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3º bim augusto Imunoparasitologia

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Giardíase – 15/05/16 
Doença causada pelo pequeno protozoário flagelado Giardia intestinalis, que parasita o homem e vários 
animais domésticos ou silvestres (por isso é considerado zoonose pela OMS). Seu ciclo vital apresenta duas 
formas: trofozoíta e oocisto. É um monoxeno, ou seja, necessita de um único hospedeiro para completar seu 
desenvolvimento. 
Morfologia	
A forma trofozoítica apresenta simetria bilateral e contorno piriforme (em forma de pera), com 
achatamento dorso-ventral do corpo e um disco suctorial (área achatada e simétrica) na superfície ventral. 
Sendo a forma patogênica, apresenta 8 flagelos (permite deslocamento rápido), dois axonemas (conjunto de 
microtúbulos que percorrem o corpo longitudinalmente, ajudando a manter sua forma), um par de núcleos (cada 
um com seu cariossomo – massa esférica de cromatina do núcleo celular) e dois corpos parabasais (formações 
paralelas correspondentes ao aparelho de Golgi). 
O oocisto é a forma de resistência eliminada no meio externo, e apresenta 
forma elipsoide ou esférica, com uma membrana externa fina e bem destacada do 
citoplasma. Ele apresenta as estruturas duplicadas em relação ao trofozoíta, ou seja, 4 
núcleos pequenos, aproximadamente circulares e com cariossomo central, além de 4 
grupos de axonemas e 4 corpos parabasais. Os 4 núcleos podem estar reunidos perto 
de um dos polos, ou organizados aleatoriamente nos dois extremos. 
Transmissão,	ciclo	e	patogenia	
A transmissão é feita principalmente por água ou alimentos contaminados com oocistos. As moscas ou 
baratas podem funcionar como veiculadores do parasito, e os animais domésticos também podem contribuir 
para a dispersão do parasita. 
Quando os oocistos são ingeridos, ocorre o desencistamento no intestino (especialmente duodeno) pela 
presença da bile, dando origem ao trofozoíta. Esses parasitas vivem no duodeno e nas primeiras porções do 
jejuno, sendo por vezes encontrados nos condutos biliares e vesícula biliar (pela abundância em fosfolipídios, 
necessários à estrutura da membrana celular, que não são produzidos pela Giardia). Eles aderem à superfície da 
mucosa dessas regiões através do disco suctorial (mecanismo de adesão). Ele realiza sua reprodução 
assexuadamente, através de uma reprodução assexuada longitudinal. Essa divisão é feita até ocorrer a 
transformação do trofozoíta em oocisto, o qual se isola e perde os flagelos, ficando arredondado. 
A patogenia ocorre pela fixação à superfície das células epiteliais da mucosa, já que os trofozoítas têm 
uma ação citotóxica, destruindo os enterócitos. Essas células são substituídas por células imaturas, com menor 
capacidade de absorção. A adesão em grande número à essa superfície ainda produz irritação e impede a 
absorção de gorduras, vitaminas lipossolúveis (A-D-E-K), ácidos graxos, vitamina B12 e ácido fólico. Isso 
ocorre pelas lesões anatomopatológicas provocadas, envolvendo atrofia das vilosidades e dos microvilos, 
consequente redução da área de absorção, e infiltração por linfócitos e outros elementos inflamatórios, com 
aumento da secreção de muco. 
Sintomatologia	
O parasitismo é geralmente assintomático, curando-se espontaneamente em muitos casos. 
Nos casos sintomáticos, o período de incubação costuma ser de uma a três semanas, porém pode 
prolongar-se até 6 meses. Os sintomas dependem da intensidade e extensão da adesão dos trofozoítas, da 
irritação da mucosa e do bloqueio da absorção de nutrientes. Eles envolvem evacuações líquidas ou pastosas, 
número aumentado de evacuações, mal-estar, cólicas abdominais, fraqueza e perda de peso. Os casos mais 
graves ou crônicos geralmente ocorrem em imunodeprimidos, crianças ainda sem imunidade e adultos de países 
não endêmicos, e possuem sua sintomatologia incluindo esteatorreia (fezes amareladas pela alta concentração de 
gorduras), diminuição do apetite, náuseas, vômitos, flatulência, distensão e desconforto abdominal, e cefaleia. 
Diagnóstico	
Os métodos de diagnóstico podem ser feitos pela procura de trofozoítas ou cistos. A pesquisa por 
trofozoítas é feita por exame direto em fezes diarreicas frescas ou com conservantes, coradas por hematoxilina 
férrica. A pesquisa por cistos é feita por exame em fezes formadas, através dos métodos de Faust ou Ritchie, 
corados por lugol e hematoxilina férrica. A coleta do material deve ser feita em dias alternados, sendo repetidos 
várias vezes. 
Ainda pode ser realizado o enteroteste, no qual há coleta do suco duodenal, corado por hematoxilina 
férrica para pesquisa de trofozoítas. 
Epidemiologia	e	profilaxia	
Cosmopolita, mais frequente em países de clima quente ou temperado. Acomete ambos os sexos, com 
maior prevalência em crianças menores de 10 anos, instituições e grupos populacionais que apresentam 
condições higiênicas mais precárias. Os cistos podem permanecer viáveis por vários meses no solo e na água, 
em condições de umidade e temperatura viáveis. 
A prevenção compreende todas as medidas higiênicas recomendadas para controlar propagação de 
agentes infecciosos e parasitários disseminados pelas fezes e mãos sujas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Criptosporidíase – 04/05/16 
Doença intestinal causada pelo Cryptosporidium sp., protozoário coccídio causador de diarreia. Em 
termos de doença humana, não se faz distinção de espécies. As informações sobre essa patologia são limitadas, 
já que a mesma é uma infecção aguda e autolimitada (doença começa e termina rapidamente), o que dificulta o 
seu diagnóstico. Essa doença é considerada uma zoonose, já que os animais são uma importante fonte de 
contaminação. O homem é importante para a contaminação hospitalar e domiciliar. 
A prevalência da criptosporidíase é mundial, e os dois fatores relacionados à sua maior incidência são a 
idade e o estado imune (principal). Assim, a sua prevalência é maior em pacientes portadores de HIV, já que os 
mesmos não possuem um sistema imunológico suficiente para conter a infecção, possibilitando a presença de 
muitos oocistos. 
	 Protozoário	
São organismos unicelulares eucariontes e independentes, ou seja, não necessitam estar em grupo. Cada 
célula consegue se nutrir, locomover e reproduzir. Apesar disso, a reprodução pode ser sexuada, na qual há 
formação de gametas, fecundação e formação de zigoto. Possui um complexo apical, organizado por glândulas e 
microtúbulos que permitem a sua penetração nas células do hospedeiro. Seu ciclo vital apresenta duas formas 
principais: trofozoíta e oocisto. 
Tipos	de	reprodução	
Esse protozoário se reproduz inicialmente por esquizogonia, um processo de reprodução assexuada, a 
qual auxilia no aumento da carga parasitária. Nesse processo, os trofozoítas aumentam o volume do seu 
citoplasma, iniciando a divisão nuclear. A essa estrutura multinuclear, dá-se o nome de esquizonte. Em torno de 
cada núcleo formado, organiza-se uma membrana individualizando células filhas, que se denominam 
merozoítas. Os merozoítas podem reiniciar o ciclo esquizogônico. 
Eles se organizam em grupos dentro de um vacúolo após se 
individualizarem. Quando esse vacúolo se rompe, podem ir para 
determinadas células para se desenvolverem. 
Alguns merozoítas, porém, podem realizar esporogonia, um processo de reprodução sexuada. Nela, 
eles se diferenciam em gametas masculinos e femininos. A união de gametas forma o oocisto, que é liberado na 
luz intestinal. O oocisto maduro contém quatro esporozoítas no seu interior, a forma infectante desse parasito. 
Os esporozoítas são trofozoítas presentes no oocisto. 
Ciclo	vital	
O oocisto do Cryptosporidium apresenta parede dupla como forma de resistência ao ambiente. Ao ser 
ingerido, as enzimas pancreáticas e sais biliares do trato gastrointestinal agem sobre a parede dooocisto, 
provocando desencistamento e liberação de quatro esporozoítas na luz do intestino delgado, principalmente 
jejuno e íleo. Assim que liberados, se fixam à superfície das células epiteliais. Quando ocorre a adesão, eles 
crescem e desorganizam seu núcleo, estimulando as células epiteliais a envolverem esse protozoário em 
processo de esquizogonia. A partir daí, são englobados por uma membrana envoltória, formando um vacúolo 
extracelular chamado de “vacúolo parasitóforo extracitoplasmático”. Esse vacúolo protege o parasito tanto do 
conteúdo e condições do tubo digestivo, como dos processos intracelulares da célula epitelial. Ainda há difusão 
de antígenos por essa membrana, gerando um processo inflamatório. 
Com a reprodução assexuada do protozoário, há a formação de um esquizonte e a liberação de 
merozoítas, que aderem à outras células, podendo reiniciar o ciclo esquizogônico ou iniciar a formação de 
gametas, indo para o ciclo esporogônico. Neste processo, após a fecundação de gametas ocorre a formação de 
oocistos, que são liberados na luz intestinal. Os oocistos de parede espessa são liberados no meio externo 
através das fezes, permitindo posterior infecção. 
Alguns oocistos, ao serem formados, podem possuir sua parede composta por uma membrana simples, 
comportando os quatro esporozoítas. Por ser fina, essa membrana acaba rompendo facilmente, possibilitando 
uma autoinfecção interna. Se acabar rompendo ainda no intestino, são liberados novos esporozoítas, que 
aumentam ainda mais a carga parasitária. 
Transmissão,	patogenia	e	sintomatologia	
A transmissão pode ser fecal-oral (após a ingestão do oocisto com parede espessa), ou por 
autoinfecção, na qual os oocistos de parede delgada liberam esporozoítas diretamente na luz intestinal. Apesar 
da maioria dos oocistos serem muito resistentes, são mais sensíveis que os ovos de helmintos, contaminando 
mais facilmente a água. Essa via de contaminação de coleções hídricas causam surtos epidêmicos. Apesar disso, 
também pode haver por alimentos contaminados, contato direto pessoa a pessoa ou animal e pessoa (já que 
parasita outros animais, como cães e gatos). A eliminação desses oocistos é por água sanitária, formol a 10%, 
congelamento a -20 graus e aquecimento a 65 graus. 
