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HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA
VOLUME I
Índice
02 Introdução à história e cultura africana
03 A África pela diáspora
06 Identidade em contraponto – a pirâmide invertida
10 África no plural
22 Como podemos estudar a História da África?
23 Fontes orais
25 Fontes arqueológicas e bens culturais
40 Fontes escritas, manifestações artísticas e iconográficas
41 Filmoteca
43 Sites
44 Paradidáticos e literatura
47Referências Bibliográficas
INTRODUÇÃO À HISTÓRIA E CULTURA 
AFRICANA
 
Prezado leitor,
Neste texto você encontrará discussões sobre os desafios do ensino de 
história e cultura africana. Ele se estrutura de modo a promover o debate 
de questões que comparecem ao estudo e ensino-aprendizagem da rica e 
complexa história do continente. 
Sendo assim, você poderá saber e pensar um pouco mais a respeito de 
algumas questões como:
• O que significa passar de uma África mítica a uma África real?
• O que seria uma visão negativista do continente?
• O que seria afrocentrismo ingênuo? E historiografia chamada de 
“pirâmide invertida”?
• Para pensar a hibridização cultural da África...
• A partir de quais fontes podemos estudar a história africana?
• Como abordar fontes orais em sala de aula?
• Podemos falar em reinos africanos?
• Quais os problemas e possibilidades de análise da história africana 
a partir de fontes arqueológicas?
• Os bens culturais nos permitem entender melhor a história e 
cultura africana?
• Quais as discussões em torno do uso de fontes artísticas, 
iconográficas e imagéticas?
 
Veja, ainda:
• Filmoteca
• Sites
• Paradidáticos e literatura
• Referências bibliográficas
 
 
Introdução à História e Cultura Africana
 
“Com efeito, a história da África, como a de toda a 
humanidade, é a história de uma tomada de consciência. 
Nesse sentido, a história da África deve ser reescrita. E 
isso porque, até o presente momento, ela foi mascarada, 
camuflada, desfigurada, mutilada” (KI-ZERBO, 1982, p. 
21).
A África pela Diáspora
 
O termo diáspora é utilizado para referirmo-nos ao processo de 
desenraizamento vivenciado por populações deslocadas de seus locais 
de origem, geralmente de forma violenta e forçada. A diáspora pode ser 
– e efetivamente foi - vivenciada por diferentes populações de formas 
também distintas. A possibilidade de maior ou menor enraizamento e 
a multiplicidade de experiências sócio-culturais vivenciadas na nova 
morada são alguns dos elementos que delimitam essas diferenças, ao 
longo da história.
Entre os séculos XVI e XIX, mais de 11 milhões1 de africanos foram 
trazidos à força para as Américas, para trabalharem como escravos. 
No Brasil, entre 1550 e 1850, aproximadamente, teriam desembarcado 
entre 3,6 e 5,6 milhões1 de africanos. Ainda que as estimativas apresentem 
grandes variações, é inegável que este processo configurou-se como um 
dos maiores movimentos diaspóricos dos tempos modernos.
Essas populações africanas na diáspora vivenciaram não somente a 
violência da viagem transatlântica no julgo do tráfico negreiro para 
as Américas, mas toda a rede de usurpações sofridas no processo 
escravizatório. Podemos considerar populações na diáspora tanto os 
africanos que aportaram na costa do continente americano, quanto 
também todos aqueles considerados seus descendentes. Essa população, 
em geral, possui registros culturais elaborados na ligação simbólica que 
se estabeleceu em terras americanas com seu território ancestral. Grande 
parte desses registros culturais passou a ser partilhado por grupos de 
diferentes origens e referências étnico-culturais, a partir de séculos de 
convivência, nem sempre harmoniosa.
Podemos dizer que as culturas diaspóricas, como de resto todas as culturas, 
são híbridas, permeáveis. Não é diferente para o caso das culturas afro-
descendentes. O pesquisador africano Carlos Lopes2 defende a importância 
da compreensão e do estudo das culturas diaspóricas para entendimento 
do que é, hoje, a África. Segundo ele, não é somente importante que o 
Brasil compreenda a história da África, mas que a África compreenda 
a história das populações africanas na diáspora3 como pressuposto 
de estudo de sua própria história. Recuperando o historiador Elikia 
M’Bokolo4, Carlos Lopes afirma, em entrevista à Revista Palmares, que 
“Os africanos do continente têm que aceitar que as diásporas têm a outra 
metade da memória”.
Carlos Moore5 nos convida a compreender as complexas formas de 
percepção da África na diáspora, sobretudo o desafio da passagem de uma 
África mítica a uma África real, capaz de subsidiar lutas dos diferentes 
2 - Carlos Lopes é guineense. 
Sociólogo, especialista em 
desenvolvimento e PhD em 
História pela Sorbonne, 
atualmente é subsecretário da 
ONU tendo sob sua direção o 
Programa das Nações Unidas 
para o Desenvolvimento, o 
PNUD. 
5 - Carlos Moore tem dupla 
nacionalidade, ele é jamaicano 
e cubano. Etnólogo e cien-
tista político, formou-se na 
Universidade de Paris-7, na 
França, como Doutor em 
Ciências Humanas e Etnologia. 
É chefe de Pesquisa na Escola 
de Estudos de Pós-Graduação 
e Pesquisa da University of the 
West Indies (UWI), Kingston 
(Jamaica).
3 - É instigante e paradoxal 
o exemplo de africanos que, 
convertidos ao catolicismo no 
Rio de Janeiro, tenham criado 
rituais como os de devoção 
às almas como maneira de 
intercederem simbolicamente 
pela salvação de seus parentes 
que haviam ficado na África e 
que passaram a ser considera-
dos pagãos a partir dessa nova 
inserção e realidade religiosa 
vivida na diáspora. Para saber 
mais, veja em SOARES, 2000, 
p. 16.
4 - Elikia M’Bokolo, congolês, 
é nascido em Kinshasa, 
República Democrática do 
Congo. Historiador mundial-
mente conhecido, é, diretor 
de estudos na Escola de Altos 
Estudos em Ciências Sociais 
(Paris). É produtor da emissão 
radiofônica Memória de um 
continente (RFI) e professor 
de história da Universidade de 
Kinshasa. Dentre as diversas 
obras do historiador destacam-
se: Noirs et blancs en Afrique 
équatoriale (1981); L’Afrique 
au XXe siècle, le continent 
convoité (1984), Au coeur 
de l’ethnie, com Jean-Loup 
Amselle (1999).
1 - As estimativas sobre o 
tráfico de pessoas no atlântico 
são motivo de polêmicas entre 
os estudiosos. Tomamos como 
referência os dados apresenta-
dos por Eltis, Behrendt e Rich-
ardson (2000), que estimam 
cerca de 11.062.000 africanos 
embarcados no continente 
africano, dos quais cerca de 
9.599.000 teriam chegado 
vivos aos portos americanos.
povos da África em prol de sua emancipação social, política e também 
cultural. Segundo o autor:
“Durante muito tempo, as diásporas africanas 
escravizadas no exterior tiveram de forjar uma visão 
idílica desse continente para existir, resistir e se manter. 
Por razões evidentes – que têm a ver com a brutalidade 
com a qual a África viva foi arrancada dos africanos 
escravizados no exterior da África -, a imagem que 
se tem desse continente, elaborada carinhosamente 
pelo imaginário dos deportados, via de regra, foi uma 
idealização. Para preservar o rico legado ancestral que 
nos permitiu atravessar o horror de viver em estado 
de escravidão racial nas Américas por mais de quatro 
séculos, foi necessário idealizar essa África da qual 
tínhamos sido arrancados para sempre. A África aparece, 
nessa visão, como um lugar quase sem tensões internas 
ou contradições inerentes à sua própria experiência 
histórica” (MOORE, 2008, p. 11-12).
 
 
Essa idealização, que Carlos Moore atribui a uma necessidade mesma de 
sobrevivência física e cultural tem seus desdobramentos, inclusive nos 
processos educativos que se põe em marcha no Brasil contemporâneo. 
Isso se torna visível, por exemplo, em práticas pedagógicas que – em 
benefício da legítima e urgente valorização da história e cultura afro-
brasileirae africana – omitem dados, análises e contribuições reflexivas 
sobre a sua história e cultura, com vistas a combater a visão negativa 
perpetuada durante anos nos processos educativos. Assim, em benefício 
de uma legítima positivação, o que ocorre muitas vezes é a idealização da 
África e suas heranças.
Este texto é um convite a que você, professor/a, procure repensar as 
percepções ingênuas construídas sobre a África e os africanos (também 
da diáspora), rompendo tanto com aquelas ideias que informavam um 
continente e seus povos como símbolos natos de destruição, maldição e 
ruína – o chamado afro-negativismo -, quanto também aquelas percepções 
que, em benefício da necessária positivação, silenciaram na escola o estudo 
das contradições e conflitos observados na história do continente e ainda 
hoje presentes em sua realidade (como a corrupção, a subserviência 
política, o julgo europeu e asiático com submissão econômica e cultural, 
a miséria e as guerras, entre outros). Embora tais mazelas não devessem 
ser generalizadas para todo o continente, ignorá-las - ou até justificá-las 
- pode conduzir a um afrocentrismo ingênuo, por vezes transformado 
naquilo que Carlos Lopes chamou de tese da superioridade africana6. Este 
6 - De acordo com Lopes, 1995, 
na busca de fatos produtores 
de uma projeção da superiori-
dade da África, alguns autores 
africanos compararam os 
feitos históricos africanos ao 
que de melhor se considerava 
ter sido produzido por outras 
regiões do mundo: “assim se 
inventaram nobres, heráldica, 
descobertas; promoveram-
se a heróis continentais 
personagens de História local; 
reivindicou-se o Egito e quase 
se chegou ao embranqueci-
mento pictorial de fisionomias 
negras, numa réplica desafi-
ante aos pintores europeus”. 
(Lopes, 1995). A história da 
chamada sociedade africana 
“pré-colonial” foi abordada de 
maneira idílica e harmoniosa, 
contrapondo-se à história do 
período colonial. Os autores 
mais afeitos à ideia da supe-
rioridade africana, segundo 
Lopes, no afã de afirmação 
da África e do valor de sua 
história e cultura reduziram a 
complexidade africana, mas, 
evidentemente, tiveram papel 
importantíssimo para supera-
ção do suposto de condenação 
e inferioridade que marcou 
a historiografia anterior, 
preparando terreno para uma 
historiografia crítica, mais 
vigorosa e compreendida pela 
problematização, em finais do 
século XX e início do XXI.
texto é também um convite a pensar melhor no valioso cultivo do nosso 
sentimento de pertença à experiência do continente africano, sentimento 
que liga a África e os africanos ao Brasil por laços históricos conhecidos, 
mas ainda não totalmente compreendidos ou valorizados.
A recomposição do imaginário sobre a África é também parte importante 
da implementação de programas educativos que, centrados no ensino de 
história e cultura africana e afro-brasileira, voltam-se à promoção de uma 
(re)educação das relações étnico-raciais, em nosso país. Tal perspectiva, 
no entanto, precisa se pautar pela busca de uma compreensão real da 
história e da cultura dos povos africanos e afro-descendentes. No nosso 
caso, é significativa a abordagem da história africana do ponto de 
vista de suas relações com o Brasil, sem ingenuidades ou supressões, 
mantendo, evidentemente, a positivação como suposto educativo, mas 
sem idealizações acerca da África, da rica ancestralidade que nos liga, dos 
laços contemporâneos, enfim, de sua/nossa história. É a partir da aposta 
de que é possível – e necessário – reconstruir imagens estereotipadas 
– qualquer que seja sua perspectiva – que este texto se orienta. 
Esperamos que ele possa representar um efetivo convite à reflexão crítica 
e à elaboração de propostas pedagógicas inovadoras. Mas para isso, é 
preciso compreender alguns dos pressupostos e argumentos que estão 
presentes tanto na tese da inferioridade africana quanto naquela que, 
visando ultrapassar essa visão, erigiu uma “pirâmide invertida”, como 
nos diz Carlos Lopes.
Em Sala de aula
Se objetivamos desconstruir estereótipos e caminhar 
em direção a uma visão mais realista do continente, na 
perspectiva de sua diversidade, é importante, em primeiro 
lugar, investigar as representações que os alunos carregam 
acerca do continente. Pode-se, então, iniciar os estudos 
sobre o continente africano propondo que os alunos 
descrevam o que pensam sobre a realidade africana, que 
tipo de imagens vêm à sua memória, o que sabem sobre 
a história e a geografia desse continente (é comum que 
identifiquem a África como um país e não se dêem conta 
de que trata-se de um continente, constituído por mais de 
50 países). Outra alternativa consiste em levar para sala 
de aula um conjunto de imagens do continente (imagens 
diversas, que mostrem tanto as mazelas econômicas e sociais 
quanto a riqueza das diferentes formas de organização 
política, econômica e social, com sua diversidade sócio-
cultural, sua produção artística, etc; da mesma forma, 
tanto imagens que evidenciem as belezas naturais, com 
sua grande diversidade de paisagens, quanto aquelas que 
mostrem a destruição de florestas, queimadas, uso não 
sustentável das riquezas, etc.), em comparação e similitude 
a outras partes do mundo (também neste caso, mostrando 
situações diversas, imagens que enfatizem tanto aspectos 
positivos quanto negativos). Pode-se propor aos alunos 
que selecionem aquelas imagens que acreditam referir-se 
ao continente africano e aquelas que pensem referir-se a 
outras realidades. A partir do levantamento dessas imagens 
e representações pode-se começar a discutir em sala de aula 
a origem de tais representações e as razões do predomínio de 
equívocos e estereótipos. Enfim, propor que reflitam sobre 
as representações construídas, como forma de convidá-los 
a problematizar e rever parte dessas representações.
 
 
Identidades em Contraponto: Da Tese da 
Inferioridade à Pirâmide Invertida
 
Não é de hoje que vem se forjando a tese da inferioridade africana. Hegel, 
no século XIX, já postulara que “A África não é uma parte histórica 
do mundo. Não tem movimentos, progressos a mostrar, movimentos 
históricos próprios” (HEGEL, citado por ARNAUT e LOPES, 2005).
Essa idéia foi mantida praticamente intocada, inclusive nos meios 
acadêmicos7, pelo menos até meados do século XX. E mesmo nos dias 
atuais ainda é comum (embora não seja aceitável) que os africanos sejam 
descritos como não civilizados, pouco afeitos ao trabalho intelectual e, 
nesta tradição, considerados incapazes de pensar a sua própria história. 
Muitos livros didáticos no Brasil contribuíram para reforçar essa idéia, 
especialmente porque divulgaram imagens de africanos como sujeitos 
inteiramente dominados e oprimidos pelo processo de escravização. 
Essa representação – sustentada também por concepções pretensamente 
científicas8 do século XIX - contribuiu muito para difusão da idéia 
de que as sociedades africanas são incapazes de se autogovernar, por 
serem associadas a atributos como os de ingenuidade ou primitivismo. 
Felizmente, lutas sociais e políticas e também embates científicos têm 
permitido a superação destes postulados relativos ao que seria uma 
inferioridade genética ou inata dos africanos, considerando que não 
existe inferioridade ou superioridade racial9... . Mas, se não há raças 
do ponto de vista biológico, há ainda racismo em diferentes partes do 
planeta, inclusive no Brasil. Assim, se como operadores biológicos que 
justifiquem hierarquizações, as idéias em torno do conceito de “raças 
humanas” perderam validade e credibilidade científica e também social, 
as classificações raciais são ainda, infelizmente, critérios utilizados no 
7 - Um famoso professor da 
Universidade de Oxford, Sir 
Trevor-Hoper, afirmou, em 
1963, “não haver uma história 
da África subsaariana, mas 
tão-somente uma históriados europeus no continente, 
porque o resto era escuridão, 
e a escuridão não é matéria 
da história” (SILVA, 2003, 
p.229). Será mesmo que a 
história da África somente 
passou a existir com o contato 
europeu? O que você pensa a 
respeito?
8 - O pensamento científico do 
século XIX, voltado ao estudo 
das populações humanas e 
posteriormente identificado 
como “racismo científico”, 
estruturou-se a partir da 
antropologia criminal, da 
biometria e da eugenia. Fun-
damentado no pressuposto da 
hierarquização das raças pela 
tipologia física e psicológica, 
esse pensamento foi superado 
ao longo do século XX, mas 
norteou ações médico-políticas 
contra grupos humanos, com 
repercussões no pensam-
ento social, na estruturação de 
políticas de estado e na formu-
lação pedagógica em diferentes 
países do mundo.
9 - O que existem são dife-
renças genéticas, culturais 
e físicas que são expressões 
de como somos diversos uns 
dos outros, sendo que cada 
agrupamento humano e, 
mesmo, cada indivíduo, pode 
ser considerado portador de 
qualidades e capacidades 
próprias, singulares. Portanto, 
as diferenças são reais entre os 
humanos de todos os continen-
tes ou sociedades. Contudo, 
elas não podem ser parâmetros 
para hierarquizações, ou seja, 
para que pensemos que alguns 
grupos humanos são melhores 
do que outros por causa de 
suas características físicas ou 
suas manifestações culturais.
pensamento e vivência social para discriminar, excluir e impedir o acesso 
a bens e direitos.
Mas a idéia de “raça” não tem sido apropriada apenas numa perspectiva 
de hierarquização – e conseqüente inferiorização de alguns grupos 
humanos -, nas formas como opera o racismo. Ela também tem sido 
utilizada - em meio a polêmicas e controvérsias – como estratégia de 
afirmação de identidades negadas e silenciadas por séculos, como é o 
caso da identidade negra. Assim, mesmo reconhecendo a inexistência 
de raças, do ponto de vista biológico, muitos grupos reivindicam um 
pertencimento étnico-racial, afirmando a validade desse conceito do 
ponto de vista social, enquanto estratégia de mobilização e luta. Esse 
movimento de afirmação e valorização da identidade negra, a partir da 
idéia de pertencimento étnico-racial, também tem história, uma história 
que se liga às lutas travadas por africanos nos processos de emancipação 
política e por afro-descendentes da diáspora, espalhados por diferentes 
partes do mundo.
Foi no contexto de luta anti-colonialista que se forjou o que chamamos 
de pan-africanismo, ideologia política criada fora da África que predicava 
que a Diáspora e a África tinham um destino comum. Dessa forma, a 
emancipação dos afro-americanos, por exemplo, estava vinculada à 
emancipação dos povos do continente – e vice-versa.
De acordo com Carlos Lopes,
Os africanos têm muita dificuldade em aceitar a 
identidade que não seja a pan-africana. Isso tem a ver 
com a história política do continente. Porque os africanos 
tiveram que afirmar a sua identidade em contraponto. A 
práxis identitária africana é o contraponto. Existe toda 
uma literatura, uma produção de mídia, uma produção 
artística de inferiorização do africano. Ele sente 
necessidade de fazer aquilo que chamo de pirâmide 
invertida. Faz tudo ao contrário e inverte a pirâmide. 
O que é mau passa a ser bom, o que é bom passa a ser 
mau. Ele sobrevaloriza as coisas africanas e subvaloriza 
a influência externa, que também está presente. Os 
africanos são diversos, embora tenham dificuldades 
em aceitar isso. Mesmo o africano que não é negro 
tem de se posicionar para defender sua identidade. Ele 
quase rejeita as outras características do padrão, para 
se expressar dos pontos de vista intelectual, artístico 
e identitário. (...). Esse debate será ultrapassado aos 
poucos. À medida que vão ocorrendo as discussões sobre 
a questão das identidades, começa-se a admitir que 
a África contemporânea é de fato uma mistura, como 
todos os países e continentes o são. (LOPES, 2004, p. 1).
 
 
O conceito de “pirâmide invertida”, como nos diz Carlos Lopes, diz respeito 
a esse processo de afirmação de uma superioridade africana e, junto a 
isso, de uma suposta “homogeneidade” ou de que os africanos teriam, 
naturalmente, algo em comum. Esse algo passa a ser, muitas vezes, a 
“raça negra”, enquanto uma identidade comum. Outro pensador africano 
crítico aos usos e apropriações do conceito de raça é Kwame Anthony 
Appiah. Dialogando com o movimento pan-africanista, este filósofo 
também nos adverte sobre os riscos do apelo ao conceito de raça, mesmo 
que numa perspectiva social, vir a contribuir para um congelamento, 
fixação, essencialização e homogeneização de uma identidade negra.
A “raça” nos incapacita porque propõe como base para a 
ação comum a ilusão de que as pessoas negras (e brancas 
e amarelas) são fundamentalmente aliadas por natureza 
e, portanto, sem esforço; ela nos deixa despreparados, 
por conseguinte, para lidar com os conflitos “intra-
raciais” que nascem das situações muito diferentes dos 
negros (e brancos e amarelos) nas diversas partes da 
economia e do mundo. (APPIAH, 1997: 245)
 
 
As “situações muito diferentes dos negros” (e de quaisquer outros grupos), 
como nos lembra Appiah, são fruto de processos históricos diversos. 
Assim, se é fato que a experiência do racismo constitui um elemento 
de identidade entre grupos que, historicamente, foram discriminados e 
inferiorizados em função de seu fenótipo ou de sua ancestralidade comum, 
também não se pode ignorar que as experiências sociais vivenciadas por 
indivíduos desses grupos são diversas e não se restringem às opressões 
e discriminações do racismo. E as diferentes experiências históricas, 
que levaram às tais “situações muito diferentes”, a que se refere Appiah, 
precisam ser conhecidas e estudadas, se queremos efetivamente caminhar 
no sentido de uma compreensão da complexidade e diversidade que 
caracteriza o continente africano.
É preciso considerar que há desdobramentos significativos dessas questões 
no cenário educativo brasileiro atual, quando vivenciamos o processo de 
investimentos em uma educação anti-racista ou educação das relações 
étnico-raciais. É comum encontrarmos professores que optam por estudar 
a história e cultura africana resgatando a mitologia e a literatura africana, 
com vistas a favorecer uma valorização da herança e produções culturais 
africanas. Esse movimento, instigante e inovador, sobretudo para os 
estudantes, pode – e deveria - ser acompanhado de análises históricas e 
sociológicas do continente, o que nem sempre ocorre. Essa exclusão da 
análise propriamente histórica e sociológica tem, por vezes, contribuído 
para um retorno ao que seria uma África ancestral, mítica, a-histórica ou 
compreendida apenas por seus traços considerados valiosos no seio da 
positivação da auto-estima dos brasileiros afro-descendentes.
Da mesma forma que na historiografia10 há o que se chama de “pirâmide 
invertida”, também nas práticas educativas se tem observado movimento 
semelhante. Se num primeiro momento de positivação das identidades e 
histórias sub-valorizadas essa estratégia possa ser instigante, por outro 
lado, ela pode ser capaz de gerar representações equivocadas e idealizadas 
acerca da África, funcionando, na verdade, para impedir a compreensão 
crítica e o posicionamento reflexivo dos alunos a respeito da história, 
da cultura e da relação Brasil-África. Sem a intenção de desqualificar 
práticas educativas voltadas ao trabalho com história e cultura africana e 
afro-brasileira, precisamos nos debruçar sobre o que tem sido ensinado 
aos estudantes, neste momento, para entendermos as implicações disso 
quanto ao alcance de nossos objetivos. Vale a pena, então, refletirmos 
sobre o que diz uma professora a respeito da história da África.
[...] Eu mostrei issoprá eles, que naquela época, as 
tribos, os primeiros negros eles eram reis e rainhas, 
moravam em palácios, eles tinham os escravos deles, 
mas dentro da tribo deles lá, os egípcios, os escravos 
não eram pessoas que eram judiados não, era como a 
organização das abelhas, os trabalhadores, todos tinham 
a sua hierarquia, todos eram respeitados dentro da sua 
hierarquia, ninguém sofria nem era maltratado, eles 
eram chamados de escravos, mas na verdade eles eram 
servidores, né, dos reis e rainhas [...]11
 
 
É necessário primeiramente compreender os depoimentos dos 
professores a partir das dificuldades que vários deles têm de acesso a 
bibliografia12 atualizada e reflexiva a respeito da História Africana. Mesmo 
em cursos de formação, muitos estereótipos ou formulações equivocadas 
são veiculados. Tomamos também os depoimentos como significativas 
maneiras pelas quais os professores se expressam a respeito do tema, 
posicionando-se neste contexto de aproximações com a história do 
continente e de experimentações de abordagem da África.
Este depoimento permite que façamos reflexões muito instigantes a 
10 - J. D. Fage no livro História 
Geral de África, volume 1, 
organizado por Ki-Zerbo, 
traça interessante panorama 
sobre a historiografia africana. 
Apresenta uma análise dos 
estudos históricos da África, 
desde as antigas concepções 
orientalistas européias até 
a sua reformulação atual e 
recente depois da ascensão dos 
movimentos negros e do pós-
colonialismo, passando pela 
historiografia arábica e pela 
chamada produção autóctone. 
O capítulo está disponível no 
site Africanidades; História da 
África e culturas tradicionais 
africanas. In: http://afrolo-
gia.blogspot.com/2008/03/ 
historiografia-africana.html
12 - Carlos Moore alerta para 
a carência de material didático 
sobre a África, em língua por-
tuguesa e espanhola. Segundo 
nos diz, “esta questão não será 
resolvida tão cedo, consideran-
do que a tradução e publicação 
das obras estão submetidas a 
considerações de mercado e da 
política das grandes editoras. 
Corre-se o grande risco de que 
se privilegiem para a tradução 
em língua portuguesa, precisa-
mente, obras preconceituosas 
ou desatualizadas, situação 
com a qual haverá que coex-
istir durante um longo tempo” 
(MOORE, 2008, p. 200-201). 
Chama ainda a atenção para 
a necessidade de que as obras 
se estruturem como um painel 
pluridisciplinar de especial-
istas com comprovada famil-
iaridade com as realidades 
africanas e com sólidos conhe-
cimentos da bibliografia sobre 
o continente. Os especialistas 
seriam aqueles que conhecem 
a África a partir de dentro, 
ou seja, “de suas cosmogo-
nias, línguas e estruturas que 
moldaram aquelas sociedades 
ao longo da mais extensa 
história do planeta” (idem, 
p.202), com o necessário 
rigor crítico em contraponto 
ao pensamento marcado pela 
apologia sistemática do pas-
sado (idem, p. 204). No campo 
didático, seria significativo, 
ainda segundo o mesmo autor, 
cultivar a empatia para com o 
11 - Este depoimento é parte 
dos dados apresentados na 
pesquisa de Doutoramento in-
titulada “Saberes e práticas em 
Redes de Trocas: a temática 
africana e afro-brasileira em 
questão”, desenvolvida por 
Lorene dos Santos, junto ao 
Programa de Pós-Graduação 
em Educação da Faculdade de 
Educação da UFMG, 2010.
respeito dos desafios educativos postos neste momento de positivação. O 
movimento de naturalização das relações sociais é um dos pontos mais 
importantes a serem superados. A comparação entre as organizações 
sociais africanas e a organização das abelhas é uma analogia que expressa, 
em alguma medida, esta armadilha colocada ao professor na tentativa de 
diferenciação entre o escravismo na África e o escravismo moderno. É 
evidente que o recurso utilizado não permite expressar esta diferença. 
Não é transformando as relações sociais africanas em relações “naturais” 
que estas particularidades serão melhor compreendidas. O mesmo vale 
para a afirmação de que o que era praticado na África não era escravismo, 
outra mostra de que faltam a muitos professores informações e elementos 
históricos para proceder à positivação, mas sem negar aos alunos o 
estudo crítico e reflexivo da História e Cultura Africana, também com 
seus embates e com suas ruínas. Em outras palavras, nunca podemos 
perder de vista que as sociedades africanas são sociedades humanas: 
cultural e historicamente estruturadas. Este exemplo pode ser bastante 
significativo dos problemas que hoje enfrentam os professores em 
suas tentativas de positivação desta história, mas com pouco acesso a 
informações e análises mais substantivas.
Prevemos, portanto, um movimento educativo que não abra mão de 
todos os recursos da positivação da história e cultura africana (em que 
se incluem a apreciação estética e ética dos registros culturais africanos e 
afro-descendentes), sem prescindir da análise e compreensão empática, 
e também crítica da trajetória histórica do continente e de sua atual 
situação.
 
