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Gestão Estratégica com Foco em Resultados MÓDULO 3 2 Sumário Unidade 5 | Gestão Estratégica de Serviços 4 1 Qualidade na Prestação de Serviços 5 2 Dimensões da Qualidade de Serviços 7 3 Qualidade de Atendimento com Indicador da Qualidade de Serviços Prestados 8 4 Reclamações: o Que Fazer com Elas 9 5 Evolução do Conceito de Qualidade de Atendimento 10 6 Gestão da Qualidade em Serviços como Diferencial Estratégico 14 7 Fidelização de Clientes: a Chave para a Sobrevivência Organizacional 19 Glossário 21 Atividades 22 Referências 23 Unidade 6 | Motivação e Empowerment 25 1 Introdução 26 2 Teorias Motivacionais Contemporâneas 27 2.1 A Teoria de Necessidade de McClelland 28 2.2 A Teoria de Determinação de Metas 30 3 Empowerment 34 Glossário 40 Atividades 41 Referências 42 Unidade 7 | Papel e Perfil do Gestor nas Organizações Contemporâneas 44 1 Introdução 45 2 O Papel do Gestor 46 2.1 Ciclo do Gerenciamento 47 3 3 O Perfil do Gestor 50 4 Liderança 51 5 Coaching 56 Glossário 57 Atividades 58 Referências 59 Gabarito 61 4 UNIDADE 5 | GESTÃO ESTRATÉGICA DE SERVIÇOS 5 Unidade 5 | Gestão Estratégica de Serviços 1 Qualidade na Prestação de Serviços Muito se tem falado sobre a importância do atendimento ao cliente como condição primordial para a sobrevivência das organizações. Livros são publicados e diversos cursos de qualidade de atendimento são disseminados, demonstrando um consenso geral de todo o setor produtivo sobre a real necessidade de desenvolver estratégias para um relacionamento a longo prazo com os consumidores, fidelizando-os. As políticas de valorização da qualidade, decorrentes da “febre” de certificação através das ISO (International Standard Organization), inclusive da área de serviços (principalmente em serviços de saúde) têm levado as empresas a uma preocupação constante para a evolução de suas atividades objetivando, por meio da satisfação e do “encantamento” de seus clientes, sua garantia de permanência no mercado do século XXI. g Conheça mais sobre uma entidade não governamental e sem fins lucrativos que certifica a qualidade de serviços de saúde no Brasil, com foco na segurança do paciente, a Organização Nacional de Acreditação. Confira através do link a seguir. www.ona.org.br No entanto, os órgãos de defesa do consumidor em todo o país, que muito contribuem para reforçar a atuação de consumidores na exigência de melhores produtos e serviços, nos revelam um número assustador de reclamações registradas. Os mais diferentes 6 setores da economia formal ainda realizam procedimentos arcaicos e unilaterais, inimagináveis numa época de concorrência global acirrada e que denotam falta de comprometimento em direção a uma relação duradoura com seus consumidores. Thomas F. Wallace, em seu livro “Como Conquistar Clientes e Mantê-los para Sempre” (1996), apresenta uma constatação que se encaixa perfeitamente em grande parte das empresas que atuam na prestação de serviços, pelo menos no Brasil: Clientes são pessoas. Algumas empresas aparentemente não acreditam nisso, pois os tratam como uma forma inferior de vida. Essa frase, que ironiza a desvalorização de muitas organizações no trato com seus clientes, nos leva a concluir que a distância entre o discurso da qualidade de atendimento e a prática da mesma, apesar dos esforços já empreendidos pelas organizações, ainda é grande. Albrecht (1992) acredita que quanto mais tempo uma organização atua em um determinado ramo, maiores são as chances de que ela não conheça realmente o seu cliente. Isso porque é comum para os administradores passarem vários anos operando com base em adivinhações intuitivas, supondo que “sabem exatamente” o que seus clientes comprarão ou não. Até por questões de ego ou de vaidade pessoal, pode ser difícil para muitos executivos aceitarem a ideia de ser necessário investigar as percepções de seus clientes a respeito de produtos e serviços. Porém, as pesquisas de opinião podem ajudar a esclarecer aspectos previamente desconhecidos das necessidades e motivações dos clientes. Nóbrega (1996), defende e afirma que identificar o que é relevante no atendimento ao cliente é fundamental para melhorar aos padrões de atendimento. Ser capaz de identificar um fato relevante é ser capaz de ver “por trás” do que é evidente para todo mundo. Desenterrar padrões de significados novos no meio da confusão das informações. (NOBREGA, 1996) 7 2 Dimensões da Qualidade de Serviços Apesar dos teóricos da Qualidade considerarem que nenhuma organização prestadora de serviços pode se limitar a perguntar o que os clientes querem – pois eles não dirão tudo o que desejam – verificar o que os clientes não estão gostando e corrigir possíveis problemas, se não proporciona encantamento, certamente evita insatisfação e descontentamento. Wallace cita Noriari Kano (1996), autor de vários artigos sobre Qualidade no Japão, apresenta as três dimensões da qualidade de serviços: • a esperada, onde se supõe que determinada característica é inerente ao serviço prestado e, portanto, não é preciso falar sobre ela; • a expressa, que como o nome já diz, é obtida em pesquisas de opinião ou em outras formas de obtenção de dados junto ao mercado; e • a excitante, que é responsável pelo “encantamento” do cliente, ou seja, não era esperada, não havia prévia consciência do cliente de que seria um item necessário, mas sua existência é responsável pelo “elemento surpresa” com efeitos positivos na impressão de um produto ou serviço. Identificar aspectos críticos nos serviços prestados ao cliente significa identificar os motivos que estão, efetivamente, gerando insatisfação. São os aspectos relativos à qualidade esperada ou expressa, portanto básicas, e que necessitam de melhoria urgente. Afinal, pouco adianta encantar o cliente com o que ele não espera se não se é capaz de fornecer o que ele acredita ser indispensável. Se é difícil ensinar o que fazer, pelo menos o que não fazer é relativamente fácil identificar. (NOBREGA, 2006) 8 3 Qualidade de Atendimento com Indicador da Qualidade de Serviços Prestados Avaliar a qualidade de atendimento é tarefa delicada e complexa, pois a prestação de serviços, intangível e heterogênea, tem sua qualidade final determinada pelo desempenho do funcionário, que nela influi diretamente. Albrecht (1992) afirma que os administradores não costumam controlar a qualidade do produto quando o produto é um serviço. Este fato se dá por dois motivos. Primeiro, pela dificuldade em se controlar uma interação, e não um objeto. Segundo, porque a maioria dos indicadores e sistemas de controle utilizados amplamente na indústria não são adequados para a medição de serviços, pois estes possuem outras peculiaridades: Um serviço é “fabricado” no ato da entrega, e na maioria dos casos há muitos pontos de entrega, e não apenas um. (...) Isto significa que os métodos tradicionais de controle de qualidade – centralização e inspeção – deixam de ser válidos. (ALBRECHT, 1992) É necessário estabelecer mecanismos de medição de qualidade de serviços que levem em conta o processo fundamentalmente humano de geração e entrega desse bem. A utilização de dados obtidos através de impressões dos clientes possibilita analisar esta dimensão. Saber lidar com informação é condição necessária, o ingrediente vital para a sobrevivência. (...) Organismos vivos vencem a entropia mantendo-se abertos e dialogando criativamente com seu meio ambiente. Sobrevivem e se perpetuam através disso. A energia criadora dos organismos é a informação. Seu talento maior é saber processá-la criativamente. (NOBREGA, 2006). A medição da qualidadede atendimento ao cliente deve ser encarada como dado importante para a melhoria de processos e procedimentos das organizações que prestam serviços. Essa é a importância das organizações se manterem abertas, utilizando mais uma forma de relacionamento com o cliente, ouvindo e processando suas impressões para uma resposta administrativa adequada, que gere resultados e satisfação. 9 A opinião do cliente é fator relevante para a melhoria do processo de qualidade no atendimento. É preciso conhecer suas necessidades para implementar mudanças que, efetivamente, representem soluções em termos de resultados, e não apenas ligadas a alterações administrativas que infelizmente, nem sempre agregam valor ao serviço prestado. Não se deve abrir mão de um sistema de informações que capte as impressões dos clientes. Toda organização de serviços deve monitorar a satisfação dos clientes, através de pesquisas regulares de mercado. É importante salientar que a pesquisa de satisfação do cliente é apenas uma ferramenta auxiliar no processo de gerenciamento com foco na melhoria contínua, garantindo, assim, que os esforços da organização estejam voltados para o cliente, promovendo um monitoramento das suas necessidades, detectando qualquer mudança de modo a adequar o seu planejamento ou a sua estrutura de serviços. 4 Reclamações: o Que Fazer com Elas De modo geral, poucas empresas costumam utilizar as informações decorrentes das reclamações de seus clientes. Pode-se considerar isso como um desperdício, pois o cliente é um “auditor” de qualidade sincero. Ele nos informa a distância existente entre o que a empresa diz que faz ou oferece, e o que ela realmente oferece. O cliente fornece informações importantes como: • o que a organização está fazendo, que é necessário que faça, e que está ótimo; • o que a organização está fazendo, que é necessário que faça, e que não está satisfatório ou adequado, ou seja, que deve ser aprimorado; • o que a organização está fazendo, e que não está sendo percebido pelo cliente, ou seja, não está agregando valor ao serviço; 10 • o que a organização não está fazendo, mas que deveria fazer, pois é uma necessidade expressa ou esperada pelos seus clientes. O cliente fornece, gratuitamente, informações sobre onde devem ser empreendidos esforços para atingir um atendimento eficaz e de qualidade – claro, do ponto de vista do cliente. 5 Evolução do Conceito de Qualidade de Atendimento Os serviços possuem um impacto econômico mais forte do que pensávamos e sua qualidade é pior do que imaginávamos (ALBRECHT, 1992). Há muito tempo a denominação vulgarmente conhecida como “um bom cliente” tem sido utilizada para definir o cliente que consome muito, paga, pergunta pouco e não reclama. Certamente, este perfil de cliente está cada vez mais distante da realidade. Primeiro porque a escassez de trabalho e dinheiro resulta em poucas pessoas com elevado poder de consumo. Segundo, porque o consumidor está aprendendo a perguntar mais para errar menos, está cada vez mais cauteloso e pode adquirir produtos e serviços de fornecedores do mundo inteiro a preços acessíveis, e prefere o melhor. Os especialistas em qualidade de serviços são unânimes em afirmar que a dimensão da qualidade de um produto ou serviço prestado é dada pelo cliente. Ou seja, o produto ou serviço é adequado ou não à medida que atende às necessidades do cliente. É a sua avaliação que decide se algo é bom ou não. Apesar deste conceito ser amplamente divulgado, na prática, ainda vemos muitas organizações que operam de modo que o cliente deva “se moldar” ao que ela concebeu como produto ou serviço ideal. Mesmo assim, a decisão de compra é, definitivamente, baseada na percepção de valor que o cliente tem. E essa percepção de valor é o resultado de um conjunto de relações que operam em vários níveis, dentro e fora da organização. Cada vez que um cliente entra em contato com uma organização, sai com uma impressão melhor ou pior a respeito dela. E é a maneira pela qual a organização lida com as questões delicadas e problemas todos os dias que determina, em última análise, se a empresa terá sucesso. É a sua capacidade estratégica de prevenir e solucionar possíveis problemas, e não de criá-los, que as torna úteis para o cliente. 11 Segundo Albrecht (1992), as organizações ainda estão condicionadas a pensar sobre sua prestação de serviços de forma fragmentada, ou seja, em termos de departamentos organizacionais ou especialidades que precisam operar para que o serviço seja prestado. Mas o cliente raramente pensa em departamentos ou especialidades. Ele geralmente pensa em uma necessidade que precisa ser atendida e que, para isso, precisa tomar alguma iniciativa. O cliente pensa em resultados, enquanto a organização pensa em processos ou procedimentos. Se os sistemas e procedimentos desenhados pela organização são eficazes, ou seja, se eles efetivamente atendem às necessidades dos clientes, o serviço foi prestado. Mas se os sistemas e procedimentos não atendem às necessidades dos clientes, então não será possível proporcionar atendimentos eficazes, mesmo com extrema boa vontade dos que atendem os clientes (os atendentes), que são obrigados, muitas vezes, a demonstrar comportamento apático em decorrência da impossibilidade de superar as barreiras existentes em sistemas pouco flexíveis da organização para resolver problemas. Isso parece normal quando se trata de alguma solicitação nova e incomum, quando necessário. Atender a um pedido incomum é uma oportunidade para aumentar o valor dos seus serviços, e não uma perturbação da rotina diária. Mas passa a ser ineficiência administrativa quando uma solicitação inicialmente isolada ocorre muitas vezes, ou de forma cíclica, e nada se faz para reestruturar os sistemas a fim de evitar que estas improvisações ocorram com tanta frequência. Quando se trata da questão de eficácia no atendimento ao cliente somente preocupando-se com a “linha de frente”, tende-se a direcionar esforços apenas para treinamentos comportamentais, os chamados “treinamentos em sorrisos”. Este enfoque, segundo Albrecht (1992), parte da suposição de que o pessoal da linha de frente é que representa ou possui o problema que deve ser eliminado. Porém, frequentemente o problema decorre da falta de qualquer tipo de comprometimento por parte administração da organização. 12 A qualificação de atendentes (pessoal da “linha de frente”) para a melhoria da prestação de serviços tem efeito energizador temporário, mas raramente produz resultados duradouros caso não haja uma cultura apropriada para apoiar e sustentar o comportamento dos funcionários e para alterar estruturas em favor da melhoria dos serviços prestados. São incluídos neste conceito os treinamentos direcionados apenas aos atendentes, e que: • são tão absurdamente óbvios que insultam a inteligência dos funcionários; • tratam clientes ou funcionários de forma condescendente ou como crianças; • pressupõem que os funcionários são incompetentes em suas funções; • pretendem ensiná-los coisas triviais; • desvinculam a estrutura de suporte da organização da responsabilidade do atendimento eficaz. e O treinamento pode produzir resultados mais profundos e duradouros quando: • possui conteúdo relevante para as funções; • trata de necessidades e preocupações específicas; • inclui habilidades pessoais que possam ajudá-los a lidar com as tensões de funções que envolvam contato pessoal; • encaixam-se num programa global de qualidade em serviço; • é acompanhado de esforço e apoio da organização para a execução do trabalho/melhoria dos atuaispadrões de serviços oferecidos. 13 Investir em qualificação é fundamental para a evolução e desenvolvimento de qualquer organização. As organizações são as pessoas que nela trabalham, e é preciso investir na educação e na conscientização, em todos os seus níveis. Mas acreditar que ministrar treinamentos comportamentais para a “linha de frente” é o suficiente para garantir a qualidade de atendimento é uma visão ainda restrita e descompromissada da questão. Preocupar-se com a melhoria de atendimento é: • investigar as necessidades dos clientes; • criar formas rápidas e eficazes de comunicação entre o cliente e a organização; e, entre os diversos setores da organização; • é rever políticas, estratégias, processos e procedimentos operacionais em favor da melhoria da prestação de serviços; • é preparar e disponibilizar pessoal para atendimento com apoio e suporte administrativo; • é treinar e desenvolver os atendentes nos aspectos comportamentais e técnicos necessários ao atendimento eficaz. c Albrecht cita uma brincadeira que Abraham Lincoln costumava fazer às pessoas. Ele perguntava: “Quantas pernas tem um cachorro, caso você defina a cauda como uma perna?” Quando o consultado respondia “Cinco”, Lincoln o alertava: “Não, ele tem quatro. Dizer que a cauda é uma perna não a transforma em perna”. Da mesma forma, dizer que um serviço medíocre é excelente não o transforma em excelente. Segundo Albrecht (1992), não basta acreditar numa coisa para fazer com que ela aconteça. É preciso muito tempo, esforço, dinheiro, paciência e obstinação para elevar a qualidade do serviço até um nível adequado. Logo, administrar serviços é um enfoque organizacional global que vai muito além do que as empresas têm adotado para atuar nos setores de prestação de serviços. Pense nisso: o que você tem feito para melhorar, efetivamente, a qualidade de serviços da sua organização – do ponto de vista do cliente? 