Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 1 Centro de Estudos Sociais Aplicados Curso de Pós-Graduação Lato sensu em Direito do Estado Programa de Disciplina de Pós Graduação Lato sensu Disciplina: Impostos Federais (Imposto sobre a Renda) Professor: Alessandro Lucas Santos Data: 21 de outubro de 2017 MATERIAL DE APOIO (utilização permitida durante a avaliação da disciplina) Tema nº 01 A Regra-matriz de Incidência Tributária (RMI) Ferramenta de Estudo das Figuras Tributárias 1. REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA (RMI) As contribuições de Paulo de Barros Carvalho, Professor Emérito e Titular de Direito Tributário da PUC/SP e USP, para o estudo da norma que institui o tributo culminaram com a elaboração da conhecida “regra-matriz de incidência tributária”, cuja configuração completa surgiu com o advento da primeira edição de sua obra Curso de Direito Tributário, publicada em 1985. A regra-matriz de incidência tributária é um esquema formal da norma instituidora do tributo. Referido esquema metódico tem sido empregado largamente no estudo das mais variadas espécies de tributos. Tem por funções práticas, dentre outras: (i) permitir a compreensão da mensagem legislativa tributária, servindo de estrutura apta a ser preenchida com o conteúdo semântico dos enunciados prescritivos; (ii) auxiliar na identificação da natureza jurídica específica da exação, ou seja, a espécie e a subespécie do tributo; e (iii) possibilitar o exame da constitucionalidade da exação, sob a ótica da tipologia tributária, pelo cotejamento entre a hipótese de incidência tributária e a base de cálculo. Nas próprias palavras de Paulo de Barros Carvalho1: A esquematização formal da regra-matriz de incidência tem-se mostrado um utilíssimo instrumento científico, de extraordinária fertilidade e riqueza para a identificação e conhecimento aprofundado da unidade irredutível que define a 1 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 19.ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 379. Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 2 fenomenologia básica da imposição tributária. Seu emprego, sobre ser fácil, é extremamente operativo e prático, permitindo, quase que de forma imediata, penetrarmos na secreta intimidade da essência normativa, devassando-a e analisando-a de maneira minuciosa. Em seguida, experimentando o binômio base de cálculo/hipótese de incidência, colhido no texto constitucional para marcar a tipologia dos tributos, saberemos dizer, com rigor e presteza, da espécie e da subespécie da figura tributária que investigamos. A norma jurídica que institui ou cria um tributo é chamada de “norma tributária em sentido estrito”. Num sentido estrito, a norma jurídica não é sinônimo de lei ou de artigo de lei. Trata-se do resultado (fruto) de um processo de interpretação, de construção de sentido, pelo intérprete do Direito Positivo. Isto é, o intérprete do Direito identifica os enunciados prescritivos contidos no texto legal (artigos, parágrafos, incisos e alíneas), interpreta-os com o emprego das ferramentas fornecidas pela Hermenêutica Jurídica (métodos gramatical, sistemático, teleológico etc.) e constrói sentido numa estrutura lógica hipotético-condicional (a norma jurídica!). Dito isso de outro modo, de acordo com as premissas aqui adotadas, toda norma jurídica possui uma estrutura “hipotético-condicional”, ou seja, é representada formalmente por uma hipótese (H), também chamada de antecedente normativo, associada a uma conseqüência jurídica (C). A hipótese é o relato de um evento abstrato qualquer (a hipótese de incidência) que, se ocorrido (condição), “deve-ser” (conectivo deôntico) uma conseqüência jurídica consistente num comando expresso por um dos 03 (três) modais deônticos: vedado, obrigatório ou permitido (se “F” é, então deve-ser “C”). No caso da norma jurídica que cria um tributo, a hipótese de incidência tributária sempre trará a descrição de um evento lícito com conteúdo econômico (auferir renda, importar produtos do exterior, ser proprietário de veículo automotor etc.) que, se e quando ocorrer no mundo concreto, deverá desencadear, de maneira automática e infalível, uma conseqüência jurídica contendo um comando com modal deôntico “obrigatório” (obrigado a pagar o tributo X, Y ou Z). É importante esclarecer que, na terminologia empregada pelo Código Tributário Nacional (artigo 114), a hipótese de incidência tributária é chamada de “fato gerador”. A norma jurídica em sentido estrito, para ser bem visualizada, pode ser desenhada numa estrutura-padrão denominada regra-matriz de incidência tributária (sigla “RMI”). A RMI traz no seu antecedente normativo, também chamado “descritor”, a descrição de um evento abstrato chamado “hipótese de incidência tributária”, a qual é identificada por três critérios: (a) critério material: é o núcleo da hipótese de incidência tributária; é a materialidade da hipótese, expressa sempre por um verbo no infinitivo e por um complemento. Pode ser resumida na seguinte indagação: “o que deve ocorrer, no mundo Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 3 concreto, para que surja a obrigação jurídica de pagar o tributo?”; (b) critério espacial: é o local onde a lei considera ocorrido o fato jurídico tributário. Pode ser resumido na seguinte pergunta: “onde deve ocorrer o evento descrito, para que surja a obrigação jurídica de pagar o tributo?”; (c) critério temporal: é o momento em que a lei considera ocorrido o fato jurídico tributário. Pode, igualmente, ser resumido na seguinte indagação: “quando deve ocorrer o evento descrito, para que surja a obrigação jurídica de pagar o tributo?” Explicando a “hipótese de incidência tributária”: para a boa compreensão da mensagem legislativa contida na hipótese de incidência tributária (fato gerador), é possível detalhá-la em um critério material (verbo mais complemento), chamado núcleo da hipótese, em que há referência a um comportamento humano condicionado por circunstâncias de espaço (critério espacial) e de tempo (critério temporal). O critério espacial é a indicação do lugar em que o fato deve ocorrer, enquanto o critério temporal implica no instante em que o legislador considera ocorrido o fato. Por outro lado, a RMI traz no seu conseqüente normativo, também chamado “prescritor”, a prescrição de uma obrigação jurídica consistente no dever, do sujeito passivo, de entregar certa quantia em dinheiro ao sujeito passivo, a título de tributo. Assim, o conseqüente normativo da norma tributária em sentido estrito prescreverá sempre uma obrigação tributária, a qual é identificada por dois critérios, quais sejam: (a) critério pessoal: é a identificação do sujeito ativo (credor da obrigação) e do sujeito passivo (devedor da obrigação); e (b) critério quantitativo: uma quantia fixa ou os elementos para se calcular o tributo: alíquota ou base de cálculo. Explicando o “consequente normativo”: a obrigação tributária prescrita no consequente normativo consiste numa relação jurídica em que um sujeito ativo (credor) terá o “poder-dever” de exigir a prestação de um sujeito passivo (devedor), no caso, a entrega de quantia em dinheiro. Por isso, dois são os critérios que identificam a obrigação de pagar o tributo: o critério pessoal (sujeito ativo e passivo) e o critérioquantitativo (quantia fixa ou dimensionamento do conteúdo econômico da hipótese pela aplicação de uma alíquota sobre uma base de cálculo). É importante comentar que o sujeito ativo (credor) não possui apenas um “direito subjetivo” em face do devedor, e sim, como dito anteriormente, um “poder-dever”, uma vez que os tributos, por definição legal (artigo 3º do CTN), são cobrados mediante atividade administrativa plenamente vinculada (ou seja, sua cobrança não deve ocorrer segundo juízos discricionários de oportunidade e/ou conveniência). Mirando-se o critério quantitativo, conforme leciona Paulo de Barros Carvalho, são três as funções da base de cálculo: (i) medir o conteúdo econômico da hipótese, ou seja, “medir as proporções reais do fato”; (ii) “compor a específica determinação da dívida”; e (iii) “confirmar, infirmar ou afirmar o verdadeiro critério material da descrição contida no antecedente da norma”. Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 4 Exemplo da Regra-Matriz de Incidência Tributária (simplificada) do IPTU: ANTECEDENTE NORMATIVO (HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA): “Ser proprietário de bem imóvel, por natureza ou por acessão física, localizado no perímetro urbano do Município de Londrina/Pr, no dia primeiro de janeiro.”. Ou seja: Critério Material: ser proprietário de bem imóvel por natureza ou por acessão física Critério Espacial: localizado no perímetro urbano do Município de Londrina/Pr Critério Temporal: dia 1º de janeiro CONSEQUENTE NORMATIVO (OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA): “Obrigação tributária consistente no dever jurídico, do proprietário do imóvel, de pagar o IPTU ao Município de Londrina, na quantia resultante da aplicação da alíquota de 1% sobre o valor venal do imóvel.” Critério Pessoal: Sujeito Ativo: o Município de Londrina/Pr Sujeito Passivo (contribuinte): o proprietário do imóvel Critério Quantitativo: Alíquota: 1% (um por cento) Base de Cálculo: valor venal do imóvel Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 5 Tema nº 02 Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza 1. NOME: Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza ou simplesmente Imposto de Renda (IR) 2. COMPETÊNCIA: União Federal (art. 153, inciso III, CF/88) 3. NORMAS COMPLEMENTARES (ART. 146, III, “a”, CF/88): Arts. 43 a 45 do CTN. 4. INSTITUIÇÃO ATUAL: veículos normativos principais: Pessoas Físicas (Leis nº 7.713/88, 9.250/95 e alterações); Pessoas Jurídicas (Leis nº 9.249/05, 9.430/96 e alterações). O imposto sobre a renda, na forma em que é conhecido hoje, foi instituído no Brasil em 1922, conforme artigo 31 da Lei de Orçamento nº 4.625/22. 5. REGULAMENTAÇÃO: Decreto nº 3.000/99 – Regulamento do Imposto de Renda – RIR. 6. FINALIDADE PRINCIPAL DO IMPOSTO: fiscalidade (principal) e extrafiscalidade (secundária). O imposto de renda cumpre papel principal de fonte de arrecadação tributária, de modo que a sua finalidade precípua é a fiscalidade. É o imposto federal campeão em arrecadação. Cumpre, também, função de redistribuição de riquezas e de desenvolvimento econômico regional e setorial. Como instrumento de redistribuição de riquezas, observa-se que a CF/88, em seu artigo 159, inciso I, determina que a União entregará 21,5% do produto da arrecadação do IR ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal; 22,5% ao Fundo de Participação dos Municípios; mais 1% ao mesmo Fundo, segundo a inovação trazida pela EC nº 55/2007. Além disso, os arts. 157, I, e 158, I, da CF/88 estabelecem que pertencem aos Municípios, aos Estados e ao Distrito Federal 100% do produto da arrecadação do IR incidente na fonte, sobre rendimentos pagos por eles, suas autarquias e fundações que instituírem e mantiverem. Como instrumento para o desenvolvimento regional, cita-se que o artigo 159, I, “c”, da CF/88, determina que 3% do produto da arrecadação do IR deve ser aplicado em programas de financiamento do setor produtivo das regiões Norte, Nordeste e Centro- Oeste. Observa-se, também, que a legislação do IR estabelece incentivos fiscais para as áreas sob a administração da ADENE (Agência do Desenvolvimento do Nordeste, que sucedeu à SUDENE) e da ADA (Agência do Desenvolvimento da Amazônia, que sucedeu à SUDAM). Já como instrumento de desenvolvimento setorial, cita-se os incentivos fiscais às áreas e atividades sob administração da SUDEPE (Superintendência do Desenvolvimento da Pesca). Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 6 7. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ESPECÍFICOS: Art. 153, §2º, I, CF/88: “o imposto de renda será informado pelos critérios da generalidade, universalidade e da progressividade, na forma da lei”. Segundo o princípio da generalidade, o IR deve incidir e ser cobrado, tanto quanto possível, de todas as pessoas, como conseqüência do princípio da isonomia jurídica, pelo qual é constitucionalmente vedado qualquer tratamento diferenciado em razão da ocupação profissional do contribuinte. “Isso não significa que todos devem pagar tributos de maneira ampla, uma vez que a obrigação de contribuir para os cofres do Estado diz respeito somente àqueles que têm capacidade econômica para fazê-lo. Essa a razão pela qual a lei estabelece isenções tributárias, especialmente para que o tributo não alcance aquele mínimo de renda necessária à sobrevivência digna do ser humano”.2 O imposto deve ser cobrado de todas as pessoas que demonstrarem capacidade contributiva pela obtenção da disponibilidade jurídica ou econômica de renda ou proventos de qualquer natureza. Pelo princípio da universalidade, o IR deve incidir sobre todas as rendas auferidas pelos contribuintes num determinado período de tempo. Deve incidir sobre todas as espécies de acréscimo patrimonial, sem tratamento diferenciado entre determinadas rendas e proventos. Vale dizer, o IR não deve ser seletivo, porque não se pode tributar mais algumas espécies de acréscimo patrimonial e menos outras. Não pode haver discriminação a partir da origem da renda ou da denominação dos rendimentos. Já pelo princípio da progressividade, quanto maior for o acréscimo patrimonial num dado período de tempo, maior deverá ser a alíquota. Este critério determina a existência de diversas alíquotas para o IR, de acordo com a faixa de renda do contribuinte. E a aplicação das alíquotas progressivas deve dar-se de uma só vez, e não em parcelas de acréscimo, segregando rendas, sob pena de se violar o referido princípio. A progressividade, portanto, guarda estreita relação com o critério quantitativo da regra- matriz de incidência. 7.1 MITIGAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE: a lei que cria uma nova tributação do IR ou majora uma tributação já existente deve obedecer ao princípio da anterioridade de exercício, porém, não está sujeita ao princípio da anterioridade nonagesimal (art. 150, §1o, da CF/88). 8 TIPO DE LANÇAMENTO: lançamento por homologação. 9. HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA: 9.1 Critério Material: 2 vide Luiz Emygdio F. da Rosa Jr., in Manual de Direito Financeiro e Direito Tributário, 18.ed., São Paulo: Renovar, 2005, p. 873. Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em DireitoTributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 7 O critério material da hipótese de incidência do IR é “adquirir disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou proventos de qualquer natureza” (art. 153, III, CF/88, art. 43, CTN). O artigo 153, inciso III, da CF/88 traz norma de competência tributária segundo a qual compete à União instituir imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza. Questão de suma relevância é perquirir se há algum conceito implícito ou explícito de renda, passível de ser extraído da Constituição Federal. Ou será que o conceito de “renda” poderia ser livremente estabelecido pelo legislador infraconstitucional? Merece destaque a lição do Prof. José Artur Lima Gonçalves, para quem “está sedimentado que o conceito de renda não pode ficar – e não fica – à disposição do legislador infraconstitucional e que, por outro lado, o conceito de renda não está explicitado no texto constitucional, impõe-se deduzir um conceito de renda pressuposto pela constituição”.3 O autor citado e o Prof. Paulo Ayres Barreto entendem que a Constituição Federal pressupõe um conceito de renda consistente em um acréscimo decorrente do confronto de certas entradas e certa saídas, ocorridas ao longo de um dado período (no caso, anual). Assim, o conceito mínimo constitucional de renda estaria atrelado à idéia de acréscimo patrimonial, ou seja, riqueza nova (acréscimo que pode ter sido consumido ou poupado, porém). Nesse mesmo sentido pronunciou-se o Supremo Tribunal Federal, no RE 17.887-6/SP. Esta bem aceita teoria de que haveria um “conceito constitucional implícito de renda” decorre da interpretação dos artigos 145, §1º, e 153, §2º, inciso I, da Constituição Federal, que determinam que o imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza deve pautar-se pelos princípios da pessoalidade, capacidade contributiva, generalidade, universalidade e progressividade. Assim, analisando o conceito trazido acima, por “acréscimo” ou modificação patrimonial positiva entende-se saldo positivo resultante do confronto entre determinadas entradas e determinadas saídas. Diz-se “determinadas” entradas e “determinadas” saídas porque não é qualquer inclusão ou exclusão patrimonial que pode revelar capacidade contributiva. A lei deverá estabelecer os ingressos e as saídas que serão considerados para a quantificação da base de cálculo do imposto. A idéia de período também deflui implicitamente da Constituição, porque entradas e saídas vistas isoladamente não podem, por si só, denotar a capacidade econômica de quem quer que seja. Há que se buscar a chamada renda global, que é o cotejo entre os acréscimos e as perdas patrimoniais num dado período de tempo. Parte considerável da doutrina entende que a periodicidade do imposto deva ser anual, porque anual é o ritmo tributário e das finanças públicas à luz da Constituição (orçamento anual, princípio da 3 Imposto sobre a Renda: pressupostos constitucionais. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 170-1. Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 8 anterioridade etc.). A segregação da renda, com a tributação de certos rendimentos em separado, pode violar os princípios da pessoalidade e da capacidade contributiva, decorrentes da isonomia tributária, porque possibilita que uma pessoa sofra a exação levando-se em consideração seu capital num único instante, isolado do contexto anual, sem analisar a ocorrência de perdas/ganhos em outros períodos recentes. O CTN, por sua vez, em seu artigo 43, também adotou o conceito de renda como acréscimo. Assim, definiu no inciso I a renda como produto do capital (juros, rendimentos de aplicação financeira, ganhos de capital etc), do trabalho (remuneração do prestador de serviço, com ou sem vínculo empregatício) ou da combinação de capital e trabalho (lucro); e os proventos de qualquer natureza como os acréscimos patrimoniais não compreendidos no conceito de renda (como aposentadorias, pensões e prêmios de loterias e outros concursos de prognósticos). Pelo exposto, conclui-se que a União, ao instituir e cobrar o IR, deve observar a materialidade adotada implicitamente na CF/88, e explicitamente no CTN, como um “acréscimo patrimonial”. Por este motivo, não pode haver a incidência do IR sobre “riquezas velhas”, ou seja, auferidas em reparação de um patrimônio anteriormente lesado, com as verbas de natureza indenizatória, tais como: indenização recebida em virtude de desapropriação amigável ou judicial (Sum 39, TFR); pagamento de férias não gozadas e respectivo adicional constitucional de 1/3 (proporcionais ou vencidas, por ocasião da rescisão do contrato de trabalho); recebimento do abono pecuniário de férias preconizado no artigo 143 da CLT, bem como respectivo adicional constitucional de 1/3 (art. 7º, inciso XVII, da CF/88); incentivo à demissão voluntária (PDV); aviso prévio indenizado etc. Pelos mesmos motivos, o egrégio Superior Tribunal de Justiça tem formado jurisprudência no sentido de não admitir a incidência do IR sobre valores recebidos a título de indenização por danos morais e de juros de mora (estes por serem, à luz do Direito Civil, uma indenização pré-fixada pela não fruição do numerário em virtude da inadimplência). Vale conferir: “IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DA PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ PARA APRECIAR A MATÉRIA. AFASTAMENTO. NÃO-INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE RENDA. I - Fica caracterizada a competência da 1ª Seção do STJ, com base no § 1º do art. 9º do RISTJ, para apreciar o recurso especial que gravita em torno de decisão no processo de execução, onde restou consignado que o ora agravante não poderia realizar a retenção de imposto de renda para repasse à FAZENDA NACIONAL sobre a verba devida à ora agravada referente a dano moral. Na hipótese dos autos a matéria deduzida em juízo é de direito público. II - A Colenda Primeira Seção, no julgamento do REsp 963.387/RS, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, em 08 de outubro de 2008, por maioria, consignou que não incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais. Explicitou- Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 9 se que a indenização por dano moral limita-se a recompor o patrimônio imaterial da vítima, não tendo vinculação com o patrimônio real, ipso facto, inobservada na hipótese a aquisição de acréscimo patrimonial compatível com o comando do artigo 43 do CTN, tem-se afastada a incidência da exação. Precedentes: REsp nº 869.237/RS, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJ de 17/05/2007 e REsp nº 410.347/SC, Rel. Min. LUIZ FUX, DJ de 17/02/2003. III - Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1017901/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/11/2008, DJe 12/11/2008)” “TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL – IMPOSTO DE RENDA – VERBAS INDENIZATÓRIAS – ALEGADA OMISSÃO NO ACÓRDÃO EMBARGADO – AUSÊNCIA DE VÍCIO NO JULGADO – INCONFORMAÇÃO COM A TESE ADOTADA PELA SEGUNDA TURMA – MUDANÇA DE ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL – IMPOSSIBILIDADE DE EFEITOS INFRINGENTES – PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA. 1. A embargante, inconformada, busca efeitos modificativos, com a oposição destes embargos declaratórios, uma vez que pretende ver reexaminada e decidida a controvérsia de acordo com sua tese. 2. "Os valores recebidos pelo contribuinte a título de juros de mora, na vigência do Código Civil de 2002, têm natureza jurídica indenizatória. Nessa condição, portanto, sobre eles não incide impostode renda, consoante a jurisprudência sedimentada no STJ." (REsp 1037452/SC, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 20.5.2008, DJ 10.6.2008). 