África no Plural
 
Na África vivem em interação cultural mais de 2.000 povos diferentes13, 
que possuem os mais variados modos de organização sócio-econômica, 
política e cultural, contando também com uma infinidade de fluxos 
migratórios populacionais e trocas entre povos nas mais diferentes 
fronteiras e espaços do continente. Podemos compreender as mais 
variadas dinâmicas culturais que se estabeleceram, se estabelecem e se 
recriam cotidianamente no continente.
É interessante, então, que pensemos na África como um continente 
complexo e plural, em que a marca mais forte é a diversidade sócio-
cultural. Várias Áfricas14, várias culturas! Uma África que chegou ao 
século XXI tendo vivenciado muitas histórias, algumas cheias de conflitos 
e opressão... outras, produzidas na vivência cotidiana, em grupos de 
convívio e em família, uma vida feita por pessoas reais que têm visões de 
13 - Carlos Moore chama 
a atenção para fatores que 
devemos considerar para 
abordagem histórica complexa 
quanto à África, quais sejam 
a sua extensão territorial 
(30.343.551 km2), o que cor-
responde a cerca de 22% da su-
perfície terrestre; a topografia 
variada, com savanas, regiões 
desérticas, semidesérticas, alti-
planos, planícies, regiões mon-
tanhosas e imensas florestas, a 
mais longa ocupação humana 
de que se tem conhecimento 
(cerca de 2 a 3 milhões de anos 
até o presente) e a “existência 
e interação de mais de 2.000 
povos com diferentes modos 
de organização socioeconômi-
ca e de expressão tecnológica” 
(MOORE, 2008, p. 160-161).
14 - Leia o que nos diz Carlos 
Lopes “Os africanos são diver-
sos, embora tenham dificul-
dades em aceitar isso. Mesmo 
o africano que não é negro tem 
de se posicionar para defender 
sua identidade. Ele quase 
rejeita as outras características 
do padrão, para se expressar 
dos pontos de vista intelectual, 
artístico e identitário. Por 
isso é que escritores como 
Mia Couto, José Eduardo 
Agualusa, Pepetela, Ondjaki 
são muito interessantes: estão 
na fronteira da discussão iden-
titária. São pessoas que estão 
muito bem na sua pele. E isso 
incomoda um bocado, porque 
não é o padrão. E eles também 
não se estão a reivindicar como 
negros puros. Esse debate 
será ultrapassado aos poucos. 
À medida que vão ocorrendo 
as discussões sobre a questão 
das identidades, começa-se a 
admitir que a África contem-
porânea é de fato uma mistura, 
como todos os países e con-
tinentes o são”. Entrevista a 
Deborah Dornelas – Correio 
Brasiliense, 18/12/2004, dis-
ponível em http://www.pnud.
org.br/pnud_midia/ visualiza. 
php?lay=pmiv&
id14=157.
continente e sua história, es-
timulando a sensibilidade em 
relação aos povos e culturas 
africanos, numa abordagem 
também pluridisciplinar. 
(idem, p.206).
mundo, identidades culturaise relações peculiares com a natureza e com o 
seu passado histórico. Nenhuma dessas pessoas ou grupos, isoladamente, 
contudo, explica por si a história do continente. É preciso olhar para as 
várias histórias para entender a(s) história(s) da África, conforme nos 
propõe a escritora nigeriana Chimamanda Adichie15, em “O perigo de 
uma única história” .
Se entendemos por cultura o conjunto de experiências e manifestações 
vivenciais expressas por um grupo na sua relação de mediação com o 
mundo, podemos, então, pensar que a África possui uma variedade 
bastante grande de culturas. Seu perfil cultural não pode, por isso, ser 
reduzido a uma identidade única16, como se existisse uma “essência 
africana”.
Como já dissemos, a África é um continente portador de muitas 
expressões culturais, que podem variar conforme a matriz cultural ou 
origem do grupo, conforme a região, a organização social, política, e, 
mesmo, de acordo com as relações que os grupos estabelecem com o 
meio ambiente. As variações são inúmeras e sabemos que a tentativa de 
construir uma identidade africana levou a minimizar-se e a desprezar-
se a enorme diversidade cultural desse continente, expressa em sua 
medicina, filosofia,astronomia17, matemática e nas manifestações 
artísticas e arquitetônicas, por exemplo. Enfim, “toda identidade humana 
é construída e histórica” (APPIAH, 1997).
No entanto, é comumente difundida a idéia de que a África é um 
continente em permanente guerra, assolado por miséria, fome e terríveis 
doenças. Da mesma maneira, difunde-se que o continente africano é 
um cenário de paisagens naturais exóticas e inexploradas: desertos 
despovoados, savanas cheias de leões e elefantes e paisagens à espera de 
aventuras e safáris. Não é raro que encontremos pessoas que imaginam 
um continente envolto em misticismo, com uma população envolvida 
com crenças primitivas ou amaldiçoadas, ou de pessoas produtoras de 
uma arte “grosseira” e primitiva.
Difundidas geralmente por documentários, jornais e revistas, e até mesmo 
na escola, essas representações estereotipadas a respeito do continente 
e dos africanos orientam-se pela desinformação e pelo etnocentrismo18 
que pautou a relação, sobretudo da Europa com a África, nos últimos 
séculos. Nessas representações um fato isolado é tido como significativo 
para compreensão da história e cultura de todo o continente. Assim 
ocorrem com as guerras civis, as doenças e a fome que, simbolicamente, 
expressam o que seria a “face” do continente, a sua marca. Embora 
problemas sociais, políticos, econômicos e culturais evidentemente 
existam na África, precisamos evitar tomá-los como a única forma de 
compreender o continente. Algumas pessoas tentam ver tendências 
africanas inatas para a guerra civil, o que é incorreto; outras tributam até 
17 - Você sabia, por exemplo, 
que os Dogon, uma etnia afri-
cana, muito antes do advento 
das explicações científicas 
européias, sabiam que a Terra 
gira em torno de si e do Sol? 
(LOPES, 1995, p.23).
18 - O conceito de etnocentris-
mo relaciona-se à estranheza 
seguida de repulsa que ocorre 
no encontro entre sujeitos ou 
entre dois ou mais grupos so-
ciais diferentes, gerando uma 
polarização entre o “eu” ou 
“nós” e o “outro”. A perspec-
tiva etnocêntrica configura-se 
quando o “eu” ou “nós” é 
pensado como “verdadeiro”, 
“real” ou “melhor”, sinônimo 
de avanço, modo de vida ou 
regra superiores, enquanto 
o “outro” é visto e pensado 
como algo exótico, excêntrico, 
anormal, primitivo, enfim, in-
ferior. Segundo Laraia (1986), 
“O fato de que o homem vê o 
mundo através de sua cultura 
tem como conseqüência a 
propensão em considerar o 
seu modo de vida como o mais 
correto e o mais natural”. Para 
este autor, o etnocentrismo é 
um fenômeno universal, sendo 
“comum a crença de que a 
própria sociedade é o centro 
da humanidade, ou mesmo 
a sua única expressão”. No 
entanto, em casos extremos, o 
etnocentrismo é responsável 
pela ocorrência de numerosos 
16 - Muita gente acha que a 
África tem uma expressão 
cultural relativamente ho-
mogênea (uniformemente e 
igualmente verificada em todo 
o continente), definidora do 
que seria uma “identidade do 
africano”. É comum ouvirmos 
narrativas acerca do que 
é “ser africano”, como se 
fosse possível esclarecer, em 
algumas palavras, essa marca 
de identidade. Essa idéia, lar-
gamente difundida ainda hoje, 
não ajuda a entender a África 
e suas expressões culturais. Al-
guns movimentos de afirmação 
da positividade negra também 
lançaram mão, sobretudo nos 
momentos instituintes de luta 
e por estratégia política, desse 
pressuposto de um padrão cul-
tural do que seria ser africano.
15 - Escritora Nigeriana, 
nascida em 1977, autora de 
romances como Meio sol ama-
relo, Editora Asa, que ganhou 
o prêmio Orange Prize, 2007; e 
La flor púrpura, 2005, Editora 
Debolsillo, Barcelona
conflitos sociais e esteve na 
base de opressões e domina-
ções históricas, como a que 
ocorreu a partir das expansões 
ultramarinas européias, e da 
conseqüente estruturação 
dos sistemas colonialistas e 
imperialistas, nos continentes 
americano, africano e asiático, 
entre os séculos XV e XX.
mesmo uma maldição19 a populações de origem africana.
Essas idéias absurdas foram e são ainda difundidas, sobretudo desde a 
intensificação da relação da Europa com o continente, durante o longo 
processo de colonização da África; expressam uma noção negativa que 
se tentou passar à história como justificativa para a violência imposta ao 
continente.
Por várias destas razões, há pessoas que supõem que as populações 
africanas não têm cultura nem história ou, no máximo, teriam 
desenvolvido apenas formas primitivas de organização social e política e 
de produção cultural.
Diferentemente, podemos entender quase todas as guerras civis que 
assolaram e ainda assolam o continente como resultantes de um complexo 
processo de agressão cultural, política e material vivenciado pelas 
populações africanas durante séculos, sobretudo a partir da colonização. 
Isso não quer dizer que não existiam guerras e conflitos em África antes da 
chegada dos europeus. Mas se estudarmos com maior cuidado boa parte 
dos conflitos mais recentes, veremos não raízes inatas para a guerra, mas 
sim o resultado das experiências de violência sofridas pelos africanos 
também a partir do contato com outras culturas e povos. Alguns deles 
são resultantes do aprofundamento de antigas guerras historicamente 
travadas entre grupos africanos em disputa por territórios e riquezas, 
como se vê em outros continentes, mas que em África se perpetuaram 
ou se acirraram em função dos sistemas de dominação e expropriação 
sofridos pelo continente.
O mesmo exercício de discernimento vale para o caso das expressões 
culturais africanas, tidas por vezes como inferiores, atrasadas ou 
primitivas. As culturas africanas, por serem diferentes de culturas como 
as européias, foram muitas vezes classificadas erroneamente como 
inferiores ou bárbaras. Elas são diferentes, inclusive entre si, movidas 
por formas expressivas próprias, que também se transformam ao longo 
dos tempos. Pense nisso sempre que você se deparar com uma imagem, 
texto ou representação sobre a África e suas culturas.
Em Sala de aula
Lembre-se que é importante contextualizar imagens que 
mostrem a produção cultural africana, procurando saber a 
época e local em que foram produzidas, o contexto sócio-
histórico e o nome do povo ou grupo étnico responsável 
por sua produção, incluindo, sempre que possível, alguma 
referência sobre este povo e o contexto em que vive/viveu. 
Mesmo aquelas imagens que ressaltam a beleza e riqueza 
19 - Fato recente que escanda-
lizou o Brasil e exigiu retrata-
ção foram os comentários do 
Cônsul do Haiti no Brasil, 
George Samuel Antoine, que 
ao se referir ao terremoto que 
destruiuo país, em janeiro 
de 2010, o avaliou como uma 
tragédia “boa” para que o Haiti 
fique conhecido. Na sequência, 
disse: “Acho que de tanto mex-
er com macumba, não sei o 
que é aquilo... O africano em si 
tem maldição. Todo lugar que 
tem africano lá tá f...” (http://
noticias.terra.com.br/mundo/
noticias/ 0,,OI4208157-
EI14687,00.html) A declaração 
foi ao ar pelo SBT em 14 de 
janeiro logo após a tragédia. 
Boa parte da população do 
Haiti pratica o vodu, prática 
religiosa que reúne traços do 
catolicismo e de vodu africano. 
Esta declaração do Cônsul 
(residente no Brasil há 35 
anos), reprovável em todos 
os sentidos, reproduz ideia 
muito comum no Brasil de 
que “africano tem maldição”. 
Ela expressa o quão distante 
estamos de uma compreensão 
mais alargada das dimensões 
plurais da cultura e identidade 
e dos registros de origem 
africana no mundo, descon-
hecendo o drama vivido por 
populações afro-descendentes 
na diáspora. De forma semel-
hante, muitos praticantes do 
candomblé e da umbanda no 
Brasil vivenciam o precon-
ceito contra suas práticas e 
crenças religiosas. Este tema é 
abordado no módulo “Culturas 
afro-brasileiras”.
cultural de produções africanas, quando apresentadas 
de forma genérica e sem contextualização, contribuem 
para reproduzir uma idéia de homogeneidade cultural 
do continente, o que deve ser sempre evitado. No afã de 
positivar a história da África, alguns professores apresentam 
referências culturais produzidas em contextos específicos 
como representativas do continente, o que, ao invés de 
favorecer o estudo e análise da história e cultura africanas, 
reduzem-nas a estereotipias ou modelos únicos para um 
continente tão complexo e diverso.
 
 
Algumas manifestações culturais africanas foram misturadas às 
manifestações culturais daqueles povos com os quais a África entrou em 
contato na história – como é o caso de expressões européias e islâmicas, 
por exemplo. Dessa forma, a África pode ser entendida como um mosaico 
de expressões culturais, em que subsistem, lado a lado, culturas africanas 
praticamente reservadas do contato com outras manifestações e também 
– e com maior freqüência – as chamadas culturas híbridas20, quer dizer, 
aquelas que nasceram do contato cultural de povos de diversas origens 
nesses séculos de história.
Veja, a seguir, algumas imagens do continente africano que podem 
instigar você a pensar a diversidade de elaborações culturais africanas, 
os inúmeros intercâmbios com povos e grupos diversos que chegaram 
ao continente, assim como sua diversidade ambiental, caracterizada pela 
existência de distintas paisagens naturais. Mas atenção: as fotos apenas 
exemplificam essa diversidade, sem qualquer pretensão de abarcar sua 
totalidade. O conjunto apresentado pode – e deve - ser completado 
com imagens diversas, que remetam a outras realidades culturais e 
paisagísticas presentes no continente.
 
