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DIREITO TRIBUTÁRIO e FISCLA

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LIMITES CONSTITUCIONAIS À COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA
As limitações à competência tributária, previstas nos artigos 9º a 11 do CTN, consistem-se em princípios e normas jurídicas, consubstanciadas em vedações constitucionais, que têm por objetivo a garantia do cidadão contra o abuso do poder de tributar do Estado.
Nesse diapasão, cumpre registrar que princípios constitucionais são aqueles que guardam os valores fundamentais da ordem jurídica. Isto só é possível na medida em que estes não objetivam regular situações específicas, mas sim desejam lançar a sua força sobre todo o mundo jurídico.
São exemplos de princípios albergados pelo ordenamento jurídico pátrio, a saber: o republicano, o federativo, da legalidade, da anterioridade, da ampla defesa, dentre outros. Para efeitos do presente estudo, consentâneo tecer algumas considerações acerca de princípios tributários expressos que constituem limites de índole constitucional à competência tributária.
PRINCÍPIOS REFERENTES AO DIREITO TRIBUTÁRIO
Princípio da Legalidade (art. 150, I, da CF/88)
É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça.
O artigo 150, inciso I, da Constituição Federal prevê o Princípio da Legalidade
Princípio da Igualdade ou da Isonomia (art. 150, II, da CF/88)
Não deve haver tratamento desigual a contribuintes que se encontrem em situação equivalente, assim como qualquer distinção em razão da ocupação profissional ou função por eles exercida, independente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos.
O princípio da isonomia fundamenta-se no princípio constitucional geral da igualdade de todos perante a lei, presente nos art. 5.º (caput e I) e 19, III, ambos da CF.
No campo tributário, os entes tributantes devem tratar de forma igual os contribuintes que estejam em situação equivalente e tratar de forma desigual os desiguais, na medida das suas desigualdades. Não cabe, portanto, em matéria tributária, qualquer diferenciação no tratamento entre aqueles que se encontram em situações idênticas (art. 150, II, CF).
Princípio da Irretroatividade (art. 150, III, “a” da CF/88)
É vedado a cobrança de tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado.
A irretroatividade da lei visa assegurar o princípio constitucional da segurança jurídica, o art. 150, III, alínea a, da CF, veda a cobrança de tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os cria ou que os majora.
Percebam que quando falamos em princípio da irretroatividade, devemos ter em mente a lei tributária que venha a instituir ou a majorar tributos ; em algumas situações, previstas no art. 106 do CTN, leis tributárias até poderão retroagir: mas essas leis não se referem à instituição ou majoração de tributos. 
Ressalve-se aqui que as situações previstas no art. 106 do CTN, a da retroatividade, em qualquer caso, da lei meramente interpretativa prevista no inciso I do dispositivo, e ainda, a chamada retroatividade benigna apontada nas alíneas do inciso II, tocante à prática de infrações tributárias e suas respectivas penalidades, não se referem à instituição ou majoração de tributos, não se constituindo, portanto, como exceção ao princípio em apreço. 
Princípio da Anterioridade (do exercício e nonagesimal) (art. 150, III, “b” e “c” da CF/88),
É vedada a cobrança de tributos no mesmo exercício financeiro (ano) e antes de decorridos noventa dias em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. Exceções: imposto de importação (II), imposto de exportação (IE), imposto sobre produto industrializado (IPI), imposto sobre operações financeiras (IOF), ICMS monofásico sobre combustíveis e lubrificantes, CIDE petróleo, empréstimo compulsório para casos de calamidade publica ou guerra externa, imposto extraordinário de guerra e contribuições para o financiamento da seguridade social, que juntamente com o IPI obedecem somente a noventena.
