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Cap´ıtulo 4 Linhas de Transmissa˜o 4.1 Introduc¸a˜o Ate´ o cap´ıtulo anterior foram estudados fenoˆmenos referentes a`s ondas eletroma- gne´ticas propagando-se em meios abertos. Neste cap´ıtulo e´ feita uma ana´lise do comportamento de ondas eletromagne´ticas guiadas por linhas de transmissa˜o, assim como as caracter´ısticas destas linhas e as te´cnicas de casamento de impedaˆncia aplicadas para a ma´xima transfereˆncia de energia eletromagne´tica. Uma Linha de Transmissa˜o (L.T.) e´ um dispositivo empregado para guiar uma onda eletromagne´tica de um ponto a outro do espac¸o. Na pra´tica, uma L.T. pode ser utilizada, por exemplo, para ligar um transceptor a uma antena, um conjunto de computadores em rede, uma difusora de sinais de TV aos seus assinantes ou, enta˜o, conectar os diversos componentes e circuitos de um sistema de alta frequ¨eˆncia. Ex- istem diversas geometrias de linha de transmissa˜o em aplicac¸o˜es de alta frequeˆncia. As mais comuns sa˜o: coaxial, par de fios, par de fios tranc¸ados, fita, microfita, etc.. A Figura 4.1 mostra algumas destas estruturas. Ale´m disso, as linhas de transmissa˜o podem ser classificadas como uniforme e na˜o uniforme, com perdas e sem perdas. As linhas uniformes manteˆm a geometria da sec¸a˜o transversal e as caracter´ısticas ele´tricas e magne´ticas ao longo do seu comprimento. Enquanto as linhas sem perdas sa˜o aquelas onde as ondas eletromagne´ticas na˜o sofrem qualquer tipo de atenuac¸a˜o ao longo da direc¸a˜o de propagac¸a˜o. 4.2 Equac¸a˜o de uma Linha de Transmissa˜o Nesta sec¸a˜o sa˜o apresentadas duas abordagens que descrevem o comportamento das ondas de tensa˜o e corrente, que esta˜o associadas a`s ondas eletromagne´ticas guiadas 63 CAP´ıTULO 4. Linhas de Transmissa˜o 64 condutores dielétrico d 2a wl h dielétrico condutores (a) (b) (c) 2a Figura 4.1: Alguns tipos de linha de transmissa˜o: (a) coaxial; (b) fita de fios par- alelos; (c) microfita. por linhas de transmissa˜o uniformes. 4.2.1 Abordagem Eletromagne´tica Considerando um sistema constitu´ıdo de uma linha coaxial que liga um gerador a uma impedaˆncia de carga, como mostrado na Figura 4.2, pode-se obter as ex- presso˜es dos campos eletromagne´ticos da onda no material diele´trico entre condu- tores utilizando-se as equac¸o˜es de Maxwell, ou enta˜o, as equac¸o˜es de onda. Sendo assim, o campo ele´trico no diele´trico do cabo coaxial obedece a equac¸a˜o ∇2E− 1 v2f ∂2E ∂t2 = 0 (4.1) enquanto o campo magne´tico e´ obtido a partir de ∇2H− 1 v2f ∂2H ∂t2 = 0 (4.2) As ondas sa˜o do tipo TEM (no caso dos condutores serem perfeitos), propagando-se no sentido z+ ou z− com velocidade de fase 65 4.2. Equac¸a˜o de uma Linha de Transmissa˜o Zg l ZL Figura 4.2: Gerador de RF acoplado a uma impedaˆncia de carga atrave´s de uma L.T. coaxial. vf = 1√ µ � (4.3) Se o gerador fornece uma tensa˜o que varia harmonicamente no tempo, isto e´, Vg(t) = Vo e jωt (4.4) enta˜o, os campos seguem o mesmo tipo de variac¸a˜o temporal, ou seja, E(r, z, t) = E(r, z) e jωt e H(r, z, t) = H(r, z) e jωt (4.5) sendo E(r, z) e H(r, z) dados pelas equac¸o˜es de Helmholtz ∂2E(r, z) ∂ z2 − γ2E(r, z) = 0 (4.6) e ∂2H(r, z) ∂ z2 − γ2H(r, z) = 0 (4.7) onde γ e´ a constante de propagac¸a˜o. Sabe-se pela teoria eletromagne´tica que a tensa˜o entre os condutores de um cabo coaxial, medidos num plano z qualquer, esta´ relacionada com o campo ele´trico no diele´trico deste atrave´s de CAP´ıTULO 4. Linhas de Transmissa˜o 66 V (z) = − b∫ a E(r, z)·dr = b∫ a E(r, z) dr (4.8) Enquanto a magnitude das correntes nos condutores pode ser obtida a partir de I(z) = ∮ C H(r, z)·dl = 2π∫ 0 H(r, z) r dϕ = 2πrH(r, z) (4.9) Integrando-se a equac¸a˜o (4.6) em relac¸a˜o a r, de a a b, obte´m-se d2V (z) d z2 − γ2V (z) = 0 (4.10) Assim como, multiplicando-se (4.7) por 2πr, tem-se d2I(z) d z2 − γ2I(z) = 0 (4.11) Apesar das equac¸o˜es acima, denominadas de Equac¸o˜es de uma Linha de Trans- missa˜o, terem sido deduzidas para uma linha coaxial, elas sa˜o va´lidas para qualquer tipo de linha de transmissa˜o. 4.2.2 Abordagem de Circuitos Sabe-se que um cabo coaxial, assim como qualquer linha de transmissa˜o, apresenta uma certa capacitaˆncia e indutaˆncia dependendo de sua geometria e caracter´ısticas ele´tricas e magne´ticas dos materiais que os compo˜e. A capacitaˆncia medida entre os condutores de uma L.T. depende: do comprimento, dos raios de seus condutores e da permissividade do material diele´trico. Enquanto a indutaˆncia depende, ale´m das dimenso˜es da L.T., da permeabilidade. O circuito equivalente de uma linha uniforme sem perdas e´ mostrado na Figura 4.3a, enquanto a Figura 4.3b apresenta o circuito equivalente de uma L.T. com perdas. A tensa˜o num trecho infinitesimal de um dos condutores, de uma L.T. com perdas, e´ dada por dV = ZI dz (4.12) ou dV dz = ZI (4.13) 