçãodesaberespragmáticose,atravésdacomunicação,agentedacria-
çãodeum universomentalconsensual"(JODELET, 1984,p.30-31)1.A repre-
sentação(social,nocasopresente)seriaumamaneiradeorganizarinternamenteo
real,deacordocomasreferênciascoletivasqueagemsobreelecomoumaforma
· Universidadede ParisV e ÉcoledesHautesÉtudesenSciencesSociales.http://www.ehess.fr
RevisãoTécnica:CarmenLúciaSoares
I . VertambémJodelet(1988).
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Pro-Posiçães,v. 14,n. 2 (41)- maio/ago.2003
depensamento,cujaprimeiracaracterísticaéadeserfuncional,imediatamente
pragmática.Estudadanos"conteúdosconcretosnosquaiselaestáencarnadà',
detectadacomo"pensamentoprático"(JODELET, 1984,p. 30-31),essarepre-
sentaçãopoderevelarindíciosimportantessobreo universocorporaldeumacul-
turaedeumaépoca.
Seriaprecisoaindamediradiversidadedosregistrosculturaiseeruditosaosquais
o corpovemsendoconfrontado,apontodeperder,rapidamente,umaspectode
"unidadeoriginal"edesetornarumdesafioparaaquelesquequeremestudá-lo.
I .Astrêsfacesdocorpo
Inúmerassãoasmaneirasdesereferiraocorpoedehabitá-Io;inúmerassãoas
maneirasderepresentá-Ioedelhedarforma;éadispersãodessesindíciospossí-
veisqueimpressionainicialmente.Um olharmaisprofundorevelacomoadiver-
sidadedosterritóriosdo corpoé abundanteno seiodecadaculturae decada
época:a competênciado ortopedistanãoécomparávelà do artista,do mesmo
modoqueapráticadoesportistanãoéadomímicooudoator.Mecânica,ener-
gia,expressãoesensibilidadeserepartemnumamultiplicidadedecorpos,cada
qualemsuasingularidade,comseussaberes,seusimaginários,seusdomínios,até
mesmoseusobjetos.É necessáriomediressaabundânciadereferênciascorporais,
essavariedadequeproíbeagrupá-Iasemumamesmadisciplinacientíficaou,mes-
mo,dar-Ihesumacoerênciaeumaunidadeapriori.
Podem-sedistinguirpelomenostrêsgrandesfacesdaexistênciacorporal:to-
daspossuemseusprópriosinvestimentosesingularidades,e,éclaro,suaprópria
história.A primeiraé a do princípiodaeficácia:recursostécnicosqueo corpo
retirada mecânicae dossistemasorgânicos,ou seja,a suacapacidadedeação
sobreosobjetos.Pode-sepensaraquinashabilidadesdostrabalhadoresmanuaise
nosprocedimentosfísicosquotidianos,comotambémnossaberesenaspráticas
colocadasemjogoparaamanutençãodocorpo,o aumentodesuaresistênciaou
deseupoder,saúde,higieneoumesmotreinamentoscorporaisvariados.A segun-
dadestasfaceséadoprincípiodepropriedade:posse,pelocorpo,deumespaçoe,
nele,de um territóriototalmentepessoal,ou seja,apropriaçãodo serno mais
íntimodesi, noslimitesdesuadimensãobiológica.Imaginem-se,portanto,as
representaçõesdasfronteirascorporais,daquilo que recobreo corpo - as"mura-
lhasdaintimidade"- ou, ainda,oslugaresapartirdosquaissedefinemasviolên-
ciase os atentadosfísicos.Estafacemostra-sedesumaimportância,poissuas
varianteshistóricasrevelamdeslocamentosdesensibilidade,quesereferemnão
somenteà relaçãocomo outro,mas,também,paraconsigomesmo.A terceira
faceéadoprincípiodeidentidade:manifestação,pelocorpo,deumainteriorização
oudeumpertencimentoquedesignaosujeito,ouseja,o recursodemensagense
detrocasapartirdesinaisedeexpressõesdenaturezafísica.Pode-sepensaraqui,
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os recutsosexpressivos,a emissãodemensagens,a emergênciade um sentido
voluntárioou involuntário.Nestaterceirafacepode-sepensar,ainda,asmanifes-
taçõesdeprazerededorreforçandoaancoragemdosujeito.
