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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE ENGENHARIA CIVIL BRUNA DAROS ESTUDO E DESENVOLVIMENTO DE CONCRETO AUTO- ADENSÁVEL COM METACAULINITA CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2009 BRUNA DAROS ESTUDO E DESENVOLVIMENTO DE CONCRETO AUTO- ADENSÁVEL COM METACAULINITA Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Engenheiro Civil no curso de Engenharia Civil, da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientador (a): Mestre Fernando Pelisser CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2009 BRUNA DAROS ESTUDO E DESENVOLVIMENTO DO CONCRETO AUTO- ADENSÁVEL COM METACAULINITA Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para a obtenção do grau de Engenheiro Civil no curso de Engenharia Civil, da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Criciúma, 30 de novembro de 2009. BANCA EXAMINADORA Prof. Fernando Pelisser – Mestre – (UNESC) Prof. Michael Peterson – Doutor – (UNESC) Prof. Leonardo de Brito Andrade – Doutor – (UNESC) Eng° Decio Colatto – Mestre – (Votorantim Cimentos Brasil S A) 2 Dedico este trabalho aos meus pais e meus irmãos, sempre presentes. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, que nunca desistiu dessa filha, presente sempre em minha vida. À minha família e meu namorado (Kleber Januario Goulart), pelo amor, compreensão e incentivo para que eu sempre buscasse o melhor. A todos os amigos em especial ao Rafael e Kuka, pela convivência, incentivo, colaboração, cumplicidade, entendimento e por acreditarem. Ao professor Fernando Pelisser pela orientação e conhecimento repassado. Aos demais professores do curso de Engenharia Civil pela compreensão e auxílio. À Votorantim Cimentos Brasil S A (Engemix S. A) e seus funcionários, em especial ao Sr. Wanderley Fritzen, pelo apoio e aprendizado adquiridos. “No meio de toda dificuldade existe uma oportunidade”. (Albert Einstein) RESUMO O concreto auto-adensável (CAA) é atualmente uma tendência, em termos de tecnologia do concreto. O CAA significa a possibilidade de executar formas mais complexas, uma melhoria na trabalhabilidade e uma redução significativa de operários envolvidos nesse processo, porém essa tecnologia exige conhecimento profundo sobre os materiais constituintes, notadamente sobre aditivos químicos e adições. O CAA necessita de uma considerável quantidade de finos em sua composição, além do uso de aditivos superplastificante e modificadores de viscosidade. Este trabalho foi desenvolvido com objetivo de medir as características reológicas de pasta de cimento com a substituição parcial do cimento Portland, por metacaulinita, foi estudado o efeito de compatibilidade entre os aditivos e posteriormente aplicado estes resultados no traço de concreto, com intuito de produzir concreto auto-adensável de baixo custo, sem comprometer seu desempenho. A pesquisa foi realizada em etapas, primeiramente foi avaliada a compatibilidade entre os aditivos, após foi avaliado o efeito da substituição parcial do cimento por metacaulinita nos teores de 10 e 20%, e na terceira etapa, foi estudada a composição do concreto. Os resultados obtidos mostram um melhor desempenho na utilização de 1% de aditivo a base de policarboxilato, sendo que aditivo lignosulfonato prejudica a eficiência do aditivo à base de policarboxilato, na utilização do modificador de viscosidade, pode-se inferir que o mesmo não influência muito na tensão de cisalhamento, e adotando a inclinação da curva como resistência a segregação, podemos comprovar que a metacaulim terá um efeito mais significativo em relação à resistência a segregação. Os CAAs produzidos, obtiveram um custo final na resistência de 45 MPa de R$ 230,52, o custo de R$ 204,65 obteve na resistência de 30 MPa, e no 20 MPa obteve um custo de R$ 184,20. Palavras-chave: Concreto auto-adensável. Aditivos químicos. Metacaulim. . LISTA DE FIGURAS Figura 1: Medidas recomendadas para caixa L .................................................... 20 Figura 2: Cone de Abrans ....................................................................................... 22 Figura 3: Funil V ...................................................................................................... 24 Figura 4: Medidas da caixa U recomendadas ....................................................... 25 Figura 5: Tubo U ...................................................................................................... 27 Figura 6: Passo a passo para a dosagem do CAA ............................................... 31 Figura 7: Geometria do cone. ................................................................................. 33 Figura 8: Primeira mistura dos traços rico (a), médio (b) e pobre (c). ................ 35 Figura 9: Obtenção do CAA nos traços rico (a), médio (b) e pobre (c). ............. 35 Figura 10: Teste caixa L .......................................................................................... 36 Figura 11: Curva granulométrica do agregado graúdo. ....................................... 39 Figura 12: Curva granulométrica do agregado miúdo – areia lavada. ................ 40 Figura 13: Curva granulométrica do agregado miúdo – areia fina. .................... 41 Figura 14: Curva de cisalhamento no tempo 3 (40 minutos) ............................... 45 Figura 15: Curva de cisalhamento no tempo 2 (25 minutos). .............................. 46 Figura 16: Curva de cisalhamento com metacaulinita no tempo 3 (40 minutos) .................................................................................................................................. 47 Figura 17: Curva calorimétrica ............................................................................... 49 Figura18: Diagrama de dosagem para o CAA ....................................................... 54 Figura 19: Diagrama de dosagem o módulo de elasticidade .............................. 55 Figura 20: Custo por m³ do concreto convencional de acordo com a resistência .................................................................................................................................. 58 Figura 21: Custo por m³ do concreto auto-adensável de acordo com a resistência................................................................................................................ 59 Figura 22: Custo por MPa dos concretos aos 28 dias ......................................... 59 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Limites de resultados e dimensões para o Caixa - L ........................... 21 Tabela 2: Limites de resultados para o Teste de espalhamento de cone de Abrams ..................................................................................................................... 22 Tabela 3: Limites de resultados para o Teste de Espalhamento de Cone de Abrans T50cm .......................................................................................................... 23 Tabela4: Limites de resultados e dimensões para o Teste Funil V ................... 24 Tabela 5: Limites de resultados e dimensões para o teste caixa U .................... 26 Tabela 6: Composições dos ensaios em pastas. ................................................. 33 Tabela 7: Composições dos concretos. ................................................................ 34 Tabela 8: Características do Cimento CPV-ARI RS .............................................. 38 Tabela 9: Caracterização dos agregados Graúdos .............................................. 38 Tabela 10: Caracterização do Agregado miúdo – areia lavada ........................... 39 Tabela 11: Caracterização do Agregado miúdo – areia fina ................................ 40 Tabela 12: Aditivo Plastificante tipo lignosulfato ................................................. 41 Tabela 13: Aditivo à base de policarboxilato ........................................................ 41 Tabela 14: Aditivo Modificador de viscosidade .................................................... 41 Tabela 15: Granulometria da metacaulinita .......................................................... 42 Tabela 16: Composição química. ........................................................................... 43 Tabela 17: Resultados obtidos para o teste de espalhamento do cone Abrams T50cm ....................................................................................................................... 50 Tabela 18: Resultados para o teste de espalhamento de cone de Abrams ....... 50 Tabela 19: Resultados para o Caixa L ................................................................... 51 Tabela 20: Resultados para segregação ............................................................... 51 Tabela 21: Propriedades nos estados endurecidos ............................................. 53 Tabela 22: Tabela de consumos e custos do concreto convencional ................ 56 Tabela 23: Tabela de consumos e custo do concreto auto-adensável .............. 