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Direito do Consumidor Aula Online- Estácio 2016

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AULA 1- O Direito do Consumidor e a Constituição
O Direito do Consumidor e seu Campo de Aplicabilidade
	Na verdade, não há o que se poderia determinar um campo de incidência de forma sistematizada e específica acerca do Código de Defesa do Consumidor. Muito menos uniformidade.
São várias as opiniões que vão desde as que lhe atribuem o caráter de mera lei geral, inaplicável em áreas específicas do Direito já disciplinadas por leis especiais, passando por aquelas com um minissistema jurídico, com campo definido e delimitado. Tal como fizeram as leis de locação urbanas, registros públicos, falências, até chegar naqueles que entendem tratar-se de um novo ramo do direito – o Direito do Consumidor tem autonomia e princípios próprios.
O que realmente existe é uma filosofia, uma diretriz de defesa do consumidor. Dada a heterogeneidade de sua aplicação, é vasta a aplicação de assuntos que se possa atribuir ao termo “consumidor”. Sendo assim, o que se criou foi uma sobre-estrutura jurídica multidisciplinar, aplicável em toda e qualquer relação de consumo.
O Código de Defesa do Consumidor é aplicável em toda a estrutura jurídica em que existem duas figuras polares:
CONSUMIDOR- definição legal (“...toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.”)
FORNECEDOR- concepção de fornecedor (“...é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.”).
Origem- O Movimento Consumerista no Brasil não foi um fato estanque. A defesa do consumidor teve origem na Europa arrasada pela Segunda Guerra Mundial, em que o mercado consumidor estava bastante enfraquecido.
1948- Os Estados Unidos viram, na destruição europeia, uma grande oportunidade de negócio através do Plano Marshall, que uniu os países europeus no pós-guerra. Fato este que gerou a criação, em 1948, da Organização Europeia de Cooperação Econômica (OECE), que expandiu o mercado norte-americano sobre a Europa.
1962- Em 1962, J.F. Kennedy vislumbrou duas faces bem distintas no mercado econômico: O consumidor e o fornecedor. No mesmo ano, J.F. Kennedy, em discurso para o Congresso Americano, declamou a elaboração da “Carta de Política dos Consumidores”. Foi o primeiro documento formal que estabeleceu uma política geral voltada, exclusivamente, para o consumidor.
O Texto tem sentido aberto e estabelece os direitos básicos, mas não específicos, dos consumidores.
1968- Fundou-se a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), unindo a OECE (europeia), EUA, Canadá, Japão, Austrália e a Nova Zelândia, com o objetivo de estabelecer uma política de consumo entre seus membros.
1969- No ano de 1969, a OCDE criou uma comissão para política econômica, com o objetivo de organizar e promover uma política para os consumidores.
1976- Desta comissão originou-se a “Carta do Consumidor”, em 1976.
Observa-se que desde o término da Segunda Guerra Mundial até aquele momento na história houve um processo evolutivo socioeconômico que impôs uma mudança de mentalidade.
1985- No ano de 1985, a ONU se reuniu em 10 de abril e elaborou a Resolução 39/248, que é o reconhecimento Universal da Carta do Consumidores de 1976, regulamentando este documento, com várias regras, com a finalidade de tutelar os direitos básicos do consumidor e deveres dos Estados.
Finalidades- O claro objetivo do legislador constituinte, portanto, era o de que fosse implantada uma Política Nacional de Relações de Consumo, uma disciplina jurídica única e uniforme destinada a tutelar os interesses patrimoniais e morais de todos os consumidores.
E assim, na verdade, aconteceu, embora com certo atraso.
Sancionado em 12 de setembro de 1990, o Código de Defesa do Consumidor foi publicado neste mesmo dia como Lei 8078 de 11 de setembro de 1990, revelando-se, desde então, um diploma moderno, à altura das melhores e mais avançadas legislações dos países desenvolvidos.
Seus princípios e normas são de ordem pública e interesse social, vale dizer, de aplicação necessária, conforme disposto expressamente em seu primeiro artigo.
CDC, Art. 1º - O presente Código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.
Dispositivos constitucionais
	No Brasil, em que pese haver a presença de movimentos consumeristas, somente com a Constituição de 1988, a defesa do consumidor ganhou proteção positivada porque veio mencionada expressamente no art. 48 do ADCT, gerando a sua concepção. No art. 5°, inciso XXXII, ganhou o status de direito e garantia fundamental. E determinou, no art. 170, V que a defesa do consumidor é um princípio inerente a ordem econômica. Sendo tais fundamentações oriundas do Poder Constituinte Originário.
Assim, em setembro de 1990 foi publicada a Lei 8.078 – Código de Defesa do Consumidor, cujo objetivo é implantar uma Política Nacional de Consumo, conforme determina o art. 4° do CDC e os instrumentos para colocar essa Política Nacional em prática estão mencionados no art. 5° do mesmo diploma legal.
Concepção: art. 48 do ADCT
CRFB/1988 – Atos das Disposições Constitucionais Transitórias:
Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.
Temos, nesta fundamentação, a “concepção” da futura lei que regulará o “Código de Defesa do Consumidor”. Destaca-se o fato de que a Lei 8.078 de 1990 não existia. Além disso, integra o chamado “poder constituinte originário”. Logo, a futura lei foi concebida concomitantemente no nascimento da CRFB/1988. Por isso sua relevância.
Direito e Garantia Fundamental
CR/88, Art. 5, XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; Como se sabe, a Constituição Federal eleva à garantia de inamovibilidade e relevância os incisos e parágrafos do seu art. 5.
Com fundamentação complementar do art. 60, §4º, inciso IV da CRFB:
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
IV - os direitos e garantias individuais (cláusula pétrea).
Essa situação gera uma condição de garantia e estabilidade da “Defesa do Consumidor” enquanto vigorar a CRFB/1988.
Princípio Inerente à ordem econômica
CRFB/1988: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
V - defesa do consumidor; Nessa fundamentação, observamos a relevância da “Defesa do Consumidor” como princípio econômico.
Justificamos tal situação pelo singelo raciocínio de que o destinatário de todo e qualquer bem de consumo (produto e serviços) são os consumidores. E que uma economia saudável depende, de maneira intrínseca, de um consumidor com condições financeiras de aquisição e forte em seus direitos, como forma de tornar o mercado saudavelmente competitivo.
OBS: Previsões na CRFB/1988 que tem ingerência direta nas normas de consumo:
Art. 1, III;
Art. 5° X, XXII e § 2°;
Art. 24, VIII;
Art. 30, I, II;
Art. 37, § 6°;
Art. 60, § 4°, IV;
Art. 87, Parágrafo único, II;
Art. 150, § 5° e
Art. 175, Parágrafo único, II.
AULA 2- Princípios básicos do CDC
Os princípios de proteção do consumidor a serem apresentados são diferentes princípios gerais insculpidos em outras normas. Exemplo típico desta assertiva é o entendimento do princípio da vulnerabilidade que é ínsito (de forma exclusiva) ao consumidor, por via de consequência inaplicável a outro sujeito de direito que não o já citado (consumidor).
Analisaremos os princípios consumeristas em espécie, quaissejam, o princípio da vulnerabilidade e suas espécies, o da boa-fé e suas funções, o da transparência, da segurança e harmonia.
Pode-se conceituar o princípio jurídico como pensamento inexorável (rígido, que não cede à flexibilização, implacável) resultante das interações humanas, dentro do Direito, no qual é gerado um microssistema cujos macrossistemas deverão, para ter credibilidade e segurança, recorrer.
