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Figueiredo politica externa

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Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH 
BRUNO MORAES ANTUNES 
 
 
 
 
 
 
 
GOVERNO FIGUEIREDO (1979 – 1985): 
FMI e Política Externa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Belo Horizonte 
2014 
 
 
BRUNO MORAES ANTUNES 
 
 
 
 
 
GOVERNO FIGUEIREDO (1979 – 1985): 
FMI e Política Externa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2014 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso 
de Relações Internacionais do Centro Universitário de 
Belo Horizonte, como requisito parcial à obtenção do 
título de graduado em Relações Internacionais. 
 
Área de concentração: Política Externa Brasileira 
 
Orientador: Prof. Péricles Lima 
Resumo 
Este trabalho tem como objetivo analisar o cenário político internacional e 
econômico do Brasil na década de 1980, bem como a política externa adotada pelo 
governo Figueiredo, investigando suas evoluções e relações com o cenário 
internacional. A crescente tomada de empréstimos junto às instituições financeiras, a 
intervenção do FMI, Banco Mundial, elevação da inflação internamente, o 
crescimento da dívida externa, estrutura política do regime que propunha uma 
abertura, eram fundamentais para um novo rumo da Política Externa Brasileira. Esse 
período foi de grande perda em todos os aspectos não só para o Brasil, mas 
principalmente para a América Latina. Os países que passaram por crises 
econômicas, associado a uma crise de petróleo internacional e instabilidade política, 
buscaram apoio em instituições financeiras internacionais na tentativa de 
estabilização econômica. Nos anos 80, com a ditadura um pouco “enfraquecida” e 
com uma possível abertura política em vista, cede-se lugar a novos problemas que 
agravavam e retardavam cada vez mais um possível progresso. A crise inflacionária 
que assolava o país, altas taxas de juros, desemprego, falta de crédito e a dívida 
perante o FMI mostravam que o país passava por uma instabilidade que parecia não 
ter fim. É importante analisar dois fatores nesse período: o cenário doméstico frente 
a uma crise política e econômica dentro um regime que tinha uma auto-percepção 
positiva, onde o Brasil “potencia”, a oitava economia do mundo, na visão de seus 
governantes passavam a ter uma auto-percepção negativa, tornando-se um país 
endividado e vulnerável às pressões externas. O Itamaraty teve participação ativa 
nesse período, porém, em paralelo às diretrizes do Governo na condução da política 
externa. Os interesses do Itamaraty estavam em dissenso com o executivo, onde a 
participação do Brasil era modesta, tendo em vista as crescentes pressões quanto 
ao pagamento da dívida externa. Esse trabalho se insere num conjunto de 
pesquisas que visam analisar a reflexão sobre as conexões entre regime político 
interno, economia, Política Externa e o Itamaraty. Num contexto geral, pretende-se 
abordar as características do período baseado na intervenção do FMI, múltiplos 
atores e medidas quanto à condução da política exterior do Brasil. 
Palavras chaves: Governo Figueiredo, Política Externa, Estados Unidos, FMI, 
Endividamento, Crise do Petróleo, Itamaraty. 
Abstract 
This paper aims to analyze the international political and economic scenario in Brazil 
in the 1980s, as well as foreign policy adopted by the government Figueiredo, 
investigating its evolutions and relations with international scenario. The increased 
borrowing from financial institutions, the IMF intervention, the World Bank, high 
inflation domestically, the growth of external debt, the political structure of the regime 
proposed an opening, were essential to a new direction of Brazilian Foreign Policy. 
This period was one of great loss in every aspect not only for Brazil, but especially in 
Latin America. The countries that have experienced economic crises, associated with 
an international oil crisis and political instability, sought support in international 
financial institutions in an attempt to stabilize the economy. In the '80s, with the 
dictatorship a little "weak" and a possible political opening in sight, gives place to the 
new problems that slowed aggravated and increasingly possible progress. The 
inflationary crisis plaguing the country, high interest rates, unemployment, lack of 
credit and debt to the IMF showed that the country was experiencing an instability 
that seemed endless. It is important to consider two factors in this period: the 
domestic front of a political and economic crisis within a regime that had a positive 
self-perception, where Brazil "power", the eighth largest economy in the world, the 
vision of its rulers have passed negative self-perception, becoming an indebted 
country and vulnerable to external pressures.	
  The Itamaraty was active during this 
period, however, in parallel with the directives of the Government in the conduct of 
foreign policy. The interests of the Foreign Ministry were in disagreement with the 
executive, where the participation of Brazil was modest in view of the increasing 
pressures on the foreign debt payments. This work is part of a series of studies 
aimed at analyzing the reflection on the connections between the political system, 
economy, foreign policy and the Foreign Ministry. In a general context, we intend to 
address the characteristics of the period based on IMF intervention, multiple actors 
and measures regarding the conduct of foreign policy of Brazil. 
Keywords: Government Figueiredo, Foreign Policy, United States, IMF, Debt, Oil 
Crisis, Itamaraty. 
 
 
Lista de Siglas 
 
 
BIRD – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento 
BNH – Banco Nacional de Habitação 
EUA – Estados Unidos da América 
FED – Federal Reserve 
FMI – Fundo Monetário Internacional 
GATT – General Agreement on Tariffs and Trade (Acordo Geral sobre Tarifas e 
Comercio) 
MRE – Ministério das Relações Exteriores 
ONU – Organização das Nações Unidas 
OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico 
PEB – Política Externa Brasileira 
PND – Plano Nacional de Desenvolvimento 
UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development (Conferencia das 
Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) 
URSS – União das Republicas Socialistas Soviéticas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................7 
	
  
1 – O PATERNALISMO BRASILEIRO E A ATUAÇÃO DO FMI 
1.1: DO DISCURSO ÀS PROPOSTAS ...................................................................... 10 
1.2: CRISE INTERNACIONAL, PROBLEMAS INTERNOS ...................................... 11 
1.3: FMI, CONTROLE DA ECONOMIA, INTERVENÇÃO IMPOSITIVA .................... 15 
1.4: DÉCADA DE 80, O PAPEL DO FMI ................................................................... 18 
	
  
2 – A REAÇÃO DO BRASIL EM MEIO A CRISE – INDÍCIOS DE AUTONOMIA 
ECONÔMICA E PRINCÍPIO DE DEMOCRACIA 
2.1: RECUPERÇÃO, SINAL DE ESTABILIZAÇÃO ................................................... 22 
2.2: SINAIS DE DEMOCRACIA, GRADUAL LENTA E PROGRESSIVA ................... 23 
 
3 – O EXECUTIVO E O ITAMARATY – A AGENDA INTERNACIONAL E A 
INVERSÃO DE PAPÉIS 
3.1: O UNIVERSALISMO DE FIGUEIREDO E A POSIÇÃO DO ITAMARATY ......... 25 
3.2: O INSULAMENTO BUROCRÁTICO E O UNIVERSALISMO DE 
PROCEDIMENTOS .................................................................................................... 30 
3.3: A VULNERABILIDADE BRASILEIRA, APELO INTERNACIONAL ..................... 33 
	