57 Tabela 24: Custo relativo para 1 m³ do CAA de 45 MPa....................................... 60 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CAA – Concreto auto-adensável NBR – Projetos de normas brasileira a/c – Relação água/cimento ABNT – Associação brasileira de normas técnicas mm – Milímetros s – Segundos cm – Centímetros a/f – Relação água/finos f/c – Relação fíler/cimento ar/br – Relação areia/brita CCV – Concreto convencional a/agl – Relação água/aglomerante Kg – Quilograma Kg/m³ - Quilograma/metro cúbico MPa – Unidade de resistência a compressão – Megapascal Fck – Resistência características a compressão do concreto Fcd – Resistência característica de desvio Sd – Desvio padrão Eci – Módulo de elasticidade GPa – Unidade do módulo de elasticidade – Gigapascal m³ - metro cúbico R$/Kg – Preço/quilograma R$/l – Preço/litros SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5 1.1 TEMA .................................................................................................................... 6 1.2 DELIMITAÇÕES DO TEMA .................................................................................. 6 1.3 PROBLEMAS DE PESQUISA .............................................................................. 6 1.4 OBJETIVOS .......................................................................................................... 7 1.4.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................ 7 1.4.2 OBJETIVO ESPECÍFICO ................................................................................... 7 2 REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................................... 8 2.1 História do concreto auto-adensável................................................................. 8 2.2 Definição .............................................................................................................. 9 2.3 Vantagens da utilização do CAA ...................................................................... 10 2.4 Materiais ............................................................................................................. 11 2.4.1 Cimento Portland ........................................................................................... 11 2.4.2 Água ................................................................................................................ 12 2.4.3 Agregado miúdo ............................................................................................. 12 2.4.4 Agregado graúdo ........................................................................................... 13 2.4.5 Aditivos ........................................................................................................... 14 2.4.5.1 Superplastificantes ..................................................................................... 14 2.4.5.2 Modificadores de viscosidades ................................................................. 15 2.4.6 Adições Minerais ............................................................................................ 15 2.4.6.2 Cinza Volante ............................................................................................... 16 2.4.6.3 Cinza de casca de arroz .............................................................................. 16 2.4.6.4 Sílica Ativa ................................................................................................... 17 2.4.6.5 Escória de alto forno ................................................................................... 17 2.5 Consistência e Trabalhabilidade ...................................................................... 18 2.5.1 Propriedades no estado fresco ..................................................................... 19 2.5.1.1 Caixa L .......................................................................................................... 19 2.5.1.2 Teste de Espalhamento de Cone de Abrams ............................................ 21 2.5.1.3 Teste de Espalhamento de Cone de Abrams T50cm ................................... 23 2.5.1.4 Testes Funil-V .............................................................................................. 23 4 2.5.1.5 Teste Caixa U ............................................................................................... 25 2.5.1.6 Teste U em forma de tubo .......................................................................... 26 2.5.1.7 Teste de segregação ................................................................................... 27 2.6 Método de dosagem .......................................................................................... 28 2.6.1 Métodos de Okamura (1995) .......................................................................... 28 2.6.2 Método de Gomes (2002) ............................................................................... 29 2.6.3 Método por Tutikian (2004) ............................................................................ 30 3 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 32 3.1 Estudo da pasta de cimento ............................................................................. 32 3.2 Obtenção do Concreto auto-adensável ........................................................... 33 3.3 Ensaios em concreto fresco ............................................................................. 36 3.4 Ensaios para o concreto endurecido............................................................... 37 3.5 Materiais utilizados ...........................................................................................37 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS ............................................. 43 4.1 Pastas de Cimento ............................................................................................ 43 4.2 Produção do concreto ...................................................................................... 49 4.2.1 Propriedades no estado fresco ..................................................................... 49 4.2.2 Propriedades no estado endurecido ............................................................ 52 4.3 Análise de consumo e custo ............................................................................ 55 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 61 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 63 ANEXOS ................................................................................................................... 68 5 1 INTRODUÇÃO A necessidade por melhoria nas estruturas, tanto na parte de acabamento quanto na velocidade de execução, onde a compactação tem uma grande importância para seu desempenho mecânico e durabilidade, fez com que profissionais da construção civil fossem buscar novas alternativas, como, conhecimento de novas práticas e estudos relacionados ao concreto pelo mundo. Assim em 1988, na busca por uma maior vida útil para as estruturas de concreto, foi desenvolvido no Japão, um concreto de alto desempenho com ótima deformabilidade no estado fresco e alta resistência à segregação. Este concreto, com capacidade de se moldar na fôrma, sem compactação e passar sem segregar, pelas armaduras, foi denominado de concreto auto-adensável. A aplicação é fácil, rápida, requer menos mão-de-obra e representa o fim de ninhos de concretagem e dos ruídos dos vibradores nas obras. O concreto auto-adensável tem uma importante característica, que é no simples fato de ser produzido nas mesmas centrais e com os mesmos materiais empregados na produção de concreto convencional, brita, areia, cimento, adições e aditivos. O princípio fundamental para confecção de concreto fluido e resistente a segregação é o uso de aditivos superplastificantes e modificadores de viscosidade, combinados com teor de finos, sejam eles cimento Portland, adições minerais, fíllers ou areia fina. A utilização do concreto auto-adensável no Brasil vem aumentando de forma restrita, por se tratar de um assunto relativamente recente no Brasil e de poucos métodos de dosagens para a obtenção do CAA. De acordo com as recentes informações observadas, este trabalho tem como principal objetivo em produzir concreto auto-adensável de baixo custo, utilizando adições reduzidas de aditivo e anulando o uso do modificador de viscosidade, com a utilização da metacaulinita. 6 1.1 TEMA: Viabilidade econômica do concreto auto-adensável minimizando o consumo do aditivo e redução no consumo de cimento. 1.2 DELIMITAÇÕES DO TEMA Desenvolvimento do concreto auto-adensável, utilizando adições reduzidas de aditivo, anulando o uso do modificador de viscosidade, com intuito de reduzir o consumo de cimento, substituindo por adição mineral, o metacaulim. 