Como exemplo maior de princípio, a Constituição de 1988 contém os fundamentos valorativos aceitos pela sociedade, portanto, a CF/88 é o plano diretor do sistema jurídico brasileiro, ordenando não somente os princípios, como também, as leis e os procedimentos necessários para que todos possam ser aplicados com correção.
Sendo assim, é importante destacarmos a norma e a lei na Defesa do Consumidor.
				Norma- está intimamente ligada ao princípio, é a exteriorização positiva do princípio.
Defesa do Consumidor
				Lei- em tese, é a conclusão de uma ideia positivada a ser defendida
Princípios no CDC
Podemos identificar no art. 4º do CDC, a existência da norma-princípio, por excelência da lei consumerista, na qual está contida a política das relações de consumo, destacando-se como princípios maiores:
1. Princípio Da Vulnerabilidade
Art. 4º, I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;
O princípio da vulnerabilidade é de suma importância porque estabelece a igualdade dentro da relação de consumo, coisa que antes do CDC não existia e o fornecedor estava sempre em posição de vantagem. É caracterizado como aquele em que o consumidor está em desvantagem jurídica, decorrente de uma expressa determinação legal oriunda do CDC, art. 4, I. Independentemente de sua situação social, pelo simples fato de ser consumidor, já o faz ser classificado como vulnerável.
Também não se pode esquecer que todo consumidor é vulnerável, mas nem todo consumidor é hipossuficiente. Este princípio é o resultado da “qualidade” especial do consumidor. Pois, além de lhe ser inerente, é a identificação permanente da subordinação, do desequilíbrio entre o consumidor e o fornecedor.
É importante frisar que a vulnerabilidade pode ser:
Técnica- é o desconhecimento técnico do bem de consumo adquirido. O fornecedor não detém o monopólio do conhecimento. Mesmo que seja adquirido por pessoa especializada.
Fática ou Econômica- é a disparidade de forças entre o consumidor hipossuficiente e o fornecedor hipersuficiente (em regra).
Jurídica ou Científica- é a desproporção de fato que existe entre o fornecedor litigado “profissional”. E o consumidor, litigante eventual. 
Importante! Hipervulnerabilidade: Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; A hipervulnerabilidade decorre da evolução da vulnerabilidade. O hipervulnerável é a criança, o enfermo, o paupérrimo. Que, na condição de consumidor juridicamente vulnerável, temos a hipervulnerabilidade como um “algo mais”.
2. Princípio Da Harmonia Das Relações De Consumo- O CDC visa a harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e a compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170 da CF), sempre com base na boa-fé e no equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores (art. 4º, inciso III, do CDC).
3. Princípio Da Repressão Eficiente De Todos Os Abusos- encontra-se expresso no artigo 4º, inciso VI, do CDC, e visa coibir e reprimir de forma eficiente, todo e qualquer “abuso” que venha a ser praticado dentro do mercado de consumo, inclusive quando se trata de concorrência desleal e utilização indevida de inventos, tais como criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam vir a causar prejuízos aos
consumidores, tal qual como manifestado em letra de lei. O conhecimento elementar de abuso tem por hábito relacionar-se a prática de direitos, ou seja, não há que se falar em abuso sem falar em realização de determinado ato ou conduta, que se não fosse devido aos excessos, teria respaldo legal. O abuso deve estar ligado a uma desproporção entre meios e fim. São inúmeras as maneiras de abuso que podem acontecer por parte dos fornecedores, seja ela na publicidade (como expresso no artigo 37, parágrafo 2º, do CDC), seja na oferta (artigo 30 e 31), seja nas práticas abusivas (artigo 39), ou ainda, seja nas cláusulas contratuais abusivas. Podemos citar como exemplo de prática abusiva o fornecedor que coloca no mercado um determinado produto ou serviço, que esteja em desacordo com normas expressas de órgãos oficiais, ou até mesmo, quando estes exigem vantagem considerada excessiva, ou ainda a prestação de um serviço sem a prévia elaboração de um orçamento e autorização do consumidor.
Boa fé- Art. 4, III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores [...] É o regramento de conduta social de agir com lealdade e honestidade. Fazer o que é certo e na medida do prometido.
Importante! A Boa-fé Objetiva - A Teoria do Risco do Empreendimento (ou do negócio)- Significa atuação refletida, uma atuação observando, pensando no outro, no parceiro contratual, respeitando-o, respeitando seus interesses legítimos, suas expectativas razoáveis, seus direitos, agindo com lealdade, sem abuso, sem obstrução, sem causar lesão ou desvantagem excessiva. Cooperando para atingir o bom fim das obrigações: o cumprimento do objetivo contratual e a realização dos interesses das partes.
A relevância do tema é positivada nos seguintes fundamentos:
Constituição Federal – 5; V, X, XXII; §2
Código Civil – 112; 113; 166, VI; 167, § 2; 171; 172; 186; 187; 309; 317; 421; 422; 423; 424; 425; 478; 479; 480; 927, § único; 1201 e 1208.
Código de Processo Civil – 374, I, III e IV;
Código de Defesa do Consumidor – 1; 4, III; 39, V; 51, IV; 54; 84
Transparência- Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito a sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios [...]
Não basta que o fornecedor informe ao consumidor sobre seu produto ou serviço, é necessário que tal informação seja prestada de maneira clara, possibilitando ao consumidor que adquira o bem de consumo de forma consciente.
Segurança- Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito a sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
Art. 4º, V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo;
No que diz respeito à segurança, o Código não estabelece um sistema de segurança absoluta para produtos e serviços. O que se quer é uma segurança dentro dos padrões da expectativa legítima dos consumidores.
Harmonia- Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparênciae harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios [...]
O princípio da harmonia (ou equidade) - é um princípio de técnica de hermenêutica que deve estar presente na aplicação da lei. É a justiça diante do caso concreto.
Princípios Gerais que regem o microssistema de defesa do consumidor:
Princípio da dignidade da pessoa humana. A defesa dos consumidores e a tutela de seus interesses é uma das formas de defesa da dignidade da pessoa humana.
Princípio da proteção. Conforme o preceito Constitucional (art. 5º, XXXII), cabe ao Estado o dever de proteger o consumidor, considerada a condição de desigualdade existente nas relações de consumo, razão pela qual as normas do consumidor devem ser aplicadas para equilibrar tais relações.
Princípio da transparência. Constitui um dos pilares da boa-fé objetiva, que impõe o dever do fornecedor informar de modo adequado o consumidor, suprindo todas as informações tidas como necessárias para o melhor aperfeiçoamento da relação de consumo, garantindo inclusive a livre escolha do consumidor de contratar o fornecedor.
Princípio da vulnerabilidade. Trata-se do reconhecimento da fragilidade do consumidor na relação com o fornecedor, podendo a vulnerabilidade ser técnica, jurídica, fática, socioeconômica e informacional.
Princípio da boa-fé objetiva e do equilíbrio. Regra de conduta, constituindo dever permanente entre as partes em suas relações, pautado pela lealdade, honestidade e cooperação.
Princípio da informação. O consumidor tem o dever de receber informação adequada, clara, eficiente e precisa sobre o produto ou serviço, bem como de suas especificações de forma correta (características, composição, qualidade e preço) e dos riscos que podem apresentar.
Princípio da facilitação da Defesa. Garante ao consumidor a facilitação dos meios de defesa de seus direitos, ante a sua presumida dificuldade para exercitá-los, seja por deficiência técnica, material, processual, fática ou mesmo intelectual.
