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6
Amazônia
8Páginas 6 e 7: Banco de Imagens ShutterstockPágina 11: Foto do acervo do Programa LBA / INPE - Paulo Artaxo
SUMÁRIO
1. Amazônia no Brasil
 1.1 diversidade biológica
 1.1.2 O rio Oceano
 1.2 diversidade sociocultural
 1.3 panorama socioeconômico
 1.3.1 indicadores da amazônia brasileira
2. Desafios da Amazônia Hoje
 2.1 desordem fundiária
 2.2 estradas clandestinas
 2.3 desmatamento
 2.4 cadeias produtivas predatórias
 2.4.1 Madeira
 2.4.2 pecuária
 2.4.3 soja
3. Ações Estratégicas do Governo
 3.1 plano amazônia sustentável (pas)
 3.1.1 plano de ação de prevenção 
 e controle do desmatamento 
 na amazônia
 3.1.1.1 Monitoramento 
 e fiscalização
 3.1.1.2 áreas protegidas 
 3.1.1.3 zoneamento territorial / zee
 3.2 regularização fundiária 
 3.3 plano de aceleração do crescimento 
 na amazônia (pac)
 3.4 fundo amazônia 
 3.5 plano nacional de Mudanças climáticas
4. Amazônia e o Clima Global 
 4.1 ciclo da água
 4.2 ciclo do carbono
 4.3 fogo
5. O Valor da Floresta em Pé
 5.1 serviços ambientais
6. Oportunidades para o Desenvolvimento 
Sustentável
 6.1 economia da floresta
 6.2 atuação responsável da iniciativa 
 privada 
 6.3 conexões sustentáveis – as cadeias 
 produtivas e os consumidores
7. Wal-Mart e a Amazônia
 7.1 fórum amazônia sustentável
 7.2 Gt pecuária sustentável
 7.3 flona amapá: a teoria na prática
AGRADECIMENTOS
Os editores deste Relatório agradecem a todas as fontes consultadas e em especial a Adalberto Veríssimo, do Imazon 
- Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia; Adriana Ramos, do ISA - Instituto Socioambiental; Eugenio 
Scannavino Netto, do Projeto Saúde e Alegria / Amazônia Brasil; João Meirelles, do Instituto Peabiru; Paulo Artaxo, 
fotógrafo; Paulo Vitale, fotógrafo; Ricardo Young, do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social; ao 
Ministério do Meio Ambiente e ao IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais. 
APRESENTAÇÃO
A Amazônia é a região mais biodiversa do planeta. Presente em 9 países e no Brasil, o bioma concentra 
5,1 milhões de km2 de florestas tropicais e ecossistemas de transição. Por sua abrangência geográfica, e 
por seu caráter biodiverso, a região possui hoje fundamental importância nos fóruns internacionais como 
protagonista global, já que representa um imenso estoque de carbono e contribui para a regulação dos 
ecossistemas, regimes climáticos e hídricos. Nesse sentido, a preservação das extensas áreas de mata 
tropical é considerada um dos vértices do equilíbrio natural da Terra e da permanência da vida sobre ela. 
Nos últimos 30 anos, o histórico de destruição dessa mata no Brasil destaca-se mundialmente, quando se 
consideram as emissões globais de gases do efeito estufa (gás carbônico, metano e óxido nitroso). Neste 
contexto, a Amazônia aparece como um potencial vilão do aquecimento global, tanto pelo desmatamento, 
quanto pelas queimadas. Este quadro insere o Brasil em 4º lugar na lista dos países que mais contribuem para 
as mudanças climáticas. Entre 1997 e 2006, apenas as queimadas intencionais na Amazônia responderam 
por 32% das emissões de gases de efeito estufa relacionadas às florestas tropicais. 
A Amazônia também atua na conservação e regulação dos regimes pluviais, que influenciam a economia e 
o bem estar das regiões Sul e Sudeste da América Latina, alcançando até os ciclos climáticos do Hemisfério 
Norte, influenciando as temperaturas das águas na América Central e Golfo do México.
Além desses aspectos, a floresta amazônica em pé fornece os chamados “serviços ambientais” que podem 
trazer benefícios para o Brasil e outros países da América Latina. A sua inigualável biodiversidade é um 
potencial ainda inexplorado e desconhecido pela ciência, o que permite uma reinvenção da economia 
regional, amparada em ecomercados e positiva para todo o Brasil. 
O planejamento integrado é um dos atuais desafios para a Floresta Amazônica e contempla o tripé da 
sustentabilidade (viabilidade econômica, segurança do meio ambiente e justiça social). Assim, o Wal-Mart 
Brasil quer conhecer melhor a Amazônia, porque acredita que somente a partir de uma base sólida de 
informações e do diálogo com representantes do governo, da iniciativa privada, de instituições e especialistas 
no tema será possível desenvolver ações para a preservação da floresta e para a utilização responsável e 
sustentável de seus recursos. 
O presente relatório representa o primeiro passo para um diálogo amplo que permita o estabelecimento de 
compromissos empresariais baseados em critérios de segurança ambiental e responsabilidade social nas 
ações que tenham relação direta com a região ou que estejam conectadas a ela por meio das cadeias de 
produção e consumo. Esses compromissos passam pela ação conjunta entre governo, empresas e sociedade 
civil, tendo como premissas o ordenamento fundiário e a legalidade, possibilitando a criação de um ambiente 
seguro para atrair investimentos que levem ao desenvolvimento sustentável da Amazônia. 
10
Uma das maiores árvores tropicais 
do mundo, a Sumaúma é comum em 
várzeas dos Rios Amazônicos.
Foto do acervo do Ministério do Meio Ambiente
Amazônia – Protagonismo Global
a aMazônia é uM fatOr de prOtaGOnisMO GlObal para O brasil. é a MaiOr flOresta trOpical dO planeta, cOM 
iMpOrtância fundaMental na reGulaçãO cliMática da terra e Grande pOtencial para O desenvOlviMentO 
de uMa ecOnOMia da flOresta, baseada eM biOtecnOlOGia e biOMassas. Os desafiOs de sua preservaçãO e a 
utilizaçãO respOnsável de seus recursOs cOlOcaM O país nO centrO das atenções internaciOnais. 
O desenvOlviMentO sustentável da aMazônia está diretaMente relaciOnadO aO MOdelO ecOnôMicO a ser 
adOtadO lOcalMente e eM cOMO se dará a utilizaçãO de seus recursOs pOr vetOres de Outras reGiões dO 
brasil e dO MundO. Garantir que a aMazônia irá sObreviver a esta GeraçãO e que vai cOntinuar a Oferecer 
suas riquezas à huManidade requer cOMprOMissOs de GOvernOs, sOciedade e eMpresas.
MesMO cOM a “Marca” aMazônia sendO uMa das Mais cOnhecidas dO MundO, a realidade de suas pOpulações, 
a cOndiçãO de suas flOrestas e sua iMpOrtância estratéGica para O desenvOlviMentO sustentadO ainda 
sãO descOnhecidas. Mais de 25 Milhões de pessOas viveM na reGiãO, eM Grandes cidades cOMO Manaus e 
beléM e taMbéM espalhadas eM cOMunidades indíGenas, tradiciOnais e ribeirinhas. as sOluções para O 
desenvOlviMentO sustentável da aMazônia deveM ir aléM da preservaçãO dO ecOssisteMa e cOnsiderar, pOr 
exeMplO, MelhOres cOndições de vida às pOpulações, GarantindO seu acessO à saúde, educaçãO, seGurança 
e trabalhO justO. 
MuitO se Ouve falar sObre O desMataMentO da reGiãO, Mas pOucO se cOnhece sObre sua Gente, história e 
ecOnOMia. O Olhar aqui apresentadO pretende indicar Os prObleMas e dileMas da aMazônia, assiM cOMO alGuMas 
sOluções já experiMentadas. a prOpOsta é buscar O desenvOlviMentO baseadO nO tripé da sustentabilidade, 
prOMOvendO viabilidade ecOnôMica à reGiãO cOM seGurança aO MeiO aMbiente e justiça sOcial.
12
No Brasil, somados os ecossistemas de transição 
do entorno desse território de matas tropicais, a 
Amazônia concentra 5,1 milhões de km2, ou quase 
60% do País.
A Amazônia brasileira administrativa (criada em 
1953 pela Constituição Federal do Brasil) é chamada 
Amazônia Legal, e alcança nove estados: Acre, 
Rondônia, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá e 
Tocantins, além da parte oeste do Maranhão e norte 
do Mato Grosso.
PErfil GEolóGiCo 
Há 420 milhões de anos, a planície amazônica era 
coberta por água do mar e formava um golfo aberto 
para o Oceano Pacífico. Não existiam os Andes. E a 
América do Sul e a África formavam um só continente. 
Nos 150 milhões de anos seguintes formaram-se rios 
que correm de leste para oeste, desaguando no Oceano 
Pacífico. 70 milhõesde anos atrás, surge a Cordilheira 
dos Andes, barrando o escoamento da água para o oeste. 
A água represada formou lagos, e regiões alagadiças, 
dando origem ao Rio Amazonas de hoje, que corre de 
oeste para leste, e deságua no Oceano Atlântico.
1.1 DivErsiDADE biolóGiCA 
Maior floresta tropical do mundo, a Amazônia é 
um imenso estoque de biodiversidade do planeta – 
muitas das incontáveis espécies animais e vegetais 
são ainda desconhecidas pela humanidade. 
Na maior superfície contínua de florestas tropicais em 
todo o planeta, estima-se que está concentrada em 
torno de 40% a 50% da diversidade biológica existente 
na Terra, considerando-se as espécies animais e 
vegetais que habitam a Amazônia brasileira.
O IBGE identifica no bioma brasileiro 70 tipos de 
vegetação não alterados pelo homem, além de seis 
tipos já alterados. Há sete grupos florestais que 
dependem do clima, da formação geológica, do relevo e 
da hidrografia para existirem: quase 84% são florestas 
de “terras firmes”, que cobrem 96% da Amazônia 
1. Amazônia no brasil
A Amazônia brasileira possui 3,6 milhões de km2 do 
bioma amazônico, que se estende por nove países da 
América Latina (6.900.000 km2), representando 59% 
desse território que vai da Cordilheira dos Andes, 
a oeste, até o Oceano Atlântico, a leste. O bioma 
avança sobre o Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, 
Guiana, Guiana Francesa (França), Peru, Suriname e 
Venezuela. 
