O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM Afrânio da Silva Garcia Disponível em: http://www.filologia.org.br/pereira/textos/odesenvolvimento.htm PREFÁCIO O trabalho do professor José Pereira da Silva, intitulado "O desenvolvimento da linguagem", constitui uma excelente obra de introdução aos estudos desse importante tópico da Psicolingüística, coligindo uma série de informações essenciais sobre o assunto expostas pelos autores mais conceituados, tais como Noam Chomsky, Jean Piaget, Charles Osggod, A. R. Luria, Judith Greene e André Ombredane. O professor José Pereira da Silva faz um apanhado dos principais trabalhos sobre as relações entre o pensamento e a linguagem, sobre os usos e as funções da linguagem e sobre as noções de competência e desempenho, para depois desenvolver, ampla e profundamente, os tópicos de aquisição da linguagem e aprendizagem de línguas estrangeiras. O que são nativismo e empirismo? Quando ocorre a diferenciação dos conceitos nas crianças? O que é a fala egocêntrica e quais as suas funções? Como se dá a fase do balbucio? A linguagem é aprendida através da relação estímulo-resposta? O que é a ecolalia? Quando ocorre a função denominativa? Existe linguagem sem pensamento ou pensamento sem linguagem? O que são mandos e tatos? Qual a idade certa para começarmos a ensinar uma língua estrangeira a uma criança? Todas essas questões são respondidas de forma didática e clara pelo presente trabalho, imprescindível numa área, a Psicolingüística, tão abandonada pelos editores brasileiros, forçando os estudantes e professores de Letras e Psicologia a valer-se, quase sempre, de fotocópias e de livros esgotados para seus estudos. Afrânio da Silva Garcia ÍNDICE 1 – INTRODUÇÃO 2 - PSICOLINGÜÍSTICA 3 - O PENSAMENTO E A LINGUAGEM 3.1 - A PERCEPÇÃO, OS CONCEITOS E OS SÍMBOLOS 3.2 - O PENSAMENTO E A LINGUAGEM 4 - USOS E FUNÇÕES DA LINGUAGEM 5 - A COMPETÊNCIA E O DESEMPENHO 6 - A AQUISIÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM 6.1 - A APRENDIZAGEM DA LINGUAGEM 7 - CONCLUSÃO 8 - BIBLIOGRAFIA INTRODUÇÃO Preocupado sempre com o aperfeiçoamento pedagógico, mais especificamente, com o ensino da língua vernácula, e tendo tido a oportunidade de fazer o Curso de Metodologia do Ensino Superior nas Faculdades Integradas Estácio de Sá, onde os trabalhos individuais de final de cada módulo devem ser práticos, de acordo com a área específica de cada aluno, resolvi dedicar-me, sempre que possível, à pesquisa de metodologia do ensino da linguagem. Percebendo a dedicação da Profa. Léa Lattari da Costa em relação a este aspecto prático que devemos dar ao curso e à sua boa vontade e zelo em ler, corrigir e comentar pessoalmente cada trabalho que lhe é apresentado, resolvi dedicar alguns dias especialmente à pesquisa do desenvolvimento da linguagem, visto que este é um dos aspectos mais interessantes da Psicologia do Desenvolvimento, a que a citada mestra se dedicou no último trimestre de 1981, no referido curso. Minha intenção, inicialmente, foi a de preparar-me um pouco melhor para o desempenho do magistério na área a que me dedico. Após algumas leituras básicas para o trabalho, no entanto, percebi o quanto interessante e empolgante é o assunto, o que me levou à deliberação de aprofundá-lo um pouco, seja documentando as conclusões parciais com uma bibliografia especializada insistentemente citada, seja procurando abordá-lo sob aspectos e pontos de vista vários. Os objetivos deste trabalho são, como se vê, eminentemente práticos, visto que se reduzem a uma tomada de posição frente às dificuldades pedagógicas do ensino-aprendizagem das línguas, tanto no que diz respeito à língua materna, quanto a uma segunda língua. PSICOLINGÜÍSTICA Com o nome de Psicologia da Linguagem, a Psicologia trata do fenômeno da produção da linguagem humana, do seu comportamento e do seu desenvolvimento. Quando o termo