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49 MEC 243 – Máquinas Térmicas (Aula 4) 4. Ciclo das máquinas de combustão interna Durante o funcionamento de um motor, o fluido ativo é submetido a uma série de processos químicos e físicos que se repetem periodicamente, dando origem ao chamado ciclo do motor, normalmente visualizado em um diagrama Pressão Volume. O diagrama Pressão Ângulo de manivela () geralmente é utilizado para expressar o desenvolvimento da pressão no interior do cilindro do motor em função do posicionamento do pistão. Ângulo de Manivela Ângulo contado a partir da linha de centro do cilindro, no sentido horário. Motor de ignição por centelha Alguns parâmetros geométricos de interesse associados ao desempenho do motor de combustão interna podem ser identificados na figura a seguir. Legenda: PMS: Ponto morto superior PMI: Ponto morto inferior L: Curso do pistão l: Comprimento da biela a: Raio do virabrequim s: posição do pistão : Ângulo de manivela 50 Um diagrama típico Pressão x Ângulo de manivela (), para um motor de 4 tempos, é apresentado a seguir. Nesse diagrama, a elevação da pressão absoluta dos gases no cilindro (Pg) é observada desde o início do processo de admissão quando = 0o , no PMS, até o final do processo de descarga dos gases de combustão quando = 720º, também no PMS. Dessa forma, no diagrama P x , pode-se relacionar o movimento de rotação com os quatro tempos motores correspondentes às etapas de admissão, compressão, explosão e de descarga, de um motor de combustão interna, conforme a representação a seguir. Para uma melhor compreensão do funcionamento de um motor de 4 tempos, assista os vídeos a seguir. 1) http://www.youtube.com/watch?v=DJ7XhmufSiI 2) http://www.youtube.com/watch?v=HSHe5TrDV20 3) http://www.youtube.com/watch?v=MPdi76ooH3w 4) http://www.youtube.com/watch?v=dD5ATqtVB_k 51 O ciclo padrão a ar é um ciclo termodinâmico ideal que se aproxima do motor real de combustão interna, tanto para o de ignição por centelha (ciclo OTTO) quanto para o de ignição por compressão (ciclo DIESEL). O fluido de trabalho nesse ciclo ideal é o ar que apresenta comportamento de gás ideal e que apresenta, sob todas as circunstâncias, os seguintes dados físico-químicos: Massa molecular: 29 Massa específica: 1,169 kg/m3 Cp = 0,24 kcal/kg.K = 1,004 kJ/kg.K Cv = 0,1715 kcal/kg.K = 0,717 kJ/kg.K Dentre os grandes engenheiros e inventores na área do desenvolvimento dos ciclos de combustão interna destacam-se: Nikolaus August Otto (Holzhausen an der Haide/Taunus, 14 de Junho de 1832 — Köln (Colônia), 26 de Janeiro de 1891) Inventor do motor de combustão interna de quatro tempos, segundo o ciclo que leva seu nome. Patente 194.047, de 14 de Agosto de 1877. Rudolf Christian Karl Diesel (Paris, 18 de março de 1858 – 29 de Setembro de 1913) Inventor e engenheiro mecânico, criador do motor diesel (1892-1893). A eficiência foi duplicada como resultado da possibilidade de se usar maiores razões de compressão sem a ocorrência de detonação. Patente registrada nos EUA, N° 00608845, é de 09 de Agosto de 1898. 52 4.1 O ciclo OTTO Nesse momento sugere-se que os seguintes vídeos sejam vistos: 1) http://www.youtube.com/watch?v=5myt9nH01Pg 2) https://www.youtube.com/watch?v=8TduyjTpWdw 3) http://www.youtube.com/watch?v=H894Op8D9rk 4) http://www.youtube.com/watch?v=JnwVHbizoEc O diagrama Pressão x Volume do ciclo OTTO ideal tem a representação a seguir, composta por 6 etapas. 1) ADMISSÃO ISOBÁRICA 0-1. Transformação isobárica gerada com o movimento de descida do pistão. É uma transformação termodinâmica na qual a pressão permanece constante. O termo deriva do grego iso, "igual" e baros. "pressão". 2) COMPRESSÃO ADIABÁTICA 1-2. Transformação Adiabática com movimento de subida do pistão. O termo deriva do grego adiabatos (impenetrável), ou seja, sem transmissão de energia na forma de calor. 3) COMBUSTÃO ISOCÓRICA 2-3 Transformação isocórica é uma transformação termodinâmica que preserva o volume. O termo deriva do grego, iso, "igual" e Khora, "lugar". A pressão e a temperatura são bruscamente elevadas pela reação química de combustão. 