3. O princípio da segurança jurídica preconiza que a mudança de entendimento jurisprudencial sobre a matéria não autoriza o manejo dos embargos de declaração com pretensão de efeitos infringentes. Embargos de declaração rejeitados.” (EDcl no REsp 1085741/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/03/2009, DJe 14/04/2009) Ao julgar o AgRG nos EREsp 1163490/SC, conforme acórdão publicado no final de março de 2012, a 1ª Seção do STJ confirmou que por ocasião do julgamento proferido no REsp 1.227.133/RS, na sistemática do artigo 543-C do CPC, firmou-se o entendimento de que o imposto de renda incide sobre os juros de mora (hipótese de incidência), salvo quando pagos no contexto da rescisão do contrato de trabalho (isenção: art. 6º, V, da Lei 7.713/1988), ou quando a verba principal que lhe deu origem não for tributável (regra segunda a qual o acessório segue o principal), tais como verbas indenizatórias (reparação por danos morais, aviso prévio e férias indenizadas, dentre outros etc). Veja um aresto que bem sintetiza esse entendimento, PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. INCIDÊNCIA SOBRE JUROS DE MORA. VERBA SALARIAL DE SERVIDOR PÚBLICO PAGA COM ATRASO. ENTENDIMENTO PACIFICADO NA PRIMEIRA SEÇÃO Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 10 DO STJ. 1. A Primeira Seção do STJ, ao julgar, como recurso repetitivo, o REsp 1.227.133/RS (DJe de 19.10.2011), proclamou que não incide Imposto de Renda sobre os juros moratórios vinculados a verbas trabalhistas reconhecidas em decisão judicial, quando pagos tais juros em contexto de rescisão do contrato de trabalho. No julgamento do REsp 1.089.720/RS (DJe de 28.11.2012), a Primeira Seção do STJ reafirmou a orientação do recurso repetitivo acima, ocasião em que deixou consignado que é legítima a tributação dos juros de mora pelo Imposto de Renda, salvo a existência de norma isentiva específica (art. 6º, V, da Lei 7.713/1988, que desobriga do imposto de renda inclusive os juros de mora devidos no contexto de rescisão do contrato de trabalho) ou a constatação de que a verba principal, a que se referem os juros, é isenta ou fora do campo de incidência do imposto de renda (tese em que o acessório segue o principal). 2. No caso, em que se trata de juros de mora devidos pelo pagamento extemporâneo de verbas remuneratórias de servidores públicos, incide imposto de renda sobre tais juros. 3. Agravo Interno não provido (AgInt no AREsp. 897.171/SP, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 6.9.2016). Tais critérios de tributação dos juros de mora, pelo IR, constam do Tema n. 470 de Recursos Repetitivos do e. STJ. Ademais, encontra-se pendente de julgamento no STJ a questão atinente à tributação dos juros de mora auferidos nas ações previdenciárias, ou seja, juros decorrentes do pagamento em atraso de benefício previdenciário (Tema n. 878 de Recursos Repetitivos). É importante comentar, porém, que a palavra final acerca da incidência ou não do IR sobre juros auferidos por pessoa física será dada pelo Supremo Tribunal Federal, uma vez que o tema foi afetado à repercussão geral no âmbito do RE 855.091. Por fim, o artigo 43, do CTN, determina ser hipótese de incidência a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica da renda e dos proventos de qualquer natureza. A doutrina diverge quanto à interpretação de tais expressões: (a) HUGO DE BRITO MACHADO - Por disponibilidade econômica entende-se o recebimento efetivo da renda ou proventos. “Já a disponibilidade jurídica decorreria do simples crédito desse valor, do qual o contribuinte passa a juridicamente dispor, embora este não lhe esteja ainda nas mãos”. A disponibilidade jurídica, no entanto, pressupõe a ausência de obstáculos jurídicos a serem removidos. Cita o exemplo de um proprietário de imóvel credor de aluguéis. Não sendo pago ou creditado o aluguel, não haveria disponibilidade, mas simples direito de ação (no caso, execução). (b) JOSÉ EDUARDO SOARES DE MELLO – “disponibilidade jurídica consiste no direito de usar a renda, ou os proventos, definitivamente constituídos na forma da lei, alcançado os atos e operações colhidos pelo direito, como é o caso de salários, honorários, vencimentos etc.” “A disponibilidade econômica concerne a uma Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 11 situação de fato irrelevante ao direito (ganho de jogos), ou até mesmo de atividade ilícita (contrabando, juros usurários etc.).” “Toda disponibilidade jurídica seria econômica (implicadora de uma situação patrimonial), nem toda econômica seria jurídica”. A mesma linha é seguida por RICARDO ALEXANDRE, para o qual: “A disponibilidade jurídica significa a possibilidade de utilizar a renda ou os proventos de qualquer natureza que tenham sido obtidos em consonância com o direito, como ocorre no recebimento de vencimentos, honorários e lucros de investimentos financeiros. A disponibilidade econômica decorre de fato irrelevante ao direito, como os ganhos obtidos como jogos ou, até mesmo, com atividades ilícitas, mas que resultam em aumento patrimonial (tráfico de drogas, prática de usura).”4 9.2 Critério Temporal (momento da ocorrência do “fato gerador”): Em regra, é o último átimo de segundo do dia 31 de dezembro de cada ano (os recolhimentos mensais seriam antecipações do imposto devido no ajuste anual). Assim, a existência ou não de renda é algo que deva ser averiguado considerando a situação do contribuinte no último instante do ano, eis que, como visto nesta aula, “renda” é um saldo positivo decorrente do confronto entre certos ingressos patrimoniais e despesas ocorridos ao longo de um período. Excepcionalmente, o legislador ordinário do IR estabelece (sob crítica da doutrina), que determinados rendimentos devem ser tributados separadamente dos demais. Trata-se da chamada tributação segregada (são os rendimentos tributados exclusivamente na fonte ou os rendimentos sujeitos a tributação definitiva) que será vista posteriormente. Nesses casos, o critério temporal não será o último instante do dia 31 de dezembro, e sim o momento em que o rendimento segregado é auferido (como 13º salário, ganho de capital na alienação de imóveis ou ações, prêmios de loterias etc.) O artigo 43, §2º, do CTN, giza que “Na hipótese de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei estabelecerá as condições e o momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do imposto referido neste artigo.” Nesse aspecto, a Medida Provisória 2.158-35, de 24 de agosto de 2001, artigo 74, dispõe que para fins de determinação da base de cálculo do IR e da CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido), “os lucros auferidos por empresa controlada ou coligada no exterior serão considerados disponibilizados para a controladora ou coligada no Brasil na data do balanço no qual tiverem sido apurados, na forma do regulamento.” A Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.588, proposta pela Confederação Nacional da Indústria – CNI, questiona o referido dispositivo de Medida Provisória, uma vez que ele estabelece uma “automática” disponibilidade econômica ou jurídica, em favor da controladora ou coligada no Brasil, do lucro auferido pela controlada ou coligada no exterior, na data do balanço no qual tiver sido apurado, enquanto o correto, segundo a ADI, seriaa data da 4 Direito Tributário Esquematizado. 1.ed. São Paulo: Método, 2007, p. 507. Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 12 distribuição do lucro à empresa controladora ou coligada no Brasil. Sustenta-se, na ADI, que o lucro apurado pela controlada/coligada no exterior pode nunca vir a ser distribuído à controladora/coligada no Brasil. A ADI nº 2.588 foi julgada em 2013 e o seu resultado foi a declaração de interpretação conforme ao dispositivo questionado, nos seguintes termos: “TRIBUTÁRIO. INTERNACIONAL. IMPOSTO DE RENDA E PROVENTOS DE QUALQUER NATUREZA. PARTICIPAÇÃO DE EMPRESA CONTROLADORA OU COLIGADA NACIONAL NOS LUCROS AUFERIDOS POR PESSOA JURÍDICA CONTROLADA OU COLIGADA SEDIADA NO EXTERIOR. LEGISLAÇÃO QUE CONSIDERA DISPONIBILIZADOS OS LUCROS NA DATA DO BALANÇO EM QUE TIVEREM SIDO APURADOS (“31 DE DEZEMBRO DE CADA ANO”). ALEGADA VIOLAÇÃO DO CONCEITO CONSTITUCIONAL DE RENDA (ART. 143, III DA CONSTITUIÇÃO). APLICAÇÃO DA NOVA METODOLOGIA DE APURAÇÃO DO TRIBUTO PARA A PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS APURADA EM 2001. VIOLAÇÃO DAS REGRAS DA IRRETROATIVIDADE E DA ANTERIORIDADE. MP 2.158-35/2001, ART. 74. LEI 5.720/1966, ART. 43, § 2º (LC 104/2000). 