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~ SINOPSE aumentar o número de colaboradores de 6 mil para 25 mil no mesmo período. Assim, ele planeja aproximar-se do nível de faturamento de empresas como American e United Airlines, acima de US$ '3,3 bilhões. . Em uma época particularmente difícil para a aviação comercial mundial, a punjante companhia aérea norte-americana JetBlue Airways, em vôo desde 2000, registra três anos de lucros,já alcança US$ 1 bilhão de faturamento anual, possui os menores custos de seu setor, é líder em percentual de assentos ocupados e ostenta o segundo lugar em chegadas pontuais. Além disso, tem sido freqüentemente o novo "bom exemplo" apontado pelo professor Michael Porter, o "pai da estratégia". . Será que Neeleman conseguirá fazer isso sem perder as características de pequena empresa que lhe permitiram diferenciar-se no mercado e ter uma estratégia digna dos elogios de Porter? Esta reportagem detalha sua história e seus planos de futuro, enquanto os quadros das páginas 114 e 120 mostram, respectivamente, as lições que ele já aprendeu e como pretende expandir seu negócio "sem perder a alma". A reportagem é de Chuck Salter, da revista Fast Company. . Agora, o presidente da JetBlue, David Neeleman, enfrenta seu maior desafio: levar sua empresa a competir com as grandes. Para isso, ele quer passar das 57 aeronaves atuais para 29° em sete anos e do carro. Enqltanto Neeleman segue para o aeroporto .f.F. Kenned\". Coswlando no trânsito, fica claro que ele age segtmdo seus illstintos. E até agoJ-a \-ai tudo bem. Em um moment() difícil para a economia nortt'- americana, a.fetBlue literalmente decolou. Enquanto grande parte do setor da a\1açào ainda sofre os reveses dos atentados de 11 de setembro. e ao mesmo tempo em que a United Airlines e a US Airwa\"s foram à fa- lência, a jetBlue revelou-se um incrível exemplo do que pode ocorrer quando o empreendedor com a idéia certa (tarifas baixas e mimos como aparelhos de TV indi\1duais e assentos de couro) entra em ação no momento adequado. Fundada em 1999 e voando desde 2000, ajetBlue apresentou 12 trimestres col1Secutivos de lucro. Desfrut.\ as melhores margens operacionais do setor, tem a maior taxa de ocupação de assentos e é uma das empresas que se destacam por pousar no horário previsto. E le está voando, mas não como se imagina que se.ia a ..iagem do presidente de uma empresa aérea. Em vez de se acomodar em um jato no\inho. cheio de confortos, Da\id Neeleman dirige uma Che', Tahoe imunda, como se fosse um piloto de corridas. pelas l"Uas escuras do Queens. em No..'a York. Faltam cinco minutos para 21h, seu vôo pal"a Salt Lake Cit\ decola às 21h25 e Neeleman. presidente da JetBlue Airways, está a 15 minutos do aeroporto. KEspero que a gente consiga~, diz sorrindo, e deS\'ia o carro para uma pista livre. Ele poderia ter saído mais cedo do escritório. mas isso não é hábito seu. Outra opção seria passar o volante para oUtra pessoa. mas ele também não age assim. Embora administre uma companhia aérea com mais de 6 mil funcionários e 57 jatos bimotores. Neeleman prefere ele mesmo guiar seu carro, como faz todas as manhãs. Se esse carro sugere algo, é praúcidade: o executivo e sua mulher têm nove filhos. Roupas de criança se e~- palham pelo banco de trás c uma g-arrafa \-azia de ágtla produz ruídos em meio a páginas dejomal no assoalh(~ o desafio de crescer N{'{~I(~man ({'m planos de vôo ainda mais O\1sados para a JetBlul': quer ele\'ar sua empresa ao nível das HSM Management 46 setembro-outubro 2004112 www.hsmmanagement.com.br ~ "c . #Conseguira a de maior tempos dar o permitirá competir de igual com as grandes da aviação comercial? Reportagem FastCompany ~~ - ~; o /IV v- IV .!!> II o velho plano de vôo de Neeleman sorte: será que o talento que o ajudou a criar uma empresa bem-sucedida a partir do nada pode ser direcionado para os desafios de administrar uma companhia grande? No caso dajetBlue, há um traço peculiar. Muitas de suas característi- ca.~podem ser mantidas enquanto permanecer pequena, mas são bem mais difíceis de presen'ar conforme as proporções aumentam. Será que aJetBlue poderá manter essas qua- lidades quando atingir a burocracia exigi da para administrar operações mais complexas? A pergunta se aplica a muitas das empresas inovadoras atuais, que talvez possam ser chamadas de corpordções pós-modemas. Se elas obtêm êxito nessa transição, ",iram gente grande~, mas consegtlem con- tinuar sendo, sob diversos a...pectos, uma anÚtese da grandeza, como é o caso de Starbucks, De" e Amazon. Assim como a JetBlue, elas depen- dem da flexibilidade, da velocidade e da sensaçéw de proximidade tanto com os funcionários como com os clientes. Em outras pala'Ta.~, o de- safio que a .JetBlue enfrenta agora é: sel-ã possível crescer e continuar pequena? A JetBlue é a terceira empresa aérea que Nee- leman ajudou a criar. O que ele aprendeu com sua experiência? . Fazer mais pelos clientes. "Nem tudo surte efeito com todos os clientes", conta Neeleman. "Não me incomodo se nem tudo é valorizado, desde que as pessoas percebam algo que nos diferencia:' . Só os paranóicos sobrevivem. Neeleman está sempre em busca de satisfação, em especial quando as coisas vão bem. É nessa hora que as empresas criam maus hábitos e a ineficiência se alastra. . Atos valem mais do que palavras. Neeleman fala muito sobre trabalho em equipe, sobre o valor de cada colaborador para o sucesso da empresa, mas sabe que a mensagem pode parecer vazia se ele mesmo não der o exemplo. "Você não pode pedir aos colaboradores que façam algo que você não faria", adverte ele. . A melhor cultura se autopolicia. Na JetBlue, os gerentes não são os únicos atentos aos funcionários."Se você tratar mal um colega ou um cliente, há outras pessoas preocupadas com a divisão de lucros e com a cultura da JetBlue, por isso o fato terá ressonância", assegura Neeleman. . A concorrência é a maior motivação. Quando os concorrentes começaram a forçar o jogo da competição em 2003. Neeleman usou a disputa para unir os funcionários. "Eu Ihes disse: 'Estão querendo matar nossa empresa e destruir o emprego de vocês'. e todos reagiram ao desafio." . Os funcionários devem compreender o negócio. "Sempre falo sobre o tripé custos baixos, produto excelente e capitalização. Se todos aqui compreende- remaTniportância de preservar cada um desses itens, teremos um modelo de negócio bastante estável." ano, pretende contratar entre 1,7 mil e 1,8 mil no\"os funcionários. A empresa incorpora uma nOVél aerona\"e cada três semanas, e no próximo ano pretende incorporar uma cada dez dias. Fica claro que i\;eeleman terá de fazer mais do que apenas confiar em seus instintos. O setor da a\la- ção none-americémo está c11eio de empresa... aéreas iniciantes longe do apog-eu, todas fundadas por pessoa... ambiciosas e criativas. Neeleman administrd uma empresél n1aior do que todas as outras que já geliu, e en- frenta desafios orgalllzacionais e de concorrência cada vez n1aiores. Mas este é o teste qlle todos os empree.l1- dedores enfrentan1 quando têm grandes companhias aéreas. aúngin- do a marca de 290 aeronaves e 25 mil colaboradores nos próximos sete anos. Apesar do faturamento de qua- se US$ 1 bilhão apresentado no ano pa.-;sado. ajetBltle parece mimíscula se comparada com a American Air- lines, que faturou LTSS 1 i.4 bilhões. a United, com vendas de US$ 13,7 bilhões, ou a Delta. com vendas de US$ 13,3 bilhões. Mesmo com seu crescimento meteórico. a jetBlue ainda opera 220 võos diários para 23 destinos. enquanto a American, líder norte-americana, opera 4,2 mil vôos diários para 250 cidades de 40 países, Atualmente, ajetBltle está prestes a dar um passo decisivo: no próximo Colaboradores comprometidos <:onforme ~eeleman se (lirige ao aeropOl'to. a resposta a essa pel-- gunta parece ser "sim". .\ JetBlueainda é o tipo de organização na qual os funcionários do aeroporto JFK se dirigem ao presidente com um ~Olá. Da\id~-. São 21h15, mas o vôo está um pouco atrasado. Em seu caminho entre o balcão e o portão de embarque. :\eeleman segtle com calma e conversa qua'ie sem parar com seu pessoal. Poderia ser uma cena de reverência, sOJ-nsos artificiais. protocolo e noble.s.st' oblige, mas a diferença aqui é que o chefe conhece muitos desses colabol-ado- res pelo nome. Até agol'a a jetBlue parece de fato uma empresa pequena. Mas. confomle ~eeleman segue para a Hoje, a empresa incorpora uma nova aeronave cada três semanas; no próximo ano, pretende incorporar uma cada dez dias HSM Management 46 setembro-outubro 2004www.hsmmanagementcom.br114 seu manual de vôo em /IlPtops, o que pemlite a atualização inst.'\l1tânea. E Neeleman ainda conta com outros recursos quase ao alcance da méto, como dinheiro no banco (cerca de USS 600 milhões). aeronave, o piloto se admira: "Então você existe mesmo!". E esclarece que levou dois anos e meio para conhe- cer o presidente da empresa. É aí que mora o perigo: aJetBlue ainda não é tão grande ejá tem pilotos que trabalham nela desde 2()i) 1 e podem brincar sobre a verdadeil'a existência do "mítico" Neeleman. Levando em conta seu entusias- mo empreendedor do tipo "mão na massa", fica claro que Neelemanjá começou pensando ~nde. Um dos indicadores: o grupo de executivos que reuniu para administrar a .Jet- Blue pode causar inveja a qualquer oUtra empresa jovem. .-\1ém disso, Neeleman e sua equipe foram cui- dadosos na hora de pa\.imentar o caminho para o crescimento. Alguns aspectos nos quais a... start- ups costumam se enroscar, como a tecnologia sofisticada, fimcionam bem e com anos de antecipação. Por exemplo: os pilotos armazenam "versões" da JetBlue: a Delta fun- dou a Song e a United criou a Ted. Em dezembro, aJetBlue deixou de operar em Atlanta (primeira retirada da empresa), depois que a Delta e a AirTran inundaram o mercado com novos võos baratos. Em janeiro, a empresa de Neeleman anunciou que sua margem de lucro ha\;a caído três pontos percentuais e chegado a 13,3% no quarto trimestre de 2003, em grande parte em decorrência das reduções de preços promovidas pelas grandes concorrentes. Isso sem falar nas inevitáveis conseqüências do crescimento -que. nesse ramo, podem ser fa- tais. Até agora, aJetBlue apresenta os custos mais baixos do setor, de pouco mais de US$ 0,60 por passa- geiro por milha. Mas qualquer linha aéreajo\'em e com aviões no"os tem custos menores, uma vez que as aeronaves ainda não exigem tanta manutenção. Além disso, a empresa não conta com equipes antigas, por isso a folha de pagamento é baixa. A questão é: companhias aérea.'i de grande porte precisam de mais dinheiro para administrar seus ne- gócios. e os motivos para isso não se limitam a uma administração pouco criati\'a, A.t1tes de começar a se preocupar com os problemas de quem cresceu, aJetBlue precisa ter\ida longa e ser rápida o bastante para enfrentar ~gente grande". E. aos 44 anos de idade. ~eeleman tem uma lacuna em seu currículo: nunca administrou uma empresa grande nem trabalhou em uma por muito tempo. Seu forte sempre foi o lançamento de novos negócios. Embora não se.ja um executivo acostumado com as grandes orga- nizações, Neeleman sabe muito bem como atrair e adaptar talentos maduros pal'a uma empresajovem. Dave Barger, presidente do conselho de administração e principal exe- cuti,'o de operações. administrou a sede da Continental em ~e'\.ark. No\'a Jersey. John Owen. diretor Despertando a concorrência É pro\~\'el que precise desses reCl1l"Sos, uma vez que seu 11egócio é ousado. No~ Estados l'Ilidos, j,i faz tempo que uma empresa aérea nO\à não se equipara às grandes. Na realidade. desde a desregulamenta- ção da aviação, em 1978, das mais de cem no,'as empresas surgidas no setor. apenas algtlmas conseguiram sobre,i"er. E não sem razão: os a\iões custam caro e manter uma compa- nhia aérea exige muiu! gente. .-\. pequena empresa de Neelt,- manj<\ é g"lande o ba.'itante par'! se tornar alvo da concorrência: só em 200:~. duas grandes companhias aéreas norte-americanas lançaram HSM Management 46 setembro-outubro 2004 wwwhsmmanagementcom.br 115 --~.1.1 tU vôos do dia anterior. Às segundas- feiras. analisam a semana anterior. Obsen-am dados como horários de pousos. decolagens e da coloca- ção da última mala na esteira (o °b.ie- tivo da empresa é que esse inter\"alo seja de no máximo 20 minutos após a chegada do avião ao portão de desembarque). "Os 45 minutos qut' a pessoa espera pOI' sua bagagem são a última impressão que le\"a da empresa". explica Barger. custos baixos é uma obsessão na empresa. Os operadores de resen'aS da jetBlue. por exemplo. u-abalham em ca...a e não em um caU cen16. que seria mais dispendioso. Ao mesmo tempo, Neeleman procura meios de ampliar as margens de lucro. Uma nO\â frota de jatos regionais com cem poltronas. a ser adquirida em 2005, atenderá a mercados relati- \'amente li\Tes de disputas e, conse- qüentemente. mais rentáveis. Sob diversos aspectos. depois de se a\oaliar a capacidade da.JetBlue em fazer rodo isso -<:rescer, padronizar t" se a\ltomatizar- sem perder o toque pessoal. chega-se a uma pergunta: será que Neeleman também pode se multiplicar? F.ss.'1 noi\e ele certamente es\.í te!ltando fazer isso, Enquanto o a\ião mma para Salt Lake Cit\" ele u"êlnsi ta pelo con-edor e conversa com os passageiros. Durante uma hora e meia. bate papo e recolhe cartões de \isita. Ele tem facilidade de se relacionar com pessoas de todos os tip<>s. e é 3.'iSim desde qlle atllOll como mis...ionário mórmon no Brasil. Em ceno sentido, o a\ião n!nciona como sel! "gnlpo de a\"aliaç.to". Neelemall pelwmta aos passageiros sobre o qllt" lhes agrada 0\1 n.to. o qlle poderia ser mlldado. e anota ao; sllgestôes, .\ verdadei!"êl platéia de Nt"elt"- m.\\1. no entanto. é a tripulação, Ele tran.'1lha ao lado da equipe, criando -a experiéncia ,JetBllle": serviços excelentes. capazes de estimular a fidelizac;ão dos pa...sageiros. ~Quero qlle saibam qlle \~dlorizo o qlle fa- zem'.. as...egt!ra o empreendedor. :\:eeleman gosta de dizer que as televisões nas aeronaves são milito apreciadas. mas a verdadei!"êl "arm.\ secreta" s.to os tripulantes I -{<>dos chamados de "membros d.I tripulação". paré\ enfatizar o senso Eficiência velSus custos l:ma das ferramentas mais re- centes desenvul,idas para a.itldar a jetBlue em seu crescimento é um ~sistema de recuperação ope- racional". Em qualquer incidente -por exemplo, quando as condi- ções meteorológicas impedem um võo-, o sistema pennite que os planejadores escolham diversos destinos antes de redirecionar os a\iõe!i. O soJhvnrt' calcula a.'\ nece~ sidades de manutenção e de comhu!i- tível de cad.'\ aeronave. a experiêl1ci.1 da tripulacão e a adeq\1acã() à'i reglds da F.-\.-\ (Fedel-al .-\viatiol1 .-\dmini~ trdtiul1. órg-ão I\Orle-amel;c.u1() q\ll' regula a a\íação). <:Om a aL\"" frOtLi de 57 aeronaves, o programa é um.\ --mão n.i rodclM, ma.'i. 110 1\lturo. com cem ou mais aviões adici(mais. ser.' indi!ipensável. Esses esforços tamhém melhOl-am a eficiência, ingrediente e!i.'\t'ncial nos próximos anos palã a jetBlue tentar comer os crt'sccntcs custo~ decorrentes do desKaste da~ aerl)- naves e do maior temp<) dl' ca~.! dos funcionários. Por isso. mantel financeiro. trabalhou na Southwest. A área de recursos humanos ficou a cargo de ninguém menos do que Ann Rhoades. a mesma pessoa que ajudou a mostrar o caminho da rua para Neeleman em sua estada na SouthwesL Ele aprendeu muito depois disso. garante a executi\'a. incluindo uma lição que costuma ser difícil para os fundadores de empresa altamente determinados: "Ele percebeu que. se contrataSse profissionais de primeircllinha.não seria preciso monitorá-los e dizer o que devem fazer-. Neeleman e Barger formam uma dupla notável e um pouco curiosa: o primeiro. um empreendedor in- cansável; o outro. um organizado, detalhista e equilibrado filho de um piloto da United. ~Eles são como Ji" e yang". explica Dave B\L~hv. \ice-pre- sidente de operações de vôo. cargo que já ocupou na Delta. Neeleman não se atém a minú- cias nem disseca problemas. Barger dedica horas ao estudo atento de questões operacionais. Enquanto Neeleman é incapaz de sair do es- critório mais de meia hora antes do vôo, Barger deixa o local com uma horcl e meia de antecedência. No entanto, eles se as...emelhaIll no quc realmente importa: ambos partilhanl o estilo prático e uma inflexível ética de trabalho (leia-se: 12 horas de atividade por dia). A equipe da jetBlue sabe que, para crescer. às vezes é preci~o agir de modo grandioso. Barger, por exemplo. compreende os processos e as fen-amentas necessárias para dar consistência às operações -detalhes e números muitas \'ezes prosaicos. que parecem desconcertar tantos empreendedores. Bem cedo pela manhã. ele e os integrantes da equipe de operações avaliam o~ 1bsessão na JetB/uJmManter custo tJ( exemplo, trabalhanSeus operado cente~p~em casa e nc HSM Management 46 setembro-outubro 2004 wwwhsmmanagementcomb118 funcionários regionais a estabelecer laços com os executivos que atuam nos escritórios centrais. Todos esses esforços não se destinam apenas a fazer com que os colaboradores se sintam bem. Na verdade, pretendem construir um sistema que proporcione aos passageiros uma experiência melhor. Apesar das inúmeras comprova- ções de que o que importa para o passageiro é o preço da passagem, Neeleman acredita que aJetBlue é capaz de competir em mais aspectos do que só no valor das tarifas. No entanto, conforme aJetBlue cresce, depende cada vez mais de colaboradores que não trabalham nela desde o início. Eles não esta- vam no centro da crise no dia 11 de setembro, lutando para encontrar transporte e acomodações em hotéis para os passageiros presos em terra. Também não estavam no aeropor- to JFK durante o apagão de 2003, quando funcionários munidos de lanternas corriam contra o relógio para garantir a decolagem dos võos. Em suma, não participaram das expe- riências que serviram para solidificar os laços entre a... equipes. de equipe da empresa. Segundo a filosofia da jetBlue, se você trata bem os colaboradores, eles tratarão bem os clientes. U ma das razões pelas qlIais :IoIeele- man e Bargerforam tão eficientes na formação de uma equipe dedicada é que a '1sibilidade de ambos não se li- mita a um recurso de marketing. Eles não falam da boca para fora: David e Dave, como os dois são conhecidos entre os colaboradores, dedicam-se a cultivar e a defender a cultUra nas linha... de frente. Além