2.A históriae o objeto
Estastrêsfacesdemonstramoquantoahistóriadocorpopoderevelar-sehete-
rogênea,mobilizarobjetosmuitasvezesdiferentes,atémesmoinconciliáveis.É
maisemdireçãoàprudênciaepistemológicaemetodológicaqueeladeveria,en-
tão,conduzir.
Estahistória,porém,poderiatornar-semaislegítimaaocaptarumobjetocom
precisão:objetoqueoutrasabordagenstiveramdificuldadeemapreender,objeto
querevelaaquiloquenãoexistiria,a nãoserno momentoe no lugaremqueé
captado.Mostrar,porexemplo,comLe Goff (1967,p. 440),quea "civilização
medievalé a civilizaçãodo gesto",é abrirum campode reflexãosemlimitesa
respeitodosmodosdesociabilidadeemviadesolidificaçãoe dediferenciação,
assinalandoaomesmotempoosobstáculoseasinovaçõesqueimplicamo lugar
aindamuitomarginaldaescrita;édarumadensidadeinéditaàsmodalidadesintei-
ramentecorporaisdosjuramentosedoscontratos,dassolenidadesremarcáveis2ou
dosusosmuitoquotidianos;é lerestatentativaantigadeinscreverno corpoum
códigoaindaà procuradassuastransposiçõesemsignosescritos.A partirdeste
únicoenunciado,umespaçodifusodepráticasedegestualidadesanódinastorna-
sebruscamenterelevanteparaacentuaraoriginalidadedasociedadedaqualsur-
gem.No limite,aIdadeMédiaexiste"diferentemente",quandoselevaemconsi-
deraçãoestasinscriçõescorporaisqueaimportância-logo maiscentral-daescrita
permitirádeslocar.O corpo,dentrodestequadroprecisodeumintercâmbioespe-
cíficoerelacional,tornou-se,assim,umobjetosuscetíveldeesclarecerummundo.
Abundantessãoosexemplosdessesobjetoscorporaisqueforam-setornando
objetos"elucidativos"deumaépocaedeumasociedade.O investimentonacons-
truçãodeumahistóriadocorpoconsistetantoemrecenseá-losquantoemexplorá-
los.Contudo,é necessário,àsvezes,sabertornarcomplexasasrepresentaçõese
desconfiarde nossosprópriosesquemasrepresentativos,aquelesde homense
mulheresquepertencemàsociedadedehoje.
3. O exemplodasqualidades"físicas"docorpo
O simplesexemplodasqualidadesfísicasatribuídasaocorponahistóriade-
monstraatéquepontoestasqualidadesdevemserdiferenciadasdasnossas.Vou
2. NotadaRevisaraTécnica(NRT). Porexemplo.assolenidadescomoanomeaçãoe ostorneios
doscavalheirosmedievais,asfestasdaprimaveraetc,etc.
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usareste.únicoexemploparapreconizaradesconfiançaa respeitodenossaspró-
priasreferências:aqualidadeda"velocidade",maisprecisamenteainda,queevo-
careiaqui,aparentementeeternaeinventadacomacorrida,serevela,naverdade,
rapidamentemaiscomplexa,confusaedissimuladaparaquemdesejaestudá-Ia.
