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narrativa juridica

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Narrativa Jurídica
Aulas 3 
Profa. Dra. Joalêde Bandeira
Fatos e versões
• O fato será trabalhado, portanto, como versões trazidas pelas partes, incompatível
com a tese de que existe uma única versão “verdadeira” passível de ser
descoberta. Tenta-se explicar, de modo simples e lógico, como ocorre a passagem
do fato, do mundo fático para o mundo jurídico.
Uma donzela estava um dia sentada à beira de um riacho deixando a
água do riacho passar por entre os seus dedos muito brancos,
quando sentiu o seu anel de diamante ser levado pelas águas.
Temendo o castigo do pai, a donzela contou em casa que fora
assaltada por um homem no bosque e que ele arrancara o anel de
diamante do seu dedo e a deixara desfalecida sobre um canteiro de
margarida. O pai e os irmãos da donzela foram atrás do assaltante e
encontraram um homem dormindo no bosque, e o mataram, mas
não encontraram o anel de diamante. E a donzela disse:
– Agora me lembro, não era um homem, eram dois.
E o pai e os irmãos da donzela saíram atrás do segundo homem e o
encontraram, e o mataram, mas ele também não tinha o anel. E a donzela
disse:
– Então está com o terceiro!
Pois se lembrara que havia um terceiro assaltante. E o pai e os irmãos da
donzela saíram no encalço do terceiro assaltante, e o encontraram no
bosque. Mas não o mataram, pois estavam fartos de sangue. E trouxeram
o homem para a aldeia, e o revistaram e encontraram no seu bolso o anel
de diamante da donzela, para espanto dela.
– Foi ele que assaltou a donzela, e arrancou o anel de seu dedo e a deixou
desfalecida – gritaram os aldeões. Matem-no!
– Esperem! – gritou o homem, no momento em que passavam a corda da
forca pelo seu pescoço. – Eu não roubei o anel. Foi ela que me deu! E
apontou para a donzela, diante do escândalo de todos.
O homem contou que estava sentado à beira do riacho, pescando, quando a
donzela se aproximou dele e pediu um beijo. Ele deu o beijo. Depois a
donzela tirara a roupa e pedira que ele a possuísse, pois queria saber o que
era o amor.
Mas como era um homem honrado, ele resistira, e dissera que a donzela
devia ter paciência, pois conheceria o amor do marido no seu leito de
núpcias. Então a donzela lhe oferecera o anel, dizendo “Já que meus
encantos não o seduzem, este anel comprará o seu amor”. E ele sucumbira,
pois era pobre, e a necessidade é o algoz da honra.
Todos se viraram contra a donzela e gritaram: “Rameira! Impura! Diaba!” e
exigiram seu sacrifício. E o próprio pai da donzela passou a forca para o
seu pescoço.
Antes de morrer, a donzela disse para o pescador:
– A sua mentira era maior que a minha. Eles mataram pela minha mentira e
vão matar pela sua. Onde está, afinal, a verdade?
O pescador deu de ombros e disse: – A verdade é que eu achei o anel na
barriga de um peixe. Mas quem acreditaria nisso? O pessoal quer violência
e sexo, não histórias de pescador.
(VERÍSSIMO, 1966, p. 144-145)
Sempre é bom lembrar...
• Em todos os casos concretos haverá uma reconstrução de uma
história particular-narrativa jurídica-, em que cada uma das partes
envolvidas em um litígio buscará e tentará propor uma leitura dos
acontecimentos que possa receber o consentimento daquele que
julga a ação. A versão será considerada mais ou menos
plausível à medida que ela for capaz de integrar o maior
número de provas e de resistir às leituras adversas
Caso concreto – Web aula
A reclamada contratou o reclamante para exercer a função de marceneiro
no setor de produção de cozinhas moduladas. O reclamante, ao
desempenhar sua atividade profissional, foi pregar um gabinete duplo, um
dos componentes da cozinha modulada, quando o prego se soltou da
madeira ao sofrer a batida do martelo. O prego atingiu em cheio o olho
direito do trabalhador reclamante, perfurando-o. Esse infortúnio ocorreu
por culpa exclusiva da reclamada, porque esta não ofereceu óculos de
proteção ao obreiro. Trata-se de um trágico e irremediável acidente de
trabalho que pôs fim não somente a qualquer perspectiva de ascensão
profissional do reclamante, mas também o deixou deficiente visual para o
resto de sua vida.
