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TOPICO 01 METODOLOGIA DA HISTORIA ECONOMICA (1)

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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP 
INSTITUTO DE CIENCIAS SOCIAIS E COMUNICAÇÃO – ICSC 
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
História Econômica Geral 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Campinas, SP 
2017 
 1 
1. Origens, natureza e evolução da ciência econômica 
 
Podemos distinguir pelo menos duas visões diferentes sobre a origem, a evolução e a 
natureza da ciência econômica. 
 A primeira delas considera que não é possível identificar uma origem precisa, pois ela foi 
se formando gradativamente pela acumulação positiva de conhecimentos, cada vez mais 
amplos e verdadeiros, superando controvérsias, de modo que foi se formando uma única 
ciência econômica verdadeira. 
 
A segunda visão considera que a ciência econômica, entendida como um conhecimento 
metódico de um objeto específico, só teve início com a formação da economia capitalista, 
pela razão de que a existência e o domínio do capital na produção de mercadorias 
introduzem mudanças fundamentais na economia, especialmente nas relações de trabalho, 
conferindo-lhe nova finalidade, a do lucro e a da valorização do capital e não mais a 
produção de bens e serviços para satisfazer as necessidades humanas. 
 
De acordo com esta segunda visão, antes do capitalismo, as ideias relativas à economia não 
formavam um corpo sistematizado de conhecimentos sobre um princípio explicativo 
central da economia, mas representavam apenas proposições sobre fatos ou elementos 
particulares e estavam inseridos em outros discursos “científicos”, como a moral, a 
filosofia, o direito e a política. No entanto, esses conhecimentos não formavam uma 
ciência, no sentido de serem produzidos de acordo com um método, nem se referiam a um 
objeto específico, com vida própria. 
 
Estas duas visões sobre a origem da ciência econômica, por sua vez, fundamentam, 
também, duas visões diferentes sobre sua evolução. A primeira, seguindo uma visão 
convencional, sustenta uma evolução linear, uma acumulação progressiva e positiva do 
conhecimento, cada vez mais abrangente e mais verdadeiro sobre a realidade econômica. A 
segunda, inspirada em Schumpeter1, afirma que a ciência econômica não progride de modo 
uniforme e linear, mas por saltos, momentos de revolução, de consolidação e de 
dominação de teorias, seguidos de momentos de crises e novas revoluções no pensamento 
econômico. Segundo Schumpeter (1964:25): 
 
A análise científica não é simplesmente um processo logicamente consistente que se inicia com 
algumas noções primitivas que se adicionam linearmente a um conjunto preexistente. (...) Mais 
exatamente, é uma incessante luta com criações de nosso próprio espírito e o de nossos 
predecessores e progride – quando o faz – em ziguezague, não como uma lógica, mas como um 
impacto de novas idéias, observações ou necessidades, e também segundo as propensões e 
temperamento de novos homens. 
 
De acordo com esta última perspectiva, a ciência econômica já surge como uma ciência 
moderna, entre 1750 e 1780, a partir da consolidação e domínio da economia política 
clássica, que perdurou até 1850, quando se instaurou um período de crise. Dentro deste 
período maior, que vai de 1750 a 1850, cabe destacar o subperíodo de 1815 a 1845, por ser 
 
1
 - Schumpeter = Joseph Alois Schumpeter (nasceu em Triesch, 8 de fevereiro de 1883 – faleceu 
em— Taconic, Connecticut, 8 de janeiro de 1950) foi um economista e cientista político austríaco. É 
considerado um dos mais importantes economistas da primeira metade do século XX, e foi um dos 
primeiros a considerar as inovações tecnológicas como motor do desenvolvimento capitalista. Além 
disso, marcou profundamente a história da reflexão política com sua teoria democrática a qual 
redefiniu o sentido de democracia, tida como uma simples maneira de gerar uma minoria 
governante legítima, ou seja, uma definição procedimental que passa a ser a base de diversas 
concepções posteriores. 
 
 2 
uma época de crise e ao mesmo tempo muito rica para o pensamento econômico, onde se 
confrontou diversas correntes, como o socialismo utópico. 
 
Os fiéis seguidores de Ricardo, os anti-ricardianos, os socialistas ricardianos, a antiga escola 
histórica alemã e os primeiros representantes da revolução marginalista. 
 
Na década de 1870, surge a revolução marginalista e neoclássica, que domina até a década 
de 1920, quando entra em profunda crise. Na década de 1930, se afirma a revolução 
keynesiana, uma revolução teórica, logo abortada, pois que de imediato foi subsumida na 
“síntese neoclássica” realizada por Hicks, que se torna dominante até meados de 1970. 
 
Entre os anos 1970 e 1980, instaura-se a crise da “teoria keynesiana” da síntese neoclássica. 
Depois disso, assistimos à sucessão e ao confronto de várias escolas e teorias, tais como o 
ressurgimento do monetarismo, a formação da teoria pós-keynesiana, a teoria novo-clássica 
e a novo-keynesiana, a nova economia institucional e o neo-marxismo, dentre outras 
correntes de menor expressão acadêmica. 
 
No mesmo sentido, de confrontar visões diferentes sobre a origem e evolução da ciência 
econômica, Arida (2003) também identifica duas concepções sobre a natureza da mesma: a 
primeira que denomina de ciência rígida (hard science) e a segunda, de ciência flexível (soft 
science). 
 
A visão de ciência rígida valoriza o estágio atual da teoria econômica e não sua história, o 
que vale é o conhecimento de fronteira e não o do passado, nem o contexto em que o 
mesmo se originou, pois todos os elementos verdadeiros de teorias antigas estão 
incorporados na teoria atual. A validade de um texto dura poucos anos. Assim, a história 
do pensamento econômico só interessa como a história dos erros e das antecipações de 
futuras teorias. Nesta perspectiva, teríamos apenas uma única teoria econômica verdadeira, 
que seria a síntese positiva das teorias que se comprovaram verdadeiras ao longo da 
história. 
 
Já a visão de ciência flexível valoriza os clássicos da ciência e os contextos históricos em 
que as teorias foram inicialmente formuladas. Acentua que é preciso estudar a história da 
ciência, porque o conhecimento se encontra disperso ao longo do tempo. Assim, teoria e 
história são indissociáveis, de modo que não se pode entender uma teoria sem estudar sua 
história. Neste sentido, as teorias atuais são, também, teorias históricas e definitivas. A 
visão de ciência flexível pressupõe que as matrizes básicas da teoria econômica são de 
conciliação problemática e se fundamentam em intuições básicas, dificilmente traduzíveis 
em seu vigor e sentidos originais. Assim, o estudo dos clássicos é indispensável para a 
compreensão da ciência, além de se constituir como fonte indispensável de novas 
inspirações e interpretações teóricas. O aprendizado da teoria passa pelo estudo da história 
do pensamento econômico. Nesta perspectiva, não temos uma única teoria econômica, 
mas vários paradigmas teóricos, em permanente confronto e competição. 
 
Finalizando este tópico, é conveniente lembrar a advertência que fazem Screpanti & 
Zamagni (1997:9) de não se cair numa dupla tentação: a de reler o passado a partir de 
uma visão do presente ou de se tentar explicar o presente através de uma visão do 
passado, ou seja, de se buscar nas teorias antigas uma simples antecipação do 
presente, ou de explicar estas últimas como resultadas da acumulação positiva de 
conhecimentos do passado. Nesta análise, importam tanto a evolução das estruturas 
lógicas das teorias como o contexto de seu surgimento, ou seja, no estudo de uma ciência, 
 3 
deve-se levar em consideração tanto sua história interna como sua história externa. É 
relevante tratar as teorias atuais como história. 
 
 
2 - O SURGIMENTO DA MODERNASOCIEDADE ECONÔMICA 
 
2.1 - O Problema Econômico 
O homem é um ser social, portanto, ele só pode sobreviver em grupos. Graças aos 
grupos, ele pode dividir tarefas, especializar-se em determinado setor e, com isto, 
conseguir uma produtividade maior. Trata-se de uma divisão funcional das tarefas, num 
só esforço por maior eficiência. Com isso ele vai vencendo a luta pela sua 
sobrevivência. 
Com o passar do tempo, a divisão do trabalho vai resultar num aumento da 
produtividade individual. 
O homem passando a produzir mais do que o estritamente necessário para sobreviver. 
Por exemplo, Ao plantar trigo, soja, entre outros, ele colhe certa quantidade para 
consumo, reserva parte para plantar na próxima estação e ainda sobra certa quantidade 
para comercializar. 
Com isso vamos chamar esta sobra de EXCEDENTE ECONÔMICO. 
O Excedente econômico é a quantidade de bens que ultrapassa a quantidade necessária 
para a sobrevivência dos trabalhadores que a produziram. Havendo excedente, pode-se 
dizer que uma parcela da população pode deixar de trabalhar diretamente na lavoura 
desses produtos e dedicar-se a outras atividades, tais como, administração, estudar 
(pintura, música, etc.) 
Conclui-se então que para que parte da população deixe o campo produzindo os meios 
de subsistência é necessário que os que lá ficam produzindo, consigam produzir para 
ambos, ou seja, terão de gerar um excedente econômico. 
É nessa fase que surgem os PROBLEMAS (econômicos), isso porque precisamos 
justificar esta nova situação, ou seja, definir quem vai dedicar-se a produção dos meios 
de subsistência e quem vai administrar estudar, entre outras atividades. 
Como justificar esta divisão, que não é mais apenas uma divisão funcional, mas uma 
divisão apoiada em privilégios. 
Exemplo: Alguns trabalham mais duramente do que outras e não usufruem totalmente 
dos frutos de seu trabalho, pois parte é transferida para outros grupos. 
 
2.2 - Problema fundamental: 
 Quem cria o excedente econômico? 
 Quem se apropria do excedente econômico? E finalmente, 
 Com que direitos ele se apropria desse excedente econômico? 
 
