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1 DIREITO CIVIL III - CONTRATOS PROF. DANIEL PAIVA UNIDADE IX – CONTRATOS EM ESPÉCIE: FIANÇA 1. CONCEITO DE FIANÇA: A fiança é uma espécie de garantia pessoal ou fidejussória que se amolda a qualquer espécie de obrigação. Observação: Garantia pessoal ou fidejussória consiste apenas na segurança que, individualmente, alguém presta, de responder pelo cumprimento de determinada obrigação se faltar o devedor principal. A fiança pode ser: • Convencional (resulta da vontade das partes); • Legal (resulta de lei); • Judicial (resulta de imposição do juiz). A fiança a ser analisada nesta disciplina é a fiança convencional, que é ajustada por meio de contrato. Dá-se o nome de fiança, quando, por contrato, uma ou mais pessoas se obrigam por outra, para com seu credor, a satisfazer a obrigação, caso o devedor não a cumpra. Ver: art. 818 CC/2002 Importante observar que há, na verdade, 2 contratos: um principal, entre devedor e credor, e um acessório, entre fiador e devedor (afiançado). 2. CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO: Em linhas gerais, o contrato de fiança é: Solene - É um contrato formal, que se reveste obrigatoriamente de forma escrita; Ver: art. 819 CC/2002 De interpretação restritiva - A fiança não admite interpretação extensiva; Acessório - Será sempre um contrato acessório, nunca principal, posto que existe somente para garantir o adimplemento da obrigação principal; Unilateral - Trata-se de um contrato unilateral, ou seja, somente uma das partes assume obrigações, no caso, o fiador; Personalíssimo - Posto que o fiador não garante as disposições de pessoas cuja idoneidade desconhece; 2 Subsidiário - É tido como subsidiário, ou seja, substitutivo do cumprimento regular e normal da obrigação, que deve ser feito pelo devedor. Entretanto, se houver, no contrato, renúncia expressa ao benefício de ordem previsto no Código Civil Brasileiro, o fiador será solidariamente responsável com o locatário, assumindo a posição de co-devedor e nas mesmas condições deste. Ver: art. 827 CC/2002 Gratuito - Via de regra, trata-se de contrato gratuito, tendo o fiador o ônus de adimplir com as obrigações descumpridas pelo devedor, sem que tenha sido exigido deste qualquer remuneração. Excepcionalmente, torna-se contrato oneroso em casos, por exemplo, de fiança bancária; De execução futura - A execução deste contrato é futura, uma vez que é celebrado tendo em conta prestações futuras. O fiador somente poderá ser demandado depois que se caracterize o inadimplemento do devedor e a dívida torne-se líquida e certa; Transmissível - É obrigação que se transmite para os herdeiros, mas não pode ultrapassar as forças da herança; Ver: art. 836 CC/2002 Dependente de vênia conjugal - Por ser ato de natureza patrimonial, o Código Civil determina que, em sendo casado, o fiador não poderá, sem autorização do outro cônjuge, prestar fiança, exceto no regime de separação absoluta. Ver: art. 1.647, III, CC/2002 3. REQUISITOS: Quanto ao requisito subjetivo, a capacidade para ser fiador é a genérica, podendo ser fiadoras todas as pessoas que tenham a livre disposição de seus bens. Neste contexto, não podem prestar fiança entre outros: • O cônjuge casado, exceto na separação total, sem a concordância do outro; • O emancipado, pois a emancipação só lhe confere o direito de administrar seus negócios e a fiança é obrigação por dívida alheia; • Os administradores em relação às sociedades e companhias que administram, pois as pessoas jurídicas só podem prestar fiança se dotados de poderes expressos para tanto; • O mandatário só poderá fazê-lo se cláusula expressa assim o autorizar. Ver: arts. 825 e 826 CC/2002 Já em relação aos requisitos objetivos: • A fiança pode ser dada a qualquer tipo de obrigação (dar, fazer e não fazer); • A fiança pode assegurar obrigação atual ou futura, mas, se futura, só vigorará a partir do momento em que a causa surgir; • A fiança não pode ultrapassar o valor do débito principal, nem ser mais onerosa do que ele sob pena de redução; • Dependerá da validade e exigibilidade da obrigação principal (por sua natureza acessória); Ver: arts. 821, 823 e 824 CC/2002 3 4. LIMITES DA FIANÇA PRESTADA: Primeiramente devemos salientar a existência de duas relações distintas no contrato de fiança: uma entre fiador e credor e outra entre fiador e devedor. Na relação existente entre fiador e credor, este último tem o direito de exigir do fiador o pagamento da dívida garantida. No entanto, esse direito pode ter algumas limitações: Benefício de ordem – O fiador tem o direito ao benefício de ordem. Em outras palavras, ele pode exigir que, até a contestação da lide, seja primeiramente executado o patrimônio do devedor. Para se valer desse benefício, o fiador deverá indicar bens do devedor, localizados no mesmo município e que estejam livres e desembaraçados, que sejam suficientes para pagar a dívida. Ver: art. 827 CC/2002 Observação: O fiador