Princípio da revisão das cláusulas contratuais. Possibilita ao consumidor o direito de manter a proporcionalidade do ônus econômico que implica ambas as partes, consumidor e fornecedor, na relação jurídico-material. Assim, toda vez que um contrato de consumo acarretar prestações desproporcionais, o consumidor tem o direito à modificação das cláusulas contratuais para estabelecer ou restabelecer a proporcionalidade.
Princípio da conservação dos contratos. O objetivo do CDC é de conservar os contratos e havendo desproporcionalidade ou onerosidade excessiva, devem ser feitas modificações ou revisões com o intuito de sua manutenção, somente ocorrendo a sua extinção em última hipótese.
Aula 3- A Relação de Consumo e seus Elementos (I- O Consumidor)
Estabelecermos, como requisito de uso do CDC, a necessidade premente de uma relação de consumo que exige a existência de dois sujeitos: o consumidor e o fornecedor.
O primeiro integrante da relação de consumo é o consumidor. Entretanto, tal situação não torna mais fácil sua caracterização, principalmente se considerarmos as alterações no decorrer do tempo (e já se vai mais de uma década desde o início da vigência da Lei 8.078 de 1990). Já em um segundo momento, temos de definir o que vem a ser o conceito de destinatário final. Se avaliarmos o art. 2º da Lei 8.078 de 1990, verbis: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Com a leitura, podemos identificar a ausência de um conceito do que vem a ser destinatário final, o que vem causando sérias controvérisas ao longo do tempo.
Para o tema devemos distinguir as teorias existentes. Inicialmente tivemos a teoria maximalista. Depois a teoria finalista, que perdura até os dias atuais em sede de aplicação. E, recentemente, a partir de 2010, temos a possibilidade de aplicação da chamada teoria finalista atenuada (ou mitigada ou mista).
Quadro geral da relação de consumo:
Consumidor- Seu conceito é caraterizado como um elemento subjetivo da relação de consumo. Tal premissa encontra justificativa pelo fato de que o conceito detém flexibilidade em relação à doutrina e à jurisprudência.
O CDC nos possibilita a seguinte interpretação dos fundamentos pertinentes ao consumidor:
Art. 2° - Definição de consumidor e destinatário final e consumidor por equiparação de forma coletiva;
Art. 17 – Consumidor por equiparação pelas vítimas de defeito de bem de consumo;
Art. 29 – Consumidor por equiparação nas pessoas relacionadas nos capítulos V e VI.
Consumidor Padrão- O consumidor padrão ou “standard” é relativamente o mais fácil de ser identificado. Sua fundamentação é o já citado art. 2º do CDC parte, como se lê:
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Podemos refletir que esse consumidor adquire por contrato de aquisição por gênero. Seja por contrato de compra e venda (com características do art. 481 e seguintes da Lei 10.406 de 2002 – CC), seja por contratação de serviços (com características do art. 593 e seguintes da Lei 10.406 de 2002 – CC). É aquele que adquire para satisfazer uma necessidade. Se de forma subjetiva ou profissional é discutível. Mas sempre ocorrerá a transferência de propriedade do produto ou da fruição do serviço.
Consumidor por Equiparação- O consumidor por equiparação ou “bystandarder” tem a necessidade de maior avaliação. Suas fundamentações são os art. 2º em seu parágrafo único, o art. 17 e o 29, todos do CDC, como se lê:
Art. 2°, Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.
É o consumidor que não adquire, mas utiliza o produtos ou serviços, nos termos do próprio artigo 2º:
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Cremos assim que o consumidor é o que, ao utilizar um bem de consumo, sofre danos oriundos do mesmo. Principalmente, se considerarmos que nenhum produto ou serviço, desde que corretamente utilizado, pode causar danos ao consumidor. Tal premissa encontra fundamentação na primeira parte do art. 8 do CDC:
Art. 8º Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou à segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis, em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.
Logo, em plena conformidade entre justificativa e fundamentação, temos que “nenhum bem de consumo pode causar danos aos consumidores”. Seja o que tenha adquirido o bem (consumidor padrão) seja o que o utiliza (consumidor por equiparação).
Teorias- Esse assunto remete a uma palestra proferida pelos autores do anteprojeto da Lei 8.078 de 1990.
Quando a mesa foi indagada acerca do “conceito de destinatário final” o Ministro do STJ, Antonio Heman V. Benjamin, respondeu: “não sei!” Isso causou grande comoção na plateia. Afinal, se ele não sabia o que seria de nós pobres mortais... Entretanto, no alto de toda a sua intelectualidade, logo a seguir emendou: “E o objetivo é que ninguém saiba! Pois se assim o for, tal tema não comportará evolução em sua interpretação”
Teorias- Conhecimento especulativo, meramente racional. Conjunto de princípios fundamentais de uma arte ou de uma ciência. Doutrina ou sistema fundado nesses princípios. Opiniões sistematizadas. Suposição, hipótese.
Teoria Maximalista- Advém dos primórdios da aplicação da Lei 8.078 de 1990. Para se enquadrar como consumidor, bastava adquirir o bem de consumo no mercado fornecedor para caracterizar tal relação. Independentementeda motivação, objetivo e interesse. “Comprou é consumidor!” Basta a singela retirada do mercado de consumo para se enquadrar como consumidor. Por este raciocínio, uma grande empresa de metalurgia, quando adquire minério para beneficiamento e posterior fabricação de metal seria considerada consumidor.
Essa ideia não perdurou por longo tempo, pois o objetivo das normas de consumo é o de proteger, art. 4, I do CDC, o “consumidor vulnerável”. E, no exemplo anterior, cremos que uma empresa de metalurgia, considerando o bem de consumo em questão (minério) não possa ser enquadrada como vulnerável, em razão, principalmente, de sua expertize em relação conhecimento técnico sobre o bem adquirido.
Desse modo, essa teoria está em descompasso com o espírito das normas de consumo.
Teoria Finalista- Além de adquirir o bem de consumo, é necessário saber qual a destinação fática, efetiva, econômica, subjetiva do bem em questão. Pois, ao empregar o mesmo ao fim a que se destina, este, de per se (em si mesmo), não prestará para fins de enriquecer seu proprietário com a sua venda direta ou empregado como insumo principal na atividade profissional de seu proprietário. Caso isso ocorra, o adquirente não se enquadra na principiologia da vulnerabilidade ínsita no já citado art. 4, I da principal lei que regula as relações de consumo.
Logo, a justificativa para a sua aquisição deve ser desprovida de intentos profissionais, como o seu beneficiamento da matéria prima com posterior venda. A satisfação da aquisição deve ser subjetiva. Veja um exemplo em que temos o mesmo objeto com fins diferentes: Alguém comprou o veículo “van” com fins de transporte profissional. Não há relação de consumo em detrimento do seu objetivo profissional; Alguém comprou o veículo “van” com fins de transportar sua numerosa família em uma viagem pelo continente sul-americano. Há relação de consumo em detrimento do seu objetivo meramente pessoal. Como se pode observar muito bem, intuitos diferentes, relações diferentes.
Na eventual ocorrência de dano, o proprietário do veículo adquirido com fins profissionais deverá invocar a principal lei que regula as relações entre pessoas privadas, Código Civil. Considerando o evento dano, principalmente o artigo 931.
Já na segunda hipótese, o proprietário do veículo poderá invocar a Lei 8.078 de 1990 e todos os seus benefícios.