1. Ao examinar a constitucionalidade do art. 43, § 2º do CTN e do art. 74 da MP 2.158/2001, o Plenário desta Suprema Corte se dividiu em quatro resultados: 1.1. Inconstitucionalidade incondicional, já que o dia 31 de dezembro de cada ano está dissociado de qualquer ato jurídico ou econômico necessário ao pagamento de participação nos lucros; 1.2. Constitucionalidade incondicional, seja em razão do caráter antielisivo (impedir “planejamento tributário”) ou antievasivo (impedir sonegação) da normatização, ou devido à submissão obrigatória das empresas nacionais investidoras ao Método de de Equivalência Patrimonial – MEP, previsto na Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404/1976, art. 248); 1.3. Inconstitucionalidade condicional, afastada a aplicabilidade dos textos impugnados apenas em relação às empresas coligadas, porquanto as empresas nacionais controladoras teriam plena disponibilidade jurídica e econômica dos lucros auferidos pela empresa estrangeira controlada; 1.4. Inconstitucionalidade condicional, afastada a aplicabilidade do texto impugnado para as empresas controladas ou coligadas sediadas em países de tributação normal, com o objetivo de preservar a função antievasiva da normatização. 2. Orientada pelos pontos comuns às opiniões majoritárias, a composição do resultado reconhece: 2.1. A inaplicabilidade do art. 74 da MP 2.158-35 às empresas nacionais coligadas a pessoas jurídicas sediadas em países sem tributação favorecida, ou que não sejam “paraísos fiscais”; 2.2. A aplicabilidade do art. 74 da MP 2.158-35 às empresas nacionais controladoras de pessoas jurídicas sediadas em países de tributação favorecida, ou desprovidos de controles societários e fiscais adequados (“paraísos fiscais”, assim definidos em lei); 2.3. A inconstitucionalidade do art. 74 par. ún., da MP 2.158-35/2001, de modo que o texto impugnado não pode ser aplicado em relação aos lucros apurados até 31 de dezembro de 2001. Ação Direta de Inconstitucionalidade conhecida e julgada parcialmente procedente, para dar interpretação conforme ao art. 74 da MP 2.158-35/2001, bem como para declarar a inconstitucionalidade da clausula de retroatividade prevista no art. 74, par. ún., Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 13 da MP 2.158/2001. (ADI 2588, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 10/04/2013, DJe-027 DIVULG 07-02-2014 PUBLIC 10-02-2014 EMENT VOL-02719-01 PP- 00001) 9.3 Critério Espacial (local de ocorrência do fato gerador): É a base territorial global ou universal. São passíveis de tributação tanto a renda auferida nos lindes do território nacional, como a renda obtida fora de seus limites, independentemente do lugar onde tal renda tenha sido gerada. Em princípio5, toda renda obtida por pessoa física ou jurídica sobre a qual o Brasil possa exercitar sua soberania (residência ou domicílio no BR) fica sujeita à incidência do imposto. Esta chamada base global do imposto de renda decorre do critério da universalidade (art. 153, §2º, I, CF/88), e encontra-se positivada no artigo 43, 1º, do CTN, segundo o qual a incidência do imposto independe da origem da renda e da nacionalidade de sua fonte. 10. ELEMENTOS DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA (conseqüente normativo): 10.1 Sujeitos da Obrigação: 10.1.1 Sujeito Ativo: União Federal. A redação original da CF/88, artigo 155, II, outorgava aos Estados e ao DF competência tributária para instituir um adicional de IR de até 5% do que fosse pago à União por pessoas físicas ou jurídicas domiciliadas nos respectivos territórios. No entanto, a EC 3/93 revogou o dispositivo, depois de o STF ter julgado inconstitucional lei estadual que pretendeu criar tal adicional, por considerar necessária a edição de lei complementar definindo a hipótese de incidência do tributo. Sendo assim, pela atual redação constitucional, a União é o único ente político com competência tributária relativamente ao IR. 10.1.2 Sujeito Passivo: Contribuinte é a pessoa física ou jurídica, domiciliada ou residente no Brasil, titular da disponibilidade econômica ou jurídica da renda ou proventos de qualquer natureza (art. 2º, do RIR). São equiparadas às pessoas jurídicas as empresas individuais, as firmas individuais e as pessoas físicas que, em nome individual, explorem, habitual e profissionalmente, 5 Diga-se, “em princípio”, porque o Brasil é signatário de acordos internacionais que visam coibir a dupla tributação da renda (tributação no país onde a renda é produzida e também no país para onde ela é remetida). Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 14 qualquer atividade econômica de natureza civil ou comercial, com o fim de lucro, mediante venda de bens ou serviços (em se tratando de profissional liberal, a equiparação à pessoa jurídica somente ocorre se restar configurada a existência de atividade empresarial, geralmente pela contratação de outros profissionais). Segundo o artigo 45, parte final, do CTN, a lei pode atribuir a condição de contribuinte ao possuidor, a qualquer título, dos bens produtores de renda ou dos proventos tributáveis. O dispositivo, bem contestável, aplica a teoria da fonte. Segundo a regra em questão, se a renda ou os proventos forem pagos por fonte brasileira, então se considera contribuinte a fonte, situação em que o imposto estaria incidindo sobre uma despesa e não sobre uma renda ou acréscimo patrimonial do contribuinte. Segundo o CTN, artigo 45, parágrafo único, a lei pode atribuir à fonte pagadora da renda ou dos proventos a responsabilidade pela retenção e recolhimento do imposto (ex. empregador). Nesse caso, contribuinte é quem aufere a renda ou proventos, e a fonte pagadora será responsável tributária por substituição (quem aufere a renda é substituído tributário; a fonte é substituta tributária). PESSOA FÍSICA Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza 10.2 Critério Quantitativo: 10.2.1 Base de Cálculo: A base de cálculo do imposto de renda devido pela pessoa física no ano-calendário seráa diferença entre as somas de todos os rendimentos percebidos no ano-calendário, exceto os isentos, os não-tributáveis, os tributáveis exclusivamente na fonte e os sujeitos à tributação definitiva, com as deduções apontadas na lei (artigo 8º, inciso II, da Lei 9250/95). Já se adiantou que a materialidade do IR é, em palavras simples, o acréscimo patrimonial decorrente de certas entradas e saídas ao longo do ano. As entradas (rendimentos) e as saídas (despesas) que serão consideradas no cômputo da base de cálculo do IR estão estabelecidas em lei. Sendo assim, a lei determina quais rendimentos da pessoa física serão considerados isentos ou não-tributados, sobre os quais não incidirá o imposto, tais como: a) os rendimentos auferidos em contas de depósitos de poupança; b) o valor dos bens adquiridos por doação ou herança; Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 15 c) a ajuda de custo destinada a atender às despesas com transporte, frete e locomoção do beneficiado e seus familiares, em caso de remoção de um município para outro, sujeita à comprovação posterior pelo contribuinte; d) o ganho de capital na alienação de bens e direitos de pequeno valor (limite de R$ 20 mil para ações negociadas no mercado de balcão; e R$ 35 mil nos demais casos); e) o ganho de capital na alienação de único bem imóvel, desde que não tenha sido realizada qualquer outra alienação dos últimos 5 anos (limite de R$ 440.000,00); f) o ganho de capital na alienação de bens imóveis adquiridos até 1969; g) o ganho auferido por pessoa física residente no País na venda de imóveis residenciais, desde que o alienante, no prazo de 180 dias contado da celebração do contrato, aplique o produto da venda na aquisição de imóveis residenciais localizados no País; h) o seguro