A patogenia está relacionada à mudança na superfície celular, difusão de antígenos pela membrana e 
processo esquizogônico do protozoário, que acabam gerando rompimento da arquitetura intestinal, fusão e 
redução do tamanho dos vilos, alongamento e hiperplasia das criptas, e infiltração na lâmina própria por células 
plasmáticas, linfócitos e polimorfonucleares. Isso gera redução da atividade da lactase e da superfície de 
absorção do epitélio. Como ocorre irritação principalmente na região de jejuno e íleo (principal absorção de 
água), ocorre perturbação do metabolismo hídrico. Ainda pode haver envolvimento das vias biliares, agravando 
a sintomatologia e aumentando a tendência à cronicidade, dificultando o tratamento. 
A sintomatologia e severidade da doença são determinadas pela competência imunológica do paciente, 
já que o sistema imune eficiente é necessário para a recuperação. Assim, pacientes com deficiências 
imunológicas reversíveis se recuperam quando desaparece a causa de imunossupressão. 
Nos pacientes imunocompetentes, ocorre uma diarreia autolimitada e de curta duração (dura entre 1 a 
4 dias), podendo haver sintomas associados, como a intolerância transitória à lactose e má absorção de gordura. 
A diarreia ocorre pela hipersecreção de fluidos e eletrólitos do intestino delgado proximal no lúmen, gerando a 
perda proteica e má absorção lipídica e glicídica. 
Nos pacientes imunodeprimidos, como a carga parasitária é excessiva pelo não eficiente sistema 
imune, os sintomas são mais duradouros e extensos, levando a uma diarreia crônica, persistente e aquosa, com 
cólicas, náuseas, vômitos, febre, mal-estar, desidratação e perda de peso. Os oocistos são excretados de forma 
persistente, até 8 semanas. 
 
Diagnóstico	e	tratamento	
O diagnóstico é feito pelo esfregaço da amostra de fezes na lâmina (exame direto, para detectar formas 
exógenas) ou por biópsia (para detectar formas endógenas). As técnicas de coloração se baseiam na propriedade 
álcool-ácido resistente da parede dos oocistos, apresentando razoável sensibilidade. As colorações mais usadas 
são a de safranina (mais comum, onde oocistos são visualizados numa coloração avermelhada, enquanto todo o 
resto é visualizado numa coloração esverdeada ou azulada), Ziehl-Nielsen, Ziehl-Nielsen modificado, Kinyoun 
ou laranja de acridina. Pelo menos três amostras de fezes deverão ser examinadas em um período de três a 
quatro dias. 
A terapia anti-retroviral potente é a mais efetiva intervenção para o controle da criptosporidíase em 
pacientes com HIV. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução a virologia – 15/05/16 
• O vírus faz replicação celular, havendo necessidade de um aparato celular. 
• Não podem ser cultivados em meios artificiais, pois são obrigatoriamente intracelulares. 
• Contém apenas 1 tipo de ácido nucléico (ou DNA ou RNA) 
• No ambiente, os de transmissão fecal-oral costumam durar mais, assim como os de transmissão 
hídrica 
• São estruturas muito simples, não possuem organelas 
• A célula atingida é destruída mais cedo ou mais tarde. Eles se liberam das células por lise ou 
brotamento 
 
ESTRUTURAS VIRAIS: 
• Ácido nucléico = programa as células infectadas para sintetizarem macromoléculas específicas do 
vírus. Pode ser de DNA ou RNA, fita simples ou dupla, circular ou linear, segmentada ou não. 
• Vírus RNA positivo = é infeccioso e a molécula funciona como RNAm 
• Vírus RNA negativo = não é infeccioso. Os vírions transportam uma RNA polimerase que 
transcreve as moléculas de RNA do genoma em várias moléculas complementares de RNA, e 
cada uma pode atuar como RNA mensageiro. 
• Capsídeo = envoltório protéico que protege o material genético. É formado por capsômeros. Podem 
ter formato icosaédrico ou helicoidal. O icosaédrico é mais eficaz para as subunidades. No 
helicoidal, a a estrutura helicoidal está periodicamente ligada ao ác. nucléico. 
• Espículas = projeções de glicoproteínas que auxiliam na absorção e induzem a formação de 
anticorpos. Estão presentes nos capsídeos. 
• Estrutura binária ou complexa, típica dos vírus bacteriófagos. 
• Envelope = membrana lipídica adquirida durante a maturação, por brotamento. As glicoproteínas 
codificadas pelos vírus fiam na superfície deste envelope (peplômeros). A vantagem é que há 
proteção, porém a desvantagem é que ocorre estímulo à produção de anticorpos. 
• Enzimas = iniciam o processo de replicação (transcriptase associada ao genoma). 
• Vírion = partícula viral complexa. Possui capacidade de infectar (transfere o ac nucléico viral de 
uma célula para outra). 
 
PRION 
• Proteína com poder infectante 
• Elementos subvirais, compostos por proteínas, sem material genético. São muito resistentes à 
inativação física e química. 
• Função = modificam outras proteínas celulares, inativando enzimas celulares. 
• Há formação de vacúolos no tecido nervoso, tornando-o esponjoso. 
• A célula acabada sofrendo autólise. 
ASPECTOS GERAIS DOS VÍRUS: 
1 ADSORÇÃO = mediada por receptores da célula (forte, específica e irreversível), ou então mediada 
por cargas. A susceptibilidade celular se dá pela presença ou não de um receptor. 
2 PENETRAÇÃO = endocitose de vírus envelopados e não envelopados e difusão de membrana dos 
vírus envelopados. A translocação é a indução de uma protease celular a abrir um espaço na 
sua membrana para que haja penetração. 
3 DECAPSIDAÇÃO ouDESNUDAÇÃO = vírus de DNA vão para o DNA celular (esceto o 
coxivírus), eos vírus de RNA ficam no citoplasma, sendo então liberados do seu capsídeo. 
4 TRANSCRIÇÃO / TRADUÇÃO (eclipse) = produção de proteínas virais, sendo que há dependência 
da polaridade do RNA. 
5 MONTAGEM ou MATURAÇÃO 
6 LIBERAÇÃO ou SAÍDA VIRAL 
a por lise - não envelopados 
b por brotamento - envelopados por membrana celular 
c por exocitose - envelopados por membrana interna 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rotavirose – 29/06/16 
Os rotavírus representam a mais importante causa de gastroenterite grave na infância (diarreia infanto-
juvenil) através do mundo, sendo responsáveis por cerca de 50% de todos os casos de diarreia em crianças que 
necessitam de hospitalização devido à desidratação. Além disso, se associam a 20% de todos os óbitos por 
diarreia entre crianças com idades inferiores a 5 anos. É mais expressivo em crianças entre 6 meses e 2 anos de 
vida. A partir daí, como exposições sucessivas levam a uma imunidade crescente, ocorre redução do número de 
casos gradativamente até a vida adulta. O acesso a uma vacina eficaz é o único recuso à sua profilaxia. 
O	agente	etiológico	
Pertencem ao gênero Rotavirus, da família Reoviridae. Eles exibem uma estrutura icosaédrica típica, 
integrada por três camadas proteicas: capsídeo externo, capsídeo interno e core viral (envolvido pelo capsídeo 
duplo). O core viral está intimamente associado ao genoma RNA negativo de dupla fita, com 11 segmentos. 
Cada um desses segmentos regula a síntese de uma proteína viral, com exceção do segmento 11, que codifica 
dois polipeptídeos distintos. 
Em conjunto, identificam-se seis proteínas estruturais (VP1, VP2, VP3, VP4, VP6 e VP7) e cinco 
proteínas não-estruturais (NSP1, NSP2, NSP3, NSP4 e NSP5). 
Ø As proteínas estruturais VP4 (sensível à protease) e VP7 (glicoproteína ou antígeno G) constituem o 
capsídeo externo do vírus (projeções da partícula completa), e são reconhecidas como indutoras de 
anticorpos neutralizantes. 
Ø A proteína estrutural VP4 ainda sofre clivagem no intestino delgado pela tripsina pancreática, 
desdobrando-se nos componentes antigênicos VP5 e VP8, subunidades proteicas associadas à virulência 
dos rotavírus, já que desencadeiam o processo de penetração viral na célula. 
o Essa proteína foi a primeira vista com possibilidade produtora de vacina contra os rotavírus, 
porém ocorreram problemas de testagem nos quais muitos indivíduos desenvolveram 
“intussuscepção intestinal”, caracterizado pela entrada de um segmento de alça intestinal em um 
segmento de outra alça, podendo gerar obstrução intestinal. 
Ø A proteína estrutural VP6 é o componente dominante do capsídeo interno, sendo responsável por 
classificar e diferenciar os 7 sorotipos dos rotavírus (A, B, C, D, E, F e G). O sorotipo A é o de 
importância epidemiológica, sendo assim foco das estratégias de vacinação. 
Ø A proteína não-estrutural NSP4 (produto do gene 10) possui um potencial enterotoxigênico, 
desencadeando um processo diarreico secretório (explicado mais adiante). Essa proteína também age 
nas células não infectadas, estimulando nessas células um processo secretório, estendendo o quadro 
diarreico durante a infecção. 
Transmissão	e	epidemiologia	
A transmissão é fecal-oral, com alta excreção de partículas virais nas fezes, por água ou alimentos, 
contato pessoa a pessoa, ou por objetos contaminados. Em geral, não se mantém ativo em água límpida por ser 
inativado pelos raios ultravioleta. Possui elevado potencial disseminador pela capacidade de aumento de 
virulência (por modificações genômicas). 
É uma doença democrática (ocorre mundialmente, tanto em países desenvolvidos como 
subdesenvolvidos), porém com impacto maior nas regiões menos desenvolvidas do planeta. Sua incidência 
aumenta em conglomerados urbanos, pela maior facilidade de infecção em ambientes com maior densidade 
populacional. Nos países de clima temperado, possui maior expressão nos meses mais frios. Já nos países de 
clima tropical e subtropical, as infecções ocorrem ao longo de todo o ano. 