Com isso fica evidente que uma sociedade com tais características não poderá 
sobreviver se não conseguir justificar-se diante de seus membros. Portanto, toda 
organização social precisa legitimar-se. É a partir daqui que surge o conceito de 
Ideologia. 
 
A Ideologia é o conjunto de normas, valores, símbolos, idéias e práticas sociais que 
procuram justificar as relações econômicas e sociais existentes no interior da 
sociedade. Portanto, é a visão que a sociedade tem de si mesma. 
Uma parte importante da IDEOLOGIA é constituída de práticas sociais que, por assim 
dizer, penetram no sangue sociedade e se tornaram co-extensivas a ela. 
 4 
O grupo dominante tem muitos mecanismos de preservação de seus interesses, que vão 
desde o domínio do Estado, até de posse de instrumentos menores, mas extremamente 
eficazes, tais como: Emissoras de Rádios, TVs, jornais (imprensa) e outros. 
A Ideologia é algo elaborado formalmente pelo grupo dominante como se este 
estivesse tramando um sistema para subjugar a sociedade. 
A ideologia é um fenômeno social espontâneo, e não algo produzido para uma visão 
conspiratória do processo histórico. Ela desempenha funções importantes nas 
sociedades. 
 A ideologia mantém a coesão social; 
 A ideologia funciona como uma espécie de sistema de dominação. 
 
Antes de analisarmos estes dois papéis da ideologia, vamos compará-la, agora, com a 
ciência. É preciso dizer que ambas (ideologia e ciência) se apresentam a nós sob a forma 
racional, isto é, apoiadas em argumentação lógica. Mas a ciência encaminha-se para a 
busca da verdade. Seu universo é o universo das "leis" objetivamente estabelecidas. A 
ideologia move-se no universo dos "valores". Ora, os valores, tais como se apresentam 
nas diversas sociedades, estão ligados a grupos de interesses. Os valores não são 
neutros. Cada sociedade tem um quadro de valores dominantes. O perigo da ideologia é 
que esta se apresenta com a roupagem de ciência, mas defende determinados interesses 
e não a "verdade". Ao lado dos conjuntos antes apresentados, podemos acrescentar, 
agora, o conjunto ideologia. Mas atenção! Este conjunto é de natureza diversa. Você já 
sabe que ele procura explicar o mundo e a sociedade, mas está ligado a valores. É um 
sistema de idéias que tende a transformar-se num sistema de crenças, segundo a feliz 
expressão de Jacques Ellul. 
 
 
 
 
 Ideologia 
 
 
 
 
Na prática a coisa complica-se, porque os conjuntos se sobrepõem. Em muitos casos é 
praticamente impossível separar ciência de ideologia. 
Observe o diagrama abaixo 
 
 
 Ciência 
 
 
 
 
 Ideologia 
 
 
 
 
Os limites entre ciência e ideologia (bem como entre ciência e tradição) não são claros. 
Como distinguir entre estes dois campos? Tarefa difícil, senão impossível, porque não 
existe um lugar "não ideológico" a partir do qual se possa falar cientificamente sobre 
 5 
ideologia. Todo discurso ou qualquer elaboração mais ou menos sistemática pode estar 
contaminada pela ideologia, mas apresenta-se a nós com foros de ciência. 
Vamos resumir o que dissemos até agora. A ideologia, para se expressar com eficácia, 
tende a aglutinar-se num conjunto de idéias. Estas idéias filtram-se até as últimas 
camadas da pirâmide social e, sorrateiramente, passam a governar o comportamento dos 
grupos que compõem a sociedade. Embora a ideologia esteja vinculada ao grupo 
dominante, ela é internalizada pela maioria dos membros da sociedade (pertençam ou 
não ao grupo dominante). A partir daí, os membros desta sociedade passam a acreditar 
na retidão das instituições. Apoiado neste sistema de idéias que, agora, se transformou 
num sistema de crenças, a aceitação da organização social existente torna-se 
espontânea. Justifica-se o status quo
2
. 
Por isso mencionamos que uma das funções da ideologia é a coesão social. O que 
significa isto? Significa que a ideologia, ao tornar mais ou menos uniforme à visão dos 
diversos grupos que compõem a sociedade, mantém-na unida. Com isto diminui a 
probabilidade de choques entre grupos que ocupam posições extremamente díspares e 
evita-se a ruptura do tecido social. A ideologia é uma espécie de projeto da sociedade. 
Paul Ricoeur dizia que a ideologia desempenha para a sociedade o mesmo papel que a 
motivação desempenha para a pessoa individual. A pessoa age quando se vê motivada. 
A sociedade age quando tem um projeto existencial cujas linhas essenciais são 
perceptíveis na ideologia. 
A segunda função que atribuímos à ideologia é a função de dominação. Esta função 
decorre da primeira, porque manter coesa uma sociedade hierarquicamente organizada é 
possibilitar a dominação de determinados grupos sobre outros. É evidente que não 
estamos falando aqui de hierarquia funcional. Se a organização hierárquica da sociedade 
fosse apenas funcional, isto é, se fosse baseada em necessidades objetivas de 
organização do trabalho, não seria preciso o recurso à ideologia. A justificativa de tal 
sistema seria científica. Mas não é isso O que ocorre. A organização hierárquica das 
sociedades conhecidas, em grande parte, baseia-se em privilégios. Alguns grupos se 
beneficiam com ela, outros não. E tal situação deve aparecer aos olhos de todos 
(inclusive dos beneficiados) como normal. O sistema ideológico procura conseguir isto. 
E, nesta tarefa, ele substitui, com vantagens, o uso da força e da violência. Procura 
dominar pela persuasão
3
. Tenta falar à razão, embora fale muito mais à emoção do que àrazão. É por isso que toda ideologia tende a transformarem-se em slogans, símbolos, 
afirmações simplistas. O simplismo permite que ela alcance as massas e as pessoas 
pouco afeitas à análise crítica da realidade. Com isto ela perde em rigor científico, mas 
ganha em eficácia. A verdade deforma-se, mas este é o preço que se paga pela eficácia 
do sistema ideológico. 
A ideologia opõe-se à ciência. Em certo sentido ela é a anticiência. Mas a própria 
ciência pode ter função ideológica. Isto ocorre quando ela se torna instrumento de 
dominação nas mãos de determinados grupos. Tão é raro que um grupo, para se 
legitimar no poder, apele para a ciência. Os tecnocratas são um exemplo claro do que 
estamos afirmando. 
É evidente que a economia não fica imune à ideologia. A própria existência de escolas 
econômicas atesta isto. Até que ponto a economia permanece ciência? Até que ponto ela 
está contaminada pelo vírus da ideologia? Até que ponto ela é um simples instrumento 
de defesa de grupos privilegiados? Levantam-se estes problemas sem ter a pretensão de 
resolvê-los todos. 
 
2 status quo, sta.tus quo =loc (lat) Locução que significa situação inalterada. Var: statu quo. 
3
 Persuasão, per.su.a.são = sf (lat persuasione) 1 Ato ou efeito de persuadir. 2 Convicção, crença. 3 Polít 
Método de exercer ação repressiva, por exemplo, pela ostentação de armamentos perante a outra parte. 
 6 
Até agora falamos em abstrato. Na vida diária, como se manifesta a ideologia? Você 
deve ter percebido que ela desempenha papel importante na sociedade. Portanto, ela é 
funcional para o sistema que defende. Todas as vezes que sistemas de idéias (ou práticas 
e símbolos sociais) são instrumentalizados para defender interesses parciais dentro da 
sociedade, eles podem ser chamados legitimamente de sistemas ideológicos. É sua 
função dentro da sociedade que caracteriza um sistema de idéias ou um conjunto de 
práticas sociais como sendo ou não ideológico. Neste sentido: 
• o sistema jurídico pode ser ideológico e freqüentemente o é; 
• a religião pode ser ideológica e freqüentemente o é: 
• a escola pode ser ideológica e freqüentemente o é; 
• os símbolos pátrios (bandeiras, fardas etc.) podem ser ideológicos e freqüentemente os 
são. 
Evitamos a afirmação dogmática de que tais sistemas são· ideologias. Esta interpretação 
afasta-se da interpretação ortodoxa, mas tem uma razão de ser. A afirmação categórica 
de que os sistemas antes mencionados são ideologia parece-me um equívoco, porque 
confunde os níveis epistemológicos
4
. Uma coisa é o estatuto teórico dos sistemas antes 
mencionados, outra coisa é o papel que cada um deles desempenha no interior da 
sociedade. Se eles não estiverem a serviço de uma classe ou de um grupo específico, 
não podem ser classificados como ideologia, pelo menos no sentido em que a 
definimos. 
Vamos esclarecer mais um problema. Segundo nossa definição, ideologia é qualquer 
estrutura de pensamento ligada ao grupo dominante. Contudo, há sistemas de idéias 
com as mesmas características da ideologia, mas não ligados ao grupo dominante. A 
esses sistemas ligados aos grupos que contestam a validade das instituições e as relações 
sociais e econômicas existentes na sociedade chamaremos utopias, usando a mesma 
terminologia de Karl Mannheim. Ideologia e utopia têm o mesmo estatuto teórico. Só 
que a ideologia está com o grupo dominante e pretende preservar a sociedade, as 
utopias estão com os contestadores e pretendem transformá-la. 
Resumindo: se você leu com atenção este capítulo, deve ter uma noção mais clara do 
que é ideologia, utopia, ciência e do estatuto teórico destes conceitos, bem como da 
função que cada um deles exerce na sociedade. Deve ter percebido que não tem sentido 
a pergunta, "qual a ideologia de seu partido?", "qual a ideologia do PMDB?". Um 
partido político deve ter (nem sempre o tem) um ideário, um programa. Não pode ter 
ideologia. Usar o termo ideologia para designar o programa de um partido é 
desconhecer a ideologia e qual sua função na sociedade. É usar o termo de maneira 
incorreta. 
Para terminar, vai aqui uma citação de Joan Robinson
5
: 
"A economia política sempre foi, em parte, veículo da ideologia dominante em cada 
período. em parte, método de investigação científica. Cabe ao economista 
distinguir O que é ideologia do que é ciência." 
3 - Feudalismo 
 
3.1 - História 
 
4 Epistemológico, e.pis.te.mo.ló.gi.co = adj (gr epistéme+logo2+ico2) Concernente à epistemologia. 
Portanto, Epistemologia, e.pis.te.mo.lo.gi.a = sf (gr epistéme+logo
2
+ia
1
) Filos Teoria ou ciência da 
origem, natureza e limites do conhecimento. 
5
 ROBINSON. Joan. Filosofia econômica. Rio de Janeiro. Zahar. 1978. Joan Robinson foi uma grande 
economista inglesa, com grande lucidez para certos pontos relativos a escolas econômicas e para o 
problema da ideologia. 
 