  
CONCLUSÃO ............................................................................................................38 
	
  
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 42 
	
  
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 O Presidente João Baptista Figueiredo, assumiu o poder em Março de 1979, 
em um clima de extrema desconfiança em relação à situação econômica do país. 
Mesmo com um crescimento modesto dos últimos anos, o cenário que estava por vir 
era completamente sombrio e preocupante, diante de diversos fatos ocorridos no 
mundo, principalmente uma nova ordem mundial encabeçada pela segunda crise do 
petróleo e a bipolaridade mundial, após o fim da URSS e a ascensão do liberalismo 
norte americano. 
O objetivo desse trabalho consiste em analisar o governo do último presidente 
militar, onde seu governo foi marcado pela abertura política, graves crises 
econômicas, problemas no cenário doméstico e internacional, intervenções do FMI e 
a dualidade das atuações na agenda internacional entre o poder Executivo e o 
Itamaraty. 
A justificativa para elaboração deste trabalho e escolha do tema se insere 
num contexto de estudo da década de 80, onde o governo Figueiredo em meio à 
graves crises econômicas recorrentes, desequilíbrios regionais e surgimento de 
novos atores internacionais, principalmente o FMI, foram fundamentais na condução 
da política externa e atuação do Brasil no cenário internacional e doméstico. Nesse 
período, o FMI ganhou grande destaque e teve atuação decisiva nos assuntos de 
política externa de diversos países endividados e que recorreram aos credores 
internacionais. No início da metade da década de 1980, o FMI sai de uma posição 
meramente de especulador para um papel de negociador e controlador, aliado às 
novas práticas norte americanas de supervalorização do dólar e parcelamento de 
dívidas à altas taxas de juros. 
A hipótese pela escolha do tema se dá através do declínio do regime militar e 
atuação de atores internacionais, principalmente o FMI, onde se estabelece um novo 
cenário doméstico e externo, onde este trabalho procurará fazer uma análise e 
buscar-se-á compreender ou evidenciar se a intervenção do órgão foi fundamental 
na condução na tomada de decisões da agenda internacional do Brasil, atuação nas 
medidas econômicas, abertura política e fim do regime militar. 
 Este trabalho, está dividido em três tópicos e sub tópicos, onde o primeiro 
consiste em uma análise do início da década de 80, que ficou marcada pelas 
grandes crises econômicas, especificamente após o segundo choque do petróleo 
em 1979, principalmente nos países latino americanos e as crescentes dívidas por 
conta de empréstimos, gastos exagerados, moratórias por parte de alguns países e 
calote aos credores internacionais. 
 Nessa época, o Presidente Figueiredo com sua política protecionista e 
buscando dar continuidade ao projeto “Brasil Grande Potencia”, se viu mergulhado 
em problemas internos que agravaram a situação financeira e imagem do país no 
cenário doméstico e internacional. 
 No segundo tópico, trataremos os anos de 1980 e 1981, onde após mudanças 
no cenário doméstico, especificamente no mistério da Fazenda, com a saída do 
ministro, Mario Henrique Simonsen e retorno do ex-ministro Delfim Netto à pasta da 
agricultura, houve uma sensível melhora na economia. Porém, tal fato nada mais foi 
do que uma medida emergencial na tentativa de dar um fôlego na condução e 
situação da economia do país, sendo que no ano seguinte e nos próximos, os 
problemas se agravaram, onde o Brasil se viu obrigado a recorrer ao FMI. 
 Além da crise do petróleo, a política dos Estados Unidos, voltada para 
valorização de sua moeda, o chamado “Dólar Forte”, agravou consideravelmente a 
crise do Brasil e dos países do cone sul. Os credores, já não mais acreditavam 
numa recuperação dos endividados e temendo um calote, o FMI assume o controle 
onde elabora diretrizes e repasse de responsabilidades ao Brasil para pagamento e 
comprimento das obrigações. 
Por último, no terceiro tópico além das crises econômicas, a pressão da mídia 
e submissão ao FMI, pressões da população para o fim da ditadura e abertura 
política, o Itamaraty se viu completamente sem autonomia para atuar no cenário 
internacional. Por vezes, é citada a inversão de papéis entre o executivo e 
diplomacia, na participação e tentativa na condução de acordos e fóruns 
internacionais. A percepção do Itamaraty em relação ao Brasil era de afirmação e 
reconhecimento de que éramos sim um país de terceiro mundo e não alinhado. Ou 
seja, mesmo com a prática do Universalismo do presidente Figueiredo, o Itamaraty 
participava dos fóruns internacionais no intuito de denunciar os abusos e práticas 
que os países envidados e dependentes de capital estrangeiro se sujeitaram. 
 O Itamaraty, ao avesso do executivo, passou a desempenhar um papel 
de liderança entre os demais países de terceiro mundo e que não possuíam 
tecnologias suficientes ou rumos econômicos e políticos. Essa atuação garantiu não 
só ao Brasil, mas também à América do Sul, papel importante e reconhecimento no 
cenário internacional. A essa altura, era preciso que o Brasil fosse cauteloso e 
conciliasse sua atuação de parceria e liderança junto aos demais países, 
evidenciando seu interesse em políticas econômicas x as pressões quanto ao 
pagamento da dívida junto ao FMI. 
Mesmo com as interferências e dualidade de papeis, houve o consenso e 
atuação conjunta tanto por parte do Itamaraty quanto do executivo na condução da 
agenda internacional e participações em fóruns internacionais, mesmo o Itamaraty 
reconhecendo que os resultados diplomáticos seriam bem melhor sem a atuação do 
executivo. 
O Brasil dependente do capital estrangeiro, atuando em alternância entre o 
poder executivo e o Itamaraty, além de assistir a atuação do FMI, teve que lidar 
também com um novo organismo internacional, o GATT e outros atores 
internacionais. 
Esses assuntos, bem como os demais citados até aqui, serão tratados em 
três tópicos, subdivididos, na tentativa de narrar os fatos históricos e acontecimentos 
sobre a condução da política econômica e externa do Brasil e a atuação do FMI no 
Governo Figueiredo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10	
  
	
  
1: O PATERNALISMO BRASILIERO E A ATUAÇÃO DO FMI 
 
1.1 – DO DISCURSO ÀS PROPOSTAS 
 
O presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo tomou posse em 15 de 
março de 1979. A proposta do então Presidente General, além de dar continuidade 
ao processo de democratização iniciado com o General Geisel, seu antecessor, 
visava também o crescimento econômico do país, modernizar a agricultura, 
aumentar o poder de compra do salário mínimo, planejar um grande programa de 
habitação, denominado como Banco Nacional de Habitação (BNH), diminuir a 
dependência monetária de países estrangeiros e controlar a inflação que 
assombrava a economia desde 1975. Em seu discurso de posse: 
Reafirmo – é meu propósito inabalável – dentro daqueles princípios – fazer 
deste País uma democracia [...] 
Reafirmo a prioridade ao desenvolvimento agropecuário. Como meio de 
melhorar a alimentação do povo [...] 
Reafirmo – o combate à inflação é condição preliminar ao desenvolvimento 
[...] 
Reafirmo a decisão de promover o equilíbrio de nossas contas 
internacionais. 
Reafirmo o propósito de fazer da cidade um chão e teto habitáveis. 
Reafirmo a minha determinação de garantir a cada trabalhador a 
remuneração justa em relação ao trabalho produzido às suas necessidades 
[...] (FIGUEIREDO apud PIRES, 2010, pp. 219 – 220). 
 
 
O propósito do presidente foi interrompido ou, o que podemos dizer, nem 
mesmo foi iniciado. O mundo atravessava por uma grave crise econômica, por conta 
“dos impactosdo segundo choque do petróleo1 e do choque de juros2 profundos, 
particularmente no que tange às contas externas do Brasil” (PIRES, 2010, p. 220), 
provocada pela mudança no regime político Neoliberalismo, principalmente na 
Inglaterra e EUA3. 
A intenção de manter o modelo de desenvolvimento foi comprometido pelas 
políticas de intenção do “crescimento com endividamento”. Essa prática é 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
1 Em Janeiro de 1979, o então Xá do Irã Reza Pahlevi, foi deposto gerando grave instabilidade no 
Oriente Médio, o que podemos identificar como a “Segunda Crise do Petróleo”. (PIRES, 2010, p. 
219). 
2 Por conta da crescente elevação nos preços do petróleo, o banco central americano elevou as 
taxas de juros, na tentativa para controlar a inflação. (PIRES, 2010, p. 219). 
3 O Neoliberalismo ganhou grande destaque em 1979 com a vitória de Margaret Thatcher e 1980 
com a eleição do presidente norte americano Ronald Reagan. 
	
  
11	
  
	
  
denominada de “paternalista”, onde as empresas nacionais competem com a 
concorrência internacional e os juros provocados pelos serviços da dívida externa 
são determinantes para o fracasso e comprometimento da desvalorização da 
moeda. Essa prática impactou diretamente no poder de compra e amortização de 
juros absurdamente acima do PIB nacional. 
Esse período foi marcado pela grande influência do setor financeiro, que se 
instaurava e se reproduzia rapidamente ligado diretamente à nova conjuntura 
econômica do cenário econômico e político internacional. Como consequência, 
houve grande variação para baixo nos produtos produzidos no Brasil e alta dos 
importados por necessidade como, petróleo, grãos, etc., queda da renda per capta, 
estagnação na produção das indústrias brasileiras, que não conseguiam competir 
com as multinacionais, aliado à frustrada tentativa de manter os grandes 
empreendimentos nacionais como ITAIPU e exploração marítima do petróleo. 
O efeito da crise na qual o Brasil estava prestes a mergulhar profundamente 
estava ligado à prática de manter o crescimento a partir da degeneração das contas 
externas do país. Essa política de endividamento foi adotada para obter equilíbrio da 
balança de pagamentos em curto prazo e figurar um papel importante no cenário 
internacional de poder de compra complemente fictício. 
A tomada de empréstimos a condições de juros flutuantes foi fator 
fundamental a partir da ascensão dos governos militares que não deram tamanha 
importância para o endividamento crescente. A consequência desta negligência 
chegou ao fundo do poço quando em 1979 o Brasil estava impossibilitado e sem 
credibilidade para tomar novos empréstimos. Seu crédito junto ao mercado 
financeiro foi negado e interrompido, levando o controle econômico do país às mãos 
do FMI. 
 
1.2 – CRISE INTERNACIONAL, PROBLEMAS INTERNOS 
 
O governo Figueiredo enfrentou graves crises econômicas, mudanças 
políticas em meio a tantas propostas, na tentativa da manutenção dos 
compromissos e crescimento do país. Porém, o problema econômico que o mundo 
passava teve um acontecimento principal, que mudou os rumos nas esferas 
econômicas e políticas internacionais. 
12	
  
	
  
Em Janeiro de 1979, ocorreu a segunda crise do petróleo, gerando 
instabilidade na economia levando a intervenção do (Federal Reserve Board) FED4 
na economia. Nessa época os recursos econômicos eram regrados pelos EUA, onde 
a prática aplicada foi a elevação das taxas de juros astronômicos. É fato de que os 
países subdesenvolvidos, como o Brasil em meados da década de 70 se 
mantiveram através do financiamento dos petrodólares5, o problema é que essa 
nova tomada de empréstimos era diferente das taxas praticadas entre 1974 – 1978. 
O modelo econômico adotado pelos países desde o fim da segunda guerra foi 
baseado na teoria Keynesiana6, esse modelo já não tinha mais espaço no contexto 
atual da economia e o papel dos Estados era cada vez menor em meio às novas 
instituições, pois o mundo passava por uma transformação, a dependência 
Neoliberal. Essa corrente defendia cada vez menos a atuação dos Estados, já que 
esses aplicavam políticas do assistencialismo e não influenciavam positivamente em 
lucros estatais privados e níveis de empregos, gerando déficits e inflação. 
Segundo os Neoliberais para o novo contexto, os Estados deveriam garantir 
apenas a segurança nacional, direito de propriedade, cumprimentos dos contratos e 
se afastar por completo da economia; “a prática era a implementação baseada nas 
ideias de Friedman (1985), em seu Capitalismo e Liberdade ou laissez-faire7”. 
(PIRES, 2010, p. 223). Exatamente o contrário da política do General Figueiredo, 
contextualizando ao seu discurso de posse. 
Os EUA tentavam controlar a inflação elevando as taxas de juros, controlando 
a demanda do país internamente. Em consequência, houve o investimento de capital 
estrangeiro, o que levou a estabilização da dívida e valorização do dólar. ”[...] 
Capitais externos, foram utilizados para rolagem da dívida interna, para cobrir os 
déficits na conta de transações correntes [...]” (PIRES, 2010, p. 223). 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
4	
  FED é o banco central dos Estados Unidos. Criado pelo congresso norte-americano em 1913. Ele 
opera o sistema nacional de pagamentos, distribui a moeda nacional, supervisiona e regulamenta o 
sistema bancário e serve como banco para o tesouro dos Estados Unidos. (G1,	
  2013)	
  
5 Os petrodólares eram oriundos das exportações de petróleo. Em 1973, com a crise e a elevação do 
valor, os exportadores receberam grandes demandas. Porém devido às limitações econômicas 
internas, a matéria prima foi utilizada no mercado financeiro, gerando liquidez financeira. Em 1979, os 
EUA tiveram grande participação nessa mudança. (PIRES, 2010, p. 233). 
6 Segundo Keynes (1926), o crescimento da demanda deveria ser igualado ao aumento da 
capacidade produtiva da economia, garantindo o pleno emprego, sem provocar o aumento da 
inflação. (GORDON, 2000) 
7 Política que defende o livre comércio, sem interferência do governo. 
	
   	
  
13	
  
	
  
A política norte americana influenciou negativamente nas contas externas do 
Brasil. A recessão baixou consideravelmente as exportações de produtos como 
matéria prima e alimentos, commodities e insumos dos países exportadores e o 
Brasil era um deles. Somente em 1982, registrou-se 13,4% na queda das 
exportações no Brasil, contra 8,2% nos demais países (PIRES, 2010, p. 224). 
Os sinais de crise e recessão vieram à partir do primeiro choque do petróleo 
em 1973, onde os países industrializados adiaram o resgate da lucratividade gerada 
pelos ativos da matéria prima produzida. Como medida de injetar dinheiro na 
economia com retorno garantido, esses países começaram a emprestar dinheiro 
para os países que estavam em processo de desenvolvimento, sendo estes 
exportadores e importadores. O Brasil se enquadrava nos importadores, 
considerando a política do “Pragmatismo Responsável”8, pois utilizava os 
empréstimos para acelerar seu parque industrial e aquecimento econômico interno. 
Essa ação ajudou a minimizar os efeitos da recessão e os grandes financiadores da 
época, os Bancos, liberavamcada vez mais empréstimos devido à alta lucratividade 
quem nem mesmo o mais otimista dos economistas poderia prever e, aliado ao 
pagamento em dia dos países solicitantes, com seus PIB’s em ascensão constante, 
dava indícios de que tudo corria muito bem. 
Em 1979, a segunda crise do petróleo mostrou o que realmente deu errado 
gerando a grande crise. A mudança da economia mundial, partindo pela cobrança 
das altas taxas de juros, quebrou a liquidez e sufocaram de vez os países então 
tomadores de empréstimos. Esses, sem recursos para arcar com a crescente dívida 
externa, acumularam altos déficits acarretando na drástica queda em conseguir mais 
dinheiro e acesso ao capital internacional9. 
A crise tomou grandes proporções em 1982, devido ao descumprimento em 
pagar as taxas de juros de alguns países devedores, onde estes não possuíam mais 
condições de pagar suas dívidas e nem mesmo o acumulo de juros. O maior credor, 
os EUA e os grandes bancos, estavam desconfortáveis e sem saída, caso não 
procurassem agir rapidamente. Como ação imediata, quem assumiu o controle foi o 
Federal Reserve, que teve o papel fundamental em organizar uma espécie de liga 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
8 A reação econômica do governo Geisel (1974 – 1979), implicava proceder a uma alteração 
significativa das relações exteriores, pois o capitalismo brasileiro atingira um nível de 
desenvolvimento que implicava num alto grau de inserção mundial. (PIRES, 2010, pp. 208 – 209) 
9 Mesmo após o segundo choque do petróleo em 1979, o erro de percepção acerca da real extensão 
da crise ainda existia. (PIRES, 2010, p. 229). 
14	
  
	
  
ou comitê para controlar e ser o mediador de acordos para pagamento das dívidas 
dos países devedores. Esse comitê contou também com o FMI e o Banco Mundial. 
(PIRES, 2010, p. 225). 
Com o Fundo Monetário Internacional (FMI) no controle, os países devedores 
tiveram que seguir as exigências e regras do órgão. Para muitos, a “solução” se 
transformou no estrangulamento total e endividamento contínuo. A desvalorização 
cambial afetou muito as economias internas, pois a queda das taxas de câmbio 
enfraquece a moeda nacional perante as demais. A desvalorização tem um efeito 
“positivo” sobre as exportações, que se tornam mais competitivas. 
Consequentemente, porém é negativa sobre as importações, funcionando como 
instrumento corretor de desequilíbrios da balança de pagamentos. Segundo Bacha: 
 
Era preciso antes mesmo da intervenção pesada do FMI, que a instituição 
analise a condição imposta. [...], deve-se verificar se a capacidade ociosa 
nas indústrias potencialmente exportadoras e substituidoras de importação. 
[...], procurar determinar se essa ociosidade se deve a falta de demanda 
externa ou à falta de competitividade. (BACHA, 1983, p. 10). 
 
 
Ou seja, se um Estado não produz as matérias primas necessárias, sua 
importação elevará frente à necessidade do consumo interno e direto. Isso eleva as 
taxas de cambio10. (PASTORE, 2013). 
Outra condição negativa imposta pelo FMI foram os controles de oferta 
monetária, garantindo o controle da inflação e corte de orçamentos internos, 
proporcionando o estímulo do investimento internacional. Esse último, aliado à 
elevação de impostos internos para garantir a demanda de importações, equalizar 
os preços internos junto ao padrão internacional, no intuito de garantir a integração 
com a economia mundial. 
As medidas impostas pelo FMI para a renegociação das dívidas 
enfraqueceram totalmente as economias dos países devedores através dos juros 
elevados. Basicamente os países não tinham saída: O descontrole do orçamento 
interno impedia qualquer reação ou política de desenvolvimento a médio prazo. O 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
10 A depreciação toma as exportações mais competitivas, inibe as importações e eleva os lucros das 
empresas. Os lucros podem ser reinvestidos, aumentando os investimentos, fechando um círculo 
virtuoso”. (PASTORE, 2013). 
	
  
15	
  
	
  
descrédito e venda de títulos públicos eram para “garantir” a renegociação da dívida 
e para pagar os juros diários. 
 
1.3 – FMI, CONTROLE DA ECONOMIA, INTERVENÇÃO IMPOSITIVA 
 
 Antes da crise se instaurar nos países devedores, o FMI não se apresentava 
como um organismo multilateral. Seu papel era meramente de instrumento para 
pagamento de dividas de países considerados periféricos. “Os elementos restritivos 
ao crescimento impostos pelo FMI visavam, basicamente, resgatar a capacidade de 
pagamento do devedor”. (PIRES, 2010, p 237). Conforme citado anteriormente, o 
FMI interviu fortemente na política nacional, porém, vale destacar os elementos e 
acontecimentos fundamentais para identificar o “pedido” de ajuda ao FMI. 
 Em meio à crise (1978 – 1979), o descontentamento do presidente pelas 
políticas contrárias ao seu propósito e a popularidade cada vez mais em baixa de 
Figueiredo, em Agosto de 1979, nomeou Antônio Delfim Netto, a Ministro da 
Fazenda11. Delfim retornou ao cargo de planejamento do país com bons olhos 
perante a população de empresários e indústrias. A expectativa era a retomada do 
milagre econômico12. De fato houve uma melhora significativa no crescimento do 
PIB, algo em torno de 2,5% entre 1979 e 1980. (PIRES, 2010, p. 235). 
 Talvez ainda fosse muito cedo para que se retomasse o crescimento do país 
através do financiamento estrangeiro. Mesmo com a sensível melhora na economia 
praticada pelas políticas de Delfim, o governo continuou acelerando o crescimento 
por conta das condições ruins do mundo naquele instante. Os EUA adotaram a 
política contracionista13, reduzindo a oferta da moeda, elevando a taxa de juros e 
reduzindo investimento no setor privado. 
 As políticas desenvolvimentistas adotadas por Delfim foram o estimulo às 
exportações, desvalorização do cambio buscando a ampliação da capacidade de 
exportação de produtos primários. O que podemos dizer da política expansionista é 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
11 Durante o regime militar, entre 1969 e 1974, foi Ministro da Fazenda e no governo Figueiredo, 
Ministro da Agricultura em 1979, Ministro do Planejamento entre 1979 a 1985. 
12 Entre 1969 a 1973 o Brasil foi marcado pelo forte crescimento da economia, onde o investimento 
estatal, siderurgia, petroquímica e energia cresciam em grandes proporções, gerando lucratividade e 
empregos. (MOTA, 2000, p. 84). 
13 Essa política monetária é aplicada quando a economia está inflacionada, visando reduzir demanda 
agregada aliado aos preços. 
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que ela comprometeu o crescimento da área de influência econômica brasileira, 
justamente pela falta de importância dada no início do “contracionismo” norte 
americano. A consequência foi a reversão onde os credores internacionais se 
recusaram a “rolar” a dívida internacional. Houve contração na oferta monetária e 
cortes nos investimentos para as empresas estatais e novamente o Brasil se viu 
mergulhando numaincontrolável crise. “O resultado dessas políticas foi uma 
impressionante queda de 4,3% do PIB em 1981 e 11% na produção industrial”. 
(PIRES, 2010, p 236). 
 A implementação da política contracionista norte americana fechou 
definitivamente as portas para os países do terceiro mundo – tomadores de 
empréstimos. Entre 1981 e 1982 os países não se adaptaram às novas condições 
internacionais. Em novembro de 1982 o governo se rendeu e pediu socorro ao FMI. 
Em meio ao cenário e acontecimentos da época, o povo não via com bons olhos a 
“ajuda” do FMI, temendo submissão e perda de autonomia doméstica. 
 A vulnerabilidade do Brasil em razão da crise da divida, que chegou a 
grandes valores, paralelamente, contribuiu para visibilidade para barganhar no 
aspecto econômico internacional. A condição de falência do México e Argentina fez 
com que as atenções dos países e bancos internacionais credores (EUA 
principalmente) voltassem para o Brasil temendo que sua iminente falência 
causasse um efeito dominó. 
 
Havia o discurso de que a situação do Brasil era ‘confortável’, perante o 
perfil da dívida, argumentando que o país possuía reservas consideráveis. 
O problema era que essas supostas reservas ao qual o Brasil contava, eram 
ativos de liquidez comprometedores. Ou seja, supostos créditos incobráveis 
junto à Polônia e obrigações de países latino-americanos e africanos. 
(BERTI, 1999, p. 27). 
 
 
Com a crise financeira que assolava todos esses países dificilmente os 
compromissos seriam cumpridos. Diante do risco, o presidente americano Ronald 
Reagan, concedeu uma espécie de empréstimo no valor de U$ 1,2 bilhão de dólares 
em respeito seriedade na condução da política econômica brasileira. 
 
17	
  
	
  
Após esse encontro, amadureceu-se a decisão de recorrer ao FMI14. “A 
Gazeta Mercantil em reportagem de 07/04/1982 registrava que o governo americano 
concluiu que ‘não poderia continuar mantendo uma atitude de indiferença (..)”: 
(FRANCO, 2008, p. 95). 
 
Washington percebe agora com clareza que a ampliação da crise 
internacional de pagamentos, multiplicando-se o número de países 
insolventes, minaria todo o sistema financeiro internacional, levando de 
roldão os bancos internacionais. Um Brasil insolvente, após ocorridos com 
México, Polônia e Argentina, poderia precipitar a catástrofe. (GAZETA 
MERCANTIL,1982 apud FRANCO, 2008, p. 95). 
 
O então ministro Delfim Netto conseguiu um valor de $ 4,4 bilhões de dólares, 
dividido em quatro parcelas. Porém, inicialmente apenas duas foram liberadas, 
sendo que o Brasil deveria assumir um compromisso quanto à assinatura das 
“cartas de intenções”. 
A assinatura dessa carta, primeira de sete em 1983, fez com que novamente 
o governo promovesse a maxidesvalorização do cruzeiro, assim como há quatro 
anos. A segunda assinatura enviada ao FMI, o governo se compromete com 
medidas para substituição das importações e estimulo aos setores exportadores. Em 
decorrência disso, o governo equipara a variação cambial do país com a taxa de 
inflação. 
Em principio, a política do FMI foi a de aceitar as “cartas de intenções”, onde 
Brasil se comprometia a ajustar a economia, através da diminuição das exportações, 
elevação das importações para garantir o capital e entrada do setor privado externo, 
redução no déficit público e desvalorizar os fatores cambiais, agravando a 
recessão15. O acordo foi suspenso por duas vezes. Isso, pelo descumprimento em 
não reduzir o déficit nominal do setor público e, em segundo também pelo 
descumprimento em observar o déficit operacional do setor público. Entretanto, os 
governantes brasileiros não deram muita importância aos compromissos repassados 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
14 O ano de 1982 foi bem mais agitado e auspicioso que os anteriores no sentido de melhorar as 
relações. Em primeiro lugar, o fato inusitado de ocorrem duas visitas presidenciais no mesmo ano – a 
de Figueiredo a Washington, em maio, e a de Reagan a Brasília, em fins de novembro e inicio de 
dezembro. (FRANCO, 2008, p. 38). 
15 Em 18/02/1983, foi decretada uma maxidesvalorização de 30% da moeda nacional em relação ao 
dólar, que tornou inteiramente sem eficácia os limites quantitativos estipulados na primeira versão do 
acordo. (NOGUEIRA, 1984, p. 7)	
  
18	
  
	
  
pelo FMI, acatando nem todas as diretrizes16. É fato que, essa postura levou a 
alguns ganhos para o país, tais como um leve suspiro quanto aos compromissos 
orçamentários e pagamentos dos juros. Porém, ainda assim a economia do país 
ficava cada vez mais estrangulada, devido à intervenção do FMI. Esse assunto será 
tratado no próximo tópico. 
 
1.4 - DÉCADA DE 80, O PAPEL DO FMI 
 
 Conforme dito anteriormente, o FMI, não era considerado um organismo 
multilateral. É importante ressaltar a forte participação e recorrência ao Fundo pelas 
economias na década de 80. Em 1979, onde Paul Volcker17 inicia sua política do 
Dólar Forte onde defendia a elevação da taxa de juros. De acordo com Santos: 
No final da década de 70, mais uma vez o rearranjo da política monetária e 
financeira dos EUA influenciou decisivamente a trajetória do endividamento, 
latino-americano. Porém, dessa vez, as políticas do governo norte-
americano inverteram a situação, ou seja, ao invés de uma nova liquidez no 
mercado financeiro internacional, o que se viu foi uma crise de liquidez 
decorrente do aumento significativo das taxas de juros dos EUA. (SANTOS, 
2007, p. 91). 
 
 
A consequência de crescentes endividamentos está ligada aos grandes 
empréstimos tomados pelos países em desenvolvimento a partir da década de 70, 
através da oferta dos petrodólares possibilitando o desenvolvimento continuo dessas 
economias. O problema era o fato de que a tomada desses empréstimos 
contratados, eram com prazos menores e com juros flutuantes, sendo esta uma 
imposição dos credores devido à nova política econômica adotada pelos EUA, 
alterando os valores a cada vez que a dívida era rolada. 
Outro ponto a ser considerado foi a queda nas exportações de commodities, 
onde o fator sobre o balanço de pagamentos é considerável, já que esses países 
principalmente Brasil, são extremamente dependentes dessa condição. Aliado a 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
16 “[...] nós procuramos testar o mercado com relação ao Brasil, mediante uma série de operações 
“club deals”, usando nossas principais empresas estatais”. (LANGONI, 1982, pp. 65 – 66). 
17 O então presidente do Federal Reserve (Banco Central dos EUA), Paul Volcker, deu inicio, em 
outubro de 1979, à Política do Dólar Forte, promovendo uma brutal majoração da sua taxa de juros, 
que possibilitou a canalização do capital circulante mundial para os EUA. (SANTOS, 2007, p. 91).	
  
19	
  
	
  
diminuição nas exportações, de acordo com Santos (2007), houve a elevação do 
preço do petróleo gerando um grande rombo na balança comercial dos países 
dependentes desse bem: 
Essa política que durou até 1985, além de permitir aos EUA atraírem 
excedentes financeiros da Europa e Japão, que passaram a financiar dos 
déficits norte-americanos, levou também a explosão das dividas dos países 
devedores latino-americanos, que, de receptores de recursos financeiros 
externos,se transformaram em remetentes de recursos para o exterior, 
particularmente para os EUA, a uma taxa de juros exorbitante. (SANTOS, 
2007, p. 91). 
 