14 6 Gestão da Qualidade em Serviços como Diferencial Estratégico Em qualquer atendimento, formal ou informal, interno ou externo, buscamos a qualidade. A qualidade do serviço é, do ponto de vista de mercado, definida por Moller (1999) como o “grau até o qual um serviço satisfaz as exigências, os desejos e as expectativas do seu recebedor”. c Considerando que um serviço é um resultado psicológico e fundamentalmente pessoal quanto a seu impacto sobre o cliente, sua percepção é influenciada pelo próprio serviço e pela comunicação através do pessoal de contato. Segundo Gianesi (1994), a percepção do cliente é formada, ao longo do ciclo de prestação do serviço, de acordo com os seguintes critérios: tangibilidade, consistência, competência, velocidade de atendimento, atmosfera, flexibilidade, credibilidade, segurança, acesso e custo. O dinamismo dos serviços, a necessidade de ser flexível face aos variados interesses de seus clientes, as grandes mudanças proporcionadas pelo mercado e ainda a intensificação da concorrência são motivos para se investir em modernização da gestão dos serviços. No entanto, as organizações ainda estruturam o seu funcionamento de acordo com a seguinte prioridade: • o manual de procedimentos da organização; • a conveniência dos funcionários; e • os clientes. Esse tipo de hierarquia de prioridades tem levado muitas organizações de serviço a uma posição de defesa no que se refere à qualidade de serviços. O departamento de atendimento ao cliente costuma ser, para a maior parte das organizações prestadoras 15 de serviço, o único símbolo de comprometimento com a satisfação das necessidades dos clientes. Funciona como uma “ouvidoria” de reclamações, pouco contribuindo para a mudança a partir das reclamações e solicitações dos clientes. A organização que vê no atendimento às necessidades do cliente como tarefa destinada a um setor específico, reflete uma atitude ingênua e uma visão restrita do sistema de atendimento. Albrecht (1992) defende que ter um departamento de atendimento ao cliente pode não ser uma coisa boa, pois pode gerar uma mensagem implícita nos outros setores da organização, que diz: “Alguém está cuidando do cliente, por isso, você pode continuar com seu trabalho e não se preocupar com ele.” Segundo Thomas Wallace (1996), a dificuldade em satisfazer totalmente os clientes é causada por: • prioridades equivocadas; • falta de foco; • sinais da alta gerência que são inconsistentes, confusos ou simplesmente errados; e/ou • falta das ferramentas adequadas para o desempenho do serviço. O problema pode ser corrigido pelo desenvolvimento e pela execução de uma estratégia operacional voltada para o cliente. c Em geral, os administradores confundem medidas e estratégias de qualidade em serviços com a adoção de slogans que, por si só, não melhoram os serviços prestados. É fácil repetir: O cliente é o número um. O difícil é administrar uma organização baseada nessas palavras. 16 A preocupação para a adequação do modo de gestão do empregado nas organizações de serviços tem sido recente. Verifica-se uma série de resistências, preconceitos e desinformação a respeito da gestão da qualidade em serviços. A maioria das organizações prestadoras de serviços apresenta problemas de gestão bastante comuns. Vale ressaltar que, face às características das atividades de serviços, observa- se que: • é difícil avaliar o atendimento face à subjetividade da qualidade dos serviços; • é grande a variação da atuação das pessoas que prestam atendimento; e • a maioria dos sistemas gerenciais não estão construídos para garantir um bom atendimento, mas para preservar a instituição. As organizações convivem com problemas ou resultados indesejáveis que geram grande variabilidade em seus processos, muitos dos quais não estão sob controle ou não são previsíveis, principalmente das áreas de serviços. Desta forma, convivem com custos e índices de perdas elevados, e com reclamações e insatisfações de clientes internos e externos. A existência desses problemas é a comprovação de que as organizações precisam de um sistema de qualidade capaz de comprometer as ações de gestão com políticas, objetivos e diretrizes preestabelecidas, e implantar padrões de gestão que levem ao tratamento das não conformidades observadas e ao aprimoramento dos níveis de desempenho dos processos. h A necessidade de comprometimento da alta administração é necessária porque, segundo Albrecht (1992) os sistemas podem ser os inimigos do serviço. 17 e Muitos dos problemas de qualidade baixa ou medíocre de prestação de serviços resultam de sistemas, procedimentos, políticas, regras e regulamentos e de loucura organizacional. Com muita frequência, culpamos o pessoal da linha de frente pela má qualidade do serviço, quando o verdadeiro problema se encontra em sistemas que não funcionam ou não fazem sentido. Segundo Albrecht (1992), A administração de serviços é um enfoque organizacional global que faz da qualidade do serviço, tal como sentida pelo cliente, a principal força motriz do funcionamento da empresa. É um conceito transformacional, que vai muito além do que as empresas têm adotado para atuar nos setores de prestação de serviços. Albrecht (1992) acrescenta que, em primeiro lugar, muitos sistemas nunca foram conscientemente projetados por ninguém. Eles simplesmente cresceram. Com o passar dos anos, as diversas unidades de uma organização desenvolveram seus métodos, regras, procedimentos, protocolos e instrumentos de informação segundo um processo de evolução. Com frequência, não fazem qualquer sentido para as pessoas que devem utilizá-los. É comum que os sistemasde trabalho contenham processos que se tornaram obsoletos, mas que todos ainda seguem porque ninguém crê que possam ser mudados. A Segunda razão pela qual os sistemas são nocivos ao serviço é a de que, mesmo quando foram conscientemente projetados, o projeto raramente começa com a premissa de maximização da qualidade dos serviços. Sistemas de atendimento de clientes, sistemas de registros de dados de clientes, sistemas de processamento de dados de clientes, sistemas contábeis, e sistemas de divulgação de dados normalmente decorrem dos desejos, de parte dos vários departamentos, de facilitar seu próprio trabalho. Raramente o projeto desses sistemas se preocupa com a maximização da conveniência ou da satisfação do cliente. 18 Uma das primeiras coisas a serem feitas em qualquer programa importante de qualidade de serviço é examinar o projeto dos sistemas que afetam a percepção do serviço pelo cliente, seja direta ou indiretamente. Um sistema com impacto sobre o cliente é qualquer estrutura, procedimento, método ou regra da organização que gera um resultado que pode ser percebido pelo cliente. Eles incluem as estruturas organizacionais os sistemas de dados, os veículos de informação ao cliente e os ciclos de serviço (sequência completa de eventos a que o cliente é submetido para que sua necessidade seja atendida). O desenvolvimento de uma estratégia operacional voltada para o cliente é um elemento fundamental para a implantação de um trabalho onde as diversas divisões e departamentos funcionam de forma integrada, otimizando os processos em um trabalho de equipe. O triângulo do serviço é composto por três características regulares importantes que parecem causar diferença no resultado dos serviços prestados: sistemas, estratégias de serviço e pessoal, todos voltados para o cliente. E a alta gerência deve estar comprometida com o processo de transformação da cultura institucional para direcionar a educação, o treinamento, os processos de trabalho e os sistemas de comunicação a todos na organização, integrando os processos para a obtenção de resultados que possam gerar uma percepção favorável do serviço ao cliente. As estratégias operacionais da organização precisam prever, desenvolver e implementar, como ponto central, relações estreitas com os clientes. Essa meta precisa ser claramente enunciada, comunicada e apoiada pela alta administração para que possa se concretizar. Logo, o projeto e o funcionamento dos sistemas devem ser adaptáveis, responder às necessidades dos clientes identificadas e se subordinar à ideia geral da prestação efetiva de serviços de qualidade. 