 7 
Foi um sistema de organização econômica, política e social baseado nas relações servo-
contratuais (servis). Tem suas origens na decadência do Império Romano. Predominou na 
Europa durante a Idade Média. Segundo o teórico escocês do iluminismo, Lord Kames, o 
feudalismo é geralmente precedido pelo nomadismo6 e em certas zonas do mundo pode 
ser sucedido pelo capitalismo. Os senhores feudais conseguiam as terras porque o rei dava-
as para eles. Os camponeses cuidavam da agropecuária dos feudos e em troca recebiam o 
direito à um pedaço de terra para morar e também estavam protegidos dos bárbaros. 
Quando os servos iam para o manso senhorial, atravessando a ponte, tinham que pagar um 
pedágio, exceto quando iam cuidar das terras do Senhor Feudal. Com a decadência e a 
destruição do Império Romano do Ocidente, por volta do século V (de 401 a 500 d.C.), 
como conseqüência das inúmeras invasões dos povos bárbaros (germânicos) e das más 
políticas econômicas dos imperadores, várias regiões da Europa passaram a apresentar 
baixa densidade populacional e baixo desenvolvimento urbano. Isso ocorria devido às 
mortes provocadas pelas guerras, às doenças e à insegurança existentes logo após o fim do 
Império Romano. 
A partir do século V, entra-se na chamada Idade Média, mas o sistema feudal (Feudalismo) 
somente passa a vigorar em alguns países da Europa Ocidental a partir do século IX, 
aproximadamente. 
O esfacelamento do Império Romano do Ocidente e as invasões bárbaras que estavam em 
diversas regiões da Europa favoreceram sensivelmente as mudanças econômicas e sociais 
que vão sendo introduzidas, principalmente na Europa Ocidental, e que alteram 
completamente o sistema de propriedade e de produção característicos da antigüidade. 
Essas mudanças acabam revelando um novo sistema econômico, político e social que veio 
a se chamar Feudalismo. 
O Feudalismo não coincide com o início da Idade Média (século V d.C.), porque esse 
sistema começa a ser delineado alguns séculos antes do início dessa etapa histórica (mais 
precisamente, durante o início do século IV), consolidando-se definitivamente ao término 
do Império Carolíngeo7, no século IX d.C. 
Resumindo, com a decadência do Império Romano e as invasões bárbaras, os nobres 
romanos começaram a se afastar das cidades levando consigo camponeses (com medo de 
serem saqueados ou escravizados). Já na Idade Média, com vários povos bárbaros 
dominando a Europa Medieval, foi impossível unirem-se entre si e entre os descendentes 
de nobres romanos, que eram donos de pequenos agrupamentos de terra. E com as 
reformas culturais ocorridas nesse meio-tempo, começou a surgir a idéia de uma nova 
economia: o feudalismo. Portanto, as características gerais do feudalismo são: poder 
descentralizado (nas mãos dos senhores feudais), economiabaseada na agricultura e 
utilização do trabalho dos servos. 
Alguns autores escrevem ainda que a Europa iniciou uma profunda reestruturação, 
marcada por descentralização do poder, ruralização8 e emprego de mão-de-obra servil. 
Com começo e fim graduais, o sistema feudal tem sua origem mais bem situada na 
França setentrional dos séculos IX e X e seu desaparecimento no século XVI. 
Apesar de constituir um sistema fechado, que chega ao fim com a revisão de quase todos 
os seus valores pelo Renascimento, o feudalismo é um dos alicerces do Estado ocidental 
 
6
 Nomadismo = gênero de vida nômade; caráter nômade. 
7
 Império Carolíngeo = Imperador Carlos Magno (carlovíngio = 1 Referente à segunda dinastia dos reis 
dos francos, de que o mais famoso foi Carlos Magno. Reinaram de 751 a 987. 2 Do tempo de Carlos 
Magno. Var: carolíngio, Carolino). 
8
 Ruralização = Transferência de elementos culturais característicos de sociedades rurais, para o meio 
urbano. 
 
 
 8 
moderno. Os grandes conselhos de reis e de seus feudatários são os ancestrais diretos dos 
modernos parlamentos. 
O feudalismo desenvolveu-se num longo período, que engloba a crise do Império Romano 
a partir do século III, a formação dos Reinos Bárbaros e a desagregação do Império 
Carolíngeo no século IX. 
 A formação do feudalismo, na Europa Ocidental, envolveu uma série de elementos 
estruturais, de origem romana e germânica, associados aos fatores conjunturais, num longo 
período, que engloba a crise do Império Romano a partir do século III, a formação dos 
Reinos Bárbaros e a desagregação do Império Carolíngeo no século IX. 
 
3.2 - A formação do feudalismo 
Os feudos tinham a grande influência da igreja em suas vidas. Os germânicos, que foram 
chamados de bárbaros, ocuparam a Europa Ocidental e para lá levaram seus hábitos, 
costumes e leis. Ao longo do período entre os séculos V e IX ocorreu a transição entre o 
Antigo Escravismo e o Feudalismo. Nesse período, o comércio, já decadente desde a crise 
do Império Romano do Ocidente, declina ainda mais, em função dos ataques de 
sarracenos (árabes), magiares (húngaros) e vikings (nórdicos), naquilo que foi 
denominado de Novas Invasões. As cidades desapareceram ou reduziram suas atividades. 
Apenas as cidades italianas, como Veneza e Génova, mantém o comércio a longa distância 
através do mar Mediterrâneo. A economia é agrária, voltada para o consumo. A autoridade 
central esfacelou-se9 e, na mesma proporção, consolidou-se uma transferência de 
soberanias, privatizando-se forças militares locais e regionais, a instituição e arrecadação de 
tributos, a aplicação da justiça, etc. 
O Feudalismo vem da fusão de duas culturas: a Germânica e a Romana. O elemento 
principal da cultura Germânica era o Comitatus10, de onde surge a vassalagem. O elemento 
principal da cultura Romana era o Colonato11. 
No Mediterrâneo oriental, o Império Romano do Oriente teve continuidade com o nome 
de Império Bizantino, que desenvolveu um intenso comércio e só desapareceu no século 
XV, quando sua capital, Constantinopla (hoje Istambul) , foi ocupada pelos turcos. Surgiu 
também no Oriente um outro império, o Império Árabe, Muçulmano ou Islâmico, que tem 
sua origem na Arábia no século VII, e se expandiu para o Oriente, ocupando a Pérsia e a 
Síria, e para o Ocidente, ocupando o Egito e outros países do norte da África, chegando até 
a Península Ibérica, na Europa. O Império Árabe também desenvolveu intensa atividade 
comercial. 
 
3.3 – A Sociedade 
A sociedade feudal era composta por três grupos sociais com status fixo: o clero, a nobreza 
e os camponeses. Apresentava pouca ascensão social e quase não existia mobilidade social 
(a Igreja foi uma forma de promoção, de mobilidade). 
O clero tinha como função oficial rezar. Na prática, exercia grande poder político sobre 
uma sociedade bastante religiosa, onde o conceito de separação entre a religião e a política 
era desconhecida. Mantinham a ordem da sociedade evitando, por meio de persuasão e 
criação de justificativas religiosas, revoltas e contratações camponesas. 
 
9
 Esfacelar = Arruinar, estragar, Desfazer-se, corromper-se (instituição, privilégio etc.). 
10
 Comitatus = Estado de sujeição ou submissão; Escravos. 
11
 Colonato = Estado de colono, Instituição de colonos. 
 