67 4.2. Equac¸a˜o de uma Linha de Transmissa˜o (a) (b) L C L C L C L C G R L C G R Figura 4.3: Circuito equivalente de uma L.T.: (a) sem perdas; (b) com perdas. Ja´ a corrente que atravessa numa fatia de espessura infinitesimal de diele´trico e´ fornecida por dI = Y V dz (4.14) ou dI dz = Y V (4.15) onde Z = R + jωL (4.16) e´ a impedaˆncia por comprimento de linha e Y = G + jωC (4.17) a admitaˆncia, sendo L, C, R e G, respectivamente, a indutaˆncia, capacitaˆncia, resisteˆncia do condutor e condutaˆncia do diele´trico por unidade de comprimento. Derivando-se (4.13) e (4.15) em relac¸a˜o a z teˆm-se, respectivamente, d2V dz2 = dZ dz I + Z dI dz (4.18) e CAP´ıTULO 4. Linhas de Transmissa˜o 68 d2I dz2 = dY dz V + Y dV dz (4.19) Para linhas uniformes, Z e Y na˜o variam com z, logo d2V dz2 = Z dI dz (4.20) ou d2V dz2 = Z Y V (4.21) e d2I dz2 = Y dV dz (4.22) ou d2I dz2 = ZY I (4.23) Reescrevendo-se (4.21) e (4.23), teˆm-se d2V d z2 − ZY V = 0 (4.24) e d2I d z2 − ZY I = 0 (4.25) Uma comparac¸a˜o entre as equac¸o˜es (4.10) e (4.24), assim como (4.11) e (4.25), mostra que a constante de propagac¸a˜o numa L.T. pode ser obtida a partir de γ = α + jβ = √ ZY (4.26) A velocidade de fase, neste caso, e´ obtida de vf = ω Im[γ] (4.27) Para uma linha sem perdas teˆm-se γ = jβ = jω √ LC (4.28) e 69 4.3. Soluc¸a˜o da Equac¸a˜o de uma L.T. vf = ω β = 1√ LC (4.29) 4.3 Soluc¸a˜o da Equac¸a˜o de uma L.T. A soluc¸a˜o das equac¸o˜es (4.10) e (4.24) e´ da forma V (z) = V1e γ z + V2 e −γ z (4.30) enquanto para (4.11) e (4.25), teˆm-se I(z) = I1e γ z + I2 e −γ z (4.31) ou I(z) = 1 Z dV dz = γ Z [ V1e γ z − V2 e−γ z ] (4.32) ou ainda I(z) = √ Y Z [ V1e γ z − V2 e−γ z ] (4.33) As soluc¸o˜es sa˜o combinac¸o˜es lineares de um par de func¸o˜es ortogonais, uma vez que as equac¸o˜es diferenciais sa˜o lineares ordina´rias de segunda ordem. Fisicamente, as soluc¸o˜es (4.30) e (4.31) representam, respectivamente, ondas de corrente e tensa˜o propagando-se no sentido z−(primeiros termos das equac¸o˜es) e z+(segundos termos), sendo as constantes V1, V2, I1 e I2 fasores associados a`s ondas. As soluc¸o˜es completas, incluindo a variac¸a˜o temporal harmoˆnica, sa˜o V (z, t) = V − + V + = V1eα ze jωt+β z + V2 e−α z e jωt−β z (4.34) e I(z, t) = I− + I+ = I1eα ze jωt+β z + I2 e−αz e jωt−β z (4.35) 4.4 Impedaˆncia Caracter´ıstica A impedaˆncia caracter´ıstica de uma linha de transmissa˜o e´ a raza˜o entre a tensa˜o e a corrente obtida num determinado plano z, isto e´, CAP´ıTULO 4. Linhas de Transmissa˜o 70 Zo = V − I− = −V + I+ = √ Z Y = √ R + jωL G + jωC (4.36) Paralinhas uniformes, a impedaˆncia caracter´ıstica na˜o varia ao longo do seu compri- mento. Se houver perdas, a impedaˆncia e´ complexa, com valor fornecido por (4.36). Para perdas desprez´ıveis, tem-se R = G � 0, o que leva a Zo � √ L C (4.37) Neste caso, a impedaˆncia e´ real, sendo a indutaˆncia por unidade de comprimento determinada pela expressa˜o [19] L = Λ I l = µ l ∫∫ S H · ds∮ C H · dl (4.38) e a capacitaˆncia por unidade de comprimento C = Q V l = −� l ∫∫ S E · ds∫ b a E · dl (4.39) sendo Λ o fluxo magne´tico produzido pelo indutor e Q a carga ele´trica no capacitor. 4.4.1 Coaxial A impedaˆncia caracter´ıstica de um cabo coaxial sem perdas, como aquele mostrado na Figura 4.1a, e´ obtida a partir da equac¸a˜o (4.37), utilizando-se a expressa˜o da indutaˆncia obtida de (4.38) e a da capacitaˆncia atrave´s de (4.39). Portanto, resolvendo-se (4.38), obte´m-se L = µo 2π ln ( b a ) (4.40) e de (4.39) C = 2π� ln ( b a ) (4.41) Substituindo (4.40) e (4.41) em (4.37), tem-se Zo = 1 2π √ µo � ln ( b a ) = ηo 2π √ �r ln ( b a ) (4.42) 71 4.4. Impedaˆncia Caracter´ıstica ou Zo = 60√ �r ln ( b a ) (4.43) Exemplo 4.1 Qual deve ser a raza˜o entre o condutor interno e externo para que uma linha coaxial tenha impedaˆncia de 75Ω? Considere como diele´trico um pla´stico de permissividade relativa igual a 4. Soluc¸a˜o: Pela equac¸a˜o (4.43), pode-se obter facilmente esta relac¸a˜o, ou seja, ln ( b a ) = 75 √ 4 60 = 2, 5 =⇒ b a = e2,5 = 12, 2 Portanto, se o condutor interno tiver, por exemplo, 1mm de raio, o externo devera´ ter 12,2mm. 4.4.2 Par de Fios Paralelos No caso de dois fios paralelos separados por uma fita diele´trica espac¸adora (vide Figura 4.1b), teˆm-se L = µo π ln ( d− a a ) (4.44) e C = π� ln ( d−a a ) (4.45) Substituindo (4.44) e (4.45) em (4.37), tem-se Zo = 120√ �r ln ( d− a a ) (4.46) Se d� a, enta˜o Zo � 120√ �r ln ( d a ) (4.47) CAP´ıTULO 4. Linhas de Transmissa˜o 72 4.4.3 Microfita A determinac¸a˜o da expressa˜o de impedaˆncia caracter´ıstica para microfitas, como aquela mostrada na Figura 4.1c, na˜o e´ feita de forma totalmente anal´ıtica, devido a geometria da mesma. Va´rios trabalhos sobre o assunto podem ser encontrados na literatura cient´ıfica [24][12]. Um destes trabalhos e´ o de Hammerstadt (1975) [15] que fornece expresso˜es para a ana´lise e s´ıntese de linhas de microfitas. Os valores obtidos destas expresso˜es apresentam erros inferiores a 1% quando �r � 16 e 0, 05 � w/h � 20, sendo w a largura da fita e h a espessura do substrato. Para a ana´lise de fitas com w/h < 1, utiliza-se Zo = 60√ �ef ln ( 8h w + w 4h ) (4.48) Como parte da onda se propaga no diele´trico e parte se propaga no ar, enta˜o, torna- se necessa´rio se obter uma permissividade relativa efetiva, representada na equac¸a˜o (4.48) por �ef . Para este caso, a permissividade efetiva e´ dada por �ef = �r + 1 2 + �r − 1 2 [( 1 + 12h w )−1/2 + 0, 04 ( 1− w h )2] (4.49) Para a ana´lise de fitas com w/h � 1, utiliza-se Zo = 120π√ �ef [w h + 1, 393 + 0, 667 ln ( 1, 444 + w h )]−1 (4.50) com �ef = �r + 1 2 + �r − 1 2 ( 1 + 12h w )−1/2 (4.51) No caso de s´ıntese, tem-se, para Zo > 44− 2�r, w h = 8 eA − 2 e−A (4.52) e para Zo < 44− 2�r, w h = 2 π { B − 1− ln(2B − 1) + �r − 1 2�r [ ln(B − 1) + 0, 293− 0, 517 �r ]} (4.53) sendo 73 4.5. Perdas numa L.T. A = Zo 60 √ �r + 1 2 + �r − 1 �r + 1 ( 0, 226 + 0, 121 �r ) (4.54) e B = 60π2 Zo √ �r (4.55) Exemplo 4.2 Calcule a largura de uma microfita para que ela tenha uma impedaˆncia caracter´ıstica de 50Ω. A linha sera´ impressa numa placa de circuito impresso de dupla face com espessura de 2mm e permissividade relativa 3. Soluc¸a˜o: Como se quer projetar uma linha de microfita, deve-se enta˜o verificar qual e´ a equac¸a˜o mais apropriada para a s´ıntese, (4.52) ou (4.53). Neste caso, como Zo > 44−2�r = 38Ω, deve-se utilizar a primeira equac¸a˜o. Sendo assim, calculando-se A = 50 60 √ 3 + 1 2 + 3− 1 3 + 1 ( 0, 226 + 0, 121 3 ) � 1, 312 e substituindo este valor na equac¸a˜o (4.52), obte´m-se w h = 8 e1,312 − 2 e−1,312 � 2, 52 A largura da fita e´ enta˜o w = 2, 52h = 5, 04mm. 4.5 Perdas numa L.T. Na pra´tica, as perdas, obtidas a partir do fator de atenuac¸a˜o α = Re[γ], sa˜o peque- nas. A atenuac¸a˜o de uma L.T. e´ func¸a˜o da frequ¨eˆncia e das caracter´ısticas ele´tricas e magne´ticas dos materiais que a constitui. Em geral, os valores do fator de atenuac¸a˜o sa˜o fornecidos em dB/m, utilizando-se a relac¸a˜o αdB = −20 log e−α = 8, 686α (4.56) A Tabela 4.1 apresenta alguns valores t´ıpicos de fator de atenuac¸a˜o para cabos coaxiais comerciais em treˆs frequ¨eˆncias distintas. CAP´ıTULO 4. Linhas de Transmissa˜o 74 Tabela 4.1: Impedaˆncia e atenuac¸a˜o para alguns cabos comerciais. Valores obtidos do cata´logo da Times Microwaves Systems. Cabo Zo αdB (100MHz) αdB (400MHz) αdB (1GHz) Coxial (Ω) dB/m dB/m dB/m RG-6 75 0,089 0,184 0,308 RG-11 75 0,072 0,151 0,253 RG-59 75 0,108 0,226 0,374 RG-58 50 0,151 0,308 0,502 RG-213 50 0,066 0,141 0,24 Exemplo 4.3 Um cabo coaxial e´ utilizado para ligar uma antena parabo´lica de impedaˆncia igual a 75Ω ao receptor de mesma impedaˆncia. A distaˆncia entre eles e´ de 10m e a frequ¨eˆncia de operac¸a˜o 1GHz. Qual a melhor opc¸a˜o de cabo? Qual a atenuac¸a˜o total no cabo? Soluc¸a˜o: Para manter o sistema casado, a melhor opc¸a˜o e´ utilizar cabos de impedaˆncia caracter´ıstica de mesmo valor dos dispositivos, como sera´ estudado nas pro´ximas sec¸o˜es deste cap´ıtulo. Ale´m disso, pela Tabela 4.1, o cabo com menor atenuac¸a˜o, e impedaˆncia igual a 75Ω, e´ o RG-11. A atenuac¸a˜o total introduzida pelos 10m de cabo e´ fornecida por Acb = αdB l = 0, 253× 10 = 2, 53 dB 4.6 Linhas com Terminac¸a˜o A Figura 4.4 mostra uma linha de transmissa˜o com impedaˆncia caracter´ıstica Zo, terminada por uma impedaˆncia de carga ZL. A equac¸a˜o de uma L.T. fornece como soluc¸a˜o geral um par de ondas de tensa˜o ou corrente, propagando-se ao longo da linha em sentidos contra´rios. Identificando-se a onda que se propaga no sentido gerador- carga como onda incidente V −(ou I−) e no sentido inverso como onda refletida V +(ou I+), pode-se escrever para o plano z = 0, V (0) = V − + V + = V1 + V2 (4.57) onde V1 e V2 sa˜o fasores que esta˜o relacionados um com o outro atrave´s do coeficiente de reflexa˜o de tensa˜o ρv(0) = |ρv(0)| ejφv = V2 V1 (4.58) 75 4.6. Linhas com Terminac¸a˜o l ZL Zg z 0 V- , I - V+ , I + Z o Figura 4.4: Linha de transmissa˜o terminada por uma impedaˆncia de carga. portanto, V (0) = V1 [1 + ρv(0)] (4.59) Para um plano z qualquer tem V (z) = V1 [1 + ρv(z)] (4.60) sendo ρv(z) = V + V − = |ρv(0)| e jφv−2γ z (4.61) Da mesma forma pode-se obter I(z) = I1 [1 + ρi(z)] (4.62) sendo ρi(z) = I+ I− = |ρi(0)| e jφi−2γ z = −V + V − = −ρv(z) (4.63) A impedaˆncia de carga esta´ relacionada com as ondas de tensa˜o e corrente como segue: ZL = V (0) I(0) = V1 [1 + ρv(0)] I1 [1 + ρi(0)] = Zo 1 + ρv(0) 1− ρv(0) (4.64) logo, ρv(0) = |ρv(0)| ejφv = ZL − Zo ZL + Zo (4.65) CAP´ıTULO 4. Linhas de Transmissa˜o 76 4.6.1 Impedaˆncia Equivalente A impedaˆncia, “vista” em direc¸a˜o a` carga, num plano z qualquer da linha de trans- missa˜o, e´ fornecida por Zeq(z) = V (z) I(z) = Zo 