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RESUMO TEORIA DA AÇÃO

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TEORIA DA AÇÃO: DA AÇÃO AO DIREITO DE AÇÃO
Direito de Ação, Ação, Procedimento e Direito Afirmado
Ação ≠ Direito de Ação
Direito de Ação: é o direito fundamental composto por um conjunto de situações jurídicas que garantem ao seu titular o poder de acessar os tribunais e exigir deles uma tutela jurisdicional adequada, tempestiva e efetiva. Oriundo dos princípios da inafastabilidade da jurisdição e do devido processo legal. Não se vincula a nenhum tipo de direito material, permite a afirmação em juízo de qualquer direito material. É um direito abstrato, pois independe o conteúdo que se afirma quando provoca a jurisdição. 
Ação: é um ato jurídico. É o exercício do direito de ação. Também conhecida como demanda. É o fato gerador do processo e limite do objeto litigioso, pois o magistrado está adstrito a esta. 
Direito de Ação ≠ Direito Afirmado
Direito afirmado: é a res in iudicium deducta (a coisa trazida em juízo); é o direito material afirmado. 
Procedimento: é o conjunto de atos organizados tendentes a produção de um ato final. É a espinha dorsal do formalismo processual. 
A ação é o primeiro ato do procedimento principal, instaurando o procedimento; confere ao seu titular o direito a um procedimento adequado. 
O Direito de Ação como um complexo de situações jurídicas
 O direito de ação é um direito complexo, pois é composto por uma infinidade de situações jurídicas. 
Há algumas situações jurídicas que são pré-processuais, como: a) direito de provocar atividade jurisdicional e b) do direito à escolha do procedimento (direitos protestativos: que não admitem contestações).
O direito de provocar atividade jurisdicional é relativo à criação de um complexo de relações jurídicas. Após o seu exercício, surgem o direito à tutela jurisdicional (direito de resposta do Juiz natural) e o dever de o órgão julgador examinar a demanda. Além disso, o exercício desse direito torna alguém réu (sujeito ao qual se imputa esse complexo de situações jurídicas), transformando a sua esfera jurídica. 
O do direito à escolha do procedimento é o que cabe ao autor a escolha entre um procedimento ou outro, exemplo: Eu, com documento, afirmo ser titular de direito em face do Poder Público (direito líquido e certo), posso escolher entre o mandado de segurança (procedimento especial) ou pelo procedimento comum. 
O direito à tutela jurisdicional, o direito a um procedimento adequado, direito a técnicas processuais adequadas para efetivar o direito afirmado, o direito à prova e o direito de recorrer são corolários do exercício do direito de ação. 
O direito de ação garante, dentre outras prestações, um processo adequado, paritário, tempestivo, leal e efetivo; então, o direito a um procedimento adequado é uma prestação devida pelo Estado, juiz e legislador. 
Podem haver limitações ao direito ação, como sempre em caso de direitos fundamentais; no entanto, é preciso que tais limitações tenham justificação razoável, sob pena de inconstitucionalidade. 
A Demanda e a Relação jurídica Substancial
Demanda, pode ter 2 acepções:
Ato de ir à juízo provocar atividade jurisdicional
Conteúdo dessa postulação. 
Toda ação pressupõe a existência de, pelo menos, uma relação jurídica de direito substancial. Inexistindo a relação jurídica de direito material, o ato demanda não terá conteúdo. 
No contexto da letra “b”, a demanda é o nome processual que recebe a pretensão processual relativa à relação jurídica substancial posta à apreciação do Poder Judiciário. 
Os elementos da demanda, em regra (cabe exceções), coincidem com os elementos da relação jurídica material. 
	Elementos da relação jurídica
	Código Civil
	Elemtos da ação
	Critérios objetivos de distribuição da competência (leva em consideração a demanda)
	sujeitos
	das pessoas, livro I
	partes
	em razão da pessoa
	objeto
	dos bens, livro II
	pedido
	em razão do valor da causa
	fato
	dos fatos jurídicos, livro III
	Causa de pedir
	em razão da matéria
A causa de pedir, na demanda, impõe a narrativa dos fatos da vida e da própria relação jurídica nascida a partir deles (CP= Fatos + Relação Jurídica) e o Pedido veicula a pretensão processual do autor (pedido imediato: prestação da atividade jurisdicional; pedido mediato: tutela do bem da vida). 