1.3 PROBLEMAS DE PESQUISA Nos últimos anos houve um crescimento de manifestações patológicas nas estruturas de concreto armado, principalmente com problemas na corrosão das armaduras, acarretando o envelhecimento precoce da construção. Estes problemas patológicos podem ocorrer devido ao congestionamento de ferragens onde retém a brita e deixa apenas passar a argamassa, formando deformações na parte superior dos elementos das estruturas. Estas deformações também podem ocorrer pela utilização de agregados graúdos em locais onde o espaçamento da armadura é insuficiente, as relações entre o tamanho máximo do agregado usado no concreto, as dimensões das peças estruturais e distâncias horizontais e verticais entre as barras de aço devem ser respeitadas algumas regras para que os vazios de concretagem sejam evitados. Para evitar esse tipo de patologia é preciso garantir a dosagem, lançamento e adensamento adequados do concreto. Justifica-se o desenvolvimento deste trabalho, que tem como foco uma analise de viabilidade econômica e estudo para obter o concreto auto-adensável, contribuindo assim pela minimização dos problemas acima citados. 7 1.4 OBJETIVOS: 1.4.1 OBJETIVO GERAL Estudar a compatibilidade entre aditivos e a metacaulinita para produzir CAA de baixo custo. 1.4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS � Estudar a influência dos aditivos nas características reológicas de pastas de cimento; � Analisar a eficiência do modificador de viscosidade, e substituí-lo, a fim de reduzir os custos; � Verificar o efeito da substituição do cimento por metacaulim (em pastas de cimento) através das características reológicas e da cinética de hidratação na combinação com os aditivos; � Aplicar a combinação mais eficiente de aditivos e de metacaulim, para a composição de um traço de concreto auto-adensável; � Desenvolver composições de CAA de baixa resistência e de baixo custo, sem comprometer suas características reológicas de fluidez e de resistência à segregação; � Analisar o módulo de elasticidade do CAA (considerando as prescrições na NBR-6118/2003); � Viabilizar tecnicamente a aplicação de CAA de custo reduzido, comparando-o com o concreto convencional 8 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 História do concreto auto-adensável Lisbôa (2004) afirma que o desenvolvimento do CAA, no Japão, se fez necessário, devido à escassez de mão-de-obra especializada, necessária para se executar estruturas com formas complexas e altas taxas de armaduras, sem prejudicar a qualidade do concreto. Havia uma preocupação com o meio ambiente, a eliminação de parte da poluição sonora, que seria obtida com a ausência do uso de vibradores, além da busca de redução de custos e de prazos de execução, que seria conseguida com a diminuição do número de trabalhadores e melhor trabalhabilidade do concreto, durante o processo de aplicação. Essas preocupações atingiram aos países da Europa e, hoje, já conseguiram atingir a todo o mundo, inclusive o Brasil. A partir de 1983, na Universidade de Tókio, o Prof. Okamura, iniciou seus estudos buscando obter um concreto especial, capaz de se adensar sem a necessidade de nenhum tipo de vibração mecânica, dando origem a um concreto denominado auto-adensável, o qual teve seu primeiro protótipo produzido em 1988 (OKAMURA, 1997). Após uma década de utilização no Japão, o CAA surge na Europa, em meados dos anos 1990, mais precisamente na Suécia e na Holanda, onde foi empregado em aplicações in loco (OKAMURA e OUCHI, 1999). A entidade européia EFNARC descreve o CAA como o maior desenvolvimento da construção em estruturas de concreto nas últimas décadas. Na Suécia, projetos e pesquisas sobre CAA tiveram início a partir dos anos 90. Estudos sobre a utilização de diferentes tipos de fíleres e critérios de seleção para agregados britados e seixos, em ensaios na Caixa L, foram significativos. A pesquisa da reologia do concreto e da pasta de cimento começou em 1992 e serviu de base para o método de dosagem de Petersson et al (1996). A tecnologia do CAA foi desenvolvida no Japão, por volta de 1983, em estudos do professor Hajime Okamura (universidade de Tóquio), sendo que sua maior aplicação na construção civil foi utilizada no ano de 1997, com a concretagem das ancoragens da ponte metálica de maior vão livre do mundo: a ponte akashi Kaikyo,com 1991 metros de vão livre, que consumiu 290.000 m³ de concreto auto- adensável. Os motivos da utilização, foram à velocidade de execução, a dispensa de 9 adensamento, que para este volume seria uma tarefa muito difícil, e a qualidade final de concreto. A utilização do concreto auto-adensável no Brasil vem aumentando nos últimos anos, mas ainda de forma restrita. O conceito e a tecnologia do concreto auto-adensável ainda é novidade para a grande maioria dos profissionais que atuam na construção civil, que justifica o desenvolvimento deste trabalho, que tem como foco uma análise de viabilidade desta nova tecnologia em concreto. 2.2 Definição Entende-se por concreto auto-adensável (CAA), o concreto capaz de preencher os espaços vazios das formas e se auto-adensar, apenas sob o efeito da gravidade e de sua própria capacidade de fluxo. A capacidade de se auto-adensar é obtida com o equilíbrio entre alta fluidez, com grande mobilidade, e moderada viscosidade e coesão entre as partículas do concreto fresco. A alta fluidez é alcançada com a utilização de aditivos superplastificantes de última geração e a moderada viscosidade e coesão entre suas partículas são conseguidas com o incremento de um percentual adequado de adição mineral de granulometria muito fina. Além disso, um alto volume de pasta e um menor diâmetro característico máximo do agregado graúdo são importantes para obtenção de CAA. Esse tipo de concreto deve atender aos mesmos requisitos de resistência e durabilidade dos concretos convencionais e de alto desempenho (EFNARC, 2002; GOMES, 2002). Um concreto só será considerado auto-adensável, se três propriedades forem alcançadas: a fluidez, a coesão necessária para que a mistura escoe intacta entre barras de aço ou habilidade passante e a resistência à segregação (EFNARC, 2002). Já a EFNARC (2002) define a resistência à segregação como a propriedade que caracteriza a capacidade do CAA de se manter coeso ao fluir dentro das formas, passando ou não por obstáculos. O CAA está relacionado com o aumento na produtividade, melhora do ambiente construtivo e pode fornecer contribuições à tecnologia sustentável do concreto, sendo caracterizado como um material ambientalmente amigável porque pode ser obtido com altos volumes de resíduos industriais (CAVALCANTI, 2006). O concreto auto-adensável é recomendado em várias aplicações, como 10 por exemplo, pode-se citar: peças densamente armadas e/ou esbeltas, em aplicações especiais como estruturas pré-moldadas, fôrmas em relevo, fachadas em concreto aparente, painéis arquitetônicos, bem como aplicações convencionais em estruturas constituídas por lajes, pilares e vigas em geral. O concreto auto-adensável é a nova tendência no mercado, sendo que apresenta uma alta fluidez e coesão, sendo capaz de preencher totalmente as fôrmas, mesmo tratando de peças densamente armadas, possibilitando à diminuição no tempo de construção, mão-de-obra envolvida, de equipamento, além de propiciar um melhor acabamento da superfície das peças, assim Marangon (2006) conceituava o CAA. Conforme os estudos de Geyer (2006), a adição de finos proporciona melhoria em diversas propriedades, tanto no estado fresco como no estado endurecido. Acredita-se que os finos atuam como pontos de nucleação, isto é, quebram a inércia do sistema fazendo com que as partículas do cimento reajam mais rapidamente com a água, gerando ganhos de resistência nas primeiras idades. Atuam ainda no aumento de empacotamento dos finos, fazendo com que exista um crescimento na densidade na pasta, dificultando a entrada dos agentes agressivos e melhorando a zona de transição. 2.3 Vantagens da utilização do CAA O concreto auto-adensável esta sendo conceituado como uma das grandes revoluções na tecnologia do concreto, por meio disto Tutikian, e Dal Molin, (2008) observaram vários ganhos, entre os quais se destacam: � Construções mais rápidas, pois o lançamento se torna rápido dispensando o adensamento; � Com a eliminação de vibradores, facilitando o espalhamento e o nivelamento do concreto, resultando na redução de mão de obra; � Melhora o acabamento final da superfície da obra; � Por ser fácil de adensar, evita o aparecimento de falhas de concretagem e grandes vazios resultantes da má vibração, assim aumenta a durabilidade; � Possibilita à liberdade de formas e dimensões, o CAA preenche fôrmas curvas, esbeltas, com taxas de armadura e de difícil 11 acesso; � Em peças em que tem seções reduzidas, possibilita a concretagem; � Facilitam as concretagens noturnas, obras pertos de escolas e hospitais ou em grandes centros urbanos, eliminando o barulho de vibrações; � Reduz o número de trabalhadores; � Há grande redução no custo final da obra, computados economicamente todos os ganhos citados acima. 2.4 Materiais Os materiais constituintes do concreto auto-adensável, são os mesmo utilizados para os concretos convencionais, com um diferencial, há uma quantidade maior de finos e de aditivos plastificantes, superplastificantes e modificadores de viscosidade. 