1 + ρv(z) 1− ρv(z) (4.66) onde ρv(z) = ρv(0) e − 2γ z (4.67) Portanto, substituindo(4.67) em (4.66) e levando-se em considerac¸a˜o (4.65), tem-se Zeq(z) = Zo 1 + ZL−Zo ZL+Zo e− 2γ z 1− ZL−Zo ZL+Zo e− 2γ z = Zo ZL + Zo tgh γ z Zo + ZL tgh γ z (4.68) Esta e´ a impedaˆncia equivalente a` impedaˆncia de carga mais o trecho de linha com comprimneto z. Se na˜o existem perdas na linha, enta˜o α = 0, tgh γ z = j tg β z e Zeq(z) = Zo ZL + jZo tg β z Zo + jZL tg β z (4.69) 4.6.2 Toco em Aberto A impedaˆncia “vista” nos terminais de um trecho (ou toco) de linha com terminac¸a˜o em aberto e´ obtida pela equac¸a˜o (4.68) fazendo-se ZL →∞, ou seja, ZTA = Zo tgh γ z = Zo cotgh γ z (4.70) Para o caso sem perdas tem-se ZTA = Zo j tg β z = −j Zo cotg β z (4.71) 4.6.3 Toco em Curto A impedaˆncia “vista” nos terminais de um trecho (ou toco) de linha com terminac¸a˜o em curto e´ obtida pela equac¸a˜o (4.68) fazendo-se ZL = 0, ou seja, ZTC = Zo tgh γ z (4.72) Para o caso sem perdas tem-se 77 4.7. Coeficientes de Reflexa˜o para Zg Complexo ZTC = j Zo tg β z (4.73) 4.7 Coeficientes de Reflexa˜o para Zg Complexo Na sec¸a˜o anterior, tanto a impedaˆncia do gerador quanto a impedaˆncia caracter´ıstica da linha foram consideradas reais. Entretanto, em alguns problemas de casamento ou otimizac¸a˜o de circuitos, estas impedaˆncias podem assumir valores complexos. Nesta condic¸a˜o, as equac¸o˜es que fornecem os coeficientes de reflexa˜o sa˜o definidas em sua forma mais geral, como sera´ visto a seguir. Zg Z*gVg V + I+ (a) Zg ZLVg I+ (b) V++V - I- Figura 4.5: Gerador com impedaˆncia complexa ligado a uma impedaˆncia: (a) Z∗g ; (b) ZL qualquer. Considere uma impedaˆncia de carga ligada diretamente aos terminais de um gerador de impedaˆncia complexa, como mostrado na Figura 4.5. Na condic¸a˜o de casamento, situac¸a˜o onde ocorre a ma´xima transfereˆncia de energia, ZL = Z ∗ g (o asterisco denota complexo conjugado). Logo, na˜o existe ondas refletidas e I = I+ = Vg ZL + Zg = Vg Z∗g + Zg (4.74) enquanto V = V + = ZLI + = Z∗gVg Z∗g + Zg (4.75) como apresentado na Figura 4.5a. Entrentanto, quando ZL �= Z∗g , estas ondas refletidas esta˜o presentes no circuito (vide Figura 4.5b) e o coeficiente de reflexa˜o de tensa˜o, neste caso, e´ dado por CAP´ıTULO 4. Linhas de Transmissa˜o 78 ρv = V − V + = V V + − 1 = ZLVg ZL + Zg Z∗g + Zg Z∗gVg − 1 = Zg ( ZL − Z∗g ) Z∗g (ZL + Zg) (4.76) e o de corrente ρi = I− I+ = I I+ − 1 = Vg ZL + Zg Z∗g + Zg Vg − 1 = Z ∗ g − ZL ZL + Zg (4.77) ou ρi = − Z∗g Zg ρv (4.78) Note que, para Zg real, a equac¸a˜o (4.78) e´ ideˆntica a` (4.63). 4.8 Coeficiente de Onda Estaciona´ria 4.8.1 Coeficientes de Reflexa˜o e Transmissa˜o Como foi visto anteriormente, os coeficientes de reflexa˜o dependem do plano onde se mede as correntes e tenso˜es da linha. Os coeficientes de reflexa˜o de tensa˜o e cor- rente, num plano z qualquer, sa˜o dados respectivamente por (4.67) e (4.63). Assim como, no caso de ondas TEM planas incidindo normalmente sobre uma interface, os coeficientes de transmissa˜o no plano z = 0 sa˜o fornecidos por τv(0) = 1 + ρv(0) = 2ZL ZL + Zo (4.79) e τi(0) = 1 + ρi(0) = 2Zo ZL + Zo (4.80) 4.8.2 Coeficiente de Onda de Tensa˜o Estaciona´ria O coeficiente de onda de tensa˜o estaciona´ria, conhecido como VSWR (Voltage Stand- ing Wave Ratio), e´ a raza˜o entre a tensa˜o ma´xima e a mı´nima medidas ao longo da linha transmissa˜o, isto e´, VSWR = Vmax Vmin = |V1|+ |V2| |V1| − |V2| = 1 + |ρv| 1− |ρv| (4.81) 79 4.9. Te´cnicas de Casamento de Impedaˆncia Desta forma, medindo-se o VSWR da linha, pode-se obter o mo´dulo do coeficiente de reflexa˜o de tensa˜o atrave´s de |ρv| = VSWR − 1 VSWR + 1 (4.82) Como o mo´dulo do coeficiente de reflexa˜o varia entre 0 e 1, o VSWR tem valor mı´nimo igual a 1 e ma´ximo ∞. Exemplo 4.4 Suponha agora, para o exemplo anterior, que voceˆ so´ tem dispon´ıvel cabos de 50Ω. Qual deve ser o VSWR nos terminais do receptor? Considere a permissividade relativa do cabo igual a 4. Soluc¸a˜o: Considere a Figura 4.4 como refereˆncia, sendo ZL a impedaˆncia da antena e Zg a impedaˆncia do receptor. Para se obter o VSWR nos terminais do receptor, e´ necessa´rio determinar a impedaˆncia equivalente do conjunto cabo-antena. Portanto, desprezando-se as perdas, esta impedaˆncia pode ser calculada a partir de (4.69), ou seja, Zeq(10m) = 50 75 + j50 tg (10β ) 50 + j75 tg (10β) = 38, 7− j14Ω pois β = 2π √ �r/λo = 4π/0, 3 � 42 rd/m. O coeficiente de reflexa˜o nos terminais do receptor e´ dado por ρv(10m) = Zeq(10m)− Zg Zeq(10m) + Zg = 38, 7− j14− 75 38, 7− j14 + 75 = 0, 34∠− 152 ◦ e o VSWR VSWR = 1 + 0, 33 1− 0, 33 � 2 Na pra´tica, valores acima de 1,5 sa˜o considerados altos. 