Já o princípio da anterioridade, previsto no art. 150, III, ‘b’, da CF, e no o art. 9º, II, do CTN, tem o escopo de assegurar a previsibilidade das normas tributárias, evitando-se surpresas ao contribuinte, de sorte que "para ser validamente incidente sobre os fatos jurídicos ocorridos num determinado período (geralmente no período fiscal, que coincide com o ano civil) deve ser publicada no exercício financeiro anterior
Constituem, todavia, exceção a esse princípio os impostos de importação, de exportação, sobre produtos industrializados, sobre operações financeiras, extraordinário por motivo de guerra, contribuições para o financiamento da seguridade social etc., conforme os artigos 148, 149 150 e 195, todos da Constituição Federal.
O princípio da anterioridade tributária disciplina que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios estão proibidos de cobrar qualquer tributo no mesmo exercício financeiro ou antes de noventa dias da data de publicação da lei que os institui ou aumenta.
O princípio da anterioridade tributária comum
Primeiramente, cumpre elucidar que adotamos a nomenclatura “comum” para diferenciar esta anterioridade, que foi a regra para todos os tributos até a EC 42/2003, da anterioridade nonagesimal, que informava especificamente a criação e alteração das contribuições sociais para o custeio da seguridade social.
O princípio da anterioridade comum já estava previsto no artigo 150, III, “b”, desde a redação originária da Constituição Federal de 1988, disciplinando que a lei que cria ou majora determinado tributo, ao entrar em vigor, fica com a sua vigência postergada até o início do próximo exercício financeiro (CARVALHO, 2005, p. 159), quando, só então, produzirá todos os seus efeitos próprios.
O doutrinador Roque Antonio Carrazza leciona: “O princípio da anterioridade veda a aplicação da lei instituidora ou majoradora do tributo (caso, por exemplo, da que extingue ou reduz isenções tributárias) sobre fatos ocorridos no mesmo exercício financeiro em que entrou em vigor.” (CARRAZZA, 2004, p. 177)
Noutras palavras, o princípio da anterioridade comum determina um prazo impeditivo, o próximo exercício financeiro, garantindo ao contribuinte um tempo hábil a se preparar para esse novo pagamento, o qual era antes inexigível.
O princípio da anterioridade nonagesimal
Com a intenção de garantir, ainda mais, o Jus do contribuinte, a Emenda Constitucional 42, a chamada Reforma Tributária, inseriu a alínea c ao artigo 150, inciso III, estabelecendo que os tributos não poderão ser cobrados antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou[9].
Noutros dizeres, Constituição Federal exige que se observe à antecedência mínima de noventa dias entre a data de publicação da lei que o instituiu ou aumentou e a data em que passa a vigorar.
O princípio da anterioridade nonagesimal garante que a criação ou a majoração de determinados tributos somente será aplicada após noventa dias da publicação da respectiva lei instituidora ou majoradora.
O princípio da anterioridade nonagesimal visa proteger todos nós, contribuintes, de majorações e criações de tributos nos últimos dias do ano. Isso significa que, uma determinada lei, publicada em 29 de novembro de 2006, que cria ou aumenta um tributo, só terá incidência em 28 de fevereiro de 2007, data esta em que já terão transpassado noventa dias da sua data de publicação.
Com a Emenda Constitucional 42/2003, percebe-se um significativo avanço na defesa dos interesses dos contribuintes, haja vista que a norma constitucional estampada na alínea b do inciso III do artigo 150, não atingia, em certos casos, o seu objetivo, o seu valor essencial de garantir a não surpresa do cidadão contra uma inesperada exigência tributária para a qual não estava preparado, uma vez que muitas leis que criavam ou majoravam tributos eram publicadas no final do ano, quando não em seu último dia.
“[...] a não surpresado contribuinte ficava limitada ao saber que o tributo iria aumentar no dia seguinte, o que de forma alguma cumpre o Princípio da Anterioridade.”