20 - Híbrido vem sendo uti-
lizado, sobretudo pela crítica 
pós moderna preferentemente 
ao termo mestiçagem, pois 
segundo García Canclini, 
mestiçagem pode camuflar a 
manutenção de uma identi-
dade fundada na homogenei-
dade, preocupada em integrar 
os grupos marginalizados, 
mas sempre de acordo com 
as concepções dominantes 
da identidade nacional ou de 
um projeto político de nação 
excludente, mas sob rótulo de 
mestiça. O conceito de hibrid-
ização cultural permite con-
siderar o respeito à alteridade 
e a valorização do diverso. 
As identidades são neste ar-
cabouço teórico-conceitual 
compreendidas em processo 
de construção e desconstrução, 
não como suportes estáveis, 
fixos e avessos aos contatos.
1) Fotos de habitantes do Vale Rift Oriental, Rio OMO, Etiópia, África, feitas pelo fotógrafo alemão Hans Sylvester entre 1960 e 1970. As fotos integram 
o livro Ethiopia: peoples of the Omo Valley. Editora Harry Abrams Inc, 2007. 2 volumes. Tal como os descreve Hans Sylvester, nos anos 70, os povos 
do Omo eram pastores e coletores; viviam numa região vulcânica que fornecia uma imensa gama de pigmentos composta por ocre vermelho, argila 
branca, verde cobre, amarelo e cinza. Utilizavam-se em suas pinturas as mãos, a ponta das unhas, às vezes uma ponta de madeira, um junco e toda 
sorte de flores, galhos secos e frutos secos. 
2) Os Himba são uma sociedade pastora matriarcal semi-nômade, vivem na Namíbia e em parte do Deserto do Namibe, em Angola. As mulheres 
himba cobrem geralmente o corpo com um óleo avermelhado, mistura de banha de boi com uma pedra local, uma espécie de argila, que protege a pele 
do vento e do sol; são comuns os penteados elaborados e os cabelos enfeitados com peças de couro e de metal, também eles untados com a mesma 
mistura; sua vestimenta é feita de peles curtidas. Em seu grupo, falam a língua Herero. O gado bovino é o principal símbolo de status das famílias 
himba. A carne bovina é reservada apenas para eventos especiais, como casamentos e funerais. Quando uma pessoa himba morre, mata-se uma parte 
de seu gado, para proteger o seu espírito. Nas aldeias himba há um curral no meio, vigiado pelo fogo sagrado chamado “okuruwo”, usado para que os 
himba se comuniquem com os seus ancestrais. Fotos de Sebastião Salgado, África, 2007.
A Diversidade Cultural e Paisagística em África
3) Fábrica artesanal de tapetes marroquinos, no interior da Medina de Fez, cidade localizada no Marrocos, norte da África. Na construção se destacam 
elementos da arquitetura árabe e da tapeçaria marroquina. Medina é o nome que se dá aos limites das antigas cidades árabes, cercadas por muros e 
no interior dos quais se concentram as atividades religiosas, com a presença de inúmeras mesquitas, e as atividades mercantis – com destaque para o 
souk, famoso mercado árabe. Foto de Lorene Santos, 2009.
4) Vista do Vale do Rio Ourika, junto à Cordilheira do Atlas, próximo a Marrakesh, Marrocos. A neve, ao fundo, é evidência do frio inverno vivenciado 
em muitas regiões do norte da África. O vale do Rio Ourika é povoado por várias comunidades berberes, que já foram nômades, mas hoje vivem em 
pequenas aldeias espalhadas ao longo do Vale, sobrevivendo do pastoreio, artesanato e pequeno comércio. Foto de Lorene Santos, 2009.
5) Zebras na Reserva Nacional de Masai Mara, no Quênia, país da África Oriental. O Masai Mara é o ponto mais ao norte do ecossistema do Serengeti. 
Todos os anos, depois de esgotar as pastagens no norte do Serengeti, na Tanzânia, um grande número de gnus e zebras entra no Masai Mara. Além 
das belas paisagens, o Quênia é um país onde vivem povos que mantém muitas de suas antigas tradições, tais como os Kikuyu, os Maasai, os Turkana 
e os Samburu. Foto de Sebastião Salgado, África, 2007.
6) Vista panorâmica do Rio Kwanza, no Parque Nacional da Quissama, localizado ao norte de Angola, país da costa ocidental do continente africano. 
A área do Parque de Quissama é protegida para a preservação de ecossistemas e para o turismo, desde 1957. A vegetação é bastante variada, desde 
as margens do Kwanza até o interior do Parque, com manguezais, mata densa, savana, árvores dispersas, cactos, imbondeiros e grandes zonas de 
arvoredo, além de uma fauna abundante e bastante variada (Foto: http://fotoangola.weblog.com.pt/)
7)Deserto do Namibe, na Província de Namibe, em Angola, país da costa ocidental do continente africano. A província de Namibe apresenta 
ecossistemas variados, tais como mar, deserto e savana. O deserto do Namibe ocupa uma extensa área, com cerca de 50.000 Km2, ao longo do litoral 
do Oceano Atlântico, e é considerado o mais antigo deserto do mundo. Também possui as mais altas dunas de areia, que chegam a atingir 340 m de 
altura. (www.galassiaarte.it/.../namibia_on_the_road.html)
8) Cidade do Cabo, na África do Sul, localizada no extremo sul do continente, próxima ao Cabo da Boa Esperança. Foi a primeira cidade fundada 
por europeus naregião, durante o século XVII, tendo sido colonizada por ingleses, holandeses e franceses (tornou-se possessão britânica, em 1814). 
A descoberta de diamantes e ouro, em fins do século XIX, desencadeou uma onda migratória para a África do Sul. A presença humana nesta região 
é muito anterior ao período de colonização, remontando a cerca de 100.000 anos atrás, conforme mostram estudos arqueológicos. A política do 
apartheid, instituída no início do século XX, na África do Sul, só terminou em 1994. A África do Sul é o país mais rico da África, mas apresenta um alto 
índice de desigualdade social. A Cidade do Cabo costuma ser chamada de “cidade Mãe” da África do Sul. (http://blogfut.zip.net)
9) Porto de Stone Town, centro histórico da capital de Zanzibar, uma região da Tanzânia, país localizado na costa oriental do continente africano. 
Importante centro comercial, o arquipélago de Zanzibar, ao longo de sua história, esteve sob controle português, árabe e britânico, tendo alcançado 
sua autonomia política no bojo dos processos de independência da segunda metade do século XX. Reconhecida como Patrimônio Mundial da 
Humanidade, pela UNESCO, em 2.000, Stone Town preserva as marcas da presença de diferentes povos, em sua arquitetura e nas ruas estreitas 
e labirínticas, cobertas por lajes de pedra, que a tornaram conhecida como “cidade das pedras”. A região é também conhecida como “Ilhas das 
Especiarias”, sendo, até hoje, uma importante produtora de cravo, noz-moscada, canela e pimenta, entre outros. O intenso movimento no porto de 
Stone Town é uma evidência do seu dinamismo comercial e turístico. (Foto: http://eoesplendordosmapas.blogspot.com/)
10) Mercado de frutas e legumes em Maputo, Moçambique, país da costa oriental africana. As relações entre Brasil e Moçambique remontam ao século 
XIX, quando o Brasil recebeu um significativo contingente populacional, oriundo da costa oriental africana, no bojo do tráfico intercontinental. Os 
africanos oriundos dessa região eram genericamente chamados de “moçambiques”. O país esteve sob domínio colonial português até 1975, quando 
conquistou sua independência, após um longo período de luta pela libertação nacional, comandada pela Frente de Libertação de Moçambique - 
FRELIMO. Ao longo da década de 1980, o país vivenciou graves conflitos internos, o que provocou a destruição de parte de sua infra-estrutura e fez 
milhões de vítimas. Moçambique é um dos oito países integrantes da “Comunidade dos Países de Língua Portuguesa” – CPLP (veja mais informações 
no site oficial da Comunidade: http://www.cplp.org/). Além de terem o Português como língua oficial, Brasil e Moçambique partilham inúmeros 
outros elementos de identidade cultural. A imagem do mercado, bastante familiar para os brasileiros, é mais uma evidência desses traços comuns. 
(Foto: Maria Aparecida Moura, 2005)
11) Fundo de quintal em Luanda, capital de Angola, país da costa ocidental sul, do continente africano. A região foi uma das principais fornecedoras de 
mão-de-obra escrava para o Brasil, entre os séculos XVI e XIX. De lá vieram principalmente os povos ambundos e outros do grupo linguístico banto, 
embarcados pelo porto de Luanda. O país esteve sob domínio colonial português até 1975, quando conquistou sua independência e mergulhou em 
conflitos internos que perduraram até 2002. Angola é um dos oito países integrantes da “Comunidade dos Países de Língua Portuguesa” – CPLP (veja 
mais informações no site oficial da Comunidade: http://www.cplp.org/). Além de terem o Português como língua oficial, Brasil e Angola partilham 
inúmeros outros elementos de identidade cultural. A imagem de fundo de quintal, bastante familiar para os brasileiros, é mais uma evidência desses 
traços comuns. Foto de Regina Santos, Imagens em Língua Portuguesa. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2002. 
13) Barbeiro em uma aldeia, na região de Yirga Cheffe, na Etiópia, país localizado na região centro-oriental da África. A Etiópia é um dos países 
mais antigos da África, tendo mantido sua independência política desde tempos remotos, inclusive durante a ocupação colonial européia, de fins 
do século XIX e primeira metade do XX. Alguns dos registros mais antigos da existência humana foram encontrados em sítios neste país, que tem o 
maior número de Patrimônios Mundiais reconhecidos pela UNESCO, em África. Durante a década de 1980, a Etiópia sofreu uma série de períodos 
de fome, que resultaram em milhões de mortes. O país foi se recuperando lentamente e, atualmente, sua economia é uma das que mais cresce no 
continente. Entretanto, este país ainda costuma ser identificado como símbolo de fome e miséria, em imagens que são muitas vezes generalizadas 
como representativas de todo o continente africano. A fotografia do barbeiro possibilita refletir sobre aspectos da vida cotidiana de uma aldeia etíope, 
em uma área de plantação de café, podendo contribuir para a desconstrução de alguns dos estereótipos a respeito deste país e de sua população. Foto 
de Sebastião Salgado, África, 2007.
14) Mulheres com capulanas e máscara mussiro, em Moçambique, país da costa oriental africana. As capulanas são tecidos estampados, cortados 
normalmente em forma regular, utilizadas com freqüência em regiões da África Oriental, sobretudo - mas não exclusivamente -, por mulheres. Mais 
do que uma vestimenta, elas podem representar desde um estado de espírito (alegria ou luto, por exemplo) até marcas de identidade e papéis sociais, 
sendo, assim códigos de comunicação e formas de expressão. Estudos sobre as capulanas têm contribuído para aprofundar a compreensão sobre 
diferentes povos africanos. Já o mussiro é um creme tradicional, feito do caule de uma árvore perfumada, usado para refrescar e rejuvenescer a pele, 
além de combater espinhas. Possui também uma dimensão estética, com o intuito de deixar o rosto “branco”, conforme depoimento de uma mulher 
Macúa, das ilhas Angóche, em Moçambique (veja vídeo em http://www.mozambique-tradicional.com/Mussiro---creme-tradicional.php). Foto 1 de 
Fernando Faria e foto 2 de Regina Santos. Imagens em Língua Portuguesa. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2002
15) Roça Agostinho Neto, nas ilhas de São Tomé e Príncipe, localizadas no Oceano Atlântico, no Golfo da Guiné, exatamente na linha do Equador. Foi 
uma colônia portuguesa do século XV até 1975, quando se tornou um país independente. Durante o período do tráfico transatlântico, as ilhas foram 
usadas como entreposto de escravos. Existem dezenas de roças pelo território de São Tomé e Príncipe. Elas são uma herança e símbolo do período 
colonial, quando se produzia cacau em grande quantidade. Muitas delas, hoje, estão abandonadas, ou foram transformadas em pontos turísticos. São 
Tomé e Príncipe é um dos oito países integrantes da “Comunidade dos Países de Língua Portuguesa” – CPLP (veja mais informações no site oficial da 
Comunidade: http://www.cplp.org/). Foto de Regina Santos, Imagens em Língua Portuguesa. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2002. 
As imagens são realmente maravilhosas. Contudo, a África não é apenas 
um continente com paisagens bonitas. Durante muito tempo divulgou-
se a idéia de que era possível estudar a natureza africana pensando-se 
somente no seu território, tomado como natureza inexplorada, sem 
presença humana. Atualmente, verificamos outras perspectivas para o 
estudo da África que prevêem a compreensão das formas de humanização 
do território, ou seja, das maneiras como as diversas populações africanas 
se relacionaram e ainda se relacionam com os desertos, florestas, 
savanas, rios, lagos, montanhas e com toda a diversidade geográfica que 
o continente possui.
Muitos grupos africanos têm pela terra um profundo respeito, o que explica 
seu apreço pela preservação da natureza como forma de preservação da 
vida. Talvez essa relação de respeito e preservação natural nos ofereça 
interessantes reflexões sobrea África e as formas de apropriação da terra 
e suas potencialidades.
Pode também nos oferecer uma visão “ecológica” que vale mais do que 
para a África, podendo ser uma importante referência e contraponto ao 
atual processo de destruição do planeta. Não podemos ignorar, assim, o 
quanto temos a aprender com povos africanos e indígenas, por exemplo, 
a respeito da possibilidade de estabelecimento de outras relações com a 
terra e com a natureza.
 
