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Responsabilidade civil pelo dano ambiental Resp. do Estado Seguro Ambiental

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RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO AMBIENTAL
Todos são responsáveis por seus atos e devem arcar com as consequências negativas que daí advierem. Se tais consequências prejudicarem terceiros, haverá a responsabilidade de reparar ou ressarcir os danos causados. 
É o alicerce para se viver em harmonia em uma sociedade civilizada.
 
Entende-se por dano toda lesão a um bem jurídico tutelado. Dano ambiental, por sua vez, é toda agressão contra o meio ambiente causada por atividade econômica potencialmente poluidora, por ato comissivo praticado por qualquer pessoa ou por omissão voluntária decorrente de negligência. Esse dano, por seu turno, pode ser economicamente reparado ou ressarcido. Aquele decorre da obrigação de reparar a lesão causada a terceiro, procurando recuperar ou recompensar o bem danificado. Como nem todo bem é recuperável, nesse caso, será fixado um valor indenizatório pelo dano causado ao bem. 
(ATO COMISSIVO – quando o agente pratica um ato proibido.)
# Imprudência – se refere à prática de ato perigoso (conduta comissiva).
# Negligência – se refere à prática de ato sem tomar as precauções adequadas (conduta omissiva).
Questão de difícil solução é a quantificação do dano ambiental ou difuso. A despeito dos danos patrimoniais, há também os danos morais, que podem ser pleiteados pelas vítimas (art. 1º da Lei 7347/1985 – Ação Civil Pública). Os danos morais são denominados extrapatrimoniais, pois são originados do direito de personalidade.
Há dificuldades na quantificação dos danos extrapatrimoniais, pois os critérios para fixação desses são subjetivos.
 
Para a fixação desses danos (morais ou extrapatrimoniais) o juiz deverá avaliar a gravidade da dor, a capacidade financeira do autor do dano e a proporcionalidade entre a dor e o dano.
Exs.: 
1º) Um agricultor poderá ser prejudicado pela poluição de um rio causada por uma indústria química. Esse rio é utilizado, normalmente, pelo agricultor para irrigação sua plantação.
2º) Um pescador que vive da pesca naquele rio, em decorrência da poluição, fica impedido de pescar. 
Em ambos os casos, o agricultor e o pescador poderão sofrer constrangimentos morais por se ver impedidos de cumprir seus compromissos econômicos e sociais, causando sérios transtornos psicológicos e familiares.
Para a reparação ou o ressarcimento dos danos há a necessidade de se comprovar a responsabilidade do autor. Temos duas teorias que procuram demonstrar essa responsabilidade: teoria subjetiva e teoria objetiva.
TEORIA SUBJETIVA
Nessa teoria há a necessidade de se comprovar culpa do agente causador do dano, tendo por fundamento os arts. 186 e 187do CC e art. 927 do CPC.
A partir do novo dispositivo contido no art. 186 do CC, percebe-se que os danos morais foram definitivamente implantados, podendo ser pleiteados em juízo pela vítima.
“Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
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“Art. 187 – Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”
Lei 7347/1985 – Ação Civil Pública (art. 1º) e art. 5º, V da CF/1988.
*Assim, para se responsabilizar alguém pelo Código Civil é necessário demonstrar a culpa do agente, ou seja, a imprudência, negligência e a imperícia, além da conduta inicial (comissiva ou omissiva) e o nexo de causalidade entre o fato e o dano.
# Imprudência – se refere à prática de ato perigoso (conduta comissiva).
# Negligência – se refere à prática de ato sem tomar as precauções adequadas (conduta omissiva).
# Imperícia – se refere à prática de ato por agente que não tem aptidão técnica, teórica ou prática (conduta comissiva).
Trata-se de responsabilidade civil por ato ilícito.
Conclui-se que para a teoria subjetiva é necessário que fique comprovada a culpa do agente, ou seja, a conduta inicial (comissiva ou omissiva), o dano e o nexo causal.