BRASIL
GUIANA
SURINAME
GUIANA
FRANCESA
COLÔMBIA
VENEZUELA
PERU
BOLÍVIA
Limites dos países
Bioma da Amazônia
Fontes: WWF - Brasil e IBAMA
biomA AmAzôniA nA AmériCA Do sul
13
Seus rios respondem por 20% do estoque de água 
doce superficial do planeta3. E toda a bacia produz 
20 bilhões de toneladas diárias de vapor de água, 
regulando a umidade e os ventos da América do Sul 
e o clima da Terra. 
1.2 DivErsiDADE soCioCulturAl
A região é uma imensidão ainda verde que abriga 
cerca de 25 milhões de pessoas (no Censo de 2000 
eram 20,3 milhões e 12% da população brasileira), 
das mais diversas origens étnicas e culturais. São 
habitantes de cidades grandes como Manaus 
e Belém e de pequenos vilarejos ribeirinhos. A 
Amazônia urbana, com 768 cidades, abriga cerca de 
70% da população. 
(4% são terras inundadas permanentemente, ou de 
acordo com a estação do ano). 
Há mais espécies de árvores em um hectare de flo-
resta amazônica do que em todo o território europeu 
e norte-americano juntos1. 
Os ciclos anuais de enchentes (inverno) e vazantes 
(verão) dão o ritmo para a vida natural, seja em 
manguezais, várzeas, matas de igapó, matas de 
terra firme ou em áreas de transição para o Cerrado, 
Caatinga e Semiárido.
DivErsiDADE DEsConHECiDA
Pesquisadores internacionais acreditam que apenas 
10% das espécies da Amazônia brasileira sejam 
cientificamente conhecidas. Há regiões onde o homem 
nunca pisou. As estimativas indicam que o território 
abriga cerca de 25% das espécies vegetais e animais já 
catalogadas; há 30 mil espécies de plantas conhecidas; 
300 frutas comestíveis recenseadas; 1.200 espécies de 
pássaros e 324 espécies de mamíferos listados.
1.1.2 O rio Oceano 
A primeira expedição européia ao Rio Amazonas, em 
1639, comandada pelo espanhol Francisco Orellana, 
encontra um grupo hostil de mulheres, armado de 
arcos e flechas, “muito alvas e altas, com o cabelo 
muito comprido, entrançado e enrolado na cabeça”. 
O cronista da viagem, Frei Gaspar de Carvajal, 
passa a chamar o grande curso d’água de “rio das 
Amazonas”, numa referência à mitologia grega das 
mulheres guerreiras.
A bacia do Rio Amazonas, com um quarto da água doce 
do mundo, já foi um lago relacionado com o Oceano 
Pacífico há milhões de anos. Hoje, forma a maior bacia 
hidrográfica do planeta, com mais de 7 mil afluentes 
que drenam uma área de 584,6 milhões de hectares na 
América Latina. Com 25 mil quilômetros navegáveis, 
os rios são as estradas da Amazônia - mais de cem 
mil embarcações de todos os tipos funcionam como 
ônibus e caminhões e o acesso a muitas comunidades 
e cidades é possível apenas pela água2.
Tempestade na floresta amazônica
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Os outros 30% vive em áreas rurais, dos quais 
aproximadamente 3 milhões de pessoas habitam 
comunidades da floresta – é nas “comunidades 
tradicionais” que estão caboclos e ribeirinhos, além 
dos povos indígenas. Dessa população, apenas 200 
mil são índios (55,9% dos índios no Brasil). E, apesar da 
hegemonia da língua portuguesa, ainda sobrevivem 
180 idiomas nativos falados por cerca de 180 povos 
indígenas4.
Enfim, a Amazônia é habitada há mais de 12 mil anos: é 
preciso preservá-la não para isolá-la, mas para estudá-
la e desenvolvê-la de um modo totalmente novo.
1.3 PAnorAmA soCioEConômiCo
1.3.1 indicadores da amazônia brasileira
A importância da região amazônica em termos 
econômicos não pode ser avaliada apenas por 
seus indicadores – se comparados às regiões Sul e 
Sudeste do Brasil, a região amazônica representa 
8% do PIB brasileiro. No entanto, seus recursos 
naturais alimentam grandes cadeias produtivas, 
como as da pecuária, madeira, soja e mineração, que 
correspondem a 70% do PIB nacional5. A Amazônia 
possui 50% do potencial elétrico do País, cujo 
passivo por demanda está em 5% – nesse setor, o 
diálogo sustentável deve incluir as oportunidades 
econômicas para a região, sem prejuízo ao meio 
ambiente e à sua população. 
É bem verdade que, entre 2000 e 2004, houve 
crescimento médio de 6% ao ano do PIB da 
região, chegando a R$ 137,9 bilhões. E, em 2005, a 
Amazônia Legal produziu um PIB de quase R$ 170 
bilhões. Mas 50% desses montantes devem-se ao 
que se produz de bens industriais na Zona Franca 
de Manaus6. Apesar disso, o PIB per capita está em 
R$ 7.161,20 - entre 40% e 61,5% menor que o PIB 
do Brasil a partir de 2000 -, 85% dos habitantes 
nunca tiveram emprego formal (21% da população 
economicamente ativa em 2004), e 30 mil pessoas 
vivendo em comunidades tradicionais não têm 
alimento suficientes para viver7. 
númEros DA ProDução DAs CADEiAs 
ProDutivAs E EmPrEGos GErADos 
nA AmAzôniA, Em rElAção à 
ProDução nACionAl
Fonte: IPEA
8,3%
20,07%
1970 2006
PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA
7,4%
24,5%
1970 2006
PRODUÇÃO DE GRÃOS
16,1%
35,8%
1970 2006
REBANHO
14,1% 17,5%
CONTINGENTE OCUPADO
1970 2006
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km2 de terras griladas (ocupadas ilegalmente e sem 
escrituras de propriedade). Isso corresponde a dizer 
que 96% das terras ocupadas9 não são regularizadas 
pelo Incra – Instituto Nacional da Reforma Agrária, 
o que inclui tanto terras públicas quanto privadas. 
Dessas, 420 mil km2 10 são terras públicas (estados 
e União) em situação precária de posse – um quarto 
da área ocupada dos 3,8 milhões de km2 da Bacia 
Amazônica que estão no Brasil.
Entre as terras privadas, aquelas de tamanho 
superior a 500 hectares (cada hectare ocupa 
aproximadamente o espaço de um campo de futebol) 
somam 53% de toda a área (158 milhões de hectares), 
apesar de constituírem apenas 11% dos proprietários 
que estão sem titulo definitivo propriedade, 158 
milhões de hectares.
2. Desafios da Amazônia Hoje
2.1 A QuEstão funDiáriA
No vocabulário da história da ocupação da Amazônia 
estão presentes não apenas “grandes proprietários”, 
mas também “posseiros”, “grileiros” e “terras devo-
lutas”. O crime fundiário se dá com a entrada da 
exploração de madeiras nobres por grandes negócios 
ilegais em terras desocupadas do Estado ou de 
privados. As terras desmatadas abrem terrenos para 
a pastagem do gado, que é criado extensivamente. 
Este processo contínuo de exploração predatória é 
sistemático desde os anos 1970.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento 
Agrário, existem na Amazônia Legal8 cercade 700 mil 
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2.2 EstrADAs ClAnDEstinAs 
No modelo de desenvolvimento da Amazônia, as 
estradas deslocaram os eixos de povoamento que 
originalmente seguiam os rios, atraindo as populações 
e levando à intensa urbanização da região. No início 
dos anos 1990, a urbanização passou a marca dos 50% 
da população da região, e se intensificaram as ondas 
de migrações entre regiões. As estradas tornaram-se 
necessárias para a mobilidade dos povos da floresta 
e para as trocas de mercadorias.
O problema maior dos eixos de comunicação por terra 
reside nas estradas clandestinas, que são os acessos 
aos recursos naturais explorados de maneira ilegal. 
Com elas, é possível escoar a produção predatória 
de madeira ilegalmente retirada. As estradas não 
autorizadas são a primeira etapa da ocupação irre-
A falta de governança e a exploração desordenada 
trouxeram consigo uma outra desordem: a fundiária. 
A precária regularização das terras na Amazônia 
gera a sobreposição de territórios, que têm usos 
inconciliáveis, ou vários donos, permitindo a grilagem 
de terras. 
A ausência da autoridade legítima não se restringe 
apenas à titulação das terras, mas se traduz em 
insegurança e falta de Justiça para a população – as 
disputas pelo uso da terra se traduzem em homicídios. 
Na esteira da violência explícita e armada, o trabalho 
escravo, e muitas vezes com uso de mão de obra 
infantil, são outras pragas que nascem onde a floresta 
foi arrancada. Os serviços nas áreas básicas de saúde 
e educação também são precários.
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gular da floresta, comumente iniciada por madeireiros 
que abrem picadas em busca de madeira nobre. Dois 
terços do desmatamento da Amazônia brasileira ocorre 
nas vizinhanças dessas estradas, e nas ramificações 
sucessivas que abrem novos ramais de ocupação. É o 
efeito espinha-de-peixe. 
Pesquisas divulgadas no início de 2007 pelo Instituto 
do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia – 
Imazon indicam a existência de 173 mil quilômetros 
de estradas clandestinas no interior da Amazônia 
brasileira. Os invasores fazem estradas sob árvores 
de grande porte para driblar os satélites. Durante 
épocas chuvosas, quando nuvens também reduzem 
a nitidez das imagens, também ocorrem muitas 
ações ilícitas. 
O “efeito espinha de peixe” ocorre com a abertura de ramais em estradas, geralmente clandestinas. 
Este é uma das principais ameaças à floresta intacta. 11
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EstrADAs fEDErAis 
AbrEm novos CAminHos
No caso da BR-163 (Cuiabá-Santarém), o Governo 
Federal propôs um plano regional para minimizar 
impactos da rodovia em seu entorno. Foram criados 16 
milhões de hectares de áreas protegidas e programas 
de apoio às comunidades. Desde 2008, está em 
operação o comitê executivo do governo e o fórum 
do plano com participação da sociedade civil.
18
o ArCo Do DEsmAtAmEnto 
A chamada “frente do desmatamento”, que vem das 
regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País, causada 
pelo avanço do boi e da soja, formou ao longo dos 
últimos 30 anos uma faixa de pressão sobre a floresta. 
A faixa em formato de arco, que segue ao longo 
da fronteira sul e leste da Amazônia, é o “arco do 
desmatamento”. 
Evolução Do DEsmAtAmEnto nA DéCADA DE 2000
Médias anuais em km2 de florestas destruídas na 
Amazônia Legal.
83% do bioma ainda está conservado
55% com florestas primárias e 28% sob pressão imediata
2.3 DEsmAtAmEnto
Um dos principais problemas da Amazônia é sua 
taxa anual de desmatamento – de 2000 para cá, os 
índices de desmatamento têm se mantido entre 10 e 
20 mil km2 anuais, devido principalmente ao avanço 
da pecuária e da soja sobre a região. Nos anos 1990, 
as taxas chegaram a 27 mil km2 desmatados. Assim, a 
busca por um novo modelo de desenvolvimento para 
a Amazônia deve combinar responsabilidade social 
e proteção ambiental, permitindo a exploração não 
predatória dos recursos da floresta. É por meio de 
políticas governamentais eficientes, de controle e 
fiscalização, e do incentivo à produção florestal com 
origem ecologicamente certificada, que a sociedade 
– e os consumidores – poderá ver em seus produtos 
uma saída para a Amazônia, e para o País.
Desde 1970, o desmatamento atinge grande escala 
na Amazônia brasileira, e nas últimas duas décadas 
registraram-se os mais altos índices de derrubada. 
Atualmente há quase 20% em território desmatado. 
Foram alterados cerca de 17% do bioma (que tem 
cerca de 4 milhões de km2 no Brasil), o que quer dizer 
uma área de quase 700 mil km2 (similar às superfícies 
da França e Espanha juntas). Se considerado o estudo 
do Imazon de 2006, temos um cenário ainda mais 
preocupante: somada a área sob pressão humana, 
teremos mais de 40% de floresta tropical brasileira 
em sério risco!
18.226 18.165
21.238
25.282
27.379
18.759
14.039
11.224
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Mapa de focos de incêndio no arco do desmatamento. 
Estudo de abril de 2009 estima em 19% a contribuição 
global das queimadas sobre o aquecimento do planeta.
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Madeira certificada gera riqueza sustentável
19
2.4.1 Madeira
A Amazônia brasileira é hoje o primeiro centro de 
produção de madeira tropical do mundo. Na floresta, 
das mais de 5 mil espécies de árvores existentes, 
apenas 350 são utilizadas comercialmente. A cada 
ano, 10 milhões de árvores são retiradas – desse total, 
70% sai ilegalmente; dos outros 30%, que saem com 
autorização oficial, somente 3% provêm de áreas de 
manejo com certificação, ou seja, de áreas onde a 
madeira é extraída conforme regras determinadas 
internacionalmente.
O mercado mundial usa a madeira para a construção 
civil, mobiliário e outras necessidades da vida cotidiana. 
Os principais centros consumidores do Brasil, 
Europa, Ásia e Estados Unidos preferem menos de 
30 espécies, as responsáveis por 80% do mercado 
2.4 CADEiAs ProDutivAs PrEDAtóriAs
A etapa inicial do ciclo de desmatamento vem com as 
picadas para a retirada da madeira nobre e os novos 
ramais de ocupação são seguidos pela ocupação 
irregular da terra; uma vez derrubada a vegetação, 
o terreno vira pasto, sendo posteriormente ocupado 
pela monocultura.
Resumindo: a fragmentação do território por 
ocupação ilegal e predatória tem origem em fatores 
históricos da colonização implementada no início 
dos anos 1970. O ciclo do desmatamento segue a 
ordem da exploração ilegal das madeiras tropicais, 
dos bovinos em pecuária extensiva, e da soja 
mecanizada em vastíssimas extensões. 
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20
autorização da Convenção Internacional do Tráfico de 
Espécies Silvestres (CITES). A fiscalização apreende não 
apenas o que está sob risco de desaparecer, mas cuida 
de todas as espécies que saem de modo ilegal. O custo 
baixo da ilegalidade faz com que as madeireiras ilegais 
se multipliquem – segundo dados do Imazon, há mais 
de 3 mil serrarias na região, a maioria clandestina. 
Nas serrarias da região, sem tecnologia ou pessoal 
treinado, o desperdício da madeira escolhida chega 
a 50%. Madeireiros usavam muitas vezes a mesma 
autorização de um único lote para explorar diversas 
áreas, e até recentemente falsificavam guias de 
transporte – no final de 2007 as guias de autorização 
e transporte foram informatizadas para impedir o 
uso de papéis ilegais.
madeireiro. A grande maioria da madeira amazônica 
fica mesmo no Brasil – em 2001, o Brasil ficou com 
86% das toras comercializadas. São Paulo demanda 
entre 20% e 25% desse montantenacional. Em 2001, 
o Estado comprou 6,1 milhões de m3 em tora12.
Números mais recentes mostram que, em 2004, 
foram comercializados 24,5 milhões de m2 de toras 
(ou 6,2 milhões de árvores). Desse volume, 64% foi 
para o consumo nacional; 36% é exportado. Nesse 
mesmo ano, a exportação gerou US$ 943 milhões 
(em 1998 trouxe US$ 381 milhões) e apenas 379 mil 
empregos (contra 359 mil em 1998), ocupando 5% da 
população economicamente ativa13.
As espécies tropicais de florestas nativas têm grande 
valor. O mogno é uma das espécies mais utilizadas 
e, sob risco de extinção, não pode ser retirado sem 
Fo
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21
2.4.3 soja
A soja, desde o final dos anos 1990, vem mudando 
o modelo de ocupação da área de transição entre 
cerrado e floresta tropical. Hoje, o agronegócio 
chega ao coração da mata, com lavouras em vastas 
áreas, e que eliminam completamente a cobertura 
vegetal. Esse desmatamento causa graves alterações 
no clima, desequilibra o regime de chuvas e assoreia 
rios. Adicionalmente, a lavoura pode gerar a 
contaminação por agrotóxicos. 
Na expansão, o cultivo gera poucos empregos com 
a lavoura mecanizada. O avanço da produção de 
soja na Amazônia resulta em concentração de renda 
– na região é uma atividade de médios e grandes 
proprietários, que demanda alta tecnologia. A soja 
afeta os preços dos alimentos, tomando áreas da 
agricultura familiar – sai o feijão, entra a soja16. 
2.5 Conflitos soCiAis 
O desmatamento não atinge apenas árvores e ani-
mais, mas também as comunidades que nela vivem. 
Depois de retirado o verde das áreas de povoamento, 
formam-se favelas, com aumento de violência, gri-
lagem de terras públicas e pobreza urbana. O ciclo não 
tem fim, pois o mercado de commodities estimula o 
desmatamento em novas áreas.
Normalmente, após um grande boom de desen-
volvimento econômico predatório, com lucros 
imediatos, há uma queda abrupta de indicadores 
econômicos e sociais na região onde se instala. 
As áreas desmatadas são abandonadas quando 
a fertilidade do solo se esgota após a remoção da 
floresta que o protege. No lugar do verde, cresce a 
degradação socioeconômica: é o “colapso”. O efeito 
“boom-colapso” foi descrito no estudo de Adalberto 
Veríssimo do Imazon, e demonstra que os índices 
de desenvolvimento local nas zonas desmatadas 
não têm melhoria significativa em aspectos como 
pobreza ou outros investimentos. Ao contrário, 
acontecem desordem fundiária e desagregação do 
tecido social. Esse modelo econômico não sustenta, 
com produção de riqueza e empregos, uma única 
geração de pessoas, comprova o estudo.
2.4.2 pecuária
A pecuária é responsável por dois terços do desma-
tamento do bioma Amazônia, o que corresponde a 
quase 650 mil km2 – os pastos chegam a “77% da área 
convertida em uso econômico”14. Em menos de 30 
anos, o rebanho bovino na Amazônia Legal passou 
de 1 milhão para quase 65 milhões de cabeças. Hoje, 
há 4 cabeças para cada habitante da Amazônia. 
A criação em pastos extensos com baixa produtividade 
(0,7 boi/hectare) representava 33% do rebanho 
brasileiro em 2003 (em 1990 era 22%). O crescimento 
foi de 140% entre 1990 e 2003, destacando-se a criação 
nos estados do Amapá (17,5%), Acre (12,1%), Roraima 
(10,5%) e Maranhão (8,8%). Em contrapartida, no 
Distrito Federal (-10,8%), Rio Grande do Sul (-2,9%) e 
São Paulo (-2,5%) a produção bovina caiu15. 
O consumo da carne aumentou quatro vezes entre 
1972 e 1997. A maior parte ainda vai para o consumo 
interno: 83% dos bois criados no Norte destinam-se ao 
consumidor do Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil, cerca 
de 13% fica na Amazônia. Dados do IBGE de 1996, para 
o rebanho brasileiro, indicam que 59% da produção da 
região Norte está nas mãos de grandes proprietários 
(mais de 500 hectares). Os pecuaristas de pequeno 
porte são 41% dos produtores, concentrando-se na 
zona do arco do desmatamento em áreas de colo-
nização, indo para fronteiras pioneiras, onde a terra 
é mais barata.
Na indústria da pecuária, uma área de 5 mil hectares 
emprega dez pessoas. No total, há 118 mil empregos 
diretos desse setor (dados do Imazon) que responde 
por 0,02% do PIB do Brasil (dados do Instituto 
Peabiru). Sob esta lógica, o negócio é nada rentável e, 
na Amazônia, os investimentos rendem apenas 4,6% 
ao ano. No manejo florestal, uma área de mesmo 
tamanho empregaria 230 vpessoas e a taxa de 
retorno dos investimentos seria em média 33% maior. 
Conforme o estudioso João Meirelles, os números 
não refletem a situação se fossem levados em conta 
as perdas ambientais referentes às queimadas, perda 
da biodiversidade, poluição das águas, etc.