Questão 1 -
• A linguagem forense utilizada pelo advogado na exposição dos fatos no 
caso em questão teve como objetivo produzir uma certa reação 
emocional no receptor (juiz) por meio e uma engenhosa seleção vocabular.
• Comente, em até 10 linhas, a escolha lexical intencional do advogado, 
considerando os valores semânticos de algumas palavras utilizadas na 
construção desse parágrafo.
Questão 1
O prego atingiu em cheio o olho direito do trabalhador reclamante,
perfurando-o. Esse infortúnio ocorreu por culpa exclusiva da
reclamada, porque esta não ofereceu óculos de proteção ao obreiro.
Trata-se de um trágico e irremediável acidente de trabalho que pôs
fim não somente a qualquer perspectiva de ascensão profissional do
reclamante, mas também o deixou deficiente visual para o resto de sua
vida. No parágrafo não há um embasamento jurídico na exposição dos
fatos, mas há uma seleção vocabular (substantivos, adjetivos, verbos),
permitindo ao receptor (juiz) concluir que o reclamante foi vítima do desleixo
da reclamada, isto é, o reclamante tornou-se deficiente visual por culpa
exclusiva da reclamada. Essa seleção vocabular reforça a tese da função
persuasiva da narrativa.
Questão 2 -
• Identifique, no parágrafo acima, pelo menos duas informações ou 
versões que a parte contrária não teria narrado. Justifique a sua 
resposta.
Questão 2 -
• A reclamada jamais alegaria que não tinha oferecido óculos de 
proteção ao obreiro e, consequentemente, não assumiria a sua 
negligência, pois, em momento algum, afirmaria que “esse infortúnio 
ocorreu por culpa exclusiva dela”, isto é, da reclamada. 
• O próprio direito escrito preceitua que ninguém é obrigado a criar 
provas contra si mesmo. 
• Logo, a reclamada não se utilizaria desses fatos para não assumir 
responsabilidade alguma sobre a conduta negligente do reclamante 
(trabalhar sem os óculos). 
Descrição a Serviço da Narrativa: Circunstâncias do Fato
• “A descrição poderia ser concebida independentemente da narração, mas de fato nunca 
é encontrada em estado livre; a narração, por sua vez, não pode existir sem descrição”. 
(GENETTE,1971, p.265)
Ivo Nascimento de Campos Pitanguy por homicídio doloso (quando há intenção de
matar), o Ministério Público do Rio (MP-RJ) ofereceu denúncia à 40ª Vara Criminal
contra o empresário por homicídio culposo (sem intenção). Atropelou e matou o
operário José Fernando Ferreira da Silva na madrugada de sexta-feira (21/8/2015).
Na denúncia, o Ministério Público requereu ainda o agravamento da pena pelo fato
de "o homicídio culposo ser praticado na direção de veículo automotor ocorrer em
faixa de pedestres ou na calçada e quando o motorista deixa de prestar socorro à
vítima".
A Autora teve um relacionamento esporádico com o Réu, do qual nasceu Pedro.
Durante cinco anos, somente a Autora e a avó materna cuidaram da criança, nunca tendo o
menor recebido visita ou auxílio financeiro do Réu, mesmo tendo ele reconhecido a
paternidade.
Entretanto, em 10 de setembro de 2015, a Autora, a pedido do Réu, pai da criança, levou o
menor para a cidade de Belo Horizonte/MG para que conhecesse os avós paternos, sobretudo
o avô, que se encontra acometido de neoplasia maligna.
Quando chegou à casa do Réu, a Autora foi agredida fisicamente por ele e outros familiares,
sendo expulsa do local sob ameaça de morte e obrigada a deixar seu filho Pedro com eles contra
sua vontade e o Réu fez questão, ainda, de reter todos os documentos da criança (certidão de
nascimento e carteira de vacinação).
Em seguida, ainda sob coação física, a Autora foi forçada a ingressar em um ônibuse retornar 
ao Rio de Janeiro. Assim, com sua vida em risco, a Autora, desesperada, deixou o menor e viajou 
às pressas para a Cidade do Rio de Janeiro/RJ, onde reside com sua mãe, a fim de buscar auxílio.