Roque Antonio Carrazza, in Curso de Direito Constitucional Tributário, leciona: “O princípio da anterioridade, exigindo que a lei tributária, para incidir, seja conhecida pelo menos noventa dias antes do término do exercício financeiro da ocorrência fato imponível, permite que os contribuintes saibam o que os aguarda, no campo da tributação, e, bem por isso, confiem no Estado Fiscal.” (CARRAZZA, 2004, p. 185)
Sobre o tema em estudo, o professor Alexandre de Moraes ensina: “[...] princípio da anterioridade mitigada ou nonagesimal não exclui a incidência do tradicional princípio da anterioridade, determinando o art. 150, III, c, que ambos sejam aplicados conjuntamente, ou seja, em regra, os tributos somente poderão ser cobrados no próximo exercício financeiro de sua instituição ou majoração, e, no mínimo, após 90 dias da data em que haja sido publicada a lei, evitando-se, assim, desagradáveis surpresas ao contribuinte nos últimos dias do ano.” (MORAES, 2006, p. 787)
Princípio da Liberdade de Tráfego (art. 150, V da CF/88)
É vedada estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público.
Consiste na vedação em se estabelecer tributos tendo por referência o deslocamento de pessoas e bens entre Estados e Municípios. Nos dizeres da CF, veda-se 0 estabelecimento de “limitações de tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público.”(art. 150,V).
Objetivo: Este princípio busca a defesa da unidade federativa, evitando que Estados e Municípios façam uso de tributos de suas competências na busca de privilégios para suas jurisdições. Este princípio leva em conta que o Brasil é uma federação e não uma confederação, que permitiria tais barreiras alfandegárias.
Exceções: pedágio (art. 150,V) e ICMS (doutrina), sendo que neste caso o fato gerador é a circulação de mercadorias. 
Princípio da Uniformidade Geográfica (Art. 151,I da CF/88)
É vedado à União instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País.
Princípio da Seletividade (Art. 153, §3º da CF/88)
A tributação deve ser maior ou menor dependendo da essencialidade do bem. Possui aplicação obrigatória quanto ao IPI e facultativa para o ICMS e IPVA.
Princípio da Não-Diferenciação Tributária (Art. 152 da CF/88)
É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino.
Princípio da Não-Cumulatividade (Art. 155, §2º, I, art. 153, §3º, II, e art. 154, I da CF/88) Quanto ao ICMS, IPI e Impostos Residuais da União deve-se compensar o que for devido em cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal.
Princípio das Imunidades Tributárias (Art. 150, VI, “a” da CF/88)
É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre: patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; templos de qualquer culto; patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
A imunidade tributária indica o estado de insujeição de determinado fato, pessoa ou coisa à incidência tributária, em razão da exclusão da competência do ente tributante pela Constituição.
Consiste numa regra negativa de competência, que se contrapõe obrigatoriamente a uma regra positiva de competência.
Por exemplo, a não-incidência do IPI sobre produtos industrializados destinados ao exterior revela uma imunidade, pois a regra negativa de competência do art. 153, § 2º, III, da CF contrapõe-se à regra positiva de competência, decorrente do art. 153, IV.
Imunidade recíproca
O art. 150, VI, “a”, veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre o patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros. A essa vedação é que se dá o nome de imunidade recíproca.
Essa imunidade é restrita a impostos, não alcançado as taxas e as contribuições.
Essa imunidade não se limita aos impostos cujo fato gerador seja o patrimônio, a renda ou o serviço, estendendo-se a todos aqueles que afetem o patrimônio, a renda ou o serviço das pessoas da Federação.
A imunidade recíproca tem por fundamento o princípio federativo. A autonomia que é fundamental na existência da Federação não permite que um ente federado submeta uma outra ao seu poder de tributar.
Imunidade Tributária Recíproca: Autarquias e Empresas Públicas 
O § 2º do art. 150 da CF estende a imunidade recíproca ao patrimônio, à renda e aos serviços das autarquias e das fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, desde que vinculados às suas finalidades essenciais ou sejam delas decorrentes.