psicolingüística começou a ser usado pela primeira vez, no início da década de 1950, indicava um interesse pelos métodos lingüísticos para descrever a produção dos usuários da linguagem; em especial, a análise estrutural em unidades lingüísticas tais como fonemas, morfemas e frases, as quais pareciam oferecer uma formulação mais precisa das unidades tão obviamente psicológicas quanto as letras, frases e sentenças. "Psicolingüística" é, portanto, um neologismo que surgiu da necessidade de se denominar essa fase de revolução na Lingüística e na Psicologia, principalmente depois que Chomsky publicou nos Estados Unidos um trabalho sobre gramática gerativa denominado Syntactic Structures. Jean-Yvon Lanchec, em seu livro Psicolingüística e Pedagogia das Línguas, diz que "a Psicolingüística tem por objetivo estudar as relações entre a mensagem pronunciada por um sujeito A e o modo pelo qual é percebida por um sujeito B, que só retém uma parte dos elementos dessa mensagem". Na realidade, afirma Langacker, sendo a linguagem um fenômeno em grande parte mental, seu estudo pode ser considerado um ramo da Psicologia. Qualquer teoria adequada da Psicologia Humana deve dar alguma explicação de nossos processos de pensamento; a linguagem é de importância central aí porque a maioria de nossos pensamentos assume forma lingüística. Muitos, se não a maior parte de nossos conceitos, recebem algum tipo de rótulo verbal. Assim, a relação entre linguagem e formação de conceitos é de grande interesse para os psicólogos. A linguagem também testa significativamente teorias de organização psicológica. As línguas são altamente estruturadas, e aprendemos a identificar e descrever suas estruturas de forma consideravelmente detalhada. Qualquer teoria da organização psicológica, portanto, deve consiliar adequadamente os tipos de estruturas que sabemos serem características das línguas humanas. Demonstrando que a competência lingüística de um locutor possibilita-lhe a criação de todas as frases da língua que fala, a teoria chomskyana da gramática gerativa mostrou que a linguagem é um tipo de comportamento humano muito mais complexo do que até então era considerado, levando os estudiosos a um "saudável respeito pelas complexidades do comportamento lingüístico", visto terem todos eles fracassado ao tentar uma supersimplificação das regras gerativas da linguagem. Uma análise gerativa da linguagem humana, com certeza, levaria qualquer psicólogo a repensar as suas teorias sobre o comportamento humano em geral, a menos que já o tivesse feito antes. Relativo a isto escreve Judith Greene: "A implicação para a Psicologia é que qualquer modelo psicológico de comportamento do usuário da língua teria de se harmonizar com essa descrição do uso lingüístico. Em outras palavras, ao descrever o que o comportamento lingüístico envolve, a análise lingüística atuaria como um teste empírico para avaliar a produção de modelos psicológicos." Num outro lugar, a mesma psicóloga ainda diz mais: "É importante entender que a Psicolingüística continua sendo uma subdisciplina da Psicologia, cuja característica marcante reside no fato de os seus praticantes acreditarem no valor do exame lingüístico para se efetuar uma análise da linguagem." Noutras palavras, o que se pode entender disso é que a Psicolingüística não é tão somente a mesma Psicologia da Linguagem, como era considerada outrora. Comparativamente, poderíamos dizer que a Psicologia da Linguagem está para a Psicolingüística assim como a Língua Latina está para a Língua Portuguesa. A Psicolingüística, sem abandonar a sua origem, que é a Psicologia (e da qual é um segmento), utiliza-se dos métodos revolucionários e seguros da Lingüística moderna. Deste modo, "... a excitante idéia de que as próprias regras lingüísticas seriam um protótipo do comportamento do usuário da linguagem estimulou um novo modo de encarar a linguagem –