Replicação	e	patogenia	
Os rotavírus são dotados de tropismo celular específico, infectando primariamente os enterócitos 
diferenciados que integram o topo das microvilosidades do intestino delgado, particularmente do jejuno. O 
processo infeccioso ocorre no sentido cefalo-caudal, ou seja, desde o segmento proximal do intestino delgado 
até o íleo. Assim, as partículas virais fixam-se a receptores específicos na superfície desses enterócitos, havendo 
penetração na célula pelas proteínas VP4 e VP7. A penetração na célula garante a desnudação, ou seja, perda do 
capsídeo externo. 
A clivagem proteolítica do capsídeo externo (VP4 clivada pela tripsina pancreática) ativa o vírus e 
produz uma partícula subviral intermediária/infecciosa. Essa partícula ativa a RNA-transcriptase, que irá 
transcrever moléculas de RNAm de cada filamento negativo do RNA de dupla fita do genoma viral. Assim, há 
tradução das proteínas estruturais e não-estruturais. Segue-se a maturação intracelular de partículas complexas 
mediadas pela NSP4 intracelular. A partir daí, ocorre citólise e liberação dessas partículas virais complexas. 
Esse processo de lesão tecidual gera achatamento e atrofia das vilosidades, hiperplasia das criptas para 
substituição de células lesadas (sendo substituídas por enteroblastos), dilatação mitocondrial e infiltração da 
lâmina própria com células mononucleares. A extensa lesão celular compromete a absorção de sais e água, e 
diminui expressivamente o nível das dissacaridases (levando ao acúmulo de carboidratos presentes no lúmen 
intestinal pela sua deficiente absorção). Isso gera uma diarreia osmótica. 
A proteína NSP4 funciona como enterotoxina e, quando liberada após a lise dos enterócitos 
diferenciados, se liga a “receptores de integrina”, presentes na superfície de outras células não-infectadas. Essa 
ligação gera desestabilização da membrana dessas células, aumento das concentrações de cálcio intracelulares, e 
consequente efluxo exacerbado para o lúmen intestinal de íons cloreto e água, gerando uma diarreia secretória. 
Além disso, o enterócito infectado, por ação da NSP1, NSP4 e VP4, produz citocinas, prostaglandinas e 
óxido nítrico, todos indutores de resposta inflamatória. As prostaglandinas e óxido nítrico promovem 
despolarização de neurônios, o que ativa o sistema nervoso entérico e, assim, aumenta a secreção de água e 
eletrólitos, o que pode levar a uma acidose metabólica. 
Resumindo os mecanismos da diarreia: 
Ø Osmótico à Por lise de enterócitos, ocorre redução da absorção de água e eletrólitos e depressão das 
dissacaridases, o que aumenta a concentração de carboidratos no lúmen intestinal, gerando diarreia por 
um mecanismo osmótico clássico. 
Ø Secretor à Por ação de NSP4, os enterócitos não infectados têm suas membranas desestabilizadas, 
aumento de cálcio intracelular e consequente aumento da secreção de água e íons cloreto, gerando 
diarreia por um mecanismo secretor. 
Ø Neuronal à Por liberação de citocinas, prostaglandinas e óxido nítrico, ocorre ativação do sistema 
nervoso entérico, aumentando a secreção de água e eletrólitos e, assim, gerando diarreia. 
Essa diarreia pode ser corrigida pela menor ingestão de alimentos ricos em carboidratos, por 
hiperventilação e por formação de novo bicarbonato nos rins. 
Manifestações	clínicas	
Em geral possui caráter assintomático nos neonatos pela presença de anticorpos ainda maternos, e pela 
imaturidade anatomo-fisiológica intestinal (vírus tem tropismo por células diferenciadas). A sintomatologia 
varia desde formas subclínicas até gastroenterites graves, em vezes fatais.Com período de incubação de 1 a 4 dias, os sintomas envolvem diarreia aquosa e não sanguinolenta por 
3 a 8 dias, dor abdominal e vômitos. Ocorre excreção de partículas virais antes do início da doença e mesmo 
após a resolução clínica (ocorre de 8 a 10 dias). O combate à infecção é feito por linfócitos T CD8 e células NK, 
que lutam contra o vírus e realiza lise de células infectadas. Por essa característica, é gerado um quadro de 
imunidade duradoura pela criação de memória. Nos casos mais graves de desidratação, ocorre acidose 
metabólica, podendo chegar a choque e, nos piores casos, óbito. 
Diagnóstico	
Não é feito com frequência. O exame laboratorial é fundamental para definição etiológica. Na pratica 
clínica, a detecção dos rotavírus ou de seus antígenos nas fezes leva a uma conduta terapêutica adequada, 
minimizando-se a antibioticoterapia ainda tão usada. Já que esses vírus são liberados em altíssimas 
concentrações nas fezes durante a fase aguda da doença (até 4 dias), pode ser feita a detecção facilmente através 
da microscopia eletrônica (padrão-ouro). Ainda pode ser feito ensaio imunoenzimático através do teste de 
ELISA, para detectar elevações nos títulos de anticorpos para a proteína VP6 do sorotipo A. 
Tratamento	e	prevenção	
O objetivo principal nessas infecções é repor líquido e eletrólitos, sendo utilizada a “terapia de 
reidratação oral” (TRO). Ela é administrada lentamente, minimizando a frequência de vômitos. A reidratação 
parenteral é realizada nos quadros mais graves, com hipovolemia, choque, coma ou acentuada debilidade que 
inviabilize a TRO. Em crianças, o aleitamento materno deve ser mantido. O acesso a uma vacina eficaz é o 
único recuso à sua profilaxia. Ela é feita aos 2 meses e aos 4 meses, não podendo ser administrada 
posteriormente. Como qualquer vírus de RNA pode sofrer mutações em epítopos, a vacina deve ser reavaliada e 
modificada, para então poder ter sua eficácia mantida ao longo do tempo. 
Outros	vírus	entéricos	de	importância	médica	–	Adenovírus,	Astrovírus	e	Norovírus	
Adenovírus	
Apresentam estrutura icosaédrica, são não-envelopados, e possuem genoma DNA de fita dupla, com 
ampla gama de receptores. A evolução depende do hospedeiro, da dose infectante e da idade. Não sofrem 
modificações genômicas facilmente, como os vírus de RNA. Podem causar tanto infecções entéricas como em 
outras regiões, como olhos, pulmões, em paralisias flácidas, agudas e encefalites. 
Patogenia	e	transmissão	
Os sorotipos associados à infecção entérica são o 40 e 41, e mais recentemente o 50 e 51 associados aos 
imunodeprimidos. Produz lesões no trato gastrointestinal por uma proteína chamada penton citotóxica, o que 
leva à atrofia das vilosidades intestinais de hiperplasia compensatória das criptas, o que diminui a absorção 
intestinal e promove perda de fluidos. A doença causada por esse vírus está associada à febre alta e desidratação. 
A transmissão pode ser direta ou indireta, através de aerossóis, secreções oculares e respiratórias, ou 
por via fecal-oral no caso de adenovírus entéricos. 
Tratamento	e	epidemiologia	
O tratamento é feito por reidratação e reposição de eletrólitos. 
Em relação à epidemiologia, as taxas de adenovírus isolados de amostras de crianças com diarreia 
aguda variam em todas as partes do mundo. 
Astrovírus	
Não possui origem bem determinada, bem como não se conhece os receptores utilizados pelos mesmos. 
É um vírus de RNA de fita simples com polaridade positiva, simetria icosaédrica e não-envelopado. Acomete 
crianças de 4 a 10 anos, podendo acometer também outros grupos etários. 
A patogenia não está totalmente esclarecida, havendo sugestões de replicação viral nas células 
epiteliais das vilosidades (semelhante aos rotavírus), causando dano às células. Sua transmissão é fecal-oral, e 
o tratamento também é feito por reidratação e reposição de eletrólitos. 
Norovírus	
Vírus de RNA fita simples, com polaridade positiva, simetria icosaédrica e não-envelopado. É principal 
responsável por infecções em navios, sendo um grupo de vírus que pode afetar o estômago e o intestino, 
causando gastroenterite em seres humanos. A gastroenterite causada pelos norovírus pode ser chamada de 
“infecção calicivírus” ou “intoxicação alimentar”, apesar de nem sempre ter relação com alimentos. 
Patogenia	e	transmissão	
Sua patogenia é representada pelo dano à parede intestinal, o que prejudica a absorção apropriada de 
água e nutrientes, causando uma diarreia aquosa. Há atrofia das vilosidades, desorganização das células 
epiteliais, baixa da atividade enzimática intestinal e infiltrados de células mononucleares. Pode haver retardo no 
esvaziamento gástrico, causando vômito. 
Apesar de pouco conhecido do público, este vírus tem sua transmissão fecal-oral, através de água e 
alimentos contaminados. Também pode ocorrer transmissão de pessoa a pessoa. 
Tratamento	e	epidemiologia	
Apesar da doença regredir após 48 horas, o tratamento é feito por reidratação e reposição de eletrólitos. 
A excreção viral pode continuar por 2 semanas após o encerramento dos sintomas. 
Em relação à epidemiologia, diferentemente dos outros vírus causadores de gastroenterites, os 
norovírus afetam com frequência indivíduos adultos, estando intimamente associados a surtos em locais 
confinados ou de contato próximo, como em navios, asilos e ambientes hospitalares. Além disso, é um 
importante causador de gastroenterites não bacterianas no Brasil. Pela rápida transmissão, possui difícil 
controle. 
 
Enteroviroses – 29/06/16 
Os enterovírus humanos são vírus de transmissão predominantemente entérica, presentes em todas as 
partes do mundo e sendo um dos agentes mais prevalentes entre os causadores de doenças em seres humanos. O 
trato alimentar é o sítio predominante da replicação viral. Logo, esses vírus não estão comumente associados a 
infecções entéricas, ou seja, os agentes etiológicos produzem doenças com localização extra-intestinal. 