Como Podemos Estudar a História da África?
 
Durante muito tempo se pensou que a África não tinha história porque 
boa parte de sua população não tinha linguagem escrita tal como o têm, 
há muito, por exemplo, algumas sociedades européias e orientais. Essa 
ideia levou alguns estudiosos a classificar a África de “bárbara e atrasada”. 
Hoje sabemos o quanto essa noção equivocada prejudicou o estudo da 
história africana e das populações afro-descendentes! A renovação dos 
estudos históricos e a revisão dessa postura negativa em relação à África 
resultaram na compreensão de que a história africana pode e deve ser 
estudada pela interpretação e crítica de fontes de natureza variada, tais 
como as fontes orais, arqueológicas, e também escritas, dentre outras.
De acordo com J. Ki-Zerbo21, é preciso reconhecer que no que concerne 
ao continente africano haverá três fontes principais para estudo histórico: 
os documentos escritos, a arqueologia e a tradição oral (1982, vol. 1, p. 
28). O estudo histórico do continente a partir destes três tipos de fontes 
é apoiado pela lingüística e pela antropologia. Mas é preciso levar em 
consideração que há dificuldades de acesso a fontes para os estudos 
históricos. Muitas delas foram destruídas com o tempo, pela ação humana 
e pelo jogo de interesses em cada momento da história – como em todos 
os pontos do planeta. A dinâmica histórica e os interesses em disputa 
em cada momento permitem ou impedem a sobrevivência das fontes 
e sua organização e distribuição no tempo e no espaço. É importante 
pensar, também, que as fontes históricas são fragmentárias, encontram-
se muitas vezes sob forte dispersão. Além disso, a história da África não 
nos permite pensar numa homogeneidade de experiências históricas do 
continente, mas num complexo mosaico de experiências simultâneas 
em diferentes pontos do continente e não raro díspares. Outra questão 
importante para o estudo da história africana e para análise das fontes é 
a interdisciplinaridade.
O estudo da história da África requer a colaboração de diferentes áreas 
do conhecimento. Por fim é crucial que o estudo da história africana se 
realize do ponto de vista africano, e não permaneça predominantemente 
atrelada, como costuma ocorrer, a padrões eurocêntricos. Evidentemente 
que esta centralidade na África não impede que se estabeleçam todas as 
conexões entre o continente e os demais povos e Estados, mas sem perder 
de vista a reciprocidade, ou seja, estudando a África e as relações que 
se estabelecem historicamente com os diferentes pontos do continente. 
Um bom exemplo desta centralidade está no uso das palavras. È comum 
o uso de expressões eurocentradas para designar estruturas e processos 
vivenciados no decurso da história da África. Assim ocorre com o uso 
freqüente de termos como civilização, império, reino, Estado22 para 
se referir à história e experiência de grupos e sociedades na África. A 
consideração acerca da provável inadequação de uso de um ou outro 
21 - J. Ki-Zerbo, Historiador 
nascido em Toma, Burkina 
Faso. Editor do volume I da 
Coleção História Geral da 
África, Unesco. Especialista 
em história e metodologia de 
pesquisa em história africana, 
foi diretor do Centro de 
Estudos para o Desenvolvi-
mento Africano, professor da 
Universidade de Dakar.
22 - É importante ter cuidado 
com o uso generalizado desta 
nomenclatura, que muitas 
vezes reflete uma tentativa de 
explicar aspectos da história 
africana a partir de referências 
européias. Parte da própria 
historiografia africana que 
emergiu na segunda metade 
do século XX não conseguiu se 
desvencilhar desses padrões 
e pode-se encontrar, por 
exemplo, o uso do termo 
“civilização” para se referir ao 
Egito Faraônico, Núbia Antiga, 
Napata e Méroe, ou ainda “Re-
ino” e “Império” para se referir 
ao Kush, “Reino” de Axum, 
dentre outros (Mokhtar, 1983). 
No volume 2 de “História 
Geral da África”, é freqüente o 
uso de termos como dinastias, 
principados, reinados, dentre 
outros, que são categorias de 
análise política da experiência 
dos povos africanos. Elikia 
M’Bokolo (2009, p. 101) 
alerta para o fato de que 
alguns historiadores da na-
scente historiografia africana 
preocuparam-se em primeiro 
lugar com a análise da história 
e constituição dos Estados 
africanos – e fizeram-no numa 
perspectiva “mais descritiva 
do que problematizante, mais 
empenhados em restituir a 
cronologia dos ‘grandes’ acon-
tecimentos e em salientar a 
ação dos ‘grandes homens’ do 
que em desmontar os mecanis-
mos de todas as espécies, os 
recursos diversos e os arranjos 
necessários assim como os 
rearranjos sociais ligados aos 
processos de formação e de de-
senvolvimento do Estado” na 
África. A recente historiografia 
africana se afirma sob uma 
perspectiva problematizadora 
e pluralista de estudo, pautada 
por uma ótica não-colonialista 
e por referências históricas 
centradas na experiência afri-
cana.. Este é um desafio duplo, 
portanto: o amadurecimento 
do que se poderia chamar de 
uma historiografia africana 
centrada na experiência 
africana (em sua já referida di-
versidade e também conectada 
criticamente à experiência 
estrangeira) e a abordagem da 
história africana em sala de 
aula que permita desconstruir 
estereótipos e preconceitos 
comumente difundidos acerca 
da história do continente.” 
(MILLER, 2008, p. 52).
vocábulo destes para se referir aos africanos e à sua experiência pode 
ser rica oportunidade para repensar em sala de aula novas maneiras de 
abordar o estudo da história da África.
Vamos compreender um pouco mais os desafios implicados no estudo da 
história africana a partir de fontes de natureza diversa.
 
Fontes Orais
 
Consideradas por alguns historiadores como fontes privilegiadas, as 
fontes orais merecem tratamento tão cuidadoso para história africana 
quanto fontes de qualquer outra natureza. Como nos alerta Elikia 
M’Bokolo, elas também não estão livres de fabulações23.
Podemos considerar a extensa variedade de fontes orais para estudo da 
história africana, com destaque para as fontes produzidas no seio do que 
se convencionou chamar de tradições orais, em que estão aquelas de 
origem histórica, panegírica24, religiosa, individual, nas formas de poesia, 
listas, narrativas, didáticas ou comentários. (M’BOKOLO, 2009, p. 49).
Comparece também à análise historiográfica das fontes 
orais o questionamento a respeito da temporalidade a que se 
remetem – elas nos falam, afinal, dos tempos passados ou das 
formas como os povos do presente lidam com a sua história? 
Essas questões nos mostram o rigor e a delicadeza exigidos do historiador 
no trabalho com as fontes orais, sobretudo no caso das narrativas de 
origem, abundantes em todas as áreas culturais e políticas na África 
(M’BOKOLO, 2009, p. 48).
Entre alguns grupos africanos é comum que encontremos os doma e os 
diélis.
Os doma (também chamados pelos europeus de “tradicionalistas”) são 
considerados os mais nobres transmissores de histórias de origem e 
trajetória social de um grupo africano, não podendo mentir nunca e nem 
mesmo faltar à própria palavra. Se um doma mentisse ele estaria perdendo 
a capacidade de criar uma ordem social e, mesmo, comprometendo a sua 
própria existência como humano. Para um doma, a verdade ancestral 
é uma força que o mantém vivo, sendo que ele tem o papel social de 
perpetuá-la paraas novas gerações. Os doma são, quase sempre, pessoas 
idosas, consideradas depositárias da memória de seu grupo ou de sua 
família. Em várias regiões africanas existem escolas de iniciação ao 
exercício da récita e da transmissão oral. Essas escolas, normalmente 
escolas que formam os doma, guardadas suas especificidades, têm em 
23 - Segundo o historiador, 
entre os anos 1950 e 1960 a 
historiografia africana nascen-
te envolveu-se com um debate 
a respeito do valor das fontes 
orais e sua confiabilidade e 
plausibilidade para estudo da 
história africana. Esta querela, 
afirma, está hoje superada, 
consideradas as fontes orais 
em sua variedade extrema e 
com exigência, ainda a ser ob-
servada, da necessária crítica 
e avaliação destas fontes na 
historiografia do continente. 
(M’BOKOLO, 2009, p. 45).
24 - Discurso em louvor de 
alguém, elogio.
comum “a fé na palavra que emana do ser supremo como instrumento de 
criação de todo o universo” (HERNANDEZ, 2005, p.29).
Os diélis (chamados de Griots, ou Griôs) são também contadores de 
histórias, que incorporam uma carga ficcional à suas narrativas. Em suas 
viagens, escutam histórias das famílias e as contam em narrativas muitas 
vezes heróicas e épicas25, capazes de transformar as tradições em glória, 
esperança e sonho. São o que se poderia chamar de animadores públicos 
e tecem mundos com palavras, músicas e coreografia. “Diéli quer dizer 
sangue, e a circulação do sangue é a própria vida” (LIMA, 1998, p.26).
Mas o que pode representar um manancial instigante para compreensão 
dos registros culturais africanos, pode também contribuir para 
simplificar ou cometer reducionismos. Caso venham a ser tomadas de 
maneira desconectadas de seu contexto de produção, as narrativas orais 
podem favorecer uma compreensão linear e factual da história africana, 
promovendo-se o que Carlos Moore chama de uma “recitação linear, 
desprovida de dinamismo social orgânico e sem interconexões das 
sociedades africanas ou com as sociedades extra-africanas (2008, p. 175).
J. Ki-Zerbo alerta que “o texto oral retirado de seu contexto é como peixe 
fora da água: morre e se decompõe. Isolada, a tradição assemelha-se a 
essas máscaras africanas arrebatadas da comunhão dos fiéis para serem 
expostas à curiosidade dos não-iniciados. Perde sua carga de sentido e de 
vida” (1982, vol. 1, p. 28).
Em Sala de aula
Os relatos orais – fontes privilegiadas por professores, 
sobretudo da Educação Básica - podem oferecer grandes 
possibilidades de investigação da história de determinada 
região ou povo africano, oferecendo rico manancial para 
interpretação histórica. È fundamental, no entanto, não 
abrir mão da necessária composição de um quadro rico 
de informações acerca do contexto de produção e captura 
destas fontes e também de sua difusão e reprodução na 
África e na diáspora. Da mesma forma que as imagens e 
a abordagem de produções culturais diversas precisam ser 
contextualizadas, também se deve proceder em relação às 
fontes orais. É importante que no processo de uso didático 
destas fontes sejam oferecidas informações acerca de como 
as comunidades africanas contam e recriam as narrativas, 
com informações acerca do privilégio, não raro, de ações 
individuais de eminentes monarcas e de grandes batalhas 
promovidas em determinadas circunstâncias, em que estão 
presentes fantasia e literatura como forma de herança de 
25 - Por conta dessas pe-
culiaridades, as narrativas 
dos Diéli dão grande relevo, 
com freqüência, à análise da 
trajetória (e glória) de camadas 
consideradas nobres, em 
detrimento de uma abordagem 
mais transversal da sociedade. 
Não raro suas narrativas são 
lineares e factuais, circunstan-
ciando um ambiente cronológi-
co de fatos e eventos. (WED-
DERBURN, 2005, p. 143). De 
acordo com Carlos Moore, os 
chamados Criôs conformam 
uma casta, no sentido de agre-
miações fechadas de caráter 
sócio-profissional hereditária. 
“O que chamamos de tradição 
griótica refere-se ao relato 
linear, circunstanciado pela 
narração cronológica de fatos 
e eventos. Os Griôs são, pois, 
cronistas, por hereditariedade, 
de uma sociedade. A aborda-
gem linear-factual direciona a 
atenção, frequentemente lau-
datória, à nobreza dominante 
em detrimento de uma análise 
transversal do conjunto social” 
(MOORE, 2008, p. 176-177). 
Recomenda o autor que sobre-
tudo a partir do Ensino Médio 
os professores privilegiem o 
estudo das dinâmicas internas 
na História da áfrica, com 
abordagens mais complexas, 
superando o que ele chama 
de enfoque linear-factual que 
carrega, a seu ver, inconveni-
entes para compreensão dos 
mecanismos de dominação, de 
coerção e dos conflitos decor-
rentes do choque de interesses 
em sociedades concretas na 
África. (idem, 176-177).
seus ancestrais. Muitos desses contos foram coletados 
por europeus e árabes, sofreram no tempo também 
variações e transformações lingüísticas, estilísticas e 
de conteúdo. Essa contextualização da fonte oral pode 
contribuir para desmistificar ideias correntes em situações 
educativas em que é supervalorizada a fonte oral como 
se nela emanasse uma África ‘verdadeiramente’ pura. 
Diferentemente, é possível manter o lirismo e a poética, 
também a ética envolvidas no uso de tradições orais para 
finalidades pedagógicas, mesmo e principalmente se este 
uso for acompanhado de reflexão, crítica e consciência 
das manipulações e embates da história. Hoje, é possível 
recorrer a vários contos africanos compilados em obras 
paradidáticas ou de literatura. O escritor Rogério Andrade 
Barbosa morou na África e recolheu diversos contos, mitos 
e lendas criados por diferentes grupos étnicos africanos, 
a partir dos quais escreveu várias obras para crianças e 
jovens. Veja algumas obras deste e de outros autores que 
podem ser usadas para se realizar atividades de “contação 
de histórias” em sala de aula, nas sugestões de materiais 
paradidáticos e de literatura.
 
 
O estudo das fontes lingüísticas26 – em sua dispersão e compreendidas 
como fontes em constante mutação – muito contribui para compreensão 
das transformações culturais e sociais pelas quais passaram as sociedades 
africanas.
Como você pode ver, a oralidade é um forte mecanismo de promoção 
de identidades culturais na África, e foi através da apreciação desse 
tipo de fonte em sua variedade e plasticidade – para não dizer de suas 
transformações no curso do tempo - que muitos estudiosos chegaram a 
estudar a história remota e recente de várias regiões daquele continente. 
Da mesma maneira, as apropriações didáticas da fonte oral podem 
permitir uma compreensão destas transformações e das peculiaridades da 
fonte oral para compreensão da história africana. Uma história dinâmica, 
plural e mutável pode ser estudada através da fonte oral.
 