2.4.1 Cimento Portland Weiler, (2006) define o cimento Portland em um material pulverulento que pode ser definido como sendo um aglomerante ativo e hidráulico, constituídos de silicatos e aluminatos complexos que ao serem misturados com a água, hidratam-se, formando uma massa gelatinosa, finamente cristalina. Esta massa, após um processo de cristalização, endurece, oferecendo então elevada resistência mecânica. O cimento é considerado aglomerante, pois é um material ligante que gera a união dos grãos de agregados, ativo por necessitar de um elemento externo para iniciar e hidráulico porque o elemento externo é a água. O CAA, de modo geral, possui uma grande quantidade de cimento, o que gera um alto volume de pasta e reduzido volume de agregado graúdo. E um grande volume de pasta necessita de grande quantidade de cimento, ocasionando alto custo e alto calor de hidratação no concreto. A solução encontrada é a utilização de fíllers e/ou pozolanas, para substituir parte do cimento. Os cimentos a base de belita vêm sendo utilizados para reduzir a grande geração de calor, pois quando a forma 12 impura do C2S é utilizada em maiores proporções no cimento, torna-o bem menos reativo, produzindo menor calor de hidratação (GOMES, 2002). EFNARC (2002) afirma que a adsorção do aditivo superplastificantes pelas partículas do cimento ocorre preferencialmente nos aluminatos. No entanto, a quantidade destes compostos deve ser moderada, para que permita uma adsorção mais uniforme. O teor de C3A em massa deve ser inferior a 10%. 2.4.2 Água Conforme Helene, 1992, a relação água cimento dentro de uma mistura recebeu um nome: fator água/cimento (a/c). Este fator é a base para a definição de todas as misturas composta com cimentos e água (concreto, argamassa, graúte, etc.) devendo ser muito bem compreendido por quem trabalha com o concreto. A água deve ser empregada na quantidade necessária para envolver os grãos, permitindo a hidratação e posterior cristalização do cimento, além da quantidade necessária para obtenção da consistência adequada a trabalhabilidade desejada (slump). Quando temos muita água na mistura, o excesso acaba indo para a superfície pelo processo de exsudação, deixando para trás vazios chamados de porosidade capilar. Esta porosidade prejudica a resistência do concreto, aumenta sua permeabilidade e diminui a durabilidade da peça concretada. 2.4.3 Agregado miúdo Para obtenção das propriedades de auto-adensabilidade do CAA, a literatura apresenta algumas recomendações. Okamura (1997) afirma que o volume de agregado miúdo é fixado em 40% do volume de argamassa. Os agregados devem satisfazeràs exigências da EN 12620, para os agregados miúdos, todos os tipos de areias podem ser utilizados, desde que isenta de agentes nocivos e impurezas (EFNARC, 2002). Segundo Lisbôa (2004), antes do uso, é necessário determinar algumas características físicas, como a massa específica, pela NBR NM 52 (ABNT, 2003), absorção de água, pela NBR NM 30 (ABNT, 2001), massa unitária em estado solto, pela NBR NM 45 (ABNT, 2002), composição granulométrica pela NBR NM 248 13 (ABNT, 2003) (granulométrica, dimensão máxima características e módulo de finura), teor de material pulverulento, pela NBR NM 46 (ABNT, 2003) e impurezas orgânicas, pela NBR NM 49 (ABNT, 2001). As amostras utilizadas nesses ensaios devem ser obtidas, seguindo-se a metodologia das normas NBR NM 26 (ABNT, 2001) e NBR NM 27 (ABNT, 2001). 2.4.4 Agregado graúdo Os agregados graúdos devem satisfazer às exigências da EN 12620. Geralmente são utilizados agregados com dimensão máxima entre 16 mm e 20 mm (EFNARC, 2002). As propriedades requeridas do CAA pedem o uso de menores diâmetros máximos característicos de agregado graúdo, sendo assim, a brita zero possui as características que atendem às propriedades requeridas deste tipo de concreto. A quantidade de agregado graúdo utilizada no concreto deve ser 50% do volume se sólidos (OKAMURA, 1997). Lisbôa (2004) afirma que, assim como os agregados miúdos, devem-se determinar as mesmas características físicas do agregado graúdo, antes de utilizá- los na composição do CAA. Na produção dos CAA é preferível o emprego de agregados graúdos de forma regular, de qualquer natureza, utilizada no concreto convencional. Agregados graúdos com forma irregular, como partículas angulosas e lamelares e com textura áspera, devem ser empregados em uma granulométrica mais fina para que seja menor o efeito na fluidez do concreto. A dimensão máxima características do agregado graúdo para o CAA é, em geral, de 20 mm, é o que recomenda Gomes e Maestro (2005) A distribuição granulométrica do agregado influencia o empacotamento dos grãos assim Metha e Monteiro, 2006 dizem que como resultado, pode alterar a fração volumétrica das britas que serão incorporados em uma mistura de concreto. 14 2.4.5 Aditivos 2.4.5.1 Superplastificantes Segundo Hartmann, 2002, os superplastificantes podem ser agrupados em quatro categorias, conforme sua composição química: 1. Lignossulfonatos ou lignossulfonatos modificados. Os lignossulfonatos geralmente incorporam ar e retardam, com diversas intensidades, a pega de cimento; 2. Sais sulfonatos de policondensado de naftaleno e formaldeído, usualmente denominados de naftaleno sulfonato ou apenas de naftaleno. Estes compostos não incorporam o ar e praticamente não interferem no tempo de pega do cimento; 3. Sais sulfonatos de policondensado de melamina e formaldeído, usualmente denominados de melamina sulfonato ou apenas de melamina. A melamina pode apresentar uma tendência e a retarda de pega do cimento e, eventualmente, incorporar pequena quantidade de ar; 4. Policarboxilatos são polímeros de cadeias longas e de grande massa molar. Esses aditivos têm como mecanismo básico de ação, a repulsão estérica, que alia os efeitos da repulsão eletrostática ao efeito de dispersão causado pela sua grande massa entre os grãos de cimento, impedindo, com maior eficiência, que se aproximem novamente e floculem. Os superplastificantes são aditivos conhecidos como redutores de água de alta eficiência, por serem capazes de reduzir o teor de água três a quatro vezes mais, se comparado aos aditivos plastificantes (MEHTA; MONTEIRO, 1994). Os aditivos redutores de água podem ser de três tipos: os de 1ª geração são os plastificantes, não indicados na obtenção do CAA; os de 2ª geração, já chamados de superplastificantes, são constituídos de polímeros sintéticos sulfonatos, e os de 3ª geração, que são os policarboxilatos. Os mais recomendados para a produção do CAA são os de 3ª geração, os policarboxilatos, pois, permite uma maior redução de água, maiores resistências iniciais e manutenção de fluidez 15 por um tempo prolongado, quando comparados aos aditivos superplastificantes de 2ª geração (NUNES, 2001). 2.4.5.2 Modificadores de viscosidades Os modificadores de viscosidades são produtos à base de polissacarídeos com cadeias poliméricas de alto peso molecular ou de base inorgânica. No concreto os modificadores de viscosidades, melhoram a coesão da massa no estado fresco, assim impede a devida segregação e limitando a perda de água por exsudação, o que permite a diminuição dos efeitos negativos da falta de uniformidade na dosagem da quantidade de água e da curva granulométrica dos agregados (Tutikian e Dal Molin, 2008). Poon e Ho (2004), dizem que a mistura contém poucas partículas pequenas, fazendo com que diminua a área superficial do material, conseqüentemente, o consumo de água. Assim, substituindo os componentes finos na mistura. Otaviano (2007), alerta que é necessário maior controle quanto ao teor do VMA no CAA, bem com a sua compatibilização com o superplastificante, para evitar problemas como retardamento da pega, alteração no desenvolvimento de resistência nas primeiras idades, coesão excessiva e aumento da retração por secagem. 2.4.6 Adições Minerais A adição de minerais tem por finalidade, aumentar a coesão da mistura e evitar a segregação do agregado graúdo. Na microestrutura do concreto, com adições de minerais se podem produzir efeitos químicos e físicos. Os tais efeitos químicos surgem da reação com o hidróxido de cálcio – Ca(OH)2, resultando deste composto frágil e solúvel que se forma durante a hidratação de cimento Portland, num composto resistente, o C-S-H (silicato hidratado de cálcio). 16 2.4.6.1 Metacaulim É um material de natureza pozolânica, de alta reatividade, obtida a partir da calcinação de argilas cauliníticas, e vem surgindo no Brasil como uma nova opção para os concretos onde se deseja elevada resistência e durabilidade. Segundo Dal Molin (2005), o metacaulim é um aditivo mineral aluminosilicosa obtida de calcinação, entre 600 °C e 900 °C, de alguns tipos de argilas, como as cauliníticas e os caulins. Segundo o fabricante Caulim do Nordeste de Pernambuco, o metacaulim pode substituir o cimento na proporção de 5% a 40% de sua massa, o metacaulim contribuirá para a melhoria da aparência, da durabilidade e para a resistência à compressão e tração do concreto. Além disso, reduz a permeabilidade e a porosidade, assim como a utilização de superplastificantes. 