4.9 Te´cnicas de Casamento de Impedaˆncia Foi visto nas sec¸o˜es anteriores que o coeficiente de reflexa˜o numa L.T. depende de sua impedaˆncia caracter´ıstica e da impedaˆncia da carga. So´ na˜o existira´ onda refletida na linha quando ZL = Zo, caso contra´rio, o coeficiente de reflexa˜o sera´ diferente de zero. Acontece que nem sempre se tem cabos ou linhas com impedaˆncia caracter´ıstica igual a` impedaˆncia de carga, como foi visto no Exemplo 4.3. Imagine que o sistema representado na Figura 4.4 fosse o circuito equivalente de um transmissor de TV, com impedaˆncia de sa´ıda de 50Ω, ligado a uma antena dipolo de meio comprimento CAP´ıTULO 4. Linhas de Transmissa˜o 80 de onda atrave´s de uma linha cuja impedaˆncia Zo = 50Ω. Neste situac¸a˜o, certamente existira´ onda refletida, uma vez que a impedaˆncia de um dipolo de λ/2 e´ complexa e igual a 73 + j42Ω. Nesta sec¸a˜o sera˜o abordadas algumas te´cnicas que utilizam tocos em aberto ou em curto posicionados em paralelo em determinados pontos (planos) da linha de transmissa˜o. A introduc¸a˜o destes tocos possibilitam a reduc¸a˜o ou eliminac¸a˜o por completo das ondas refletidas, devido a descasamentos de impedaˆncia entre linha- carga e/ou gerador-linha. 4.10 Carta de Smith Na s´ıntese de circuitos de casamento de impedaˆncia, muitas operac¸o˜es envolvendo nu´meros complexos teˆm que ser efetuadas, uma vez que as impedaˆncias dos tocos e trechos de linhas sa˜o em geral complexas. Antes do advento dos computadores e calculadoras cient´ıficas, estes ca´lculos demandavam um certo tempo. Para min- imizar este tempo de ca´lculo, Philip H. Smith introduziu, em 1939, um a´baco de impedaˆncias e admitaˆncias que ficou conhecido posteriormente como Carta de Smith. Atualmente todas as te´cnicas de casamento podem ser programadas em computa- dores ou calculadoras programa´veis. Entretanto, a Carta de Smith tem a vantagem de mostrar de uma forma gra´fica as impedaˆncias e o processo de casamento, sendo ate´ hoje utilizada para fins dida´ticos e em equipamentos de medic¸a˜o. A Figura 4.12 mostra uma versa˜o da Carta de Smith com indicac¸a˜o de impedaˆncias e admitaˆncias em portugueˆs. A Carta pode ser empregada para representar impedaˆncias ou admitaˆncias normalizadas. Em geral, se utiliza a impedaˆncia (ou admitaˆncia) caracter´ıstica da linha de transmissa˜o como refereˆncia para normalizac¸a˜o. Sendo assim, o centro da carta representa uma impedaˆncia (ou admitaˆncia) normalizada igual a 1 e todos os pontos da circunfereˆncia, que passa pelo centro da Carta, rep- resentam impedaˆncias (ou admitaˆncia) normalizadas cuja parte real e´ igual a um. As circunfereˆncias de diaˆmetros menores representam impedaˆncias (ou admitaˆncia) com parte real maior que 1 e, as de diaˆmetros maiores, as impedaˆncias com parte real menor que 1. As impedaˆncias (ou admitaˆncia) sobre o eixo horizontal que passa pelo centro da Carta teˆm valores puramente reais e podem variar de 0 (ponto extremo a` esquerda) a ∞ (ponto extremo a` direita). Os pontos sobre as curvas, que na real- idade sa˜opartes de circunfereˆncias cujos centros esta˜o fora da Carta, representam as impedaˆncias (ou admitaˆncia) com mesma parte imagina´ria. Os valores normal- izados das reataˆncias (susceptaˆncias) para cada curva esta˜o identificados pro´ximos a` borda da Carta. As curvas do semic´ırculo superior representam reataˆncias induti- vas (susceptaˆncias capacitivas), enquanto as do semic´ırculo inferior representam as 81 4.10. Carta de Smith reataˆncias capacitivas (susceptaˆncias indutivas). Na borda da Carta esta˜o represen- tados os valores puramente imagina´rios. 10,40,2 0,6 0,80 1,4 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,4 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1 -1,4 8 P1 P3 P2 VSWR=1.81 A B C 73,3 o Figura 4.6: Circunfereˆncia de VSWR = 1, 81 e impedaˆncias normalizadas no plano: z = 0 (P1), z = λ/8 (P2) e z = λ/4 (P3). Tomando-se como exemplo o sistema mostrado na Figura 4.4, com os valores de Zo = 50Ω e ZL = 50+j 30Ω, pode-se representar a impedaˆncia de carga normalizada por zL = ZL Zo = 1, 0 + j 0, 6 (4.83) indicada na Carta como ponto P1. Esta e´ tambe´m a representac¸a˜o da impedaˆncia equivalente da linha, “vista” em direc¸a˜o a` carga, no plano z = 0. Para outros planos sobre a linha, pode-se verificar que os valores obtidos a partir de (4.69) correspondem aos pontos de uma circunfereˆncia cujo centro coincide com o centro da Carta. Esta circunfereˆncia e´ denominada de circunfereˆncia de VSWR constante. A` proporc¸a˜o que o plano de medic¸a˜o se afasta da carga, indo em direc¸a˜o ao gerador, os pontos correspondentes a`s impedaˆncias medidas se afastam do ponto P1, no sentido hora´rio. Assim, um ponto de impedaˆncia, medido no plano z = λ/8, e´ um ponto sobre a circunfereˆncia, com raio medido do centro da Carta ate´ o ponto CAP´ıTULO 4. Linhas de Transmissa˜o 82 P2, que esta´ deslocado 90◦ no sentido hora´rio do ponto P1. No plano z = λ/4, o deslocamento e´ de 180◦ (meia volta na Carta) e em z = λ/2 tem-se