 9 
A nobreza (também conhecidas como senhores feudais) tinha como principal função 
guerrear, além de exercer considerável poder político sobre as demais classes. O Rei lhes 
cedia terras e estes lhe juravam ajuda militar (relações de suserania12 e vassalagem13). 
Em outras palavras, na camada superior, os guerreiros - pode-se perceber uma diferença 
entre nobres e cavaleiros, sendo que os primeiros descendem das principais famílias do 
período carolíngeo, enquanto que os demais se tornaram proprietários rurais a partir da 
concessão de extensões de terras oferecidas pelos nobres. Essa relação era bastante 
comum, fortalecia os laços entre os membros da elite, mesmo por que os cavaleiros se 
tornavam vassalos e ao mesmo tempo procuravam imitar o comportamento da nobreza 
tradicional, adotando sua moral e seus valores. Com o passar do tempo a diferenciação 
entre nobres e cavaleiros foi desaparecendo; preservou-se, no entanto a relação de 
suserania e vassalagem. 
Esta relação é eventual, pode existir ou não, dependendo da vontade ou da necessidade das 
partes, que são sempre dois senhores feudal; ou seja, é uma relação social que envolve 
membros da mesma camada social, a elite medieval. O termo feudo originariamente 
significava “benefício”, algo concedido a outro, e que normalmente era terra, daí sua 
utilização como sinônimo da “propriedade senhorial”. Suserano é o senhor que concede o 
benefício, enquanto que vassalo é o senhor que recebe o benefício. Esta relação, na verdade 
bastante complexa, tornou-se fundamental durante a Idade Média e serviu para preservar 
os privilégios da elite e materializava-se a partir de três atos: a homenagem, a investidura e 
o juramento de fidelidade. Normalmente o suserano era um grande proprietário rural e que 
pretende aumentar seu exército e capacidade guerreira, enquanto o vassalo é um homem 
que necessita de terras e camponeses. 
Os servos da gleba constituíam a maior parte da população camponesa, eles eram presos à 
terra e sofriam intensa exploração, eram obrigados a prestarem serviços à nobreza e a 
pagar-lhes diversos tributos em troca da permissão de uso da terra e de proteção militar. 
Embora geralmente se considere que a vida dos camponeses fosse miserável, a palavra 
"escravo" seria imprópria. Para receberem direito à moradia nas terras de seus senhores, 
assim como entre nobres e reis, juravam-lhe fidelidade e trabalho. 
Há uma relação direta entre autoridade e posse da terra. O vassalo, ou subordinado, 
oferece ao senhor, ou suserano, fidelidade e trabalho em troca de proteção e de um lugar 
no sistema de produção. Os camponeses, que trabalham nas terras dos senhores feudais, 
são os responsáveis por toda a atividade produtiva do feudo. Além de produzir para seu 
sustento, deve obrigações a seu senhor, como a corvéia14, que consiste no trabalho gratuito 
e obrigatório durante três dias da semana. Devem também impostos, que são pagos em 
produtos ou dinheiro. Os senhores feudais formam a nobreza rural e têm poder para fazer 
os servos e os camponeses livres cumprirem as normas vigentes. Vive em castelos 
fortificados, a melhor representação de seu poder civil e militar. Os cavaleiros armados 
garantem o domínio do senhorio sobre a terra. 
A sociedade feudal era estática (com pouca mobilidade social) e hierarquizada. A nobreza 
feudal (cavaleiros, condes, duques, viscondes) era detentora de terras e arrecadavaimpostos 
dos camponeses. O clero (membros da Igreja Católica) tinha um grande poder, pois era 
responsável pela proteção espiritual da sociedade. Era isento de impostos e arrecadava o 
 
12
 Suserania = Qualidade e Poder de suserano, Território onde o suserano domina. (Como um Rei) 
13
 Vassalagem = 1 Condição ou estado de vassalo; 2 Tributo a que era obrigado o vassalo perante o 
senhor feudal de quem dependia; preito, homenagem, tributo, obediência; 3 Estado de sujeição ou 
submissão; 4 O conjunto das condições ou cláusulas inerentes a esse estado; 5 Grande número de 
vassalos. 
14
 Corvéia = 1 Trabalho gratuito que o camponês devia a seu amo ou ao Estado. 2 Tarefa fatigante. 
 
 
 10 
dízimo. A terceira camada da sociedade era formada pelos servos (camponeses) e pequenos 
artesãos. 
 Utilizando os conceitos predominantes hoje, podemos dizer que, o trabalho, o 
esforço, a competência e etc., eram características que não podiam alterar a condição social 
de um homem. 
 O senhor era o proprietário dos meios de produção, enquanto os servos representavam 
a grande massa de camponeses que produziam a riqueza social. Porém podiam existir 
outras situações: a mais importante era o clérigo. Afinal o clero é uma classe social ou não? 
 O clero possuía grande importância no mundo feudal, cumprindo um papel específico 
em termos de religião, de formação social, moral e ideológica. No entanto esse papel do 
clero é definido pela hierarquia da Igreja, quer dizer, pelo Alto Clero, que por sua vez é 
formado por membros da nobreza feudal. Originariamente o clero não é uma classe social, 
pois seus membros ou são de origem senhorial (alto clero) ou servil (baixo clero). 
 A maioria dos livros de história retrata a divisão desta sociedade 
segundo as palavras do Bispo Adalberon de Leon: “na sociedade alguns rezam, 
outros guerreiam e outros trabalham, onde todos formam um conjunto inseparável e o 
trabalho de uns permite o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu apoio 
aos outros” Para o bispo, o conjunto de servos é “uma raça de infelizes que nada 
podem obter sem sofrimento”. 
Percebe-se o discurso da Igreja como uma tentativa de interpretar a situação social e ao 
mesmo tempo justificá-la, preservando-a. Nesta sociedade, cada camada tem sua função e, 
portanto deve obedecê-la como vontade divina. 
 
3.4 - O poder 
No mundo feudal não existiu uma estrutura de poder centralizada. Não existe a noção de 
Estado ou mesmo de nação. Portanto consideramos o poder como localizado, ou seja, 
existente em cada feudo. Apesar da autonomia na administração da justiça em cada feudo, 
existiam dois elementos limitadores do poder senhorial. O primeiro é a própria ordem 
vassálica, onde o vassalo deve fidelidade a seu suserano; o segundo é a influência da Igreja 
Católica, única instituição centralizada, que ditava as normas de comportamento social na 
época, fazendo com que as leis obedecessem aos costumes e à “vontade de Deus”. Dessa 
forma a vida quase não possuía variação de um feudo para outro. 
É importante visualizar a figura do rei durante o feudalismo, como suserano-mor, no 
entanto sem poder efetivo devido à própria relação de suserania e a tendência á auto-
suficiência 
 
3.5 – A Economia no Feudalismo 
A economia feudal possuía base agrária, ou seja, a agricultura era a atividade responsável 
por gerar a riqueza social naquele momento. Ao mesmo tempo, outras atividades se 
desenvolviam, em menor escala, no sentido de complementar a primeira e suprir 
necessidades básicas e imediatas de parcela da sociedade. A pecuária, a mineração, a 
produção artesanal e mesmo o comércio eram atividades que existiam, de forma 
secundária. 
Como a agricultura era a atividade mais importante, a terra era o meio de produção 
fundamental. Ter terra significava a possibilidade de possuir riquezas (como na maioria das 
sociedades antigas e medievais), por isso preservou-se a caráter estamental (status) da 
sociedade. Os proprietários rurais eram denominados Senhores Feudais, enquanto que os 
trabalhadores camponeses eram denominados servos. 
O feudo era a unidade produtiva básica. Imaginar o feudo é algo complexo, pois ele podia 
apresentar muitas variações, desde vastas regiões onde encontramos vilas e cidades em seu 
 11 
interior, como grandes “fazendas” ou mesmo pequenas porções de terra. Para tentarmos 
perceber o desenvolvimento socioeconômico do período, o melhor é imaginarmos o feudo 
como uma grande propriedade rural. O território do feudo era dividido normalmente em 
três partes: O Domínio, terra comum e manso servil 
O Domínio é a parte da terra reservada exclusivamente ao senhor feudal (em cujo interior 
se eregia um castelo fortificado) e trabalhada pelo servo,. A produção deste território 
destina-se apenas ao senhor feudal. Normalmente o servo trabalha para o senhor feudal, 
nessa porção de terra ou mesmo no castelo, por um período de três dias, sendo essa 
obrigação denominada corvéia. 
Terra comum e a parte da terra de uso comum. Matas e pastos que podem ser utilizadas 
tanto pelo senhor feudal como pelos servos. É o local de onde retiram-se lenha ou madeira 
para as construções, e onde pastam os animais. 
Manso servil era a parte destinada aos servos. O manso é dividido em lotes (glebas) e cada 
servo tem direito a um lote. Em vários feudos o lote que cabe a um servo não é contínuo, 
ou seja, a terra de vários servos são subdivididas e umas intercaladas nas outras. De toda a 
produção do servo em seu lote, metade da produção destina-se ao senhor feudal, 
caracterizando uma obrigação denominada talha15. 
Esse sistema se caracteriza pela exploração do trabalho servil, responsável por toda a 
produção. O servo não é considerado um escravo, porém não é um trabalhados livre. O 
que determina a condição servil é seu vínculo com a terra, ou seja, o servo esta preso a 
terra. Ao receber um lote de terra para viver e trabalhar, e ao receber (teoricamente) 
proteção, o servo esta forçado a trabalhar sempre para o mesmo senhor feudal, não 
podendo abandonar a terra. Essa relação definiu-se lentamente desde a crise do Império 
Romano com a formação do colonato. 
Além da corvéia e da talha, obrigações mais importantes devidas pelo servo ao senhor, 
existiam outras obrigações que eram responsáveis por retirar dos servos praticamente tudo 
o que produzia. Tradicionalmente a economia foi considerada natural, de subsistência e 
desmonetarizada. Natural por que se baseavam em trocas diretas, produtos por produto 
e diretamente entre os produtores, não havendo, portanto um grupo de intermediários 
(comerciantes); ainda de subsistência por que produzia em quantidade e variedade pequena, 
além de não contar com a mentalidade de lucro, que exigiria a produção de excedentes; 
desmonetarizada por não se utilizar de qualquer tipo de moeda, sendo que havia a troca de 
produto por produto (escambo16). 
Apesar de podermos enxergar essa situação básica, cabem algumas considerações: o 
comércio sempre existiu, apesar de irregular e de intensidade muito variável. Algumas 
mercadorias eram necessárias em todos os feudos, mas encontradas apenas em algumas 
regiões, como por exemplo, o sal ou mesmo o ferro. Além desse comércio de produtos 
considerados fundamentais, havia o comércio com o oriente, de especiarias ou mesmo de 
tecidos, consumidos por uma parcela da nobreza (senhores feudais) e pelo alto clero. 
Apesar de bastante restrito, esse comércio já era realizado pelos venezianos. 
Mesmo o servo participava de um pequeno comércio, ao levar produtos excedentes 
agrícolas para a feira da cidade, onde obtinha artesanato urbano, promovendo uma tímida 
integração entre campo e cidade. “a pequena produtividade fazia com que qualquer 
acidente natural (chuvas em excesso ou em falta, pragas) ou humano (guerras,trabalho 
 
15
 Talha = 1. Espécie de tributo ou derrama. 2. Salário. 3. Vara com diferentes golpes para marcar a soma 
do imposto devido, quando os cobradores não sabiam escrever. 
16
 Escambo = Troca de bens ou serviços sem intermediação do dinheiro. 
 