TEORIA OBJETIVA
A teoria objetiva não exige a demonstração da culpa do agente, ou seja, este responderá pelos danos causados independentemente de culpa. Basta a demonstração da existência do fato ou do ato – o dano e o nexo causal. 
O agente será responsável pelo ressarcimento dos danos causados independentemente de culpa. Indeniza-se pelo fato ou pelo ato lícito ou ilícito. Contudo, neste último caso, o agente tem o direito de regresso contra o responsável pelo dano à semelhança do que dispõe o art. 37, § 6º da CF.
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“Art. 37 - (…)
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§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
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Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”
RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL
Inicialmente a teoria adotada para apuração da responsabilidade civil ambiental era a SUBJETIVA; entretanto, havia grande dificuldade em se provar a culpa do causador do dano ambiental.
Tendo-se em vista a importância do bem tutelado no direito ambiental, a doutrina, e, posteriormente, a legislação, passou a adotar a teoria objetiva.
A responsabilidade objetiva ambiental está prevista no art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81 (Lei de Política Nacional do Meio Ambiente).
Legitimidade para propor a ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente: Ministério Público da União e dos Estados.�
Art. 225, § 3º CF.
Ex: Toda empresa possui riscos inerentes a sua atividade, devendo, portanto, assumir o dever de indenizar os prejuízos causados a terceiros.
Neste caso, devem ser aplicados os seguintes Princípios: Princípio do poluidor-pagador (Princípio 13) e Princípio 16 da ECO-92: “Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais”.
(Princípio do poluidor-pagador - O objetivo maior deste princípio é fazer com que os custos das medidas de proteção ao meio-ambiente – as externalidades ambientais – repercutam nos custos finais de produtos e serviços cuja produção esteja na origem da atividade poluidora.
O princípio poluidor-pagador não é um princípio que se baseia na simples compensação dos danos causados pela poluição. Seu alcance é mais amplo, incluídos todos os custos da proteção ambiental.)
Vale ressaltar a importância da aplicação da responsabilidade objetiva para a proteção do meio ambiente, pois se continuasse sendo aplicada a responsabilidade subjetiva dificilmente seria comprovada a culpa do agente causador da poluição.
RESPONSABILIDADE DO ESTADO. FORÇA MAIOR, CASO FORTUITO E FATO DE TERCEIRO
Toda pessoa física ou jurídica é responsável pelos danos causados ao meio ambiente (art. 3º, IV, da Lei nº 6.938/81). Não é diferente em relação à pessoa jurídica de direito público interno.
A pessoa jurídica de direito público interno, com maior razão, deve ser responsabilizada pelos danos causados ao ambiente por omissão na fiscalização ou pela concessão irregular do licenciamento ambiental.
Tal fato, no entanto, não exime da responsabilidade o verdadeiro causador dos danos ambientais.
A pessoa jurídica de direito público interno também é responsável pelos danos que diretamente causar ao meioambiente através de suas funções típicas. Pode o Poder Público realizar obras ou exercer atividades causadoras de degradação ambiental.
Exemplo: abrir estradas, instalar usinas atômicas, construir hidrelétricas, etc., sem a realização do estudo de impacto ambiental (EPIA/RIMA).
Neste caso, aplica-se a responsabilidade objetiva pelo risco integral. Não há que se apurar a culpa, bastando a constatação do dano e o nexo causal entre este e o agente responsável pelo ato ou fato lesivo ao meio ambiente.
Entretanto, reparado o dano pelo Poder Público, este poderá voltar-se contra o causador direto do dano por meio de ação regressiva. Trata-se de responsabilidade solidária. (art. 37, § 6º CF).
A conseqüência da teoria do risco integral é o dever de indenizar mesmo que a conduta do agente causador do dano ao meio ambiente seja lícita, autorizada pelo poder competente e obedecendo os padrões técnicos para o exercício de sua atividade.
Alguns autores dessa corrente alegam que existe, tanto no direito público quanto no direito privado, um princípio pelo qual a licitude da atividade não exclui o dever de indenizar.
