Buscar

Origem da religião e o Budismo

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Teorias sobre a origem da religião e o Budismo
O Budismo
O Budismo é um religião não teísta (ou seja, não inclui a ideia de uma deidade), ou filosofia, que abrange diversas tradições, crenças e práticas geralmente baseadas nos ensinamentos atribuídos a Sidarta Gautama, conhecido como Buda, que significa “o desperto” ou “o iluminado”. Buda, de acordo com a tradição budista, viveu e ensinou na parte leste do subcontinente indiano aproximadamente entre o sexto e o quarto século antes de Cristo. Ele é reconhecido pelos budistas como um mestre “desperto” ou iluminado que compartilhou seus conhecimentos para ajudar os seres sencientes a por fim ao sofrimento (Dukkha) através da eliminação da ignorância (Avidyā) e dos desejos (Taṇhā). Os budistas acreditam que esse objetivo é alcançado através do entendimento (Bodhi) e da percepção da Originação Dependente (pratītya-samutpāda) e das Quatro Nobres Verdades (catvāri āryasatyāni). O objetivo final do budismo é alcançar o sublime estado de Nirvana, através da prática do Nobre Caminho Óctuplo (ariyo aṭṭhaṅgiko maggo), também conhecido como Caminho do Meio, escapando assim do que é visto como um ciclo de sofrimento e renascimento.
São geralmente reconhecidos como principais ramos do budismo o Mahayana e o Teravada. O Teravada (A Escola dos Anciãos), mais tradicional e próximo ao budismo inicial, se espalhou mais pelo sudeste da Ásia, em países como Sri Lanka, Tailândia, Laos e Camboja; enquanto o budismo Mahayana (O Grande Veículo), que se aproximou mais das tradições dos países por onde se espalhou, e engloba escolas como o Zen, Terra Pura e o budismo tibetano, se espalhou mais pelo Tibete, China e Japão. Várias fontes colocam o número de budistas no mundo entre 230 milhões e 500 milhões, sendo assim a quinta maior religião do mundo.
As escolas budistas variam sobre a natureza exata do caminho da libertação, a importância e canonicidade de vários ensinamentos e, especialmente, suas práticas. Entretanto, as bases das tradições e práticas são as Três Joias: O Buda (como seu mestre), o Dharma (ensinamentos baseados nas leis do universo) e a Sangha (a comunidade budista). Encontrar refúgio espiritual nas Três Joias é, em geral, o que distingue um budista de um não budista. Outras práticas podem incluir a renúncia convencional de vida secular para se tornar um monge.
Origem do Budismo
A história do budismo desenvolve-se desde o século VI a.C. até ao presente, começando com o nascimento de Siddhartha Gautama. Durante este período, a religião evoluiu à medida que encontrou diferentes países e culturas, acrescentando ao fundo indiano inicial elementos culturais oriundos do Helenismo, bem como da Ásia Central, do Sudeste asiático e Extremo Oriente. No processo, o budismo alcançou uma expansão territorial considerável ao ponto de influenciar de uma forma ou de outra quase todo o continente asiático. A história do budismo caracteriza-se também pelo desenvolvimento de vários movimentos e cismas, entre os quais se encontram as tradições Theravada, Mahayana e Vajrayana.
Historicamente, as raízes do Budismo se encontram no pensamento religioso da Índia antiga durante a segunda metade do primeiro milênio antes de Cristo. Esse foi um período de turbulência social e religiosa, já que havia um significante descontentamento com os sacrifícios e rituais do Bramanismo Védico. Ele foi desafiado por inúmeros novos ensinamentos e grupos ascéticos, religiosos e filosóficos que romperam com a tradição brâmane e rejeitaram a autoridade dos Vedas e dos brâmanes.
Sidarta Gautama, sem dúvida familiar com os pensamentos de sua era e região, ensinou o Caminho do Meio entre a indulgência sensual e o severo ascetismo encontrado no movimento Śramaṇa, comum na região. Como a principal figura do Budismo, os acontecimentos de sua vida, seus discursos e as regras monásticas que ele criou foram compilados após a sua morte e memorizados por seus seguidores. Várias coleções de ensinamentos atribuídas a ele foram preservadas e transmitidas via tradição oral e primeiramente fixadas por escrito cerca de 400 anos depois.
Teorias sobre a origem da religião e o Budismo
Devido a característica não teísta do Budismo, ele se encontra numa posição peculiar quando se aplicam a ele teorias de origem da religião. Mais filosofia do que religião, obviamente todos os aspectos das teorias que dependem de uma deidade não se aplicam ao Budismo.
Suas raízes etnológicas e filológicas são encontradas principalmente no Bramanismo Védico e nos inúmeros pequenos movimentos ascéticos, religiosos e filosóficos comuns na região de seu berço.
Budismo e o Naturismo de Müller
O budismo, mesmo sem a ideia do divino, apresenta a ideia do infinito nitidamente ligada a sua essência. Embora o Budismo não tenha muito em comum com o naturismo, como descrito por Müller, o budismo nasceu num meio fértil de filosofias e crenças que surgiram em reação, e muitas vezes, mais especificamente, oposição, à religião védica, que apresenta muitos elementos naturistas.