 
A partir daí, os países do terceiro mundo mantiveram elevados déficits em 
conta, já que os empréstimos eram para manter suas contas “estabilizadas” e pagar 
suas dívidas cada vez crescentes18. 
Diante dos fatos, o que se pensava então era como o FMI retornaria como 
ator principal, atuando no cenário econômico mundial. Os bancos não possuíam 
capital suficiente para manter ou controlar a dívida e tentavam evitar um colapso 
total onde precisavam providenciar o capital para que os países devedores 
continuassem “reciclando” suas dívidas. Eis que a única saída era recorrer ao FMI. 
 
O temor de que a generalização de moratórias nos países endividados 
provocasse um colapso do sistema financeiro internacional levou os 
governos dos países credores a retomar o fluxo de capitais para os países 
devedores. Entre 1983 e 1985 os países devedores receberam 
empréstimos ponte de instituições financeiras como o FMI e Banco Mundial. 
(SANTOS, 2007, p. 92). 
 
 
O FMI, por ser agora tratado como um ator e instituição relevante no cenário 
internacional era a única saída, tendo em vista sua capacidade de controlar e 
fornecer informações mais detalhadas dos países endividados. Não apenas uma 
instituição controladora, mas também, “[...] o FMI exerceu o papel de “negociador” 
ao invés de credor, assim como os bancos” (PIRES, 2010, p. 237), ou seja, as 
informações organizadas e coletadas pelo fundo possibilitou a formação de um 
grupo de “devedores controlados e cadastrados”. Isso, como melhor alternativa para 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
18 A alta dos juros nos EUA também aumentou as dividas de empresas e bancos privados latino-
americanos que haviam tomado empréstimos no exterior. Entre 1978 e 1979, esses bancos e 
empresas pagaram essas dívidas em moeda nacional aos seus governos, que assumiam as dívidas 
em dólares. “[...] À partir da década de 80, as instituições financeiras internacionais passaram a exigir 
dos países devedores a estatização das dívidas privadas”. (SANTOS, 2007, p. 93). 
20	
  
	
  
os bancos era fundamental, temendo que a falta de controle gerasse a suspensão 
dos pagamentos das dívidas. 
Com a intervenção do FMI, a renegociação da dívida e a possibilidade da 
tomada de novos empréstimos era quase certa para os países mergulhados na 
recessão e na dívida contínua. Porém, esse não era o propósito da instituição. Por 
traz, haviam poderosos interesses políticos e financeiros, acompanhados por 
recessões, custos sociais, impossibilidade de exportação de matéria prima e alta 
inflação para privilegiar o mercado financeiro internacional. 
 
[...] os países devedores foram estimulados a adotar uma política 
econômica recessiva marcada por desvalorizações cambiais para gerar 
superávits comerciais [...]. (SANTOS, 2007, p. 92). 
 
 
Os programas do FMI eram arquitetados no intuito de ajustar o balanço da 
economia e não resolver os problemas econômicos dos países endividados. Os 
problemas que surgiram mediante as imposições orientadas pelo FMI, foram em 
decorrência das dívidas cumulativas do passado, oriunda da pobre estruturação do 
modelo de crescimento econômico adotado pelas autoridades brasileiras. É fato que 
pagou-se um preço muito alto em função da necessidade e pressão americana em 
tornar o dólar uma moeda forte, juntamente com a prospecção do cenário 
econômico americano naquele momento. 
A intervenção do FMI e outras instituições como o Banco Mundial foram 
medidas e ações provenientes dos bancos e órgãos reguladores para que estas 
mesmas instituições se “salvassem” e se mantivessem na posição de credor solúvel. 
O fato é que os problemas de endividamento não foram solucionados e o Brasil e 
demais países terceiro-mundistas, entrariam em uma nova fase e rodada de 
negociações, como explica Bacha: 
 
O Fundo Monetário Internacional é uma instituição destinada a auxiliar 
países que apresentem problemas no balanço de pagamentos. No caso de 
um país altamente endividado no exterior, onde boa parte de sua dívida 
refere-se à conta de juros, o grosso do ajuste deve ser efetuado através da 
balança comercial... [...] o FMI é, portanto uma melhoria na balança 
comercial. (BACHA, 1983, p. 6). 
 
 
O novo cenário internacional, com a figura do FMI articulado, negociador e 
impositivo, a crise da dívida se torna cada vez mais insolúvel e fora do controle das 
21	
  
	
  
autoridades brasileiras. Os bancos e credores se beneficiaram da intervenção do 
FMI para que os compromissos dos países devedores fossem mantidos e 
garantidos. Porém, algumas ações no cenário doméstico dava sinais de que haveria 
uma mudança favorável, mesmo que momentânea. Assunto esse, que será tratado 
no próximo tópico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22	
  
	
  
 
 
 
2: A REAÇÃO DO BRASIL EM MEIO A CRISE – INÍCIO DE AUTONOMIA 
ECONÔMICA E INDICIOS DE DEMCRACIA 
 
 
2.1 – RECUPERAÇÃO, SINAL DE ESTABILIZAÇÃO 
 
 Abordamos anteriormente as práticas e imposições por parte do FMI, Banco 
Mundial, etc. As taxas de crescimento esperadas nas exportações ficaram aquém, 
se considerarmos que a economia mundial estava estagnada no início da década de 
80, somado aos crescimentos negativos de alguns países. Mesmo com o 
desempenho ruim de todos os setores, inclusive da economia internacional, o Brasil 
superou as expectativas e cumpriu as metas junto ao setor externo. 
 
O bom desempenho do externo amenizou a gravidade da situação em 
1983. O superávit de US$ 6,5 bilhões em 1983 contra US$ 780 milhões em 
1982 foi o resultado principalmente da queda de 20% no valor das 
exportações em relação ao ano anterior, enquanto as exportações 
cresceram 8,5%. (BAER, 1989, p. 186). 
 
A partir desse momento o Brasil assinou mais três cartas de intenção, todas 
agressivas, estipulando metas para os anos de 1984 e 1985, muito 
comprometedoras por parte do FMI para a situação instável do país. Com isso o 
então presidente do Banco Central, Carlos Langoni, se demitiu por não concordar e 
duvidar dos acordos propostos. 
Em 1984, já com o fantasma da crise e dívida controlada, o Brasil dava sinal 
de recuperação e superação quanto ao problema do balanço de pagamentos. Viu-se 
que houve a concentração e elevação de superávits, elevando a exportação 
principalmente de setores com alta necessidade externa e diminuição de 
importação. O Brasil diminuiu a quantidade de importações e foi favorecido com a 
melhora do desempenho comercial internacional. A expansão das exportações dos 
produtos manufaturados possibilitou o país a ter maior poder de negociação junto 
aos credores, pois o excelente resultado alcançado garantiu o pagamento de dívidas 
atrasadas, melhorou a credibilidade no cenário e reservas internacionais, eliminando 
a eventual necessidade de capital privado. A prática foi vista com bons olhos pelo 
23	
  
	
  
FMI, que enxergou otimismo quanto ao crescimento da Organização para 
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). 
 Em continuidade, o Brasil passou a dispensar os empréstimos externos para 
financiar as importações de produtos e serviço. Diferentemente do cenário da 
tomada de empréstimos, o país acelerou a exportação como parte do pagamento 
dos juros. O Brasilpassou por tanto, a acumular saldos crescentes na balança 
comercial através da produção e concentração de exportação de produtos setoriais. 
 As imposições do FMI e dos credores internacionais impuseram suas práticas 
e sanções ao Brasil. O planejamento nacional para implementação de tecnologia de 
ponta, consolidação da indústria através da transformação, foram boicotadas 
perante tais regras. As imposições estrangularam o processo financeiro, controlando 
a dependência, limitando a aproximação aos demais países19. 
 É fato que após a significativa reação ao condicionamento da dívida externa, 
em meados de 1980, como citado acima, o Brasil caminhou para democracia, 
entrando em novo processo de integração buscando o desenvolvimento tecnológico 
e padronização de seu parque industrial, além da participação ativa da agenda 
internacional, situações promovidas a partir dos protocolos de 198620. 
 
2.2 – SINAIS DE DEMOCRACIA, GRADUAL, LENTA E PROGRESSIVA 
 
 Ao fim do ano de 1982, especulações e visitas entre os presidentes brasileiro 
e norte americano, Figueiredo em maio e Reagan em dezembro, ocorreram no 
intuito de se recuperar ou criar uma “nova” relação entre os dois países. É verdade 
que a ida de Figueiredo quase não ocorreu pela situação e posição do Brasil e EUA 
em relação à guerra das Malvinas21, onde o Brasil teve papel fundamental no que se 
pode dizer do cessar fogo entre Argentina e Inglaterra, pois, o Brasil apoiava a 
Argentina e o EUA por razões históricas, tinha a posição pró-Inglaterra. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
19 Desde 1980, o FMI e credores internacionais diminuíram a capacidade brasileira de influir sobre o 
sistema internacional, pela adequação de fins e resultados, passando o país à categoria de agente 
passivo de influencias, com dificuldade até mesmo de manter os avanços já alcançados. (CERVO e 
BUENO, 2002, p. 394). 
20 Acordo assinado entre Brasil e Argentina (12 protocolos), que visavam a integração econômica e 
área de livre comércio entre os dois países. 
21 A Guerra das Malvinas (abril-junho de 1982) teve origem na disputa pelas ilhas Malvinas/ 
Falklands, no Atlântico Sul, travada desde o século XIX pela Inglaterra e a Argentina, onde a 
Inglaterra abriria mão da soberania do território, mas não do controle administrativo. (DINSTEIN, 
2004, p. 396).	
  
24	
  
	
  
 Para muitos essas visitas eram meras especulações por parte norte 
americana, cobrar do Brasil uma posição definitiva e maior participação na Guerra 
Fria em troca de ajuda econômica. Para outros, era importante essa reaproximação 
para garantir a imagem do Brasil. O fato é que ao final, a imprensa e críticos viram 
com bons olhos a rodada de encontros: 
 
Em um mundo que cada vez mais se caracteriza pela institucionalização da 
insanidade (...) é consolador verificar que a visita do presidente Figueiredo 
aos Estados Unidos projetou internacionalmente uma imagem do Brasil 
que gostaríamos que fosse projetada todos os dias. O Brasil apareceu 
como um país maduro e cônscio de suas responsabilidades – (...). 
(JORNAL DA TARDE, 1982 apud FRANCO, 2008, p. 87). 
 
 Em meio a apoios e críticas, fato é que ambas as visitas foram favoráveis 
para mitigar a “indigestão” entre os dois países por conta de posições contrárias em 
relação à guerra das Malvinas e, pela visão norte americana, constatou-se que o 
Brasil tinha um papel muito importante e de peso no âmbito regional do sul, junto 
aos demais países. 
 As constantes visitas e relações bilaterais do Brasil mostravam sinais 
favoráveis quanto à imagem do país. Devido o fato de Figueiredo buscar e promover 
a reabertura política pode-se dizer que a influência internacional teve papel 
importante nesse processo, pelos constantes apoios de líderes norte americanos 
quanto à conduta do governo brasileiro. Porém, há de se considerar que os EUA já 
vinham pressionando quanto à abertura política, reconhecendo o Brasil como ator e 
potência importante no sul. Com a ameaça do comunismo afastada na América 
Latina, ocorreram as eleições diretas para governadores22, onde os eleitores 
puderam eleger os representantes dos estados, mais o Distrito Federal. 
 O grande destaque não era somente a eleição direta para governadores dos 
Estados, mas sim, mesmo com o momento delicado vivido por problemas 
econômicos no país, as atenções da mídia e do povo se voltaram para as eleições, 
sendo considerado um grande avanço na democracia. 
 
 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
22 Em 15/11/1982, ocorreram as primeiras eleições diretas (desde o golpe de 1964) para 
governadores com participação efetiva do povo. (NICOLAU, 2012, p. 140). 
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3: O EXECUTIVO E O ITAMARATY – AGENDA INTERNACIONAL E A INVERSÃO 
DE PAPEIS 
 
3.1 – O UNIVERSALISMO DE FIGUEIREDO E A POSIÇÃO DO ITAMARATY 
 
 Até aqui, o propósito deste trabalho foi mostrar todo o cenário e 
acontecimentos no governo Figueiredo, em meio às graves crises econômicas 
internacionais, segunda crise do petróleo, surgimento do neoliberalismo, 
dependência do capital estrangeiro e privado, intervenção do FMI, elevação da taxa 
de juros no intuito de supervalorizar o dólar e pressões populares quanto à 
redemocratização do país. Porém, cabe aqui destacar como a política do 
universalismo, política externa do Chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro23, se 
comportou em meio a todos esses episódios. Principalmente pelo fato do Brasil ter 
agravado seu processo de endividamento, ocorreram mudanças de Ministros da 
Fazenda e constantes participações na agenda internacional. 
 A situação no mundo quanto à questão da bipolaridade era cada vez mais 
agressiva por parte dos EUA. O intuito com a Guerra Fria era o enfraquecimento da 
extinta URSS, minando cada vez mais a possibilidade de relações multilaterais, 
desarticulando uma possível atuação dos países do terceiro mundo. 
 No mesmo período ocorria a guerra das Malvinas entre Inglaterra e Argentina, 
evidentemente pelo passado histórico os EUA apoiavam a Inglaterra e o Brasil 
mesmo com sua política de “não alinhado”, de forma indireta apoiou a Argentina. A 
partir de então era perceptível por parte não só do governo brasileiro, mas também 
da diplomacia, a perda de autonomia dos países médios do terceiro mundo. 
 
A política externa do Chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro autodenominou-
se de Universalismo, e esforçou-se por manter a autonomia do Brasil em 
um cenário crescente desfavorável. (VISENTINI, 2013, p. 81). 
 
 
 Apesar da crescente afirmação por parte do governo brasileiro em elevar os 
patamares do país à grande potência industrializada, o Itamaraty “entendia” o Brasil 
como um país de terceiro mundo e assim sustentava suas participações nos fóruns 
internacionais. Através de sua posição de país não alinhado, denunciava os abusos 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
23 Ministro das Relações Exteriores do governo João Batista Figueiredo entre 1979 – 1985.	
  
26políticos e econômicos do qual, países dependentes de capital estrangeiro estavam 
sujeitos. 
 Além das participações internacionais, o Brasil também integrou grupos de 
apoio, G-824 e mantinha um bom relacionamento com os países Árabes e países 
asiáticos. Isso elevou a importância da América do Sul por conta da condução da 
diplomacia e política externa do Brasil. 
 A afirmação de país terceiro-mundista era um tanto quanto “desconfortável” 
para alguns. Até mesmo era indigesto aceitar essa condição para o Brasil. O que, na 
realidade era de fato uma condição reconhecida e afirmativa por parte dos países 
desenvolvidos. De acordo com Visentini: 
 
A categoria de Terceiro Mundo, em que pese sua diversidade, agregava 
países, ‘importadores líquidos de capital e de tecnologia e que não haviam 
atingido um nível de desenvolvimento autossustentável’. (VISENTINI, 2013, 
p. 83). 
 
 
 Em relação à diplomacia do Brasil com a URSS, China e Países Árabes, era 
reconhecido que esses “votavam” com o terceiro mundo, o que não significava uma 
ligação política direta entre eles. Porém, conforme narra Guerreiro: 
 
[...] o Brasil seguia uma política alinhada com os Estados Unidos, talvez até 
1961. Mesmo nesse período, o Brasil divergia quando se percebia interesse 
nacional com o caráter claramente específico, diversificado. (GUERREIRO, 
1992, p. 14). 
 
 
Nessa fala de Guerreiro, podemos destacar a década de 1960, onde o 
Comunismo se estendia pelo mundo e, os EUA, com receio do avanço e adesão do 
Brasil ao movimento, intervia substantivamente tentando evitar. Naquele momento, a 
importância do Brasil como uma potência regional e caráter de liderança, era 
fundamental para que o capitalismo ganhasse força no cone sul e enfraquecesse o 
comunismo. Dependendo dos rumos políticos e econômicos tomados pelo Brasil, 
este seria um reflexo para a condução e tomada de decisões dos demais países da 
América do sul. Diferentemente, na década de 1980 onde o comunismo já não era 
mais uma ameaça, os interesses passaram a ser fortemente econômicos, aliado às 
pressões quanto ao pagamento da dívida junto ao FMI. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
24 O G8 reúne países do Grupo dos 8 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, 
Reino Unido e Rússia), mais os 5 países emergentes: (África do Sul, Brasil , China, Índia e México). 
27	
  
	
  
 Figueiredo assumiu o poder já com a premissa de ser o “presidente da 
abertura”, com um novo modelo de política externa, onde o “Pragmatismo 
Responsável25” cede lugar ao “Universalismo”, pregando a “dignidade nacional e boa 
convivência”, conforme seu discurso ao congresso nacional: 
 
Nossa política nacional caracteriza-se pela presença, cada vez mais 
marcante dos interesses nacionais em várias regiões do planeta e na ampla 
gama de temas em debate no plano internacional. [...] o universalismo da 
política externa se expressa pela ampla disposição ao diálogo, com base no 
respeito mútuo e no principio de não intervenção. O Brasil procura afirmar 
um novo tipo de relações internacionais, de natureza aberta e democrática, 
horizontal, sem subordinações nem prepotências. O Brasil assume 
integralmente a sua condição de país latino-americano. Acredita que, em 
conjunto, as nações latino-americanas devem buscar as mais aperfeiçoadas 
formas de integração regional, que permitam não só acelerar o 
desenvolvimento e o intercâmbio entre elas, com o realismo e a atenção às 
potencialidades e necessidades de cada país, senão também que lhes 
facilite presença mais hegemônica nas negociações econômicas com os 
países desenvolvidos. (FIGUEIREDO apud VISENTINI, 2013, pp. 81 – 82). 
 
A nova conjuntura internacional vivia momentos delicados entre os blocos e 
pólos políticos. A tensão entre o capitalismo norte americano e o comunismo 
soviético, são o centro das discussões que envolviam o tema de segurança 
internacional. Em principio, com o fim da détente26 as relações entre os países 
ficavam cada vez mais estreitas, no sentido de melhor aproximação uns com os 
outros. O Brasil não se manifestava quanto à prática norte-americana, mas 
condenava ações intervencionistas. 
 
Com a nova Guerra Fria substituindo a détente, a situação internacional se 
caracterizava pela reativação das tensões. Os problemas que não puderam 
ser resolvidos sob regime da détente, reapareceram de forma agravada. A 
tendência à confrontação reafirmava a dimensão Leste-Oeste na política 
mundial, com crescentes riscos para a segurança nacional. (VISENTINI, 
2013, p. 85). 
 
 
A gestão de Guerreiro, em seus seis anos, sempre foi de posicionar as 
intenções do Brasil como um país pacífico e de cooperação. Por diversas vezes, em 
seus discursos, o Chanceler deixava claro as intenções de manutenção da paz entre 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
25 Uma política externa que repudiava discussões semânticas e que afasta os extremos. Política 
externa implementada pelo governo Geisel em seu governo (1974 – 1979). (VISENTINI, 2013, p. 79). 
26 O equilíbrio do terror atômico, a corrida espacial e a “queda de braço” entre Washington e Moscou 
durante grande parte da década de 1960 demonstraram que os esquemas da coexistência ainda 
persistiam. Fase mais madura do relacionamento entre as superpotências só se verificou no final dos 
anos 60 e início da década de70. (SARAIVA, 2001, p. 65).	
  
28	
  
	
  
os Estados, igualdade para todos, justiça e não à dominação. Defendia o surgimento 
de “uma nova ordem mundial”, onde todos os gastos e esforços com corridas 
armamentistas e guerras eminentes fossem destinados à tecnologia, crescimento e 
progresso. Os acordos unilaterais com países da África, países árabes, países 
asiáticos e uma tímida aproximação comercial com a URSS, deram destaque para 
América latina. 
 
O crescente e lucrativo relacionamento comercial com o Oriente Médio e 
com a Ásia construía elementos dessa política, ainda que com relação à 
África Subsaariana os resultados fossem modestos. (VISENTINI, 2013, p. 
87). 
 
 
Mesmo com o destaque e posição do país, sob a ótica das relações 
internacionais, os crescentes conflitos entre o eixo leste-oeste, davam a 
oportunidade ao Brasil de se distanciar desse foco improdutivo e cuidar de seus 
interesses para com seus vizinhos, ou seja, o Brasil saía da condição de negociador 
intermediário ou prestador de serviços de interesses maiores, para atuar junto aos 
demais de mesma condição. 
 
[...] a diplomacia brasileira pretendia, quanto a essa questão, reforçar o que 
já existia, conferindo uma nova dimensão aos laços tradicionais que uniam 
o Brasil aos países do Terceiro Mundo e ao Ocidente industrializado. 
(VISENTINI, 2013, p. 87). 
 
 
Isso porque a condição da cooperação sul-sul, não propunha os propósitos 
economicamente traduzidos entre norte-sul: 
 
A cooperação sul-sul, além de seu valor intrínseco, poderia vir a reforçar o 
poder de barganha brasileiro em negociações econômicas globais, 
sobretudo se esta passasse de uma solidariedade de dimensão retórica 
para outra dimensão concreta e econômica. (VISENTINI, 2013, p. 87). 
 
 
O Brasil também se destacou no apoio político e cooperação econômica com 
a África (particularmente Angola), referente à trocade petróleo por produtos e 
serviços, além de condenar o apartheid27 sul-africano. O Brasil foi tentado pelo 
governo americano a cooperar contra os países africanos, devido aos crescentes e 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
27 Regime de segregação racial adotado entre 1948 a 1994, por políticos brancos partidários do 
Partido Nacional na África do Sul, onde os diretos da população negra eram ignorados. 
29	
  
	
  
recorrentes conflitos. “[...] o Itamaraty recusava as propostas recorrentes durante o 
Governo Reagan, de militarização (sobretudo naval) do Atlântico Norte.” 
(VISENTINI, 2013, p. 87). 
Além dos acordos com a África, o Brasil mantinha excelentes relações com os 
países do Oriente Médio. O Brasil com sua indústria armamentista estatal em 
desenvolvimento passou a exportar armas, carros de combate, mísseis, aviões, 
produtos agropecuários e serviços, isso, como pagamento da importação de 
petróleo. O Brasil também manteve relações bilaterais com a China, provenientes de 
acordos nucleares, satélites e repasse de recursos para avanço tecnológico. Isso, 
em menor escala, despontou interesses de potências médias, como União Soviética 
e de periférica como Índia. 
A diplomacia brasileira ganhava destaque, além de a América Latina 
caminhar para uma cooperação entre Estados e incomodar a potência hegemônica, 
os Estados Unidos, que pressionavam pelo fim dos regimes e cumprimento dos 
pagamentos da dívida. Como explica Visentini: 
 
O Brasil observava com extrema inquietação a crescente pressão 
americana pela redemocratização no Cone Sul, interpretando o fenômeno 
como uma estratégia de desarticulação das potências médias e de busca de 
legitimação do pagamento da dívida externa destas. (VISENTINI, 2013, p. 
88). 
 
 
Na concepção do governo, o Brasil deveria construir uma posição de potência 
como Estado, mas entendendo que a expectativa de alcançar uma posição superior 
na hierarquia internacional, não seria a curto prazo. Porém, era sabido que a 
inserção do país e interesses nacionais deveria ir além e que só seria possível 
através do desenvolvimento econômico e conquista de espaço de autonomia 
nacional. 
Os objetivos em curso da política externa brasileira estavam fora do contexto 
da conjuntura internacional, ou seja, o desenvolvimento buscado pelos militares 
acabou sendo ineficiente por conta da estratégia adotada junto aos demais países 
do sul e leste. De acordo com Cervo e Bueno: 
 
É nesse contexto extremamente adverso que a diplomacia brasileira tentou 
formular uma política externa de cunho universalista, buscando reavivar o 
multilateralismo como forma de tentar superar a crise. (CERVO e BUENO 
apud FERREIRA, 2006, p. 120). 
 
30	
  
	
  
 
O Universalismo de Figueiredo promoveu a exposição do Brasil a diversas 
relações internacionais e inserção no cenário internacional e não a um alinhamento 
incondicional com os EUA. De fato, o Brasil naquele período conseguiu bons 
acordos e visibilidade externa com suas relações norte-sul e sul-sul, intentando-se 
como uma potência industrializada do ocidente desenvolvido. Porém, o 
Universalismo em sua essência, causa contradições e desconformidades quando 
adotado por países como o Brasil, recém-industrializado e que oscilava de acordo 
com os acontecimentos internacionais, sendo ora dependente, ora autônomo. 
 
3.2 – O INSULAMENTO BUROCRÁTICO E O UNIVERSALISMO DE 
PROCEDIMENTOS 
 
A proposta desse trabalho é mostrar como a influência e acontecimentos de 
um regime que visava a garantia do progresso de um país se comportou frente ao 
desequilíbrio externo com elevadas taxas de juros praticadas pelos EUA e 
instituições financeiras e instabilidade no cenário doméstico, em decorrência do 
endividamento. A atuação diplomática e o poder executivo por vezes se 
confrontavam com diferentes interesses, atuações e objetivos incomuns. 
Com relação ao regime militar, podemos considerá-lo fechado, que buscava 
garantir o equilíbrio e controle através da força, sem intervenção externa nas 
práticas ou meios utilizados para garantir o objetivo final. Em síntese, a grande 
intervenção “de fora para dentro”, foi a administração do FMI e instituições 
financeiras, no cenário doméstico, na crise dos países subdesenvolvidos entre 1979 
– 1985 e aumento das taxas de juros. 
A definição de insulamento no contexto de autonomia dentro de um regime 
proporciona o Itamaraty o título de ministério ilhado, cercado pelos demais 
ministérios onde não há interferência do executivo; ou seja, trata-se de uma 
estrutura criada por um corpo de burocratas que visam defender os interesses 
nacionais do Estado, porém, através de uma atuação despolitizada, sem 
interferência popular ou através de votos. 
Dentro do Ministério das Relações Exteriores existem outras esferas 
independes do executivo, como a Secretaria Geral das Relações Exteriores, porém, 
diferentemente das demais secretarias ministeriais. Conforme explica Soares: 
31	
  
	
  
 
A Secretaria Geral das Relações Exteriores é diferente das secretarias 
executivas dos ministérios. É a única que tem denominação própria; seria 
equivalente, talvez, ao Estado-Maior dos militares. (SOARES, 2006, p. 51). 
 
 
Mesmo com a autonomia decisória do Itamaraty, este pode sofrer 
interferências de certas ações no ambiente doméstico/internacional ou diferentes 
atores governamentais e sociais. Guerreiro, em sua gestão no governo Figueiredo, 
teve que lidar com constantes intervenções por parte do FMI e discussões de 
política externa entre o governo brasileiro e americano e fóruns multilaterais. 
Em tese, a crescente pressão quanto à liberalização do Estado, fim do regime 
militar a agenda internacional era cada vez mais aberta para atores nacionais e 
transnacionais. O governo observava com certa inquietude as constantes pressões 
dos EUA quanto à redemocratização dos países da América Latina, paralelo aos 
compromissos do Brasil no cenário internacional. 
Alguns acontecimentos podem abalar ou interferir negativamente na atuação 
diplomática. Em sua essência, a atuação de outras instituições sendo por 
interferência direta do executivo ou por atores transnacionais e/ou terceiro setor, 
podem desconstruir e comprometer a atuação da diplomacia. De acordo com 
Przeworski, dentro de um regime militar, a atuação de outros organismos 
independentes ou com autonomia reconhecida, não são tolerados, a partir do 
momento em que estas fossem adversas aos interesses comuns do regime gerando 
um dissenso: 
 
[...] ditaduras: elas não podem tolerar organizações independentes, pois 
quando não houver alternativas disponíveis em termos coletivos, as ações 
individuais não adquirem importância significativa para o governo. 
(PZREWORSKI apud FERREIRA, 2006, p. 123). 
 