 
 12 
inadequado ou insuficiente) provocasse períodos de escassez”. Nesse sentido havia uma 
tendência a auto-suficiência, uma preocupação por parte dos senhores feudal em possuir 
uma estrutura que pudesse provê-lo nessas situações. 
Devido ao caráter expropriador do sistema feudal, o servo não se sentia estimulado a 
aumentar a produção com inovações tecnológicas, uma vez que tudo que produzia de 
excedente era tomado pelo senhor. Por isso, o desenvolvimento técnico foi pequeno, 
limitando aumentos de produtividade. A principal técnica adoptada foi a de rotação 
trienal de culturas, que evitava o esgotamento do solo, mantendo a fertilidade da terra. 
Para o economista anarco-capitalista Hans Hermann Hoppe, como os feudos são 
supostamente propriedade do Estado (neste caso, representado pelos senhores feudais), 
feudalismo é, conseqüentemente, considerado por ele como sendo uma forma de 
socialismo, o socialismo aristocrático. 
 Resumindo nota-se que o feudo constitui a unidade territorial da economia feudal. 
Caracteriza-se pela auto-suficiência econômica e pela ausência quase total do comércio e de 
intercâmbios monetários. A produção é predominantemente agropastoril, voltada para a 
subsistência, e as trocas são feitas com produtos, não com dinheiro. As cidades deixam de 
serem centros econômicos, os ofícios e o artesanato passam a ser realizados nos próprios 
castelos. 
 
3.5.1 - Tributos e Impostos da época 
As principais obrigações dos servos consistiam em: 
Corvéia: trabalho compulsório nas terras do senhor em alguns dias da semana; 
Talha: Parte da produção do servo deveria ser entregue ao nobre 
Banalidade: tributo cobrado pelo uso de instrumentos ou bens do feudo, como o moinho, 
o forno, o celeiro, as pontes; 
Capitação: imposto pago por cada membro da família (por cabeça); 
Tostão de Pedro ou dízimo: 10% da produção do servo era pago à Igreja, utilizado para a 
manutenção da capela local; 
Censo: tributo que os vilões (pessoas livres, vila) deviam pagar, em dinheiro, para a 
nobreza; 
Taxa de Justiça: os servos e os vilões deviam pagar para serem julgados no tribunal do 
nobre; 
Formariage: quando o nobre resolvia se casar , todo servo era obrigado a pagar uma taxa 
para ajudar no casamento, era também válida para quando um parente do nobre iria casar. 
Mão Morta: Era o pagamento de uma taxa para permanecer no feudo da família servil, em 
caso do falecimento do pai da família. 
Muitas cidades européias da Idade Média tornaram-se livres das relações servis e do 
predomínio dos nobres. Essas cidades chamavam-se burgos. Por motivos políticos, os 
"burgueses" (habitantes dos burgos) recebiam freqüentemente o apoio dos reis, que muitas 
vezes estavam em conflito com os nobres. Na língua alemã, o ditado Stadtluft macht frei (O 
ar da cidade liberta) ilustra este fenômeno. Em Bruges, por exemplo, conta-se que uma 
certa vez um servo escapou da comitiva do conde de Flandres e fugiu por entre a multidão. 
Ao tentar reagir e ordenar que perseguissem o fugitivo, o conde foi vaiado pelos 
"burgueses" e obrigado a sair da cidade, em defesa do servo, que se tornou livre deste 
modo. 
 
3.6 - Influência da Igreja 
 A Igreja Católica integra-se ao sistema feudal por meio dos mosteiros, que 
reproduzem a estrutura dos feudos. Transforma-se também em grande proprietária feudal, 
detém poder político e econômico e exerce forte controle sobre a produção científica e 
cultural da época. 
 13 
Na Idade Média, a Igreja Católica dominava o cenário religioso. Detentora do poder 
espiritual, a Igreja influenciava o modo de pensar, a psicologia e as formas de 
comportamento na Idade Média. A igreja também tinha grande poder econômico, pois 
possuía terras em grande quantidade, e até mesmo servos trabalhando. Os monges viviam 
em mosteiros e eram responsáveis pela proteção espiritual da sociedade. Passavam grande 
parte do tempo rezando e copiando livros e a bíblia. 
 
3.7 - Ascensão e queda do sistema 
O feudalismo europeu apresenta, portanto, fases bem diversas entre o século IX, quando 
os pequenos agricultores são impelidos a se proteger dos inimigos junto aos castelos, e o 
século XIII, quando o mundo feudal conhece seu apogeu, para declinar a seguir. 
No século X, o sistema ainda está em formação e os laços feudais unem apenas os 
proprietários rurais e os antigos altos funcionários Carolíngeos. Entre os camponeses ainda 
há numerosos grupos livres, com propriedades independentes. A hierarquia social não 
apresenta a rigidez que a caracterizaria posteriormente, e a ética feudal não está plenamente 
estabelecida. 
Entretanto, a partir do ano 1000, até cerca de 1150, o Feudalismo entra em ascensão. O 
sistema define seus elementos básicos. A exploração camponesa torna-se intensa, 
concentrada em certas regiões superpovoadas, deixando áreas extensas de espaços vazios. 
Surgem novas técnicas de cultivo, novas formas de utilização dos animais e das carroças. 
Com as inovações no campo, a produção agrícola teve um aumento significativo e surgiu a 
necessidade de comercialização dos produtos excedentes, então a partir do século XI, 
também há um renascimento do comércio e um aumento da circulação monetária, o que 
valoriza a importância social das cidades e suas comunas. E, com as Cruzadas, esboça-se 
uma abertura para o mundo, quebrando-se o isolamento do feudo. Com o 
restabelecimento do comércio com o Oriente próximo e o desenvolvimento das grandes 
cidades, começam a ser minadas as bases da organização feudal, na medida em que 
aumenta a demanda de produtos agrícolas para o abastecimento da população urbana. Isso 
eleva o preço dessas mercadorias, permitindo aos camponeses maiores fundos para a 
compra de sua liberdade. Não que os servos fossem escravos; com o excedente produzido, 
poderiam comprar de seus senhores lotes de terras e, assim, deixar de cumprir suas 
obrigações junto ao senhor feudal. É claro que esta situação poderia gerar problemas já 
que, bem ou mal, o servo vivia protegido dentro do feudo. A solução encontrada, quando 
não se tornavam comerciantes, eram morar em burgos, dominados por outros tipos de 
senhores, desta vez, comerciais. Ao mesmo tempo, a expansão do comércio cria novas 
oportunidades de trabalho, atraindo os camponeses para as cidades. 
Esses acontecimentos, aliados à formação dos exércitos profissionais — o Rei, agora, não 
dependeria mais dos serviços militares prestados por seus vassalos —, à insurreição17 
camponesa, à peste, à falta de alimentos decorrente do aumento populacional e 
baixa produtividade agrária, contribuíram para o declínio do feudalismo europeu. 
Na França, nos Países Baixos e na Itália, seu desaparecimento começa a se manifestar no 
final do século XIII. Na Alemanha e na Inglaterra, entretanto, ele ainda permanece mais 
tempo, extinguindo-se totalmente na Europa ocidental por volta de 1500. Em partes da 
Europa central e oriental, porém, alguns remanescentes resistiram até meados do século 
XX, como, por exemplo, a Rússia, que só viria a se libertar dos resquícios feudais com a 
Revolução de 1917. 
 
17
 Insurreição = 1 Ato ou efeito de se insurgir; sublevação, revolta. 2 Oposição ou reação vigorosa. 
 14 
Confirmando tudo aquilo visto até aqui, e confirmando que a crise do feudalismo deu-se 
durante o século XIV, através de uma grave crise econômica e social que atingiu a vida do 
homem medieval. Este processo de crise culminou definitivamente com a desagregação da 
sociedadefeudal, marcando a fase de transição da Idade Média à Idade Moderna. 
 Os fatores que desencadearam a grande crise do século XIV foram vários, dentre os 
quais devemos destacar aqueles que, na opinião de muitos historiadores, compõem a 
chamada "trilogia18" da crise feudal: a fome, a peste e as guerras. 
O final da Baixa Idade Média é marcado, portanto, por um período de acentuada e 
generalizada crise, composta por vários fatores de origem econômica e social que assolaram 
a Europa. 
Primeiramente, com relação à fome, é preciso ressaltar que a estagnação das técnicas 
agrícolas somada ao crescimento demográfico gerou um enorme desequilíbrio entre a 
produção e o consumo. A falta de alimentos fez com que o solo fosse mais utilizado, 
comprometendo ainda mais sua produtividade e agravando a escassez de alimentos. Ou 
seja, em virtude do uso constante, a terra perde sua qualidade, causando o empobrecimento 
cada vez maior da atividade agrícola. 
A esse quadro de saturação da economia agrícola, alguns historiadores acrescem fatores de 
natureza geográfica para apontar as razões que desencadearam a grande fome do século 
XIV. Acredita-se que, nesse período, houve uma repentina mudança no clima europeu, que 
o tornou mais úmido e frio, dificultando o trabalho e a produção agrícola. 
Além desses aspectos, o historiador Philippe Wolf acrescenta ainda que: “O problema de 
subsistência na Europa é explicado pelas más condições de armazenagem que provocavam perdas 
consideráveis, por apodrecimento do trigo, por extensão de diversas doenças que o tornavam impróprio ao 
consumo e, finalmente, pelos hábitos alimentares demasiado uniformes (o milho, por exemplo, ainda não era 
conhecido, nem tampouco a batata, que mais tarde terão um papel importante na alimentação). Uma 
colheita fraca bastava para ameaçar o equilíbrio entre a oferta e a procura; duas seguidas inevitavelmente 
provocavam a fome". 
 
