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Página 2 de 9 Este material de apoio foi especialmente preparado por monitores capacitados com base na aula ministrada. No entanto, não se trata de uma transcrição da aula e não isenta o aluno de complementar seus estudos com livros e pesquisas de jurisprudência. MÓDULO I AULA 06 (CONDIÇÕES DA AÇÃO E PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS) PROFESSOR ROGÉRIO TERRA ESCLARECIMENTOS INTRODUTÓRIOS: abordam-se os passos que se seguem para a análise judicial dos feitos que aportam no Judiciário: os pressupostos processuais, as condições da ação e por fim, sob o ângulo do mérito. As duas primeiras categorias compõem o juízo de admissibilidade da tutela jurisdicional. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS: a compartimentalização dessa categoria, que se deu pela doutrina alemã no século XIX, é responsável por conferir autonomia ao processo civil, possibilitando a existência do direito de ação independentemente da correspondência do direito material invocado. Assim, processo é uma relação jurídica diferente da relação jurídica de direito material. Essa se desenvolve diretamente entre as partes. Já a relação jurídica processual, em um primeiro momento (entre a propositura até a citação) será formada pelo autor e o Estado-juiz e, com a citação, o réu se integra à relação jurídica, agora triangularizada. Desse modo, a presença do Estado-juiz torna a relação jurídica processual de direito público. CPC/73, art. 263 NCPC, art. 312 Considera-se proposta a ação onde ela for despachada ou distribuída no caso de existirem mais de uma vara no juízo. O protocolo da petição é que delimita o marco inicial do processo, não mais dependendo de despacho, distribuição ou registro. CPC/73, art. 263. Considera-se proposta a ação, tanto que a petição inicial seja despachada pelo juiz, ou simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara. A propositura da ação, todavia, só produz, quanto ao réu, os efeitos mencionados no art. 219 depois que for validamente citado. NCPC, art. 312. Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada, todavia, a propositura da ação só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no art. 240 depois que for validamente citado. Página 3 de 9 Portanto, após o protocolo, já existe processo e o juiz está em condições de examinar os pressupostos processuais e condições da ação. E também existirá atividade jurisdicional, porque o juiz dará oportunidade ao autor para sanar eventuais vícios. Ocorre que os efeitos do processo só serão oponíveis ao réu quando ele for validamente citado. CPC/73, art. 219 NCPC, art. 59 O juízo se tornava prevento com a citação do réu, além de outros 04 efeitos (induz litispendência, faz litigiosa a coisa e, ainda que ordenada por juiz incompetente, interrompe a prescrição e constitui em mora o devedor). O juízo se torna prevento com a distribuição ou registro. Portanto, os 05 efeitos da citação válida se reduziram a 04, pois fato de tornar o juízo prevento se torna perfeito antes mesmo da citação. CPC/73, art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição. NCPC, art. 59. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo. DIVISÃO EM SUBCATEGORIAS: pressupostos processuais de existência e de validade. A primeira (de existência) precede a da validade, a qual se afere posteriormente. Em outras palavras, primeiro se verifica se existe ou não relação jurídica processual, porque ela pode existir sendo válida ou inválida. E, em um segundo momento, será analisada a validade ou a invalidade da relação jurídica processual e, se essa for constatada, existirá oportunidade de saná-la. Elas são categorias autônomas (exs.: uma inicial com uma pretensão é pressuposto de existência, mas a sua aptidão é pressuposto de validade). Podem ser inexistentes ou inválidos tanto o processo como um todo como cada um de seus atos em particular (ex.: citação, prova, sentença). Claro que os atos subsequentemente dependentes caem por arrastamento se inexistente ou inválido o ato que o precedeu. PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA: (i) existência de um pedido, uma inicial que veicule uma pretensão ou uma demanda. É o que representa o princípio dispositivo: só haverá processo por iniciativa