Budismo e o Animismo de Tylor
O animismo de Tylor tem base em três pontos: a ideia de alma; a ideia de espírito; e a ideia do Ser Supremo. As ideias de alma e espírito podem ser encontradas na filosofia budista, como pode ser visto nas crenças de Samsara - o ciclo de nascimento, vida e morte (reencarnação), carma e nirvana. Por outro lado, a ideia do Ser Supremo não existe no Budismo. Na perspectiva da evolução das ideias de Tylor, no sentido em que a ideia do espírito é uma evolução da ideia de alma, e a ideia do Ser Supremo surge através da diferenciação dos espíritos, pode se considerar que a diferenciação dos espíritos, no budismo, se deu através da identificação de seres iluminados ou despertados, os budas (do qual o Buda é considerado o Supremo Buda - Sammāsambuddha - da nossa era), sem chegar a um Ser Supremo de fato.
Hoje em dia, alguns grupos hindus com origens históricas próximas do Budismo podem ser considerados animistas, mas suas práticas de ofertas de sangue e sacrifícios são condenadas pela filosofia budista.
Budismo e o Magismo de Frazer
O magismo, segundo Frazer, era utilizado inicialmente como meio da eliminação do sofrimento, enquanto na filosofia budista, o sofrimento é mediado por aceitação, ou seja, a existência está intrinsecamente relacionada à dor (a “magia”, como conceituada por Frazer, é condenada no Budismo como superstição). Nessa perspectiva, o ser humano é condenado a reencarnar diversas vezes passando pelo sofrimento da vida material, de acordo com as crenças de samsara e carma. Ao enfrentar os sofrimentos da vida, o espírito humano pode atingir o estado de nirvana (pureza espiritual) e chegar ao fim das reencarnações, o alcance desse estado está relacionado ao fim do sofrimento e da ignorância.
Budismo e a Teoria sociológica de Durkheim
Durkheim definiu religião como “um sistema unificado de crenças e práticas relativas às coisas sagradas, isto é, coisas separadas ou proibidas - crenças e práticas que unem em uma única comunidade moral, chamada Igreja, a todos os seus aderentes” (As Formas Elementares da Vida Religiosa).
Ele evita, nessa definição, referências ao sobrenatural ou a um deus. Durkheim argumenta que o conceito do sobrenatural é relativamente novo, ligado ao desenvolvimento da ciência e separação do sobrenatural, aquilo que não pode ser racionalmente explicado, do natural, aquilo que pode. De tal forma que, para Durkheim, tudo era sobrenatural para o homem primitivo. Similarmente, ele chama a atenção para a existência de religiões que dão pouca importância para o conceito de deus, como o Budismo, para o qual as Quatro Nobre Verdades são muito mais importantes do que qualquer divindade individual. Com isso, ele argumenta, podemos definir três conceitos: o sagrado (ideias que não podem ser propriamente explicados, que inspiram admiração e são consideradas dignas de respeito espiritual ou devoção), as crenças e práticas (que criam um estado altamente emocional - efervecência coletiva - e atribuem importância
sagrada aos símbolos), e a comunidade moral (grupo de pessoas que compartilham uma filosofia moral comum). Desses três conceitos, Durkheim foca no sagrado, notando que é o sagrado que está no núcleo de toda religião.
Budismo e a espiral do remorso e da reconciliação de Freud
A teoria de Freud da espiral do remorso e reconciliação, apesar de suas críticas, encontra nas crenças de samsara e carma uma forte expressão.
Samsāra, o termo sânscrito e páli para "movimento contínuo" ou "fluxo contínuo" refere-se ao conceito de nascimento, velhice, decrepitude e morte, no qual todos os seres no universo participam e do qual só se pode escapar através da iluminação. Samsāra está associado com o sofrimento e é geralmente considerado a antítese do nirvana.
Carma é um termo sânscrito que significa literalmente “ação”, se referindo, mais especificamente, na tradição budista, a ações guiadas com intenção, que levam a consequências. Carma diz respeito tanto ao poder latente dentro das ações quanto aos resultados trazidos pelas ações.
As reencarnações, dentro do ciclo do samsara, são guiadas pelo carma: a forma de sua reencarnação e o sofrimento que você terá em vida estão diretamente relacionados com as suas ações e intenções passadas.
Dessa forma, pode-se enxergar nessas crenças budistas a espiral da qual Freud falava, encontrando-se no nirvana a reconciliação final e definitiva.
Conclusão
Mesmo com a característica peculiar do não teísmo do Budismo, que o torna mais próximo de uma filosofia do que de uma religião, ainda podemos ver como todas essas teorias de religião não deixam de ser aplicáveis ao Budismo, através do reconhecimento do papel do infinito dentro das crenças budistas, das ideias de alma, espírito e diferenciação dos espíritos entre diversos níveis de existência e sofrimento dentro dos ciclos de samsara, e da iluminação que faz um espírito se tornar buda. Vemos também que mesmo sem o uso de “magia” para eliminar a dor, o Budismo tem suas próprias crenças e ideias para lidar com o sofrimento e as dificuldades da vida. O sagrado está no núcleo do Budismo através dos conhecimentos sagrados, e seguem-se desse sagrado as crenças, práticas e comunidade moral. Por fim, percebemos também como o núcleo do budismo pode ser visto como uma maneira de lidar com remorso e reconciliação, buscando a reconicliação final: o Nirvana.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais