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CURSO DE EXTENSÃO EM PSICOLOGIA HOSPITALAR TEÓRICO E VIVENCIAL Considerações sobre a morte e o morrer Profª. Daniele Baptista – CRP: 05/31955 danielebaptistarj@yahoo.com.br Visão Histórica, Social e Cultural (Ariès, 2012) Segundo Philippe Ariès, a forma de se ver a morte passou por toda uma evolução: “As transformações do homem diante da morte são extremamente lentas por sua natureza ou se situam entre longos períodos de imobilidade”. Este historiador divide a história da morte no ocidente em quatro momentos. Visão Histórica, Social e Cultural (Ariès, 2012) A morte domada • A morte típica da Idade Medieval. O homem sabia que ia morrer, era advertido sobre sua morte por signos naturais ou na grande maioria, por uma convicção íntima. • Havia um cerimonial para o moribundo. • A morte era uma cerimônia pública e organizada pelo próprio moribundo. • Os parentes, amigos e vizinhos eram figuras presentes e importantes, as crianças também iam. • Os homens temiam a proximidade dos mortos enquanto almas. Visão Histórica, Social e Cultural (Ariès, 2012) A morte de si mesmo • O homem passa a se preocupar com o que acontecerá após sua morte. • Ocorre o medo do julgamento da alma, com sua ida para o inferno ou para o paraíso. • É a inserção da presença da culpa e da idéia de pecado. • Entre os séc. XII e XV, deu-se aproximação entre três categorias de representações mentais: as da morte, as do reconhecimento por parte de cada indivíduo de sua própria história de vida e as do apego apaixonado às coisas e aos seres possuídos durante a vida. • Surgem as lápides nos cemitérios. Visão Histórica, Social e Cultural (Ariès, 2012) A morte do outro • A partir do séc. XIII a morte passa a ser exaltada, dramatizada, vista de forma arrebatadora. • O homem passa a se preocupar menos com sua própria morte, dando origem a morte romântica que é antes de tudo, a morte do outro. • A morte passa a ser associada ao amor e ao sexo, passa a ser desejada. • As cerimônias da morte continuam com o moribundo morrendo em casa e presidindo toda esta ação. Apesar de familiar, a morte agora é vista como ruptura. Visão Histórica, Social e Cultural (Ariès, 2012) A morte interdita • Final do séc. XIX e início do séc. XX: a família passa a ocultar do doente o fato de sua morte com o falso pretexto de poupá-lo do sofrimento, porém o que realmente se deseja é poupar quem o cerca e a própria sociedade das emoções fortes causadas pela presença da morte. • A morte vai se tornar vergonhosa e objeto de interdição. • O luto torna-se um estado patológico que deve ser tratado, abreviado e apagado. • A morte se torna um comércio. A Morte nas Diferentes Fases da Vida (Kovács, 1992) A infância • O bebê percebe a ausência de sua mãe como uma morte. • A medida que a criança cresce começa a experienciar as mortes efetivas que a cercam. • Apesar da percepção da morte como a cessação de algumas funções vitais, acredita que é reversível, pode ser desfeita. • Outro elemento presente é a culpa que está muito relacionada com o pensamento mágico e onipotente infantil. A Morte nas Diferentes Fases da Vida (Kovács, 1992) A adolescência • Sabe que a morte não é reversível e sim definitiva, mas o seu pensamento conclui que a morte ocorreu por inabilidade, imperícia e que o verdadeiro herói, que é ele próprio, não vai morrer. • Envolvimento em situações de risco. • Índice alto de acidentes nesta etapa da vida. A Morte nas Diferentes Fases da Vida (Kovács, 1992) A idade adulta • Adulto jovem – vê a morte como algo distante. • Adulto de meia idade – percebe que chegou ao “topo da montanha” e agora precisa descer. • Sabe que a morte não acontece somente com o outro, mas com ele próprio e a partir da possibilidade da morte a vida é resignificada. A Morte nas Diferentes Fases da Vida (Kovács, 1992) A velhice • É a última fase do desenvolvimento humano e a única forma de sair dela é morrendo. • Por isso, grande ênfase na morte e não na vida. • O fato de estar velho não significa estar doente. As Reações Diante da Morte e o Morrer (Kübler-Ross, 2005) • Segundo Kübler-Ross, todo ser humano passaria por cinco estágios diferentes diante da possibilidade da morte ou diagnóstico grave: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. • Estes estágios não apresentam uma ordem fixa, podendo alternar entre um ou outro. • Não há a obrigatoriedade de vivenciar todos eles. As Reações Diante da Morte e o Morrer (Kübler-Ross, 2005) Negação: • “Não acredito que isto está acontecendo comigo! Não pode ser verdade!” • A negação funciona como um amortecedor, como uma anestesia temporária para se ganhar forças e assim mobilizar defesas. As Reações Diante da Morte e o Morrer (Kübler-Ross, 2005) Raiva: • “Isto não é justo! Por que não aconteceu com quem realmente merece?” • Muito presente quanto projetos de vida são interrompidos. • Projeção na família ou profissionais de saúde. • Momento de questionamento espiritual. As Reações Diante da Morte e o Morrer (Kübler-Ross, 2005) Barganha: • “Então, o que eu preciso fazer? Estou disposto a seguir todas as orientações a risca.” • Tem-se a idéia de que, se se prometer bom comportamento e reparação das faltas anteriores cometidas, a doença poderá ser vencida ou ao menos ter o seu desfecho adiado. • As vezes é vista como um pedido de um tempo extra para a realização de alguma meta a curto prazo. • Pode agregar uma energia a ser mobilizada