desemprego; a indenização por rescisão de contrato de trabalho; PIS- PASEP; rendimentos de pensão e aposentadoria de pessoas acometidas por determinadas doenças graves (como AIDS); e i) outros rendimentos que a lei considera isentos. Quando a lei determina a tributação do IR exclusivamente na fonte, como por exemplo os rendimentos provenientes de prêmios distribuídos sob a forma de bens e serviços, mediante concursos e sorteios de qualquer espécie (como loterias) e o 13o salário; ou determina casos da chamada tributação definitiva, como na incidência sobre rendimentos de aplicações financeiras da pessoa física, bem como no ganho de capital (lucro obtido na venda de bens), tem-se uma tributação do IR sobre rendimentos de forma segregada, separada dos demais ganhos, de modo que esses rendimentos não entrarão no ajuste anual feito pelo contribuinte em sua declaração. Como em regra não se pode tributar o rendimento propriamente dito, mas a renda, como “acréscimo”, observada ao longo do ano, a lei estabelece as deduções de certas despesas da base de cálculo do imposto, cujos valores se presume terem sido revertidos para o custeio próprio do contribuinte e o de seus dependentes. As despesas6 dedutíveis na base de cálculo do IRPF são (devem estar amparadas por documentação idônea): a) despesas médicas relativamente ao contribuinte e seus dependentes7 (sem limite de valor): os pagamentos efetuados, no ano-calendário, a médicos, 6 Cf. Lei 12.469/2011. 7 São considerados dependentes: 1 - companheiro(a) com quem o contribuinte tenha filho ou viva há mais de 5 anos, ou cônjuge; 2 - filho(a) ou enteado(a), até 21 anos de idade, ou, em qualquer idade, quando incapacitado física ou mentalmente para o trabalho; 3 - filho(a) ou enteado(a) universitário ou cursando escola técnica de segundo grau, até 24 anos; 4 - irmão(ã), neto(a) ou bisneto(a), sem arrimo dos pais, de quem o contribuinte detenha a guarda judicial, até 21 anos, ou em qualquer idade, quando incapacitado física ou mentalmente para o trabalho; 5 - irmão(ã), neto(a) ou bisneto(a), sem arrimo dos pais, com idade de 21 anos até 24 anos, se ainda estiver cursando estabelecimento de ensino superior ou escola técnica de segundo grau, desde que o contribuinte tenha Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 16 dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e hospitais, bem como as despesas com exames laboratoriais, serviços radiológicos, aparelhos ortopédicos e próteses ortopédicas e dentárias; b) despesas com instrução do contribuinte e dos seus dependentes: os pagamentos limitados à quantia anual individual de R$ 3.091,35 (três mil, noventa e um reais e trinta e cinco centavos) para o ano-calendário de 2012; R$ 3.230,46 (três mil, duzentos e trinta reais e quarenta e seis centavos) para o ano-calendário de 2013; R$ 3.375,83 (três mil, trezentos e setenta e cinco reais e oitenta e três centavos) a partir do ano-calendário de 2014; R$ 3.561,50 (três mil, quinhentos e sessenta e um reais e cinquenta centavos), a partir do ano-calendário de 2015; efetuados a estabelecimentos de ensino, de educação infantil, compreendendo as creches e as pré-escolas; de ensino fundamental; de ensino médio; de educação superior (graduação, mestrado, doutorado e especialização) e educação profissional, compreendendo o ensino técnico e o tecnológico; c) o valor mensal por dependente de R$ 164,56 (cento e sessenta e quatro reais e cinquenta e seis centavos), para o ano-calendário de 2012; R$ 171,97 (cento e setenta e um reais e noventa e sete centavos), para o ano-calendário de 2013; R$ 179,71 (cento e setenta e nove reais e setenta e um centavos), a partir do ano- calendário de 2014; ; R$ 189,59 (cento e oitenta e nove reais e cinquenta e nove centavos), a partir do ano-calendário de 2015. Em valores anuais, por dependente: R$ 1.974,72 (mil, novecentos e setenta e quatro reais e setenta e dois centavos) para o ano-calendário de 2012; R$ 2.063,64 (dois mil, sessenta e três reais e sessenta e quatro centavos) para o ano-calendário de 2013; R$ 2.156,52 (dois mil, cento e cinquenta e seis reais e cinquenta e dois centavos) a partir do ano- calendário de 2014; R$ 2.275,08 (dois mil, duzentos e setenta e cinco reais e oito centavos) a partir do ano-calendário de 2015; d) a quantia, correspondente à parcela isenta dos rendimentos provenientes de aposentadoria e pensão, transferência para a reserva remunerada ou reforma, pagos pela Previdência Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por qualquer pessoa jurídica de direito público interno ou por entidade de previdência privada, a partir do mês em que o contribuinte completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, de: R$ 1.637,11 (mil, seiscentos e trinta e sete reais e onze centavos), por mês, para o ano-calendário de 2012; R$ 1.710,78 (mil, setecentos e dez reais e setenta e oito centavos), por mês, para o ano-calendário de 2013; R$ 1.787,77 (mil, setecentos e oitenta e sete reais e setenta e sete centavos), por mês, a partir do ano-calendário de 2014; R$ 1.903,98 (mil, detido sua guarda judicial até os 21 anos; 6 - pais, avós e bisavós, desde que não aufiram rendimentos, tributáveis, ou não, acima do limite de isenção mensal; 7 - menor pobre até 21 anos que o contribuinte crie e eduque e de quem detenha a guarda judicial; 8 - pessoa absolutamente incapaz, da qual o contribuinte seja tutor ou curador. Professor Convidado Alessandro Lucas SantosProcurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 17 novecentos e três reais e noventa e oito centavos), por mês, a partir do mês de abril do ano-calendário de 2015;. e) as contribuições para a Previdência Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; f) as contribuições para as entidades de previdência privada domiciliadas no País, cujo ônus tenha sido do contribuinte, destinadas a custear benefícios complementares assemelhados aos da Previdência Social, com limitação da dedução ao percentual de 12% (doze por cento) dos rendimentos do contribuinte, e sob a condição de que o contribuinte também esteja contribuindo ao regime geral ou a regime próprio da Previdência Social; g) às importâncias pagas a título de pensão alimentícia em face das normas do Direito de Família, quando em cumprimento de decisão judicial, inclusive a prestação de alimentos provisionais, de acordo homologado judicialmente, ou de escritura pública a que se refere o art. 1.124-A do Código de Processo Civil; e h) as despesas escrituradas no Livro Caixa, previstas nos incisos I a III do art. 6º da Lei nº 8.134, de 27 de dezembro de 1990, no caso de trabalho não-assalariado, inclusive dos leiloeiros e dos titulares de serviços notariais e de registro. As deduções que podem ser feitas na Declaração Anual são válidas também para fins de apuração do IR retido na fonte e pago através do chamado “carnê-leão” (ou seja, para fins das antecipações mensais do imposto), com exceção das despesas médicas e com instrução (educação). Desconto Simplificado – Independentemente do montante dos rendimentos tributáveis na declaração, recebidos no ano-calendário, o contribuinte poderá optar por desconto simplificado, que consistirá em dedução de 20% (vinte por cento) desses rendimentos, limitada à quantia de R$ 14.542,60 (quatorze mil, quinhentos e quarenta e dois reais e sessenta centavos) para o ano-calendário de 2012; R$ 15.197,02 (quinze mil, cento e noventa e sete reais e dois centavos) para o ano-calendário de 2013; R$ 15.880,89 (quinze mil, oitocentos e oitenta reais e oitenta e nove centavos) a partir do ano-calendário de 2014; R$ 16.754,34 (dezesseis mil, setecentos e cinquenta e quatro reais e trinta e quatro centavos) a partir do ano-calendário de 2015, na