2.4.6.2 Cinza Volante É um material inorgânico, com boas propriedades pozolânicas, que pode ser apresentado no CAA para melhorar suas propriedades tanto no estado fresco, quanto no endurecido. Sua forma quase esférica proporciona a rolagem dos agregados, diminuído o atrito interno entre eles e destes com partículas de cimento, resultando em maior fluidez e viscosidade, e reduzindo o consumo do superplastificante, assim define Alencar e Helene (2006). Segundo Mello (2005), as principais conseqüências do emprego da cinza volante nas propriedades do concreto no estado fresco, é: a redução da demanda de água para uma fluidez especifica uma maior coesão, redução de exsudação e segregação, maior tempo de pega e uma maior fluidez e bombeabilidade devido à redução de atrito entre os agregados, devida a forma esférica da cinza. 2.4.6.3 Cinza de casca de arroz É um material resultante da combustão da casca de arroz. Segundo Dal Molin (2005), o arroz contém grande quantidade de sílica, principalmente na casca. A casca de arroz é composta por cerca de 50% de 17 celulose, 30% de lignina e 20% de sílica. A eficiência da cinza de cascade arroz como material pozolânico esta relacionado ao seu processo de obtenção. Cinzas provenientes da combustão não controlada geralmente contem uma grande proporção de minerais de sílica não reativos (cristalinos) e de baixo valor pozolânico devendo ser micronizadas para desenvolver a atividade pozolânica. A queima controlada, com temperaturas entre 500 a 700°C, possibilita à obtenção de cinza amorfas de alta pozolanicidade. 2.4.6.4 Sílica Ativa Otaviano, 2007 define como sendo um subproduto da indústria de ferro- silício, gerada a partir do monóxido de silício lançado ao ar, passando a ser transformado em pó, pela oxidação quando entra em contato com a atmosfera. A sílica no concreto permite uma mistura mais homogênea, reduz a segregação e exsudação e melhora a distribuição dos agregados. A sílica ativa também melhora outros aspectos do concreto no estado fresco e endurecido com a diminuição da segregação e exsudação, aumentando a coesão interna e a viscosidade, bem como a trabalhabilidade. No estado endurecido a sílica ativa exerce grande influencia sobre as propriedades mecânicas do concreto, aumentado à resistência a compressão, a resistência a tração, proporciona maior aderência com os aços e outras superfícies de concreto, influencia beneficamente na resistência a abrasão e a corrosão química, aumentando a durabilidade (Cavalcanti, 2006). 2.4.6.5 Escória de alto forno A escória de alto forno é o subproduto da manufatura do ferro-gusa, que tem suas características químicas e cimentantes, provenientes dos fundentes adicionados à mistura. Além disso, no processo de resfriamento rápido, a escória solidifica numa forma vítrea tornando-se reativa. A adição de escória em mistura de cimento portland geralmente reduz a demanda de água e melhora a trabalhabilidade do concreto. Os grãos de escória apresentam superfície limpa e lisa, apesar da forma angulosa, com planos de deslizamento que favorecem a trabalhabilidade, 18 auxiliada também pela menor velocidade de hidratação. A exsudação do concreto é reduzida com o emprego de escória com elevada finura. O calor de hidratação diminui com o aumento teor de escória, sendo significativo o decréscimo para 70% de adição, (Otaviano, 2007). 2.5 Consistência e Trabalhabilidade A consistência define o maior ou menor esforço para trabalhar com o concreto. Enquanto que a trabalhabilidade determina a facilidade de lançamento e a ausência de segmentação no concreto fresco, estando relacionado ao tipo de concreto, construção e métodos de lançamento, adensamento e acabamento, é o que define Teixeira, (2006). Segundo Mehta e Monteiro (1994, p. 352) as misturas fluidas do concreto com elevada consistência tendem a segregar e exsudar, afetando desfavoravelmente o acabamento. Mistura com consistência seca podem ser difíceis de lançar e adensar, e o agregado graúdo poderão segregar no lançamento. Segundo Guimarães (2005), a segregação e exsudação podem interferir na trabalhabilidade. A segregação é a perda de uniformidade da distribuição dos componentes do concreto fresco. É uma tendência natural do concreto, principalmente na parte do transporte, lançamento e adensamento, causado principalmente pelas diferenças nas massas especificas e dos tamanhos das partículas dos materiais dos constituintes do concreto. Após uma segregação considerável do concreto fresco é impossível sua compactação ideal ou da próxima da mesma, comprometendo sua resistência e a durabilidade da estrutura depois de endurecido. Exsudação é a separação da parte da água da mistura do concreto, a qual tende a subir à superfície do concreto pode carregar uma quantidade de partículas de cimento, formando uma nata com alta relação água/cimento. Logo em estruturas de concretadas em mais de uma camada, após o endurecimento da primeira, deve-se escovar a superfície, retirando à matéria exsudado para obter uma melhor ligação na junta da concretagem. 19 2.5.1 Propriedades no estado fresco As propriedades que devem ser conhecidas e controladas são: fluidez, habilidade passante entre as armaduras e resistência à segregação. Segundo Mehta e Monteiro (1994, p. 335): A relação dos materiais apropriados e a dosagem são, sem duvida, passos importantes para produzir um concreto que atende as especificações de resistência e durabilidade na estrutura. Esse objetivo, no entanto, pode não ser atingido, se uma atenção adequada não for dada às operações às quais o concreto é submetido nas primeiras idades. O termo primeiras idades abrange apenas um insignificante intervalo de tempo (p.ex., os dois primeiros dias após a produção) no total da expectativa de vida útil do concreto, mas durante esse período numerosas operações são realizadas, tais como mistura, transporte até o local de aplicação, lançamento nas fôrmas, adensamento, acabamento, cura e desmoldagem. Essas operações são influenciadas pelas características do concreto fresco, por exemplo, trabalhabilidade, tempo de pega e maturidade ou taxa de crescimento da resistência. Evidentemente, o controle simultâneo das operações nas primeiras idades e das propriedades do concreto fresco é essencial para assegurar que o elemento de concreto acabado seja estruturalmente adequando para a finalidade para o qual foi projetado. Estas propriedades têm sido caracterizadas no concreto, usando-se técnicas recentemente desenvolvidas. Alguns dos métodos de ensaio mais utilizados para a caracterização de tais propriedades são: ensaio de espalhamento do cone de Abrams (“Slump Flow Test”), Funil V (“V-Funnel”), Caixa L (“L-Box”), Tubo em U e o Ensaio de auto-adensabilidade para o concreto. 2.5.1.1 Caixa L Com o ensaio da caixa L, conforme descritas por Tutikian e Dal Molin 2008 descrevem como a capacidade do CAA escoar e de resistir o bloqueio ao passar entre as armaduras e nos espaços entre as armaduras e as paredes das fôrmas. O concreto é vertido, sem adensamento, no compartimento vertical da caixa. Quando se abre a porta de contenção entre os compartimentos vertical e horizontal, o concreto, pela ação de seu peso próprio, escoa através das barras de aço para dentro do compartimento horizontal. Para analise da facilidade de escoamento do CAA, pode-se medir o 20 tempo gasto pelo concreto para escoar pelo compartimento horizontal. A avaliação visual do concreto trás informações importantes sobre o seu comportamento. O acumulo de agregado graúdo junto às barras de restrição indica que o concreto tem baixa resistência a bloqueio e coesão insuficiente para mover-se homogeneamente ao redor dos obstáculos. Para evitar a influência da segregação, o tempo total de ensaio não pode ser maior do que 5 minutos. Na figura 1, estabelece as medidas recomendas para confecção do equipamento exposto por Tutikian, 2004 Figura 1: Medidas recomendadas para caixa L Fonte: EFNARC, 2002 adaptado por TUTIKIAN, 2002 Na Tabela 1, Tutikian (2004) apresentou resultados deste ensaio, encontrado em diversas literaturas. 21 Tabela 1: Limites de resultados e dimensões para o Caixa - L REFERÊNCIA MEDIDAS DIMENSÕES (mm) H2/H1 T20 (s) T40 (s) A B C D E EFNARC (2002) 0,8 - - 100 200 600 800 150 FURNAS (2004 d) - - - 100 200 600 700 150 Gomes (2002) 0,8 <1 <2 100 200 600 700 150 Gomes et al. (2003 a) 0,8 0,5-1,5 2-3 100 200 600 700 150 Araújo et al. (2003) 0,8 - - - - - - - Rigueira Victor et al. (2003) 0,8 <1,50 <3,50 - - - - - Pethessen (1998 e 1999) 0,8 - - 100 200 600 700 150 Barbosa et al. (2002) - - - 100 - 600 700 150 Tviksta (2000) 0,85 - - 100 200 600 - 150Coppola (2000) 0,9 - - 120 300 600 780 200 Palma (2001) 0,8 - 3 a 6 - - - - - Fonte: TUTIKIAN, 2004 2.5.1.2 Teste de Espalhamento de Cone de Abrams O Espalhamento de Cone de Abrams (slump flow test) é utilizado para medir a capacidade do CAA de fluir livremente sem segregar. O ensaio permite observar visivelmente se o concreto esta segregando ou não. O teste pode ser executado por uma pessoa e exige poucos materiais, é composto por uma base, que deve ser um quadrado de 1000 x 1000 mm, que não absorva água e nem provoque atrito com o concreto, e por um tronco de cone com materiais de mesmas características da base, sobre o centro da base deve-se marcar um circulo de diâmetro de 200 mm para a colocação do cone, que deve ter 300 mm de altura, diâmetro interno menor de 100 mm e diâmetro de 200 mm. Também são necessários, para a execução do teste, uma espátula, uma concha côncava e uma trena para medir o espalhamento do concreto. O valor do espalhamento, em milímetros, expressa a capacidade do CAA de escoar pela ação do peso próprio e relaciona-se à sua habilidade de preenchimento. Espalhamento muito baixo indica que o concreto esta pouco fluido. Assim é necessário fluidificar o material com água ou aditivos superplastificantes. E, se a medida estiver elevada, deve-se tornar o concreto mais coeso, porque estará muito fluido e, provavelmente, segregando. 