para a vida. As Reações Diante da Morte e o Morrer (Kübler-Ross, 2005) Depressão: • Momento de profunda reflexão do paciente, este fica mais quieto, recusa-se a comer ou ver pessoas. • Momento preparatório para a morte. • Depressão reativa: é uma reação a algo, é transitória e necessita de acolhida e conforto. • Depressão preparatória: uma preparação para o que está por vir, a separação de tudo que é querido. Deve ser acolhida, mas sem a tentativa de alterar este estado. • Ambivalência entre o desejo de permanecer vivo e de morrer para aliviar um sofrimento. As Reações Diante da Morte e o Morrer (Kübler-Ross, 2005) Aceitação: • Há um desligamento do mundo, não mais como fuga e sim como preparação para uma grande ação. • É o momento do silêncio. • A aceitação pode ser o final de todo um processo, porém muitas pessoas não conseguem chegar a este estágio. O Paciente Terminal no Hospital (Kovács, 2008) As principais necessidades de pacientes gravemente enfermos são: • Ter alívio e controle da dor e de outros sintomas. • Assumir o controle sobre a própria vida. • Não ter o seu sofrimento prolongado com medidas que visam apenas preservar a vida e adiar a morte. • Não ser sobrecarga para a família. • Estreitar laços familiares e com pessoas significativas. O agravamento da doença traz vários sintomas físicos, acompanhando o declínio físico surgem sintomas de sofrimento em várias esferas, tais como: • Medo de ficar sozinho. • Tristeza pelo abandono dos planos da vida. • Perda das pessoas próximas. • Dependência. • Medo da morte. O Paciente Terminal no Hospital (Kovács, 2008) CONCEITO DE DOR TOTAL Preocupações frequentes em pacientes gravemente enfermos: • Não poder se despedir dos familiares. • Estresses em relação à continuação da vida das pessoaspróximas. • Não ser perdoado. • Não poder se reconciliar com pessoas significativas. • Não poder falar com o seu médico. • Ter dúvidas e questionamentos religiosos. • Apresentar sofrimento emocional intenso. O Paciente Terminal no Hospital (Kovács, 2008) A Família do Paciente Terminal no Hospital (Kovács, 2008) Sentimentos mais comuns nos familiares: • Não suportar ver o sofrimento do doente. • Sentimento de impotência. • Sobrecarrega do cuidador principal. • Culpa pela pensamento de não estarem fazendo “o melhor” para o paciente. • Sentimentos de ambivalência: “Desejo de sobrevivência da pessoa querida e o desejo de que morra para o alívio do sofrimento”. PROCESSO DE LUTO ANTECIPATÓRIO E a Equipe de Saúde? • Existem diferentes dificuldades internas da equipe de saúde, em relação aos pacientes terminais, entre elas: Dificuldade de estabelecer um diálogo efetivo e afetivo sobre o diagnóstico e prognóstico. Falta de informação sobre o psiquismo humano. Sensação de fracasso do que seria a sua missão: curar o doente. Medo de que o paciente ou seus familiares dirijam sua raiva para ele. Afastamento devido ao grande crescimento da tecnologia na área de saúde e a crescente dependência da equipe em relação à mesma. Intervenção Psicológica com o Paciente (adaptado de Souza, 2010) • Avaliar raiva, culpa, angustia e depressão como possíveis manifestações do medo de morrer. • Auxiliar o paciente na compressão das reações pertinentes a morte e o morrer. • Verificar a crença existente sobre o morrer – Trabalhar a espiritualidade. • Investigar as expectativas do paciente perante sua própria vida. Foco na esperança. • Desmistificar o tema da morte sugerindo conversas abertas sobre a sua possibilidade com a equipe médica e familiares. Intervenção Psicológica com a Família (adaptado de Souza, 2010) • Estimular a família para que mantenha um contato próximo com o paciente. • Promover a oportunidade para a família expor suas dificuldades frente a possibilidade de morte do paciente, respeitando seus momentos de silêncio. • Orientar a família em como lidar com as crianças e os adolescentes. • Incentivar a família a conversar com a equipe médica sobre cuidados de fim de vida. • Incentivar a família a conversar com o paciente sobre limitações no cuidado. Intervenção Psicológica com a Equipe de saúde (adaptado de Souza, 2010) • Realizar grupos de reflexão, abordando temas relacionados à morte e o processo de morrer. • Encorajar os momentos de alívio das tensões diante do constante lidar com a morte. • Reunir a equipe a fim de discutir casos clínicos como forma de manter posturas uniformes que acarretem uma maior tranquilidade e um menor sentimento de culpa. • Ampliar a forma de entender a morte e o morrer para auxiliar esse profissional a perceber a maneira como lida com seus pacientes. Referências Bibliográficas ARIÈS, Philippe. História da morte no Ocidente: da idade média aos nossos dias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. KOVÁCS, Maria Julia (Org.). Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992. KOVÁCS, Maria Julia. A morte no contexto dos cuidados paliativos. In: OLIVEIRA, Reinaldo Ayer de (Org.). Cuidado Paliativo. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 2008. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/library/modulos/publicacoes/pdf/livro_cu idado%20paliativo.pdf>. Acesso: 05 de Maio de 2016. KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer. 8 edição. São Paulo: Martins Fontes, 1998. SOUZA, Raquel Pusch (Org.). Manual – rotinas de humanização em medicina intensiva. 2 edição. São Paulo: Editora Atheneu, 2010.
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