22
As irregularidades acontecem nas áreas sob histórico 
conflito fundiário, social e econômico – das sete 
cidades listadas como prioridades para o controle 
ambiental em março de 2009, as seis primeiras já 
registraram pessoas escravizadas: Marabá, Pacajá, 
Itupiranga, Tailândia (PA), Feliz Natal (MT), Amarante 
do Maranhão (MA) e Mucajaí (RR).
3. Ações Estratégicas do Governo
Novas políticas públicas nacionais, com apoio da 
cooperação internacional, tem considerado uma 
estabilização populacional da Amazônia brasileira e o 
surgimento da economia da floresta nos 80% da mata 
ainda preservada, amparada em serviços ambientais 
e mercados para produtos oriundos de manejo 
sustentável de recursos florestais. O planejamento 
integrado dessa transição é um dos desafios do 
momento atual. O ordenamento fundiário fecha 
o ciclo de proteção e desenvolvimento sustentado 
previsto para a região amazônica, que começou com 
a implantação da política de criação de Unidades de 
Conservação, monitoramento por imagens de satélites 
e fiscalização do limite de 20% para a derrubada de 
matas em áreas privadas. 
O estudo “Lições para divulgação da lista de infratores 
ambientais no Brasil”, elaborado pelo Imazon, revela 
“aspectos positivos nas esferas pública e privada”, na 
divulgação integral das listas de crimes ambientais 
e das sanções administrativas aplicadas. Com a 
identificação das cadeias produtivas associadas ao 
trabalho escravo e a integração de “listas sujas”, 
com a vedação ao crédito e a financiamentos 
públicos, propõe-se nada mais que o cumprimento 
de preceitos legais.
Esta visão global e integrada é necessária para os 
investimentos em obras de infraestrutura ou em 
negócios florestais importantes sob o ponto de vista 
da sustentabilidade da Amazônia.
Em 2006, um grupo de entidades que trabalha na 
Amazônia terminou o Mapa dos Conflitos Sociais da 
Amazônia Legal. O estudo identificou 675 pontos de 
conflitos que consideram o cruzamento de dados do 
Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), do 
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 
do Ministério do Trabalho e da CPT (Comissão Pastoral 
da Terra). Os assassinatos e conflitos fundiários 
acontecem pela invasão de reservas comunitárias 
na expansão do desmatamento, ou pela grilagem 
de terras do Estado ou de proprietários sem títulos 
regulares no Incra. O mapa dos conflitos se confunde 
com o arco do desmatamento, indo sempre um 
pouco adiante da fronteira de desenvolvimento 
agrícola. No Mapa da Violência dos Municípios 200817 
do Ministério da Justiça, uma pesquisa mostra que 
556 municípios brasileiros (cerca de 10% do total) 
concentram 73,3% dos homicídios.
Dos 100 municípios na Amazônia brasileira com 
maiores índices de desmatamento, 61 estão também 
entre os que apresentam as maiores taxas de 
assassinatos no Brasil. Em 2007, as cidades com as 
taxas médias mais elevadas, ou seja, com mais de 
100 homicídios para cada 100 mil habitantes, foram 
respectivamente Coronel Sapucaia (MS), Colniza 
(MT), Itanhangá (MT) e Serra (ES). Nesse ano, essas 
cidades deixaram para trás a tradicional campeã da 
violência, São Félix do Xingu, no Pará. 
Já um levantamento realizadopela agência Repórter 
Brasil, a partir de dados do Ministério do Trabalho e 
Emprego (MTE) e do Ministério do Meio Ambiente 
(MMA), aponta que 74% dos municípios que mais 
desmatam na Amazônia já foram flagrados com mão 
de obra escrava. O índice resume o cruzamento de 
dados das fiscalizações do Grupo Móvel do Trabalho 
Escravo do MTE18 e da “lista suja” do desmatamento, 
que reúne as localidades campeãs na devastação 
da floresta e que são responsáveis por 55% do que 
foi devastado no bioma Amazônia19. Em 2009, a 
primeira atualização do governo ampliou de 36 
para 43 o número de cidades. Em 32 municípios da 
Amazônia Legal, há convergência entre as duas 
infrações: desmatamentos ilegais e uso de mão de 
obra escrava. 
23
sustentável. Apesar de o desmatamento ter 
avançado nos últimos 30 anos, o período entre 2004 
e 2007 recebeu especial atenção do governo federal, 
e as medidas do Ministério do Meio Ambiente, com 
participação da sociedade civil, conseguiram uma 
redução da taxa de desmatamento em 59% em três 
anos, metade da média anual de 23 mil km2 existente 
desde 198820. 
3.1.1.1 Monitoramento e Fiscalização
Iniciado em 1988, o Programa de Monitoramento 
da Floresta Amazônica por Satélite (Prodes) utiliza 
imagens com resolução espacial de 20 a 30 metros 
para uma análise detalhada das tendências do 
desmatamento na Amazônia brasileira. Em 2004 foi 
lançado o Sistema de Detecção de Desmatamento em 
Tempo Real (Deter), que usa imagens com resolução 
de 250 metros: menos preciso, fornece dados coti-
dianos. As ferramentas integradas permitem ações 
rápidas em campo, e uma projeção das tendências 
que são detalhadas posteriormente pelo Prodes. O 
sistema possibilitou reverter o processo de crescentes 
taxas de desmatamento.
3.1.1.2 Áreas Protegidas 
Com a Lei 9.985 de 2000, o Brasil instituiu o Sistema 
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza 
(SNUC), regulamentada pelo Decreto 4.340, de 2002. 
A legislação atendeu ao artigo 225 da Constituição 
Federal. Entre 2003 e o final de 2007, o Brasil 
duplicou a área de unidades federais de conservação 
ambiental, que chegaram a 100 mil km2 (20% da 
Amazônia brasileira), se somadas as unidades criadas 
pelo governo federal (60 mil km2) e por governos 
estaduais. O objetivo do Ministério do Meio Ambiente 
é chegar a 90 mil km2 em 2010, meta que está no 
vértice da reforma estrutural ambiental.
Para que as Unidades de Conservação saiam 
de fato do papel, é preciso fiscalizar e impedir a 
invasão desses espaços por empreendimentos 
agropecuários, segundo alertas do Conselho Nacional 
dos Seringueiros, durante o segundo Encontro dos 
Povos da Floresta ocorrido em setembro de 2007 em 
Brasília – o encontro ocorreu 20 anos após o primeiro, 
que aconteceu no ano da morte do líder seringueiro 
Chico Mendes. Para os povos da floresta, as unidades 
3.1 PlAno AmAzôniA sustEntávEl (PAs)
O principal instrumento para a queda do desma-
tamento durante o primeiro mandato do governo 
Lula foi a criação do Plano Amazônia Sustentável. O 
PAS contém quatro eixos temáticos: 
1) ordenamento territorial e gestão ambiental, 
2) produção sustentada com inovação e 
 competitividade, 
3) infraestrutura para o desenvolvimento 
 sustentado e, 
4) inclusão social e cidadania. 
Para cumprir seus objetivos e metas, o PAS tem no 
Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na 
Amazônia seu maior aliado.
3.1.1 plano de ação de prevenção e controle do 
desmatamento na amazônia
Ligado à Presidência da República, o PAC da Ama-
zônia envolve 11 ministérios e os governos estaduais 
desde 2004 na implantação de ações estratégicas, 
agindo para enquadrar na lei o avanço ilegal do 
desmatamento florestal na região. A meta de sua 
segunda fase, a partir de 2008, é atingir zero de 
desmatamento ilegal com instrumentos econômicos 
e de financiamento. 
As ações em áreas estratégicas são compostas de 
monitoramento ambiental remoto por satélites, 
fiscalização territorial, prevenção do fogo e desmata-
mento e apreensões, além de incentivos à produção 
Estação Ecológica do IBAMA
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3.2 rEGulArizACAo funDiáriA
Dificilmente a Amazônia vai se desenvolver se não 
houver segurança e paz no campo. Também os 
investimentos federais para o desenvolvimento, 
a energia e os biocombustíveis dependem da 
regularização fundiária. Sem ela, não é possível levar 
a bom termo os planos contra o desmatamento e 
consequentes efeitos em benefício do clima, e em 
favor dos serviços ambientais.
Para atores do movimento social e ambiental na 
região, o ordenamento territorial deve ocorrer antes 
mesmo dos investimentos em saúde e educação. 
Toda a ação pública começa com a legalidade. A 
regularização é, por exemplo, prioridade no plano de 
asfaltamento da BR-163 (Cuiabá-Santarém). O plano de 
gestão sustentável da obra previsto no PAC - Plano de 
Aceleração do Crescimento demanda licenciamentos 
ambientais do Ibama – Instituto Brasileiro de Meio 
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis. Etapa 
difícil a ser vencida sem que sejam identificadas as 
propriedades e assentadas as comunidades que nelas 
vivem. A obra está orçada em $ 1,5 bilhão.
Desde 2003, o Incra – Instituto Nacional da Reforma 
Agrária, responsável pela complexa tarefa, vem 
desenvolvendo uma política de georreferenciamento 
das glebas públicas – prioridade para terrenos 
menores (de até 100 hectares) e médios (de 100 a 500 
hectares), onde há pessoas em jogo. A Lei de Gestão 
de Florestas Públicas pede que tudo esteja “preto no 
branco” antes de conceder o uso sustentável a pessoas 
ou empresas. Com isso, o governo recupera para si as 
posses ilegais das chamadas terras “devolutas”, que 
até então “eram de ninguém”.
Para a legalização de títulos de posse e propriedade 
é preciso que as terras se enquadrem nas normas 
do zoneamento ecológico-econômico. Para que o 
Incra possa acertar o compasso entre a legislação e a 
agilidade do processo, que não se limita à escritura – 
é necessário uma política integrada entre as diversas 
áreas governamentais. 
devem ter investimentos federais para que haja 
regularização fundiária e gestão compartilhada com 
as comunidades extrativistas que ali vivem.