O § 4º do art. 150 da Constituição determina que a imunidade compreende apenas o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades imunes. O STF, todavia, vem entendendo que a imunidade persiste, mesmo que o imóvel esteja locado a terceiros, desde que o aluguel seja aplicado nas finalidades essenciais da entidade:
Súmula 724. Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da Constituição, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades essenciais de tais entidades.
Imunidade Tributária de Partidos Políticos e Entidades Sindicais 
A imunidade, prevista no art. 150, VI, c, da Constituição, diz respeito ao patrimônio, à renda e aos serviços dessas entidades, sobre os quais não poderá ser instituído nenhum imposto. Proibindo a instituição de impostos, a Constituição procura preservar a capacidade financeira dessas instituições, que é fundamental a um processo livre e democrático. O partido político, evidentemente, deve estar regularmente constituído.
As entidades sindicais, por sua vez, são unicamente aquelas representativas da categoria dos empregados.
Imunidade Tributária de Instituições de Educação e de Assistência Social
Segundo o art. 150, VI, c, da Constituição, o patrimônio, a renda e os serviços das instituições de educação e de assistência social estão imunes a impostos, desde que sejam sem fins lucrativos e atendam aos requisitos estabelecidos em lei. A redação literal do texto dá a entender que a imunidade alcança apenas as instituições de educação que sejam, ao mesmo tempo, de assistência social, pois a ligar os dois atributos usou-se o conetivo aditivo “e” e não o alternativo “ou”. Isso, todavia, não impede que a lei ordinária dê tratamento mais favorável às entidades, reconhecendo a imunidade da instituição que seja apenas de educação, ou apenas de assistência social, como o faz, por exemplo, o art. 12 da Lei nº 9.532, de 10 de dezembro de 1997.
Essas entidades não poderão ter fins lucrativos, o que não significa que não possam ter lucros. Entidade sem fins lucrativos é aquela que não distribui os lucros. O requisito estabelecido pelo inc. I do art. 14 do CTN é de “não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título”. A redação, como se vê, é ampla e genérica, abrangendo não só a distribuição de lucros,mas, também, outras distribuições.
Imunidade Tributária de Livros, Jornais, Periódicos e de Papel para sua impressão
Ao tornar imune a impostos os livros, os jornais, os periódicos e o papel destinado à sua impressão, a Constituição, no art, 150, VI, d, teve por objetivo impedir que, por meio da tributação, houvesse prejuízo ou cerceamento de direitos fundamentais do cidadão, como a livre manifestação do pensamento, a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, o direito à informação, ao conhecimento e ao saber. São objetos da proteção o livro, o jornal e o periódico, como instrumentos de difusão da cultura e do saber.
Por isso, não se pode considerar relevante o formato de apresentação desses instrumentos ou o material de que são confeccionados. Não é porque a imunidade alcança o papel destinado à impressão de livros, jornais e periódicos que estes devam ser de papel. Com o avanço da tecnologia, os livros convencionais, feitos de papel, cada vez mais são substituídos por suportes e meios eletrônicos. Assim, um CD que possua o conteúdo de um livro haverá de merecer idêntico tratamento tributário dado ao livro de papel. Na verdade, o que a Constituição prestigia não é um determinado objeto, hoje conhecido como livro, mas o livro pelo que ele significa, ou seja, como instrumento de difusão de idéias, conhecimento, cultura e saber, sendo irrelevante o seu formato ou o material de que é fabricado.
O Supremo Tribunal Federal, numa interpretação bastante rigorosa, não reconhece a extensão da imunidade para os insumos e equipamentos utilizados na impressão de livros, jornais e periódicos.  Admite a extensão apenas para o papel e o filme fotográfico utilizados na impressão de jornais e periódicos:
Súmula 657. A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da CF abrange os filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e periódicos
Observações: 1) as listas telefônicas foram consideradas imunes;
2) até mesmo álbum de figurinhas e apostilas foram considerados imunes;
3) a publicação de anúncios e publicidade em jornais é imune ao imposto sobre serviços de qualquer natureza.
PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA
O princípio da capacidade contributiva, também conhecido como princípio da capacidade econômica, é a forma de materialização do princípio da igualdade no Direito Tributário, compreendendo um sentido objetivo e um sentido subjetivo. O sentido objetivo, ou absoluto, informa que a capacidade contributiva é a presença de uma riqueza passível de ser tributada, logo, a capacidade contributiva seria um requisito para a tributação. Já o sentido subjetivo, ou relativo, dispõe qual parcela desta riqueza poderá ser tributada em face das condições individuais, funcionando como medida para gradação e limitação dos tributos (OLIVEIRA, 1998).
A capacidade contributiva em sentido objetivo funciona como fundamento jurídico para delimitar a atividade legislativa no momento da eleição fatos passíveis da dar nascimento a obrigações tributárias. Impedindo que o mero capricho do legislador venha a escolher situações que não sejam reveladoras de riqueza. Sendo assim, a elaboração de exações deve estar em harmonia com a Ciência das Finanças , pois é esta disciplina que estuda as situações que espelham as manifestações da riqueza das pessoas. Com isso não se quer dizer que o legislador esteja condicionado a tributar toda e qualquer manifestação de riqueza, pois a escolha de que situações serão efetivamente tributadas é sempre uma decisão política (COSTA, 2003).
Em suas notas, Misabel Derzi (BALEEIRO, 2001) afirma não se poder considerar que a capacidade contributiva em sentido absoluto, mesmo de forma genérica, esteja inteiramente delimitada no plano constitucional. Porque ainda que se alegue que a escolha de hipóteses de incidência no ordenamento brasileiro seja na maior parte realizada pela Constituição Federal, a capacidade contributiva em sentido objetivo não se limita apenas a realizar esta seleção. Sempre será necessária uma concretização gradual que somente se completa de fato com a legislação infraconstitucional, que efetivamente instituirá ou não as obrigações elencadas na Constituição.
Já a capacidade contributiva relativa deverá, em primeiro lugar, ser aplicada como medida de graduação do tributo, cujo quantum deverá respeitar a manutenção do mínimo vital . Deve também impedir que a progressividade tributária alcance patamares confiscatórios ou de cerceie outros direitos protegidos pela Constituição (COSTA, 2003).
Consoante o entendimento de Tipke e Yamashita (2002), embora o conteúdo do princípio da capacidade contributiva seja indeterminado ele é determinável. E, como foi dito anteriormente, ele impede a cobrança do tributo por cabeça e obriga que o Estado tribute as pessoas não em razão de sua renda potencial, mas sim de sua renda efetivamente disponível, levando em conta valores reais e não os nominais. Deve ser aplicado a todos os tributos que tenham precípua finalidade fiscal , sejam diretos ou indiretos . Obrigando o respeito ao mínimo existencial, pois não há efetivamente capacidade contributiva enquanto a renda não superar o necessário para manutenção do mínimo vital.
Deve-se abrir um parêntese para discutir a parte inicial do parágrafo 1º do art. 145 da Constituição da República que estabelece in verbis: “Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados conforme a capacidade econômica do contribuinte...".
Segundo Sacha Calmon Navarro Coelho (1995), são impostos pessoais os que incidem sobre pessoas, tal como o imposto de renda, e reais os que recaem sobre coisas, tal como o imposto sobre a propriedade de veículos. Entretanto ressalva que tal distinção é pouco científica porque, não importando seu fato gerador, o ônus dos impostos sempre recairá sobre pessoas. Mesmo no caso de impostos que recaiam sobre o patrimônio, seu encargo será na prática suportado por seu proprietário.