Apesar da maioria das infecções serem inaparentes, ou seja, não produzirem sintomatologia, os 
enterovírus podem causar um largo espectro de doenças, podendo afetar diversos tecidos. Alguns exemplos são 
a doença mão-pé-boca, poliomielite, miocardite, meningite asséptica e conjuntivite. Cada síndrome pode ser 
causada por diferentes enterovírus, e o mesmo enterovírus pode causar diferentes síndromes. Quadros graves 
envolvendo o sistema nervoso central incluem de 1 a 2% dos casos. 
Classificação	e	propriedades	da	partícula	viral	
O gênero enterovírus é classificado dentro da família Picornaviridae, consistindo em agentes virais que 
podem infectar humanos e animais. Os enterovírus humanos incluem os poliovírus (3 sorotipos), 
coxsackievírus do grupo A (23 sorotipos), coxsackievírus do grupo B (6 sorotipos) e echovírus (28 
sorotipos). O poliovírus foi primeiro a ser reconhecido, servindo de modelo para os outros. 
Os enterovírus possuem uma estrutura genômica composta por RNA de fita única com polaridade 
positiva, que determina o próprio peso molecular. São vírus pequenos, esféricos e não-envelopados, e carregam 
uma proteína covalentemente ligada na sua extremidade. Possuem um capsídeo de simetria icosaédrica, 
constituído com 60 cópias de cada uma das 4 proteínas denominadas VP1, VP2, VP3 (as três na superfície do 
RNA) e VP4 (no cerne do RNA). 
Replicação	viral	
A primeira etapa é a adsorção, seguida de penetração. No interior da célula hospedeira ocorre a perda do 
capsídeo. As enzimas celulares removem a proteína VPg do RNA viral. O RNA, agindo como RNAm, é 
traduzido sem interrupção em uma única poliproteína, que é clivada autocataliticamente nos intermediários P1, 
P2 e P3. Todo esse processo ocorre no retículo endoplasmático liso da célula. 
Ø P1 é clivado para produzirinicialmente VP0 (codifica VP2 e VP4), VP1 e VP3. 
Ø P2 codifica as três proteínas não-estruturais, sendo uma com atividade de protease. 
Ø P3 codifica quatro proteínas incluindo a RNA polimerase, necessária para a replicação do RNA. 
Propriedades	físicas	e	químicas	
O vírion maduro é uma partícula estável e resistente a todos os antibióticos e agentes quimioterápicos 
conhecidos. São resistentes também a detergentes fortes, enzimas proteolíticas, pH ácido, álcool 70%, lysol 5%, 
éter e deoxicolato. Portanto, sobrevivem ao tratamento de água e esgoto, e ainda à cloração. Apesar disso, 
raramente ocorrem surtos veiculados pela água, já que geralmente são inativados por luz ultravioleta. São 
relativamente sensíveis ao calor. 
O cloreto de magnésio consegue estabilizar o vírus atenuado para ser utilizado em vacinas orais. Os 
enterovírus podem ser inativados também por secagem, calor extremo (50oC por 1 hora, exceto se estabilizado 
por cloreto de magnésio), luz ou por agentes químicos halogenados. 
Patogenia	e	imunidade	
A porta de entrada para a maioria dos enterovírus é o trato respiratório superior, geralmente através da 
ingestão de água, hortaliças ou alimentos contaminados. Alguns enterovírus possuem outras rotas de infecção, 
como a via aerossol através de secreção contaminada, ou por meio de secreções oculares. O período de 
incubação varia, podendo ser desde 12 horas até 2 semanas. A replicação e viremia devem ocorrer durante o 
período de incubação, ou seja, antes do desenvolvimento da doença. 
O vírus infecta a mucosa da faringe e/ou intestino, ganha a corrente sanguínea, passa pelo sistema 
retículo-endotelial e chega aos órgãos alvos específicos, como as meninges, coluna espinhal, miocárdio e pele. 
Os vírus são excretados nas fezes por volta de 30 dias após o inicio da doença, e estão presentes na faringe por 1 
a 2 semanas após a infecção. 
Ø Poliovírus e echovírus têm tropismo para o cérebro, podendo causar encefalites e paralisias. 
Ø Poliovírus, echovírus e coxsackievírus têm tropismo para as meninges, podendo causar meningites. 
Ø Echovírus, coxsackievírus A e EV71 têm tropismo para a pele, podendo causar exantemas e doença 
mão-pé-boca. 
Ø Echovírus e coxsackievírus A e B têm tropismo para músculo, podendo causar miocardite, pericardite e 
pleurodonia. 
A resposta humoral é essencialmente importante, o que se demonstra pela ocorrência de infecções 
persistentes em pacientes com hipogamaglobulinemia e severidade das doenças em crianças recém-nascidas. As 
infecções pelos enterovírus são geralmente seguidas por uma boa resposta imunológica por parte do hospedeiro. 
A imunidade é tipo-específica, e por isso um mesmo indivíduo pode apresentar, durante a vida, sucessivas 
infecções por diferentes tipos sorológicos do vírus. 
Síndromes	clínicas	
Poliomielite	
A poliomielite (paralisia infantil) é uma doença infecciosa de caráter agudo que ocorre seguida a uma 
infecção causada por qualquer um dos três sorotipos de poliovírus. 
Patogenia	
O trato respiratório superior, particularmente a orofaringe, é a porta de entrada para a maioria dos 
enterovírus. O trato alimentar inferior pode ser infectado porque os enterovírus podem sobreviver ao meio ácido 
gástrico e ao meio alcalino duodenal. A replicação ocorre na orofaringe ou nas placas de Peyer, e pode ocorrer 
durante o período de incubação, ou seja, antes do desenvolvimento da doença. Os vírus podem ser isolados da 
faringe durante a primeira semana da instalação do quadro inicial e das fezes até 4 a 6 semanas após o 
aparecimento da doença. 
A viremia primária é a disseminação do vírus pelo sangue após replicação inicial para o sistema 
retículo-endotelial. A viremia secundária é a disseminação para os tecidos alvo os quais os vírus possuem 
tropismo. A chamada etapa neurológica ocorre em 1 a cada 1000 indivíduos, e é caracterizada pela invasão do 
sistema nervoso central por via neural ou hematogênica. Os neurônios motores apresentam receptores 
específicos para que ocorra a adsorção do vírus. Há proliferação intraneural, sendo a clínica dependente do 
número de neurônios motores agredidos. A resposta imunológica inibe a proliferação, e alguns neurônios 
conseguem recuperar suas funções, o que explica a regressão de algumas paresias. 
Quando um indivíduo suscetível é exposto a um poliovírus selvagem, a resposta pode ser: 
Ø Infecção inaparente (90-95%): Vírus podem ser encontrados na garganta e/ou nas fezes, porém o 
paciente é assintomático. 
Ø Doença menor/abortiva (4-8%): Quadro com febre, náuseas, vômitos e infecção respiratória 
semelhante à gripe. Não há pleocitose do líquor e nem envolvimento do sistema nervoso central. 
Ø Meningite asséptica ou poliomielite não-paralítica (1-2%): Sinais prodrômicos compatíveis com a 
doença abortiva, seguido por invasão viral do sistema nervoso central, o que causa doença similar à 
meningite asséptica. As manifestações da doença abortiva são mais graves, com dor e rigidez de nuca, e 
dores musculares. Hiperestesias (excesso de sensibilidade) e parestesias (sensação anormal e 
desagradável sobre a pele que assume diversas formas, como queimação, coceira e dormência) indicam 
o envolvimento dos neurônios antes da paralisia. Há o aumento da celularidade do LCR nessa doença. 
Ø Poliomielite paralítica (0,01-2%): Critérios clínicos do diagnóstico da poliomielite. Ocasionalmente 
precedida por manifestações da doença menor e maior, seguida de dor, espasmo, fasciculação, 
hiperestesia de grupos musculares e posteriormente paralisia periférica. A paralisia ocorre em 1 a 2 dias 
ou pode preceder de fraqueza muscular, acompanhada de redução dos reflexos tendinosos. A paralisia 
pode assumir forma espinhal ou bulbar. 
o Na forma espinhal, a paralisia é assimétrica e envolve qualquer grupo muscular inervado pelos 
neurônios motores, podendo causar monoplegia, paraplegia ou quadriplegia. 
o Na forma bulbar, a paralisia ocorre com músculos inervados por nervos cranianos, com distúrbios 
respiratórios e circulatórios, dificuldade de deglutição e acúmulo de secreções. 
O diagnóstico de poliomielite deve ser suspeitado sempre que houver paralisia flácida de surgimento 
agudo, com diminuição ou abolição dos reflexos tendinosos. O exame do líquor é um recurso diagnóstico 
importante, porém o diagnóstico de certeza é dado pela detecção do DNA viral ou do próprio vírus, a partir dos 
fluidos corporais. 
Vacinação	
O poliovírus é o único enterovírus contra o qual há vacina. Apesar das boas condições de higiene e 
sanitárias serem essenciais para limitar sua disseminação, a prevenção específica é feita somente com vacinação. 
A vacina de poliomielite inativada (IPV – Salk) é constituída de partículas virais inativadas, podendo 
induzir níveis adequados de anticorpos séricos, conferindo imunidade humoral satisfatória. Como essa vacina 
não contém vírus vivos, ela não pode sofrer mutações (não aumenta a neurovirulência) e é segura para ser 
administrada em imunodeficientes, seus familiares e contatos, e para indivíduos em tratamento com drogas 
imunossupressoras. Ela oferece possibilidade de ser combinada com outras vacinas injetáveis, como a DPT. 
 Por não induzir imunidade local (intestinal) satisfatória, o poliovírus selvagem consegue se replicar no 
seu sítio e, mesmo não sendo capaz de desenvolver doença, é excretado nas fezes, o que pode ser fonte de 
infecção para outras pessoas. Além disso, é uma vacina de alto custo, principalmente para países em 
desenvolvimento, onde um grande número de crianças precisa receber múltiplas doses da vacina sob a forma 
injetável. 