de voar pela JetBlue quase semanalmente. eles ,-ãojuntos a qua...e todos os eventos de apresentação da empresa para os novos funcionários. Também comandam reuniões mensais para esclarecimentos de dúvidas realiza- das com os funcionários. No entanto, quando as aeronaves e os destinos atendidos pelaJet:Blue se mulriplicarem, Neeleman e Barger certamente ficarão menos \isíveis. Para combater o anonimato geren- cial. foi designado um encarregado para cada um dos destinos da linha aérea, uma "Blue Cit)",. L:ma vez por trimestre, a pessoa encarregada \1sita o local para se reunir com flmcionários de lá e realizar um trabalho c°n.jumo. A \;sita ajuda os Moral em alta Um desafio para uma empresa em rápido crescimento é manter a moti"ação tanto dos colaboradores mais anúgos como dos recém-che- gados. Segundo Barger. é possível conser\'ar os dois grupos animados, fazendo-os perceber quanto a con- tribuição deles é importante. Vejamos o caso dos pilotos. Na maioria das empresas aéreas eles são considerados técnicos unidimensio- nais, explica Bushy, o vice-presidente de operações de vôo. :\"a jetBlue, esses profissionais são esúmulados a participar do negócio: um piloto cria elaborados diagramas de aeroporto para ajudar a orientar os demais, outro faz análises financeiras pari! a empresa e um terceiro elabora o inventário das habilidades dos co- legas com o objetivo de idenúficar qualidades que possam ser úteis para a companhia. Treinamento sólido É por isso que preservar a cl\ltura exige cada vez mais um esforço consciente, a começar pela orientação. No primeiro dia de um funcionário novo, Barger explica a marcajetBlue e Neeleman ensina como a empresa ganha dinheiro e como cada colaborador contribui pala o lucro final. "Nossa equipe tem compreensão do negócio", conta Bushy. E eles se dedicam de fato, em grande medida porque os números afetam a participação nos lucros de cada um, que no ano passado foi de 17%. No primeiro dia do programa "Princípios de Liderança" (em inglês PrinciPies ofLeadershiP, ou POL), Neeleman comanda uma ati,idade chamada "Por que você estáaqui?"-e também explica as razões de sua pró- HSM Management 46 setembro-outubro 2004 119wwwhsmmanagementcom.br '~~'_~JI "11 o novo plano de vôo de Neeleman " -.J Este é o plano de vôo da JetBlue para o crescimento: . Reunir uma equipe que pensa grande. Como nunca administrou uma empresa grande, o fundador e presidente David Neeleman cercou-se de exe- cutivos graduados que têm essa experiência. . Não crescer à custa das pessoas. Uma das primeiras perguntas que os gerentes seniores fazem na hora de promover mudanças é: "Como isso afetará a vida da tripulação?". Se a modificação prejudicar o moral, não vale a pena, . Permanecer pequena ao crescer. AJetBlue tenta manter o ambiente de uma rtart-upestlmulando os encarregados mais graduados a praticar uma "liderança visível", Durante o ano, cada executivo funciona como "representante" da cidade que lhe foi designada, garantindo uma conexão direta com a alta gerência, . Disseminar a cultura da empresa. Talvez o maior medo entre os executivos seniores da JetBlue seja a perda da cultura da empresa em função do crescimen- to. Por meio de treinamentos, Neeleman e outros executivos transmitem aos supervisores os princípios nos quais confiam na hora de administrar pessoas e tomar decisões. rém: o POL destina-se a ~judar a .JetBlue a crescer, Quem passa pelo programa se toma .'ungido proprie- tário da cultura~. esclarece \ 'inn,' Stabile. vice-presidente de recursos humanos. --Em vez de 25 encarrega- dos, temos 800 pessoas em postos de liderança em toda a empresa acreditando nessa cultura." de agregar outras pessoas para esse