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FORÇA MAIOR – é todo fato decorrente da natureza, sem que, direta ou indiretamente, tenha concorrido a intervenção humana. Esta, por seu turno, não afasta a responsabilidade pela reparação dos danos causados ao ambiente. 
Ex.: Uma mineradora, instalada em local de preservação permanente, em decorrência de sua atividade, causa o desmoronamento de grandes pedras por força das chuvas, ocasionando a destruição de muitas árvores.
Conceito de Área de Preservação permanente: está definida no art. 3º, II do atual Código Florestal (Lei nº 12.651/2012): “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;”.
* Os arts. 4º e 6º do Código Florestal descrevem as áreas de preservação permanente.
CASO FORTUITO – também não afasta a responsabilidade do causador dos danos ambientais. Decorre de obra do acaso. 
Ex.: Um agricultor armazena grande quantidade de agrotóxicos em determinado local e, após um raio, esse produto vem a contaminar o rio ribeirinho localizado em sua propriedade, causando a morte de muitos peixes.
No exemplo acima, o agricultor deverá reparar o dano causado ao rio, desde que fique comprovado que a morte dos peixes foi em razão do produto que foi utilizado na lavoura, ficando, assim, confirmado o nexo causal entre a conduta do agricultor e o dano ecológico.
FATO DE TERCEIRO – é aquele causado por pessoa diversa daquela que efetivamente deverá arcar com os danos causados ao meio ambiente.
Ex.: funcionário, por imprudência ou negligência, deixa vazar óleo em um rio causando danos aos ecossistemas locais. Pode, contudo, o empresário voltar-se regressivamente contra o terceiro causador dos danos.
SOLIDARIEDADE PASSIVA NA REPARAÇÃO DO DANO
É muito difícil identificar a vítima do dano ambiental. Também é difícil apurar o responsável por este quando envolver várias indústrias ou pessoas.
Diante dessas dificuldades, adota-se, no direito ambiental, à semelhança do direito civil, o princípio da solidariedade passiva, com fundamento no art. 942 do CC.
Havendo a reparação do dano apenas por um dos co-autores, este poderá acionar regressivamente contra os demais na proporção do prejuízo atribuído à cada um.
É entendimento jurisprudencial de que a Ação Civil Pública poderá ser proposta contra o responsável direto, contra o responsável indireto ou contra ambos pelos danos causados ao meio ambiente. Trata-se da responsabilidade solidária ensejadora do litisconsórcio facultativo (art. 46, I CPC).
Ex.: Uma empresa que explora granito em uma propriedade rural com as devidas autorizações, entretanto, para proceder à retirada das pedras, resolve suprimir vegetação nativa existente em cima, sem a devida autorização de supressão vegetal do Órgão competente. 
Neste caso, a referida empresa, bem como o proprietário da terra serão autuados e multados pelo Órgão competente em razão da infração ambiental, bem como responderão também civil e criminalmente pelo dano causado ao meio ambiente.
Dessa forma, o proprietário, posteriormente, poderá requerer uma ação judicial regressiva em face da referida empresa, tendo em vista não ter participado da atividade de extração, cedendo apenas parte da sua propriedade, por meio de contrato para a realização da atividade da empresa.
*Vale ressaltar que, mesmo que a referida empresa não tivesse praticado a supressão de vegetação, ainda assim, esta é responsável pelo dano causado por essa atividade, nos termos do art. 225, § 2º da CF.
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO CAUSADO POR ATIVIDADE POLUIDORA
A responsabilidade por este dano é objetiva. Tal responsabilidade está prevista no art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81, c/c o art. 927, parágrafo único do CC, ao afirmar que é “o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade”.
É de ser observado que o poluidor já era responsável pelos danos causados ao meio ambiente antes mesmo do advento da Constituição Federal de 1988, pois já estavam em vigor a Lei nº 6.938/81 e 7347/85. (Estas leis foram recepcionadas pela Constituição Federal).