19 7 Fidelização de Clientes: a Chave para a Sobrevivência Organizacional A importância da manutenção da clientela por meio da satisfação de clientes talvez seja a condição mais importante para a existência das organizações, apesar de muitas não se darem conta disso. Quando se pensa em uma organização, normalmente se visualiza um edifício ou uma fábrica, enfim, algo físico. No entanto, edifícios e espaço físico não são vitais para a existência de uma organização. O mundo virtual propiciou um novo modelo de geração de negócios e serviços, onde o espaço necessário para a existência de organizações muitas vezes se resume a alguns computadores. Pode-se dizer que elas existem apenas no éter, mas são reais. Ganham dinheiro e atendem os seus clientes. Logo, o espaço físico, hoje, não é mais condicionante para a realização de negócios ou para a existência de empresas e organizações. A evolução tecnológica permitiu inclusive a criação de uma instituição bancária sem agências. Ela não precisou das agências para funcionar, mas certamente precisou de clientes. Máquinas e equipamentos também não são elementos vitais para a existência das organizações, pois existem organizações sem máquinas e equipamentos. Como exemplo tem-se grandes indústrias de automóveis, que terceirizam a produção e a montagem dos seus carros. Elas desenvolvem os projetos e determinam padrões de execução. São donas das ideias. Até restaurantes já terceirizam a confecção de vários de seus pratos. Portanto, possuir os equipamentos ou confeccionar os produtos não são funções vitais para a existência de um negócio. E, apesar dos funcionários/colaboradores serem o ativo de maior valor em uma organização, o seu “capital intelectual”, a existência de bons funcionários não garante sobrevivência de uma organização, e também não é condição si ne qua non para sua existência. Basta observar a grande incidência de consultores autônomos, que possuem empresa própria e cujo único funcionário é ele mesmo – é o presidente, o técnico, o “boy”. E a empresa existe. 20 O único componente capaz de gerar a vida de um negócio é o cliente. Se existe um interessado em um produto ou serviço, existe uma relação de demanda e de atendimento a essa demanda, existe um negócio e, por que não, existe uma organização. O cliente é o maior ativo de uma instituição. É o único capaz de desestruturar tudo: esvaziar edifícios, parar máquinas, demitir funcionários. Basta não querer mais o seu serviço ou seus produtos. É simples assim. E o cuidado no sentido de atender bem aos clientes já conquistados parece ainda ser de suma importância, apesar de nem sempre ser devidamente valorizada. f Segundo Wallace (1996), a ligação de uma organização com seus clientes pode se dar de duas formas: física ou informativa. A ligação física envolve tijolos e argamassa; ela ocorre quando a instituição constrói uma unidade física adjacente ou próxima ao cliente. Trata-se de uma prática comum em alguns setores. As organizações que estabelecem ligações físicas com seus clientes estão, amiúde, executando uma estratégia de “incumbência”: elas recebem os pedidos por estarem ali. No entanto, cada vez mais, vemos que tijolos e argamassa nem sempre são necessários para uma ligação de parceria estreita com os clientes. Em seu lugar, a ligação pode se dar via informações. Quando uma organização consegue enxergar as necessidades de seus clientes além do mero horizonte da próxima solicitação, consegue, na maioria das vezes, suprir bem aquele cliente. A ligação informativa com os clientes, se realizada com eficácia, pode proporcionar muitos dos benefícios das ligações físicas, com custos bem menores. Que instituição consegue manter-se presente por um prazo tão longo na vida útil de uma pessoa, incluindo seus dependentes? Certamente, poucas. Por isso, fidelizar clientes é, para quem presta serviços, por exemplo, de saúde, educação continuada, cultura e lazer – atividades que podem ser oferecidas e utilizados durante toda a vida – uma garantia de captação de recursos, de relacionamento e de parcerias por um longo período de tempo. 21 Essa vantagem ainda não tem sido aproveitada em sua totalidade, provavelmente por falta de uma cultura de atendimento onde manter o relacionamento e a parceria com o cliente, o maior ativo de qualquer empresa, venha em primeiro lugar. O reduzido aproveitamento dessa oportunidade de relacionamento, além de representar perda de negócios, implica em altos custos no equilíbrio quantitativo de uma carteira de clientes rotativa, pois, de acordo com estudos realizados, uma organização gasta, em média, seis vezes mais para atrair novos clientes do que para manter os antigos. Fidelizar clientes em um mercado competitivo e complexo também depende de competência. Competência para reestruturar (produtos, processos e serviços) e mudar o que for necessário. Competência para buscar informações e, principalmente, para utilizá-las objetivando melhoria e desenvolvimento. E rápido. É mais do que apenasboa vontade e pureza de intenções. É necessário estrutura, cultura, flexibilidade, coragem, mentalidade e ética. Glossário Fidelizar: Tornar (cliente ou consumidor) fiel a uma marca, produto ou serviço. 22 a 1) Julgue verdadeiro ou falso. Para a qualidade de serviços é necessário estabelecer mecanismos de medição que levem em conta o processo fundamentalmente humano de geração e entrega desse bem. Verdadeiro ( ) Falso ( ) 2) Julgue verdadeiro ou falso. A existência das organizações é condicionada à manutenção dos gestores por meio da satisfação de clientes sendo que é a condição mais importante para a existência das organizações. Verdadeiro ( ) Falso ( ) Atividades 23 Referências ALBRECHT, Karl. Serviços com Qualidade: a vantagem competitiva. 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E aí, muitos gestores se deparam com as seguintes questões: e Como comprometer a organização? Como promover a adesão das pessoas às metas adotadas? Como motivá-las? É nessa hora que o gerenciamento de mudanças assume uma realidade importantíssima: para gerenciar resultados, é preciso ser também competente no gerenciamento das pessoas – indivíduos, equipes! Incitar e mediar processos de mudança de desempenho (portanto, de mudança comportamental) nos traz a responsabilidade de conhecer um pouco mais sobre os fatores motivacionais que influenciam as pessoas no ambiente de trabalho. 27 2 Teorias Motivacionais Contemporâneas O estudo da motivação humana tem sido foco do interesse de psicólogos e administradores à medida que pode alterar a dimensão dos esforços que empreendemos, interferir na capacidade de persistir frente a dificuldades e até mesmo o grau de satisfação que sentimos nas atividades que realizamos, por mais simples que sejam. Por exemplo, um funcionário pode se entediar ao movimentar uma manivela no seu trabalho, enquanto é capaz de movimentar a manivela de uma máquina caça- níqueis em um cassino por horas a fio, e ainda se divertir com isso. Esse exemplo nos revela a importância de analisarmos a motivação de modo contextualizado na vida do indivíduo, e não como um dado isolado. Em princípio, a motivação é condicionada pela busca da satisfação de uma necessidade do indivíduo. O esforço é uma medida de intensidade, enquanto a necessidade é um estado interno que gera um nível de ansiedade suficiente para mobilizar o indivíduo, gerando um comportamento de busca para o alívio desta tensão. A meta (estado a alcançar) serve para nortear o comportamento do indivíduo e balizar os resultados alcançados. A motivação pode ser definida como: • Estado ativado interno capaz de mobilizar uma pessoa a um comportamento direcionado por objetivo. • Impulsos, anseios, desejos ou vontades que iniciam a sequência de eventos que levam um comportamento. • Estímulo que impulsiona o reconhecimento de uma necessidade. O reconhecimento de uma necessidade ocorre quando existe uma discrepância percebida entre uma condição real e uma condição desejada • Vontade de empregar esforços para a realização de metas. • Disposição para exercer elevado esforço com vista à realização de um objetivo. 