 
Nota Importante: vejamos a seguir mais alguns textos sobre o feudalismo 
 
A Crise Romana 
A partir do século III a crise do Império romano tornou-se intensa e manifestou-se 
principalmente nas cidades, através das lutas sociais, da retração do comércio e das 
invasões bárbaras. Esses elementos estimularam um processo de ruralização, envolvendo 
tanto as elites como a massa plebéia, determinando o desenvolvimento de uma nova 
estrutura sócio econômica, baseada nas Vilae (núcleo de comercialização) e no colonato. 
 As transformações da estrutura produtiva desenvolveram-se principalmente nos 
séculos IV e V e ocorreram também mesmo nas regiões onde se fixaram os povos 
bárbaros, que, de uma forma geral, tenderam a se organizar seguindo a nova tendência do 
Império, com uma economia rural, aprofundando o processo de fragmentação. 
 Em meio à crise, as Vilae tenderam a se transformar no núcleo básico da 
economia. A grande propriedade rural passou a diversificar a produção de gêneros 
agrícolas, além da criação de animais e da produção artesanal, deixando de produzir para o 
mercado, atendendo suas próprias necessidades. 
Foi dentro deste contexto que se desenvolveu o colonato, novo sistema de trabalho, que 
atendia aos interesses dos grandes proprietários rurais ao substituir o trabalho escravo, aos 
interesses do Estado, que preservava uma fonte de arrecadação tributária e mesmo aos 
 
18
Trilogia = 1 Conjunto de três obras trágicas de um mesmo autor apresentadas em concurso nos jogos 
solenes. 2 Qualquer obra ou poema dividido em três partes; 3 Peça científica ou literária em três partes; 
tríade, trindade, trio. 
 15 
interesses da plebe, que migrando para as áreas rurais, encontrava trabalho. 
 
O Colono 
 O colono é o trabalhador rural, colocado agora em uma nova situação. Nas regiões 
próximas à Roma a origem do colono é o antigo plebeu ou ainda o ex-escravo, enquanto 
nas áreas mais afastadas é normalmente o homem de origem bárbara, que, ao abandonar o 
nomadismo e a guerra é fixado à terra 
 O colono é um homem livre por não ser escravo, porém está preso à terra. 
A grande propriedade passou a dividir-se em duas grandes partes, ambas trabalhadas pelo 
colono; uma utilizada exclusivamente pelo proprietário, a outra dividida entre os colonos. 
Cada colono tinha a posse de seu lote de terra, não podendo abandoná-lo e nem ser 
expulso dele, devendo trabalhar na terra do senhor e entregar parte da produção de seu 
lote. 
 Dessa maneira percebe-se que a estrutura fundiária desenvolve-se de uma maneira 
que pode ser considerada como embrionária da economia feudal 
 É importante notar que durante todo o período de gestação do feudalismo ainda 
serão encontrados escravos na Europa, porém em pequena quantidade e com importância 
cada vez mais reduzida. 
 
 As Invasões Bárbaras 
Os povos “bárbaros”, ao ocuparem parte das terras do Império Romano, contribuíram 
com o processo de ruralização e com a fragmentação do poder, no entanto assimilaram 
aspectos da organização sócio econômica romana, fazendo com que os membros da tribo 
se tornassem pequenos proprietários ou rendeiros e, com o passar do tempo, cada vez mais 
dependentes dos grandes proprietários rurais, antigos líderes tribais. 
 O colapso do “Mundo Romano” possibilitou o desenvolvimento de diversos reinos 
de origem bárbara na Europa, destacando-se o Reino dos Francos, formado no final do 
século V, a partir da união de diversas tribos francas sob a autoridade de Clóvis. 
 A aliança das tribos, assim como a aliança de Clóvis com a Igreja Católica 
impulsionou o processo de conquistas territoriais, que se estendeu até o século IX e foi 
responsável pela consolidação do “beneficium”, que transformaria a elite militar em elite 
agrária. 
 O “Beneficium” era uma instituição bárbara, a partir da qual o chefe tribal 
concedia certos benefícios a seus subordinados, em troca de serviços e principalmente de 
fidelidade. Em um período de crise generalizada, marcada pela retração do comércio, da 
economia monetária e pela ruralização, a terra tornou-se o bem mais valioso e passou a ser 
doada pelos reis para os seus principais comandantes. 
 
O Império Carolíngeo 
Durante o reinado de Carlos Magno, a autoridade real havia se fortalecido, freando 
momentaneamente as tendências descentralizadoras. Como explicar então a formação do 
feudalismo, se o poder real é fortalecido? Primeiro a centralização deve ser vista dentro do 
quadro de conquistas da época, comandadas pelo rei, reforçando sua autoridade, mas ao 
mesmo tempo, preservando o beneficium. Com o Estado centralizado, a cobrança das 
obrigações baseadas na fidelidade ainda é eficiente e essa função é destinada aos “Missi 
Dominici” (enviados do rei). Segundo, a Igreja Católica já era uma importante instituição, 
que, ao apoiar as conquistas do rei, referenda sua autoridade e poder, ao mesmo tempo em 
que interfere nas relações sociais, como demonstra o “Juramento de Fidelidade” instituição 
de origem bárbara que passou a ser realizada sob “os olhos de Deus” legitimando-a como 
representativa de sua vontade. 
 No entanto é importante perceber as contradições existentes nesse processo: a 
 16 
Igreja construiu sua própria autoridade e como grande proprietária rural tendeu, em vários 
momentos, a desvincular-se do poder central. 
 
As Relações de Suserania e Vassalagem 
As relações de subordinação desenvolveram-se desde o século V, no entanto foi durante o 
reinado de Carlos Magno que tomaram sua forma mais desenvolvida. O incentivo aos laços 
de vassalagem num primeiro momento fortalecia o poder real, pois direta ou indiretamente 
estendia-se a toda a sociedade, no entanto, com o passar do tempo o resultado tornou-se 
oposto na medida em que as relações pessoais foram reforçadas, diminuindo, portanto a 
importância do Estado. 
 
As Principais Guerras no Feudalismo 
 Duranteo feudalismo aconteceram algumas guerras, a principal delas foi encorajada 
pela Igreja Católica com o desejo de libertar a terra santa das mãos dos infiéis, essa guerra é 
conhecida como as cruzadas. 
 
As Guerras na Idade Média 
 A guerra no tempo do feudalismo era uma das principais formas de obter poder. 
Os senhores feudais envolviam-se em guerras para aumentar suas terras e poder. Os 
cavaleiros formavam a base dos exércitos medievais. Corajosos, leais e equipados com 
escudos, elmos e espadas, representavam o que havia de mais nobre no período medieval. 
 
Transformações da sociedade feudal (séculos XII e XIII) na Europa Ocidental: A 
Europa procura conquistar territórios no Oriente, por meio das Cruzadas. As antigas 
cidades européias começam a renascer. Desenvolve-se o comércio. A sociedade feudal 
começa a se transformar. 
 
Daí em diante tem inicio na Europa o que ficou conhecido como: 
 
Fim do feudalismo e o capitalismo comercial - Renascimento comercial 
 
A Europa ocidental sofreu grandes transformações econômicas e sociais entre os séculos 
XI e XIV. Pouco a pouco, desmoronou o sistema feudal que vigorou no continente ao 
longo de quase toda a Idade Média. Para isso, entre outros fatores, contribuíram 
as Cruzadas, que foram expedições militares patrocinadas pela Igreja católica e organizadas 
pela cristandade medieval para libertar Jerusalém do domínio muçulmano. 
 
As Cruzadas ocorreram entre os anos de 1096 e 1270 e conduziram a Europa a um 
momento de renascimento comercial: ao voltarem das batalhas em terras orientais, os 
cruzados traziam consigo produtos de luxo, como tapetes persas, porcelanas chinesas, 
tecidos finos ou especiarias (temperos como cravo, canela e pimenta), que atraíam a 
população europeia, que já não conhecia esses requintes. 
 
Por haverem estabelecido feitorias nessas regiões mais afastadas, os europeus abriram um 
novo eixo comercial ligando o Ocidente ao Oriente. As principais rotas de comércio eram 
feitas pelo mar Mediterrâneo e estavam sob o controle de cidades como Gênova, Veneza, 
Pisa, Constantinopla, Barcelona e Marselha. No mar Báltico e no mar do Norte, o domínio 
ficava por conta de cidades como Hamburgo, Bremen e pela região de Flandres (Países 
Baixos). 
Burgos e burgueses 
 17 
Graças a essa retomada do comércio, muitos europeus deixaram o campo e foram viver 
dentro dos burgos - vilas fortificadas com muralhas, construídas entre os séculos 9 e 10 e 
posteriormente abandonadas -, onde esperavam encontrar melhores condições de vida. Em 
pouco tempo, contudo, esses lugares tomaram-se pequenos e as pessoas viram-se obrigadas 
a se instalar do lado de fora de suas muralhas. 
 
Essa população, formada principalmente por artesãos, operários e comerciantes, acabou 
dando origem a novos burgos em vários pontos da Europa. Seus habitantes, por oposição 
aos nobres que viviam em castelos, ficaram conhecidos como burgueses. Com o tempo, os 
centros urbanos tomaram-se mais importantes que as regiões rurais. Os negócios ali 
aumentaram, os artesãos abriram suas próprias oficinas, comerciantes passaram a organizar 
feiras nas quais vendiam seus produtos. 
 
O dinheiro 
Por essa razão, o uso de moedas tornou-se essencial, substituindo o escambo ou troca de 
mercadorias. Isso possibilitou o aparecimento das primeiras casas bancárias, responsáveis 
pelas operações de câmbio e empréstimos a juros. Toda essa dinâmica fez com que o 
dinheiro passasse a ganhar importância e a terra e a produção agropecuária deixassem de 
ser à base da riqueza na Europa. 
 
Gradativamente, os mercadores e banqueiros, cada vez mais ricos, conquistavam 
maior status social e passaram a ansiar pelo poder político. A burguesia ganhava prestígio e 
aproximava-se dos reis, emprestando-lhes dinheiro em troca de medidas políticas 
favoráveis ao comércio. Ao mesmo tempo, os senhores feudais viam-se envolvidos em 
dívidas, muitas delas decorrentes das altas despesas com as Cruzadas. 
 