uma volta inteira sobre a circunfereˆncia (vide Figura 4.6). Se o deslocamento fosse no sentido contra´rio, isto e´, anti-hora´rio, o plano de medic¸a˜o estaria sendo deslocado ao longo da linha no sentido gerador-carga. Estes sentidos esta˜o indicados na borda da Carta (Figura 4.12). Uma outra grandeza que se pode medir diretamente na Carta e´ o coeficiente de onda estaciona´ria. Ele e´ o resultado da intersec¸a˜o entre a circunfereˆncia de VSWR constante e o eixo das impedaˆncias (ou admitaˆncia) puramente reais, medido entre 1 e ∞ (vide Figura 4.6). Para se obter o coeficiente de reflexa˜o no plano z = 0, por exemplo, trac¸a-se uma reta partindo-se do centro da Carta e passando pelo ponto P1 ate´ atingir a borda. Denominando-se o trecho da reta que vai ate´ o ponto P1 de AB e o trecho do centro a` borda de AC, pode-se obter o mo´dulo do coeficiente de reflexa˜o fazendo |ρv(0)| = AB AC = 0, 287 (4.84) enquanto o aˆngulo e´ obtido diretamente da leitura na escala de aˆngulos localizada na borda da Carta (veja escala na Figura 4.12), neste caso, φv = 73, 3 ◦. Algumas Cartas, como aquela da Figura 4.12, apresentam uma escala linear para obtenc¸a˜o do mo´dulo do coeficiente de reflexa˜o, eliminando assim o ca´lculo em (4.84). 4.11 Casamento com Toco e Trecho de Linha Os circuitos de casamento com um toco e trecho de linha podem ser de dois tipos: toco e trecho, como mostrado na Figura 4.7a; trecho e toco, como mostrado na Figura 4.7b. A escolha do circuito mais adequado depende da impedaˆncia de carga e da impedaˆncia caracter´ıstica da linha. A seguir sa˜o apresentados dois exemplos, um para cada tipo de esquema toco-linha. 4.11.1 Trecho de linha e toco Suponha que se quer casar um transmissor de impedaˆncia de sa´ıda igual a 50Ω com uma carga ZL = 50 + j 30Ω, atrave´s de uma linha e toco com impedaˆncia caracter´ıstica Zo = 50Ω . A tarefa enta˜o e´ determinar os comprimentos do toco e do trecho de linha, sendo que o primeiro passo consiste em normalizar a impedaˆncia de carga pela impedaˆncia caracter´ıstica da linha de transmissa˜o. Este valor e´ fornecido por (4.83). 83 4.11. Casamento com Toco e Trecho de Linha l ZL Zg Zo l t l ZL Zg Z o l t (a) (b) Figura 4.7: Casamento com um toco e trecho de linha: (a) toco em curto pro´ximo a` carga; (b) toco em aberto pro´ximo ao gerador. Como o casamento sera´ feito atrave´s de um toco em paralelo posicionado num dado ponto da linha, e´ interessante se trabalhar com admitaˆncias normalizadas. Portanto, o pro´ximo passo e´ a conversa˜o da impedaˆncia normalizada zL para ad- mitaˆncia normalizada yL. Isso pode ser feito atrave´s da pro´pria Carta de Smith (vide Figura 4.8), partindo-se do ponto P1, caminhando-se sobre a circunfereˆncia de VSWR constante ate´ o ponto P2 , o que equivale a meia volta na Carta (l = λ/4). Por queˆ? A justificativa matema´tica vem de (4.69) considerando-se o comprimento z = λ/4, isto e´, Zeq(λ/4) = Z2o ZL (4.85) ou zeq = 1 zL = yL (4.86) Uma vez obtido yL = 0, 735 − j 0, 441 (ponto P3), e´ necessa´rio caminhar na cir- cunfereˆncia de VSWR constante, no sentido hora´rio (carga-gerador), para se obter a parte real de yL igual a 1. Neste caso, por coincideˆncia, o valor de admitaˆncia CAP´ıTULO 4. Linhas de Transmissa˜o 84 normalizada e´ aquele fornecido por (4.83), ou seja, y3 = zL = 1 + j 0, 6 (ponto P1). O comprimento do trecho de linha percorrido e´ de λ/4. Sendo assim, para casar o circuito, resta apenas introduzir um toco em aberto ou em curto neste ponto da linha, de forma a eliminar a susceptaˆncia normalizada de valor igual a 0,6. y4 = y3 + yT = 1 (4.87) onde yT = −j 0, 6. O toco que oferece esta susceptaˆncia com o menor comprimento deve ter uma das suas terminac¸o˜es em curto. O comprimento normalizado deste toco e´ indicado na Carta da Figura 4.8. 10,40,2 0,6 0,80 1,4 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,4 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1 -1,4 8 P1 P2 lT = 0,164 λ Figura 4.8: Casamento utilizando-se um trecho de linha e toco. O ponto P1 repre- senta zL e y3, enquanto P2 indica yL. 4.11.2 Toco e trecho de linha Considerando-se agora a mesma carga acoplada, atrave´s de uma linha de 50Ω, a um gerador de 125Ω, tem-se como impedaˆncia equivalente normalizada, necessa´ria para casar o sistema, zeq = 2, 5. Consequ¨entemente, a admitaˆncia normalizada que se deve obter nos terminais do gerador e´ igual a 0,4. Observe na Carta (Figura 4.9) que 85 4.11. Casamento com Toco e Trecho de Linha a circunfereˆncia de VSWR = 1,81 na˜o tem ponto de intersec¸a˜o com a circunfereˆncia de 0,4, sendo assim, na˜o e´ possivel casar o sistema com o circuito trecho-toco (Figura 4.7b). E´ necessa´rio primeiro aumentar o VSWR na linha atrave´s da introduc¸a˜o de um toco no plano z = 0 e, em seguida, determinar o trecho de linha necessa´rio para casar o circuito. Neste