Teoria Finalista Atenuada (ou Mista ou Mitigada)- A aquisição para uso, ainda que profissional, caracterizará a relação de consumo desde que o adquirente não tenha condições de negociação com o fornecedor.
Para tanto, melhor será a apresentação da seguinte jurisprudência.
AgRg no REsp 1321083/PR, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 09/09/2014, DJe 25/09/2014.
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. COMPRA DE AERONAVE POR EMPRESA ADMINISTRADORA DE IMÓVEIS. AQUISIÇÃO COMO DESTINATÁRIA FINAL. EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO.
1. Controvérsia acerca da existência de relação de consumo na aquisição de aeronave por empresa administradora de imóveis.
2. Produto adquirido para atender a uma necessidade própria da pessoa jurídica, não se incorporando ao serviço prestado aos clientes.
3. Existência de relação de consumo, à luz da teoria finalista mitigada. Precedentes.
4. Agravo regimental desprovido.
Em um primeiro momento, pode parecer uma antinomia em relação à teoria finalista pura. Mas, se avaliarmos com mais atenção, a lógica da coisa é que, in casu, o avião é utilizado com fins de ser empregado no negócio de imóveis (transporte de clientes para lugares longínquos) e não o de aviação comercial.
Por consectário lógico, considerando as peculiaridades da jurisprudência, há aplicação das normas de consumo e todos os seus benefícios à favor da administradora de imóveis.
Aula 4- A Relação de Consumo e seus Elementos II (O Fornecedor)
A previsão legal do art. 3º caput é o chamado fornecedor gênero do qual o fabricante, o construtor o importador e o comerciante são espécies. Vê-se que, por conta da responsabilidade, o CDC assim os classifica como fornecedor. Mas, quando deseja especificidade o alcunha de fabricante, produtor, comerciante etc.
Destacamos, desde já, a ideia da multiplicidade e de hipóteses de enquadramento ao consideramos que no fornecimento de produtos e de serviços pode haver qualquer atividade no mercado de consumo. Formalizado ou não.
Logo, o legislador elencou hipóteses já existentes e as porvir. Um típico exemplo é o da atividade de serviços de telecomunicações. Desde a vigência do código (anos de 1990) até a presente data se aperfeiçoou de maneira impressionante. Há poucos anos sequer se cogitaria que o telefone celular existisse. Hoje, não imaginamos a humanidade sem tal equipamento.
O Fornecedor (gênero)- está elencado no art. 3º.
“É toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”.
Como se lê, temos uma ampla possibilidade de enquadramento, por isso vamos pormenorizá-las.
Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica
Pessoa física (ou natural) – arts. 2º c/c 6º do CC. Embora ocorra o uso expresso das palavras pessoa física, em verdade o legislador designou pessoa natural. Temos no CC, considerando os artigos 2 c/c 6 o seguinte, verbis:
Art. 2º- A personalidade civil da pessoa- Começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte;
A conclusão é que, em se tratando de aplicação das duas principais leis que regulam as relações entre pessoas privadas (Lei 10.406 de 2002 e Lei 8.078 de 1990), o ser humano deve ser alcunhado de “pessoa natural”.
Atenção! O equiparado, pessoa física, se deve ao tratamento técnico dispensado às normas tributárias, em que o contribuinte pessoa natural é adjetivado de pessoa física.
Tal distinção não impede a interpretação de que quando falamos em pessoa física estamos nos referindo à pessoa natural. Tal ponderação se deve ao mero enquadramento de nomenclaturas aplicáveis ao tema.
Já a pessoa jurídica encontra sua nomenclatura sem qualquer desacerto. Mas em sede de fundamentação nos utilizamos, mais uma vez, da Lei Civil Maior (Lei 10.406/02), especialmente em seus artigos 40, 43 e 44, verbis:
Título II - Das Pessoas Jurídicas
Capítulo I - Disposições Gerais
Art. 40- As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado.
Art. 43- As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.
Art. 44- São pessoas jurídicas de direito privado:
I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações.
IV - as organizações religiosas;
V - os partidos políticos;
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada.
Fornecedor – pessoa pública ou privada
- Entendo que pode figurar no polo passivo da ação de responsabilidade civil nas relações de consumo apenas o serviço “uti singuili” (individual).
- Por consectário da interpretação, a contrario sensu, da forma de remuneração e sua excludentes, que será estudado mais tarde.
***Serviços uti singuli ou individuais: Têm usuários determinados e utilização particular que pode ser medida para cada destinatário. Exemplos: água, telefone, energia elétrica. São de utilização individual e devem ser remunerados por taxa ou tarifa.
Fornecedor – pessoa nacional ou estrangeira
- As empresas nacionais têm sua sede e eventuais agências filiais ou sucursais espalhadas em diversos domicílios dentro do território nacional.
- Já as empresas estrangeiras que atuam no Brasil, têm (ou deveriam ter) minimamente escritórios de representação em soloPátrio. O que possibilitará, em termos práticos processuais, a sua citação e atos consecutivos (intimação, execução etc).
	Um direito inerente ao consumidor diz respeito ao seu foro privilegiado, por força do art. 101, I do CDC e corroborado por vasto entendimento jurisprudencial.
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas: I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor; 
No que se lê “pode ser”, como já citado, é pacífico interpretar deve. Fato este corroborado por jurisprudência do STJ: AgRg no CC 127626/DF, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Segunda Seção, julgado em 12/06/2013, DJe 17/06/2013. “Em se tratando de relação de consumo, a competência é absoluta, razão pela qual pode ser conhecida até mesmo de ofício e deve ser fixada no domicílio do consumidor”.
Art. 3° Fornecedor é [...] bem como os entes despersonalizados:
A expressão “entes despersonalizados” é criação doutrinária, sendo a mais usual e conhecida, entre outras. Ex: entes atípicos, sujeitos de personalidade reduzida, grupos de personificação anômala.
Logo, por expressa determinação legal, são partes legítimas para figurar, processualmente, no polo passivo de uma ação.Ex: Massa falida, comércio popular.
Art. 3° Fornecedor é [...] que desenvolvem atividade de:
- produção, montagem, criação, construção, transformação.
- importação, exportação.
- distribuição
- comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Fornecedor de Produtos
Trataremos da especificidade de enquadramento do fornecedor, agora com o produto.
Prevê suas fundamentações:
Art. 3 [...] § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
"Percebe-se a inteligência do legislador consumerista quando adota a nomenclatura “qualquer bem”, considerando a promulgação do CDC, temos um conceito indefinido e já avocando produtos que ainda serão criados.
Exemplos: GPS, smartphone, tablet, carro com direção elétrica etc."
Art. 3 [...] § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
Temos a necessidade de utilização da Lei 10.406/02 com fins de uma melhor conceituação do que venha a ser bens móveis e imóveis.
Bem móvel – art. 82 a 84 do CC;
82- São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.
83- Consideram-se móveis para os efeitos legais:
I - as energias que tenham valor econômico;
II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;
III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.
84- Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio.
Rotineiramente nos referimos de forma habitual como bens móveis os disponíveis aos consumidores nos termos do supra citado art. 82. Entre eles: veículos, armários, estantes, computadores, entre outros.
Casuisticamente, embora não seja normal os incisos elencados no art. 83 dificilmente serão enquadrados, faticamente, como bens móveis com destinação ao consumidor.
Em seus termos o art. 84 não merece maior sorte se avaliarmos que tais bens não são fruto de aquisição. Mas sim de reaproveitamento.