Declaração de Ajuste Anual, dispensada a comprovação da despesa e a indicação de sua espécie (Lei nº 9.250, de 1995, art. 10, e Medida Provisória nº 1.753-16, de 11 de março de 1999, art. 12). O desconto simplificado substitui todas as deduções cabíveis na declaração anual de ajuste. O montante determinado no ajuste anual constituirá, se positivo, saldo do imposto a pagar e, se negativo, valor a ser restituído. Com relação a esse ajuste anual, é importante esclarecer que o imposto recolhido no ano-calendário (como, por exemplo, o imposto retido pela fonte pagadora de salário) é considerado antecipação do pagamento e será compensado na declaração. O saldo do imposto apurado na declaração deverá ser Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 18 pago em parcela única, até o último dia do mês para a entrega da declaração de rendimentos. O imposto pode ser parcelado em 8 (oito) vezes, com incidência de SELIC. O imposto a restituir também sofre a incidência da citada taxa referencial. Nenhuma quota será inferior a R$ 50,00 (cinqüenta reais), e o imposto de valor inferior a R$ 100,00 (cem reais) será pago de uma só vez. A primeira quota deverá ser paga no mês fixado para a entrega da declaração de rendimentos. 10.2.2 Alíquotas: Nos termos do já comentado artigo 153, §2º, inciso I, da CF/88, o imposto de renda será informado pelo critério da progressividade, na forma da lei. A progressividade do IR é de natureza fiscal (e não extrafiscal, como a do ITR), uma vez que consiste num mecanismo para arrecadar mais de quem tem maior capacidade contributiva, prestigiando, assim, a isonomia tributária e a justiça fiscal. Quanto maior for o escalonamento de alíquotas (número de faixas de alíquotas), mais efetivamente se estará tratando diferentemente o desigual, o que é necessário para o atendimento do princípio da isonomia tributária. Quanto à tributação das pessoas físicas, entre 1979 e 2001, havia 12 (doze) faixas de alíquotas. No Brasil, chegou-se a estabelecer 13 faixas, com a maior delas em 60%. Em 1995, havia apenas 3 (três) alíquotas, tributando-se em 35% a renda anual de pessoas físicas superior a R$ 14.000,00. A Lei 9.250/95 suprimiu essa faixa de 35%, de maneira que, entre 1995 e 2008, o IR das pessoas físicas passou a ser calculado levando-se em conta apenas uma faixa de isenção, uma faixa de 15% e outra de 27,5% (o que não atende plenamente o princípio da progressividade, como já ponderado). Em dezembro de 2008, houve a criação de mais duas faixas intermediárias de alíquotas na Tabela Progressiva do IRPF (7,5% e 22,5%), com vigência a partir de 1º de janeiro de 2009. A Lei 12.469/2011 estabeleceu as tabelas vigentes até o ano-calendário de 2014: Tabela Progressiva Mensal: ano-calendário de 2012: Base de Cálculo (R$) Alíquota (%) Parcela a Deduzir do IR (R$) Até 1.637,11 - - De 1.637,12 até 2.453,50 7,5 122,78 De 2.453,51 até 3.271,38 15 306,80 De 3.271,39 até 4.087,65 22,5 552,15 Acima de 4.087,65 27,5 756,53 Tabela Progressiva Mensal: ano-calendário de 2013 Base de Cálculo (R$) Alíquota (%) Parcela a Deduzir do IR (R$) Até 1.710,78 - - De 1.710,79 até 2.563,91 7,5 128,31 Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 19 De 2.563,92 até 3.418,59 15 320,60 De 3.418,60 até 4.271,59 22,5 577,00 Acima de 4.271,59 27,5 790,58 Tabela Progressiva Mensal: ano-calendário de 2014: Base de Cálculo (R$) Alíquota (%) Parcela a Deduzir do IR (R$) Até 1.787,77 - - De 1.787,78 até 2.679,29 7,5 134,08 De 2.679,30 até 3.572,43 15 335,03 De 3.572,44 até 4.463,81 22,5 602,96 Acima de 4.463,81 27,5 826,15 Para o ano-calendário de 2015, até o mês de março: Base de Cálculo (R$) Alíquota (%) Parcela a Deduzir do IR (R$) Até 1.787,77 - - De 1.787,78 até 2.679,29 7,5 134,08 De 2.679,30 até 3.572,43 15 335,03 De 3.572,44 até 4.463,81 22,5 602,96 Acima de 4.463,81 27,5 826,15 A partir do mês de abril do ano-calendário de 2015: Base de Cálculo (R$) Alíquota (%) Parcela a Deduzir do IR (R$) Até 1.903,98 - - De 1.903,99 até 2.826,65 7,5 142,80 De 2.826,66 até 3.751,05 15 354,80 De 3.751,06 até 4.664,68 22,5 636,13 Acima de 4.664,68 27,5 869,36 Em valores vigentes para o ano-calendário 2012 (ano-exercício de 2013, ou seja, declaração a ser entregue em 2013), uma base de cálculo mensal, p. ex., de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), não será tributada (isenção) até R$ 1.637,11; o será a 7,5% quanto à parcela que exceder esse valor até R$ 2.453,50; a 15% quanto à parcela que exceder esse valor até R$ 3.271,38; a 22,5% quanto à parcela que exceder esse valor até R$ 4.087,65; e a 27,5% somente quanto à parte da base de cálculo que exceder este último valor. Logo, no exemplo dado, qualquer que seja a base de cálculo mensal, ela estará isenta do IR na sua porção até R$ 1.637,11, e estará sujeita à incidência progressiva das alíquotas, conforme a tabela vigente. Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL20 Para facilitar o cálculo, a tabela do IRPF traz a chamada “parcela a deduzir”. Veja o exemplo a seguir, considerando uma base de cálculo mensal de R$ 5.000,00 e a tabela progressiva vigente em 2017: a) Base de Cálculo Mensal.............................................................................R$ 5.000,00 b) Alíquota correspondente..................................................................................... 27,5% c) Subtotal (a x b) ...........................................................................................R$ 1.375,00 d) Parcela a deduzir.......................................................................................... R$ 869,36 e) Imposto a recolher na antecipação mensal (c – d).................................. R$ 505,64 PESSOA JURÍDICA Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza 10.3 Critério Quantitativo: 10.3.1 Base de Cálculo: A base de cálculo do imposto de renda das pessoas jurídicas é o montante real, arbitrado ou presumido, de renda ou dos proventos tributáveis, nos termos da lei (art. 44, CTN). a) Lucro real – O lucro real constitui a base de cálculo do imposto de renda das pessoas jurídicas em geral. Lucro real é “o lucro líquido do exercício ajustado pelas adições, exclusões ou compensações prescritas ou autorizadas pela legislação tributária (art. 6º, Decreto-lei 1598/77). Lucro líquido é a soma do lucro operacional, dos resultados não operacionais, do saldo da conta de correção monetária e das participações. “A pessoa jurídica apura os resultados de sua atividade (lucro ou prejuízo societário), de conformidade com os princípios e critérios contábeis, considerando as receitas (remunerações de prestações de serviços, venda de mercadorias, aplicações financeiras etc.), e os dispêndios (custos, despesas tributárias e financeiras, encargos trabalhistas e previdenciários etc.). Em seguida, promove os ajustes determinados pela lei tributária, mediante acréscimo (como a adição de lucros auferidos por controladas/coligadas no exterior) ou diminuição de determinados valores (como a compensação de prejuízos acumulados em períodos de apuração anteriores, limitados a 30% do lucro líquido), concluindo pela existência de resultado positivo (lucro real), ou negativo (prejuízo fiscal).”8 b) lucro presumido – é determinado pela aplicação de coeficientes legalmente definidos, entre 1,6% e 32% (quadro abaixo), sobre a receita bruta anual, conforme a natureza da atividade. O regime de lucro presumido é uma opção (jamais uma imposição legal) da empresa que atenda a certas exigências legais, inclusive, com relação a um limite de 8 vide José Eduardo Soares de Melo, Curso de Direito Tributário, 5.ed., São Paulo, Dialética, 2004, p. 341/342 Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 21 receita bruta anual (48 