Humanismo 
Além de empreendimentos comerciais, o maior contato entre os burgueses e os monarcas 
financiou o surgimento de novas universidades. Com a expansão comercial tomou-se 
necessário encontrar pessoas que entendessem de direito e comércio. A difusão do 
conhecimento deixou de ser algo exclusivo da Igreja católica - voltado para assuntos 
teológicos ou religiosos -, e o ensino tomou-se laico, voltado cada vez mais para questões 
mundanas. 
 
Desse modo, o homem passou a se preocupar mais com as coisas terrenas do que com as 
espirituais. A aula voltava-se para os textos clássicos, principalmente os dos gregos e 
romanos, e as atenções dos estudiosos dirigiam-se a diversas áreas do saber e das artes. 
Iniciava-se o Humanismo, movimento cultural que viria a influenciar a Europa por quase 
três séculos. Até então hegemônico, o pensamento da Igreja passou a ser questionado por 
religiosos e filósofos leigos. 
 
Guerra, fome e peste 
Todo esse crescimento, no entanto, sofreu um forte golpe no século 14, quando a Europa 
entrou em crise. Mudanças climáticas geraram um grave colapso no abastecimento agrícola. 
Apesar dos diversos avanços tecnológicos verificados no campo - como a invenção da 
charrua, da ferradura, a difusão dos moinhos de vento -, as safras não eram suficientes para 
toda a população europeia - que duplicara entre os anos 1000 e 1300. Milhares de pessoas 
passaram a conviver com o problema da fome. 
 
Entre 1346 e 1352, para piorar esse quadro, o continente foi assolado pela Peste Negra, 
uma epidemia decorrente das péssimas condições de higiene das cidades, que matou cerca 
 18 
de 30 milhões de pessoas, mais de um terço da população europeia. A situação ficou ainda 
mais grave depois que a nobreza da França e Inglaterra deu início à chamada Guerra dos 
Cem Anos, conflito que se estendeu de 1337 a 1453 provocando grande número de mortos 
em ambos os países. Outras guerras ocorreram também na Península ibérica, na Itália e na 
Alemanha. 
 
Mercantilismo ou capitalismo comercial 
Em meio a essa situação de fome, doenças, guerras e mortes, as camadas mais baixas da 
população sofriam também com a elevada carga de trabalho e com os altos impostos 
cobrados pelos reis. Todos esses fatores provocaram diversas rebeliões populares em vários 
pontos da Europa. Fugindo da exploração, novas levas de servos abandonaram os feudos e 
dirigiram-se para as cidades, onde passaram a trabalhar como assalariados. 
 
A ascensão da burguesia, a expansão do comércio, o aparecimento da mão-de-obra 
assalariada, aliados ao fortalecimento do poder real - e a consequente formação dos 
Estados nacionais -, foram fatores que abalaram de vez a estrutura feudal da Europa e 
provocaram o fim desse sistema no continente. No século 15, os europeus já viviam sob 
uma nova ordem socioeconômica: o capitalismo comercial. 
 
Essas transformações políticas, sociais, econômicas e religiosas marcaram a passagem da 
Idade Média para a Idade Moderna e produziram reflexos também no campo cultural, em 
especial das artes plásticas e da arquitetura. Todo esse processo de renovação e 
revigoramento cultural também recebe o nome de Renascimento. 
 
 
4 - Mercantilismo ou Capitalismo Comercial 
 
AS PRIMEIRAS TEORIAS DE COMÉRCIO INTERNACIONAL: 
O MERCANTILISMO 
4.1 - Introdução 
O período compreendido entre os séculos XVI e a metade do século XVIII 
(aproximadamente entre os anos 1500 a 1750) é conhecido nos livros de história como 
sendo da “Revolução Comercial”. Foram anos fundamentais para o estabelecimento de 
uma economia mundial e para a consolidação de uma nova forma de organização política: 
o estado nacional. 
Do ponto de vista do comércio internacional, foi durante esse período que se 
estabeleceram as bases conceituais de todas as futuras teorias de comércio exterior, que 
foram e são praticadas até os dias atuais. Além disso, as teorias e práticas econômicas,que 
no seu conjunto denominamos hoje de mercantilistas, contribuíram para a organização e a 
consolidação do Estado nacional, como o principal agente econômico no plano mundial. 
O estudo do mercantilismo, e conseqüentemente da teoria de comércio exterior que 
expressa, pode ser feito tendo como base qualquer dos países que o praticaram, pois em 
essência seus fundamentos são os mesmos. No nosso caso, privilegiaremos ao longo deste 
trabalho, exemplos relacionados com Portugal e a dominação colonial portuguesa no Brasil 
que fornece ótimas referências que facilitam a compreensão da política comercial seguida 
por diferentes nações no período. 
É importante destacar que quando nos referirmos ao mercantilismo, estaremos tratando de 
um conjunto de práticas e idéias adotadas pelos Estados absolutistas, ao longo dos séculos 
XVI e XVIII. Quando agrupamos esse conjunto de práticas e idéias nos dias atuais, é que 
constituem a primeira teoria de comércio internacional de que se tem notícia. Este é um 
aspecto importante a ser assinalado, pois ao longo de todos os séculos de predomínio do 
 19 
mercantilismo, não surgiu nenhuma teoria mais ou menos articulada elaborada por nenhum 
pensador, e que poderia ter servido de guia para os governantes da época. Houve isto sim, 
em cada país onde essas práticas e idéias foram adotadas, indivíduos que elaboraram 
propostas teóricas e que no seu conjunto ao as reunirmos as caracterizamos como um 
corpo doutrinário único. Logo, para as pessoas da época, nem a palavra mercantilismo foi 
utilizada, nem este se constituía numa teoria articulada de desenvolvimento nacional. 
 
4.2 - A construção do sistema econômico mundial 
 A integração de diferentes economias numa só economia-mundo sob a égide do 
capitalismo teve seu início na Europa com o desenvolvimento e expansão de práticas 
comerciais que em linhas gerais podemos denominá-las capitalistas - a partir do século XI. 
O embrião do futuro sistema capitalista que se consolida após o século XVIII, pode ser 
encontrado deste modo no período que vai do século XI ao século XIV. A partir deste 
último século com as grandes navegações, a abertura de uma rota comercial pelo Atlântico 
Sul rumo ao Oriente, há um crescente desenvolvimento das trocas comerciais levando ao 
fortalecimento da burguesia européia. Esse fortalecimento se dá com o aumento 
substancial de sua capacidade de acumulação propiciada pela expansão dos mercados com 
a descoberta da América, a exploração da África e dos países do Oriente. Esse processo de 
acumulação se constituiu em grande medida na exploração das minas de ouro e prata das 
Américas, na escravização do negro africano e na prática predatória das companhias de 
exploração das grandes potencias coloniais em todo o mundo. 
 A formação dessa economia-mundo, a partir do desenvolvimento de uma economia 
capitalista européia apresenta vários aspectos que podem ser analisados quando se constata 
essa realidade de vivermos a tempos em um mundo integrado economicamente, onde cada 
parte do planeta cumpre uma papel econômico que pode ser fundamental ou periférico. 
 
 
4.2.1. A importância da rota do Atlântico 
 A conquista do Atlântico correspondia às necessidades da época, por isso foram tão 
importantes e revolucionárias as suas conseqüências marcando o período com a 
denominação de revolução comercial. O Atlântico transformou-se na mola propulsora do 
desenvolvimento capitalista, na fonte principal de acumulação de riqueza. E, com a 
integração do Atlântico no âmbito das relações internacionais, foram se consolidando as 
nações absolutistas, desenvolvendo-se novas relações entre as comunidades, consolidando-
se no espaço europeu o sentimento de nacionalidade, que seria o embrião de formação dos 
modernos estados nacionais. 
 Com o estabelecimento das rotas atlânticas do ouro africano e das especiarias 
asiáticas, o capitalismo italiano entrou em colapso. Uma nova camada de capitalistas 
emergiu então em Flandres, na Inglaterra, na Alemanha do Sul, na França, na Espanha e 
em Portugal dando o golpe final na estrutura econômica sustentada pelas cidades italianas 
que entravavam o desenvolvimento do capitalismo moderno. A associação de capitais 
flamengos, ingleses e alemães com a expansão portuguesa pode ser justificada por esta 
necessidade de crescimento independente do monopólio mediterrâneo. 
 O fato de Portugal passar a tratar diretamente com os produtores de mercadorias 
eliminando o intermediário muçulmano diminuiu em muito o preço dos artigos asiáticos. 
Um exemplo dessa redução de preço final é a pimenta, um artigo extremamente procurado, 
que os negociantes muçulmanos pagavam na Índia a 2,5 a 3 ducados o quintal, era vendida 
na praça de Alexandria a 80 ducados. Os portugueses, mesmo vendendo a um preço 
inferior lucravam enormemente com as viagens (DIAS, 1963). 
 Com o deslocamento do eixo econômico para Lisboa, esta se vê receptora das 
finanças européias. Os capitalistas alemães foram os primeiros a transferir suas operações 
 20 
comerciais e bancárias para Lisboa, corria o ano de 1503, e retornava a segunda expedição 
de Vasco da Gama ao Oriente. Assim como os alemães, os mercadores flamengos foram 
atraídos pelo carregamento dessa expedição. Muitos capitais italianos - genoveses e 
florentinos - também começaram a se instalar em Lisboa atraídos pelo retorno das 
expedições à Índia. 
 Em período anterior, muitos banqueiros já tinham se instalado em Portugal para 
participarem da expansão marítima na África, como Gerônimo Sergini e Bartolomeu 
Marchioni, magnatas de Florença, que operavam em Lisboa com dinheiro desde meados 
do século XV. Esses banqueiros italianos contribuíram bastante para atender as 
necessidades dos reis portugueses - Afonso V, D. João II e D. Manuel - participando e 
financiando várias expedições portuguesas a Índia e ao Brasil (DIAS, 1963). 
 Os comerciantes e banqueiros italianos, alemães e flamengos, cujos interesses não 
estavam diretamente relacionados a seus países, desenvolviam operações de capital que 
ultrapassavam o continente europeu. Foi graças a sua participação que a Coroa Portuguesa 
conseguiu encontrar os capitais necessários para o financiamento da expansão ultramarina e 
para a sustentação de uma rede comercial de escoamento dos artigos obtidos nas 
expedições. Por outro lado, com vimos, o capitalismo europeu encontrou no 
expansionismo marítimo as condições necessárias para o seu crescimento e 
desenvolvimento. 
 Com o deslocamento da corrente de comércio do Mediterrâneo para o Atlântico, 
Antuérpia (na atual Bélgica) foi tomando o lugar das cidades italianas como grande centro 
comercial e bancário. Com os mercadores, corretores e banqueiros negociando livremente 
dentro dos muros de Antuérpia, a cidade tornou-se gradativamente um grande centro de 
comércio internacional. O comércio de tecidos ingleses se realizava em Antuérpia, assim 
como o das especiarias da Índia. Os portugueses realizavam a maior parte de seus negócios 
naquela cidade. Em Antuérpia as grandes casas bancárias alemãs e italianas tinham seus 
depósitos principais, e as transações em dinheiro passaram a ser mais importantes que o 
próprio comércio, com a criação de câmaras de compensação evitando-se o manuseio do 
próprio dinheiro. Desse modo a "maquinaria financeira para enfrentar as necessidades do comércio 
em expansão foi posta em movimento no século XVI, por mercadores e banqueiros" ( HUBERMAN, 
1976: 105). 
 