só não terá o direito ao benefício de ordem se: Art. 828 (I) renunciar expressamente ao mesmo; (II) se obrigar como principal pagador, ou devedor solidário; ou (III) o devedor for insolvente ou falido. Benefício da divisão – Havendo mais de um fiador, a presunção legal é a de que são solidariamente responsáveis pela dívida. A lei permite, porém, que cada fiador reserve apenas uma parte da dívida como de sua responsabilidade. Ver: arts. 829 e 830 CC/2002 5. EXTINÇÃO DA FIANÇA: A maioria dos contratos se extingue pelo cumprimento da obrigação, e no contrato de fiança não poderia ser diferente. Contudo há alguns casos específicos que também podem causar a extinção da fiança. Os motivos principais são: Exoneração do fiador - Exonerar significa liberar-se de uma obrigação. A fiança que esteja por tempo indeterminado, o fiador tem o direito de se exonerar, desde que notifique o credor. Ver: art. 835 CC/2002 Concessão de moratória expressa - Quando o credor conceder ao devedor um novo prazo para o pagamento da dívida, adiando assim o dia para o cumprimento da obrigação. Ver: art. 838, I, CC/2002 Impossibilidade de direito de regresso - Quando o credor, por suas ações, impossibilitar o direito de regresso do fiador contra o devedor, a fiança também será extinta. Ver: art. 838, II, CC/2002 Pagamento de forma diversa pelo devedor - Quando o credor deixar que o pagamento da dívida seja efetuado em outra espécie, configurando dessa forma dação em pagamento. Ver: art. 838, III, CC/2002 Morte do fiador – Em caso de falecimento, tal obrigação é repassada aos herdeiros (limitada ao montante da própria herança e aos débitos existentes até o momento do falecimento). Ver: art. 836, CC/2002. 4 QUESTÕES PARA REVISÃO DA UNIDADE 01. (Exame da Ordem/GO – 2005) Sobre a fiança, é correto afirmar: a) Cuida-se de contrato que se pode celebrar verbalmente; b) As pessoas casadas podem prestá-la livremente, sem a autorização do outro cônjuge, qualquer que seja o regime de bens do casamento; c) O fiador pode exonerar-se da obrigação assumida sem limitação de tempo, sempre que lhe convier, mediante notificação ao credor; d) A responsabilidade do fiador é sempre solidária. 02. (Procurador Autárquico - Bacen - 2006) O contrato de fiança: a) estabelece solidariedade legal do fiador e do afiançado pelo pagamento ao credor. b) admite prova exclusivamente testemunhal se for de valor inferior a dez (10) salários mínimos. c) não admite renúncia ao benefício de ordem. d) não admite que, existindo vários fiadores, cada um fixe a parte da dívida que toma sob sua responsabilidade. e)pode ser estipulado sem consentimento do devedor ou contra sua vontade. 03. (OAB/Exame Unificado - 2006.1) A respeito do contrato de fiança, assinale a opção correta. a) A fiança é uma garantia pessoal e fidejussória e pode ser dada em contrato ou em título de crédito. A responsabilidade do fiador é solidária e direta, transmitindo-se aos herdeiros. b) Considere-se que o cônjuge varão, durante a vigência do casamento pelo regime da comunhão universal de bens, prestou fiança em contrato de renegociação de dívida de operações de crédito, sem a devida outorga uxória. Nessa situação, a fiança é anulável, caso em que obrigará apenas os bens da meação do fiador. c) A fiança é uma garantia de natureza acessória e subsidiária, sendo assegurado ao fiador o beneficio de ordem, segundo o qual primeiro executam-se os bens do devedor, e se não for suficiente, executam-se os bens do fiador. d) A fiança é formalizada por meio de contrato pelo qual uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra. A fiança se concretiza independentemente da aceitação do credor em relação à pessoa do fiador. 04. (FGV-2010) Semprônio realiza contrato de mútuo com Terêncio, emprestando a quantia de R$ 20.000,00 para pagamento em dez prestações, incidentes juros legais, sem correção monetária. Para garantir a avença, intercede Esculápio, na condição de fiador, pelo período do contrato, renunciando ao benefício de ordem. No curso da avença, o devedor, por motivos de doença da família, deixa de quitar algumas prestações. Após o período de dificuldades, credor e devedor ajustam a prorrogação do contrato, não informando tal situação ao fiador. Diante do exposto, analise as afirmativas a seguir. I. O contrato de fiança somente estabelece a responsabilidade do fiador no período avençado no Contrato; II. Mediante aquiescência do credor, do devedor e do fiador, a fiança pode se prorrogada. III. Não concordando o devedor com a fiança, credor e fiador estão proibidos de estabelecer a referida garantia no contrato. Assinale: a) Se somente a afirmativa I for verdadeira. b) Se somente a afirmativa II for verdadeira. c) Se somente as afirmativas I e II forem verdadeiras. d) Se somente as afirmativas I e III forem verdadeiras. e) Se todas as afirmativas forem verdadeiras. 05. Explique o que é “benefício de ordem” na fiança ?
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