Duasnoçõesdominamatradiçãomaisantiga,nomomentoemquesãoevocadas
asqualidadesfísicasdocorpo:aforçaeadestreza.Elassão,aliás,poucoexplicitadas,
furtivamentecitadas.Aparecem,porexemplo,nojogodepélano finaldoséculo
XV, jogoemquesãoesperadoslancesaplicadoscom"muitahabilidade,muita
forçaemuitamalícià'(D'ALLEMAGNE, 1882,p. 170).Nenhumaalusão,ain-
da,aqui,àvelocidade,à respiraçãoemesmoaosmúsculos,nestesraríssimosco-mentáriosquelimitamosnotáveisrecursosdocorpoàsmaisgenéricasreferências:
Aliás,poucassãoasalusõesàsqualidadesabstratas,comomostrao textodeRabelais,
no iníciodoséculoXVI, que,descrevendoosexercíciosdeGargantua,nãocons-
tróiumquadrodasaptidõesoudosvaloresaseremaperfeiçoados.Eleevoca,antes
detudo,aspráticaseoslugares.Consideraapenasgestosmaterialmentesituados,
aquelesqueservema determinadascircunstânciassociaise aoscostumesmais
cotidianos.Defineo corpoporaquiloqueelerealiza.Daí decorreessavariedade
desituações,essecultomuitoparticulardasséries,essavontadedeevocarmovi-
mentosecontextos,coisaselugares;essainsistênciasobreadiversidadedoscava-
los,por exemplo,paradefiniro domíniosobreestesanimais:"Monstoitsusun
coursier,susunroussin,susungenet,susunchevalbarbe,chevallégier,etluydonnait
centquarieres"(D'ALLEMAGNE, 1882,p. 93-94)3;ou, ainda,essainsistência
sobreadiversidadedosinstrumentosparadefinirodomíniodasarmas:"sacquoit
del'épéeà deuxmains,del'éspéebastarde,del'espagnole,deIadague,dupoignard,
armé,nonarmé,auboucler,à Iacappe,à Ia rondelle"(D'ALLEMAGNE, 1882,p.
93-94)4.Porém,aqui,jamaisumaalusãoaqualquersubstantivorelativoàsquali-
dadescorporais.Aprenderémuitomaisenumerarpráticaseencadearaçõesque
lapidardisposiçõesecapacidadescorporais.
Umatentativadedesignarclaramentequalidadesevocadasporumsubstanti-
vo seinicia,entretanto,no séculoXVI, quandoa figurado cortesãosubstitui
definitivamenteadocavalheiro,momentoemquesedifundemmaneirasespecí-
ficaseinéditas,quepermitemàquelequeaspossui"setornardignodedialogare
recebertodoequalquerfavordeumgrandesenhor"(CASTIGLIONE, 1585,p.
28),segundoaexpressãodeCastiglioneem 1528.A renovaçãodasvirtudes,a
interrogaçãoexplícitasobreos comportamentosquedistinguemos indivíduos,
renovatambémaspesquisaseaspalavrassobreaquiloqueserefereaocorpo.A
3. NRT "Montarnumcavalode batalha,numcavalodecarga,numcavaloespanhol,numcavalo
árabeou numcavalolevee fazê-Iocorrercemléguas."Fraseoriginalemfrancêsarcaico.
4. NRT" Sacarda espadacomasduasmãos:daespadabastarde,daespanhola,da adaga,do
punhal,estandoemguardaou não,executandoasdiversasparadas".Fraseoriginalemfrancês
arcaico.
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insistênciadosmestresdearmasemrelação"à cortesia,à civilidadeeaosbons
costUmes"5acrescenta,aosvalorestradicionaisdoscavalheiros,aquelesdo corte-
são,julgadosmaissutis.BalthazarCastiglione,no livroCourtisan,lidoemtodaa
Europa,sugereclaramenteasqualidadesdocorpo,aoenumerarseulongoenun-
ciadode exercícios:o volteioa cavalo,vistocomocapazde tornar"o homem
muitoleveehabilidoso"5;ojogodapéla,vistocomocapazdeaumentar"aveloci-
dadeeadestrezadosmembros"5eacorridaeossaltos,vistoscomocapazesdedar
"aagilidade"5.LaNoue(1588,p.145),noseulivroDiscourspo/itiquesetmi/itaires,
recenseandono finaldo séculoXVI "aquiloquedeveserensinado",assinalaos
exercíciosquetornam"apessoamaisrobustaeágil".Peacham(1634,p.207),no
seulivroCompleatGentleman,correspondênciainglesadocortesãoitaliano,insis-
tesobre"adestreza,aforçaeovigor",qualidadesfísicasquesepresumiaresulta-
remdeexercíciospropostos.