Fontes Arqueológicas e Bens Culturais
 
A arqueologia é uma ciência que estuda a história através da análise de 
objetos e vestígios considerados testemunhos da existência humana em 
26 - Você sabia que só recente-
mente alguns estados africanos 
têm admitido que as línguas 
nativas sejam ensinadas nas 
escolas? Até então apenas as 
línguas dos colonizadores eu-
ropeus eram assumidas como 
oficiais e válidas para o ensino. 
Esse é o caso da língua Zulu, 
somente aceita há alguns pou-
cos anos nas escolas da África 
do Sul, que, até então, somente 
admitiam o inglês como língua 
a ser ensinada. Quando Paulo 
Freire organizou programas de 
alfabetização em países africa-
nos de língua portuguesa, ele 
viu, em algumas localidades, 
que as crianças haviam estu-
dado, no passado, em livros 
didáticos ingleses, alemães e 
franceses, mas em nenhum 
material escrito em língua 
falada cotidianamente por 
aqueles mesmos aprendizes e 
docentes. Há ainda países afri-
canos nos quais são utilizados 
livros didáticos produzidosem 
países europeus, como é o caso 
de países africanos lusófonos. 
Reflita sobre como deve ser a 
experiência de falar cotidiana-
mente uma língua (com seus 
códigos, seu simbolismo e sua 
força identitária) e ser proibido 
de estudar, na escola, essa 
mesma língua, sendo obrigado 
a aprender em outra língua.
algum ambiente. Esses objetos e vestígios podem ser variados, como 
ossos, peças feitas de osso, cerâmicas, artefatos em ferro, vidro, metal e 
pedraria, além de pegadas, rastros e outros. Na África, a arqueologia já 
ofereceu aos estudiosos muitos indícios acerca da existência de sociedades 
antigas, as mais antigas do planeta. Há também vestígios de sociedades 
organizadas, muitas delas com sofisticada capacidade artística e técnica, 
como é o caso de comunidades da região de Ifé, Oió e Benin, além do 
Egito Faraônico.
Onde foi possível descobrir registros artísticos, a arqueologia mostrou às 
sociedades ocidentais que a África não deixa a desejar do ponto de vista 
da capacidade de produzir cultura e expressões artísticas criativas e belas.
Pela contribuição da arqueologia foi possível compreender parte da 
história da África relacionada, por exemplo, à metalurgia, a partir da 
descoberta de sítios em que foi comum a metalurgia do ferro no período 
da chamada África Antiga.
Da mesma maneira que o domínio do ferro, a arqueologia permitiu 
compreender parte desta história africana pela análise de registros 
materiais típicos de práticas agrícolas, como mostraram escavações em 
sítios cerâmicos.
Por meio das escavações arqueológicas, é possível recuperar uma 
série de objetos da cultura material de povos que se deslocaram pelo 
continente africano no tempo. Os registros de ocupação do território (na 
sua já conhecida variedade de relevo e clima) permitiu aos arqueólogos 
e aos estudiosos de outros campos do conhecimento a compreensão da 
complexa história africana em períodos longevos.
A existência de algumas sociedades africanas em tempos os mais 
remotos também pode ser estudada através dos objetos rituais, ligados à 
economia e artísticos, como estátuas, espadas, ferramentas, adornos, etc. 
A variedade de formas, usos e materiais utilizados também pode conferir 
análises significativas ao estudioso da história e cultura africana.
Apesar de sua variedade e riqueza para compreensão da história, as 
fontes arqueológicas não podem ser estudadas homogeneamente em 
todo o continente. Segundo G. Mokhtar27 (1983, p. 12), as escavações 
não se distribuem de maneira uniforme em todo o continente. Em 
diversas partes não há a mesma densidade de escavações que podem 
ser encontradas, por exemplo, ao longo da costa africana, no interior da 
chamada franja setentrional e principalmente no vale do NiÉ importante 
também lembrar que os bens materiais são produzidos em contextos 
específicos em que práticas e concepções de mundo conferem a estes 
bens usos determinados. Assim, é valiosa a compreensão, por exemplo, 
de que numa determinada sociedade uma estatueta tenha sido produzida 
para representar o poder de um grupo sobre outro, ou a capacidade de 
27 - G. Mokhtar, Arqueólogo 
egípcio, autor de diversas 
publicações sobre a história do 
antigo Egito, organizador do 
volume II da Coleção História 
Geral da África, Unesco.
um elemento natural de modificar ou controlar a vida humana.
A análise de registros culturais precisa, portanto, levar em consideração 
as práticas culturais a eles relacionadas e também a trajetória social e 
histórica destes mesmos objetos/registros e práticas. Pensemos que 
todas as manifestações culturais são relevantes para compreensão do 
mosaico cultural africano, sendo as festas, ritos, saberes, modos de fazer, 
a música, os modos de vestir, a rica e diversa alimentação, as concepções 
políticas, as cosmogonias, etc...
Ao nos referirmos, por exemplo, a uma estatueta africana sob guarda de 
um Museu alemão, estamos nos referindo ao processo de apropriação de 
bens africanos por alemães no seio do processo colonizatório ou mesmo no 
movimento de estudo da África e das Américas por sociedades científicas 
européias do século XIX. O trajeto do objeto, dessa maneira, não nos dirá 
apenas uma história da África que o produziu, mas das complexas e nem 
sempre equitativas relações entre África e outros povos.
Em Sala de aula
Ao discutir com os alunos sobre os tipos de fontes que 
são comumente utilizados para a construção da história 
africana pode-se aproveitar a oportunidade para pensar 
nos processos de espoliação e dispersão de parte dessas 
fontes, muitas vezes “saqueadas” do continente. Vale a 
pena propor questões, em sala de aula, que instiguem 
os alunos a refletirem sobre estes processos, como por 
exemplo: “Por que será que o Museu do Louvre, em Paris, 
possui um dos mais ricos acervos de arte africana egípcia? 
Como estas peças passaram a integrar aquele acervo? Para 
compreender este processo, é necessário retomar o contexto 
das invasões napoleônicas, no início do século XIX, quando 
uma quantidade enorme de produções artístico-culturais 
egípcias foram levadas para a França, constituindo parte 
importante do acervo de arte egípcia do Louvre. Este 
processo se intensificou na segunda metade do século XIX 
e primeiras décadas do século XX, no bojo do processo 
colonizatório, momento em que diversos museus europeus 
foram enriquecidos com milhares de peças oriundas de 
diferentes regiões da África. Muitas delas foram encontradas, 
por exemplo, em escavações no Egito, sobretudo a partir 
da criação do Instituto Francês de Arqueologia Oriental 
do Cairo (1880). Outras, foram compradas de artesãos ou 
simplesmente saqueadas, em meio a guerras e conflitos 
resultantes da colonização européia, como foi o caso das 
peças apreendidas no Benin, durante a expedição punitiva 
britânica, de 1897, e que passaram a compor o acervo do 
Museu Britânico, em Londres, Inglaterra. Outro exemplo 
pode ser encontrado no Museu Etnológico de Berlim, 
Alemanha, que possui um dos mais valiosos acervos de arte 
africana do mundo, com cerca de 75 mil objetos oriundos de 
diferentes partes do continente africano, principalmente do 
Benim, da República dos Camarões, do Congo e da África 
Oriental. 
Exemplos como estes ajudam os alunos não apenas a 
compreender o valor histórico de objetos artístico-culturais 
– importantes fontes materiais para o estudo de povos e 
civilizações – mas também trazem indícios dos processos 
de expropriação desencadeados com a colonização dos 
continentes africano, americano e asiático.
Por outro lado, vale a pena conhecer alguns dos movimentos 
organizados na atualidade com vistas a reverter tais situações. 
As peças em bronze do Museu Britânico, por exemplo, têm 
sido alvo de uma disputa entre a Grã-Bretanha e a Nigéria, 
que reclama a devolução das obras pilhadas em situação de 
opressão colonial. O Movimento de Reparações da África 
(ARM), apoiado por organizações internacionais, lidera 
uma campanha pela devolução de inúmeras obras de arte 
africanas espalhadas pelo mundo. Campanhas organizadas 
pela Grécia e Egito também buscam reaver obras pilhadas 
em diferentes momentos históricos. 
 
 
Relicario Fang. Escultura em madeira (altura: 60 cm), de meados do século XIX, oriunda da Guiné Equatorial ou Gabão. Representa a figura de um 
ancestral, considerado intermediário entre o mundo dos mortos e os espíritos. É bastante difundida a idéia de que o movimento cubista, surgido na 
Europa, no início do século XX, teria se inspirado no jogo de formas estilizadas de inúmeras obras de arte africanas. Ainda que tal informação seja 
controversa, pode-se observar certa similitude entre a arte cubista e inúmeras esculturas produzidas em África, desde tempos muito remotos. Esta 
escultura foi adquirida no século XIX pelo “Museu de Etnografia de Trocadero” (atual “Museu do Homem”, Paris, França).Atualmente, compõe o 
acervo do Museu do Louvre, Paris, que desde 2000 incorporou cerca de 120 obras, reunidas sob o título “Artes de África, da Ásia, da Oceania e das 
Américas”, expostas em seu “Pavilhão das Sessões”. Tal incorporação foi alvo de críticas por parte daqueles que ainda enxergam essas produções 
artísticas como “primitivas” ou “tribais”. (Foto: Louvre. Las 300 obras maestras. Musée Du Louvre Editions, 2006)
Arte Africana em Museus Europeus
 
 
 