milhões), ficando, inclusive, dispensada de manter escrituração contábil. Atividades Percentuais (%) Atividades em geral (RIR/1999, art. 518) 8,0 Revenda de combustíveis 1,6 Serviços de transporte (exceto o de carga) 16,0 Serviços de transporte de cargas 8,0 Serviços em geral (exceto serviços hospitalares) 32,0 Serviços hospitalares e de auxílio diagnóstico e terapia, patologia clínica, imagenologia, anatomia patológica e citopatológica, medicina nuclear e análises e patologias clínicas 8,0 Intermediação de negócios 32,0 Administração, locação ou cessão de bens e direitos de qualquer natureza (inclusive imóveis) 32,0 c) lucro arbitrado – é o valor considerado pelo Fisco nos casos de ausência de escrituração na forma das leis comerciais e fiscais; falta de demonstrações financeiras; escrituração com vícios, falta de emissão de notas fiscais, erros ou deficiências etc. O contribuinte poderá optar pelo lucro arbitrado, quando conhecida sua receita bruta. O lucro arbitrado será um percentual da receita bruta, se esta for conhecida, fixado pelo Executivo levando-se em conta a natureza da atividade econômica do contribuinte (percentual do lucro presumido + 20%). “Não sendo conhecida a receita bruta, a autoridade poderá arbitrar o lucro com base no valor do ativo, do capital social, do patrimônio líquido, da folha de pagamento dos empregados, das compras, do aluguel das instalações ou do lucro líquido auferido pelo contribuinte em períodos anteriores”.9 Observa-se, porém, que se a irregularidade documental cometida pelo contribuinte não impedir a determinação do lucro real, este prevalecerá, não podendo se falar em arbitramento. 9 vide Hugo de Brito Machado, Curso de Direito Tributário, 26.ed., São Paulo: Malheiros, 2005, p. 320. Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 22 O imposto de renda das pessoas jurídicas será determinado com base no lucro real, presumido ou arbitrado, por períodos de apuração trimestrais, encerrados nos dias 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro de cada ano-calendário, consolidando-se os resultados na declaração anual de ajuste. Porém, a pessoa jurídica sujeita à tributação com base no lucro real pode optar pelo pagamento mensal do imposto, por estimativa, mediante a aplicação de percentuais sobre a receita bruta auferida mensalmente. d) Simples Nacional (Lei complementar nº 123/06): A Constituição Federal, em seu artigo 179, estabelece que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios “dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, pu pela eliminação ou redução destas por meio de lei”. Atendendo ao preceito constitucional, a Lei complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, estabeleceu o chamado “Estatuto Nacional da Micro-empresa e Empresa de Pequeno Porte”; revogou a Lei 9317/96 e instituiu regime especial e privilegiado de tributação que entrou em vigor no dia 1o de julho de 2007. Sobre as características do SIMPLES NACIONAL, veja, por oportuno, o seguinte quadro sistematizado no site Ministério da Fazenda: Características O Simples Nacional possui as seguintes características: 1. Abrange a participação de todos os entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). 2. É administrado por um Comitê Gestor composto por oito integrantes: quatro da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), dois dos Estados e do Distrito Federal e dois dos Municípios. 3. Para o ingresso no Simples Nacional é necessário o cumprimento das seguintes condições: • enquadrar-se na definição de microempresa ou de empresa de pequeno porte; • cumprir os requisitos previstos na legislação; e • formalizar a opção pelo Simples Nacional. 4. Características principais do Regime do Simples Nacional: Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 23 • ser facultativo; • ser irretratável para todo o ano-calendário; • abrange os seguintes tributos: IRPJ, CSLL, PIS/Pasep, Cofins, IPI, ICMS, ISS e a Contribuição para a Seguridade Social destinada à Previdência Social a cargo da pessoa jurídica; • apuração e recolhimento dos tributos abrangidos mediante documento único de arrecadação;• disponibilização às ME e às EPP de sistema eletrônico para a realização do cálculo do valor mensal devido; • apresentação de declaração única e simplificada de informações socioeconômicas e fiscais; • vencimento: I - até o último dia útil da primeira quinzena do mês subseqüente àquele em que houver sido auferida a receita bruta, para os fatos geradores ocorridos até 28 de fevereiro de 2009; II - até o dia 20 do mês subseqüente àquele em que houver sido auferida a receita bruta, para os fatos geradores ocorridos a partir de 1º de março de 2009. • possibilidade de os Estados adotarem sublimites de EPP em função da respectiva participação no PIB; A referida lei complementar, em seu artigo 3º, considerou microempresa a sociedade simples e o empresário a que se refere o artigo 966 do CC, desde que aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e empresa de pequeno porte, por sua vez, se auferir receita bruta anual superior a tal valor e igual e inferior a R$ 3.600,000,00 (três milhões e seiscentos mil reais). O artigo 17 da LC 123/06 elencava uma série de microempresas e empresas de pequeno porte que não poderiam recolher seus tributos no regime do Simples Nacional, como, por exemplo, as sociedades de advogados. Quanto a esses profissionais, a exemplo de outros segmentos importantes, a vedação foi derrubada pela LC 147/14. 10.3.2 Alíquotas: A alíquota do imposto de renda para as pessoas jurídicas é de 15%, sendo que a parcela do lucro (real, presumido ou arbitrado) que exceder o valor resultante da multiplicação de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) pelo número de meses do respectivo período de apuração (trimestral ou mensal), sujeitar-se-á à alíquota adicional de 10% (dez por cento). Exemplo: sociedade de advogados optante pela sistemática de tributação pelo lucro presumido, com receita bruta no trimestre de R$ 200.000,00. Aplicando-se o percentual de lucratividade presumida de 32% sobre a receita bruta, chega-se ao lucro presumido no trimestre de R$ 64.000,00. Sobre esta base de cálculo, aplica-se a alíquota de 15% Professor Convidado Alessandro Lucas Santos Procurador da Fazenda Nacional em Londrina E Especialista em Direito Tributário pelo IBET Mestre em Direito Negocial pela UEL 24 (totalizando R$ 9.600,00) e sobre a quantia de R$ 4.000,00 (parte excedente de R$ 60.000,00, que significam a multiplicação de R$ 20.000,00 pelo número de meses do período de apuração do lucro presumido, qual seja, três) aplica-se a alíquota adicional de 10% (totalizando R$ 400,00). Assim, no exemplo dado, serão devidos R$ 10.000,00 a título de imposto de renda no trimestre (R$ 9.600,00 + R$ 400,00). Indicação de Leitura CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de direito constitucional tributário. São Paulo: Malheiros.. _________. Imposto sobre a renda (perfil constitucional e temas específicos). 3.ed. São Paulo: Malheiros, 2009. GONÇALVES, José Artur Lima. Imposto sobre a renda. Pressupostos constitucionais. 1.ed. São Paulo: Malheiros, 2002. MARTINS. Ives Gandra. O sistema tributário na constituição. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. MELO, José Eduardo Soares de; PAULSEN, Leandro. Impostos federais, estaduais e municipais. Porto Alegre: Livraria do Advogado. PAULSEN, Leandro. Direito Tributário. Constituição e código tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. Porto Alegre: Livraria do Advogado. SANTI. Eurico Marcos Diniz de (coord.). Curso de direito tributário e finanças públicas. Do fato à norma, da realidade ao conceito jurídico. São Paulo: Saraiva.
Compartilhar