Elementos da Ação
O Pedido
 Causa de Pedir
 Partes
Parte processual: aquela que está em uma relação jurídica processual, podendo sofrer consequência com a decisão. Pode ser principal (autor e réu) ou coadjuvante/auxiliar, que, embora não formule ou tenha contra si algum pedido formulado, é sujeito parcial do contraditório, exemplo: assistente simples. 
Ex2: incidente de arguição. As partes são o arguente (autor ou réu) e o juiz. Na ação principal, o juiz não é parte, mas na incidental, sim. 
Parte material ou do litígio: é o sujeito da situação jurídica discutida em juízo. Pode ou não ser a parte processual, pois o Direito pode conferir a alguém, em certas hipóteses, a legitimação para defender, em nome próprio, interesse alheio. 
Parte legítima: é aquela que tem autorização para estar em juízo, discutindo determinada situação jurídica. A parte ilegítima (contrario sensu) também é parte, uma evz que pode arguir a sua ilegitimidade. 
Parte complexa: incapaz e seu representante (pluralidade de indivíduos). Parte simples: a pessoa que está em juízo sozinha. 
Classificação das Ações
Classificação quanto à natureza da relação jurídica
A demanda pode ser real (se o direito material é real) ou pessoal (se o direito material é pessoal). 
Ações possessórias não são reais e nem pessoais regime jurídico próprio, parecido aos de ações reais. 
Ação reipersecutória: ação real ou pessoa pela qual se busca a restituição de coisa certa que está em posse de terceiro. Exs.: Ação de recuperação de bem em comodato (ação reipersecutória pessoal) e Ação reivindicatória (ação reipersecutória real). 
Segundo o objeto do pedido mediato:
Mobiliária, se bem móvel. Ou imobiliária, se bem imóvel. Nem todas as ações que se tratem de bem imóvel são reais. Ex. ação de despejo. 
Segundo o tipo de tutela jurisdicional:
Conhecimento quando se busca certificação de direito
Execução quando se busca efetivação de direito
Cautelar quando se busca proteger a efetivação de um direito. 
Essa classificação tem perdido o prestígio, uma vez que ações estão assumindo natureza sincrética (a soma das tutelas). 
Ações de Conhecimento: condenatórias, constitutivas e declaratórias
Ações condenatórias: as ações de prestação. 
Direito a uma prestação é um poder jurídico, conferido a alguém, de exigir de outrem o cumprimento de uma prestação, que pode ser um fazer, um não fazer ou um dar coisa. 
A sua efetivação é a realização da prestação devida. Quando o sujeito passivo não cumpre a prestação, fala-se em inadimplemento ou lesão. 
Exemplos: direitos absolutos (sujeito passivo universal e conteúdo é uma prestação negativa) e Obrigações. 
Relacionam-se com prazos prescricionais, os quais começam a correr da lesão/inadimplemento. 
Ação condenatória é aquela em que se afirma a titularidade de um direito a uma prestação e pela qual se busca a certificação e a efetivação desse mesmo direito, com a condenação do réu ao cumprimento da prestação devida. 
Ações Constitutivas 
Ação constitutiva é demanda que tem o objetivo de obter a certificação e efetivação de um direito potestativo. 
Direito potestativo é o poder jurídico conferido a alguém de submeter outrem à alteração, criação ou extinção de situações jurídicas. Efetiva-se no mundo jurídico e não no dos fatos, ou seja, sem necessidade de qualquer ato material. 
A efetivação de um direito potestativo dispensa execução. A sentença que reconheça um direito potestativo já o efetiva com o simples reconhecimento e a implantação da nova situação jurídica almejada. 
A situação jurídica do sujeito passivo é “estado de sujeição” (não se fala em inadimplemento e nem prescrição), podendo se submeter, se houver previsão legal, a prazos decadenciais. 
Normalmente, os efeitos de umadecisão constitutiva operam ex nunc (sem retroagir), mas existem aquelas que têm eficácia ex tunc, como o caso de anulação de negócio jurídico. 
Exemplos: ação de invalidação, ação de resolução ou revisão contratual, ação de interdição, divórcio, ações divisórias, ação rescisória de sentença, ação de falência, ação de investigação de paternidade, exclusão de herdeiro...
Ações meramente declaratórias 
O objetivo de certificar a existência, a inexistência ou o modo de ser de uma situação jurídica. Cabe, também, para declaração de falsidade ou autenticidade do documento. 
É admissível ação declaratória para obter certeza quanto à exata interpretação de cláusula contratual.
Pode ser usada para interpretar decisão judicial, que é ato jurídico. 