3.1.1.3 Zoneamento Territorial na Amazônia
O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) orienta 
o planejamento da Amazônia e os mapas que 
derivaram do trabalho de uma multiplicidade 
de profissionais e instituições têm hoje função 
normativa. Conforme sua definição pelo IBGE, 
os mapas de zoneamento ecológico-econômico 
têm importância por prospectarem e indicarem 
“alternativas de uso sustentável dos recursos 
naturais, e do aproveitamento das potencialidades 
econômicas e sociais da Amazônia, respeitando a sua 
diversidade cultural e regional”.
A construção de instrumentos legais para a 
implantação do ZEE e os consensos sociais sobre 
o tema são necessários para a multiplicação de 
planos regionais de desenvolvimento sustentável. 
Inclusive no caso de abertura de estradas ou obras 
de infraestrutura que formam corredores de 
desmatamento, o ZEE inclui criação de Unidades 
de Conservação, proteção de terras indígenas, 
fiscalização e fomento a atividades sustentáveis, 
com instrumentos de gestão territorial usados por 
diferentes setores dos governos federal e estadual. 
Os Corredores Ecológicos, ou grandes extensões 
de terras com ecossistemas prioritários, previnem 
ou reduzem a fragmentação das florestas para a 
sobrevivência da biodiversidade das espécies. 
O mapa completo mostra a divisão do território da 
Amazônia Legal em áreas com estrutura produtiva 
definida ou a definir; áreas que devem ser recuperadas 
e/ou reordenadas; áreas frágeis; áreas onde há 
manejo florestal; e as áreas de proteção ambiental 
já existentes e propostas. Serve de base tambéma 
um projeto mais ambicioso: o Macrozoneamento 
Ecológico-Econômico.
25
referência para o desmatamento será de 1,95 milhão 
de hectares por ano, média da área desmatada 
na última década. A cada ano, uma comissão 
independente calcula quanto carbono deixou de 
ir para a atmosfera, no valor de US$ 5 por tonelada 
evitada. O cálculo é de 100 toneladas de carbono por 
hectare de floresta.
O fundo recebeu a primeira parcela de recursos em 
março de 2009. Doados pelo governo da Noruega ao 
Fundo Amazônia, os US$ 110 milhões repassados são 
a primeira parte da doação norueguesa, que deve 
chegar a US$ 1 bilhão até 2015. O dinheiro vai financiar, 
a fundo perdido, iniciativas como manejo florestal, 
gestão de florestas, ações de controle e fiscalização 
ambiental, recuperação de áreas desmatadas e 
pagamento por serviços ambientais. 
O dinheiro será gerenciado pelo Banco Nacional 
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), 
e repassado a organizações não-governamentais 
(ONGs), empresas, comunidades tradicionais e 
órgãos do governo que poderão pleitear os recursos. 
Além da Noruega, a Alemanha deve doar mais 18 
milhões de euros. O Ministério do Meio Ambiente 
informou que 20% do Fundo irá para fiscalização e 
controle do desmate florestal.
3.5 PlAno nACionAl DE muDAnçAs 
ClimátiCAs
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva antecipou, no dia 
25 de setembro de 2008, na abertura da Assembléia 
Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 
Nova York, a representantes de mais de 150 países, 
o Plano Nacional de Enfrentamento das Mudanças 
Climáticas21. O Plano tem metas ambiciosas em 
sustentabilidade ambiental para a floresta amazônica. 
O principal fica por conta do objetivo de chegar a 72% 
na redução do desmatamento até 2017. 
Para chegar lá, estabeleceu o seguinte plano de ação: 
• 2009 - reduzir em 23% o desmatamento,
• 2010 - reduzir, a cada 4 anos, 30% sobre o período 
anterior,
• 2017 - chegar a taxa zero da destruição florestal.
3.3 PlAno DE ACElErAção Do 
CrEsCimEnto nA AmAzôniA (PAC) 
O Plano de Aceleração do Crescimento tem R$ 500,9 
bilhões em recursos federais, estaduais e do setor 
privado para implementar projetos de energia e 
infraestrutura no País. 
Na Amazônia, os projetos de construções para 
geração de energia são prioridade, e as questões de 
sustentabilidade vêm à tona em projetos como os 
das usinas de Belo Monte, no Pará, e Santo Antônio 
e Jirau, em Rondônia, com reflexos sociais em 
populações indígenas e impactos ambientais sobre 
espécies de peixes e outros animais da região .
O PAC na Amazônia representa ainda o agenciamento 
de hidrovias, portos, rodovias e ferrovias, além de 
obras de infraestrutura de habitação e saneamento. 
Conforme a legislação, os fundos para a infraestrutura 
na Amazônia precisam ser oferecidos às obras que 
atendam determinados critérios de sustentabilidade, 
e que tenham como prioridade o desenvolvimento 
local. Multas e suspensão de obras estão previstas 
no licenciamento ambiental concedido a empresas 
licitadas.
Em território amazônico, hoje há três importantes 
eixos de circulação e de ocupação terrestre: a rodovia 
Cuiabá-Santarém, a estrada Porto Velho-Manaus 
com a BR-174, que liga o país à Venezuela e o fluxo de 
pessoas que vai do baixo Amazonas para o Amapá. 
Construídas pelos governos federais desde os anos 
1970, as rodovias amazônicas foram feitas para dar 
acesso a obras de hidrelétricas e às áreas de mineração. 
Na visão atual do governo brasileiro, estradas não 
podem ser vetor de desmatamento. O acesso deve 
ser planejado com critérios socioambientais prévios, 
de prevenção e mitigação de efeitos maléficos.
3.4 funDo AmAzôniA
O Fundo para Proteção e Conservação da Amazônia 
Brasileira foi criado em setembro de 2008 para 
compensar a não emissão de carbono pela redução 
do desmatamento. Nos primeiros quatro anos, a 
26
27
Floresta Nacional do Amapá. O Amapá é o mais bem 
preservado estado da Amazônia brasileira, com menos 
de 2% de sua área desmatada, e mais de 70% de sua 
superfície protegida por unidades de conservação.
 
Acervo Wal-Mart Brasil / Foto de Paulo Vitale
28
Mas, se por um lado o efeito estufa é benéfico, 
por outro a concentração excessiva de seus gases, 
especialmente o CO2, acaba formando uma barreira 
que dificulta a liberação para o espaço da energia 
refletida pela superfície da Terra. Os relatórios 
sobre o clima, divulgados em 2007 pelo Painel 
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), 
preveem uma variação de 1,8 a 4 graus centígrados 
na temperatura média do planeta até 2100. O grupo 
de cientistas internacionais concluiu que a grande 
parte do aquecimento observado nos últimos 50 
anos se deve a atividades humanas. E que, além das 
alternativas tecnológicas que permitem a redução 
das emissões dos gases de efeito estufa (GEE), as 
florestas estão entre as saídas mais importantes: 
essas superfícies são sumidouros primordiais de 
CO2. A floresta preservada mantém o ciclo da água, e 
fornece chuva para o Sudeste do Brasil. 
Biodiversidade é outro grande valor do planeta, 
que desaparece quando a floresta vira pastagem e 
todo o carbono que estava na floresta vai para o ar. 
É possível que 20% das espécies animais e vegetais 
possam mudar sua distribuição, ou mesmo serem 
extintas por causa da intensidade de fenômenos 
naturais decorrentes: secas, furações e inundações 
podem aumentar, conforme estudos realizados em 
diversas partes do mundo. Na maior floresta tropical 
do mundo, os ciclos da água e do carbono ainda 
funcionam naturalmente. 
4.1 CiClo DA áGuA
O Rio Amazonas despeja no Oceano 1/5 da água 
doce de todos os rios do mundo22. Sua extensão é 
de 6.850 km da nascente, nos Andes, até sua foz – 
é comparável à distância em linha reta entre Berlim 
e Nova York. Recentes medições comprovaram que 
além de ter a maior vazão, também é o mais extenso 
do mundo (180 km maior que o Nilo)23. No Brasil, a 
declividade do rio Amazonas é de apenas 80 m em 
relação ao nível do mar.
Os rios são o ponto nevrálgico do ciclo da água na 
Amazônia, pois captam a água das chuvas na região. 
Além dos rios que serpenteiam as matas, há ainda os 
4. Amazônia e o Clima Global 
O clima sempre se modificou e continuará mudando 
por razões naturais. Ocasionado pela associação de 
uma série de gases, o efeito estufa é responsável 
pela retenção do calor emitido pela Terra, o qual é 
gerado pela radiação solar. Se esse mecanismo não 
existisse, a temperatura média no planeta seria 
30 graus abaixo dos níveis atuais. No século XX, a 
temperatura média da superfície terrestre aumentou 
em cerca de 0,6%; as extensões das calotas polares 
diminuíram; o nível do mar subiu entre 10 e 20 cm; 
e sentem-se alterações importantes no regime de 
chuvas e temperaturas radicais.
o ProtoColo DE Quioto 
A preocupação das emissões de carbono sobre o efeito 
estufa levaram a diversas negociações internacionais para 
reverter o aumento do CO2 na atmosfera. O foco científico 
foi promover a absorção do carbono da atmosfera, 
através do processo de “seqüestro de carbono”. Em 1990 
foi estabelecido pela Organização das Nações Unidas 
(ONU), o Comitê Intergovernamental de Negociação 
para a Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima 
(INC/FCCC). O texto da Convenção foi assinado em 
junho de 1992 na Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro, 
e entrou em vigor em 21 de março de 1994. Em 1997 
foi definido o Protocolo de Quioto, segundo o qual os 
países industrializados devem reduzir suas emissões de 
gases estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis 
de 1990, até o ano de 2012. O Brasil não está incluído 
nesses países, por não emitir o suficiente.
O Protocolo de Quioto estabeleceu o Mecanismo de 
Desenvolvimento Limpo (MDL), um conjunto de regras 
de financiamento dos países que mais emitem carbono 
aos paísesmenos emissores, para conservação e 
recuperação de florestas e adoção de tecnologias limpas. 
Esse mecanismo criou o mercado de carbono, pelo qual os 
países industrializados podem comprar cotas de emissão 
de carbono (os chamados créditos de seqüestro de carbono 
ou créditos de carbono) dos países que emitem menos. 
O mecanismo REED (veja texto na página 26) poderá 
substituir ou complementar o Protocolo de Quioto.