22 Figura 2: Cone de Abrans Fonte: www.dec.ufs.br/arquivos/125068922391.pdf; Na Tabela 2, apresentam os limites mínimo e máximo de espalhamento, conforme vários autores para um concreto ser considerado auto-adensável. Espalhamentos abaixo do limite inferior indicam que o concreto está pouco fluido, ou seja, é necessário fluidificar o material, através de adição de água ou aditivos superplastificantes, e se a medida estiver acima do limite superior, deve-se tornar o concreto mais coeso, já que este está muito fluido e, provavelmente, segregando. Tabela 2: Limites de resultados para o Teste de espalhamento de cone de Abrans REFERÊNCIAS ESPALHAMENTO (mm) MÍNIMO MÁXIMO EFNARC (2002) 650 800 Gomes (2002) 600 700 Gomes et al. (2003 a) 600 750 Araújo et al. (2003) 650 800 Rigueira Victor et al. (2003) 600 800 Pethessen (1999) 650 725 Barbosa et al. (2002) 550 700 Tviksta (2000) 600 - Coppola (2000) 600 750 Palma (2001) 650 750 Fonte: TUTIKIAN, (2004) 23 2.5.1.3 Teste de Espalhamento de Cone de Abrams T50cm O Teste de Espalhamento de Cone de Abrams T50cm (Slump flow T50cm test) é uma variação do Teste de Espalhamento, os procedimentos equipamentos são os mesmos. As únicas alterações são a marcação de um círculo de 50 cm de diâmetro centrado na base, a necessidade de um cronômetro para a realização do teste e a presença de pelo menos duas pessoas. O ensaio é realizado simultaneamente como o Teste de Espalhamento. Assim que o cone for erguido verticalmente, o segundo operador deve acionar e marcar o tempo em que o diâmetro do concreto alcança a marca dos 50 cm. Os limites de resultados deste ensaio estão apresentados na Tabela 3. Tabela 3: Limites de resultados para o Teste de Espalhamento de Cone de Abrans T50cm REFERÊNCIAS TEMPO (s) MÍNIMO MÁXIMO EFNARC (2002) 2 5 Gomes (2002) 4 10 Gomes et al. (2003 a) 3 7 Araújo et al. (2003) 2 5 Rigueira Victor et al. (2003) 3 6 Pethessen (1999) 3 7 Tviksta (2000) 3 7 Coppola (2000) 5 12 Palma (2001) 3 6 Fonte: TUTIKIAN, 2004 2.5.1.4 Testes Funil-V Tem a finalidade de medir a fluidez do concreto, sendo apropriado para agregados graúdos de diâmetro máximo de 20 mm. O ensaio do Funil V consiste em medir o tempo que a amostra de aproximadamente 10 litros de concreto necessita para fluir totalmente, através do orifício inferior do funil, cuja seção deve ter uma dimensão mínima de três vezes o tamanho máximo do agregado. Após a execução do ensaio, pode-se preencher 24 novamente o funil com o concreto e esperar 5 minutos para a repetição do procedimento, para que se teste a resistência à segregação, já que se o CAA estiver segregando, o tempo de escoamento irá aumentar significativamente. Para a realização do ensaio são necessário um funil, uma espátula, uma concha côncava e um cronômetro. Figura 3: Funil V Fonte: GOMES, 2002 adaptado por TUTIKIAN, 2004 Na Tabela 4, alguns valores propostos por diversos pesquisadores. Tabela 4: Limites de resultados e dimensões para o Teste Funil V REFERÊNCIAS TEMPO (s) DIMENSÕES (mm) MÍNIMO MÁXIMO A B C D EFNARC (2002) 6 12 490 425 150 65 FURNAS (2004c) - - 515 450 150 65 Gomes (2002) 10 15 515 450 150 65 ou 75 Gomes et al. (2003 a) 7 13 515 450 150 65 Araújo et al (2003) 6 12 - - - - Noor e Uomoto (1999) 9,5 9,5 490 425 150 70 Peterssen(1998 e 1999) 5 15 550 425 120 75 Coppola (2000) - - 500 425 150 65 Fonte: TUTIKIAN, 2004 25 2.5.1.5 Teste Caixa U Foi desenvolvido para medir a fluidez e a capacidade de concreto de passar por obstáculos sem segregar. Este ensaio deve ser realizado com o equipamento nivelado e, após o preenchimento, a mistura deve descansar por 1 minuto e então o portão deve ser aberto, fazendo com que o concreto escoe através das armaduras para o outro compartimento. Assim que estabilizado o movimento, devem-se medir as alturas R1 e R2 e determinar o valor R1 – R2, sendo que o limite máximo pode variar de 24,2 mm até 80 mm de diferença. Figura 4: Medidas da caixa U recomendadas Fonte: EFNARC, 2002 adaptado por TUTIKIAN, 2004 Os limites estão demonstrados por diversos pesquisadores na tabela 5. 26 Tabela 5: Limites de resultados e dimensões para o teste caixa U REFERÊNCIAS R2-R1 (mm) DIMENSÕES (mm) MÍNIMO MÁXIMO A B C D EFNARC (2002) 0 30 200 590 140 140 FURNAS (2004 f) - - 200 680 190 140 Gomes (2002) 0 38 200 680 190 140 Araújo et al. (2003) 0 30 - - - - Noor e Uomoto (1999) 0 24,2 200 680 190 140 Shindoh e Matsuoka (2003) 0 80 200 680 190 140 Coppola (2000) 90% 100% 200 680 190 140 Fonte: TUTIKIAN, 2004 2.5.1.6 Teste U em forma de tubo O procedimento foi desenvolvido para mensurar a segregação. A resistência a segregação significa que a distribuição dos agregados graúdos deve ser uniforme em todos os lugares e níveis. Segundo Cavalcanti, 2006, o ensaio consiste em fazer fluir uma amostra de concreto, sem sofrer compactação, através do tubo e, após algum tempo, quando o concreto já se encontrar em estado de semi-endurecimento, são cortadas três fatias de 10 cm de espessura, a primeira no início do tubo de entrada (1), a segunda no início do trecho horizontal (2) e a terceira no final do trecho horizontal do tubo (3). Após a retirada da argamassa através de processo de lavagem das fatias sobre peneira de 5 mm, são pesados os agregados de cada conjunto de três fatias. As relações de segregação (RS) são obtidas dividindo-se a massa dos agregados existentes, pesados após a lavagem e enxugamento com papel toalha; da segunda fatia e da terceira fatia pela primeira fatia. O menor valor das duas relações é a relação de segregação (RS), que deve ser maior ou igual a 0,90 para CAA, pois se for menor mostra que o concreto está segregando, ou seja, é necessária a adição de fino ou aditivo moderador de viscosidade para se dar uma maior coesão à mistura. 27Figura 5:Tubo U Fonte: CAVALCANTI, 2006 2.5.1.7 Teste de segregação Para Alencar (2008), o ensaio de Column, normalizado pela ASTM C 1610/C 1610M, demonstrou ser rápido e simples, porque é possível, após 20 ou 30 minutos, iniciar a coleta das amostras de concreto do topo e base, tempo suficiente para o assentamento do agregado graúdo. As amostras são lavadas em uma peneira, ficando apenas o agregado graúdo retido, com isso é possível calcular a porcentagem da segregação usando a equação: 2*[(CAb-CAT)/(CAb+CAT)] * 100, sendo que CAb é a massa do agregado graúdo da base e o CAT é a massa do agregado graúdo do topo. Sendo classificado de acordo com os procedimentos do EPG (2005), em: 1. SR1, < 20%: aplicado para lajes delgadas e solicitações com distancias de espalhamento menor que 5 m e vão confinado maior que 8 cm; 2. SR2, < 15%: especificado no caso da qualidade da superfície ser particularmente crítica, ou para aplicações com distancia de espalhamento maior que 5 m e com espaço confinado maior que 8 cm, ou para grande altura de lançamento com espaço confinado 28 menor que 8 cm, se a distancia de espalhamento é maior que 5 m, o valor de SR deve ser menor que 10%. 2.6 Método de dosagem A partir do desenvolvimento do CAA no Japão surgiram diversos métodos de dosagens, como os métodos de Okamura, Petersson e Billberg, EFNARC e Gomes (Tutikian, 2004). Segundo Cavalcanti, 2006, os métodos de obtenção do concreto auto- adensável não são fundamentados apenas na questão de alta fluidez do concreto, mas também considerando a capacidade do concreto passar entre obstáculos sem ocorrer bloqueio nem resistência a segregação Algumas exigências devem ser atendidas ao se determinar uma dosagem para o concreto, como as especificações de projeto, as condições de exposição das estruturas, os materiais disponíveis na região, as técnicas de execução e o custo (HELENE; TERZIAN, 1992). 2.6.1 Métodos de Okamura (1995) O método de Okamura parte de valores prefixados de alguns materiais, para alcançar as propriedades de auto-adensabilidade desejadas. Parte da determinação do volume de ar incorporado no concreto, do volume do agregado graúdo (volume máximo fixado como 50% do volume total de agregados no estado compactado), do volume de agregado miúdo (40% do volume de argamassa), razão de água/finos (a/f), água/cimento (a/c) e do teor de superplastificante. A razão a/f e o teor de aditivo superplastificante empregados na dosagem do CAA são determinados a partir de ensaios em argamassa. Estes valores devem ser ajustados para atender às suas características de auto-adensabilidade exigidas. A relação a/c, em volume, deve variar entre 0,9 e 1,0, em volume, dependendo das propriedades do cimento utilizado e o aditivo é determinado experimentalmente. O método de Okamura apresenta geralmente grande volume de pasta no concreto, pois os parâmetros não são fixados de forma racionalizada. Isto acontece porque o comportamento da mistura depende da caracterização e seleção dos 29 materiais, variando assim na dosagem e proporção dos materiais constituintes, tornando-se, em alguns casos, uma dosagem pouco racionalizada (Nunes, 2001; Cavalcanti, 2006). Okamura indica ensaios como, o funil V e Teste de espalhamento, para verificar se o concreto é auto-adensável. Caso a mistura necessite de correções, sugere-se a realização de ensaios para a determinação das propriedades reológicas da argamassa e caracterização dos materiais, através dos ensaios de espalhamento, o Slump flow, e o ensaio de fluidez, o Funil V. Estes ensaios testam a deformabilidade e a viscosidade do concreto e da argamassa (Tutikian, 2004; Cavalcanti, 2006). 