Surgemnovaspalavrasparadesignaravelocidade,semprecisá-Ia,nemobjetivá-
Ia,comoapalavraagilidade;ouapalavralevezaparadesignardeformaobscuraa
graçaeadescontração,domesmomodo,semobjetivá-Ias.A verdadeirainsistên-
ciaédadaàagilidadeassociadaàforça.Apenasestasduasqualidadessãocomen-
tadasesublinhadas.Apenaselastriunfam,quandoasdescriçõessãodesenvolvidas
e ashierarquiasdesignadas:Hentique11é qualificadocomo "forte e ágil"
(BOURDEILLE, 1822,Tomo11I,p.277)6,Felipe11mostra"forçaeagilidade"?
(BOURDEILLE, 1822,Tomo11,p.91),La Chateigneraie(emseuduelocontra
Jarnac)possui"alémdasuaforçaumagrandeagilidade"(BOURDEILLE, 1822,
TomoIV, p. 273)8.HentiqueIV é "robustoeágil",assimcomoosbascoscom
quem,quandocriança,elebrincava(PALMA-CAYET, 1838,1.série,TomoXII,
p. 174)9.Aliás,asduasqualidadessecompletam,podendo,parcialmente,secom-
pensar:evidenteno casodeBrissac1o,classificadocomo"fraco"naluta,mastão
habilidosoque"derrubavaosmaioreseosmaisrobustos"(BOURDEILLE, Tomo
VI, p. 140).
A designaçãodequalidadesfísicascomanda,pelaprimeiravez,"oquedeveser
aprendido":asvirtudes"corporais"claramenterepertoriadasacompanhamo per-
5. Pluvinelcitadopor5tegmam,A, no livroLana;ssancede/'artéquestreemFranceà IafinduXVle
siecle:Àries;Margolin(1982).
6. NRT.Henrique1Ifoi Reide Françano períodode 1547a 1559.
7. NRT.Felipe11foiReideEspanhano períodode 1556a 1598e Reide Portugalno períodode
1580a 1598.
8. NRT.Jamacviveuentre1509e I572e foivencedorde umduelocomo 5enhorFrançoisde
Vivonne,SenhordeLaChateigneraieem 1547,porumgolpeinesperado,"porémleal",desferido
naparteposteriordo joelho,denominandoestegolpepelaexpressão"coupdeJamac".
9. NRT.HenriqueIVfoiReideFrançanoperíodode 1562a 1610efoiconhecidoporsuaforçae
robustez.
10. NRT.CharlesdeCossé,CondedeBrissac,viveuentre1550e 1621.Foinegociadordaentrada
deHenriqueIVemParisque,porserprotestante,nãoerareconhecidocomoreipelosparisienses.
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Pro-Posições,v. 14,n. 2 (41)- maio/ago.2003
fil dasvi'rtudesmorais.Diversasqualidadesseopõem,associam-se,compensam-
separacomporo queseentendepor um modelonovo:modeloquerevelaesta
figuramaiscontroladadohomemdecorte,queagrega,àforçadoantigocavalhei-
ro,algumaagilidadecadavezmaiscalculadaeacentuada.A artedocortesãofixou
edefiniu,assim,asqualidadesfísicasdocorpo.
Durantemuitotempo,énecessáriorepetir,aqualidadedavelocidadefoidefi-
nidasimplesmenteporaqueladaleveza:asasasdasquaisMercúrioésimplesmen-
tedotado.É necessárioultrapassaralongaduração,énecessáriaalentaconstrução
de umafisiologiamusculare nervosa,é necessáriaa elaboraçãodosprimeiros
cálculosdavelocidadedepropagação"daforçanervosamotriz",paraqueseco-
mecea especificara qualidadefísicada "velocidade".Construçãolenta,já que
Longetreconhecia,aindaem1850:"Oscálculos(davelocidadenervosa)quefo-
ramfeitosnãoestãoestabelecidossobrenenhumabasesólidacomocomprovam
asenormesdessemelhançasqueapresentam.Tudoo quesepodeafirmaréque
estavelocidadeémuitograndee,aliás,muitovariávelconformeosindivíduoseas
espéciesanimais"(LONGET, 1850,Tomo11,p.46).Textomaior,narealidade,já
quesão,efetivamente,asdiferençasindividuais,aquicitadas,quevãodirecionar
parao temadeumaqualidadefisiológicatotalmenteparticular.Logosurgiriam
cifrasmaisprecisassobrea"transmissãodoagentenervoso",medidopelaprimeira
vezporHelmholtz,em1863,a27m.porsegundo(verTAYLOR, 1877,p. 112e
123),assimcomo,nasegundametadedoséculoXIXII, dadosmaisprecisossobre
asformasdecontraçãomuscularobjetivam,cadavezmais,aparticularidadepos-
síveldeumaqualidadebemprecisa:aqueladavelocidademuscular.É determinante,
porexemplo,aobjetivaçãodaduraçãodacontraçãodosmúsculos,menosde10
centésimosdesegundosparaalgunsdentreeles,comojá o mostraHelmhotzem
suadissertaçãode1845sobreaaçãomuscular(VON HELMHOLTZ, 1845)12.É
determinante,ainda,aobjetivaçãofeitaportamborregistradordasdiferençasentre
asdiversasbatidasdeasas:"Assegurou-sedequeasasasdeumamoscaexecutavam
300batidasporsegundo,asdeumpardal13,asdeumapomba8",comopude-
ramafirmarosfisiologistasdosanos1870(LE BOM, 1874,p.474).O quesuge-
re,emambosos casos,nãosomenteumaqualidadedevelocidadedistinta,de
acordocomasespéciese,maisamplamente,deacordocomosindivíduos,mas
tambémseupossívelcultivo,seuexercícioesuamelhoria.Daí estetrabalhotão
peculiarporcultivaravelocidade,descritaporLagrange,paraquem,"apassagem
alternativaé freqüentementerepetidapelosmúsculos,doestadoderelaxamento
I I. Ver,entreoutros,Wrtkowski(1877,p. 112e 123).
12. NRT.HermannLudwigFerdinandvonHelmholtz,fisicoe fisiologistaalemão,viveuentre1821
e 1894.Enunciaem todasuageneralidadeo princípioda energia,em 1847,afirmandoa
conservaçãodaenergia,interpretandoosfenômenosfisicoscomomudançadeformadeenergia
e definindoa energiapotencial.
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Pro-Posições,v. 14,n. 2 (41)- maio/ago.2003
parao estadodecontração"(LAGRANGE, 1888,p.222).Daí estaconstatação,
tãoempíricaquantoteórica,dosprimeirossportsmendofimdoséculoXIX: "um
corredordevelocidadeserá,raramente,umbom corredorde fundo"(ÉOLE;
RICHEL; MAZZUCHELLI, 1895,p.73-74).O exercícioquecultivaumaqua-
lidadeconfirmabemaexistênciaeaobjetivaçãodamesma.O exercíciodaveloci-
dadetorna-seumtemaclássicoentreoshigienistasdo finaldoséculoXIX, com
suasrepresentaçõesimplícitasdosistemanervoso,suasrepresentaçõesderecursos
precisos,asrepresentaçõesde umacertafadigamuscular,específicatambém,e
provenientedoabaloorgânicorepetidoqueelaprovoca:"Osexercíciosdeveloci-
dadelevama umgastoexcessivodo influxonervoso,poiso efeitodo esforçoda
forçadevontadenecessáriaparafazercontrairrapidamentea fibramuscular,é
tantomaisintensoquantoosmovimentossãomaisrápidos"(ROCHARD, 1898,
p. 838).Com estetextodeRochard,escritono fim doséculoXIX, avelocidade
torna-seumaqualidadefísicae,aomesmotempo,ummododefuncionamento
orgânicopeculiar.
Porém,éimpossívelignoraraindamudançasmaisprofundas,aquelasquetor-
namfamiliaro temadavelocidadenasociedadedoséculoXIX. A culturadesse
séculoapresentaumaprofundamudançarelativaàcontagemdo tempo,comoo
demonstramaspublicidadesquesecentramno"relógiocronômetro".Estastor-
nam-semuitomaisnumerosasecircunstanciaisnofinaldoséculoXIX, impondo,
a cadaindivíduo,avigilância,por minuto,do tempocotidiano,comoestapor
exemplo:"AorecorreraocronógrafoJust13,vocêsaberácomoviver,o tempoque
vocêgastaparaosnegócios,parasuasrefeições,seusprazeres,seurepouso...Gra-
çasaelevocêjulgaráseestádandoacadaatodesuavidao tempoquelhecabe"14.