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO CAUSADO POR ATIVIDADE NUCLEAR 
A responsabilidade civil, neste caso, também é objetiva. Assim, compete à União explorar os serviços e instalações nucleares, bem como exercer o monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, observando-se o princípio da responsabilidade civil por danos nucleares independentemente da existência de culpa (art. 21, XXIII, d, da CF).
O art. 4º da Lei nº 6453/77 c/c o art. 927, parágrafo único do CC, dispõe sobre a responsabilidade civil por danos nucleares e a responsabilidade criminal por atos relacionados com atividades nucleares, imputando, ao operador da instalação nuclear, a responsabilidade pela reparação do dano independentemente da existência de culpa. Essa lei foi recepcionada pela nova ordem constitucional.
Ressalte-se que o operador não responderá pela reparação do dano resultante de acidente nuclear causado diretamente por conflito armado, hostilidades, guerra civil, insurreição ou excepcional fato da natureza (art. 8º da Lei nº 6453/77). Esse dispositivo, no nosso entender, é de constitucionalidade duvidosa; principalmente pelo fato de que a FORÇA MAIOR não afasta a responsabilidade pela reparação dos danos causados ao ambiente.
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO CAUSADO AO PATRIMÔNIO GENÉTICO
Neste caso, também a responsabilidade civil pelo dano causado é objetiva.
A Lei nº 11.105/2005 (Lei de Biossegurança) que estabeleceu normas para uso das técnicas de engenharia genética, previu, em seu art. 20, c/c o art. 927, parágrafo único do CC que, “sem prejuízo da aplicação das penas previstas nesta Lei, os responsáveis pelos danos ao meio ambiente e a terceiros responderão, solidariamente, por sua indenização ou reparação integral, independentemente da existência de culpa”.
Todo ato ou fato causador de dano ao meio ambiente em decorrência de manipulação de produtos geneticamente modificados (transgênicos) ensejará a responsabilidade objetiva nos termos da lei.
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO CAUSADO POR ATIVIDADE DE MINERAÇÃO
Igualmente neste caso a responsabilidade civil pelo dano causado por atividade de mineração é objetiva, aplicando-se, no que couber, o disposto previsto no art. 14, § 1º da Lei 6938/81, c/c o art. 927, parágrafo único do CC.
Inclusive a responsabilidade civil por este dano causado passou a ser uma exigência constitucional, nos termos do art. 225, § 2º da CF:“Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei”. 
Esta atividade abrange a execução de pesquisa, a lavra ou extração de recursos minerais.
A atividade de mineração é regida pelo Decreto-Lei nº 227/67 (Código de Minas), e pelas alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 318/67. 
Paulo Sérgio Gomes Alonso ressalta que “a atividade da lavra, que, pela definição do art. 36 do Código, constitui as operações que têm por objetivo o aproveitamento industrial da jazida, desde a extração do minério até o seu beneficiamento, faz com que o titular de sua concessão responda pelos danos, diretos e indiretos, causados a terceiros em decorrência do seu exercício”.
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO CAUSADO POR AGROTÓXICO
A responsabilidade civil também é objetiva e está prevista no art. 14 da Lei nº 7802/89 (que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização dos agrotóxicos).
“Art. 14 – As responsabilidades administrativa, civil e penal, pelos danos causados à saúde das pessoas e ao meio ambiente, quando a produção, a comercialização, a utilização e o transporte não cumprirem o disposto nesta Lei, na sua regulamentação e nas legislações estaduais e municipais, cabem: a) ao profissional, quando comprovada receita errada, displicente ou indevida; b) ao usuário ou ao prestador de serviços, quando em desacordo com o receituário; c) ao comerciante, quando efetuar venda sem o respectivo receituário ou em desacordo com a receita; … e) ao produtor que produzir mercadorias em desacordo com as especificações constantes do registro do produto, da bula, do folheto e da propaganda; ... ”
Observa-se que o legislador procurou individualizar a responsabilidade civil dos integrantes do rol previsto no art. 14 da Lei nº 7802/89, com base na culpa de cada um. 