4) EXPANSÃO ADIABÁTICA 3-4. Transformação Adiabática gerada por meio da ação da pressão dos gases aquecidos. 5) ABERTURA DE VÁLVULA 4-5. Transformação isocórica em que a pressão e a temperatura caem bruscamente. 6) EXAUSTÃO ISOBÁRICA 5-0. Transformação isobárica gerada pelo movimento de subida do pistão. 53 Os tempos motores (ou etapas) do ciclo OTTO também podem ser visualizados na representação em corte do motor, conforme a representação abaixo. Os diagramas Pressão x Volume para os motores de combustão interna de quatro tempos, com centelha, real e ideal têm as representações esquemáticas a seguir. Ciclo OTTO real 54 Ciclo OTTO ideal A análise termodinâmica do ciclo de 4 tempos pode ser bastante simplificada se as hipóteses do ar padrão forem consideradas. Essas hipóteses são: O fluido de trabalho é o ar, o qual circula continuamente em circuito fechado, sempre se comportando como gás ideal; Todos os processos que formam o ciclo são internamente reversíveis; O processo de combustão é substituído por um processo de fornecimento de calor a partir de uma forte externa; O processo de exaustão é substituído por um processo de rejeição de calor que faz com que o fluido de trabalho retorne ao seu estado inicial. Outra hipótese muito utilizada para simplificar ainda mais a análise é a de que o ar tem calores específicos constantes, cujos valores são determinados à temperatura de 25 oC. Quando essa hipótese é incluída às hipóteses do ar padrão, têm-se então as hipóteses do padrão a ar frio. Assim, um ciclo ao qual se aplicam as hipóteses do ar padrão é chamado de ciclo padrão a ar ou de ciclo padrão a ar frio, quando os valores dos calores específicos do ar referem-se à temperatura de 25 oC. 55 O ciclo Otto ideal é um ciclo termodinâmico com características muito similares às condições de operações reais. Ele consiste em quatro processos internamente reversíveis: 1 – 2 Compressão isoentrópica 2 – 3 Fornecimento de calor a v = constante 3 – 4 Expansão isoentrópica 4 – 1 Rejeição de calor a v = constante 4.1.1 Eficiência do ciclo OTTO ideal Apesar de sua simplicidade, o motor alternativo, caracterizado por um sistema cilindro-pistão, apresenta uma grande variedade de aplicações, e em especial a modelagem de motores de combustão interna. No motor alternativo, o pistão alterna-se entre duas posições fixas, chamadas de ponto morto superior (PMS) – posição do pistão em que se forma o menor volume no cilindro, e o ponto morto inferior (PMI) – posição do pistão em que se obtém o maior volume no cilindro. A distância entre o PMS e o PMI é a maior distância que o pistão pode percorrer em uma direção, e é chamada de curso do motor. O ar ou a mistura ar- combustível é sugado para o cilindro através da válvula de admissão, e os produtos da combustão são expelidos do cilindro através da válvula de descarga, conforme pode ser observado na figura a seguir. 56 O volume mínimo formado no cilindro, quando o pistão está no PMS, é chamado volume morto. O volume gerado pelo movimento do pistão à medida que ele se movimenta entre o PMS e o PMI é chamado volume deslocado. Arazão entre o volume máximo deslocado e o volume mínimo (volume morto) é chamada de razão de compressão (r) do motor. A cilindrada ou volume de deslocamento do motor ou ainda volume varrido do motor é definido como o volume total varrido pelos pistões nos cilindros hermeticamente fechados durante um movimento unitário. A cilindrada tem como unidades: cm3, L ou in3. Um parâmetro muito utilizado para descrever o desempenho dos motores de pistão alternativo é a pressão média efetiva (PME). A pressão média efetiva é a pressão teórica constante que, se ocorresse no pistão durante a expansão, produziria o mesmo trabalho desenvolvido em um ciclo. Comparando-se dois motores com cilindros de mesmo volume, aquele que tiver a maior pressão média efetiva (PME) produzirá um maior trabalho e, se os motores apresentarem a mesma velocidade angular aquele que tiver a maior pressão média efetiva (PME) apresentará também a maior potência. PME 57 4.1.2 Relação ou taxa de compressão Considere o ciclo OTTO ideal a seguir, e sua representação nos