Constata-se,portanto,umalentapenetraçãodotempocifradoecalculadonos
gestosdodia-a-dia:aquelesdotrabalho,aquelesdolazer,aquelesdosdeslocamen-
toseaquelesdostransportes.É, aliás,aavaliaçãodasdistânciasquemudacomo
fimdaexistênciados"terroirs"15naFrança,comareferênciarepetidaàsmaquinas,
àslocomotivas,bicicletase,logomais,aosautomóveis;umamaneiramaissiste-
máticadecalculara relaçãoentreadistânciaeo tempo;umamaneiramaissiste-
máticadeassociaressetempoàdiferençaentreosengenhos.Surge,assim,uma
13. NRT.A palavrajust em inglês,significaexato; a marca do cronômetro faz, assim, um jogo de
palavras.
14. Publicidadepara o cronógrafoJust, Lo petiterepublique,12de abril de 1903.
15. NRT. Terroirs:até a revolução de 1789, a Françaera divididaem regiões ou territórios vistos,
cadaum deles, como Pátriapor seushabitantes,que falavamlínguasou dialetosdiferentese não
a "línguafrancesa".O adventoda máquina(trens,vapores,automóveisetc)encurtou asdistâncias
entre asregiões,unificando-as,e foi um dos fatoresque contribuiuparatransformaros habitantes
destesterroirsem habitantesda França.Outro fatordeterminantefoi aobrigatoriedadeda "língua
francesa"como únicaa ser ensinadae faladaem todas as escolasda França,com a ascensãode
jules Ferry como Ministro da InstruçãoPúblicae das BelasArtes no ano de I 879.
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Pro-Posições.v. 14.n. 2 (41)- maio/ago.2003
novamaneiradelidarcomacompreensãodavelocidadeedo tempo:porexem-
plo,osguiasferroviáriosdametadedo século(JOANNE, 1857,p.XII) distin-
guema "pequenà'e a "grandevelocidade"paradiferenciaros trens;ou seja,a
maneiranovadeexprimiravelocidadeemkm/hora,medidaquesetornarápa-
drãoparaauferiravelocidadedeumveículono fim do século.É estaexpressão
ciffada,"km/horà',quepermite,aliás,a condenaçãodo motoristaconsiderado
perigoso,comoodemonstraaprimeiraprisão- efetuadanosbou/evardsparisienses,
em 19deabrilde 1899- deum motoristadirigindoseuveículoà velocidade
"extremà'de60 quilômetrospor horal6.É estaexpressãocifradaquepermite,
também,apreciarasqualidadesdeumveículo,comopôdeservistopelojulga-
mentoa respeitodosengenhosdaSociétél'Energie,consideradosexcepcionaisno
começodoséculoXX: a revistaIa vieaugrandair (6dejulhode1901)exaltaa
velocidadedessesengenhos,apresentandoapenasumúnicoresultado:os51qui-
lômetrosporhoraalcançadosemumaencostade10%deinclinação.A noçãode
velocidade,quesetornouumainevitávelreferênciamaterialeumaindispensável
ferramentamental,só poderiaterconseqüências,inevitáveistambém,sobrea
maneiraderepresentaro corpoedediferenciarassuasqualidades.
Semdúvidaépossível,portanto,falarsobre"modelosdecorpo",mascoma
condiçãodefalaremváriosregistrosdemodelos,comacondiçãodeestudá-Ios
emcamposbemcircunscritose,sobretudo,comacondiçãodesaberdesconfiarde
nossaprópriasensibilidadecontemporânea.
Referênciasbibliográficas
ARIES, P.;MARGOLIN, ].c. (org.).Lesjeuxà IaRenaissance.Paris:Vrin, 1982.
BOURDEILLE, P.de.(diroBrantôme).Oeuvres.Paris,1822(mssdoséculoXVI).
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