28 • Resultado da interação entre o indivíduo (suas aspirações, seus valores e interesses) e uma determinada situação. Os indivíduos diferem entre si a respeito de seus impulsos motivacionais básicos (a motivação interna ou intrínseca) à medida que seus impulsos, além de serem acompanhados de carga emocional, poderem ser inatos ou aprendidos socialmente (como é o caso das necessidades relacionadas a status), conscientes e inconscientes. Existem diversas teorias que tentam explicar como se dá a dinâmica ou ociclo motivacional. Pelo fato da gestão por resultados estar alicerçada pelo comprometimento e motivação dos indivíduos para a concretização de objetivos e metas, vale a pena explicarmos algumas teorias contemporâneas humanistas que exploram o tema. 2.1 A Teoria de Necessidade de McClelland David McClelland (1961), defensor da Teoria da Motivação pelo Êxito e/ou Medo, destaca três motivos (necessidades) ou fatores motivacionais que orientam a dinâmica do comportamento humano. a) Necessidade de realização ou motivação para a competência: relacionada ao desenvolvimento de tarefas e à consecução de desafios; impulso de alcançar sucesso pelo sucesso em si; impulso de exceder, de sair-se bem em relação a um conjunto de padrões, de lutar pelo sucesso. b) Necessidade de afiliação: consiste no conjunto de impulsos que levam a pessoa a pertencer a um grupo e ser amada; desejo em ser aceito pelo grupo, em estabelecer relações adesão e pertença. c) Necessidade de poder: diz respeito à vontade de alguém influenciar o comportamento de pessoas e de sistemas organizacionais; de exercer liderança e de obter status. 29 McClelland (1961) sustenta que todas as pessoas apresentam diferentes níveis de cada necessidade, sendo a de realização (motivação pelo êxito) aprendida socialmente desde a infância. A maneira com que tentamos satisfazer nossas necessidades têm relação íntima com as nossas estratégias de resolução de problemas. Dessa forma, quando o indivíduo obtém sucesso utilizando-se de determinado meio ou estratégia, tenderá a repeti-los para a solução de outros problemas, o que caracterizará o seu estilo pessoal (seus esquemas comportamentais). Em suas pesquisas, McClelland (1961) descobriu que os indivíduos realizadores se destacavam pelo seu desejo de fazer as coisas sempre melhor, procurando situações de responsabilidade pessoal para solucionar problemas. As pesquisas também revelaram que os indivíduos treinados para estimular sua motivação realizadora investem muito mais esforços e apresentam muito mais resultados do que os não treinados – daí sua conclusão sobre a possibilidade de a necessidade de realização ser aprendida socialmente. Verificou também que os Indivíduos realizadores querem vencer obstáculos por meio de seu próprio esforço pessoal, preferindo tarefas com grau de dificuldade médio e com possibilidade de sucesso. Também tendem a agir impulsionados por estímulos internos (automotivação/motivação intrínseca), em vez de se apoiarem em fatores motivacionais externos (motivação extrínseca). Já a necessidade de poder estaria relacionada ao desejo de causar impacto, de influenciar ou de controlar os outros. Indivíduos com elevada necessidade de poder preferem ser colocados em situações competitivas e orientadas para status e prestígio, e tendem a se preocupar mais com isso do que com um desempenho eficaz que não “aparece” aos olhos dos outros. NECESSIDADE MEIO DE SATISFAÇÃO Realização competir como forma de auto avaliação Afiliação relacionar-se cordial e afetuosamente Poder exercer influência 30 A necessidade de afiliação está relacionada à ambição de ser apreciado e aceito pelos outros. Indivíduos com alta necessidade de afiliação preferem situações de cooperação mútua em vez de competição, e podem apresentar comportamentos corporativistas, pois o sentido de pertença e a manutenção de relações interpessoais amistosas e fortes é o que norteia seu comportamento. e As necessidades de afiliação e de poder ainda não são o alvo preferencial dos pesquisadores, que têm preferido enfocar seus estudos sobre a relação entre a necessidade de realização e o ambiente de trabalho. Essa preferência é decorrente dos dados obtidos em pesquisas que indicaram a possibilidade dessa necessidade ser influenciada, desenvolvida e treinada. Os indivíduos com necessidade de realização, quando se encontram em situações com alta responsabilidade pessoal e médio risco, têm demonstrado altos níveis de motivação e apresentado sucesso em empreendimentos como dirigir seu próprio negócio ou uma unidade independente na organização. No entanto, nem sempre são bons gerentes ou líderes, principalmente em grandes organizações, pois essas pessoas estão mais preocupadas em se saírem bem (pessoalmente) do que em influenciar os outros para que também realizem. Já a necessidade de poder ter sido considerada um requisito importante para a área gerencial, pois exerce mais influência nas motivações das pessoas e dos grupos à sua volta. Essa teoria equivale aos níveis mais elevados da hierarquia de Maslow e se aproxima dos fatores motivacionais de Herzberg e, a exemplo deles, ainda não teve seus pressupostos comprovados cientificamente. 2.2 A Teoria de Determinação de Metas Na década de 1930, foram realizados estudos sobre o efeito do estabelecimento de metas em ambientes industriais. Naquele contexto, os pesquisadores verificaram que a especificidade da meta influencia o nível de desempenho de pessoas e de grupos. 31 Na década de 1960, tentando verificar o poder de generalização desse princípio, Locke e Bryan (1966) desenvolveram uma pesquisa para comparar o desempenho de dois grupos: um com uma meta específica a ser alcançada e o outro sem uma meta específica. Comparando a diferença de desempenho dos dois grupos, os pesquisadores verificaram que o grupo que compartilhou uma meta específica obteve um ganho de desempenho maior que o grupo sem meta específica. Outra descoberta interessante foi a de que o estabelecimento de metas específicas influenciou também a intensidade dos esforços empregados. Esses pesquisadores consideraram que o estabelecimento de metas é um forte fator motivacional, ou seja, a intenção de trabalhar em direção a uma meta é uma das principais fontes de motivação de trabalho. Uniformizando o conhecimento do grupo, atribuindo e estimulando a assunção de responsabilidades, os grupos auto gerenciáveis se destacam no projeto e na execução das tarefas para o alcance de resultados. Locke e Bryan (1966) propuseram que a principal fonte de motivação no ambiente de trabalho é a meta: o que precisa ser feito e quanto esforço é preciso empregar. A teoria de determinação de metas pressupõe também o comprometimento do indivíduo com o alcance da meta. Locke e Bryan (1966) defendem que metas específicas, por serem claras, ajudam a melhorar o desempenho, e que metas desafiadoras e difíceis, quando aceitas e compartilhadas, produzem melhor resultado do que as metas fáceis. E que quando as pessoas participam da determinação das próprias metas, é maior a probabilidade de aceitá-las. O feedback sobre o progresso em direção às metas é um importante guia para o comportamento do indivíduo. Portanto, a meta teria tanto um componente interno (auto desafio) como externo (norte, referência), com feedback constante. 32 h Mas para que as metas realmente motivem, devem ser tomados alguns cuidados: • As metas devem ser específicas, objetivas e claras. • As metas devem ser difíceis (mas aceitáveis), portanto, incentivadoras. • Os progressos devem ser constantemente avaliados por meio do feedback. • As pessoas envolvidas devem partilhar ativamente da determinação das metas. • As metas devem ser priorizadas e classificadas por ordem de dificuldade e importância. • Os prazos finais para cada meta devem ser determinados (dead line). • Podem ser associadas recompensas à consecução das metas. Robbins (2002), aprofundando o tema já nas últimas décadas, alertou sobre a importância da relação dinâmica entre as metas institucionais e as metas pessoais, definindo a motivação parao trabalho como “a vontade de empregar altos níveis de esforço em direção a metas organizacionais, condicionada pela capacidade do esforço de satisfazer alguma necessidade do indivíduo.” A teoria de metas sustenta o estilo gerencial adotado na gestão por resultados. Isso porque a gestão por resultados converte os objetivos organizacionais globais (estratégicos) em objetivos específicos para cada unidade de negócio ou departamento 33 (táticos) e em objetivos setoriais ou até individuais (operacionais), estabelecendo um processo de hierarquia de objetivos para os diversos níveis, procurando aplicar, na prática, a teoria motivacional de Locke. Alguns críticos da gestão por resultados alertam sobre alguns aspectos comportamentais negativos já observados pela adoção de metas: • Metas quantitativas podem encorajar os funcionários a concentrarem mais esforços na quantidade do que na qualidade do trabalho. • Metas específicas às vezes são tratadas como teto e não como piso, criando um efeito