Os bens Imóveis- Encontram igual previsão legal entre os arts. 79 a 81 do CC:
Seção I - Dos Bens Imóveis
Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.
Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II - o direito à sucessão aberta.
Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:
I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local;
II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem.
Por construção doutrinária e jurisprudencial o art. 79 tem absoluta aplicação.
Por exceção, inaplica-se os artigos 80 e 81 sobre a ótica consumerista.
Art. 3 [...] § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
A materialidade de um produto encontra fundamentação nos arts. 85 e 86 do CC. Gerando a consequente corporificação/fungibilidade. São bens substituíveis.
Exemplo: celular.
Os Bens Imateriais- Art. 85 e 86 do CC detêm corporificação/infungibilidade. São insubstituíveis, obras de arte. Tudo nos seguintes termos:
Seção III - Dos Bens Fungíveis e Consumíveis
Art. 85. São fungíveis os bens móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade.
Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.
Fornecedor de serviços
O fornecimento de serviço tem, da mesma forma que o produto, uma visão infinita sobre o prisma do enclausuramento de sua conceituação.
O legislador adotou o mesmo expediente ao apresentar o serviço como: “qualquer atividade fornecida no mercado de consumo”. Inimaginável há pouco tempo a existência da internet, da telefonia, e até mesmo de viagens semiorbitais por particulares.
Logo, estas simples palavras tornaram perfeitamente adaptável à situações presentes, futuras e impensáveis. Vamos ler:
Art. 3 [...] § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Muito cansativo foi o enquadramento das instituições financeiras às relações de consumo, em decorrência da inflexão das instituições financeiras. Situação esta que foi conduzida até a ADIN 2.591 de 2006, assim ementada:
07/06/2006 TRIBUNAL PLENO
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.591-1 DISTRITO FEDERAL
RELATOR ORIGINÁRIO: MIN. CARLOS VELLOSO
RELATOR PARA O ACÓRDÃO: MIN. EROS GRAU
REQUERENTE: CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO SISTEMA FINANCEIRO - CONSIF
ADVOGADOS: IVES GANDRA S. MARTINS E OUTROS
REQUERIDO: PRESIDENTE DA REPÚBLICA
REQUERIDO: CONGRESSO NACIONAL
EMENTA: CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ART. 5º , XXXII, DA CB/88. ART. 170, V, DA CB/88. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. SUJEIÇÃO DELAS AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, EXCLUÍDAS DE SUA ABRANGÊNCIA A DEFINIÇÃO DO CUSTO DAS OPERAÇÕES ATIVAS E A REMUNERAÇÃO DAS OPERAÇÕES PASSIVAS PRATICADAS NA EXPLORAÇÃO DA INTERMEDIAÇÃO DE DINHEIRO NA ECONOMIA [ART. 3º, § 2º, DO CDC]. MOEDA E TAXA DE JUROS. DEVER-PODER DO BANCO CENTRAL DO BRASIL. SUJEIÇÃO AO CÓDIGO CIVIL.
As instituições financeiras estão, todas elas, alcançadas pela incidência das normas veiculadas pelo Código de Defesa do Consumidor.
Logo, tal decisão judicial pôs fim, desde 2006 sobre a incidência do CDC às instituições bancárias. Situação esta corroborada pelo STJ à título da súmula 297- “O código de defesa do consumidor é aplicável às instituições financeiras”. Sendo assim, é indiscutível a aplicabiliadade das normas de consumo aos sistema financeiro.
Art. 3, § 2° Serviço (...) securitária: Considerando a sua relevância, empregamos um entendimento do TJRJ acerca do tema:
Súmula TJRJ nº. 327 - "É competente a Câmara Cível especializada para dirimir controvérsia entre segurado e seguradora, referente a seguro de vida em grupo que figure o empregador como estipulante, por qualificar-se o segurado (empregado/beneficiário) como destinatário final."
Logo, as atividades securitárias, considerando a expressa previsão do CDC, corroborada pelo enunciado de súmula citado nos fazem concluir pela aplicabilidade das normas de consumo ao instituto do seguro.
Aula 5- Direitos Básicos I
Antes do advento do CDC, o consumidor não era considerado sujeito de direito, apenas destinatário de produtos e serviços. Ao tratar dos direitos básicos do consumidor deve-se ter em mente que o art. 6º traz o rol de tais direitos, devendo ser destacado que esse rol não é taxativo, ou seja, a lei traz os direitosmínimos que devem assegurados aos consumidores.
A relevância do tema é tamanha que, fazendo um quadro comparativo, temos nos incisos do art. 6º um equivalente aos direitos e garantias fundamentais em nível Constitucional, que podemos alcunhar de “Direitos e Garantias Fundamentais do Consumidor”.
Os direitos básicos em espécie
Os direitos básicos do consumidor, através do art. 6º, da Lei 8.078 de 1990, expressam uma série de temas indissociáveis do consumidor e que podem (e devem) ser empregados como argumento mínimo com fins de atender as suas necessidades.
São regras de direito:
material (incisos I, II, II, IV, V e VI),
processual (VIII) e
administrativo (VII e X).
Tudo a fim de garantir aos consumidores a proteção, prevenção e reparação de danos. Vamos estudá-los:
Vida, saúde e segurança
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
1- O primeiro direito básico prevê “a proteção à saúde e segurança”. São hipóteses de proteção do consumidor no fornecimento de produtos e serviços que, por sua natureza, podem representar uma ameaça na singela usabilidade.
2- Quando o bem de consumo (produto ou serviço) tem potencial de nocividade ou periculosidade, por exemplo: nos produtos domiciliantes (limpeza, inseticidas, sabão, álcool etc.), o fornecedor deve apresentar ao consumidor através de rótulo (encarte, folder, folheto explicativo, manual de instrução ou correlacionado) informações sobre seu uso, toxidade, composição, os possíveis prejuízos à saúde. Deve destacar seus riscos inerentes e potenciais.
3- Existem produtos ou serviços que apresentam risco inerente, por isso, a lei trata de forma mais minuciosa da vida, saúde e segurança do consumidor nos artigos 8°, 9° e 10. Com fins de evitar a venda de tais produtos/serviços. Mas, se os mesmos estão disponibilizados ao consumidor deve haver mecanismos que possam evitar danos maiores aos já existentes pela simples exposição. Com base nessas fundamentações, as empresas realizam recall de produtos.
***Risco Inerente- São riscos que, normalmente, são esperados pelo consumidor. Geralmente, são produtos cotidianos como facas, tesouras, álcool, fósforo, inclusive algumas prestações de serviço como o de hotelaria, desde que sejam oferecidas informações a respeito.
Seção I - Da Proteção à Saúde e Segurança
Art. 8º- Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.
Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto.
Art. 9º- O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto.
Art. 10º- O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.
***Atenção!!! O recall, significa “rechamar”, é a consequência do descobrimento pelo fornecedor de um bem de consumo que já causa dano ao consumidor em decorrência de eventos efetivamente existentes. A empresa fornecedora “chama” a pessoa do consumidor para que realize um determinado procedimento (ajuste, substituição, entrega) com fins de evitar a “propagação deste dano”.
Recall- ou chamamento, é o mecanismo que obriga o fornecedor a alertar nos jornais, rádios e TVs os consumidores que adquiriram produtos defeituosos, com potencial risco para a saúde e segurança, além de informar sobre os procedimentos a serem adotados para a solução do problema – o conserto ou troca, por exemplo.
CDC, Art. 10, § 1º O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários.
§ 2º Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço.
§ 3º Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito.
