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DAS VÁRIAS ESPÉCIES DE CONTRATO 1ª PARTE 1. DA COMPRA E VENDA 1.1. Conceito e características - CC, 481 - é o contrato bilateral pelo qual uma das partes (vendedor) se obriga a transferir o domínio de uma coisa à outra (comprador), mediante a contraprestação de certo preço em dinheiro - tem por objeto bens de toda natureza: corpóreos (móveis e imóveis) e incorpóreos (direitos), sendo que para os últimos se apresenta a cessão * ressalta-se o caráter obrigacional do contrato de compra e venda – por ele, os contratantes apenas se obrigam reciprocamente - a transferência do domínio depende da tradição para os móveis (CC, arts. 1226 e 1267) e o registro para os imóveis (CC, arts. 1227 e 1245) - o CC filiou-se ao sistema alemão e romano, segundo o qual o contrato gera, para o vendedor, apenas uma obrigação de dar, ou seja, a de entregar a coisa vendida e somente com essa entrega (tradição) dá-se a transferência do domínio + o Código de Napoleão, deferentemente, atribui caráter real ao contrato – este, por si só, transfere o domínio da coisa ao comprador * exceção: o contrato de alienação fiduciária, pois transfere o domínio independentemente da tradição (CC, art. 1361) * a compra e venda internacional é regida pela Lei de Introdução, art. 9º c/c art. 17. Há também a Convenção de Viena (1988). *** O CC/02 revogou a primeira parte do Código Comercial, eliminando as distinções legais entre os contratos de compra e venda civil e de compra e venda mercantil. Ocorreu uma unificação das obrigações e, desse modo, uma unificação parcial do direito privado. 2. Natureza Jurídica da Compra e Venda - é o mais importante dos contratos e a origem de quase todo o direito das obrigações e de quase todo o direito comercial - a doutrina, caracteriza juridicamente como: a) sinalagmático ou bilateral perfeito – porque gera obrigações recíprocas: para o comprador a de pagar o preço em dinheiro; para o vendedor, a transferir o domínio de certa coisa b) em regra, consensual, em oposição aos contratos reais, porque se aperfeiçoa com o acordo de vontades, independentemente da entrega da coisa (CC, art. 482) *exceção: contratos solenes (CC, art. 108) c) oneroso, pois ambos os contratantes obtêm proveito, ao qual corresponde um sacrifício (para um, o pagamento do preço e recebimento da coisa; para o outro, entrega do bem e recebimento do pagamento) d) em regra, comutativo, porque de imediato se apresenta certo o conteúdo das prestações recíprocas; as prestações são certas e as partes podem antever as vantagens e os sacrifícios, que geralmente se equivalem * as vezes, se transforma em aleatório, por ter como objeto coisas futuras 3. Elementos da Compra e Venda - por sua própria natureza exige, como elementos integrantes: a coisa, o preço e o consentimento (res, pretium et consensus) - a lei procura facilitar sua celebração, simplificando-o: considera obrigatória e perfeita, desde que as partes acordem no objeto e no preço *** além dos elementos essenciais da compra e venda específicos, não se pode olvidar dos elementos constitutivos em geral, comuns a todos os negócios, como os requisitos de existência e validade 3.1. O Consentimento - pressupõe a capacidade das partes para vender e comprar e deve ser livre e espontâneo, sob pena de anulabilidade - deve estender-se também a coisa e o preço - será anulável a venda, também se erro sobre o objeto principal da declaração ou sobre as suas qualidades essenciais (CC, art. 139) * o erro acidental não vicia a manifestação de vontade se não acarreta prejuízo *** além da capacidade genérica para os atos da vida civil, exige-se a capacidade específica para alienar, no caso do vendedor; para o comprador, basta a capacidade de obrigar-se + as incapacidades genéricas dos arts. 3º e 4º do CC não impedem a realização da compra e venda porque podem ser supridas pela representação e pela assistência e para autorização do juiz -Ver arts. 1634, 1691, 1748 e 1774 do CC - Ver art. 496, 497 e 499 do CC +++ não se tem exigido o requisito do consenso na compra e venda feita por incapazes, especialmente quando estes adquirem produtos de consumo para sua utilização pessoal. Ex: compra de um doce ou sorvete 3.2. O preço - sem a sua fixação a venda é nula (sine pretio nulla venditio) - em regra, é determinado pelo livre debate entre os contratantes, conforme as leis do mercado, sendo por isso denominado preço convencional + se não for determinado desde logo, deve ser ao menos determinável, mediante critérios objetivos estabelecidos pelos próprios contratantes (CC, arts. 486, 488, parágrafo único) * Vários outros modos de determinação futura de preço podem ser escolhidos pelos contratantes: o preço do custo, o preço em vigor no dia da expedição, a melhor oferta, o preço do costume, etc; o que não pode é deixar indeterminado de forma absoluta ou ao absoluto arbítrio do comprador a taxação do preço (CC, art. 489) - Preço a critério de terceiro – CC, art. 485 - Preço fixado em função de índices ou parâmetros – CC, art. 487 - Ver art. 488 CC – hipótese de determinabilidade do preço da coisa, a partir de comportamentos habituais dos contratantes (busca preservar a avença nos casos de ausência de fixação expressa do preço) *** o preço deve ser pago em dinheiro (CC, 481) ou redutível a dinheiro *** quando o pagamento é estipulado parte em dinheiro e parte em outra espécie, a configuração o contrato como compra e venda ou troca é definida pela predominância de uma ou de outra porcentagem *** o preço deve ser sério e real, correspondente ao valor da coisa, e não vil ou fictício + não se exige exata correspondência entre o valor real e o preço pago, mas não pode haver erro ou lesão +++ justo preço: deve-se entender como preço normal ou corrente no mercado ou na Bolsa 3.3 A Coisa - CC, art. 481: a coisa deve ser certa como objeto da prestação do vendedor * no CDC a expressão coisa foi substituída por produto * Requisitos da coisa como objeto da compra e venda: a) existência da coisa - é nula a venda de coisa inexistente - a lei admite a existência potencial da coisa (ex: coisa futura) - são suscetíveis de venda as coisas atuais e as futuras, corpóreas e incorpóreas (através de cessão) + Ver CC, 483 + Ver CC, 426 b) individualização da coisa - o objeto há de ser determinado ou determinável (suscetível de determinação no momento da execução) - pode ser especifica (precisamente determinado) ou genérica (quando é feita a alusão ao gênero ou a sua quantidade, sem especificá-la) - admite-se a determinação por meio de comparação como a amostra, protótipo ou modelo exibido (CC, 484) + quando o contrato alude à quantidade, deve especificar o peso ou a medida – se não for claro, prevalece os usos e costumes do lugar em que deva ser cumprido o contrato c) disponibilidade da coisa - deve estar disponível, i.e., não estar fora do comércio - pode estar litigiosa (CC, 457 e 42 do CPC) - nem sempre a coisa pode ser transferida ao comprador – não pode ser transferida a coisa alheia, salvo se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade (CC, art. 1268, § 1º) + a eficácia da venda de coisa alheia depende de sua posterior revalidação pela superveniência do domínio (admite a convalidação, portanto, é venda anulável) + ninguém pode adquirir o que já é seu, ainda que o desconheça
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