Considerada somente a capacidade contributiva em seu aspecto objetivo, bastaria a tributação proporcional ou progressiva que levasse em conta apenas o valor da coisa ou do fato gerador. Tanto no caso de impostos pessoais, como para os reais. Entretanto fica claro que se não forem levadas em conta as condições pessoais do contribuinte, ou seja, seus fatores subjetivos, tais como idade, gastos com saúde, encargos familiares, dentre outros não se estará realmente cumprindo o mandamento ínsito no princípio (BALEEIRO, 2001).
Misabel Derzi (BALEEIRO, 2001) aponta que a Constituição determina que a capacidade contributiva só é plenamente satisfeita quando são respeitados os critérios objetivos e subjetivos. Indo adiante, ela observa que para tal ser alcançado deverão ser utilizadas as técnicas da pessoalidade e da progressividade de forma combinadas, tanto no caso dos tributos reais como dos pessoais, visto que o sistema tributário brasileiro mantém-se fortemente objetivo e pouco progressivo. Hugo de Brito Machado (2004) ressalta ser necessário intensificar sua incidência com relação aos impostos reais.
Entretanto, apesar da posição supracitada de boa parte da doutrina, o Supremo Tribunal Federal afastou qualquer tipo de progressividade no tocante a impostos reais sem existência de expressa previsão constitucional. Tal posicionamento pode ser constatado no acórdão adiante, prolatado antes da vigência da Emenda Constitucional nº 29/2000 que passou a permitir a possibilidade de instituição de alíquotas progressivas do IPTU fora da hipótese elencada no parágrafo 4º do art. 182 da Constituição Federal:
“No sistema tributário nacional é o IPTU inequivocamente um imposto real. Sob o império da atual Constituição, não é admitida a progressividade fiscal do IPTU, quer com base exclusivamente no seu artigo 145, § 1º, porque esse imposto tem caráter real que é incompatível com a progressividade decorrente da capacidade econômica do contribuinte, quer com arrimo na conjugação desse dispositivo constitucional (genérico) como artigo 156, § 1º (específico). A interpretação sistemática da Constituição conduz inequivocamente à conclusão de que o IPTU com finalidade extrafiscal a que alude o inciso II do § 4º do artigo 182 é a explicitação especificada, inclusive com limitação temporal, do IPTU com finalidade extrafiscal aludido no artigo 156, I, § 1º. Portanto, é inconstitucional qualquer progressividade, em se tratando de IPTU, que não atenda exclusivamente ao disposto no artigo 156, § 1º, aplicado com as limitações expressamente constantes dos §§ 2º e 4º do artigo 182, ambos da Constituição Federal.” (RE 153.771 / MG, Rel. p/ o ac. Min. Moreira Alves, DJ 05/09/97)
É importante observar que apesar da Constituição só ter feito menção expressa da aplicação do princípio da capacidade contributiva aos impostos, nada impede que ele seja aplicado a outras espécies tributárias, afinal de contas o legislador, via de regra, deverá respeitar em quaisquer situações o princípio da igualdade (CARRAZZA, 2002) e o princípio da dignidade da pessoa humana. Até porque a doutrina majoritária entende a capacidade contributiva como um princípio de sobredireito ou metajurídico, que deverá ser aplicado independente de menção constitucional expressa (PAULSEN, 2002). 
Sacha Calmon Navarro Coêlho (1995: 90) afirma que junto dos princípios da isonomia, do respeito ao direito adquirido e da irretroatividade das leis, o princípio da capacidade contributiva faz parte da “constituição real dos povos medianamente cultos”. Lembrando que, mesmo sem menção expressa na Constituição de 1967, ele foi várias vezes invocado e respeitado, tanto pelo legislativo quanto pelo judiciário e o executivo.
Embora a capacidade contributiva tenha uma dimensão subjetiva, ou seja, que leva em consideração à capacidade econômica real do contribuinte, não é inteiramente pacífico se esta deverá ser sempre respeitada.

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