caso, o VSWR tem que ser maior ou igual a 2,5. Trac¸ando-se, por exemplo, uma circunfereˆncia de VSWR = 2,5, observa-se que a intersec¸a˜o ocorre no ponto 0,4 da Carta. Para atingir este valor de coeficiente de onda estaciona´ria de linha e´ necessa´rio a introduc¸a˜o de um toco cuja susceptaˆncia normalizada tem valor igual a − 0, 325. Dessa forma, a admitaˆncia da carga fica com valor normalizado igual a 0, 735 − j 0, 766 (ponto P3). O menor comprimento de toco e´ obtido com um toco em curto, pois a susceptaˆncia e´ negativa. O valor lT = 0, 2λ e´ indicado na Carta da Figura 4.9. Finalmente, para se obter o casamento, parte-se do ponto P3 e caminha-se na circunfereˆncia de VSWR = 2,5 no sentido hora´rio ate´ atingir o ponto P4. Isso equivale a um trecho de linha l = 0, 132λ. 10,40,2 0,6 0,80 1,4 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,4 -0,2 -0,6 -0,8 -1 -1,4 8 P1 P4 P2 P3 -0,4 l=0,132λ lT=0,2λ VSWR=1.81 VSWR=2.5 Figura 4.9: Casamento utilizando-se um toco lT e um trecho de linhal. Os pontos P1, P2, P3 e P4 representam respectivamente zL = 1+ j 0, 6, yL = 0, 735− j 0, 441, y3 = 0, 735− j 0, 766 e y4 = 0, 4. CAP´ıTULO 4. Linhas de Transmissa˜o 86 4.12 Casamento com Dois Tocos e Trechos de Linha O casamento de impedaˆncia de um sistema composto de linhas de transmissa˜o pode tambe´m ser feito fixando o comprimento de um ou mais trechos de linha e variando- se o comprimento de dois tocos posicionados em pontos distintos da L.T.. A Figura 4.10a mostra um circuito de casamento deste tipo. Zg l1 ZLZo l2 Z o Zg l1 ZLZo l t2 l2 Z o l t3 (a) (b) A B Figura 4.10: Circuito de casamento com: (a) dois tocos; (b) treˆs tocos. Tomando-se mais uma vez como exemplo uma carga com ZL = 50+j 30Ω, ligada a um gerador 50Ω, atrave´s de uma L.T. de Zo = 50Ω, e considerando que o compri- mento ele´trico total do sistema de casamento tem que ser igual a 135◦, pergunta-se: qual deve ser os comprimentos dos tocos e trechos de linha para casar o sistema? O primeiro passo e´ normalizar a impedaˆncia de carga em func¸a˜o da impedaˆncia caracter´ıstica e, em seguida, encontrar a admitaˆncia normalizada, completando-se meia volta na Carta de Smith a partir do ponto referente a zL (Figura 4.11). Como e´ exigido um comprimento ele´trico θ = 3π/4, enta˜o o comprimento total da linha tem que ser l = l1 + l2 = θ 2π λ = 3λ 8 (4.88) 87 4.13. Casamento com Treˆs Tocos e Trechos de Linha Escolhendo-se, por exemplo, l1 = λ/8 e l2 = λ/4, tem-se no plano z = l2 (plano B na Figura 4.10a) a admitaˆncia normalizada igual a` impedaˆncia zL (Ponto P1), uma vez que se caminhou λ/4 na linha de transmissa˜o em direc¸a˜o ao gerador. O obje- tivo e´ chegar aos terminais do gerador (plano A na Figura 4.10a) com impedaˆncia equivalente igual a` impedaˆncia de sa´ıda deste, no caso 50Ω (zg = 1). Observe que a admitaˆncia normalizada no plano A, antes da introduc¸a˜o do toco 1, tem que ter parte real igual a 1, uma vez que o toco 1 so´ eliminara´ a parte imagina´ria desta admitaˆncia. Isso equivale a dizer que a admitaˆncia no plano A, antes da introduc¸a˜o do toco 1, pode ser qualquer ponto sobre a circunfereˆncia que passa pelo ponto de admitaˆncia normalizada igual a 1. Esta condic¸a˜o pode ser levada para o plano B, bastando para isso girar a circunfereˆncia de 90◦ no sentido anti-hora´rio, como mostrado na Figura 4.11. O giro, neste caso, e´ de 90◦ no sentido anti-hora´rio porque se caminhou sobre um trecho de linha de λ/8 em direc¸a˜o a` carga. Atrave´s do toco 2, pode-se deslocar a admitaˆncia normalizada do ponto P1 para o ponto P3 ou P4, alterando-se apenas a parte imagina´ria desta admitaˆncia. Tomando-se como exemplo o deslocamento para o ponto P3, verifica-se que o valor da susceptaˆncia normalizada necessa´ria e´ de +1,4. Sendo assim, e´ interessante se utilizar um toco em aberto com comprimento lt2 = 0, 152λ. A admitaˆncia equivalente normalizada no plano A, sem a introduc¸a˜o do toco 1, e´ obtida girando-se 1/4 de volta (90◦) no sentido hora´rio, isto equivale ao ponto P5. Finalmente, o casamento e´ alcanc¸ado introduzindo-se o toco 1 em aberto com comprimento lt1 = 0, 176λ, cuja a susceptaˆncia normalizada e´ +2. Observe que, se fosse escolhido o ponto P4, na˜o haveria necessidade de um se- gundo toco no plano A, pois o sistema ja´ estaria casado apenas com o trecho de linha l2 e toco 2. 