29
4.2 CiClo Do CArbono
A Amazônia concentra mais de 30% do estoque de 
carbono em vegetação do mundo. Entre datações 
feitas com carbono 14 e com anéis de crescimento 
concluiu-se que os exemplares mais antigos de 
árvores podem ter entre 600 e 2 mil anos de vida. 
No ciclo florestal, o carbono que está aprisionado na 
biomassa das árvores, é liberado quando se queima 
a mata ou quando ela é cortada, para finalizar em 
processos industriais que liberam o carbono – o CO2 
(dióxido de carbono) e o CO (monóxido de carbono) 
são dois dos gases liberados na retirada de matérias 
orgânicas, e importantes para o efeito estufa. 
Se considerarmos que há tecnologia antiga para 
capturar o CO2 da atmosfera e reinjetá-lo na terra, 
devemos lembrar que não há tecnologia para seu 
uso comercial. Além disso, este recurso é temporário, 
visto que o CO2 assim estocado permanece alojado 
por até 100 a 120 anos.
“rios voadores”, que navegam pelos céus, carregando 
os fluxos de vapor de água liberados pela evaporação 
da mata regional. Eles carregam também a umidade 
atmosférica que chega dos oceanos, pela costa do 
Oceano Atlântico, encaminhando todo o volume 
do norte para o sul do Brasil. Essas massas de vapor 
de água chegam a ter a grandeza da vazão do Rio 
Amazonas, ou 200 mil m3 por segundo. 
Os rios voadores, que correm do Oceano para 
dentro do continente, são desviados pela barreira 
da Cordilheira dos Andes para o sudeste e o sul do 
Brasil. O clima ameno dessas regiões, que em outras 
latitudes apresenta desertos ou regiões secas, 
decorre da umidade enviada pelaFloresta Amazônica 
e da relação com a floresta atlântica restante. O 
projeto de acompanhamento dos “rios voadores” que 
comprova a trajetória dessa umidade teve início nos 
estudos pioneiros do agrônomo Enéas Salatti – 40 
anos atrás na Esalq/USP de Piracicaba, ele estudava 
os ciclos hídricos na agricultura de São Paulo.
Rio Amazonas
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5. o valor da floresta em Pé
A Amazônia em pé fornece os chamados “serviços 
ambientais” para o Brasil e a América Latina devido 
a seu imenso estoque de carbono. O cientista 
brasileiro Carlos Nobre, que participou do IPCC (Painel 
Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU), 
afirma que a “Amazônia é importantíssima como 
enorme reservatório de biomassa, cuja liberação como 
gás carbônico aumentaria em 16% o aquecimento 
global”25. Embora sem metas obrigatórias nos acordos 
mundiais por seu baixo volume histórico de emissões, 
o Brasil emite 10% dos gases mundiais por queimar 
áreas verdes na expansão agrícola. 
Para o aquecimento planetário, não apenas o CO2 e o 
CO interferem no efeito estufa (queima e derrubada 
da floresta amazônica), mas também o metano (o 
gás emitido na decomposição da mata também é 
expelido pela digestão dos bovinos), que responde por 
1/5 do aquecimento global – a pecuária é responsável 
por cerca de 80% do desmate e dos gases de efeito 
estufa brasileiros26.
Interessante lembrar que os chamados “serviços 
ambientais” se referem à captura e retenção do 
carbono, e também à manutenção da biodiversidade 
e regulação do ecossistema, proteção hídrica e 
proteção da beleza cênica. Assim, a Amazônia 
brasileira preservada, com corte radical nas queimadas 
indiscriminadas, mantém o bioma em seu papel de 
“umidificador” do planeta. Pesquisas científicas vêm 
determinando suas funções nos ciclos hidrológicos e 
climáticos, impactando na regularização do regime 
de chuvas no Sul e Sudeste do Brasil e sobre as 
temperaturas das águas na América Central e no 
Golfo do México. 
Ao final das considerações, a floresta é um importante 
ator nas negociações internacionais de emissões 
de carbono na atmosfera: parar de queimar ou 
subtrair algumas das atividades predatórias (corte 
da madeira e pecuária extensiva, por exemplo) 
reduziriam drasticamente as emissões de gases de 
efeito estufa.
4.3 o foGo 
Na Amazônia brasileira o fogo é uma prática 
tradicional usada para o plantio das roças de 
mandioca, por pequenos produtores, ou para abrir 
pastagens, pelos grandes latifundiários. Apesar de 
fazer parte da cultura local rural, deve ser combatido 
do ponto de vista climático: o fogo é uma das 
ferramentas mais presentes no ciclo de destruição 
da floresta nativa, e hoje representa o grande vilão 
para o clima planetário, pois são as queimadas as 
principais emissoras de dióxido de carbono e de 
outros gases, levando o Brasil ao 4oº lugar na lista 
mundial de emitentes de gases estufa. 
Hoje, a queima anual da mata corresponde a 
250 milhões de toneladas de carbono jogadas na 
atmosfera. Cem hectares de floresta queimada 
equivalem às emissões de 6.820 automóveis a 
gasolina rodando em um ano24.
“Os serviços ambientais da própria Floresta Amazônica 
são a melhor alternativa de desenvolvimento para 
a região. Serviços com os quais se ganha muito mais 
do que destruindo a floresta. Essa floresta inteira 
está evitando o efeito estufa, está mantendo o ciclo 
da água, inclusive fornecendo chuva para o Sudeste. 
A floresta presta um grande serviço para o mundo e 
ninguém paga nada por isso. Biodiversidade é outro 
grande valor, mas desaparece quando se transforma a 
floresta em pastagem e todo o carbono que estava na 
floresta vai para o ar. Então é preciso atribuir valor a 
toda o serviço que a Amazônia presta ao planeta.”
Philip Fearnside, pesquisador do Departamento de Ecologia 
do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o 
segundo cientista mais citado do mundo, de acordo com o 
Science Citation Index, quando o tema é aquecimento global. 
31
Aspecto da Floresta Nacional do Amapá
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partir de 2013, será negociado em dezembro de 2009 
em Copenhague (Dinamarca), com a construção 
de um mecanismo internacional de compensações 
para os serviços ambientais – e sua repartição 
com comunidades locais, caso do Bolsa-Floresta 
implementado no Estado do Amazonas. 
Começa a surgir como um consenso entre governo 
e ambientalistas brasileiros que as florestas devam 
receber fundos voluntários para a redução do 
desmatamento, e não simplesmente fazer a troca 
como moeda no mercado do carbono. Sobre o 
REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e 
Degradação Florestal), que pretende a mitigação 
dos efeitos do aquecimento mundial, há dúvidas: 
no mercado de créditos para florestas, o preço do 
carbono cairia em 75%, trazendo desvantagens a 
paises como China, Brasil e Índia. 
5.1 sErviços AmbiEntAis
A dimensão planetária da floresta oferece ao Brasil 
importância geopolítica nos fóruns globais. Os 
pagamentos por “serviços ambientais” vigentes nos 
protocolos internacionais de combate ao aquecimento 
global ganham destaque neste início de século.
Segundo Joseph E. Stiglitz, Prêmio Nobel de 
Economia em 2001, o Brasil poderia receber US$ 500 
milhões se negociasse as reduções nas emissões de 
carbono equivalentes à queda em 10% nas taxas de 
desmatamento da década de 1980. O desmatamento 
não beneficia e nem sustenta a população e dá uma 
contribuição mínima à economia do País.
O novo acordo global de combate às mudanças 
climáticas, que substituirá o Protocolo de Quioto a 
32
Cientistas ligados ao IPCC e à Amazônia já estimaram 
valores para os benefícios que as quedas no 
desmatamentoteriam sobre o planeta. A redução 
pela metade no ritmo de desmatamento de 1990-
2000 das florestas tropicais economizaria 50 
bilhões de toneladas de carbono, mais de 10% dos 
cortes necessários para manter as concentrações 
atmosféricas de dióxido de carbono em 450 partes por 
milhão (IPCC). Já a taxa de redução de desmatamento 
anual em 15% significaria estabilizar o quadro de 50 
milhões de hectares já degradados da Amazônia, 
equivalendo a 50% da meta atual do atual Protocolo 
de Quioto.
A despeito das dúvidas sobre quanto pode valer um 
trecho de floresta em pé, qualquer uso que se faça 
das matas hoje será mais pobre que a manejo de sua 
biodiversidade. Ou menos rentável do que seu uso 
sustentável. 
Um exemplo é a produtividade da pecuária, cujos 
dados apontam para um faturamento cinco vezes 
maior em áreas manejadas nos moldes sustentáveis 
do que nos moldes extensivos27.
No Brasil, o Proambiente – Programa de Desenvolvi-
mento Socioambiental da Produção Familiar Rural, 
criado em 2002 pelo governo federal prevê recursos 
públicos para o pagamento dos serviços ambientais 
aos pequenos e médios produtores, do suporte técnico 
e dos custos da conversão sustentável.
rEED – o PAGAmEnto PElA florEstA Em Pé
O REED (Reduce Emissions for Deforestation and 
Degradation) ou Redução de Emissões para o 
Desmatamento e Degradação, também conhecido 
como pagamento pelo desmatamento evitado, é um 
mecanismo de compensação financeira à iniciativa 
de preservar áreas florestais, e como tal promove a 
redução de emissões de GEEs (Gases do Efeito Estufa) e 
combate o aquecimento global. 
O REED poderá ser aprovado formalmente na CoP-
15 (encontro internacional onde os países debatem 
as convenções sobre o clima) que se realizará em 
dezembro de 2009, em Copenhague, e caso seja 
aprovado poderá entrar em vigor depois de 2012, 
quando se encerra o mandato do atual Protocolo de 
Quioto. (saiba mais na página 22).
A idéia básica é simples: evitar o desmatamento gera 
um benefício coletivo em termos de aquecimento 
global e preservação da biodiversidade, e por esta 
razão todos deveriam contribuir com esta causa. A 
proposta em si parece já estar aceita, mas os países 
se dividem no que se refere à forma como isto 
poderia ser feito. Alguns países acreditam que este 
financiamento poderá ser realizado no contexto do já 
existente mercado de créditos de carbono, enquanto 
outros propõem que seja feito através da criação de 
um fundo específico. Esta segunda linha de trabalho, 
proposta pelo Brasil na CoP-14 em Poznan, em 2008, 
recebeu apoio da União Européia, quando os 27 
países do bloco decidiram-se pela criação de fundos 
ambientais ao invés de utilizar o mecanismo do 
mercado de carbono.