A vacina oral atenuada trivalente para pólio (OPV) é constituída de variantes atenuadas de cada um 
dos três sorotipos de poliovírus, sendo feita a partir de precursores selvagens.É mais largamente usada pela 
grande facilidade de administração pela via oral, seu baixo custo, sua capacidade de induzir à produção de 
anticorpos não apenas séricos, mas também uma resistência intestinal, e rapidez com que as pessoas vacinadas 
desenvolvem uma longa imunidade. Há também disseminação do vírus pela população, imunizando pessoas 
não vacinadas (imunização indireta). Apesar de muito raro, indivíduos vacinados podem adquirir poliomielite 
paralítica associada à administração da vacina pela possibilidade de mutações. 
 
Doenças	exantemáticas	
A síndrome exantemática mais conhecida causada pelos enterovírus é a doença mão-pé-boca, 
associada aos enterovírus 71 e coxsackievírus A16. As crianças na faixa etária de 1 a 5 anos são o principal 
grupo de risco. O quadro típico é caracterizado pelo aparecimento de múltiplas lesões maculares avermelhadas e 
discretas, localizadas principalmente na palma das mãos, sola dos pés, cavidade oral anterior, superfície ventral 
dos dedos das mãos e dos pés, e nádegas (lesões nas nádegas praticamente confirmam o diagnóstico). A 
síndrome pode ser completa ou incompleta com manifestação das mãos, pés ou boca somente, ou uma 
combinação destas. 
Rashes são muito comuns em infecções por enterovírus. Essas manifestações possuem curso transiente e 
são geralmente benignas. O echovírus sorotipo 9 causa frequentemente um exantema maculopapular pequeno 
que muito se confunde com rubéola. Já o echovírus sorotipo 16 causa um rash “roseoliforme” que somente 
aparece quando a febre está na sua fase de declínio. 
Doença	febril	aguda	inespecífica	
Enterovírus não-pólio são a causa mais comum de doenças febris sem causa aparente. Durante os meses 
de verão e outono, são responsáveis por cerca de 53-63% desses casos. A febre é, muitas vezes, o único achado, 
enquanto algumas crianças podem também apresentar irritabilidade, vômito, diarreia e exantemas. A 
recuperação é feita em 2 a 10 dias sem complicações. 
 Vantagens Desvantagens 
VIP 
Imunidade humoral satisfatória 
Pode ser incorporada à vacina DPT 
Não sofre mutações (ausência de vírus vivo) 
Pode ser empregada em imunodeficientes 
Necessidade de múltiplas doses para reforços 
Custo elevado 
Não induz imunidade intestinal (fonte de infecção) 
VOP 
Imunidade humoral e resistência intestinal 
Mais facilmente administrada 
Mais econômica 
Capaz de gerar imunização indireta 
Possibilidade de mutações (vírus vivo) 
Contraindicada para imunodeficientes 
Problemas de conservação em áreas tropicais 
Miopericardite	
Infecção causada por coxsackievírus do grupo B, caracterizada pela infiltração do coração por células 
inflamatórias. Pode haver considerável destruição do tecido cardíaco, o que resulta em anormalidades cardíacas 
persistentes ou mesmo em morte em um número significativo de pacientes. Os adolescentes e adultos jovens são 
o principal grupo de risco, sendo a incidência maior em homens. 
Dois terços dos pacientes apresentam sinais de infecção febril do sistema respiratório superior que 
precedem a miocardite franca que pode incluir febre, dor torácica, intolerância ao exercício físico, taquicardia 
e dispneia, além de sintomas de falha ventricular. 
Conjuntivite	hemorrágica	aguda	
Altamente contagiosa, possui um período de incubação curto (12 a 48 horas), e precede um súbito 
desenvolvimento uni ou biocular de irritação, sensação de corpo estranho, ardência, dor, vermelhidão, 
lacrimejamento e inchaço periorbital. A hemorragia suborbital está presente em 95% dos casos, e os sintomas 
desaparecem entre 7 e 10 dias. 
Infecções	neonatais	
Neonatos correm o risco de sofrer doenças sérias e muitas vezes fatais. Pode ocorrer durante o período 
pré-natal (via transplacentária), durante o parto (por contaminação fecal do canal do parto) ou, mais 
frequentemente, durante o período pós-parto, até mais ou menos 10 dias após o nascimento. Os coxsackievírus 
do grupo B e certos echovírus são responsáveis pela maioria das infecções neonatais. 
Epidemiologia	
Não se conhece qualquer hospedeiro ou reservatório além do homem e, apresar dos enterovírus 
possuírem distribuição mundial, vários fatores incluindo idade, sexo e condições socioeconômicas têm efeitos 
previsíveis. Um dos determinantes mais importantes da infecção pelos enterovírus é a idade. Diferentes grupos 
etários apresentam diferentes suscetibilidades à infecção, severidade da doença, manifestações clínicas e 
diagnóstico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Leishmaniose Tegumentar Americana – 06/07/16 
Leishmaníases	
Os parasitos do gênero Leishmania, transmitidos ao homem por insetos flebotomíneos (ou 
flebótomos) nas regiões quentes do Velho e Novo Mundo, determinam infecções denominadas 
leishmanioses ou Leishmaníases, que afetam particularmente o sistema fagocítico mononuclear. 
Agente	etiológico	
Os protozoários que causam as leishmanioses são flagelados da família Trypanosomatidae e 
gênero Leishmania. As espécies desse parasito ainda são divididas em dois subgêneros: Leishmania, 
no qual a reprodução ocorre nos intestinos médio e anterior, e Viannia, no qual há uma fase adicional 
de desenvolvimento no intestino posterior. 
Várias são as espécies que podem causar leishmaniose, das quais pelo menos 13 estão 
associadas à doença humana. Existem espécies dermotrópicas (possuem tropismo por pele e mucosas, 
desenvolvendo a “leishmaniose tegumentar americana”) e espécies viscerotrópicas (possuem tropismo 
para as vísceras, desenvolvendo a “leishmaniose visceral americana”, ou “calazar”). Apesar disso, a 
falha capacidade de defesa do organismo pode fazer com que espécies que não são habitualmente 
viscerotrópicas possam eventualmente causar formas viscerais, e vice-versa. 
Características	do	parasita	
A leishmânia é um parasito heteroxeno, cujo ciclo vital se passa em um hospedeiro vertebrado 
e um invertebrado. A fase do ciclo de vida do parasita define sua forma estrutural. A semelhança entre 
as formas é a presença de um complexo flagelar e do cinetoplasto, que consiste em uma mitocôndria 
modificada que contém uma grande quantidade de DNA. 
A forma amastigota é arredondada, pequena e intracelular, provida de flagelo rudimentar não 
exteriorizado e um cinetoplasto situado próximo ao núcleo, quase sempre tangente a ele. Essa forma 
está presente dentro de vacúolos de células fagocitárias de vertebrados, sobretudo macrófagos. 
A forma promastigota é alongada e extracelular, provida de flagelo exteriorizado e um 
cinetoplasto situado próximo da extremidade anterior. Essa forma está presente e se desenvolve no 
tubo digestivo do inseto vetor. 
Ciclo	de	vida	
O vetor infectado precisa de sangue para a oviposição. A saliva do flebotomíneo é altamente 
proteolítica e anticoagulante e, quando injetada no tecido, causa sangramento dos capilares, permitindo 
alimentação. Durante sua alimentação, esse vetor regurgita parte do conteúdo do seu tubo digestivo, e 
assim transmite os promastigotas metacíclicos (infectantes) ao hospedeiro vertebrado. As formas 
promastigotas são rapidamente fagocitadas pelas células de defesa (após reconhecimento de moléculas 
de superfície do parasita pelos receptores da célula do hospedeiro), especialmente macrófagos, e 
dentro de um vacúolo (fagossomo), se transformam em amastigotas. Essa forma intracelular se divide 
por divisão binária até que, pela sua quantidade, promova lise do macrófago parasitado. Após 
liberados no meio extracelular, infectam outros macrófagos. 
Quanto o inseto vetor (flebotomíneo) pica o hospedeiro vertebrado infectado, ingere uma 
pequena quantidade de sangue com macrófagos contendo amastigotas. No tubo digestivo do vetor, os 
amastigotas se transformam em promastigotas e, após aderirao epitélio intestinal, diferenciam-se em 
promastigotas metacíclicos, completando o ciclo. 
Vetor	
Os insetos vetores das leishmaníases são dípteros da família Psychodidae, e subfamília 
Phlebotominae. Eles são pequenos, muito pilosos, e cor de palha ou castanho-claros. Possuem voo 
crepuscular e curto e, durante o pouso, mantém suas asas em posição vertical característica 
(lanceoladas) e cabeça fletida sobre o tórax. A diferença entre gêneros pode ser feita pela presença de 
um apêndice em forma de garra no macho (fitófago pelas mandíbulas rudimentares). Nas Américas, o 
gênero de flebotomíneo que tem maior importância como vetora é a Lutzomyia sp. 
Nas regiões tropicais, ou seja, em locais úmidos, com maior quantidade de vegetação e sem 
ventos fortes, os insetos põem seus ovos no solo e outros lugares de florestas, bosques, matas 
secundárias ou até mesmo plantações. A larvas transformam-se em pupas e em insetos adultos ao fim 
de um mês ou mais. Somente as fêmeas são hematófagas, necessitando de refeições sanguíneas para 
oviposição, mas também sugam plantas, como fazem regularmente os machos. Os animais silvestres 
constituem suas fontes normais de alimentação sanguínea, mas algumas espécies podem picar o 
homem. 
Leishmaniose	Tegumentar	Americana	
A leishmaniose tegumentar é uma doença parasitária causada por protozoários do gênero 
Leishmania, e transmitido através da picada de insetos de diferentes espécies da família 
Phlebotominae. A infecção se caracteriza pela parasitismo de células do sistema fagocítico 
mononuclear e acomete a pele e/ou mucosa de vias aéreas superiores. No Brasil, os parasitos que mais 
frequentemente produzem lesão tegumentar são Leishmania braziliensis (subgênero Viannia, sendo a 
mais amplamente distribuída; faz parte dos ciclos rural, silvestre e peri-urbano) Leishmania 
amazonensis (subgênero Leishmania; faz parte dos ciclos rural e peri-urbano), e Leishmania 
guyanensis (subgênero Viannia; faz parte do ciclo silvestre). 