Entretanto, segundo Luís Paulo Sirvinskas, o dano causado ao meio ambiente ou à saúde humana por agrotóxicos não impede a responsabilidade objetiva do produtor prevista no art. 14, § 1º da Lei nº 6938/81 c/c art. 927, parágrafo único do CC, independentemente da demonstração da culpa, podendo este acionar regressivamente, se culpa houver, o responsável direto pelo dano causado ao meio ambiente.
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO CAUSADO POR MANUSEIO DE REJEITO PERIGOSO
Neste caso a responsabilidade civil também é objetiva. Entende-se por rejeito perigoso aquele definido pela Resolução nº 23/96 do CONAMA, e que causa dano de grande extensão em decorrência do alto grau de periculosidade desse rejeito. Os rejeitos classificam-se em: a) Classe I – resíduos perigosos; b) Classe II – resíduos não inertes; c) Classe III – resíduos inertes; e d) outros resíduos.
Esta responsabilidade está prevista no art. 14, § 1º da lei nº 6938/81 c/c o art. 927, parágrafo único, do CC. Trata-se da responsabilidade civil objetiva, adotando-se a teoria do risco integral.
RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO CAUSADO NA ZONA COSTEIRA
A responsabilidade civil também é objetiva por dano causado aos ecossistemas, ao patrimônio genético e aos recursos naturais da zona costeira. Aquele que causar degradação de qualquer natureza na faixa terrestre e na faixa marítima será obrigado a reparar o dano causado, nos termos do art. 14, § 1º da Lei nº 6938/81 c/c o art. 927, parágrafo único do CC (art. 7º da Lei nº 7661/88).
SEGURO AMBIENTAL 
Uma das alternativas surgidas atualmente para a reparação dos danos ambientais é o denominado seguro ambiental. Trata-se de um contrato de seguro realizado por atividade empresarial causadora de potencial degradação ambiental com a finalidade de diluir o risco por dano ambiental.
Muitos países adotam o seguro ambiental, mas não de maneira ampla, como por exemplo, França, Holanda, Alemanha etc.
Roberto Durço traz, após muita pesquisa sobre seguro ambiental, o seguinte esclarecimento: “Representantes de 35 principais companhias de seguro fundaram a iniciativa da indústria de Seguros para o Meio Ambiente, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). A formação dessa associação é uma consequência do lançamento, em novembro de 1995, pelo PNUMA, da Declaração de Compromisso Ambiental para a Indústria de Seguros, que já foi assinada até agora por 70 segurados de 25 países. A idéia é torná-la um veículo para transformar a declaração em ação, criando oportunidade para o lançamento de novas atividades e projetos de pesquisa nos campos ambientais e de seguros”.*
*Roberto Durço, Seguro Ambiental, in Direito Ambiental em evolução, Org. Vladimir Passos de Freitas, Curitiba, Ed. Juruá, 1998, p. 314.
Portanto, o seguro ambiental pode ser uma das alternativas viáveis e necessárias para a reparação dos danos ambientais no futuro.
*Tramitam no Congresso Nacional os Projetos de Lei nº 937/2003 e o nº 2.313/2003.
O Projeto de Lei nº 937/2003 visava a alterar a Lei nº 6.938/1981, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente. Sugere ele mudanças nos critérios a serem adotados para a concessão da licença ambiental. Os critérios deveriam abranger: a contratação pelo empreendedor, de seguro de responsabilidade civil por dano ambiental; a realização periódica, pelo empreendedor, de auditoria ambiental; e, ainda, a contratação de técnicos especializados em meio ambiente para acompanharem o funcionamento do empreendimento.