Escultura Luba: apoio de cabeça. Intitulada “Mestre dos penteados em cascata” (ateliê de Kinkondja), a escultura em madeira (18,5 cm) é originária 
da República Democrática do Congo e data do século XIX. “Apoios de cabeça, bancos, colheres, bijuterias, instrumentos musicais... Os objetos do 
cotidiano nascidos das mãos experientes dos escultores africanos revelam um sentido do belo raramente igualado. Reunindo os símbolos de aparato, 
são também mediadores entre o mundo dos vivos e o dos espíritos [...]. Pela sua geometria rigorosa e os seus penteados sofisticados, estas duas 
cariátides fazem deste apoio de cabeça uma verdadeira obra-prima em miniatura” (O Guia do Louvre. Musée Du Louvre Éditions, 2005). A obra era 
parte das antigas coleções do Barão Henri Lambert (Bruxelas) e de Hubert Goldet. Atualmente compõe o acervo do Museu do Louvre, Paris, que 
desde 2000 incorporou cerca de 120 obras, reunidas sob o título “Artes de África, da Ásia, da Oceania e das Américas”, expostas em seu “Pavilhão das 
Sessões”. Tal incorporação foi alvo de críticas por parte daqueles que ainda enxergam essas produções artísticas como “primitivas” ou “tribais”. (Foto: 
O Guia do Louvre. Musée Du Louvre Éditions, 2005)
A deusa Hathor e o rei Seti I. Cerca de 1.294-1.279 a.C. 
(19ª dinastia). Baixo relevo, calcário pintado (2,265 
x 1,05 m). Representa a deusa Hathor acolhendo o 
rei Seti I no Além. É parte da coleção “Antiguidades 
Egípcias”, do Museu do Louvre, Paris. Formada 
por mais de 50.000 obras, esta coleção tem suas 
origens no início do século XIX, quando foi criada, 
no seio do Museu Real do Louvre, uma divisão de 
monumentos egípcios, sob responsabilidade do 
decifrador da escrita hieroglífica, Jean-François 
Champollion. Na segunda metade do século XIX, 
diversos museus europeus foram enriquecidos com 
milhares de peças encontradas em escavações no 
Egito, sobretudo a partir da criação do Instituto 
Francês de Arqueologia Oriental do Cairo (1880). 
Este baixo-relevo foi encontrado no túmulo do rei 
Seti I, no Vale dos Reis, perto de Tebas, e trazida do 
Egito por Champollion. (Foto: O Guia do Louvre. 
Musée Du Louvre Éditions, 2005)
Escriba sentado. Cerca de 2.600-2.350 a.C. (4ª ou 5ª dinastia). Estátua, calcário pintado, olhos 
em cristal de rocha dentro do cobre (53,7 x 44 cm).. É parte da coleção “Antiguidades Egípcias”, 
do Museu do Louvre, Paris. Formada por mais de 50.000 obras, esta coleção tem suas origens 
no início do século XIX, quando foi criada, no seio do Museu Real do Louvre, uma divisão 
de monumentos egípcios, sob responsabilidade do decifrador da escrita hieroglífica, Jean-
François Champollion. Na segunda metade do século XIX, diversos museus europeus foram 
enriquecidos com milhares de peças encontradas em escavações no Egito, sobretudo a partir da 
criação do Instituto Francês de Arqueologia Oriental do Cairo (1880). A estátua do escriba foi 
encontrada em escavações no deserto de Sakara, conduzidas pelo egiptólogo francês Auguste 
Mariette (então funcionário do Museu do Louvre), na segunda metade do século XIX. (Foto: O 
Guia do Louvre. Musée Du Louvre Éditions, 2005)
Livro dos mortos do escriba Nebqed. Cerca de 1.550-1.295 a.C. (18ª dinastia). Papiro pintado (630 x 30 cm). “Rolos de papiro cobertos com textos 
e fórmulas rituais eram colocados em tumbas para ajudar os mortos a obter o que necessitavam em sua longa viagem para a eternidade. Eles eram 
ilustrados com vinhetas representando diversas fases de funerais entre os quais a mumificação, e a chegada ao mundo dos mortos, onde a alma 
estava sendo julgada perante o Deus Osiris.” (Louvre. Las 300 obras maestras. Musée Du Louvre Editions, 2006). É parte da coleção “Antiguidades 
Egípcias”, do Museu do Louvre, Paris. Formada por mais de 50.000 obras, esta coleção tem suas origens no início do século XIX, quando foi criada, 
no seio do Museu Real do Louvre, uma divisão de monumentos egípcios, sob responsabilidade do decifrador da escrita hieroglífica, Jean-François 
Champollion. Na segunda metade do século XIX, diversos museus europeus foram enriquecidos com milhares de peças encontradas em escavações 
no Egito, sobretudo a partir da criação do Instituto Francês de Arqueologia Oriental do Cairo (1880). (Foto: Louvre. Las 300 obras maestras. Musée 
Du Louvre Editions, 2006)
Cabeça comemorativa do Obá. Escultura em bronze (latão), produzida no Reino do Benin, Nigéria (45×29 cm ), século XIX. “Cabeça comemorativa 
ubunmwun-elao para ser colocada sobre o altar real dedicado aos antepassados. Fabricada pela técnica da cera perdida nela estão representadas a 
coroa de coral erhu ede e o grande colar odigba, também de coral, usada pelo Obá. O orifício existente no topo da cabeça serve para colocar uma presa 
de elefante, esculpida em baixo relevo, com temáticas reais.” (Sociedade de Geografia de Lisboa). Entre as obras de bronze largamente produzidas no 
Benin, destacam-se esculturas de cabeças e placas que mostram aspectos da vida da corte do Benin, sendo muitas delas representações do rei (Obá) e 
de seu poder, mostrando personagens como os chefes e seus séquitos, funcionários da corte, guerreiros e soldados, em visão frontal e postura rígida. 
Algumas apresentam uma dimensão narrativa, reportando a vitórias em guerras com os vizinhos e evidenciando que artistas do Reino de Benim 
exerciam função de escriba, descrevendo a história do reino por meio desses ícones figurativos. Existem mais de novecentas placas deste tipo em 
museus europeus e americanos. O Museu Britânico, em Londres, Inglaterra, possui uma coleção com cerca de 200 peças, grande parte apreendida 
durante a expedição punitiva britânica, em 1897, no bojo do processo de colonização da África por potências européias, nos séculos XIX e XX. (Foto: 
Sociedade de Geografia de Lisboa)
O Obá com europeus. Placa em bronze, produzida no Reino do Benin, Nigéria, século XVI. Esta placa tem a figura do Obá ao centro, acompanhado 
por dois assistentes e representações dos europeus de cabelos compridos, em que são mostrados dois lados da cabeça (Museu Britânico). Entre as 
obras de bronze largamente produzidas no Benin, destacam-se esculturas de cabeças e placas que mostram aspectos da vida da corte do Benin, sendo 
muitas delas representações do rei (Obá) e de seu poder, mostrando personagens como os chefes e seus séquitos, funcionários da corte, guerreiros 
e soldados, em visão frontal e postura rígida. Algumas apresentam uma dimensão narrativa, reportando a vitórias em guerras com os vizinhos e 
evidenciando que artistas do Reino de Benim exerciam função de escriba, descrevendo a história do reino por meio desses ícones figurativos. Existem 
mais de novecentas placas deste tipo em museus europeus e americanos. O Museu Britânico, em Londres, Inglaterra, possui uma coleção com cerca 
de 200 peças, grande parte apreendida durante a expedição punitiva britânica, em 1897, no bojo do processo de colonização da África por potências 
européias, nos séculos XIX e XX. (Foto: Sociedade de Geografia de Lisboa)
Obá de Benin com atendentes. Placa de bronze produzida no reino do Benin, Nigéria, século XVI. Esta placa mostra um Obá cercado por seus 
assistentes, dois dos quais são retratados segurando seus escudos em uma posição formal de proteção. Somente o Obá teria sido autorizado a ser 
protegido desta forma dentro da cidade. Entre as obras de bronze largamente produzidas no Benin, destacam-se esculturasde cabeças e placas 
que mostram aspectos da vida da corte do Benin, sendo muitas delas representações do rei (Obá) e de seu poder, mostrando personagens como os 
chefes e seus séquitos, funcionários da corte, guerreiros e soldados, em visão frontal e postura rígida. Algumas apresentam uma dimensão narrativa, 
reportando a vitórias em guerras com os vizinhos e evidenciando que artistas do Reino de Benim exerciam função de escriba, descrevendo a história 
do reino por meio desses ícones figurativos. Existem mais de novecentas placas deste tipo em museus europeus e americanos. O Museu Britânico, em 
Londres, Inglaterra, possui uma coleção com cerca de 200 peças, grande parte apreendida durante a expedição punitiva britânica, em 1897, no bojo 
do processo de colonização da África por potências européias, nos séculos XIX e XX. (Foto: Sociedade de Geografia de Lisboa)
“Dente de elefante com relevos”. Entalhe em presa de elefante (Marfim), República do Congo, século XIX. Entalhadores de marfim de diferentes 
pontos da África, sobretudo do Benim e Congo, organizavam-se em oficinas e categorias profissionais e faziam suas peças sob encomenda. Muitas 
delas foram comercializadas no período colonial europeu (século XIX). A “Sessão Africana”, do Museu Etnológico de Berlim, Alemanha, é uma das 
maiores e mais reconhecidas coleções de arte africana do mundo, com cerca de 75.000 objetos. Trata-se de peças produzidas entre os séculos XV e 
XX, em diferentes regiões da África, hoje correspondentes a países como o Congo, Camarões, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Namíbia, Nigéria, 
Quênia e muitos outros. Áreas temáticas como “escultura figurativa”, “arte e poder”, “retratos”, “performance” e “design” estruturam as salas de 
exposição. Museu Etnológico de Berlim. Fotos de Sérgio da Mata, 2010.
Detalhe de “Dente de elefante com relevos”. Entalhe em presa de elefante (Marfim), República do Congo, século XIX. Entalhadores de marfim de 
diferentes pontos da África, sobretudo do Benim e Congo, organizavam-se em oficinas e categorias profissionais e faziam suas peças sob encomenda. 
Muitas delas foram comercializadas no período colonial europeu (século XIX). A “Sessão Africana”, do Museu Etnológico de Berlim, Alemanha, é uma 
das maiores e mais reconhecidas coleções de arte africana do mundo, com cerca de 75.000 objetos. Trata-se de peças produzidas entre os séculos 
XV e XX, em diferentes regiões da África, hoje correspondentes a países como o Congo, Camarões, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Namíbia, 
Nigéria, Quênia e muitos outros. Áreas temáticas como “escultura figurativa”, “arte e poder”, “retratos”, “performance” e “design” estruturam as salas 
de exposição. Museu Etnológico de Berlim. Fotos de Sérgio da Mata, 2010.
Cadeira decorada com símbolos da realeza de Chokwe, em Angola. As cenas de encosto e pés estão relacionadas aos princípios do poder masculino e 
do poder dos antepassados. Expressa uma integração desses elementos num cosmo, incluindo dinâmica e ritmo. Também permite simbolizar as redes 
de poder por meio da abordagem da relação do poder masculino com a fertilidade das mulheres. Esta simbologia, expressa neste objeto da cultura 
material, sinaliza o pertencimento da cidade angolana ao sistema de negociação luso-africano. Pode-se dizer que ela demarca a influência européia 
em Angola e simboliza as redes de poder que se estabelecem na cosmovisão local, como por exemplo, esta relação entre poder e sexualidade. A cadeira 
foi doada ao Museu de Berlim, Alemanha, em 1938. A “Sessão Africana”, do Museu Etnológico de Berlim, Alemanha, é uma das maiores e mais 
reconhecidas coleções de arte africana do mundo, com cerca de 75.000 objetos. Trata-se de peças produzidas entre os séculos XV e XX, em diferentes 
regiões da África, hoje correspondentes a países como o Congo, Camarões, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Namíbia, Nigéria, Quênia e muitos 
outros. Áreas temáticas como “escultura figurativa”, “arte e poder”, “retratos”, “performance” e “design” estruturam as salas de exposição. Museu 
Etnológico de Berlim. Foto de Sérgio da Mata, 2010.
Detalhe de cadeira decorada com símbolos da realeza de Chokwe, em Angola. As cenas de encosto e pés estão relacionadas aos princípios do poder 
masculino e do poder dos antepassados. Expressa uma integração desses elementos num cosmo, incluindo dinâmica e ritmo. Também permite 
simbolizar as redes de poder por meio da abordagem da relação do poder masculino com a fertilidade das mulheres. Esta simbologia, expressa neste 
objeto da cultura material, sinaliza o pertencimento da cidade angolana ao sistema de negociação luso-africano. Pode-se dizer que ela demarca a 
influência européia em Angola e simboliza as redes de poder que se estabelecem na cosmovisão local, como por exemplo, esta relação entre poder e 
sexualidade. A cadeira foi doada ao Museu de Berlim, Alemanha, em 1938. A “Sessão Africana”, do Museu Etnológico de Berlim, Alemanha, é uma 
das maiores e mais reconhecidas coleções de arte africana do mundo, com cerca de 75.000 objetos. Trata-se de peças produzidas entre os séculos 
XV e XX, em diferentes regiões da África, hoje correspondentes a países como o Congo, Camarões, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Namíbia, 
Nigéria, Quênia e muitos outros. Áreas temáticas como “escultura figurativa”, “arte e poder”, “retratos”, “performance” e “design” estruturam as salas 
de exposição. Museu Etnológico de Berlim.Foto de Sérgio da Mata, 2010.
Fontes escritas, manifestações artísticas e 
iconográficas
 
Diferentemente do que se pode pensar, a África também tem acervos 
escritos.
Neste caso, o que se entende por escrita é o registro comunicativo 
escrito em qualquer suporte (não apenas em livros, mas em papirus, 
em pedra, em paredes e lapas, em tecido e outros) e com utilização de 
códigos discursivos próprios das sociedades africanas, incluindo neste 
caso também os hieróglifos. As chamadas escritas autóctones africanas 
incluem os hieróglifos egípcios (uma das mais antigas formas de escrita 
da humanidade), sistemas gráficos como o da núbia antiga, o copta, 
o tifinagh (sistema de escrita milenar utilizado pelos povos tuaregues), 
o ge’ez (sistema de escrita etíope), dentre outros. Há também os 
ideogramas, que são sistemas escritos comunicacionais utilizados em 
regiões do Camarões e da Nigéria.
Há também fontes escritas sobre a África que são de origem estrangeira 
– árabes e européias. Esse dado confere à história africana algumas 
peculiaridades, como já observou M’Bokolo, 2009.
São importantes os relatos escritos deixados tanto por africanos quanto por 
viajantes e boa parte dos relatos até hoje encontrados foram produzidos 
por sujeitos como imperadores, traficantes de escravos, comerciantes, 
militares e exploradores, missionários, naturalistas e administradores 
coloniais. Hoje sabemos que há uma infinidade de fontes arquivísticas 
e narrativas depositadas em instituições africanas, como é o caso, por 
exemplo, das Bibliotecas do Marrocos, da Argélia, do Níger, e em arquivos 
ultramarinos nas ex-metrópoles.
As fontes escritas são absolutamente variadas, como podemos supor. 
Correspondências, diários, narrativas literárias, relatos de viagem, 
fontes oficiais, registros demográficos, registros comerciais, religiosos, 
etc. Como é possível perceber, as fontes escritas têm sua origem tanto na 
produção individual quanto grupal podendo ser oficiais ou não.
Há também as fotografias, tecidos, desenhos, pinturas, mapas, dentre 
outros... Os mapas, por exemplo, produzidos principalmente pelas 
sociedades de geografia da Europa, são fonte riquíssima para se entender 
a história da África; hoje sabemos que a representação do espaço africano 
mudou muito ao longo da historia, um indício de que nem sempre a 
África foi vista pelos europeus da mesma forma como a vemos nos dias de 
hoje. Os tecidos, por outro lado, informam que a África produziu culturasmateriais com uma infinidade de variações têxteis e uma tinturaria que 
indica um apurado gosto estético, variado, ontem e hoje.
As fontes artísticas são de natureza também variada, não sendo possível 
categorizá-las numa tipologia única. O que se considera, por exemplo, 
como arte saariana antiga mais significativa deve ser procurada, sobretudo 
nas figurações rupestres (SALAMA, 1983, p. 536). O Egito africano 
antigo, por ter sido um receptáculo de influências, configurou uma arte 
plural e dinâmica que não pode ser compreendida sem estudo da ética, 
do direito, das concepções políticas, religiosas, morais e econômicas 
daquela sociedade. (YOYOTTE, 1983, passin). Não custa alertar para o 
fato de que é mutável no tempo e no espaço o que se considera arte ou 
manifestação artística.
Então, ao abordar essa questão das fontes com seus alunos, você poderá 
proporcionar a eles a percepção de que a história pode ser estudada a 
partir de uma ampla variedade de registros humanos e a história da 
África não foge a essa regra. O importante, em todas as situações, é 
procurar contextualizar as fontes, realizando uso crítico e reflexivo das 
mesmas, sem mitificações ou omissões. Estudos comparativos podem 
ser valiosos, como também análise de posições historiográficas distintas 
para um mesmo fato histórico. Não custa reforçar também o alerta de 
que nem sempre será possível encontrarmos fontes para elucidação de 
toda a história e isso, como você sabe, não é atributo apenas do estudo 
da história da África. Em alguns casos, fazer os alunos pensarem sobre 
a destruição das fontes é a melhor maneira de abordar a história da África 
e da diáspora.
 