O produto/serviço não é proibido, desde que seja devidamente informado de maneira absolutamente clara, concisa e precisa. Sendo assim, sua periculosidade não é tida como defeituosa, uma vez que é inerente o grau de perigo a ser tomado por quem o adquire.
Produtos nocivos: cigarros, bebida alcoólica.
Produtos perigoso: fogos de artifício.
Serviço perigoso: demolição de prédio.
Serviço nocivo: tratamento de piso (colocação, raspagem e envernização)
Educação para o consumo- Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...) II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
Temos nesse inciso uma série de direitos
Teorias:
O primeiro deles é inerente à “educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços”, que consiste em expor ao consumidor que seu uso pode causar algum tipo de dependência (física ou psicológica). O mesmo não é proibido para o consumo, mas deve sê-lo de forma “consciente”. Um exemplo interessante é o de bebidas alcoólicas. Afinal: “se beber não dirija e se dirigir não beba”.
A “liberdade de escolha” faz com que o consumidor possa adquirir a qualidade e quantidade que deseja. Evitando, assim, entre outros, a chamada “venda casada” (prevista no art. 39, I).
Já a igualdade nas contratações implica que a forma de pagamento correlacionada ao preço informado garante ao consumidor a inexistência de qualquer acréscimo. Muito comum em vendas à vista em dinheiro, com valores diferentes caso a mesma compra seja feita através de cartão de crédito.
Informação- Art. 6º, III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; 
O direito à informação, trazido no inciso III faz abrir para o fornecedor o dever de informar e permite ao consumidor escolher seu produto ou serviço de forma consciente, é o que se chama de consentimento informado (ou esclarecido). Essa informação integrará o contrato, convergindo em um verdadeiro “pré-contrato”. 
Tal tema é tratado dentro do sistema protetivo da Lei 8.078 de 1990 através dos artigos 30 e 31, com as consequências de sua desobediência no art. 35:
Seção II - Da Oferta
Art. 30- Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.
***Publicidade- Advém do latim “publicus”. Que significa tornar público e tem objetivo comercial de anunciar produtos e serviços. Já a propaganda tem sua origem no latim “propagare” (inserir por mergulho) e está ligado a fins ideológicos, religiosos, políticos etc.
Art. 31- A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével.
Art. 35- Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.
Publicidade- art. 6º, IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
Temos nessa previsão legal a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva. Que deve ser complementada pelo art. 37 da Lei 8.078 de 1990: Seção II- Da Oferta- Art. 37- É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
§ 2º É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
Podemos entender a enganosidade como ardil, falsidade, intuito de desviar da informação verdadeira, mas, com uma conotação que se limita à “informação”. Temos, como exemplo, a publicidade de um produto ou serviço com determinado preço. No entanto, na aquisição efetiva pelo consumidor, revela adicionais excluídos da prévia comunicação. A consequência da informação publicada e não cumprida é o cumprimento forçado do que foi publicitado, nos termos do já apresentado art. 35 do CDC.
Já a publicidade abusiva é mais grave que a enganosa, pois induz o consumidor a ter, entre outros, um comportamento que pode gerar dano físico/psíquico. Tal qual como o uso desmesurado de medicamentos que prometem emagrecimento rápido e sem esforço. Outra conotação são anúncios publicitários que incitam a violência.
Um exemplo é o de uma grife de roupas que, em março de 2015, divulgou uma imagem em que uma criança usava uma camiseta com a frase: “vem ni mim que eu tô facin”. Repercutiu negativamente, gerando comoção e um pedido de desculpas formal da marca.
Práticas abusivas- Art. 6º, IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
Art. 39- É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; 
Uma exemplificação deste tema exige a convergência entre o artigo 6, IV e o 39, IV.
Destacamos que o art. 6, IV prevê a proteção contra “práticas abusivas”. Entendemos como prática a conduta reiterada, ou não, que leva o consumidor a ter, no seu relacionamento com o fornecedor, uma desvantagem.
Convergindo ao art. 39, lemos que tal conduta é vedada (proibida). E que o rol é meramente exemplificativo. Daí a expressão “dentre outras”.
O inciso IV do art. 39 nos conduz a um grupo que ultrapassa a mera vulnerabilidade prevista no art. 4, I. O hipervulnerável do art. 39, IV trata de consumidores que, em virtude de sua idade (criança/idoso), saúde (enfermidade incurável ou com pouca chance de cura), conhecimento (ausência de domínio sobre o objeto da contratação) ou condição social (que normalmente trata de pessoas humildes e com pouco conhecimento) a terem um comportamento de aquisição de bens de consumo que não se presta a suas necessidades.
Imaginemos a venda de um remédio “milagroso” a um enfermo, sem nenhuma expectativa real de sobrevivência, à neoplasia maligna (câncer). É óbvio que o próprio fará qualquer coisa pela sua cura.
Cláusulas abusivas- Art. 6º, IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
Seção II - Das Cláusulas Abusivas- São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que:
I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;
II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.
Tal como no tema “práticas abusivas”, o direito básico do consumidor a proteção contra “cláusulas abusivas” necessita do emprego de outros artigos da mesma lei.
Os artigos acima citados nos conduz ao raciocínio de que uma cláusula contratual não pode integrar um contrato quando, v.g., restringe direitos inerentes à natureza do contrato. Pois em sendo assim, esta tem o exagero intrínseco e colocam o consumidor em desvantagem exagerada. A consequência é que tal cláusula é tipificada como abusiva e sofre a consequência de sua nulidade. Logo, jamais deveria integrar o contrato. Um exemplo é o da limitação temporal de internação em leito hospitalar, sendo, inclusive, sumulada pelo STJ:
Súmula STJ nº 302 - É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.
Aula 6- Direitos Básicos II
Nesta aula, analisaremos os direitos básicos do consumidor, examinando a prevenção e reparação e os danos, a facilitação do acesso à justiça, a prestação eficaz de serviços públicos, o equilíbrio nas relações de consumo e as provas no CDC.
Desse modo, definiremos aspectos fáticos e práticos do tema, entre diversos acerca do conceito de serviço adequado e o momento processual da inversão do ônus da prova.
Prevenção e reparação de danos
Art. 6, VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos (I, II e III). É um direito básico do consumidor não apenas à efetiva prevenção (arts. 8, 9 e 10 do CDC), mas, quando houve o dano, que a reparação seja realizada à título individual ou em “massa”. Tal situação permite que determinadas situações sejam judicializadas em uma única demanda e resolvida da mesma forma. Gerando economia processual e realizando o ideal Constitucional da “duração do processo”. 
CF/88, art. 5º, LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
Tipos de defesa coletiva (art 81, p. ú.)
1) Direitos ou Interesses Difusos- Art. 81, I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
- Diversoslesados – indetermináveis.
- Pessoas ligadas por um fato – não há aquisição.
- V.g. comercial abusivo / enganoso.
2) Direitos ou Interesses Coletivos- Art. 81, II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
- Diversos lesados – determináveis.
- Pessoas ligadas por uma relação jurídica base.
- V.g. aumento abusivo de plano de saúde em detrimento de idade.
3) Direitos ou Interesses Individuais ou Homogêneos- Art. 81, III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.
- Diversos lesados – determináveis.
- Pessoas ligadas por origem comum.
- V.g. acidente em aviação comercial.
Facilitação do acesso à justiça- Art. 6º, VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
A principal norma consumerista prevê que qualquer integrante da sociedade possa demandar judicialmente no mais legítimo acesso ao devido processo legal. Tal acesso é garantido através do art. 6º, VII. Destacando sua correlação com o art. 5º da mesma lei.