O Projeto de Lei nº 937/2003, contudo, recebeu parecer desfavorável na Comissão de Constituição Justiça e Cidadania (CCJC), tendo esta opinado pela sua inconstitucionalidade, injuridicidade e má técnica legislativa, ao fundamento de que o seguro obrigatória se configuraria restrição inaceitável a livre iniciativa. Em virtude deste parecer, que possui caráter terminativo, o Projeto foi encaminhado para arquivamento. No entanto, foi apresentado recurso ao Plenário, o qual até a presente data não foi apreciado.
Pautada pelos mesmos princípios, tem-se a Declaração do Rio, n. 16: As autoridades nacionais devem procurar assegurar a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando em conta o critério de que quem contamina deve, em princípio, arcar com os custos da contaminação, levando-se em conta o interesse público e sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais.
O Projeto de Lei apresentava como justificativa: o seguro de responsabilidade civil por dano ambiental é praticamente a única forma de assegurar que danos de maior gravidade eventualmente causados sejam, de fato, reparados. O capital das empresas responsáveis, na maior parte dos casos, é insuficiente para arcar com as despesas de recomposição do meio ambiente ao status quo ante [sic]. O seguro com essa finalidade é bastante difundido em países mais desenvolvidos e, infelizmente, quase não existe em nosso País. Aqui, quando os acidentes ocorrem, parte considerável dos custos da recomposição ambiental acabam recaindo sobre toda a sociedade.
REITO E-NERN 2175-61981
O Projeto de Lei nº 2.313/2003, a seu turno, prevê a alteração do Decreto-lei 73/1966, que versa sobre o seguro obrigatório, pretendendo incluir neste rol o seguro ambiental. O referido Projeto afirma expressamente que o seguro não abrangerá as multas e a fiança impostas ao empreendedor.
Já recebeu pareceres da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS) e Comissão de Finanças e Tributação (CFT). A CMADS apresentou parecer favorável ao Projeto. Entretanto, foram propostas algumas emendas modificativas pelo Relator.
Originalmente, previa-se que o pagamento dos valores das indenizações seria pagos às Secretarias Municipais do Meio Ambiente. Ora, sabe-se que nem todos os municípios possuem uma secretariaespecialmente voltada para a área ambiental.
Ademais, o destinatário da indenização deve ser o próprio segurado, que utilizará os recursos de acordo com as necessidades que se lhe apresentam, sob a fiscalização dos órgãos públicos. 
O Projeto previa ainda a absurda exigência de que o prêmio fosse calculado pelo IRB. A medida se mostra indubitavelmente desarrazoada, pois tira das seguradoras a prerrogativa de avaliar os riscos e calcular o valor adequado do prêmio para assumi-los.
Na CFT, o Parecer emitido pelo Relator foi no sentido de rejeitar o Projeto uma vez que apresentava equívocos que em nada contribuiriam para minorar consequências de possíveis danos ambientais e que tampouco aprimorariam atividades do setor de seguros. Na CCJC, foi apresentado requerimento para que o Projeto de Lei 2313/2003 seja julgado prejudicado, por haver a Comissão já se manifestado sobre a matéria quando apreciou o Projeto de Lei 937/2003.
	
CONCLUSÃO
Por mais que sejam louváveis as intenções de criar um seguro ambiental obrigatório, tal medida pode se apresentar absolutamente inócua, na medida em que as companhias de seguros não estão suficientemente preparadas para atender a esta exigência. E não estão preparadas porque há pouco ou nenhum interesse do empresariado em contratar este tipo de seguro. Contudo, a demanda tem de surgir de maneira espontânea e não através da imposição coercitiva pelo Estado.
O Estado tem à sua disposição diversos mecanismos para atuar na Ordem Econômica. Parece mais acertado criar estímulos para que o setor privado procure os seguros ambientais, valendo-se, por exemplo, de benefícios fiscais. Pode, ainda, por meio do IRB favorecer a oferta de seguro ambientais no mercado e assumir a parcela de risco excedente nesta modalidade seguro. Enfim, ao Estado é possível se utilizar de mecanismos menos gravoso que a instituição de um seguro obrigatório.
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