Filmoteca
 
Alguns filmes recentes28 para exibição e também para sua formação como 
professor/a disponíveis no mercado brasileiro
• Kiriku e a feiticeira – Direção: Michel Ocelot, 1998 – desenho 
animado em que o protagonista é um menino africano às voltas com uma 
feiticeira má. Inspirado em conto africano, o filme é uma rara produção 
disponível em português para crianças. No site do CEERT há uma 
experiência premiada de utilização em sala de aula deste filme. Ver em 
http://www.ceert.org.br/modulos/educacao/edicoes.php 
• Mestre Humberto – Direção: Rodrigo Savastano. Brasil, 2005, 
20 minutos. Um passeio pela Lapa, Campo de Santana e pela África. 
Mestre Humberto, doutor em percussão e poesia, profeta poliglota da 
Lapa. Nesse curta falado em português, alemão e quimbundo, ele toca, 
canta e cita Sócrates. Pode ser acessado no site: www.portacurtas.com.br
28 - Evidentemente você 
encontrará muitos outros 
filmes sobre a África. Faça sua 
própria lista de bons filmes.
• Maré Capoeira – Direção: Paola Barreto - Maré é o apelido de 
João, um menino de dez anos que sonha ser mestre de capoeira como 
seu pai, dando continuidade a uma tradição familiar que atravessa várias 
gerações. Um filme de amor e guerra. In: www.portacurtas.com.br 
• Instrumentos africanos – Bira Reis, um especialista. 
Documentário. Direção: Júlio Worcman, 1988. Na Feira do Interior 
1988, que reuniu em Salvador atrações dos diversos municípios da Bahia, 
o mestre Bira Reis apresenta sua pesquisa sobre curiosos instrumentos 
africanos. In: www.portacurtas.com.br
• Som da Rua – Vodu. Direção: Roberto Berliner, 1997, 2 minutos. 
Miriam Laveau é uma sacerdotisa vodu de Nova Orleans, herdeira creole 
das mais antigas tradições africanas. Aqui ela apresenta os cânticos 
vodus que falam da liberdade, mas para Miriam a liberdade, como ela 
aconteceu, só tornou as pessoas escravizadas. Pode ser acessado no site: 
www.portacurtas.com.br 
• Amistad – Direção: Steven Spielberg – Baseado numa história 
real, o filme conta a viagem de africanos escravizados que se apoderam 
do navio onde estavam aprisionados e tentam retornar à sua terra natal. 
Quando o navio, La Amistad, é capturado, os africanos são levados aos 
Estados Unidos, acusados de assassinato e aguardam sua sentença na 
prisão. Inicia-se então uma contundente batalha, que chama a atenção 
de todo o país, questionando a própria finalidade do sistema judicial 
americano.
• Hotel Ruanda – Direção: Terry George. Em meio a um conflito 
que matou quase um milhão de pessoas em menos de 4 meses, em Ruanda, 
a biografia de um gerente de um Hotel em meio à luta para salvação de 
pessoas. O filme possibilita refletir sobre a herança colonial belga em 
Ruanda, o papel da ONU e os desafios implicados para superação do 
trauma pós-colonial. 
• Um Grito de Liberdade – Nos anos 1970, na África do Sul 
do apartheid, Donald Woods (Kevin Kline) é um jornalista branco que 
conhece e se torna amigo de Stephen Biko (Denzel Washington), o 
importante militante pelos direitos dos negros. Quando Biko é morto na 
prisão, em 1977, Woods percebe a necessidade de divulgar a história do 
ativista, a perseguição que sofreu, a violência contra os negros, a crueldade 
do regime do apartheid. Mas ele e sua família também se tornam alvos do 
racismo, e precisam deixar o país às pressas
• Atlântico Negro: na Rota dos Orixás – Direção – Renato 
Barbieri, 1988. O documentário Atlântico Negro: nas rotas dos Orixás 
aborda a importância da história e cultura africana para o Brasil. O 
documentário evidencia a semelhança existente entre estes povos, 
sobretudo nos campos da religiosidade, da musicalidade, da língua, dos 
hábitos alimentares, da estrutura familiar e das manifestações culturais. 
Durante as cenas do filme são desconstruídas visões etnocêntricas e de 
censo comum sobre o continente Africano. A idéia de um território que 
vive em constante estado de guerras étnicas e civis, de fome e total miséria 
é desmistificada para mostrar a profunda experiência cultural da África e 
os intercâmbios ainda hoje em curso com o Brasil. 
• Nas montanhas da Lua – Direção: Bob Rafelson. 1990. Baseado 
no livro de William Harrison. Em 1850 dois oficiais britânicos começam 
uma aventura para descobrir a fonte do Nilo. O filme aborda os diferentes 
interesses em jogo no longo processo de exploração científica levado a 
cabo por sociedades científicas européias em direção ao continente 
africano, evidenciando as representações sobre o continente e a relação 
desigual entre as culturas européia e africana no curso desta história. 
• O elo perdido – Direção: Ficção. Expedição científica européia 
do século XIX captura dois pigmeus tidos por exploradores como o elo 
perdido. O casal capturado passa a ser estudado por cientistas que se 
utilizam do aparato científico do século XIX (craniometria, biometria e 
antropologia física) para comprovação de sua polêmica (posteriormente 
superada) hipótese a respeito do lugar dos pigmeus africanos na narrativa 
da evolução humana. 
• TV Escola – vídeos de 1 a 20 minutos, produzidos no âmbito 
do Programa TV Escola, MEC, disponíveis para download em www.
dominiopublico.com.br Há uma série especial História e cultura africana 
e afro-brasileira. 
• O Jardineiro Fiel – Drama. Direção de Fernando Meirelles, 
2005. Adaptação do livro de John Lé Carré. O filme permite problematizar 
o tema da exploração da população africana pela indústria farmacêutica. 
 
Sites
 
Sugestões de sites para você visitar alguns centros de estudos do Brasil 
sobre história e cultura da África. 
• Centro de Estudos Africanos, Universidade de São Paulo.( 
www.fflch.usp.br/cea/ )
• Centro de Estudos Afro-Orientais, Universidade Federal da 
Bahia. ( www.ceao.ufba.br )
• Centro de Estudos Afro-Asiáticos e Centro de Estudos 
Afro-Brasileiros, Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro ( 
www.ucam.br )
• África e Africanidades - ( http://www.africaeafricanidades.
com/index.html )
• Casa das Áfricas – ( www.casadasafricas.org.br )
 
Paradidáticos sobre História e Cultura Africana
 
Nos últimos anos, pode-se observar um crescimento de produções 
paradidáticas e de literatura queabordam aspectos diversos da história e 
cultura dos povos africanos. Veja alguns exemplos de materiais que estão 
disponíveis no mercado e que podem contribuir para os estudos sobre 
África junto a crianças e adolescentes: 
Obras que tratam de aspectos diversos da história da 
África e da presença africana no Brasil:
• “Histórias da Preta”, de Heloísa Pires de Lima, publicada 
pela Cia. das Letrinhas, em 1998: a obra se propõe reunir “informação 
histórica, reflexão intelectual, estímulos ao exercício da cidadania e 
historinhas propriamente ditas (tiradas da mitologia africana, por 
exemplo)”. Foi premiada com o título “Altamente Recomendável” pela 
Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ, em 1998. 
• “Agbalá, um lugar continente”, da artista plástica Marilda 
Castanha, inicialmente publicada pela Editora Formato, em 2001, foi 
reeditada pela Editora Cosac Naify, em 2008. A obra intercala pequenos 
textos com belíssimas ilustrações, que retratam, além de aspectos da vida 
cotidiana de escravos e da população afro-descendente, um pouco do 
universo mítico e simbólico desses sujeitos. A autora dá um destaque para 
as religiões de matriz africana, evidenciando o empreendimento de uma 
pesquisa cuidadosa sobre simbologias, rituais e seus significados. Ao final 
da obra, apresenta pequenos textos informativos sobre aspectos diversos 
da história africana e afro-brasileira, relacionado-os com episódios da 
história brasileira, em geral. 
Obras que reproduzem contos da tradição oral africana
• O escritor Rogério Andrade Barbosa morou na África e recolheu 
diversos contos, mitos e lendas originários de diferentes grupos étnicos 
africanos, a partir dos quais escreveu várias obras para crianças e jovens. 
Entre suas várias obras, vale a pena conhecer uma série ilustrada pro 
Graça Lima e publicada pela Difusão Cultural do Livro – DLC. A série 
tem como características um cuidadoso projeto gráfico e edição de boa 
qualidade, com papel brilhante, belas ilustrações e texto introdutório 
com dados sobre o conto, o povo de onde provém e sua localização em 
mapa do continente africano. São títulos desta série:
◦ “Duula, a mulher canibal” - (1999): reúne contos 
da tradição oral somali;
◦ “Como as histórias se espalharam pelo mundo” 
- (2002): conto de literatura oral do povo Ekoi, Nigéria;
◦ “O filho do vento” - (2003); conto de literatura oral 
dos bosquímanos, povo do deserto do Kahahari;
• “Histórias africanas para contar e recontar”, também de 
Rogério Andrade Barbosa e ilustrações de Graça Lima, publicado pela 
Editora do Brasil, em 2001. 
• Coleção Árvore Falante, publicado pela Editora Paulinas:
◦ “Contos africanos para crianças”, de Rogério 
Andrade Barbosa, ilustrações de Maurício Veneza, 2004;
◦ “Outros contos africanos para crianças 
brasileiras”, de Rogério Andrade Barbosa, ilustrações de 
Maurício Veneza, 2006;
◦ “Ulomma: a casa da beleza e outros contos”, do 
autor nigeriano Sunday Ikechukwu Nkeechi, ilustrado por 
Denise Nascimento (2006);
◦ “Sua magestade, o elefante”, de Luciana Savaget, 
ilustrações de Rosinha campos;
◦ “Histórias trazidas por um cavalo marinho”, 
Edimilson de Almeida Pereira (2005)
• “Gosto de África: histórias de lá e daqui”, de Joel Rufino dos 
Santos, ilustrado por Cláudia Scatamacchi e publicado pela Global, em 
1998 (com a 4ª edição em 2005): traz “mitos, lendas e tradições negras”, 
alternando o cenário africano e brasileiro.
• “Era uma vez na África”, de Jean Angelles e Gleydson Caetano 
(ilustrador), publicado pela LGE, em 2006, traz “adaptação de fábulas e 
histórias do folclore africano”. 
• “O Baú das histórias: um conto africano recontado e 
ilustrado por Gail E. Haley”, da Global (2004); 
• “Bruna e a galinha D´Angola”, de Gercilga de Almeida, com 
ilustrações de Valéria Saraiva, publicada pela EDC e Pallas, em 2000, que 
se destaca pelas belíssimas ilustrações; 
• “Sikulume e outros contos africanos”, uma adaptação de Júlio 
Emílio Braz, ilustrado por Luciana Justiniani, publicado pela Pallas, em 
2005;
• “Que mundo maravilhoso”, de Julius Lester & Joe Cepeda, 
traduzida por Gilda de Aquino e publicado pela Brinque-Book, em 2000; 
• “Os comedores de palavras”, de Edimilson de Almeida Pereira 
e Rosa Margarida de C. Rocha, publicado pela Mazza, em 2004; 
• Coleção Mama África, publicada pela Editora Língua Geral:
◦ “Debaixo do arco-íris não passa ninguém” 
- reune poemas escritos a partir de canções, provérbios e 
adivinhas da tradição oral dos povos nganguela, tchokwé 
e bosquímano (de Angola), escrito por Zetho Cunha 
Gonçalves e ilustrado por Roberto Chichorro, 2006;
◦ “O filho do vento”, de José Eduardo Água Lusa e 
Antônio Olé (ilustrador), 2006.
◦ “O homem que não podia olhar para trás”, de 
Nelson Saúte e Roberto Chichorro (ilustrador), 2006; 
◦ “O beijo da palavrinha”, de Mia Couto e 
Malangatana (ilustradora), 2006;
Obras que abordam aspectos diversos da religiosidade de 
matriz africana: 
• “Iansã: a deusa da guerra”, de Fábio Lima e Thiago Hoisel 
(ilustrador), publicado pela EDUNEB, 2006; 
• Trilogia “Mitologia dos Orixás para Crianças e Jovens”, 
publicada pela Companhia das Letrinhas, com textos de Reginaldo Pranti 
e ilustrações de Pedro Rafael. Reginaldo Pranti é professor de sociologia 
da USP e escritor premiado pelo Ministério da Cultura, CNPQ e SBPC, 
por sua contribuição à preservação da cultura afro-brasileira. 
◦ “Ifá, o adivinho: histórias de deuses africanos 
que vieram para o Brasil com os escravos” (2002): 
primeiro livro da trilogia, recebeu o prêmio de Melhor 
Livro Reconto, pela Fundação Nacional do Livro Infantil, e 
Juvenil – FNLIJ, em 2003;
◦ “Xangô, o trovão: outras histórias dos deuses 
africanos que vieram para o Brasil com os escravos” 
- (2003);
◦ “Oxumaré, o arco íris: mais histórias dos 
deuses africanos que vieram para o Brasil com os 
escravos” - (2004).
Obras que apresentam histórias diversas, envolvendo 
cenário e personagens africanos, no passado e no presente: 
• “Doce princesa negra”, de Solange Cianni e Felipe Massa Fera 
(ilustrador), publicado pela LGE, em 2006 (Série “Orgulho da raça”); 
• “Os sete novelos de Kwanzaa”, de Ângela Shelf Medearis e 
Daniel Minter (ilustrador), publicado pela Cosac Naify, em 2005; 
• “As tranças de Bintou”, de Sylviane Diouf e Shane W. Evans 
(ilustrador), publicado pela Cosac Naify, em 2004; 
• “A África, meu pequeno Chaka”, de Marie Sellier e Marion 
Lesage, traduzido por Rosa Freire D´Águiar, publicado por Cia. Das 
Letrinhas, em 2006; 
• “Meu avô, um escriba”, de Oscar Guelli, ilustrado por Rodval 
Matias, publicado pela Ática, em 2006, que traz a história de uma menino 
egípcio, educado por seu avô para ser um escriba; 
• “Amkoullel, o menino Fula”, de Amadou Hampatê Ba, tradução 
de Xina Smith Vasconcelos, publicado pela Casa das Áfricas e Pallas 
Athena, em 2003, que conta a história de um menino que vive na região 
das savanas, ao sul do Saara, e se transforma em mestre da história oral 
e especialista no estudo das sociedades negras africanas das Savanas;
 
Referências Bibliográficas
 
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