compromisso pria presença. O POI. é uma espécie de correção de rota -uma resposta a sinais incômodos de que a cultur.t da jetBlue começa\~ a sair do curso. Em pesquisa realizada com a equipe em 2002. um terço dos entre\istados se revelou descontente com seus supe- riores. Para seu espanto. Neeleman e Barger descobriram que estavam promovendo pessoas sem ensiná-Ia... a gerenciar. Os funcionários chama- ram a atenção para algtms chefes que prejudica\~m o o ambiente cultivado por David e Dave. Em resposta. foi criado o POL. um progt"ama com cinco dias de du- ração. comandado pelos executivos seniores e destinado a Kerentes dt' todos os ní\'eis, de \ice-presidentes a alendentcs. O objeú\'o é retorça! t' transmitir os principais elementos da cultura dajetBlue e esúmtuar a ado- ção de cinco princípios básicos: .Trate bem seu pessoal. .Comunique-se com Slla equipe. . Inspire grandeza nos demais, .Estimule a iniciati\"a e a ino\~ção. .Faça as coisa.. de modo correto. Não podemos nos enganar. p()- Estilo Neeleman À meia-noite e meia em Salt Lake Ci~'. Neeleman parece cansado. C;om a camisa desalinhada e olho~ vennelhos. ele percorre o corredor do Airbus .\320 carregando cobertas e trd\'esseiros. Todos os funcionári()!; ~iudam a limpar a aerona\'c depoi!' dopouso. Mais um custo eliminado: não há equipe de lin1peza. Mas. como outrdS práticas comuns na empresa. a iniciau\-a também tem um \'alor simbólico. O trdbalho ultrapassa os úrnlos dos cargos. Os pilotos \'estem lu\"a." de borracha e ajudam a limpar os ~nto~ ~m como o presidente da empresa, presente no vôo. A seu modo, ~eeleman §e mul- uplica -e. como aJetBlue. pre~er\'a @ Fast Company HSM Management 46 setembro-outubro 2004 wwwhsmmanagement.com.br120 r algumas qllalidades enquanto cresce. E.le não é mais aquele empreendedor de 30 e poucos anos. impaciente e impetuoso. que achava que tinha toda.'I as respostas quando trabalha\'a na SouthwesL Ele, com 44 anos de idade, é um executivo de uma gran- de empresa ainda em formação. Neeleman é um homem com uma missão (melhorar constante- mente seu produto: a experiência jetBlue) e tem uma habilidade natural de agregar ouu-as pessoa.'I para esse compromisso. Mas também lembra que não coloca tanto a mão na massa como costumava fazer. Ele compreende seu papel. "Não sou o cara certo para supervisionar o cotidiano", conta. "Dave Barger é esse cara. ele adora isso. Minha paixão está em garantir a atrati\idade e ino\'ação de nosso produto e em manter os custos baixos." Talvez não no cotidiano. mas Neeleman é incapaz de deixar de verificar e de se certificar. A liderança "homem a homem" de Neeleman pode parecer exótica e exagerada em lima empresa grande. mas ele tem ~ltS meios de transmitir às pe.'lSOa5 a paixão por sua \;são e pelo trabalho najetBlue. "Por ele eu entraria em um prédio em chamas". declara Tom Krizek. piloto do vôo para Salt Lake (:i~'. Ele é o mesmo piloto que co- nheceu Nt'eleman cinco horas antes t' com qltem o executÍ\'o pa.'ISOU a ltltima hora do vôo conversando. O mesmo piloto qlle du\idara de sua existência. Depois da uma da manhã. Neeleman enfrenta uma fila no balcão da Hertz. Enquanto espera. conversa com alguns passageiros que acabaram de sair do mesmo vôo. Depois que eles são atendidos. Neeleman dá um passo à frente e estende seu ,,",nium club card, que lhe dá direito a um atendimento sem fila. Ele poderia ter-se \-alido do privilégio e ser atendido antes. mas , . - isso significaria passar na frente dos Nee/eman e um homem com a mlssao de melhorar clientes dajetBlue -o que não é o a "experiência Jet BJue'J e tem uma habilidade natural modo de ser de Neeleman..
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