Buscar

DIREITO, PODER, JUSTIÇA E PROCESSO - PARTE 2 - NIDE - RESUMO - CALMON DE PASSOS

Prévia do material em texto

Leonardo David – 2º semestre – Antropologia – T2A – 2017.2 
 
 
DIREITO, PODER JUSTIÇA E PROCESSO – RESUMO 
Direito e poder 
35. Calmon começa analisando duas assertivas: “o homem é um animal social” 
e “o homem é o lobo do homem”. Em seguida diz que, embora aparentarem o 
contraditório, elas, em verdade, se somam e expressam a condição humana. Diz que, 
por um lado, somos incapazes de viver sem a aceitação do nosso semelhante, ou seja, 
somos “um com os outros”. De outro lado, somos “um contra os outros” e isso nos leva 
a carências e conflitos, competições e confrontos. Nessa constante dialética e a 
exigência de resolver tais conflitos com efetividade é que está a raiz do jurídico. 
36. Calmon diz que o dado mais imediato que aparece em nossa consciência é 
o homem concreto e singular que somos. Somente o homem, enquanto ser individual, 
tem a consciência de seu corpo, de seu destino, de suas realizações, da sua morte. O 
pensar, em qualquer de suas manifestações, como o conhecer e o julgar, são atividades 
específicas do homem e só compreensíveis a partir dele e se colocadas a seu serviço. 
37. Calmon então diz que para a condição humana se realizar, é necessário um 
espaço social que igual se impõe: a sociedade. O homem é um ser necessariamente 
gregário, portanto, a condição humana e a socialidade do homem estão 
necessariamente entrelaçadas. 
38. A realização do homem, portanto, cumpre-se no contexto fechado que é a 
ordem social. Ou seja, uma dada ordem social precede qualquer desenvolvimento 
individual orgânico. 
39. Então, o que deve prevalecer, o indivíduo, marcado pela consciência de ser 
“um dentre os outros”, ou a sociedade, onde a humanização só se cumpre sendo o 
homem “um com os outros”? Calmon diz que a resposta para tal pergunta é inútil, na 
medida em que os dois ocorrem. A sociedade determina o homem, mas não é algo dado 
ao homem, mas sim um complexo tecido de comunicações construído pelos homens, 
ou seja, somos determinados por ela, mas também a modificamos de acordo com as 
nossas opções. 
40. Calmon então traz uma metáfora para a análise dessa discussão. Ele diz que 
o que melhor representa essa relação é o tecido. O tecido é constituído por fios. Os fios 
soltos, uns na horizontal, outros na vertical, um sobre os outros, nada constroem, são 
apenas fios. Contudo, os fios que se entrelaçam, que se comunicam, formam o tecido. 
E assim é a sociedade. Nós somos os fios. Se simplesmente nos ajuntarmos, nunca 
Leonardo David – 2º semestre – Antropologia – T2A – 2017.2 
 
 
seremos sociedade. A sociedade se cria a partir das interações, aceitando ora estar sob, 
ora estar sobre o outro, mas sempre a serviço do objetivo maior, que é a criação da 
sociedade. 
41. Calmon, então, conclui essa linha de pensamento dizendo que o homem 
apresenta duas características fundamentais: a liberdade e a socialidade. A liberdade, 
pois é livre por optar, e não é subordinado ao determinismo biológico. A socialidade, 
pois é impossível pensar o homem sem que esteja em relacionamento com os outros. 
Nesse sentido, nós temos a necessidade de associarmo-nos seja por reprodução, seja 
por comunicação, seja por cooperação. E daí que, a partir de objetivos comuns, os 
homens se ordenam criando as organizações. Essas organizações têm como objetivo 
melhor atender as necessidades, o que configura o aspecto positivo, mas a partir daí é 
criada a hierarquização dos homens e de interesses, resultando na desigualdade, o que 
configura o aspecto negativo. A partir daí cria-se o poder político, onde surge o centro 
de poder. 
42. O poder, por sua vez, é um fenômeno presente em toda sociedade. Ele é o 
capacitado de levar alguém a fazer algo que não faria necessariamente. Daí Calmon diz 
que se a sociedade é pressuposto essencial da condição humana, o poder é 
pressuposto essencial à sociedade. Se conviver for um mal, é um mal necessário. Se o 
poder for um mal, é um mal inevitável. Calmon, então, trabalha com a ideia do poder no 
âmbito macro, ou seja, a junção de três macro poderes garantem a ordem social, sendo 
o Direito o instrumento que assegura esses poderes. São eles o poder político, o poder 
econômico e o poder ideológico. É o poder político que assegura a efetividade da ordem 
social de dominação instituída. É o poder econômico que institucionaliza determinado 
modelo de divisão social do trabalho. É o poder ideológico que legitima essa submissão 
dos dominados. 
43. O poder, segundo Diogo de Figueiredo Moreira Neto, tem quatro sentidos: 
no antropológico, onde o poder origina-se num diferencial de capacidade, dada a natural 
desigualdade entre cada ser humano, ou seja, esse diferencial é o responsável por 
produzir efeitos que não aconteceriam espontaneamente; no sociológico, o poder é o 
princípio motor da instituição, o que faz do costume uma instituição, tornando-a 
impositiva para organizar o meio social; no político, é um elemento diferenciador 
caracterizado pela relação comando/obediência; no jurídico, é a própria energia criadora 
do Direito. Calmon acrescenta mais um: o ideológico, que legitima o próprio poder em 
todas as suas manifestações. 
Leonardo David – 2º semestre – Antropologia – T2A – 2017.2 
 