Desde essa data (10/9/2015) o menor se encontra em outro Estado, na posse do Réu e de seus 
familiares, e a Autora, que sempre cuidou de seu filho Pedro, não sabe o que fazer, pois o 
Conselho Tutelar da Cidade do Rio de Janeiro já foi notificado, mas, até o momento não 
conseguiu fazer contato com o Réu.
Observa-se que...
• o advogado narra os fatos com as formas verbais no passado e na
terceira pessoa do singular, apropriando-se da fala da autora, por
meio da paráfrase, em uma estratégia de apagamento da voz da
autora, em busca da pretensão de que a verdade possua uma só
versão. discurso monofônico.
• as circunstâncias que cercam os fatos precisam ser descritas porque
produzem melhor entendimento acerca dos fatos narrados e
contribuem para tipificação da conduta praticada e na avaliação da
possibilidade das atenuantes e/ou agravantes para o crime praticado.
Não se pode perder de vista que...
• o discurso não é o do advogado, pois nos momentos em que se
manifesta dentro do Processo, é sempre a voz e o desejo de seu
cliente que está representando, embora, na narrativa jurídica, por
exemplo, apague a voz do autor para que se tenha a ilusão do
discurso da “verdade” única, em busca da persuasão dos fatos
narrados. Essa linha de pensamento pode ser vislumbrada nas
demais partes da peça processual e não só na narração dos fatos,
mas esta será ponta de lança para os demais elementos que
comporão a peça jurídica.
Caso concreto: Augusto Carlos Eduardo da Rocha Monteiro Gallo e Margot Proença
Gallo (ELUF, 2002, p.53) e atente para a descrição intencional nele apresentada e da
sua importância como fator de persuasão:
• “ [...] No dia em que foi assassinada, 
Margot trajava blusa de algodão 
branca e saia xadrez nas cores verde e 
vermelho. Sapatinho de salto baixo, 
parecia uma colegial. Tinha 37 anos de 
idade. [...]”
Modalização da Linguagem: Seleção Vocabular
CAMELÔS INVADEM O CENTRO DA CIDADE E TUMULTUAM A 
VIDA DO PAULISTANO
Revoltados porque a Prefeitura resolveu retirá-los das ruas do 
centro da cidade, camelôs fizeram ontem manifestação agressiva, 
destruindo vitrines de lojas e tumultuando o centro da cidade, 
inclusive ferindo transeuntes. A polícia foi obrigada a apaziguar o 
tumulto, dispersando os manifestantes.
Modalização da Linguagem: Seleção Vocabular
POLÍCIA AGRIDE MANIFESTANTES NO CENTRO DA CIDADE
Camelôs que foram expulsos de seu local de trabalho nas ruas do 
centro da cidade fizeram ontem manifestação na região central. A 
tropa de choque foi chamada para reprimir a manifestação, 
agredindo vários camelôs, que saíram feridos.
Mesmo acontecimento, mas ..
• cada autor apresenta seu ponto de vista implícito mediante a utilização
de dois procedimentos: a seleção vocabular e a seleção de fatos a serem
narrados.
• apenas o modo de ver ou o ponto de vista varia, escolhendo, cada um
dos narradores, narrar aquilo que lhe parece mais relevante: nos fatos
mais importantes – manifestação de camelôs em virtude de uma
conduta da prefeitura e o chamado da polícia para pôr fim ao tumulto
Mesmo acontecimento, mas ..
• há uma escolha lexical opositiva:
• dispersa x agride”;
• “apaziguar o tumulto x reprimir a manifestação”;
• “os camelôs feriram transeuntes x a polícia feriu camelôs”.
Assim, ...
• Depreende-se que é impossível uma narração isenta, imparcial, fato esse que
pode ser constatado com maior relevo, como já posto, no trabalho do advogado,
em que a parcialidade é garantia do próprio contraditório e da dialética processual.
• A interpretação é fator de construção do sistema jurídico, logo é impossível pensar
as tramas jurídicas sem a atividade interpretativa. O estudioso do Direito tem de
se conscientizar de que nenhum direito, por mais importante que seja, pode
ser visto como absoluto, ficando sempre condicionado ao exame minucioso
de cada contexto fático.

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