diagramas P – V e T – s. Associando o ciclo Otto a um motor alternativo, um sistema fechado em que se desprezam as variações das energias cinética e potencial, o balanço de energia do processo é expresso, por unidade de massa, como: (Primeiro Princípio da Termodinâmica) u = (qrecebido – qrejeitado) + (wrecebido – wrealizado) Sabe-se que os dois processos de transferência de calor não envolvem trabalho, uma vez que ambos ocorrem a volume constante. Assim as transferências de calor do fluido de trabalho e para o fluido de trabalho podem ser expressas como: Qrejeitado = qC = u4 – u1 = cv (T4 – T1) qrecebido = qH = u3 – u2 = cv (T3 – T2) Logo, a eficiência térmica do ciclo Otto ideal sob as hipóteses do ar frio será dada por: Os processos de 1 – 2 e de 3 – 4 são isoentrópicos, v2 = v3, v4 = v1 e k = cp/cv. Portanto: Conclusão: 58 Assim, a eficiência térmica do ciclo Otto ideal é função da razão de compressão (r) e da razão entre as capacidades caloríficas (k) do fluido de trabalho. Considerando as hipóteses do ar padrão frio, a eficiência do ciclo Otto ideal é função somente da razão de compressão r, pois a 25 oC, k = cp/cv = 1,004/0,717 = 1,4, conforme observado na representação a seguir. Considerando outro fluido de trabalho, ou uma temperatura diferente de 25 oC, pode-se considerar o segundo parâmetro que afeta a eficiência térmica do ciclo Otto ideal, a razão dos calores específicos (k) do fluido de trabalho. O efeito desse parâmetro pode ser visualizado no gráfico abaixo. Observação final: As eficiências térmicas dos motores reais de ignição por centelha variam entre 25% e 30%. 59 4.2 Exercícios Ex.39 – Um fluxo de ar a 95 kPa e 300 K é admitido em um motor a gasolina e, em seguida, é comprimido com uma taxa de compressão volumétrica de 8:1. No processo de combustão 1300 kJ/kg de energia é liberada na queima do combustível. Encontre: a) a temperatura após a combustão; b) a pressão após a combustão. Solução: Compressão: Combustão: 60 Ex.40 – Um motor a gasolina tem uma taxa de compressão volumétrica de 9:1. O estado antes da compressão é de 290 K, 90 kPa, e a temperatura máxima do ciclo é de 1800 K. Calcule usando as propriedades da Tabela: a) A pressão após a expansão b) O trabalho líquido c) A eficiência do ciclo Solução: 61 Ou 62 Ex.41 – Um motor de ignição por centelha, com taxa de compressão de 7:1, opera segundo um ciclo Otto padrão. O processo de combustão do ciclo pode ser considerado como uma adição de calor de 1800 kJ/kg de ar. No início do processo de compressão o motor apresenta pressão e temperatura, respectivamente de 90 kPa e 10°C. Assumindo calor específico constante cv = 0,717 kJ/kg K, determine: a) A máxima de pressão do ciclo b) A máxima temperatura do ciclo c) A eficiência térmica do ciclo d) A pressão média efetiva (PME) Solução: 63 64 Ex.42 – Um motor a gasolina tem uma taxa de compressão volumétrica de 8:1. No início da compressão a temperatura e a pressão são, respectivamente, 280 K e 85 kPa. A combustão gera um pico de pressão de 6500 kPa. Encontre: a) A temperatura de pico. b) A energia acrescentada pelo processo de combustão. c) A temperatura dos gases de escape. Solução: 65 Ex.43 – Um motor a gasolina tem uma taxa de compressão de 10:1. No início da compressão a temperatura e a pressão são, respectivamente, 290 K e 85 kPa. Sabendo que a pressão de pico é de 6000 kPa. Determine: a) A temperatura mais alta no ciclo. b) A temperatura no início da exaustão. c) A eficiência do ciclo. Solução: 66 Ex.44 – Um motor a gasolina tem uma razão de compressão de 10:1. No início da compressão a temperatura e a pressão são, respectivamente, 280 K, 70 kPa. O processo de combustão do ciclo pode ser considerado como uma adição de calor de 1800 kJ/kg de ar. Sabendo que o motor está funcionando a 2100 rpm e que a cilindrada total é de 2,3 litros, determine: a) O trabalho líquido do ciclo. b) A potência. Solução: Observação: Pot = PME (VPMI – VPMS) Nrcilindros (frequência)expansão Para um motor de 4 tempos: (frequência)expansão = ½ (frequência)rotação Pot = PME cilindrada rotação(rpm)/60 ½
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