No tipo clássico de cadeia epidemiológica, o ciclo do parasito é mantido entre flebotomíneos e 
animais silvestres, como roedores, gambás e preguiças. O homem e os animais domésticos são 
hospedeiros acidentais. Desde 2010, os casos de leishmaniose tegumentar tem diminuído. A 
distribuição é mundial, atingindo principalmente a população mais pobre, e a morte nos casos da 
leishmaniose tegumentar só ocorre por toxicidade medicamentosa ou associação a outras 
comorbidades, principalmente infecções bacterianas 
Patologia,	sintomatologia	e	imunologia	
As principais formas de apresentação da leishmaniose tegumentar são leishmaniose cutânea, 
leishmaniose mucosa, leishmaniose mucocutânea, e leishmaniose cutânea-difusa. Sintomas gerais são 
febre, mal-estar e anemia moderada. 
Leishmaniose	cutânea	
Forma clínica mais frequente, podendo ser causada por qualquer uma das espécies 
dermotrópicas. Na área do tegumento em que se deu a inoculação do parasito pela picada do inseto 
(geralmente membros inferiores e superiores, e cabeça), observa-se hiperplasia e hipertrofia 
histiocitária (ou seja, aumento do número e tamanho dos macrófagos teciduais), edema e infiltração 
celular, representada por grande número de linfócitos e plasmócitos, e hiperplasia do epitélio que 
recobre a zona inflamada, com acentuada proliferação das células da camada germinativa. 
Após um período de incubação variável (em geral de 1 a 3 meses, podendo se estender até um 
ano), surge a lesão inicial, caracterizada por uma pápula eritematosa, pruriginosa, podendo estar 
associada a adenite satélite, ou seja, inflamação de gânglios linfáticos regionais. Estes formam cordões 
nodulares visíveis ou palpáveis, não dolorosos, com dimensões variáveis. 
O curso da lesão inicial pode ser abortivo (regredir), desenvolver lentamente para uma lesão 
não-ulcerosa, ou evoluir com destruição do tecido (necrose) e formação de úlcera. 
A lesão não-ulcerosa é formada quando predominam os processos de hiperplasia de epiderme 
que, espessa, mostra macroscopicamente um crescimento verrucoso ou papilomatoso da pele, na 
região afetada. 
A lesão cutânea ulcerada é o tipo de apresentação mais comum, e é causada pela hiperplasia 
histiocitária e inflamação local, que causam necrose da epiderme e camadas subjacentes. A úlcera 
cutânea típica é indolor, arredondada ou ovoide, de tamanho variável, com bordas bem delimitadas, 
elevadas e eritematosas, com fundo granuloso e que sangra facilmente. Isso facilita uma infecção 
bacteriana, que pode produzir exsudato amarelado. 
Frequentemente a lesão é única e, quando múltiplas, variam entre 2 a 10 lesões, sendo muito 
raramente múltiplas ou disseminadas (por várias inoculações ou por disseminação hematogênica). 
Diferentemente da leishmaniose cutânea-difusa, os pacientes com leishmaniose disseminada 
apresentam numerosas e pequenas lesões de aspecto polimórfico e frequentemente associadas a lesões 
de mucosa. 
Em uma minoria de pessoas, a imunidade resultante da cura espontânea das lesões não é 
totalmente eficiente. Nesses casos, a área de infiltração segue expandindo-se pouco a pouco, já que as 
reações celulares não destroem completamente os parasitos, permitindo que haja persistência 
parasitária (mesmo que os parasitas sejam raros), e a reação inflamatória se mantenha indefinidamente. 
A ocorrência de traumatismos pode facilitar o surgimento da lesão leishmaniótica, levando à 
reativação da infecção na borda da cicatriz. Esse é o quadro de leishmaniose cutânea recidivante. 
A cicatrização pode dar-se num prazo de 6 meses a vários anos, mas geralmente dentro de 12 a 
15 meses. Ao regredirem, as feridas deixam cicatrizes em geral lisas, brilhantes, finas e sedosas, com 
dimensões que se mantêm nos limites da úlcera. 
A resposta imune celular representa o papel fundamental no curso evolutivo da infecção. 
Durante a doença, há uma indução preferencial de células CD4+ e padrão de citocinas com perfil misto 
tipo 1 (TNF-alfa, interferon-gama, IL-12, linfotoxina) e tipo 2 (TGF-beta, IL-4, IL-5 e IL-13). Como o 
parasita é intracelular, a imunidade do tipo 2 é ineficaz, o que permite o crescimento da leishmânia no 
organismo. A evolução para a cura está associada à indução de citocinas do tipo 1, diminuição de 
citocinas do tipo 2 e aumento de células CD8+, tanto pela atividade citotóxica específica contra 
macrófagos parasitados como pela maior ativação de macrófagos pelo interferon-gama. 
Leishmaniose	mucosa	
Cerca de 3 a 5% dos casos de leishmaniose cutânea desenvolvem a forma mucosa, e a 
Leishmania braziliensis é a principal espécie associada. A forma mucosa clássica é secundária e 
metastática para a mucosa nasal (provavelmente por via hematogênica), demorando anos para aparecer 
(em torno de 6 anos). As queixas iniciais são a formação de crostas, eliminação de secreção serosa ou 
serossanguinolenta pelo nariz e obstrução nasal. 
Ao exame, as lesões mucosas são infiltradas, eritematosas, podendo ser ulceradas, vegetantes 
ou úlcero-vegetantes. A mucosa nasal constitui a localização mais comum, com predileção para o 
septo cartilaginoso. A marcha evolutiva das lesões leva à destruição do septo nasal e acometimento por 
contiguidade do assoalho das fossas nasais, orofaringe e até mesmo laringe. Ainda pode haver 
acometimento de lesões mucosas concomitantemente às cutâneas, levando à uma leishmaniose 
mucocutânea. 
Na leishmaniose mucosa, a reposta celular exacerbada leva à maior gravidade das 
manifestações clínicas. Isso ocorre pela mais significativa expressão de IL-4, o que aparentemente 
anula o efeito leishmanicida de citocinas do tipo 1, o que explica a cronicidade e dificuldade de 
resolução. O equilíbrio entre as subpopulações de linfócitos T é atingida mais tardiamente, acimade 1 
ano após a cura clínica das lesões mucosas. 
Leishmaniose	cutâneo-difusa	
Apresentação clínica rara de leishmaniose, causada no Brasil pela Leishmaniose amazonensis. 
Ela representa a forma tegumentar cuja depressão da resposta imune específica aos antígenos do 
parasita leva ao desenvolvimento de um quadro grave da doença. É importante ressaltar que a 
depressão é de resposta imune celular, e não humoral. 
A doença se inicia com uma lesão cutânea simples, mas que não responde satisfatoriamente ao 
tratamento, evoluindo progressivamente para a forma difusa. Clinicamente, caracteriza-se pela 
presença de numerosos nódulos, pápulas ou tubérculos, além de infiltração cutânea difusa, 
normalmente sem ulceração ou acometimento mucoso. A ausência de mecanismos defensivos eficazes 
faz com que haja hipertrofia e hiperplasia do sistema fagocitário mononuclear sem limites, passando a 
ocupar extensas áreas cutâneas. Há abundância de parasitos nas lesões. 
Relação	com	HIV	
As apresentações clínicas são diversas, podendo ser observadas lesões cutâneas únicas, lesões 
disseminadas e até mesmo envolvimento visceral por espécies dermotrópicas. Alguns pacientes 
desenvolvem lesão mucosa isoladamente ou associada às lesões de pele. 
Diagnóstico	
O diagnóstico deve associar os dados clínico-epidemiológicos ao teste intradérmico de 
Montenegro e à tentativa de detecção de parasitos nas lesões. 
A intradermorreação de Montenegro (IDRM) é uma reação de hipersensibilidade tardia (do tipo 
IV – memória imunológica celular) que utiliza proteínas extraídas de formas promastigotas, que são 
aplicadas na região anterior do antebraço. A leitura do teste deve ser feita após 48 horas, sendo 
considerados positivos aqueles que apresentam diâmetro igual ou superior a 5mm. Apesar de avaliar a 
presença de hipersensibilidade tardia, o teste não discrimina se o individuo apresenta uma infecção 
recente ou passada, ou qual espécie de Leishmania causou a lesão. Assim, a história epidemiológica e 
IDRM positivo indicam diagnóstico presuntivo de leishmaniose tegumentar. O exame pode ser 
negativo em casos de lesões ativas com tempo de evolução inferior a 30 dias. 
A confirmação do diagnóstico é feita quando o parasito é evidenciado diretamente nas lesões. 
O fragmento de tecido deve ser retirado da borda da lesão, em diferentes regiões de extensão e 
profundidade. Nas lesões mucosas, o fragmento deve ser retirado das áreas infiltradas. 
A demonstração do parasito pode ser feita através do isolamento em cultura (melhor), 
impressão por aposição em lâmina, exame histopatológico (através da fixação em formol tamponado a 
10%) ou detecção de DNA parasitário por PCR (alta sensibilidade). 
A pesquisa de anticorpos anti-Leishmania, por reação de imunofluorescência indireta (RIFI) ou 
ensaio imunoenzimático (ELISA), quando positiva, pode auxiliar no diagnóstico, desde que excluídas 
as possibilidades de reação cruzada, como com doença de Chagas. 
Profilaxia	e	controle	
Os casos diagnosticados devem ser notificados através dos órgãos locais na intenção de identificar 
novos focos de transmissão e iniciar ações de controle. Tem que haver o controle de vetores e animais 
silvestres e domésticos, além de realizar programas de educação em saúde e vigilância permanente, com 
uso de repelentes, mosqueteiros, poda de árvores e destino adequado do lixo orgânico. 
Leishmaniose Visceral Americana – 06/07/16 
A leishmaniose visceral (também denominada calazar) é uma doença endêmica em várias regiões do 
mundo, mas também é capaz de produzir surtos epidêmicos graves. Caracteriza-se clinicamente por manifestar 
febre irregular, esplenomegalia, anemia e, em sua fase terminal, quando não tratada, caquexia e elevada taxa de 
mortalidade. Essa doença tem por causa, flagelados do complexo Leishmania infantum, Leishmania donovani 
e Leishmania cahagasi. A espécie vetorial responsável por essa leishmaniose é o Lutzomyia longipalpis. 
No Brasil, o reservatório do parasita de maior relevância é o cão doméstico. A leishmaniose no Brasil é 
considerada como uma zoonose canina, sendo o homem atingido acidentalmente pela infecção, o que é 
favorecido pela distribuição cosmopolita do animal e seu papel nos grupos sociais. A zona mais propícia à 
endemia é a zona tropical, de baixo nível socioeconômico (pela baixa resistência imunológica e desnutrição 
frequente), rural, peri-florestal ou de desmatamento. O crescimento urbano e esvaziamento rural, porém, estão 
levando à expansão das áreas. 
Fisiopatologia	
As leishmânias viscerotrópicas têm predileção pelas células do sistema retículo-endotelial 
(também chamado de mononuclear fagocitário). Assim, após infecção, as formas promastigotas 
metacíclicas são fagocitadas principalmente por macrófagos do baço, fígado e medula óssea. A 
hipertrofia e hiperplasia histiocitária acompanha o aumento da carga parasitária, e é a razão da 
esplenomegalia, hepatomegalia e alterações da medula óssea. 
O baço se encontra bastante aumentado, consistente, congesto, com focos hemorrágicos, 
cápsula espessada e estrias fibrosas no parênquima. Na microscopia, observa-se fibrose e hiperplasia 
de elementos endoteliais e do sistema retículo-histiocitário (macrófagos teciduais), com parasitas 
sendo vistos no interior destas células. Essa hiperplasia acaba gerando compressão de folículos 
linfoides, provocando sua atrofia, e de capilares, provocando a congestão do órgão. 
O fígado geralmente está aumentado de volume, principalmente após a fase inicial, e ao corte 
apresenta aspecto de noz moscada e degeneração gordurosa. Na microscopia, observam-se alterações 
nas células de Kupffer (macrófagos hepáticos), reação inflamatória de mesênquima e lesões 
parenquimatosas. Nas células de Kupffer, há hiperplasia intensa e hipertrofia (principalmente nas 
parasitadas). No mesênquima, a reação inflamatória se evidencia pelo aparecimento de histiócitos, 
monócitos, linfócitos e plasmócitos de maneira difusa, constituindo verdadeiros nódulos, nos espaços 
porta ou intralobular. No parênquima, há atrofia e degeneração gordurosa. Os sinusoides hepáticos 
ainda podem estar dilatados. 
Na medula óssea, os macrófagos parasitados substituem, pouco a pouco, o tecido 
hemopoiético. Além disso, os linfonodos ficam ingurgitados de parasitos. 
A grande massa de material antigênico acaba por promover uma tolerância imunológica e 
imunodepressão, o que acaba por reduzir a capacidade de resposta a outros antígenos e de resistência a 
outras infecções. Dessa forma, a redução da imunidade geral pode levar à susceptibilidade a infecções 
concomitantes por outros patógenos, e consequentemente à morte. Nos casos de produção da doença, 
ocorre até 95% de letalidade em casos de não adesão ao tratamento. 
Apesar da atividade intensificada da medula óssea, o forte parasitismo medular associado à 
hiperfunção do baço e à imunodepressão acabam por gerar a pancitopenia, ou seja, diminuição dos 
elementos figurados sanguíneos. Dessa forma, há formação de um quadro de anemia (pela diminuição 
do número de hemácias), leucopenia (com redução predominante de polimorfonucleares e aumento do 
número absoluto de mononucleares), e plaquetopenia. 
Nos casos crônicos, instala-se uma fibrose de baço, fibrose de fígado, hipertensão porta, ascite 
e outras manifestações correlatas. 
As lesões de pele são raras no Brasil, sendo descritos dois tipos de lesão: 
Ø Forma benigna caracterizada pela hiperplasia do sistema mononuclear fagocitário dérmico e 
hipodérmico. Macroscopicamente, observam-se pequenas zonas de pigmentação acinzentada 
na pele. 
Ø “Leishmaniose dérmica pós-calazar”, que ocorre em 10 a 50% dos casos, de preferência em 
pacientes não tratados ou com uso incompleto da terapêutica. É uma manifestaçãosecundária 
da infecção por Leishmania donovani, caracterizada por lesões eritemato-maculares, nodulares 
ou formações papuliformes que aparecem na pele do rosto (principalmente ao redor da boca) e 
em outras partes do corpo. Surgem em média 6 meses a 2 anos após o quadro de calazar, 
constituindo uma fonte de infecção para flebotomíneos. Altos níveis de IL-10 durante o calazar 
prediz o surgimento. Está associada aos casos de AIDS. 
Manifestações	clínicas	
O período de incubação é muito variável, situando em média de 2 a 4 meses, existindo casos 
com até 4 anos de evolução. Esse período tende a se alongar com a idade. 
A infecção é geralmente assintomática e autolimitada, mas em áreas endêmicas pode evoluir 
para formas sintomáticas. Os casos assintomáticos são explicados pelo predomínio da atividade do 
componente Th1 (TNF-alfa, interferon-gama, IL-12, linfotoxina, resposta citotóxica), que consegue 
limitar a doença por elaborar uma resposta celular efetiva, levando ao abortamento da infecção. 
O acometimento grave e progressivo ocorre naqueles indivíduos em cuja resposta imunológica 
predomina o componente Th2 (TGF-beta, IL-4, IL-5, IL-13, IgE, resposta secretória), que seria efetivo 
apenas em casos de parasitas extracelulares, o que torna a imunidade ineficaz. A ativação policlonal de 
linfócitos B nesses indivíduos explica a alta produção de imunoglobulinas, as quais são ineficazes de 
eliminar a doença. 
A febre é o sintoma mais notável, pela sua constância, sendo de tipo irregular ou remitente. A 
esplenomegalia é a segunda manifestação em importância, onde seu volume aumenta com relativa 
rapidez, tanto em crianças como em adultos, podendo ultrapassar a cicatriz umbilical. 
O aumento do fígado costume ser em escala menor que o 
do baço. Há, quase sempre, aumento generalizado dos gânglios 
linfáticos (poliadenomegalia discreta). Com o progredir da doença, 
a anemia é acentuada e há marcada tendência às hemorragias. As 
epistaxes são frequentes, assim como as hemorragias gengivais ou 
digestivas. As perturbações de apetite e o emagrecimento tendem a 
conduzir, progressivamente, a um estado de desnutrição grave. No 
soro, verifica-se redução das proteínas do tipo albumina e aumento 
das globulinas, dando como resultado uma inversão da relação 
albumina/globulina. 
A evolução da doença pode ser rápida, levando o paciente à caquexia e à morte dentro de 
algumas semanas ou de alguns meses, ou pode assumir um curso crônico. O desfecho sobrevém, 
muitas vezes, por doenças intercorrentes (sobretudo infecções bacterianas) num organismo cujos 
mecanismos imunológicos já se encontram muito comprometidos. 
Formas	clínicas	
1) Formas assintomáticas: Evolução silenciosa, ou sintomas discretos que garantem a 
ausência de diagnóstico. 
2) Formas agudas: Evolução rápida e fatal em prazos curtos (20 a 40 dias), sobretudo em 
crianças de 1 ou 2 anos. A febre é alta e contínua, com pronunciada anemia e aumento relativamente 
pequeno do baço. Aparecem frequentemente a complicações próprias da patologia infantil. 
3) Formas subagudas: Evolução mais lenta (entre 5 meses e 1 ano), ocorrendo frequentemente 
em crianças e encerrando-se pela morte em caquexia. 
4) Formas crônicas: As mais comuns e apresentam evolução lenta, que pode durar anos, com 
fases de remissão e recaídas alternando-se por períodos de semanas ou meses. É encontrada em 
crianças maiores e adultos, sendo a forma que melhor responde ao tratamento. 
Leishmaniose	visceral	X	AIDS	
O número de casos de calazar, assim como o de AIDS, têm aumentado na população em geral, 
e ambas agravam o estado de imunossupressão, ou seja, um quadro pode agravar o outro. Situações 
clínicas não usuais são vistas nos coinfectados: lesões cutâneas em quadro visceral, acometimento do 
trato gastrointestinal, amastigotas em lesões cutâneas de herpes zoster ou Kaposi. Difícil tratamento. 
Diagnóstico	
A suspeita clínica deve ser levantada sempre que ocorrerem quadros com febre irregular, 
anemia progressiva e esplenomegalia. A sorologia é útil para a triagem de casos, e o encontro do 
parasito (amastigotas) constitui o requisito básico para o diagnóstico. 
Manifestações Clínicas 
Febre recorrente moderada – 100% 
Esplenomegalia – 100% 
Hepatomegalia > 90% 
Pancitopenia > 90% 
Astenia, apetite irregular 
Emagrecimento > 90% 
Poliadenomegalia discreta 
Hipergamaglobulinemia 
Sintomas hemorrágicos 
Os parasitos podem ser encontrados em material aspirado da medula óssea, do baço, ou de 
linfonodos aumentados de volume. Apesar da maior sensibilidade da punção do baço, o mesmo pode 
ser rompido, podendo gerar quadro de hemorragia interna. Logo, o mais usado é a punção esternal em 
adultos e a punção ilíaca nas crianças. Com o material aspirado, é preparado o esfregaço para fixação e 
observação de leishmânias sob forma amastigota no interior de macrófagos. 
O método sorológicos só tem indicação nas fases iniciais da doença, nas formas assintomáticas 
ou oligossintomáticas, com parasitismo pobre e nos inquéritos epidemiológicos. Os procedimentos 
mais usados são o método de ELISA, contraimunoeletroforese, imunofluorescência indireta, e reação 
de fixação do complemento. Pode ter reação cruzada com tripanossomíases (doença de Chagas). 
Também pode ser dosada a concentração de gama-globulina e albumina. 
O PCR é um método de pesquisa do DNA das amastigotas. Porém, é um custo maior e, por 
isso, é pouco usado. 
O Teste de Montenegro é positivo em indivíduos assintomáticos ou que tiveram a infecção e há 
memória imunológica pela cura espontânea. O resultado pode ser negativo em indivíduos sintomáticos, 
uma vez que a resposta celular é ineficiente. Assim, é usado apenas para controle de cura. 
Doença Convalescença 
Sorologia elevada Queda gradual da sorologia 
Montenegro não reator Montenegro reator 
Pancitopenia Normalização dos elementos figurados 
Hipoalbuminemia e hipergamaglobulinemia Normalização da albumina e gamaglobulina 
 
Profilaxia	e	controle	
Cães silvestres, raposas e gambás mantêm a leishmaniose na natureza, mas não adquirem a 
doença. Já os cães domésticos ficam doentes, podendo ser fontes de infecção para o flebotomíneo. 
Como o cão não pode ser tratado, é eliminado sempre que doente ou com sorologia positiva. 
Além da eliminação dos cães, deve ser feito o tratamento dos doentes (inclusive dos 
assintomáticos), combate aos flebotomíneos e realização do planejamento e operações de controle, 
com levantamento para conhecer as áreas endêmicas, estudar fauna flebotômica, reservatórios 
silvestres e inquéritos sorológicos caninos. 
 
Leptospirose – 06/07/16 
A leptospirose é uma doença infecciosa de importância global causada por espiroquetas do gênero 
Leptospira sp., sendo considerada uma das zoonoses mais disseminadas no mundo. Ela é capaz de causar uma 
infecção humana que pode ser subclínica e autolimitada, mimetizando doenças não relacionadas (como 
influenza ou dengue), ou apresentando diferentes graus variados de severidade, sendo potencialmente fatais. 
As formas brandas da doença são frequentemente causadas pelos sorovares Hardjo, Grippotyphosa, 
Pomona e Tarassovi. As formas mais graves potencialmente fatais são causadas principalmente, mas não 
exclusivamente, pelos sorovares Icterohaemorrhagiae, Copenhageni, Australis, Autumnalis, Bataviae, Lai e 
Pyogenes. 
Etiologia	e	transmissão	
Os agentes etiológicos da leptospirose compreendem um grupo heterogêneo de espécies patogênicas 
(até hoje 13 identificadas) pertencentes ao gênero Leptospira. São espiroquetas que possuem sua forma em 
espiral longa, fina e flexível. Os parasitos são extracelulares, e apresentam uma ou ambas as extremidades em 
forma de gancho. A sua forma espiralauxilia na realização de movimentos característicos de rotação e 
translação. Podem ser cultivados em meios líquidos e sólidos, mas o crescimento in vitro é fastidioso. 
A infecção humana resulta do contato direto ou indireto com leptospiras eliminadas através da urina de 
animais portadores. Roedores peridomiciliares e silvestres são portadores naturais com ampla dispersão 
geográfica. Animais domésticos, principalmente os bovinos, suínos e cães, são importantes na cadeia 
epidemiológica e podem ser portadores de determinados sorovares. 
A veiculação hídrica representa o principal mecanismo de transmissão de leptospiras dos animais 
infectados para o homem, frequentemente associando-se a surtos epidêmicos. As portas de entrada mais comuns 
são através de lesões na pele e membranas mucosas intactas ou não. 
Observa-se uma relação estreita entre determinados sorovares e algumas espécies, como por exemplo o 
Canicola de cães, o Hardjo de bovinos e o Copenhageni de ratos. Apesar disso, uma espécie pode ser portadora 
de vários sorovares diferentes. Nesses portadores (também chamados de reservatórios), a infecção é crônica, 
com colonização dos túbulos renais e eliminação de leptospiras pela urina. 
Patogenia	
Os fatores de virulência de leptospiras são expressos por cepas patogênicas, e sua patogenia compreende 
uma sequência de eventos que envolvem (1) rápida invasão tecidual, (2) alterações patológicas e fisiológicas em 
diversos órgãos e sistemas, (3) resposta imune adaptativa e (4) eliminação do agente dos tecidos e líquidos 
orgânicos. 
A sequência de eventos inicia-se com a penetração de leptospiras através de soluções de contiguidade 
da pele (como ferimentos – nem sempre perceptíveis), ou por membranas mucosas intactas, principalmente a 
conjuntiva, orofaringe e nasofaringe. 
Segue-se uma fase de bacteremia (presença da bactéria no sangue), com a rápida disseminação para 
diversos órgãos e sistemas, o que ocorre entre 4 e 7 dias de doença. As espiroquetas podem ser isoladas a partir 
do sangue e líquor, e as alterações patológicas mais proeminentes são observadas no pulmão, fígado e rins. 
Com a formação de anticorpos, as leptospiras desaparecem do sangue periférico, podendo ser isoladas 
a partir da urina. 
A hemorragia causada pela injúria ao endotélio capilar é um dos aspectos mais importantes na patologia 
das formas graves. Ela é visível macroscopicamente nas superfícies mesentéricas, mas não nos rins, fígado e 
baço. Há áreas de hemorragia multifocal nas superfícies pleural e peritoneal. 
A hemorragia pulmonar é caracteristicamente intra-alveolar, podendo ser intensa em alguns casos 
humanos. Observa-se espessamento dos septos alveolares com o aumento de células mononucleares. 
No fígado, há perda de coesão de hepatócitos focal ou difusa, áreas de necrose focal na região 
centrolobular, e células de Kuppfer ativadas nos sinusoides hepáticos. Nesse órgão, há grandes quantidades de 
parasitas, encontradas entre as células do parênquima, visivelmente aderidas a sua superfície, ou no interior das 
células de Kuppfer. 
Nos rins, observa-se necrose tubular aguda e infiltrado inflamatório intersticial e periglomerular, que 
aumenta com a progressão da doença. A hipovolemia causada pela desidratação e aumento da permeabilidade 
capilar causa lesões isquêmicas e contribui para o desenvolvimento de insuficiência renal. 
Fatores	de	virulência	
Estruturas, produtos ou estratégias que contribuem para a instalação do processo infeccioso e alterações 
patológicas em hospedeiros suscetíveis. Existem fatores relacionados a adesão, invasão, colonização e 
toxicidade. 
As propriedades invasivas que permitem a adesão e invasão eficientes incluem o movimento 
translacional característico, produção de adesinas (que se ligam a proteínas da matriz extracelular), 
proteínas associadas à quimiotaxia, e enzimas que degradam proteínas da matriz extracelular. 
A colonização é essencial para o estabelecimento da doença. Seus genes codificam proteínas 
semelhantes a imunoglobulina e integrinas, que podem estar envolvidos na interação com o hospedeiro. 
Em relação às toxinas produzidas pelo parasito, o LPS possui toxicidade relativamente baixa, que ativa 
macrófagos de maneira distinta do LPS típico. A glicoproteína GLP também pode estar associada à toxicidade, 
bem como hemolisinas produzidas por alguns sorovares (Copenhageni e Lai). 
Manifestações	clínicas	
A infecção por espiroquetas do gênero Leptospira pode ser assintomática ou produzir uma ampla 
variedade de sinais e sintomas que se confundem com outras doenças febris. Nos casos sintomáticos, mais de 
90% dos indivíduos apresentam a forma mais branda e geralmente anictérica da doença, enquanto a forma grave 
com icterícia ocorre em 5 a 10% dos pacientes infectados. 
O período de incubação é de 1 a 2 semanas. Tipicamente a doença apresenta um caráter bifásico, mas a 
distinção nem sempre é tão evidente. A primeira fase é chamada de fase de bacteremia, caracterizada pela 
disseminação das bactérias no sangue e em outros líquidos corporais, durando de 4 a 7 dias. A segunda fase é 
chamada de fase imune, onde as leptospiras desaparecem do sangue periférico e inicia-se o aparecimento de 
anticorpos, tendo duração de aproximadamente 10 a 30 dias. Nessa fase, as bactérias são eliminadas na urina de 
forma intermitente. 
 
Forma	anictérica	
O início é súbito com febre alta e contínua com calafrios. Há cefaleia intensa e constante (frontal ou 
retrorbitária), mialgia intensa e generalizada (mais notada nas panturrilhas), eventos hemorrágicos, dor 
abdominal, diarreia, náuseas e vômitos (pode levar à desidratação). É comum hiperemia conjuntival (confere 
tonalidade rósea à esclera), podendo gerar episódios hemorrágicos subconjuntivais. O comprometimento 
pulmonar manifesta-se por tosse, dor torácica e, em determinados casos, hemoptise. Pode apresentar fotofobia, 
confusão mental, linfadenomegalia, faringite, esplenomegalia, rash cutâneo, e até mesmo discreta icterícia. 
A maioria dos pacientes torna-se assintomática em uma semana. Após 1 a 3 dias sem sintomas, a doença 
recorre em um certo número de casos, onde o início da segunda fase acaba coincidindo com a produção de 
anticorpos, desta vez com sintomas mais variáveis que duram poucos dias. Pode evoluir para meningite 
asséptica. 
Forma	ictérica	
Também chamada de “Síndrome de Weil”, essa forma é caracterizada por icterícia, insuficiência renal, 
distúrbios hemorrágicos e alta mortalidade. A apresentação clínica inicial não difere da forma anictérica. 
Entretanto, cerca de 10% dos pacientes após 4 a 9 dias de doença desenvolvem icterícia, disfunção renal e 
vascular, que distingue os casos mais graves e não segue o padrão bifásico tão característico da forma anictérica. 
A icterícia pode ser intensa, na maioria das vezes não associada a necrose hepática grave. A 
hepatomegalia é comum, e a esplenomegalia aparece em 20% dos casos. A insuficiência renal ocorre na 
segunda semana da doença, onde a hipovolemia e diminuição da perfusão sanguínea renal geram necrose 
tubular aguda com oligúria ou anúria (maioria das vezes completamente recuperada). O comprometimento 
pulmonar é comum, resultando em tosse, dispneia, dor torácica, hemoptise e até insuficiência respiratória. 
Diagnóstico	
A confirmação do diagnóstico é feita através de testes específicos, baseados na demonstração da 
presença de leptospiras, fragmentos de DNA ou detecção de anticorpos específicos. Porém, exames laboratoriais 
inespecíficos auxiliam o diagnóstico e exclusão de outras doenças. O eletrocardiograma e radiografia de tórax 
podem fornecer informações complementares ao exame clínico. 
Testes	inespecíficos	
Ø EAS (elementos anormais e sedimentoscopia de urina) – Proteinúria discreta,

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