2.6.2 Método de Gomes (2002) Esse método apresenta um procedimento de caráter experimental para obtenção da dosagem do concreto auto-adensável de alta resistência (CADAR). Esse procedimento constitui uma extensão do desenvolvido por Toralles et. al. (1998), para concretos de alta resistência, no sentido de incorporar critérios de dosagem, relativo aos concretos auto-adensáveis. Os critérios de otimização adotados na aplicação dos procedimentos vêm acompanhados por uma resistência mínima à compressão e pelo cumprimento de diferentes requisitos de auto-adensamento no estado fresco. Tudo isso com uma quantidade mínima de superplastificante e cimento. Apresentam-se, também, detalhes de procedimentos de ensaios utilizados para a caracterização do estado fresco do CAA. O procedimento proposto por Gomes (2002), para CAA de alta resistência, foi fundamentado em: otimização do esqueleto granular de agregados; otimização separada da composição da pasta; determinação da dosagem ótima de superplastificante, que se obtêm variando a quantidade de superplastificante e mantendo constantes as relações água/cimento (a/c) e filler /cimento (f/c); bem como a produção do concreto com a dosagem de superplastificante igual à dosagem ótima da pasta. A relação água/finos (a/f) deverá ser fixada, a princípio, no limite superior de 0,4, para em seguida ser diminuída, até se atingir a resistência requerida para o 30 concreto. Quanto ao esqueleto granular, deverá ser adotado um tamanho característico máximo para o agregado de 20 mm. A relação areia/brita (ar/br) é determinada segundo um critério de máxima densidade em seco e sem compactação, no sentido de ser obtida uma mínima quantidade de vazios entre os dois materiais. Segundo Cavalcanti, 2006, uma vez escolhidos os materiais, em função dos requisitos de projeto, ocorrem à definição dos parâmetros de dosagem, como a relação água/cimento pretendida, de acordo com os requisitos de durabilidade estabelecidos no projeto. 2.6.3 Método por Tutikian (2004) A base deste procedimento é o método de dosagem IPT/EPUSP (HELENE e TERZIAN, 1992) para concretos convencionais. O objetivo final deste método é desenhar um diagrama de proporcionalmente e determinar as equações de comportamento, como a lei de Abrams, a lei de Lyse e a equação que relaciona consumo de aglomerantes por metro cúbico com o traço genérico "1: m”, para materiais selecionados previamente. O princípio básico do método é a obtenção de um CAA a partir de um concreto convencional (CCV), onde o teor ideal de argamassa deverá ser previamente determinado. Os materiais devem ser escolhidos e devidamente caracterizados, a fim de que possam ser conhecidas as propriedades que influenciam na dosagem. Em seguida, começa-se a definir os parâmetros de dosagem, como relação água/cimento pretendida, de acordo com os requisitos de durabilidade indicados no projeto. No próximo passo, devem ser definidos três traços que vão formar a família do concreto a ser dosado para se obter o diagrama de dosagem. Geralmente são usados os traços (1:3,5), (1:5) e (1:6,5), mas outros traços poderão ser usados. A partir do traço intermediário, determina-se, experimentalmente, o teor de argamassa, sendo que esta deve ser mantida até o final da dosagem, quando se deseja montar uma curva de dosagem para o concreto de partida, que é ainda um concreto convencional. 31 Conforme a Figura 09 adiciona-se o aditivo superplastificante na mistura, o que causará uma segregação dos materiais. E então, inicia-se o processo de acerto da viscosidade da mistura, através da introdução de finos substituindo parcialmente à areia (finos não pozolânicos) e substituindo parcialmente o cimento (finos pozolânicos). A adição de finos prossegue-se até que se julgue a mistura estar no ponto de começar a avaliar as suas características pelos ensaios preconizados para o CAA. Em função dos resultados, deve-se retornar a ajustar, ate o acerto final ou, em caso de aprovado, inicia-se o processo de moldagemem corpos de prova para posterior montagem do diagrama de dosagem. Figura 6: Passo a passo para a dosagem do CAA Fonte: TUTIKIAN, 2004 32 3 MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia foi planejada com o objetivo de medir as características reológicas de pastas de cimento aplicadas em concretos auto-adensáveis produzidos com a substituição parcial do cimento Portland por metacaulinita. Foi estudado complementarmente o efeito da compatibilidade entre aditivos e o traço do concreto utilizado, com o objetivo de produzir concretos auto-adensáveis de baixo custo, sem comprometer seu desempenho. A pesquisa foi realizada em etapas, a fim de otimizar o tempo e o custo com os ensaios. Primeiramente foi avaliada a compatibilidade entre os aditivos através da viscosidade de pastas (como pode ser observado na tabela 6). Definida a melhor eficiência entre os aditivos utilizados, foi avaliado o efeito da substituição do cimento por metacaulinita nos teores de 10 e 20% (tabela 6), através de medidas quantitativas de viscosidade e de calorimetria. Em uma terceira etapa, foi estudada a composição do concreto, para uma concentração satisfatória de metacaulim e de aditivos. Os concretos foram caracterizados através de ensaios de caixa-L, Teste do espalhamento, teste do espalhamento T50cm e segregação no estado fresco, e suas propriedades mecânicas através de resistência à compressão e módulo de elasticidade. As composições dos concretos utilizados podem ser observadas na tabela 7. 3.1 Estudo da pasta de cimento Para elaboração das curvas de escoamento, foram utilizados 3 ciclos de subida e descida: aos 15 minutos (variando-se a velocidade de 0 a 50 s-1 com 20 intervalos), uma segunda curva com velocidade constante de 30 s-1 durante 10 minutos, e uma terceira curva equivalente a primeira aos 40 minutos. Foi utilizado um reômetro marca TA Instruments Modulo CSL2 500, com geometria conforme indicado na figura 7, e um volume de amostra equivalente a 4 gramas. A curva calorimétrica foi monitorada em um intervalo de 68 horas. 33 Figura 7: Geometria do cone. Tabela 6: Composições dos ensaios em pastas. Composições Reômetro Calorimetria Aditivos Pasta a/c=0,4 Referência2 Referência2 Pasta a/c=0,3+ Policarboxilato 1,0% Poli. 1,0% Poli. Pasta a/c=0,3+ Policarboxilato 1,5% Poli 1,5% Poli Pasta a/c=0,3+ Policarboxilato/Mod. viscosidade 1,0%/0,5% Pol/Vis 1,0%/0,5% Pol/Vis Pasta a/c=0,3+ Policarboxilato/ Lignosulfonato 1,0%/0,5% Pol/Lig 1,0%/0,5% Pol/Lig Pasta a/c=0,3+ Policarboxilato/ Lignosulfonato 0,8%/0,8% Pol/Lig - Metacaulim Pasta+10% metacaulim (a/c=0,3) 1,0%/0,5% Pol/Lig 1,5 Policarboxilato Pasta+20% metacaulim (a/c=0,3) 1,0%/0,5% Pol/Lig 1,5 Policarboxilato 2Para todas as amostras foram utilizados 10 gramas de massa de aglomerante. 3.2 Obtenção do concreto auto-adensável A elaboração da curva de dosagem do concreto auto-adensável, partiu de algumas composições realizada para aplicação de concreto, em outras regiões, elaborada por uma concreteira. A partir desses resultados procurou-se otimizar a 34 constituição, modificando o traço e utilizando metacaulinita. O traço de menor custo utilizado – nestas referências – 1:3,75 com 10% de microssílica. A partir disso adotou-se a composição inicial 1:4. Com a utilização da metacaulinita, adotou-se 10% de substituição do cimento, mantendo um percentual de 1,0 de policarboxilato e 0,5% de lignosulfonato, adotando-o com a finalidade de reduzir o consumo de água no traço, a partir dessa primeira composição foram testadas outras composições apresentada na tabela 7, com menor consumo de cimento. Adotando para as primeiras misturas um percentual de 60% de areia média e 40% de areia fina como agregado miúdo, sendo que, para o agregado graúdo somente a utilização de pedrisco devido a sua granulômetria, percebeu-se que ao obter a mistura não havia consistência nos traços conforme mostra a figura 8. Sendo assim, novas misturas foram efetuadas, adotando uma proporção de agregados finos em 50% de areia fina e 50% de areia média, e o consumo de aditivo passou a ser 1,5% de policarboxilato, elimando o lignosulfonato, sendo que o mesmo enterviu na eficiência do policarboxilato, diminuindo a fluidez do CAA. Fixados esses parâmetros foram otimizados os traços, mantendo os mesmo índices de plasticidade e resistência a segregação, reduzindo o consumo de cimento através dos traços 1:4,75 e 1:5, como mostra a figura 9. Tabela 7: Composições dos concretos. Relação a/agl Relação cimento/ agregado Traço unitário (cimento: agregado miúdo: agregado graúdo) Aglomerante (Kg) Cimento (Kg) Adição de metacaulim. (%) Teor de aditivo de policarboxilato (%) 0,47 1:4 1:1,85:2,15 438,75 395 10 1,5 0,54 1:4,75 1:2,27:2,47 382,16 344 0,65 1:5,5 1:2,9:2,6 335,66 302 35 a b c Figura 8: Primeira mistura dos traços rico (a), médio (b) e pobre (c). a b c Figura 9: obtenção do CAA nos traços rico (a), médio (b) e pobre (c). 