Não busca a efetivação de qualquer direito, mas a simples certificação; por isso, não há prazo para ajuizamento de uma demanda meramente declaratória. 
Positiva: deve especificar a situação jurídica e a existência de uma dúvida sobre ela. Busca afirmar a existência de uma situação jurídica. – Direito de Reconhecimento. 
Negativa: afirma-se a inexistência de uma situação jurídica. Ex. ação declaratória de inexistência de relação jurídica tributária, ação declaratória de inexistência de União Estável. 
É admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido violação do direito. Art. 20, CPC. 
No caso de ADC, por se tratar de ação declaratória típica, com finalidade de afastar incerteza jurídica e estabelecer uma orientação homogênea na matéria, é necessário tque na exposição da causa de pedir, o autor indique a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação do ato objeto da demanda. – Legitimação para agir in concreto. 
Não se permite a demanda ao Poder Judiciário para que ele declare se um fato ocorreu. Permite-se requer a esse poder uma certificação de que a situação jurídica nasceu de um fato. Ex. Admite-se que, diante de demência, se interdite o doente; mas, não se admite que o juiz declare o estado de demência. 
No Direito Brasileiro, a única ação meramente declaratória de um fato permitida é a que visa declaração de autenticidade ou falsidade de documento. 
DISTINÇÃO ENTRE MERAMENTE DECLARATÓRIA E AÇÃO CONDENATÓRIA (ART. 20, CPC): Há situações em que as ações meramente declaratórias geram decisão com força executiva: oferta de alimentos, por exemplo. As ações meramente declaratórias não interrompem a prescrição, no entanto, na ação condenatória, o demandante anuncia desejo de efetivar seu direito após a certificação judicial, por conta disso, as sentenças condenatórias e a declaratória do art.20, têm idêntico conteúdo e efeitos, mas o prazo prescricional para a efetivação da sentença condenatória recomeçaria a correr a partir do trânsito em julgado, ao passo que, na declaratória nunca, se teria interrompido, contando-se desde a violação.
Ações mandamentais e ações executivas em sentido amplo
Há quem opte por acrescentar ao rol das ações de conhecimento mais duas espécies: ações mandamentais e ações executivas em sentido amplo. Essa é classificação quinaria das ações (Pontes de Miranda).
Ambas são ações de prestação, nesse sentido, pertenceriam à classificação de condenatórias.
 A execução prestacional, fundada em decisão judicial, de uma prestação pode ser realizada: a) num processo que serviu para a formação desta decisão – processo sincrético –; b) num processo autônomo, instaurado com propósito de executar. Em ambos existe execução – não é unânime -.
 Ação executiva em sentido amplo é aquela em que se afirma um direito a uma prestação, perseguindo a certificação e efetivação por meio de medida de coerção direta (execução direta ou por sub-rogação o poder judiciário prescinde de colaboração do executado para a efetivação da prestação devida. As medidas executivas são levadas a efeito mesmo contra a vontade do executado). Exemplos: desapossamento, transformação (obrigação de fazer torna-se de pagar), expropriação (meios de conversão da coisa em dinheiro, como alienação). 
Ação mandamental é aquela em que se afirma um direito a uma prestação, perseguindo a certificação e efetivação por meio de medida de coerção indireta. A decisão mandamental impõe uma prestação ao devedor como forma de compeli-lo a cumprir ordem judicial. Nestes casos, o juiz promove a execução COM colaboração do executado, forçando que ele cumpra a prestação devida. Essa coerção pode ser realizada por meio de medo (prisão civil) ou por meio de incentivo (sanções premiais). 
O autor adota a classificação ternária das ações. 
Há quem defenda a quaternária, eliminando a ação condenatória, alegando que esta foi abolida do nosso sistema, em razão de não haver mais necessidade de um processo autônomo de execução da sentença. (Ada Pellegrini). 
Quem defende a classificação quinaria diz que: a condenatória seria a ação de prestação pecuniária, mandamental seria a ação de prestação de fazer ou não fazer, e ação executiva em sentido amplo seria a ação de prestação de dar coisa distinta de dinheiro. 
Há tendência legislativa de conferir à tutela das obrigações de fazer e não-fazer a técnica de execução indireta, adequada aos casos de obrigações infungíveis. À tutela das obrigações de dar coisa distinta de dinheiro, inicialmente, reserva-se a execução por sub-rogação.
Há hipótese de execução indireta para pagamento de quantia: 
Execução por dívida alimentar, que pode ser sob pena de prisão civil. 