 
44. Calmon diz então que o poder é natural do homem, mas apresenta-se de 
modo distinto de pessoa para pessoa, variando quantitativa e qualitativamente. Ou seja, 
uma pessoa sempre terá um diferencial de poder a seu favor, o que logra dizer que 
nenhuma relação é absolutamente equilibrada. Dessa forma, o poder só se manifesta e 
só se exprime no diferencial existente. 
45. Dito isto, o diferencial pode se manifestar pelo biológico (força, rapidez) ou 
no psicológico (experiência, persuasão, raciocínio, conhecimento). Nesse sentido, 
Calmon diz que o poder que se tem depende muito mais dessa segunda categoria, do 
que do diferencial biológico. Com isso, há a expansão do diferencial psicológico dando 
origem aos diferenciais sociológicos (liderança, influência, laços familiares). O poder 
passa a depender das vantagens relativas dos vários papéis sociais desempenhados 
pelos agentes. Esses diferenciais sociológicos podem sub-diferenciar-se em diferenciais 
econômicos e diferenciais políticos. 
46. Em qualquer dessas manifestações é essencial que o poder tenha 
efetividade, sem o qual não se configura como poder. Daí cabe a indagação de se uma 
ideia pode ser dotada de poder. E aí entra o questionamento “pode-se falar em poder 
de uma norma?”. Neste caso, confunde-se poder com valor. O poder é instrumental em 
relação ao valor. Quando dizemos que uma ideia tem poder, queremos dizer que seu 
valor tem condições de aglutinar poder. Ou seja, uma norma sozinha não é capaz de 
efetividade. Tudo depende da vontade do homem, sem o qual a norma é um “quase 
nada jurídico”, mera partícula à espera do intérprete. 
47. Dito isto, Calmon diz que o determinismo biológico não nos bota na condição 
de dominador ou dominado, ou seja, não somos previamente programados para assumir 
determinado papel social. Só temos poder sobre o outro a partir do modo como nos 
relacionamos individual ou socialmente. Só adquirimos poder, quando subtraímos este 
poder do dominado. Daí vem a ideia da soma zero do poder, pois se tenho + 2 de poder 
é porque eliminei 2 do poder do outro que ficou com -2, limitando, assim, a sua liberdade. 
A partir disso afirma-se que é impossível viver em absoluta liberdade, sem que sejam 
postas limitações ao seu exercício. 
48. Diante da insuficiência de bens para satisfação de todas as necessidades e 
desejos do homem, impõe-se a organização da convivência social. Isso implica no 
tratamento desigual dos integrantes do mesmo grupo, que ocorre mediante disciplinacoercitiva das relações sociais. Entretanto, apenas a força coercitiva não é suficiente 
para obter a estabilidade, sendo necessário, também, o poder ideológico, ou seja, o 
Leonardo David – 2º semestre – Antropologia – T2A – 2017.2 
 
 
poder que garante o consentimento da maioria, a partir da introjeção de crenças, 
legitimando a dominação. É assim que ocorre com o Direito. 
49. Portanto, a atividade política é indispensável e indissociável da convivência 
social. Por meio dela que definimos os objetivos a serem perseguidos e os valores que 
lhe são relacionados. Porém, ao lado desse poder macro, há a necessidade de 
assegurar a efetividade do poder, que seria o poder micro. Este, por sua vez, é um poder 
capaz de monopolizar a coerção e fazer uso legítimo da força. O Direito se faz presente 
tanto no âmbito macro, quanto no âmbito micro, interagindo com elas, sofrendo 
condicionamentos e condicionando ao mesmo tempo, dando previsibilidade e 
segurança. 
50. Para concluir, Calmon resume: a ordenação da convivência humana não tem 
sua matriz no Direito, mas sim na dinâmica dos confrontos políticos em sua interação 
com os fatos econômicos. Ao Direito cabe assegurar o modelo de convivência. O Direito 
é, portanto, vinculado ao poder político institucionalizado. Portanto, sem poder não há 
impositividade e sem impositividade não há Direito. Conclui-se, então, que a condição 
humana impõe a vida em sociedade, que exige a organização da vida social, onde se 
faz presente, necessariamente, o poder político.

Continue navegando