limitante. • Metas específicas podem reduzir o potencial das pessoas, por dissuadirem seus esforços de melhoria constante. • O alcance de metas sem a adequada disseminação de valores humanísticos pode incentivar práticas organizacionais questionáveis, onde apenas o resultado é importante. h No entanto, há consenso sobre os benefícios da gestão por resultados no moral e na motivação das pessoas, pois ajuda em: • concentrar a atenção sobre áreas principais da eficácia organizacional; • identificar, através de um controle, o progresso das áreas- críticas em direção ao alcance dos objetivos; • melhorar o controle da informação; • aumentar os níveis de desempenho; • dinamizar a estrutura organizacional, definindo responsabilidades e objetivos das áreas; • identificar onde as mudanças são necessárias; 34 • contribuir para identificar necessidades de treinamento e desenvolvimento, propiciando um ambiente de crescimento pessoal; • melhorar os sistemas de avaliação e reconhecimento; e • ampliar a comunicação e os relacionamentos interpessoais. É claro que toda teoria ou modelo administrativo tem seus pontos fortes e fracos. Por isso é cada vez mais importante o papel e as habilidades do gestor – na compreensão do contexto, das pessoas, dos sistemas, das mudanças, e como aplica seus talentos na orquestração de todos esses fatores para a obtenção de resultados. 3 Empowerment Antes de definirmos o que é empowerment, cabe lembrar que toda ação gerencial ou modelo de gestão é resultado de uma determinada concepção do homem, mesmo que inconsciente, que se reflete na forma como analisamos e julgamos suas relações, tendências, aspirações, comportamentos etc. Douglas McGregor (1960) constatou que existem basicamente duas concepções antagônicas que fundamentam inúmeras práticas organizacionais atualmente adotadas, denominando-as de X e Y. a) A teoria X caracteriza-se pelas seguintes convicções sobre o comportamento humano: O homem é um ser indolente e preguiçoso por natureza. Não gosta de assumir responsabilidades e prefere ser dirigido. O homem é de natureza egocêntrica e seus objetivos pessoais opõem-se, em geral, aos objetivos da organização. Resiste a mudanças, e a sua dependência o torna incapaz de autocontrole e disciplina. 35 e O estilo administrativo e motivacional orientado por essa concepção de homem caracteriza-se pelo estilo gerencial autocrático e controlador, com foco no direcionamento das pessoas, na diminuição de suas responsabilidades, e em políticas de persuasão, recompensas e punição, negação dos objetivos pessoais e supremacia dos objetivos organizacionais, tendo a remuneração como único meio de recompensa. b) A teoria Y baseia-se na eliminação de preconceitos sobre a natureza humana, defendendo os seguintes pressupostos: O homem não possui um desprazer inerente em aplicar-se física ou mentalmente – o trabalho é tão natural quanto jogar e descansar. Além disso, é um ser sociável e não é obrigatoriamente resistente às necessidades das organizações. Ele possui motivação básica e padrões de comportamento adequados e capacidades para assumir responsabilidades. O homem não só aceita responsabilidades, mas também as procura as capacidades de imaginação e de criatividade na solução de problemas é distribuída entre os indivíduos, e não posse de alguns afortunados. A teoria Y tende a incentivar os estilos gerenciais mais democráticos, em que administrar é um processo de criar oportunidades e proporcionar orientação quanto a objetivos. O administrador é responsável por articular e criar condições e métodos para que as pessoas reconheçam e desenvolvam suas motivações e ampliem seu potencial de desenvolvimento e assunção de responsabilidades. Dessa forma, os objetivos pessoais se convergem aos objetivos organizacionais, em vez de se oporem. O estilo administrativo, segundo a teoria Y, baseia-se em uma série de medidas inovadoras e humanistas, como: • Descentralização das decisões de responsabilidade. • Ampliação do cargo para maior significado do trabalho. • Participação nas decisões mais altas e administração consultiva. • Auto avaliação do desempenho. 36 É na concepção de homem da teoria Y que o empowerment se fundamenta. O empowerment pode ser definido como o “empoderamento” ou concessão de poder, e baseia-se nos pressupostos de Kanter, que considera que as organizações que dão mais poder e autonomia aos seus trabalhadores, reduzindo os níveis decisórios, são as que melhor se posicionam a longo prazo. O sucesso por meio do empowerment se deve não apenas à delegação do gestor, mas também à construção de ambientes organizacionais que propiciam o desenvolvimento e as iniciativas de seus colaboradores, em oposição a organizações cuja cultura valoriza a centralização do poder, das decisões e o paternalismo. O empowerment não é promovido por meio do acúmulo de atividades ou da rotatividade de funções (técnicas denominadas de “enriquecimento do cargo”), mas sim por uma distribuição de responsabilidade e autoridade dentro do ambiente de trabalho, onde os colaboradores assumem responsabilidades antes atribuídas às chefias, como, por exemplo, monitorar a qualidade das atividades ou serviços realizados, decidir sobre equipamentos, resolver problemas de maior complexidade relacionados a recursos de pessoal, tempo, talentos, métodos etc. Assim, o empowerment a responsabilidade e a autoridade formal, e também a capacidade dos colaboradores em mobilizar recursos (pessoas, finanças, talentos) para o alcance dos resultados, implicando obrigatoriamente em aprendizado e desenvolvimento do grupo. Nesse aspecto, o empowerment envolve todos em um ambiente de cooperação, sobretudo as chefias. E o que faz a chefia? Parece ser um consenso que as ações gerenciais que se limitam em reduzir a responsabilidade das pessoas, impor sistemas, controlar e decidir sobre toda a vida da organização, sem dar espaço a ninguém, não coadunam com os novos paradigmas que norteiam o perfil do gestor contemporâneo. Mas ao mesmo tempo observamos que nossos hábitos gerenciais estão muito mais ligados aos paradigmas de poder, autoridade e controle inquestionável do que nós pensávamos. 37 f O papel dos gestores tem sido reavaliado e remodelado. Os gestores são chamados de facilitadores, responsáveis, dinamizadores, consultores, enquanto a tomada de decisões em atividades de rotina está sendo imputada aos níveis mais básicos das organizações. Muitos colaboradores já têm autonomia para decidir sobre procedimentos, programas, prazos e soluções de problemasrelacionados às suas atividades. Antes, os gestores se limitavam a incentivar a participação de seus subordinados nas decisões. Hoje, as equipes auto gerenciáveis determinam os padrões de produção, rotinas, resultados e trabalham (muito bem) praticamente sem a função ou do “capataz” – figura importante nas organizações desde o boom da revolução industrial. O que está acontecendo é que os colaboradores estão, cada vez mais, no controle do que fazem. Estão “empoderados”. Dessa forma, os gerentes também estão tendo que aprender a abrir mão do controle excessivo e de dizer exatamente como as coisas devem ser feitas, e os funcionários estão aprendendo a ter autodisciplina, a responsabilizar-se sobre suas ações, decisões e resultados do trabalho. É o retorno da significação do trabalho, o que acarreta em uma diferença qualitativa no impulso motivacional da organização com benefícios inestimáveis. Mas esse é um processo de mudança lento e que deve ser acompanhado do necessário desenvolvimento das pessoas – colaboradores e gestores. a. Alguns princípios da delegação A delegação é também uma oportunidade para o aproveitamento e desenvolvimento do potencial de conhecimento dos colaboradores para a otimização do desempenho individual, grupal ou organizacional. E delegação difere da liderança participativa à medida que pressupõe a atribuição e assunção de responsabilidades de maior complexidade aos subordinados, junto com a autoridade necessária. Enquanto a liderança participativa empreende esforços do gestor no sentido de consultar ou ouvir as pessoas para a tomada de decisões (que também poderiam ser tomadas pela chefia, isoladamente), a delegação implica na “entrega” da tomada de decisão em tarefas e assuntos específicos. 