4.3 - O surgimento do mercantilismo 
 Já no século XV, antecipando-se a outros reinos, em Portugal o rei havia assumido 
o poder absoluto, centralizando o poder de Estado, submetendo a nobreza e estreitando os 
vínculos com os comerciantes. O Estado que nasce deste movimento logo se tornará o 
principal agente incentivador das novas descobertas e da expansão marítima européia. Este 
fenômeno, de formação de Estados Absolutistas, seespalha a partir do século XV para a 
Espanha, França e Inglaterra. 
 Antes do aparecimento do estado nacional, em diferentes épocas existiram unidades 
governamentais sob a forma de comunas, cidades-estados e feudos. As unidades 
econômicas formaram nesta ordem: a família, o feudo, a comunidade da vila, a cidade e a 
liga das cidades. Os estados centralizados, portanto, eram diferentes de tudo o que existia 
anteriormente, surgiram gradativamente e desenvolveram medidas econômicas 
especializadas, dinheiro e crédito, e instituições e práticas comerciais, com a finalidade de se 
tornarem auto-suficientes. (Bell, 1982) 
 Com o surgimento desses novos Estados, necessita-se de burocratas para 
administrá-lo, e comerciantes para financiá-lo. É a partir destes dois grupos sociais que 
surge o Mercantilismo. Este se desenvolve a partir do estreitamento do vínculo entre a 
riqueza dos comerciantes (a burguesia mercantil) e o Estado fortalecido. Predomina a idéia 
de que com o crescimento do comércio o Estado terá mais riquezas e, portanto mais 
 21 
poder. Por outro lado, o poderio do Estado podia assegurar segurança e rentabilidade às 
rotas marítimas, bem como os monopólios exigidos pelos comerciantes. 
 Deste modo com o fortalecimento do Estado, ocorre um grande salto rumo a um 
futuro comércio mundial no final do século XV. Este começa a se concretizar com o 
avanço marítimo no Atlântico e a descoberta de uma nova rota para a Índia por Portugal, e 
com a descoberta da América pela Espanha. Com as explorações, zonas de colonização e 
feitorias comerciais dos dois países ibéricos, além de um incremento do comércio entre os 
países europeus, deu-se início a um intercâmbio mundial de mercadorias, incorporando-se 
novas regiões ao comércio originário da Europa, constituindo-se, a partir daí, de fato uma 
economia-mundo. 
 É nesse momento, segundo DEYON(1985:18) que nasce uma “teoria econômica, que 
inspirou e sustentou os esforços dos monarcas, preocupados com o estado de suas finanças e as necessidades 
dos exércitos e diplomatas”. É essa teoria que estudaremos nas páginas seguintes em suas linhas 
gerais. 
 Em meados do século XVI a penetração comercial européia já havia chegado às 
duas costas do Pacífico; os navios espanhóis faziam a rota do Peru a Europa através da 
região onde se localiza atualmente o Panamá, e os portugueses chegavam às ilhas da atual 
Indonésia. Esses dois movimentos dos países ibéricos introduziram no comércio 
internacional, uma abundante quantidade de especiarias vindas da Ásia, e enorme 
quantidade de metais preciosos com origem na América Espanhola o que provocou na 
Europa, a chamada “revolução dos preços”. 
 O primeiro carregamento de metais preciosos vem das Antilhas em 1503, em 1519 
começa a pilhagem do tesouro dos astecas do México; em 1534, a dos incas do Peru. 
Segundo BEAUD(1987:21) “de acordo com os dados oficiais, dezoito mil toneladas de prata e 
duzentas toneladas de ouro foram transferidos da América para a Espanha entre 1521 e 1660; de acordo 
com outras estimativas é o dobro”.19 
 A revolução dos preços foi causada por esse enorme afluxo de metais preciosos da 
América para Espanha, quantidade esta que gerou uma inflação sem precedentes. Com a 
súbita desvalorização da moeda, os preços nominais de todos os produtos tiveram que se 
elevar. 
 O poderio de Portugal e Espanha durante o século XVI era inegável, constituindo-
se no principal pólo econômico da economia mundial no período, 
 “... o primeiro graças ao virtual monopólio do comércio de especiarias que exercia no oceano Índico, e à 
produção açucareira do Brasil – 180 mil arrobas em 1570, 350 mil em 1580 e 1,2 milhão de arrobas em 
1600, e a segunda, principalmente à produção da minas de suas colônias americanas... (REZENDE 
Fo., 1997:117) 
Seu poderio em fins do século XV e século XVI era tal que em 1494 tentaram dividir o 
mundo em suas respectivas áreas de influência, assinando sob os auspícios do Papa, o 
Tratado de Tordesilhas. 
 No entanto, mesmo com o controle de imensos territórios, como a Espanha ou 
com uma formidável rede de feitorias comerciais, como Portugal; as duas potências ibéricas 
não conseguiram converter-se em verdadeiras metrópoles comerciais e/ou industriais. Não 
conseguindo se manter isoladas nesta expansão por muito tempo. Já no século XVI, a 
Holanda despontava como potencia comercial e marítima, fortalecida pelas relações com a 
coroa portuguesa que negociava os produtos obtidos no além mar principalmente através 
de sua feitoria instalada em território holandês o que acabava reforçando a burguesia 
holandesa (flamenca). 
 
19
 REZENDE Fo., (1997:117) cita números semelhantes para um período aproximado, afirma que entre os 
anos de 1503 e 1620 nada menos que 13mil toneladas de prata e 170 toneladas de ouro foram levadas 
para a Espanha. 
 22 
 Portugal com um ativo comércio oriental, e necessitando de capitais, estabeleceu 
uma sociedade comercial com os banqueiros e comerciantes holandeses, para a montagem 
do complexo açucareiro no Brasil. Nessa associação, ficaram os portugueses encarregados 
da produção – terras, colonizadores, escravos e primeira refinação do açúcar -, ao 
holandeses cabia o financiamento do empreendimento, a comercialização nos mercados 
europeus e a segunda refinação do açúcar, enquanto que o transporte do produto da 
América para a Europa seria dividido entre ambos(REZENDE Fo.,1997). 
 Em seguida franceses e ingleses se juntaram aos holandeses no processo de 
exploração e pilhagem dos novos mundos, fundando colônias, feitorias, dominando rotas 
comerciais, atacando as frotas espanholas e portuguesas. Estes países no seu conjunto 
(Espanha, Portugal, Holanda, Inglaterra e França) recolheram uma extraordinária riqueza 
das terras descobertas cuja acumulação posteriormente contribuiu de forma decisiva para a 
Revolução Industrial que teve seu início no século XVIII. 
 Os pensadores econômicos do período compreendido entre o século XVI e a 
primeira metade do século XVIII desenvolveram um conjunto de idéias que tornaram o 
comércio exterior um dos mais poderosos instrumentos da política econômica. A idéia 
central consistia em que os grandes estoques de metais preciosos constituiriam a própria 
expressão da riqueza nacional. Inicialmente em Portugal e Espanha, essas idéias foram 
seguidas por outros Estados Europeus como: Holanda, França, Inglaterra e Alemanha, 
assumindo em cada um deles uma característica em função de seus recursos naturais. 
 No século XVI o afluxo de ouro e prata das colônias espanholas foi de tal ordem e 
influenciou de tal maneira a Europa que em diversos países surgiram pessoas que 
buscavam explicação para os fenômenos econômicos que decorriam desse movimento de 
metais preciosos e em particular teorizavam sobre a importância de mantê-los ou trazê-los 
para o País. Preservar e aumentar a acumulação dos metais preciosos era sua preocupação 
central. DEYON(1985) cita várias manifestações nesse sentido: 
 Na Inglaterra em 1581 um autor inglês escreve sob o título A compendious or brief 
examination of certain ordinary complaints que se acabasse com a importação das mercadorias 
fabricadas no estrangeiro, que poderiam ser fabricadas na Inglaterra, e ao mesmo tempo, 
restringir a exportação das lãs, peles e outros produtos em estado bruto, e chamando 
artesãos de fora sob o controle das cidades, fabricando mercadorias que poderiam ser 
exportadas, as cidades poderiam voltar a reencontrar sua antiga riqueza . 
 Na França, em 1515, Claude de Seyssel declara em La grande monarchie de France, “ 
que o poder do país reside em suas reservas de ouro e prata”. 
 Na Espanha, Luiz Ortiz, no seu memorial Para que a moeda não saia do reino defende a 
multiplicação das manufaturas e a interdição da exportação das matérias-primas têxteis. 
 Esses pensadores, acentua

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