Art. 5º Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, contará o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros:
I - manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente; Ex: Defensoria Pública.
II - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público; (Ministério Público) Ex: Ministério Público ligado aos direitos do consumidor.
III - criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo; Ex: Decon – Delegacia do Consumidor.
IV - criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo; Ex: Juizados Especiais do Consumidor. Destacando o âmbito estadual e federal.
V - concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor. Ex: IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.
Prestação Adequada e Eficaz e dos Serviços Públicos
Art. 6º, X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.
Lei 8987/95 Art. 2º, II (Lei de Concessões e Permissões) - concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado;
Art. 7º. Sem prejuízo do disposto na Lei no 8.078/90, são direitos e obrigações dos usuários:
I - receber serviço adequado;
Art. 6º, § 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
A eficácia compreende a ideia de escolher certo o que fazer, ou seja, selecionar os objetivos adequados ou as alternativas corretas. Para uma análise mais abrangente, a eficiência está relacionada à melhor utilização dos recursos para atingir um objetivo. Sendo assim, o serviço adequado é sustentado pelo cumprimento no disposto supra exposto na lei que regula as concessões.
Equilíbrio nas relações de consumo- Art. 6, V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
	Cláusula Abusiva
	Revisão de Contrato
	Pode ser pleiteada a modificação da cláusula, pois são concomitantes à formação do contrato.
	Será possível em razão de um fato superveniente, visto que o contrato nasceu equilibrado.
Inversão do ônus da prova- A inversão do ônus da prova é o instrumento de proteção processual ao consumidor, e é positivado no inciso VIII. Desde que, minimamente, cumpra os requisitos da verossimilhança e hipossuficiência. Mas, apenas o cumprimento dessas premissas não basta. É necessário o seu preenchimento. Especialmente, quanto aos critérios basilares desse importante instituto processual consumerista: a verossimilhança (plausível, provável) e a hipossuficiência.
Inversão “ope judicis”- Art. 6º VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
Inversão “Ope Judicis” – Força de Direito – “...A critério do Juiz... – art. 6, VIII do CPDC; Verossimilhança – O vocábulo verossímil significa o que é semelhante à verdade, o que tem correlação com a verdade, passivo de prova. É importante que o Patrono leve ao Estado Juiz um mínimo de demonstração no sentido de que sua alegação é verossímil. Que ofereça indícios que, em confronto com a narração das circunstâncias de que dá conta a inicial, e que, em correlação com a descrição dos fatos que consubstanciam o direito controvertido, possam indiciar, direcionar à verdade real.
Hipossuficiência – Tem correlação direta com a incapacidade de o consumidor demonstrar a verdade real dos fatos. Pois lhe falta dados, informações, materialização das provas. Seja por condições financeiras, seja por condições sociais de intelectualidade e capacidade de discernimento.
Inversão “ope legis”- Art. 12, § 3º O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Art. 14, § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Inversão “Ope Legis” – Força de Lei – “... Quando provar ...” – art. 14 e 14 parágrafos 3º do CDC; Essa modalidade processual indica que o fornecedor deverá provar, ônus seu, que não fez ou que outra pessoa, inclusive o próprio consumidor, é o responsável pelo evento dano. Caso contrário, como determina o texto legal, o fornecedor responderá pelo dano.
Momento da Inversão- Súmula TJRJ nº 91 - “A inversão do ônus da prova, prevista na legislação consumerista, não pode ser determinada na sentença”.
Referência: Súmula da Jurisprudência Predominante nº 2005.146.00006 - Julgamento em 10/10/2005 – Votação: unânime – Relator: Desembargador Silvio Teixeira – Registro de Acórdão em 29/12/2005 – fls. 011317/011323. 
Exposição de motivos da súmula TJRJ nº 91: “A inversão do ônus da prova, em favor do consumidor, não é legal, mas judicial, pelo que o fornecedor seria surpreendido, se considerasse a sentença como momento processual da inversão , em afronta ao princípio do contraditório”.
O momento da inversão está no art. 357, CPC, que nos conduz ao despacho saneador, verbis:
CPC/ 2015- Seção IV - Do Saneamento e da Organização do Processo- Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do processo: III - definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373.
Aula 7- A Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo I
Nesta aula, identificaremos os casos de vício do produto e do serviço e suas consequentesresponsabilidades. Nas palavras do inigualável Rizzato Nunes, temos:
“Há vício sem defeito, mas não há defeito sem vício; o defeito pressupõe o vício. O defeito é o vício acrescido de um problema extra, alguma coisa extrínseca ao produto ou ao serviço, que causa um dano maior que simplesmente o mau funcionamento ou não-funcionamento”.
 
Vicio no produto por quantidade, qualidade ou inadequação- Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
A quantidade vê-se claramente que ocorrerá quando houve disparidade entre a informação discriminada no invólucro/recipiente/embalagem e a informação localizada no mesmo. Pois o consumidor, na mais legítima boa-fé, jamais desconfiaria desta discrepância. Logo, se temos o rótulo informando sobre seu peso, v.g., um quilo, nada mais resta a pensar que o produto tem seu peso líquido de um quilo. Excetuando, por óbvio, o peso da própria embalagem.
A qualidade diz respeito ao material ao qual o mesmo é fabricado, construído e correlacionados. Decerto que, apesar do binômio preço/qualidade andarem juntos, (quanto mais caro, teoricamente, de melhor qualidade) isto não implica com relação a sua funcionalidade, que deve ser a mesma esperada pelo consumidor.
Prazo de Análise-   art. 18, § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
        I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;
        II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
        III - o abatimento proporcional do preço.
O prazo de análise é um importante instituto à disposição do fornecedor em sua defesa em face do consumidor. Nesta hipótese, temos que o fornecedor terá um prazo para proceder uma avaliação/perícia quanto ao produto. Uma vez constatado, tecnicamente, tal “vício”, o fornecedor se desonera de deveres junto ao consumidor. Entretanto, caso o prazo de 30 dias seja ultrapassado, o consumidor poderá usar uma das alternativas dispostas nos incisos do seu parágrafo 1º.
Art. 18, § 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.
Considerando o item a ser analisado, o prazo de 30 dias (avaliando sua complexidade) poderá ser flexibilizado: não mais do que 180 dias, não menos de 7 dias. De uma forma ou de outra, o consumidor deverá anuir expressamente.
Da Impropriedade e Inadequação- § 6° São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.
Trata-se de rol aberto definindo produtos impróprios ao consumo. São impróprios, também, os que se revelam quaisquer hipóteses não elencadas. Como uma verdadeira construção de hipóteses futuras ao qual o legislador consumerista não tinha condições de prever.
Vicio do Produto por Quantidade- O art. 19 é fruto de uma inequívoca técnica legislativa consumerista, ao qual os autores do anteprojeto, prevendo a hipótese de eventual veto presidencial a textos do projeto de lei, elencaram textos similares em lugares diversos com fins de não deixa que o “espírito da lei consumerista” fique descoberto de sua proteção. O que se lê é um texto “idêntico” em forma e conteúdo do art. 18 no qual repetimos as mesmas considerações acerca do vício do produto por quantidade.
Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - o abatimento proporcional do preço;
II - complementação do peso ou medida;
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios;
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.
Os incisos do art. 19 são a consequência no caso de discrepância entre o produto e a informação localizada no mesmo.
Vício do Serviço- Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.