 
Quando as intenções diplomáticas se cruzam com os interesses do executivo, 
os objetivos da agenda se pulverizam e o papel do Itamaraty torna-se meramente 
participativo em meio às ações e diretrizes do executivo. 
O período aqui estudado 1979 – 1985 demonstra as atuações aliadas do 
Poder Executivo e do Itamaraty, na condução da agenda internacional, onde o 
consenso de ambos às vezes era difuso. 
32	
  
	
  
Mesmo com a interdependência entre o Itamaraty e o Governo, observou-se a 
participação conjunta de ambos, nas questões financeiras internacionais buscando a 
resolução de problemas e relação entre economistas e diplomatas. 
Apesar do Ministério dasRelações Exteriores ser independente ou insulado, 
ou seja, separado do poder Executivo, o governo Figueiredo desempenhou um 
papel importante na escolha do chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro. Seu convite 
para o mais alto cargo das relações exteriores foi narrado assim: 
 
Fui convidado pelo presidente eleito a assumir a função de ministro de 
Estado das Relações Exteriores. Na ocasião, sua excelência me disse, inter 
alia, que me conhecia mais do que eu supunha e desejava prosseguir, com 
as adaptações aconselháveis, na política externa do governo anterior. 
(GUERREIRO apud FERREIRA, 2006, p. 121). 
 
 
Com a indicação do General Presidente, de acordo com a narrativa de 
Guerreiro, no início, havia certa indigestão por parte do chanceler em dar 
continuidade ao modelo da política externa sugerida por Figueiredo: 
 
Embora estivesse de acordo com meu chefe com a linha geral de uma 
política que se denominava de PRAGMATISMO RESPONSÁVEL, como 
Ministro, creio não haver usado a expressão mais do que uma vez, e ainda 
no principio. Não tinha objeção de substância, mas até por temperamento, 
me parecia que podia prestar-se a equívoco”. (GUERREIRO apud 
FERREIRA, 2006, p. 122). 
 
 
A Política Externa Brasileira – PEB, buscava se manter na posição de reflexo 
do consenso nacional quanto à condução da política no ambiente internacional, 
mesmo com a dúvida sob sua continuidade e intenção de mudança independente. 
De acordo com Guerreiro: 
 
Procuramos fazer que a atividade diplomática sirva de ponto de união de 
brasileiros, de coesão política e social, e não a interesses localizados e 
transitórios. (GUERREIRO apud FERREIRA, 2006, p. 123). 
 
 
O Itamaraty e seus diplomatas apesar de autônomos enquanto burocratas 
tiveram apoio de Figueiredo quanto à condução da Política Externa brasileira. Os 
resultados positivos e constantes participações em fóruns e compromissos da 
agenda internacional fizeram Figueiredo manter a política do Universalismo e apoio. 
Mesmo com a transição para abertura política no país, à época, o então Ministro das 
33	
  
	
  
Relações Exteriores, Saraiva Guerreiro, estava ciente das possíveis implicações 
para a Política Externa. Ele entendia que a cooperação e o principio da não 
interferência do executivo, proporcionaria resultados melhores, havendo a amplitude 
da atuação das diferentes esferas. 
Havendo o insulamento ou não, o certo é que o Itamaraty e sua política 
externa ganharam destaque no cenário internacional proporcionando a atuação 
participativa e importantes tomadas de decisões nas questões internacionais. Em 
decorrência desses acontecimentos e da transição histórica, os compromissos 
diplomáticos passaram a ser também tarefa do executivo participativo e cada vez 
mais decisório nos assuntos da Política Externa. 
 
3.3 – VULNERABILIDADE BRASILEIRA, APELO INTERNACIONAL 
 
 Conforme dito anteriormente, na década de 1980, o governo Figueiredo 
enfrentou graves crises econômicas e estagnação do desenvolvimento nacional e 
externo. Conforme explica Cervo e Bueno, duas situações importantes contribuíram 
para a permanência nessa condição, onde a atuação dos responsáveis pela política 
proporcionava a inversão dos papeis: 
 
Em primeiro lugar, políticas econômicas internas marcadas por elevado 
grau de instabilidade contiveram o ritmo de crescimento, comprometeram a 
credibilidade do governo e minaram as expectativas sociais diante do 
Estado; em segundo lugar, a decisão da área econômica em conduzir por si 
as negociações da dívida externa, de acordo com a imposição dos 
credores, de forma permanente, contabilista, empírica e despolitizada, sem 
articulação com o Congresso e da chancelaria. (CERVO, BUENO, 2002, p. 
427). 
 
 
O Brasil, incapacitado de negociar a seu favor no cenário internacional se 
tornava submisso e passivo, sem condições de atuar incisivamente no sistema 
internacional frente às imposições e dificuldades produzidas pelos EUA e instituições 
financeiras como o FMI. 
Na percepção do Itamaraty, no inicio dos anos oitenta o cenário internacional 
estava fragilizado tanto na esfera política quanto na econômica. A instabilidade 
cambial, crises, imperialismo norte-americano, “bipolarismo” e protecionismo, eram 
fatores fundamentais que conciliavam para a dependência de países como o Brasil. 
34	
  
	
  
Já na segunda metade da década de oitenta, os problemas ainda 
continuavam e se agravavam, tendo em vista a consolidação da divisão 
internacional do trabalho, crise do multilateralismo e crescentes divergências com os 
Estados Unidos e Europa, onde os países ricos “sugavam” os recursos produzidos 
pelo Terceiro Mundo. 
A situação era de extrema inquietação e a diplomacia brasileira passou a 
desempenhar um papel importante no cenário internacional, participando de foros 
internacionais no intuito de “denunciar” os abusos e mazelas proporcionadas pelos 
países e instituições financeiras, sugerindo mudanças no sistema internacional, 
conforme alguns acontecimentos a seguir narrados por Cervo e Bueno (2002): 
 
a) V UNCTAD, Manila, maio de 1979: o chefe da delegação brasileira 
exerceu pressão pelo desenvolvimento, protestou contra as 
salvaguardas unilaterais dos ricos ao comércio internacional, contra o 
protecionismo. b) XI Assembleia Geral Especial da ONU, 1980: onde o 
Brasil empenhou-se por “Negociações Globais” a nova fórmula do 
diálogo Norte-Sul. c) XXXVII Assembleia Geral da ONU, setembro de 
1982: pela primeira vez o chefe de Estado brasileiro abriu a sessão. [...] 
Criticou a ordem internacional que preservava as estruturas do poder 
em detrimento dos fracos, a cooperação internacional que não promovia 
o desenvolvimento, a interdependência que administrava a 
desigualdade, os órgão internacionais (FMI, BIRD, GATT) que só 
tinham ouvidos para os ricos, as taxas de juros que inviabilizavam o 
crescimento das nações atrasadas. d) Reunião do Grupo dos 77, Rio de 
Janeiro, dezembro de 1983: ante o fracasso global das negociações 
Norte-Sul (Cancun, GATT, UNCTAD), Guerreiro reagiu com a proposta 
de uma estratégia de cooperação Sul-Sul. (CERVO e BUENO, 2002, p. 
429). 
 
 
Mesmo com as participações e denúncias nos foros internacionais, o Brasil 
procurava estabelecer suas relações com a América Latina visando o progresso e 
aliança entre o bloco, onde os governantes procuraram ser cautelosos em relação 
aos acordos e negociações das instituições financeiras e reguladoras do comércio, 
principalmente tratando-se do Norte-Sul. Porém, é importante destacar que tanto a 
economia brasileira quanto a sociedade e o crescente endividamento externo, 
prejudicaram o Ministério das Relações Exteriores do Brasil. De acordo com Cervo e 
Bueno, a participação do Itamaraty e do Executivo foram ausentes no processo de 
negociações, relacionado aos acordos e negociações internacionais, como narra os 
autores: 
 
35	
  
	
  
As negociações foram conduzidas pelos economistas da Fazenda, do 
Planejamento e do Banco Central, à revelia da sociedade e de outros 
órgãos que a representavam. (CERVO e BUENO, 2002, p. 435). 
 
 
A participação do Itamaraty em sintonia com o executivo seria de suma 
importância nos assuntos internacionais, principalmente ligado ao problema 
financeiro brasileiro, onde as negociações e rolagem de dívida mostravam cada vez 
mais a submissão e dependência do país. Fatos históricos demonstram que os 
problemas de endividamento externo enfrentados por países socorridos por 
instituições credoras, são submetidos à regulação impositiva do credor, “como os 
que foram concedidos à Alemanha no entreguerras”. (CERVO E BUENO, 2002, p. 
436). 
 A imposição das instituições financeiras sendo FMI no caso brasileiro, nos 
remete a

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