4.13 Casamento com Treˆs Tocos e Trechos de Linha Se no exemplo anterior a impedaˆncia normalizada da carga tivesse parte real maior que 2, o ponto marcado na Carta estaria dentro da circunfereˆncia de parte real igual a 2. Isto significa dizer que a introduc¸a˜o de um toco no plano B nunca levaria a admitaˆncia a` circunfereˆncia de casamento (a 90◦) indicada na Carta. Portanto, torna-se necessa´rio a introduc¸a˜o de um terceiro toco no plano z = 0, como mostrado na Figura 4.10b, de forma a alterar a admitaˆncia da carga. Tente, por exemplo, determinar os comprimentos dos tocos para uma impedaˆncia de carga ZL = 150 + j 50Ω. Considere os mesmos comprimentos de linha l1 = λ/8 e l2 = λ/4 e impedaˆncia caracter´ıstica Zo = 50Ω. CAP´ıTULO 4. Linhas de Transmissa˜o 88 10,40,2 0,6 0,80 1,4 0,2 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1 -1,4 8 P1 P2 lT2=0,152 λ P3 P4 P5 1,410,8 0,4 0,6 lT1=0,176 λ possíveis valores de admitância no plano B antes da introdução do toco 2 possíveis valores de admitância no plano A antes da introdução do toco 1 Figura 4.11: Casamento com dois tocos e trechos de linha l1 = λ/8 e l2 = λ/4, onde P1, P2, P3, P4 e P5 sa˜o respectivamente zL = y1 = 1 + j0, 6, y2 = 0, 73 − j 0, 44, y3 = 1 + j2, y4 = 1 e y5 = 1− j2. 4.14 Casamento com Transformador Nas sec¸o˜es anteriores foram abordadas te´cnicas de casamento de impedaˆncia onde o casamento entre um gerador e uma impedaˆncia de carga e´ alcanc¸ado ajustando-se os comprimentos de tocos e trechos de linha. Em alguns casos, o casamento pode ser obtido fixando o comprimento do trecho e variando-se a impedaˆncia caracter´ıstica. Um exemplo muito comum deste tipo de te´cnica e´ o transformador de λ/4. Esse transformador e´ na realidade um trecho de linha de comprimento l = λ/4 onde a impedaˆncia equivalente no plano z = l e´ dada por (4.85). Sendo assim, a impedaˆncia caracter´ıstica e´ obtida de Zo = √ ZL Zeq (4.89) Note que os valores da impedaˆncia do gerador e da carga teˆm que ser reais para que a impedaˆncia caracter´ıstica tambe´m seja. Exemplo 4.5 Utilize a placa de circuito impresso do Exemplo 4.2 para confeccionar uma linha de microfita que atue como um transformador de λ/4. O transformador 89 4.14. Casamento com Transformador deve ser usado para casar a impedaˆncia de uma antena de 300Ω com a equivalente de 50Ω do conjunto cabo-receptor que opera em 200MHz. Soluc¸a˜o: A impedaˆncia da linha deve ser, neste caso, Zo = √ 300× 50 = 122, 5Ω e sua largura, w � ( 8 eA − 2 e−3A ) h = 0, 39× 2mm = 0, 785mm pois A = 50 122, 5 √ 3 + 1 2 + 3− 1 3 + 1 ( 0, 23 + 0, 11 3 ) � 3, 02 O comprimento da linha de microfita e´ dado por l = λo 4 √ �ef = 1, 5 4 √ 2, 43 = 241mm sendo �ef obtido pela equac¸a˜o (4.49), ou seja, �ef = 2 + (1 + 12× 0, 39)−1/2 + 0, 04× (1− 0, 39)2 � 2, 43 CAP´ıTULO 4. Linhas de Transmissa˜o 90 0.1 0.1 0. 1 0.2 0.2 0. 2 0.3 0.3 0. 3 0.4 0.4 0. 4 0.5 0.5 0. 5 0. 6 0. 6 0. 6 0. 7 0. 7 0. 7 0. 8 0. 8 0. 8 0. 9 0. 9 0. 9 1. 0 1. 0 1. 0 1. 2 1. 2 1. 2 1. 4 1. 4 1. 4 1. 6 1. 6 1. 6 1. 8 1. 8 1. 8 2.0 2.0 2. 0 3.0 3.0 3. 0 4.0 4.0 4. 0 5.0 5.0 5. 0 10 10 10 20 20 20 50 50 50 0.2 0.2 0.2 0.2 0.4 0.4 0.4 0.4 0.6 0.6 0.6 0.6 0.8 0.8 0.8 0.8 1.0 1.0 1.0 1.0 20 -20 30 -30 40 -40 50 -50 60 -60 70 -70 80 -80 90 -90 100 -100 110 -110 120 -12 0 13 0 -13 0 14 0 -1 40 15 0 -1 50 16 0 -1 60 17 0 -1 70 18 0 90 -9 0 85 -8 5 80 -8 0 75 -7 5 70 -7 0 65 -6 5 60 -6 0 55 -5 5 50 -5 0 45 -45 40 -40 35 -35 30 -30 25 -25 20 -20 15 -15 10 -10 0. 04 0. 04 0. 05 0. 05 0.0 6 0.0 6 0.0 7 0.0 7 0.0 8 0.0 8 0.09 0.09 0.1 0.1 0.11 0.11 0.12 0.12 0.13 0.13 0.14 0.14 0.15 0.15 0.16 0.16 0.17 0.17 0.18 0.18 0.19 0.19 0.2 0.2 0.21 0.21 0.22 0.22 0.23 0.23 0.24 0.24 0.25 0.25 0.26 0.26 0.27 0.27 0.28 0.28 0.29 0.29 0.3 0.3 0.310.31 0.32 0.32 0.33 0.33 0.34 0.34 0.35 0.35 0.36 0.36 0.37 0.37 0.38 0.38 0.39 0.39 0.4 0.4 0.41 0.41 0.4 2 0.4 2 0.4 3 0.4 3 0.4 4 0.4 4 0. 45 0. 45 0. 46 0. 46 0. 47 0. 47 0. 48 0. 48 0. 49 0. 49 0. 0 0. 0 A N G U LO D O C O EFIC IE N T E D E T R A N SM ISSA O EM G R A U S A N G U LO D O C O E FIC IE N T E D E R E FL EX A O EM G R A U S — > C O M P. D E O N D A E M D IR EC A O A O G ER A D O R — > <— C O M P. D E O N D A E M D IR EC A O A C A R G A <— R EA TA N C IA IN D U TI VA (+ jX /Z o) , O U SU SC EP TA NC IA CA PA CIT IVA (+j B/Y o) REA TA NC IA CA PA CIT IV A (-jX /Z o), O U SU SC EP TA N CI A IN D U TI V A (- jB /Y o) RESISTENCIA (R/Zo) OU CONDUTANCIA (G/Yo) PARAMETROS MEDIDOS RADIALMENTE EM DIRECAO A CARGA —> <— EM DIRECAO AO GERADOR 1.11.21.41.61.822.5345102040100 SW R 1 12345681015203040 dBS 1 1234571015 AT EN . [d B] 1.1 1.2 1.3 1.4 1.6 1.8 2 3 4 5 10 20 C OE F. PE RD AS S. W . 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 12 14 20 30 PERDAS RTN. [dB] 0.010.050.10.20.30.40.50.60.70.80.91 COEF. RFL., P 0 0.1 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.5 2 3 4 5 6 10 15 PE RD AS D E RF L. [d B] 0 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2 2.5 3 4 5 10 P IC O S.W . (C ON ST . P ) 0 0.10.20.30.40.50.60.70.80.91 COEF. RFL., E or I 0 0.99 0.95 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 CO EF . T RA NS M ., P 1 CENTRO 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 2 CO EF . T RA NS M ., E or I 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 ORIGEM Figura 4.12: Carta de Smith.
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