36 3.3 Ensaios em concreto fresco Para os ensaios em concreto fresco, foram desenvolvidos pelos testes do espalhamento de cone Abrams realizado no mesmo tronco de cone utilizado na medida de consistência, medindo o espalhamento do concreto no lugar do abatimento, e também pode ser determinado o tempo que o concreto levou para apresentar o espalhamento de 50 cm (diâmetro). Este teste têm o objetivo de avaliar a fluidez do concreto, alem de proporcionar a visualização da sua capacidade de escoamento e deformabilidade, devido ao seu peso próprio. O ensaio ainda permite uma avaliação visual da mistura, verificando se há ocorrência de segregação ou exsudação. A caixa L foi realizada para analisar a capacidade de o concreto fluir por obstáculos que simulam as armaduras como ilustrado na Figura 10, além de sua deformabilidade, resistência ao bloqueio e resistência a segregação. O teste de segregação foi realizado pelo ensaio de Column normalizado pela ASTM C 1610/C 1610M, foram retirados 2 corpos de provas para cada traço, após 30 minutos sendo o tempo suficiente para quantificar o nível de segregação, foram coletadas amostras do topo e da base, lavadas em uma peneira de 4.8 mm ficando apenas o agregado graúdo retido. Figura 10: teste caixa L 37 3.4 Ensaios para o concreto endurecido Para o concreto auto-adensável foi realizado o preenchimento dos moldes sem adensamento mecânico. Totalizando em 36 moldagens, todos os corpos-de- prova foram desmoldados após 24 horas de sua produção, a cura foi realizada conforme a norma NBR 5738/1994. Para garantir o nivelamento das faces dos corpos-de-prova, estes tiveram seus topos capeados com a pasta de enxofre, executando os ensaios de resistência à compressão axial conforme a norma NBR 5739/1994. Osensaios para resistência foram realizados nas idades de 7, 21 e 28 dias. Para a determinação do módulo de elasticidade, os ensaios foram executados conforme norma NBR 8522/2008. 3.5 Materiais utilizados Para efetuar os ensaios experimentais, foi utilizado como materiais cimento tipo CP-V ARI RS, areia média, areia fina (quartzosa), aditivos plastificantes (base lignosulfonato), superplastificantes (base policarboxilatos), modificadores de viscosidade, e metacaulinita produzida em laboratório. As características dos materiais utilizados encontram-se na tabela 8 para o cimento, na tabela 9 e a figura 11 caracteriza o agregado graúdo, para os agregados miúdos encontra-se nas tabelas 10 e 11 e nas figuras 12 e 13, as características dos aditivos nas tabelas 12, 13 e 14, e para o metacaulim está apresentado na tabela 15 e 16. 38 Tabela 8: Características do Cimento CPV-ARI RS Tabela 9: Caracterização dos agregados graúdos COMPOSIÇÃO GRANULOMÉTRICA - NBR NM 248 Peneiras (mm) Massa (g) % % AC Serie Normal % AC Série Intermediaria 9,5 54,20 1,790 1,790 - 6,3 1312,20 43,344 - 45,135 4,75 748,8 24,734 69,869 - 2,36 888,28 29,342 99,211 - 1,18 11,06 0,365 99,576 - 0,6 1,40 0,046 99,622 - 0,3 2,12 0,070 99,692 - 0,15 2,30 0,076 99,768 - Fundo 7,02 0,232 100,00 - TOTAL 30027,38 100,000 669,528 45,135 Módulo de Finura: 5,695 Dimensão máxima Característica: 9,5 mm Massa especifica - NBR NM 52: 2,604 g/cm³ Massa Unit. Em estado solto - NBR NM 45: 1,289 kg/dm³ Teor de material Pulverulento - NBR NM 46: 1,36 % Cimento Caracterização química em massa SiO2 AL2O3 Fe2O3 CaO MgO SO3 Na2O K2O CO2 Perda ao fogo (%) Resíduo insolúvel (%) CPV- ARI RS 22,61 6,61 3,30 52,66 5,66 3,47 0,06 1,07 2,45 3,50 12,33 Cimento Caracterização física e mecânica Tempo de pega(min) Água de consistência Área específic a Blaine Resíd uo # 200 Resídu o # 325 Exp. a quent e Resistência à compressão (MPa) Inicial Final (%) (cm²/g) (%) (%) (mm) 3dias 7 dias 28 dias CPV- ARI RS 205,00 269,00 30,23 5035,00 0,10 1,39 0,42 34,02 38,66 47,50 Figura 11: Curva granulométrica do agregado graúdo. Tabela 10: Caracterização do Agregado miúdo COMPOSIÇÃO GRANULOMÉTRICA PENEIRAS N° mm 3/8" 9.5 1/4" 6.3 4.00 4.8 8.00 2.4 16.00 1.2 30.00 0.6 50.00 0.3 100.00 0.15 200.00 0.075 FUNDO FUNDO TOTAL Massa Especifica (NBR NM 52): 2,605 kg/dm³ Diâmetro Máximo (NBR NM 248): 4,800 mm Figura 11: Curva granulométrica do agregado graúdo. Tabela 10: Caracterização do Agregado miúdo – areia lavada COMPOSIÇÃO GRANULOMÉTRICA - NBR NM 248 MATERIAL RETIDO MASSA (g) % AMOSTRA % ACUMULADO 0 0,00 0,0 0 0,00 0,0 15 1,51 1,51 112 11,03 12,54 193 19,08 31,62 169 16,7 48,32 191 18,88 67,20 236 23,27 90,47 63 6,23 96,70 33 3,3 100,00 1013 100 MF= 2,52 Módulo de finura (NBR NM 248): 2,520 Massa Especifica (NBR NM 52): 2,605 kg/dm³ Massa Unitária (NBR 7251): 1,570 kg/dm³ Diâmetro Máximo (NBR NM 248): 4,800 mm Mat. Pulverulento (NBR NM 46): 3,298% Matéria Orgânica (NBR NM 49): Clara 39 % MATERIAL PASSANDO % ACUMULADO 100,00 100,00 98,49 87,46 68,38 51,68 32,80 9,53 3,30 0,00 Figura 12: Curva granulométrica do agregado miúdo Tabela 11: Caracterização do Agregado miúdo COMPOSIÇÃO GRANULOMÉTRICA PENEIRAS N° mm 3/8" 9.5 1/4" 6.3 4.00 4.8 8.00 2.4 16.00 1.2 30.00 0.6 50.00 0.3 100.00 0.15 200.00 0.075 FUNDO FUNDO TOTAL Figura 12: Curva granulométrica do agregado miúdo – areia lavada. Caracterização do Agregado miúdo – areia fina COMPOSIÇÃO GRANULOMÉTRICA - NBR NM 248 MATERIAL RETIDO MASSA (g) % AMOSTRA % ACUMULADO 0 0,00 0,00 0 0,00 0,00 0 0,00 0,00 0 0,00 0,00 0 0,00 0,00 0 0,06 0,06 39 12,65 12,71 255 82,12 94,84 13 4,13 98,97 3 1,03 100,00 310 100,00 MF = 1,08 Módulo de finura (NBR NM 248): 1,08 Massa Especifica (NBR NM 52): 2,540 kg/dm³ Massa Unitária (NBR 7251): 1,461 kg/dm³ Diâmetro Máximo (NBR NM 248): 0,600 mm Mat. Pulverulento (NBR NM 46): 1,033% Matéria Orgânica (NBR NM 49): Clara 40 NBR NM 248 % MATERIAL PASSANDO % ACUMULADO 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 0,94 87,29 5,16 1,03 0,00 41 Figura 13: Curva granulométrica do agregado miúdo – areia fina. Tabela 12: aditivo Plastificante tipo lignosulfato Função Principal Redutor da relação a/c Aspecto Líquido Cor Castanho escuro Densidade 1,160 - 1,210 kg/m³ Teor de sólidos 34 - 41 (%) Tabela 13: aditivo à base de policarboxilato Função Principal Superplastificantes Base química Policarboxilato Aspecto Liquido Cor Castanho Claro Densidade 1,03 - 1,07 kg/m³ Sólidos 30 – 32 (%) Tabela 14: Aditivo Modificador de viscosidade Função Principal Modificador de Viscosidade Aspecto Líquido Cor Castanho Claro Densidade 1,00 - 1,02 kg/m³ 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 9,5 6,3 4,75 2,36 1,18 0,6 0,3 0,15 P o rc e n ta ge m R e ti d a A cu m u la d a Peneira (mm) Zona Otima Inferior Zona Utilizavel Inferior Zona Ótima Superior Zona Utizavel Superior Areia Fina 42 Teor de sólidos 1,5 – 2,5 (%) Tabela 15: Granulometria da metacaulinita Diâmetro das partículas Metacaulinita (diâmetro em µm) 10% inferior a 1,59 50% inferior a 6,08 90% inferior a 19,53 Diâmetro médio 8,61 Tabela 16: Composição química. Elementos Caulin Metacaulim (800°C) Al2O3 39,1 45,2 SiO2 46,7 53,4 Perda ao fogo 13,4 0,4 43 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS 4.1 Pastas de Cimento Devido a uma vasta evidência das propriedades ao escoamento do concreto no estado fresco, o fluido se comporta como um sólido ideal, ou seja, não flui, até que a tensão tangencial aplicada supere a tensão de escoamento. Nesse momento, a mistura começa a comportar-se como um fluido que apresenta uma relação linear entre a tensão aplicada e a velocidade da deformação. A tensão de escoamento e a viscosidade mudam com o tempo à medida que a pasta endurece, a tensão de escoamento e a viscosidade plástica aumentam. Com os resultados obtidos pelo reômetro conforme observados na figura 14 foram medidos a tensão de escoamento inicial, e os ângulos de inclinação das curvas de cisalhamento. Considerando a tensão de cisalhamento como a facilidade do material em escoar, verifica-se, na figura 14, que os melhores resultados são observados para 1% de aditivo policarboxilato. Quando este é combinado com 0,5% de lignosulfonato, a tensão cisalhante aumenta, indicando pior desempenho. Considerando a utilização do modificador de viscosidade, pode-se inferir que o mesmo não influência muito na tensão de cisalhamento, e adotando a inclinação da curva como resistência a segregação, podemos comprovar que a metacaulim terá um efeito mais significativo em relação à resistência a segregação. Em relação ao teor de 1,5% de policarboxilato, pode-se verificar grande risco de segregação, por se tratar de um aditivo que tende a aumentar a distância entre os grãos. A composição com 0,8 policarboxilato e 0,8 de lignosulfonato,
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