38 A tabela mostra as diversas modalidades de delegação. SITUAÇÃO MODALIDADE DE DELEGAÇÃO 1. Variedade e magnitude das atividades, processos ou tarefas • Especificação de autoridade adicional para atividades já executadas • Atribuição de novas tarefas e responsabilidades acompanhadas de respectiva delegação decisória 2. Ampliação do nível de arbitrariedade com monitora mento da chefia • Autonomia de decisão num âmbito restrito • Ampliação da autonomia de decisão 3. Autoridade para agir e implementar decisões sem aprovação prévia • O delegado interroga a chefia apenas quando ocorrem problemas ou ocorrência pouco usual. • O delegado pode decidir o que fazer, mas deve obter aprovação antes da implementação. 4. Frequência e natureza dos relatórios apresentados à chefia • Relatórios diários e minuciosos • Relatórios não frequentes e com resultados gerais, sem o detalhamento dos procedimentos utilizados 5. Fluxo de informação de desempenho do delegado • A informação detalhada acerca do desempenho do delegado vai diretamente para o superior, que depois a transmite para o colaborador. • A informação é dirigida a ambos. 39 b. Alguns benefícios da delegação e do empowerment • Permite às chefias a dedicação às tarefas primordiais da unidade organizacional como um todo, sem que se percam nas atividades de rotina do dia a dia. • Contribui para o desenvolvimento das capacidades dos colaboradores. • Motiva e amadurece a organização. • Melhora a qualidade das decisões operacionais, que são tomadas pelas pessoas que conhecem as tarefas e possuem mais conhecimentos específicos • Contribui para que os colaboradores se empenhem na implementação eficaz das decisões. c. Condições que interferem na delegação A efetivação das vantagens da delegação e do empowerment depende das seguintes condições: • É necessário que o colaborador tenha capacidade para a execução das novas responsabilidades, o que pode implicar em formação prévia (treinamento e desenvolvimento) e de mediação das chefias (apoio, orientação e aconselhamento); • É importante que o colaborador aceite as responsabilidades e que compreenda o que lhe é proposto e/ou solicitado; • As chefias devem ser produtivas, portanto, delegar não significa livrar-se de tarefas ou de responsabilidades, mas sim atribuir níveis de tarefas, responsabilidades e autoridade, inclusive para si mesmo; • A delegação de excessiva de responsabilidade a colaboradores inexperientes pode gerar problemas e resultados indesejáveis. Orientar, comprometer, compartilhar e aprender em grupo são pontos chaves do sucesso da delegação; e • É importante reconhecer e valorizar os resultados dos que alcançaram suas metas por meio da delegação, assim como é fundamental orientar e apoiar as pessoas que ainda não as atingiram. Cada um tem um ritmo próprio e responde às exigências de modo diferente. Portanto, respeite as diferenças em vez de selecionar seus “favoritos”. 40 A motivação decorrente do empowerment é uma construção da gestão, não um resultado garantido. Apesar do empowerment estar cada vez mais associado à responsabilidade individual e organizacional dos colaboradores, à construção da cidadania, ao retorno da significação, do domínio e da realização do homem por meio do trabalho, é raro encontrar práticas organizacionais que suportem esses conceitos. De modo geral, encontramos esforços híbridos onde alguma arbitrariedade é “permitida” ou “tolerada” pelas chefias, que ainda estão presas ao papel do gestor como detentor máximo do poder, da autoridade, da decisão e do controle. Essa é uma área em que o discurso ainda se distancia da prática efetiva. Em termos gerenciais, ainda temos muito o que caminhar. Glossário Estratégia: Meios desenvolvidos para conseguir alguma coisa. 41 a 1) Julgue verdadeiro ou falso. Inicialmente, a motivação é condicionada pela busca da satisfação de uma necessidade do indivíduo. Verdadeiro ( ) Falso ( ) 2) Julgue verdadeiro ou falso. O papel dos gestores tem sido mantido e apenas revisto nas denominações sendo chamados de facilitadores, responsáveis, dinamizadores, consultores, enquanto a tomada de decisões em atividades de rotina está sendo imputada aos níveis mais básicos das organizações. Verdadeiro ( ) Falso ( ) Atividades 42 Referências ALBRECHT, Karl. Serviços com Qualidade: a vantagem competitiva. 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A tecnocracia, a burocracia e o design organizacional clássico (organogramas) estão sendo substituídos por estruturas administrativas mais flexíveis, de design sistêmico ou orgânico com foco em processos, estações de trabalho com equipes multidisciplinares e a integração de setores. Outra mudança tem sido a ampliação de políticas e doutrinas administrativas de cunho social, ético, humanista junto ao público externo e da utilização de processos de gestão que valorizam resultados, informações, aprendizagens, valores e pessoas, junto ao público interno. As funções e a determinação de papéis rígidos nas atribuições de cargos também estão sendo paulatinamente substituídos pela atribuição de responsabilidades em função de metas e do aproveitamento de competências, habilidades e talentos existentes. As soluções imediatistas ou impulsivas e o excesso de reuniões inoperantes que, no passado, poderiam ser consideradas como atividades de “homens de ação”, hoje denotam falta de visão estratégica, de planejamento e de aproveitamento das pessoas. 46 Dessa forma, os estilos de gestão exclusivamente centralizadores e autoritários do passado, restritos apenas às ferramentas gerenciais fornecidas pela razão e pela lógica matemática, estão sendo ampliados, migrando para formas onde é dada mais ênfase à delegação e participação. Os papéis gerenciais também estão se transformando. O gestor que antes se preocupava em cumprir normas e procedimentos (ou fazer cumprir) e propagar valores e crenças tem hoje participação ativa na estruturação dessas normas e na criação dos valores e crenças, ou seja, tem a responsabilidade de transformar culturas. Das inúmeras atribuições dos gestores, a atuação estratégica, a capacidade de mediar e integrar as contradições do sistema organizacional, de incitar o desenvolvimento interno e externo à organização e o respeito à diversidade humana são o foco da sua atuação. 2 O Papel do Gestor As discussões sobre o papel do gestor giram em torno da seguinte definição: liderar pessoas e gerenciar processos em função dos objetivos a serem alcançados. Nesta visão tradicional, as pessoas são recursos do processo produtivo, e devem ser motivadas, recompensadas, incentivadas a maior comprometimento com a organização. E os processos, planejados e monitorados em direção à melhoria contínua. Assim, o ciclo do gerenciamento tradicional (centralizador) pode ser resumido na capacidade de planejar, organizar, implementar e monitorar, visando a consecução de metas por meio das pessoas. 47 2.1 Ciclo do Gerenciamento Como consequência de um ambiente cada vez mais instável e de uma renovação tecnológica constante, o papel do gestor incorporou a responsabilidade de responder eficazmente às mudanças, numa atuação generalista e sistêmica, abrangendo as variáveis internas e externas à organização. Assim, além de gerenciar pessoas e processos, o gestor acaba sendo chamado a atuar, em integração com a gestão intraorganizacional, em quatro subsistemas estratégicos: o tecnológico/econômico, o humano/social, o administrativo/estrutural e o informativo decisório. • Subsistema Tecnológico/Econômico: relacionado às novas formas de trabalho, novos serviços, mudanças nos sistemas de produção de trabalho, organização virtual, ênfase na agregação de valor aos serviços prestados. • Subsistema Humano/Social: envolve dimensões como comprometimento, ética, confiança, desenvolvimento dos colaboradores, responsabilidade social, coerência de valores e de atitudes, melhoria da qualidade de vida dos colaboradores, dos clientes e da comunidade, motivação (da equipe e automotivação). • Subsistema Administrativo/Estrutural: implica no estabelecimento e na gestão de estruturas em rede/sistemas/orgânicas, de equipes multifuncionais, em delegação e empowerment, estruturação de processos, de carreiras, de serviços. • Subsistema Informativo/Decisório: desenvolvimento de visão, ação e pensamento estratégicos, ampliação dos canais de comunicação internos e externos à organização, gestão de informações, gestão de processos decisórios, rede de alianças do negócio e de suas unidades, determinação de políticas e diretrizes. Organizar Monitorar Planejar Implementar 48 A atuação do gestor nesses subsistemas é integrada, e os resultados das mudanças em cada um deles afeta o sistema como um todo, de modo sinérgico. e Assim, para cumprir funções gerenciais