O Brasil vem trabalhando pela segunda proposta e até 
mesmo já criou o Fundo Amazonia que deve contar 
com doações de países estrangeiros – já recebeu 
uma doação de US$ 1 bilhão da Noruega que serão 
disponibilizados até o o ano 2015, caso o Brasil consiga 
manter o desmatamento abaixo de 19.500 Km2, o 
índice de 2005. 
Monitoramento de árvores em área de Manejo Florestal.
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Exemplos de negócios da floresta impressionam por 
equilibrarem viabilidade econômica, justiça social e 
responsabilidade ambiental.
Casos como o da exploração sustentável do açaí 
para bebidas e sorvetes, cujo consumo explodiu nos 
Estados Unidos e em outras regiões do mundo, são 
hoje reconhecidos como caminhos de oportunidades 
na direção do modelo sustentado de desenvolvimento 
de uma nação. Investir em sistemas agroflorestais 
– plantios inspirados no próprio ciclo da floresta, 
onde em uma mesma área são cultivadas diferentes 
espécies, cada uma florescendo a seu tempo – é 
apoiar um processo que dispensa o uso do fogo e não 
altera o clima. 
A aplicação de tecnologias de ponta para o 
desenvolvimento sustentável é um dos ingredientes 
que a indústria da biocosmética utiliza para 
transformar ativos depositados em frutos, cascas e 
resinas das árvores, em altíssimo valor agregado a 
seus produtos cobiçados em centenas de países. A 
Amazônia é uma imensa farmácia natural. Há mais de 
1.300 plantas medicinais conhecidas e muitas outras 
ainda por descobrir. As descobertas devem crescer 
repartindo os benefícios do uso deste patrimônio 
genético, natural e cultural. 
6. oportunidades para o 
Desenvolvimento sustentável
Mais de 90% do PIB da Amazônia brasileira é formado 
por atividades não sustentáveis. E, se o Brasil quiser 
liderar o desenvolvimento da nova economia da 
floresta, há inúmeros estudos de como aproveitar a 
riqueza natural da região. Como bem disse o cientista 
Antonio Nobre, “a floresta é uma biblioteca com livros 
que não têm valor pelo carbono que armazenam, mas 
pela informação que veiculam nas suas páginas.”
A fórmula passa por vários passos: ordenamento 
territorial, com usos adequados para cada área 
da Amazônia; legislação aplicada em políticas de 
regularização fundiária real; monitoramento e 
fiscalização efetivos; apoio às populações tradicionais 
e respeito aos seus modos e saberes; fortalecimento 
da pesquisa científica; apoio e disseminação de 
alternativas econômicas sustentáveis existentes 
(manejo florestal, ecoturismo e agroecologia); 
tratados justos de biodiversidade; parcerias éticas e 
sustentáveis entre empresas e fornecedores locais; e 
engajamento do consumidor consciente.
Para superar os desafios e ampliar os potenciais de 
ecomercados da floresta, é necessário investir na 
transformação do modelo predatório que há quase 
40 anos avança sobre a Amazônia. Criar o ambiente 
favorável para que a sociedade opere não é apenas 
papel do governo federal. Esse objetivo exige uma 
visão de conjunto, onde os serviços sustentáveis, com 
a absorção de carbono e a redução de emissões de 
gases do aquecimento global, sejam contabilizados 
na construção de uma economia verde e global. 
6.1 EConomiA DA florEstA 
A floresta em pé tem um enorme potencial 
econômico e cientifico ainda a ser descoberto. Novas 
fibras, óleos, madeiras, frutas, sementes, animais 
e ervas medicinais são potenciais na Amazônia. A 
integração tecnológica ao conhecimento ancestral 
das populações locais e indígenas é peça fundamental 
na criação de uma nova economia da floresta.
Castanha do Brasil: um dos recursos de alto valor 
agregado do extrativismo na Amazônia.
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não madeireiros, há forte presença de empresas 
nacionais e estrangeiras atuando em todos os elos 
das cadeias produtivas. 
6.3 ConExõEs sustEntávEis – As CADEiAs 
ProDutivAs E os ConsumiDorEs
O avanço do debate da responsabilidade social e 
ambiental das empresas criou no final de 2007 um 
fórum reunindo empresas, ONGs e movimentos 
sociais para estabelecer diálogo e cooperação. A 
sustentabilidade está na pauta de trabalho de 
muitas empresas locais, nacionais e internacionais. 
O Fórum Amazônia Sustentável28, cuja missão é 
“mobilizar lideranças dos diversos segmentos da 
sociedade, promovendo o diálogo (entre diferentes) e 
a cooperação para construir e articular ações, visando 
a uma Amazônia justa e sustentável”, viu na região 
amazônica uma oportunidade única para instalar um 
modelo de desenvolvimento inovador e sustentável. 
Como primeira ação, o Fórum se propôs a unir 
as principais pontas das cadeias de produção, 
distribuição e consumo dos produtos da Amazônia. O 
movimento “Conexões Sustentáveis”29 foi lançado na 
capital paulista nos dias 14 e 15 de outubro de 2008. A 
partir dai, os envolvidos iniciaram mobilização para 
chamar a atenção da população, de outras empresas 
e do poder público para a responsabilidade de todos 
os setores da sociedade com relação à preservação e 
valorização da floresta, comunidadeslocais, produtos 
e serviços. São Paulo é o maior centro consumidor 
dos recursos amazônicos no Brasil; por isso, o Fórum, 
junto com o Movimento Nossa São Paulo, apresentou 
para assinatura os Pactos de Cadeias Produtivas da 
madeira, da soja e do gado.
Castanha do Brasil, babaçu, andiroba, copaíba, buriti, 
seringa, piaçava, carnaúba, pequi e açaí são os dez 
primeiros produtos extrativistas que já têm preços 
mínimos para venda, prevê a Lei nº 11.775, de 2008. 
Os valores para comercialização foram definidos 
pelo Ministério do Meio Ambiente e pela Conab – 
Companhia Nacional de Abastecimento. Eles estão 
em diversos ecoprodutos que fazem sucesso junto 
ao consumidor que hoje procura levar para casa bens 
alinhados com a sustentabilidade.
Entre as alternativas de negócios pelo bem da floresta 
e da sustentabilidade do planeta, estão a produção 
extrativista pelo sistema de manejo florestal, o 
design e o turismo sustentáveis, oferecidos com 
padrão de qualidade internacional.
6.2 AtuAção rEsPonsávEl DA iniCiAtivA 
PrivADA 
Novos modelos de desenvolvimento devem ser 
propostos para a Amazõnia, pois os exemplos bem 
sucedidos são uma vitrine para o mundo. A base das 
mudanças sustentáveis na Amazônia brasileira está 
nas mãos de centenas de iniciativas que oferecem 
soluções para as causas do desmatamento e da 
pobreza, e cuja inteligência econômica atrai apoio, 
investimentos e multiplicação. Grande parte delas 
inclui parcerias com as ações de Responsabilidade 
Social das Empresas. A ação responsável de 
empresários precisa estar em sintonia com as políticas 
públicas, sem ser substituta do papel do Estado.
Algumas das empresas que investem na Amazônia, 
e dela retiram boa parte da riqueza que geram, 
possuem programas de compensação de passivos 
ambientais ou de fomento. 
A biodiversidade torna-se um valor estratégico, 
e atrai inúmeros investimentos. Para a ciência se 
impõe um duplo desafio: o de descrever e quantificar 
os estados e processos biológicos, e o de atribuir 
um valor à natureza, que até então era econômico. 
Este setor tem interessado empresas com negócios 
diferenciados voltados para a sustentabilidade – nos 
setores da cosmética, alimentos e recursos florestais 
35
Floresta Nacional do Amapá. O Amapá é o mais bem 
preservado estado da Amazônia brasileira, com menos 
de 2% de sua área desmatada, e mais de 70% de sua 
superfície protegida por unidades de conservação.
Acervo Wal-Mart Brasil / Foto de Paulo Vitale
36
7.1 fórum AmAzôniA sustEntávEl
O Wal-Mart Brasil é integrante desde 2007 do Fórum 
Amazônia Sustentável e integra a sua Comissão 
Executiva, participando da construção e coordenação 
de diversas iniciativas direcionadas para a região 
Amazônica. Uma das atividades do Fórum é a do 
programa Conexões Sustentáveis, realizadora dos 
pactos setoriais da Pecuária Bovina, Soja e Madeira. 
conexões sustentáveis
O Wal-Mart assinou em outubro de 2008 os pactos 
empresariais de controle das cadeias produtivas da 
madeira, da pecuária e da soja, comprometendo-se a 
distribuir e a comercializar produtos com certificação 
(ou que estejam em processo de regularização) 
e que venham de fornecedores que não façam 
parte da lista suja do trabalho escravo ou de terras 
embargadas pelo Ibama. Os signatários dos pactos 
também concordam em participar da mobilização 
para ampliar o número de adesões, com realização 
de campanhas de esclarecimento entre seus 
consumidores e fornecedores. 
A rede Wal-Mart participa ativamente do movimento 
e está assegurando que seus fornecedores não 
utilizam áreas protegidas para desenvolver suas 
atividades na Amazônia. No final de 2008, a rede 
incluiu os compromissos dos pactos em seus 
contratos comerciais e também sugeriu a seus 
fornecedores que aderissem aos mesmos. Em caso de 
irregularidades, o fornecedor terá um prazo para se 
adequar, ou correrá o risco de rescisão do contrato. 
A empresa também realizou uma campanha para 
arrecadar assinaturas e mudar a legislação sobre 
o trabalho escravo. A iniciativa rendeu 103.841 
assinaturas do total de 147.071 conquistadas pelo 
movimento até março de 2009. Além de não manter 
relações comerciais com empresas que empreguem 
esse tipo de mão-de-obra, o Wal-Mart defende a 
expropriação dessas terras.