da parte; (ii) jurisdição, ou seja, órgão regularmente investido da função jurisdicional. A investidura é um ato que confere ao juiz, por intermédio de sua nomeação, o poder de judicar. Na primeira instância, se dá com a posse após concurso público. E nos tribunais locais ou superiores, por meio de promoções ou nomeações; (iii) citação, que é ato por intermédio do qual se chama a juízo o réu ou eventual interessado para integrar a relação jurídica processual. Portanto, por meio dela, se dá ciência do trâmite de uma ação e resulta no ônus de se defender. É um dos elementos Página 4 de 9 mais relevantes para instauração da relação jurídica processual; (iv) capacidade postulatória, isto é somente podem postular em juízo profissionais autorizados e legalmente habitados para tanto. Ex.: advogados e membros do Ministério Público. Existem exceções como a postulação direta pelo trabalhador (CLT), por aquele que veicula pretensão com valor até o limite de 20 salários mínimos nos juizados especiais, pelo alimentando e por aquele que impetra HC. PRESSUPOSTOS DE VALIDADE: (há quem proponha a nomenclatura requisitos de validade): Há divergências doutrinárias, por exemplo, há quem aponte a capacidade postulatória como requisito de validade; outros diferenciam citação como pressuposto de existência e citação válida como pressuposto de validade. O que importa é que são elementos que devem ser analisados antes do mérito, importando menos a tecnicalidade das classificações. Eles são chamados pela lei de pressupostos de desenvolvimento válido e regular do processo (art. 267, IV, CPC73). São eles: 1. Petição inicial apta ou instauração de uma demanda regular (art. 295, parágrafo único, CPC/73); CPC/73, art. 295. (...) Parágrafo único. Considera-se inepta a petição inicial quando: I - lhe faltar pedido ou causa de pedir; II - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; III - o pedido for juridicamente impossível; IV - contiver pedidos incompatíveis entre si. 2. Competência do juízo e imparcialidade do juiz. A competência é a distribuição das frações da jurisdição por intermédio dos diferentes ramos do Judiciário. Já a imparcialidade está relacionada com a equidistância que o juiz deve manter em relação às partes, não podendo incorrer nos motivos de impedimento e suspensão. É importante destacar que a suspensão e incompetência relativa são convalidáveis, ao passo que o impedimento e incompetência absoluta não são convalidáveis e por isso, ensejam a ação rescisória (art. 495 do CPC/73). CPC/73, art. 495. O direito de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da decisão. 3. Capacidade de ser parte ou legitimatio ad processum é aptidão de ser parte, como autor, réu ou terceiro interveniente, que é dada a todos os titulares de direito material quer com personalidade jurídica (pessoas físicas ou jurídicas), quer aqueles que Página 5 de 9 detém personalidade judiciária. Exs.: condomínio, massa falida, nascituro, sociedades de fato, sociedades irregulares, sociedades não personificadas, o espólio, herança jacente, agrupamentos indígenas (art. 37 do Estatuto do Índio), os entes públicos sem personalidade jurídica independente (as mesas das casas parlamentares, as comissões de licitação ou internas de concursos). 4.Capacidade para estar em juízo ou capacidade processual: que a aptidão de, diretamente, estar presente em juízo para defesa de seus direitos, na qualidade de parte capaz, ou seja, independentemente de representação ou assistência. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS INTRÍNSECOS OU POSITIVOS: estão presentes e dentro do próprio processo em que se cogitam. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS EXTRÍNSECOS OU NEGATIVOS: são aqueles que estão fora do processo e será preciso que não ocorram aqueles fatos para que o processo siga validamente. Então, é preciso que estejam ausentes: (i) a coisa julgada; (ii) a litispendência; (iii) a perempção; (iv) a convenção de arbitragem. Essa afasta a jurisdição do Estado-juiz. Há parte da doutrina que defende que a convenção de arbitragem está situada nas condições da ação, pois implica falta de interesse de agir. Os pressupostos processuais são, como regra geral, cognoscíveis de ofício pelo juiz, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição e, pelo código novo, antes do trânsito em julgado da sentença. CPC/73, art. 267, § 3° NCPC, art. 485, § 3° O limite para o exame dos pressupostos era a prolação da sentença de mérito. O limite para o exame dos pressupostos será o trânsito em julgado da sentença. CPC/73, art. 267 (...) §3° O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que Ihe caiba falar nos autos, responderá pelas custas de retardamento. NCPC, art. 485 (...) §3o O juiz conhecerá de ofício da matéria constante dos incisos IV, V, VI e IX, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado. Página 6 de 9 No que diz respeito à cognição de ofício, não temos apenas o fundamento 485, inciso IV do NCPC quando ausentes os pressupostos processuais, mas algumas previsões esparsas pelo Novo Código: 1. Falta de regularização pelo autor de sua representação processual (NCPC, art. 76, § 1°, I); Art. 76. Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício. § 1º Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância originária: I - o processo será extinto, se a providência couber ao autor; (...) 2. Insubmissão do autor ao comando judicial para citação de todos os litisconsortes necessários (NCPC, art. 115, parágrafo único); Art. 115. (...) Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo. 3. Inércia dos sucessores do autor falecido para se habilitarem nos autos ou a inércia do autor quando falecido seu advogado para constituição de novo procurador (NCPC, art. 313). Art. 313, (...) §3°. No caso de morte do procurador de qualquer das partes, ainda que iniciada a audiência de instrução e julgamento, o juiz determinará que a parte constitua novo mandatário, no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual extinguirá o processo sem resolução de mérito, se o autor não nomear novo mandatário, ou ordenará o prosseguimento do processo à revelia do réu, se falecido o procurador deste. Exceções (matérias que reclamam que haja postulação do interessado): (i) incompetência relativa (NCPC, art. 337, § 5°); (ii) convenção de arbitragem (NCPC, art. 337, § 5°); Art. 337. (...) §5° Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, o juiz conhecerá de ofício das matérias enumeradas neste artigo. Página 7 de 9 (iii) ausência de outorga conjugal nos negócios ou em ações imobiliárias (CC, art. 1650). CC, art. 1.650. A decretação de invalidade dos atos praticados sem outorga, sem consentimento, ou sem suprimento do juiz, só poderá ser demandada pelo cônjuge a quem cabia concedê-la, ou por seus herdeiros. O NCPC positivou a vedação à prolação de decisões surpresas no processo, prestigiando o amplo exercício do contraditório no art. 10. Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. É necessário focalizar a expressão “a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição”. Quando estivermos em sede de recursos extraordinários (recurso especial e extraordinário), o pré-questionamento exige a postulação da parte, daí não ser possível a cognição de ofício. No entanto, há corrente jurisprudencial que vem sendo afirmada com muita expressão: uma vez conhecido os recursos, os Tribunais aplicarão o direito à espécie (NCPC, art. 1034, RISTJ, art. 257 e STF, Súmula 456). Art. 1.034. Admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça julgará o processo, aplicando o direito. RISTJ, art. 257. No julgamento do recurso especial, verificar-se-á, preliminarmente, se o recurso é cabível. Decidida a preliminar pela negativa, a Turma não conhecerá do recurso; se pela afirmativa, julgará a causa, aplicando o direito à espécie. STF, Súmula 456. O Supremo Tribunal Federal, conhecendo do recurso extraordinário, julgará a causa, aplicando o direito à espécie. Ademais, é importante verificar o modo de contrastar os atos processuais designados por inexistentes. A inexistência não é uma categoria aceita por unanimidade (há quem proponha a diferenciação entre ato relativamente ou absolutamente nulo). Porém, a categoria da existência permite que possamos contrastar aos gravíssimos vícios que decorrem do não preenchimento dos pressupostos processuais de existência, independentemente de um prazo preestabelecido e do meio para fazê-lo. Assim, a ausência de qualquer pressuposto de existência levaria a inexistência do ato processual e dos atos processuais