Art. 523, §1º, CPC: cominação uma multa de 10% para o caso de descumprimento da sentença que impuser pagamento de quantia. 
OBSERVAÇÃO: nada impede que prestação de fazer possa realizar-se por meio de coerção direta. Exemplo: obrigação de demolir muro. Pode ser realizada por sub-rogação com equipamentos do Poder Judiciário. Por outro lado, também, não há qualquer proibição para que uma obrigação de entrega de coisa seja efetivada por meio de uma ordem, com cominação de multa para o devedor que não entregar o objeto da prestação. Art. 311, III, CPC. 
Ações Dúplices
Pode ser compreendida em 2 acepções: processual e material. 
Processual: ação dúplice é sinônimo de pedido contraposto: demanda proposta pelo réu, no bojo da contestação, em hipóteses permitidas em lei. O procedimento permite que o réu formule demanda contra o autor dentro da sua contestação. 
Ação dúplice é fenômeno material. 
São aquelas (pretensões de direito material) em que a condição dos litigantes é a mesma, não se podendo falar em autor e réu, ambos assumem concomitantemente as duas posições. Não formula pedido o réu, pois sua pretensão já se encontra no objeto do processo com a formulação do autor. Exemplos: ações declaratórias, ações divisórias, ações de acertamento, com prestação de contas e oferta de alimentos. 
Cumulação de ações
Cumulação subjetiva: litisconsórcio; 
Cumulação objetiva: cumulação de pedidos. 
Concursos de Ações
Pode dar-se de duas formas em seu aspecto objetivo:
Concurso improprio: há mais de uma pretensão concorrente, nascida a partir de um mesmo fato gerador; art. 326, CPC.
Concurso próprio: há pluralidade de causas de pedir que autorizam a formulação de mesmo pedido. 
Somente é possível a satisfação de um dos direitos concorrentes, pois é possível o acolhimento simultâneo de todos eles. Art. 330, §1º, IV, CPC. 
Exemplo: passageiro que sofre lesões no transporte ferroviário tem direito à indenização por força da culpa do preposto ou da responsabilidade da empresa ferroviária. 
O concurso subjetivo decorre de “situações jurídicas substanciais plurissubjetivas”.
Enquanto a cumulação impropria serve como forma de solução do concurso objetivo de pretensões, o concurso subjetivo resolve-se pelo litisconsórcio.,
As condições da Ação e o novo CPC. 
Condição da ação tem o propósito de identificar uma determinada espécie de questão submetida à cognição judicial. 
Uma condição da ação seria uma questão relacionada a um dos elementos da ação (partes, pedido e causa pedir), que estariam em zona intermediária entre as questões de mérito e admissibilidade.- O CPC de 73 consagrou essa categoria: 
Art. 267, VI. 301, X. 
Autorizava que o processo fosse extinto, sem resolução de mérito, quando não concorrer qualquer das condições da ação, como possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual. 
Mencionava a carência de ação (= falta de algumas das condições da ação) como matéria de defesa do réu.
- Novo CPC não menciona a categoria condição da ação:
Art. 485, VI. 
Autoriza a extinção do processo sem resolução do mérito pela ausência de legitimidade ou interesse processual. 
Não há mais menção à ”possibilidade jurídica do pedido” como hipótese que leva a uma decisão de inadmissibilidade do processo. Não mais menção a ela como hipótese de inépcia da petição inicial. (art. 330, §1º, CPC). Também não há mais menção dela no Art. 485, VI, , que apenas se refere à legitimidade e ao interesse de agir. 
O texto normativo atual não se vale da expressão “condições da ação”. Apenas se determina que, reconhecida a ilegitimidade ou falta de interesse, o órgão jurisdicional deve proferir decisão de inadmissibilidade. 
Não há mais uso da expressão carência de ação. 	
A legitimidade e o interesse passarão, então, a constar da exposição sistemática dos pressupostos processuais de validade: o interesse, como pressuposto de validade objetivo extrínseco; a legitimidade, como pressuposto de validade subjetivo relativos às partes. 
Inaugura-se um novo paradigma teórico. 
- Conclusão
O assunto “condição da ação” desaparece, em razão da sua única justificativa: a consagração em texto legislativo.
A ausência de “possibilidade jurídica do pedido” passa a ser examinada como hipótese de improcedência liminar do pedido.
Legitimidade ad causam e interesse de agir passam a ser estudados em pressupostos processuais.

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