7. Wal-mart e a Amazônia
A importância da Amazônia para o planeta é um 
fato. Assim como já são conhecidos os impactos que 
a região sofre com a comercialização de produtos 
saídos das cadeias de produção da carne, da soja e 
da madeira. 
O Wal-Mart Brasil tem consciência do papel 
do segmento varejista na cadeia e já incluiu a 
Amazônia no seu programa de sustentabilidade. 
As ações consistem na promoção de discussões, 
participação ativa nos movimentos sociais, adesão a 
diversos pactos setoriais de produção sustentável e 
investimento em área de proteção ambiental. 
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Floresta Nacional do Amapá
37
O Pacto da Pecuária
Os signatários comprometem-se a promover o 
financiamento, a produção, o uso, a distribuição, a 
comercialização e o consumo sustentáveis produtos 
da pecuária bovina produzida na Amazônia e 
destinada à cidade de São Paulo. No conceito de 
sustentabilidade excluem-se produtos da pecuária 
produzidos por empresas que estejam incluídas 
na lista suja do trabalho escravo do Ministério do 
Trabalho e Emprego (MTE) e oriunda de áreas que 
estejam na relação de áreas embargadas pelo IBAMA. 
Os signatários comprometem-se também a informar 
na nota fiscal ou documento oficial que acompanha 
o produto, que a fonte ou fontes da matéria-prima 
utilizada respeitam estes critérios. 
Adicionalmente, o Wal-Mart solicitou de seus 
fornecedores a assinatura de um termo de compromisso 
específico onde declaram não adquirir produtos da 
pecuária bovina oriundos de áreas e propriedades 
flagradas pelo uso de mão-de-obra em condições 
análogas à escravidão e de áreas embargadas pelo 
IBAMA. Cada fornecedor também respondeu a um 
questionário sobre suas políticas e práticas para 
garantir a origem dos produtos da pecuária bovina 
que culminou na abertura de um diálogo construtivo 
em busca de melhores práticas de sustentabilidade 
para a cadeia da pecuária bovina.
O Pacto contra o Trabalho Escravo
O Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo 
no Brasil foi proposto pelo governo federal em maio 
de 2005 com base em uma portaria do Ministério do 
Trabalho e Emprego de 2004 relacionada à existência 
de lista de empregadores e/ou de seus intermediários 
que exploravam mão de obra escrava no pais. O 
Pacto propõe, entre outras iniciativas, a definição de 
metas específicas para a regularização das relações de 
trabalho, restrições comerciais às empresas ou pessoas 
identificadas com práticas abusivas, apoiar ações 
de reintegração social e produtiva, de informação 
e de capacitação aos trabalhadores vulneráveis e o 
monitoramento destas ações.
PACtos soCioAmbiEntAis
Os Pactos da Soja, Madeira e Pecuária foram forma-
lizados em outubro de 2008 durante o seminário 
“Conexões Sustentáveis: São Paulo-Amazônia”, rea-
lizado pelo Movimento Nossa São Paulo e Fórum 
Amazônia Sustentável, que debateu o papel da 
cidade de São Paulo na preservação da Amazônia. 
Os signatários – empresas, entidades públicas e 
organizações da sociedade civil – comprometem-se, 
voluntáriamente, com condições de sustentabilidade 
no financiamento, produção, ou comercialização de 
produtos de soja, madeira e pecuária – e em todos eles 
está incluida a questão do Trabalho Escravo. Os Pactos 
incluem “mobilizar as empresas na cadeia de valor 
das signatárias”. Informações atualizadas podem ser 
encontradas no site do Instituto Ethos – Conexões 
Sustentáveis.
O Pacto da Soja 
Os signatários comprometem-sea promover o 
financiamento, a produção, o uso, a distribuição, a 
comercialização e o consumo sustentáveis de grãos de 
soja (in natura ou processados) produzidos no bioma 
amazônico e destinados à cidade de São Paulo. No 
conceito de sustentabilidade inclui-se a soja localizada 
somente nas áreas liberadas pela “Moratória da 
Soja” e excluem-se a soja produzia por empresas que 
estejam incluidas na lista suja do trabalho escravo 
do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e aquela 
oriunda de áreas que estejam na relação de áreas 
embargadas pelo IBAMA. 
O Pacto da Madeira
Os signatários comprometem-se a promover o 
financiamento, a produção, o uso, a comercialização 
e o consumo sustentável de produtos florestais da 
Amazônia destinados à cidade de São Paulo. O conceito 
de sustentabilidade abrange o fomento a produtos 
florestais de fontes certificadas – e na sua ausência 
“adquirir produtos florestais de fontes participantes de 
programas de verificação de implementação modular 
que tem como objetivo atingir a certificação florestal 
de sua área a médio prazo”. 
38
7.2 Gt PECuáriA sustEntávEl
O Wal-Mart participa também do Comitê Executivo 
do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável. O 
grupo é formado por ONGs, empresas, frigoríficos, 
produtores e governo, e foi criado para definir 
diretrizes para a produção mais sustentável de 
bovinos.
O Grupo está focado na redução dos impactos sociais 
e ambientais do setor pecuário em todo o País. O 
Wal-Mart é membro da secretaria executiva do 
Grupo, instituído em 2008, e com objetivos de médio 
e longo prazos. Entre os avanços realizados no ano 
está a definição da estrutura de governança e os 
princípios que nortearão o estatuto e a metodologia 
de trabalho. 
7.3 flonA AmAPá: A tEoriA nA PrátiCA
A organização não-governamental Conservação 
Internacional do Brasil e o Wal-Mart Brasil firmaram 
em março de 2008 uma parceria no valor de R$ 5 
milhões a serem investidos na Floresta Nacional 
(Flona) do Amapá, norte da Amazônia. A iniciativa 
visa a conservação da biodiversidade e os benefícios 
socioeconômicos relacionados às suas metas de 
sustentabilidade. 
O projeto com duração de cinco anos custeará as 
atividades em três áreas distintas, mas interligadas: 
a) a melhoria da infra-estrutura física e de pessoal 
para a gestão da floresta, 
b) a elaboração do plano de manejo da unidade, e 
c) a eliminação das atividades não-sustentáveis 
por meio de planos de negócios para produtos 
florestais, madeireiros e não-madeireiros.
39
BIBLIOGRAFIA 
(1) “Amazônia Brasil”, Eugenio Scannavino Netto e José Arnaldo de Oliveira (2008).
(2) “Amazônia Brasil”, Eugenio Scannavino Netto e José Arnaldo de Oliveira (2008).
(3) A estimativa de 20% da reserva mundial de água doce é da Agência Nacional de 
Águas e do programa Proarco/ Instituto Brasileiro de Meio Ambiente.
(4) Fonte: ISA – Instituto Socioambiental.
(5) Fonte: IBGE/ Pnad 2005.
(6) Fonte: Federação das Indústrias do Amazonas.
(7) Fonte: “O Avanço da Fronteira Amazônica - do Boom ao Colapso”, Danielle 
Celentano e Adalberto Veríssimo/ Imazon – Instituto do Homem e Meio Ambiente 
da Amazônia (2007).
(8) Fonte: “Brasil: o estado de uma nação”, IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas 
Aplicadas (2005).
(9) Entende-se por “terras ocupadas” as terras já desmatadas para qualquer atividade 
econômica (madeira, gado, grãos, etc,). O total de terras não regularizadas coincide 
com quase a totalidade da área desmatada na Amazônia Legal. 
(10) A área corresponde ao tamanho do Mar Báltico.
(11) Fonte: CBERS/INPE
(12) “Acertando o Alvo 2: consumo de madeira amazônica e certificação florestal no 
Estado de São Paulo”, Leonardo Sobral/ Imazon (2002).
(13) Fonte: Imazon.
(14) Fonte: João Andrade de Carvalho Jr./ Unesp, in “O Livro de Ouro da Amazônia”, 
João Meirelles (2005), pág 160.
(15) Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
(16) Saiba mais sobre as ações do Greenpeace sobre a soja em [www.greenpeace.org/
brasil/amazonia/moratoria-da-soja].
(17) O Mapa dos Conflitos Sociais da Amazônia Legal foi lançado em 29/01/2008.
(18) O Grupo Móvel do Trabalho Escravo do MTE – Ministério do Trabalho e do 
Emprego, criado em 1995, é o responsável pela libertação de trabalhadores em 
situação de escravidão nas fazendas. Veja a “lista suja” do trabalho escravo em 
[www.reporterbrasil.com.br/pacto/listasuja/lista].
(19) Lançada no início de 2008, a “lista suja” do governo é formada pelos municípios 
considerados prioritários para ações de prevenção e controle do desmatamento da 
Amazônia. A lista foi atualizada em 2009 com números referentes ao ocorrido em 
2008.
(20) Consulte a íntegra do Plano em [www.presidencia.gov.br/casacivil/desmat.pdf].
(21) Saiba mais em [www.forumclima.org.br/].
(22) Fonte: WWF-Brasil.
(23) Expedição Científica de Medição do Rio Amazonas 2007 – Inpe (Instituto Nacional 
de Pesquisas Espaciais), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ANA 
(Agência Nacional de Águas) e representantes do IGN (Instituto Geográfico Nacional) 
do Peru, em [www.inpe.br].
(24) Fonte: João Andrade de Carvalho Jr./ Unesp, in “O Livro de Ouro da Amazônia”, 
João Meirelles (2005).
(25) Carlos Nobre é um dos responsável por estudo sobre o cenário previsto para a 
Amazônia em 2050, que alerta para o perigo de parte da floresta tropical virar 
cerrado empobrecido com as temperaturas em alta. A grande seca que assolou a 
região em 2005 foi, em parte, efeito deste.
(26) idem
(27) Fonte: João Andrade de Carvalho Jr./ Unesp, in “O Livro de Ouro da Amazônia”, 
João Meirelles (2005), pág.163. O trecho indica que a alternativa certificada de uma 
mesma área de pastagem pode passar a render R$ 3,1 bilhões, cinco vezes mais do 
que os atuais R$ 660 milhões.
(28) Fórum Amazônia Sustentável [www.forumamazoniasustentavel.org.br/].
(29) Conexões Sustentáveis [www.ethos.org.br/sistemas/ConexoesSustentaveisNovo/].

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