subsequentes que dele seriam dependentes. O vício Página 8 de 9 mais grave é o da citação. Para o professor não existe citação válida ou inválida, mas aquela que ocorreu, ou seja, se consumou de acordo com as normas legais, e a não ocorrida. A falta de citação levará a uma ação declaratória de inexistência do processo, pois se trata de um vício tão grave que contamina a higidez da relação jurídica processual. Os mais liberais defendem que esse vício pode ser alegado em simples petição nos autos onde não se consumou a citação. CONDIÇÕES DA AÇÃO: de 1973 a 2015, eram o interesse de agir, a legitimidade para a causa e a possibilidade jurídica do pedido (CPC/73, art. 267, VI). CPC/73, art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (...) Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual; (...). O Novo CPC não mais menciona a expressão “condições da ação” (art. 485, VI), além de excluir a possibilidade jurídica do pedido. Assim, as três condições da ação se tornam apenas duas, sendo que a possibilidade jurídica do pedido migrou ao mérito (e gera a procedência ou improcedência). Em outra visão (Fredie Didier Júnior), houve a supressão completa dessa categoria. O exame jurisdicional sob o ângulo da admissibilidade comportaria apenas os pressupostos processuais e neles estariam abrigados o interesse de agir e a legitimidade para a causa. O próprio conceito de condições não se sustentaria, porque se o órgão jurisdicional se incumbe de duas espécies de juízo (admissibilidade e mérito). Art. 485. O juiz não resolveráo mérito quando: (...) VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; (...). Admitindo a existência das condições da ação, o que diferenciaria os institutos é que os pressupostos são pré-requisitos para a adequada instauração e desenvolvimento do processo, para que se tenha uma relação jurídica processual hígida. As condições, por sua vez, seriam pré-requisitos, em tese (teoria da asserção – avaliadas pelo que o autor afirma), para que o autor postule e obtenha a prestação jurisdicional de mérito. De forma geral, são matérias cognoscíveis de ofício, exceto quanto o abandono do processo pelas partes por um 01 ano ou pelo autor por 30 dias (NCPC, arts. 485, II, III e §1°). Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: (...) II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; (...) § 1o Nas hipóteses descritas nos incisos II e III, a parte será intimada pessoalmente para suprir a falta no prazo de 5 (cinco) dias. (...). Página 9 de 9 Por fim, ressalta-se que o Novo CPC prioriza o julgamento do mérito, afirmando a instrumentalidade do processo, que deve buscar pacificar as relações jurídicas controvertidas. Art. 488. Desde que possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a decisão for favorável à parte a quem aproveitaria eventual pronunciamento nos termos do art. 485. TEORIA DAS FALSAS CARÊNCIAS DE AÇÃO: Como a supressão da categoria é um tema em aberto, destaca-se a teoria das falsas carências de ação de Cândido Rangel Dinamarco. Segundo ele, algumas extinções sem resolução do mérito, pelo objeto das temáticas das decisões, em verdade, não seriam decisões meramente terminativas, mas deveriam ser decisões definitivas. Os tribunais brasileiros tratam alguns casos de ausência do direito do autor perante o réu como casos de carência de ação, quando, em realidade estão julgando a demanda improcedente. Isso acontece com frequência: (i) em mandados de segurança denegados por ausência de liquidez e certeza de um direito; (ii) ação de usucapião quando se verifica que o autor não tinha em seu favor os requisitos do tempus ou do título; (iii) em demandas por condenação por danos decorrentes de acidentes automobilísticos propostas em face de quem já foi, mas não é mais proprietário do veículo; (iv) em casos em que o juiz nega a possibilidade jurídica da demanda, indo além dos limites razoáveis dessa condição da ação. São falsas hipóteses de carência de ação, porque, em todos esses casos, ou falta a prova de fatos e fatos não provados são como inexistentes, sendo sempre improcedente a demanda nessa situação, ou falta algum requisito de direito material para existência do direito alegado e sem esse requisito o direito inexiste.
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