O vício do serviço é tipificado quando incorre nas hipóteses em que o mesmo seja inadequado ou não atenda às normas regulamentares de sua prestação. Entendendo-se o primeiro quando não atinge os objetivos propostos ou esperados e o segundo quando não segue aquilo ao qual a entidade reguladora lhe determina.
Destacando que, caso o serviço seja confiado a terceiros, o fornecedor direto terá responsabilidade direta e imediata sobre aquele. Sob o manto da responsabilidade através da preposição.
Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor.
Aula 8- A Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo II
O estudo da responsabilidade civil nas relações de consumo exige o conhecimento dos artigos 12 e 14 da Lei. 8.078 de 1990. Para tanto, avaliaremos tais fundamentações com a premissa de que o seu principal elemento caracterizador é o defeito. Tudo com a apuração por meio da responsabilidade objetiva (responsabilidade que independe de culpa).
Destacamos a responsabilidade pelos serviços prestados por profissionais liberais que constitui a única exceção ao sistema da responsabilidade civil objetiva que reina quase absoluta em termos de relação de consumo. E observamos que o serviço advogado não se enquadra nesses termos por entendimento jurisprudencial do STJ.
Por fim, neste tema, examinaremos as excludentes de responsabilidade como motivador da quebra do nexo de causalidade entre o ato ilícito e o dano.
Fato do Produto- Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
Caracterização do Fato do Produto- A responsabilidade civil nasrelações de consumo encontra no artigo 12 do CDC a responsabilidade pelo fato do produto. Os legitimados para integrar o polo passivo são diversos. Nos termos da própria fundamentação temos o “fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador”.
A expressão “independentemente da existência de culpa” nos remete à ideia da responsabilidade objetiva. Em que não discute a “culpa”. Destacamos que há dano efetivo. Tanto que o fornecedor responde pela sua reparação. E responde o fornecedor de produtos pelos “defeitos”, que é o núcleo do tipo do fato do produto. E a responsabilidade é gerada pelo já citado defeito por “projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos”. Logo, identificamos uma gama gigantesca de possibilidades.
Convém ressaltar que o defeito pela “apresentação” é gerado por “informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos”. A ausência ou erro na informação essencial ao produto para a sua correta utilização é o suficiente para gerar o dano. Ex: Em alimentos, a ausência de informação de que este produto contém glúten pode levar o consumidor que não tolera esta substancia a um dano enorme. Com potencialidade de sua morte.
O Defeito do Produto- Art. 12, § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação (Informação inadequada, falha, insuficiente. Ex: Remédio que informa sua limitação de uso para lactantes);
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam (Se o produto é utilizado dentro da normalidade não pode causar danos. Ex: Uma bebida não pode conter nada que seja diferente do informado. Ácido, pedaços de animais etc);
III - a época em que foi colocado em circulação (Diz respeito ao risco do desenvolvimento. Produto que foi colocado no mercado sem que fosse esgotado os testes de nocividade/periculosidade ao consumidor. Ex: remédio que promete a cura de uma determinada doença, cura a mesma, mas produz efeitos diversos, causando um mal maior do que a própria cura).
Produto Obsoleto x Produto Inservível- Art. 12, § 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.
Fato do serviço- Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
Caracterização do fato do serviço- Resguardadas as devidas proporções, a única distinção que se faz entre o fato do produto e do serviço é que neste tratamos, exclusivamente, de serviços. Nos termos do art. 3º §2º do CDC. Fora isso, temos iguais ponderações. Seja pela responsabilidade objetiva, pelo defeito ou nas informações.
O defeito do serviço- Como não poderia ser diferente, temos iguais ponderações acerca da caracterização do serviço defeituoso. Art. 14, § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
Serviço obsoleto X Serviço inservível- Art. 14, § 2° O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
A tecnologia, mais uma vez, é o traço marcante dessa definição. Prestações de serviços de comunicação antes consideradas essenciais, como, por exemplo, tecnologia celular por meio de smartphones que sobrepujaram a extinta tecnologia TDMA, substituída pela tecnologia (atualmente) 4G .
A responsabilidade civil dos profissionais liberais- Art. 14, § 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
É a única exceção ao regramento da responsabilidade consumerista na modalidade objetiva. O profissional liberal terá a seu “favor” que o autor da ação (consumidor) deva provar a responsabilidade do fornecedor (nos termos do art. 186 da Lei 10.406 de 2002) pois será analisada a sua ação/omissão/imprudência/negligência. Ex: dentistas, médicos, contadores etc.
***OBS: A responsabilidade do advogado como profissional liberal: Nos termos do REsp 532.377/RJ, Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, 4ª turma, julgado em 21/08/2003, DJ 13/10/2003, p. 373, temos: Não há relação de consumo nos serviços prestados por advogados, seja por incidência de norma específica, no caso a Lei n° 8.906/94, seja por não ser atividade fornecida no mercado de consumo. As prerrogativas e obrigações impostas aos advogados - como, v. g., a necessidade de manter sua independência em qualquer circunstância e a vedação à captação de causas ou à utilização de agenciador (arts. 31/ § 1° e 34/III e IV, da Lei n° 8.906/94) - evidenciam natureza incompatível com a atividade de consumo. Recurso não conhecido.
Logo o advogado como profissional liberal terá a sua responsabilidade apurada, exclusivamente, pelo Tribunal de Ética e Disciplina da OAB – TED.
Excludentes de responsabilidade – inversão ope legis
Art. 12, § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado; (O produto não foi disponibilizado formalmente pelo vendedor. Ex: falsificado, oriundo de furto ou descaminho).
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste (Cabe ao fornecedor provar a inexistência do defeito- Ex: Prova pericial);
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (A responsabilidade é atribuída ao consumidor pela sua própria conduta- Ex: uso errado de medicamento).
Art. 14, § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste (O serviço foi cumprido de acordo com o contrato);
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (3º- pessoa que não integra a lida, mas que terá após prova pericial- Ex: produto estragado dentro do prazo de vencimento. O fabricante integra, inicialmente, a lide. Mas após perícia fica constatado que o produto estragou por mal acondicionamento. Pois o lojista desliga o sistema de refrigeração à noite para economizar energia elétrica- Ex: furto de energia).
Na exclusão de responsabilidade temos a “quebra” do nexo de causalidade. Esta se faz por meio dos incisos dos parágrafos 3º dos artigos 12 e 14. Vamos à digressão de seu conteúdo.
Nos parágrafos 3º temos que o fornecedor somente não será responsabilizado “se (art. 12) e quando (14) provar”. Caso não o prove, será o responsável pelo dano.
Aula 9- A Prescrição e a Decadência nas Relações de Consumo (arts 26 e 27, CDC)
A Prescrição- Em uma definição clássica, poderíamos dizer que prescrição é a maneira pela qual se dá a aquisição de um direito ou a liberação de uma obrigação, pela inação do titular do direito ou credor da obrigação, durante um lapso temporal previsto legalmente (art 27, CDC).
Prescrição – caracterização- Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.
Tomando por base que o instituto da prescrição já foi objeto de estudo na parte geral do código civil, nos limitaremos a sua correlação em sede exclusiva de relação de consumo.
O prazo quinquenal é direcionado, exclusivamente, às hipóteses previstas na seção II do capítulo, qual seja:
Capítulo IV - Da qualidade de produtos e serviços, da prevenção e da reparação dos danos.
Seção II - Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço.
Prescrição – aplicabilidade- Tal prazo é aplicável, exclusivamente, à responsabilidade civil nas relações de consumo:

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