de planejar, organizar, implementar e monitorar na complexidade dos subsistemas organizacionais, o gestor deve apresentar competências em: • Produzir: alcançando resultados não apenas por meio das pessoas, mas com produção própria (planejamento) nos quatro subsistemas. • Implementar: ampliação das atividades de execução (programa, treina, coordena, controla) de atividades para o desenvolvimento de pessoas (competências) e a gestão de projetos. • Inovar: capacidade de empreender mudanças, de visualizar alternativas, futuros e estratégias; de transformar o presente, de estabelecer novos resultados e horizontes, de criar. • Integrar: transformar empreendimentos individuais em grupais; capacidade de equilibrar poder, recursos, estratégias, conflitos; criar culturas; comprometer. Objetivos Forças Externas Interrelação dos subsistemas organizacionaisHumano Social Informativo Decisório Econômico Tecnológico Administrativo Estrutural 49 Esta complexa atuação do gestor ainda é racional e tradicional, pois centraliza todas as possibilidades de atuação em torno de sua competência exclusiva (mesmo que ajudado por equipes ou assessores) com ênfase na eficiência do sistema – resolver problemas e aproveitar oportunidades. De outro lado, temos um modelo de atuação do gestor mais envolvido com a eficácia, onde as tarefas de planejar, organizar, implementar e monitorar são partilhadas nos diversos níveis da organização. Ao gestor cabe a análise externa, a investigação de problemas e a descoberta de oportunidades, numa abordagem prospectiva, assim como tratar de questões estratégicas (o que deve ser feito?), enquanto sua equipe é responsável em decidir o “como” deve ser feito. Nesse modelo descentralizado, os gestores são inovadores e integradores no nível macro ambiental (grandes tendências do mercado, opções estratégicas) enquanto os colaboradores são responsáveis em materializar os projetos por meio da inovação, produção e implementação no nível micro ambiental (tendências de diferenciação de um determinado serviço, alterações em processos etc.) A motivação e o comprometimento, aqui, pode ser potencialmente maior, pois o colaborador tem autonomia e liberdade de planejamento, com feedback imediato entre as ações planejadas neste nível e seus resultados. O papel do gestor em organizações que adotam este modelo envolvente é o de líder – o que impele à mudança, concebendo um estado futuro, veiculando sua percepção do estado atual e incentivando a mudança. c As duas abordagens apresentam vantagens e desvantagens. A abordagem centralizadora tende a ser mais eficiente, pois maximiza os recursos e as oportunidades da organização em todos os seus subsistemas. No entanto, tende a perder a flexibilidade por excesso de estruturação. Já a abordagem descentralizada tende a ser mais eficaz no que se refere à sua capacidade de adaptação e mudanças, mas tem sido criticada por promover surtos de mudanças radicais, muitas vezes com altos custos financeiros, perdendo, portanto, em eficiência. 50 A complexidade do papel do gestor está em integrar esses modelos aparentemente paradoxais para uma organização eficaz/eficiente, onde as coisas certas são feitas da melhor maneira, com graus de descentralização e centralização contingenciais (e não estruturais). O papel de quem dirige a organização, neste modelo, é o de líder-gestor – o que impele à descoberta de novas oportunidades e auxilia na sua implementação. A ele cabe catalisar a construção de uma visão orientadora participando da construção do significado da organização, criar uma cultura de mudança contínua (em oposição aos “surtos” de mudança) fomentando a aprendizagem e a investigação organizacional e obter resultados por meio do aproveitamento efetivo das oportunidades, realimentando todo o processo. Assim, o papel do gestor está em equilibrar os níveis da administração (efetividade da organização), em desenvolver pessoas e processos (aprendizagem organizacional contínua) por meio de liderança (aspectos relacionais para a adesão de uma visão de futuro compartilhada). 3 O Perfil do Gestor Devido à alta complexidade do papel de analista estratégico e administrador de mudanças orientado para resultados, o perfil do gestor envolve: • Conhecimento do negócio • Conhecimento técnico-administrativo • Conhecimento de pessoas; habilidade para motivar e desenvolver equipes e competências • Familiarização e interação com metodologias e tecnologias avançadas • Capacidade de empreender e assumir riscos; iniciativa • Habilidades de relacionamento e comunicação (interpessoal e com a organização) Liderar Papel do Gestor DesenvolverAdministrar 51 • Ética e responsabilidade social • Pensamento estratégico • Exercício de liderança situacional • Criatividade • Capacidade de negociar e trabalhar em equipe • Visão de conjunto • Automotivação e auto comprometimento A competência nas relações interpessoais é item básico no conjunto de ferramentas gerenciais. Consequentemente, habilidades de comunicação, percepção, influência, intuição, ética, criatividade e inovação e liderança aplicadas ao ambiente organizacional, aliadas à compreensão e utilização de fundamentos administrativos, obrigam ao gestor o investir permanente no autodesenvolvimento. c A determinação de um perfil ideal, apesar de poder nortear as necessidades de desenvolvimento do gestor, esbarra na seguinte realidade: é possível encontrar excelentes gestores que não possuem tão amplo leque de competências, ao mesmo tempo que é quase impossível que uma só pessoa demonstre excelência em todos esses aspectos, à semelhança da tentativa de se determinar as características ideais do líder. 4 Liderança O poder instituído pela chefia (autoridade formal), apesar de ser essencial à gestão, pois lhe atribui a competência no sentido de estabelecer as prerrogativas da função, tem sido insuficiente para responder à complexidade dos desafios e situações que se apresentam. A liderança aparece, então, como ferramental indispensável do gestor bem-sucedido. Sem liderança não é possível comprometer ou empreender mudanças. 52 A liderança pode ser definida como a capacidade de alguém em influenciar pessoas que, por vontade própria, seguem suas ideias ou determinações. Portanto, não existe líder sem liderados, ou seja, é a existência de liderados que denota a existência de um líder. A evolução dos estudos da liderança tem analisado a questão por meio de várias abordagens, conforme veremos a seguir. a. Teoria dos traços A Teoria dos Traços procurou determinar as características pessoais do líder, dentro de uma perspectiva universalista. Considerando que o líder já nasce líder, a liderança nesta teoria é tratada como característica inerente e, portanto, sem a possibilidade de ser desenvolvida. Predominou até a década de 40, caindo em desuso pela constatação de que inúmeros e importantes líderes do século XX não apresentavam as tais “características”. b. Teoria dos estilos de liderança Preocupou-se em determinar o comportamento responsável pela liderança eficaz, ou seja, o que o líder faz. Essa teoria considerava que as pessoas poderiam ser treinadas para exibir tal comportamento, conseguindo, assim, transformar-se em melhores líderes. Foi combatida por incentivar a incorporação de falsos papéis, ou seja, de uma dramaturgia de líder sem o suporte de valores e demais comportamentos verdadeiros. A teoria dos estilos de liderança produziu duas vertentes: A definição de três estilos distintos e excludentes de liderança: • a autocrática: baseada na dominação absoluta do líder; • a democrática: em que as decisões são tomadas pela chefia após ouvir sua equipe e com a concordância desta; e • o laisse faire: em que não há o comando diretivo nem compartilhado. Alguns autores não a incluem como um tipo de liderança, pois não há processo de influência do líder nas pessoas. A determinação de estilos pessoais: • o coercitivo, por meio do uso do poder para a submissão e controle; 53 • o dirigente, que procura criar uma direção e influenciar as pessoas a segui-la; • o afetivo, que prioriza a manutenção dos relacionamentos amigáveis, evitando conflitos e recompensando as pessoas por suas características pessoais, não pelo seu desempenho; • o democrático, que pretende comprometer as pessoas por meio do consenso e da participação; • o modelador, que procura influenciar as pessoas pelo seu exemplo, exigindo de todos alta performance, utilizando de coerção quando necessário;
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